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MANUEL GONZÁLEZ SORIANO

O GRANDE COMBATENTE DO ESPIRITISMO ESPANHOL


CONTEMPORÂNEO DE ALLAN KARDEC
OS PIONEIROS DO ESPIRITISMO
(1836 - 1885)

Nasceu em Cartagena (Múrcia) em 1836. Seu pai, coronel da infantaria Sr. Isidoro González,
morreu quando Manuel tinha apenas três anos de idade, ficando com esta orfandade em
situação muito precária e baixo a proteção de sua boa mãe, Dª. Cruz Soriano, até a idade de 14
anos, quando se mudou para a cidade de Múrcia, para estudar, desempenhando ao mesmo
tempo o papel de ajudante em uma botica, de propriedade de um de seus irmãos.
Aqui ele fez seus estudos com notável aproveitamento até a idade de 20 anos, quando foi
para Madrid para ampliar estudos e terminar uma carreira. Escolheu Telégrafos e preparou-se
para isso, tendo que desempenhar, ao mesmo tempo, o cargo de ajudante na adega da viúva do
Sr. Juan Cortinas para atender às suas necessidades materiais.
Recebeu o título de telegrafista 3º com 21 anos de idade, e tomou posse de seu destino em
1857 em Andújar (Jaén). Nesta cidade ele conheceu aquela que seria sua esposa, Trinidad
González, com quem casou em 3 de junho de 1860. Aqui ele residiu até 1869, quando, por suas
crenças espíritas, que conhecera no ano anterior e que defendia com esforços inauditos, foi
vítima da intriga da classe clerical, transferindo-se para Ciudad Real, onde permaneceu por sete
anos, sendo o escárnio de todos e desprezado ao ponto de negar-lhe uma casa para se alojar.
Ele entendia de fotografia e para conseguir recursos com os quais auxiliarem a subsistência
de sua família, sua mãe e uma sua tia, a quem ele havia acolhido como filho exemplar,
estabeleceu um estúdio fotográfico, dando-se o triste caso de não entrar ninguém para ser
fotografado porque... cheirava a enxofre!
Até este extremo ele foi conduzido pelas suas ideias, que defendia apesar dos obstáculos,
mantendo intacta a bandeira do Espiritismo, desafiando em discussão a todos aqueles que se
opunham às suas profundas convicções, sendo notórias aquelas mantidas com os padres
Arévalo, Díaz e o Magistral de Córdoba.
Em 1876 e por vontade própria, foi transferido para Manzanares, onde permaneceu por 13
meses, sendo submetido ao mesmo desprezo e isolamento, até que, por razões familiares,

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conseguiu retornar a Andújar. Ele esteve nesta cidade por 8 meses, depois dos quais, e após ser
promovido a chefe da estação, foi transferido para Jaén, onde permaneceu por 4 anos.
Durante este tempo e devido a várias controvérsias públicas com o secretário do bispo
daquela diocese, Sr. Francisco Suárez, e outros, várias intrigas foram tramadas para expulsá-lo,
algo que não foi conseguido devido às suas excelentes condições como cidadão, reconhecidas
pela governador da província.
Em 1882, quando um colega pediu a ele para que lhe deixasse a vaga que ocupava, visto que
a transferência desse colega para a vaga que lhe correspondia por ter sido promovido supunha
para ele consideráveis prejuízos por causa de sua numerosa família, González Soriano
concordou de boa vontade, sacrificando seus interesses e bem-estar, partindo para Motril
(Granada), onde ficou 16 meses.
A pedido seu, voltou para Andújar onde, aos 10 meses, foi pela segunda vez vítima das
intrigas teocráticas e aristocráticas tão abundantes na época infelizmente, transferindo-se para
Málaga, onde não chegou a tomar posse porque o diretor da sucursal, atendendo razões
poderosas, destinou-o a Linares (Jaén), onde permaneceu mais 16 meses.
Nessa época, os desgostos contínuos que ele vinha sofrendo, seus grandes desvelos, trabalhos
e noites de insônia para dar ao prelo as obras espíritas das quais é autor, intituladas
"Controvérsias", "O Espiritismo é a Filosofia" e "Diálogos", contribuíram para acelerar sua
prematura desencarnação.
Vendo-se doente e acreditando que sua condição era por efeito do clima local, ele pediu
transferência para Vilches, onde permaneceu por três meses, depois dos quais, e por ordem
médica, retornou a Andújar, onde morreu em 2 de novembro de 1885.
Manuel González Soriano viveu como um herói em meio a inúmeros inimigos, sempre se
defendendo com esforços titânicos, e morreu em meio a um pequeno número de irmãos de
crença, com a tranquilidade e a paz de quem está satisfeito por ter cumprido a missão que ele
mesmo se impôs.
Como a deusa caridade era sua norma, suas obrigações muitas (pois ele nunca abandonou as
senhoras sua mãe e tia) e seu salário reduzido, ele morreu pobre em bens materiais, mas muito
rico em virtudes. Ele foi o herdeiro do título de seu pai, Marquês de Monte, que nunca quis
ostentar por suas enraizadas ideias democráticas.

Bibliografia Cronológica de Manuel González Soriano

1875 «Estudios de metafísica» [«artigo que foi reproduzido em vários jornais espíritas
espanhóis e estrangeiros»]. Publicado em nota no El espiritismo es la Filosofía, páginas 77-87.
1881 El espiritismo es la filosofía, Imprensa de Juan Torrents (Triunfo nº 4), San Martín de
Provensals 1881, 244+2 págs. (As páginas 3-6 contêm “Breve juicio crítico sobre esta obra”,
assinado por F. X. Creus.) Nova edição, Maucci, Barcelona (s.f.), 239 págs.
1884 El materialismo y el espiritismo. Diálogos, Estabelecimento tipográfico de Juan
Torrents (Rua Triunfo, núm. 4), San Martín de Provensals 1884, 268+2 págs. [contém: Ao
leitor. Diálogo I a Diálogo VIII.]
(Na página 3 lemos: «Ao leitor. A pedido de vários amigos, reunimos os materiais que
compõem este trabalho, divulgados em vários volumes da Revista que, com o título O
Espiritismo, foi publicada em Sevilha por espaço de dez anos consecutivos em defesa da
verdade. E realizamos com prazer este trabalho, uma vez que, estando compilado nele o
argumento principal com o qual o materialismo moderno pretende erigir sua escola absurda, e

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encontrando-se combatido de forma inegável nos campos da ciência e da filosofia, esperamos
que não será em absoluto uma semente infrutífera.”)
1885 El Materialismo y el Espiritismo. Diálogos. Volume II, Tipografia de Juan Torrents y
Coral (Rua Triunfo, n.º 4), San Martín de Provensals 1885, 267+4 págs. [Contém: Diálogo IX a
Diálogo XV. Resumo didático dos diálogos I a XIV. Epílogo. Estrato das minhas impressões.
Caridade.]
NOTA: Notas biográficas extraídas de una carta escrita y enviada por su viuda, Trinidad
González, al escritor espiritista Miguel Gimeno Eito, a petición de éste. La misma está fechada
en 1º de agosto de 1886 en Andújar, y fue publicada en el periódico madrileño “La
Irradiación” (Nº 33, de 1º de julio de 1893).

Tradutora: Teresa da Espanha

ALGUNS ANTECEDENTES DO ESPIRITISMO

O Espiritismo não é uma filosofia, nem uma seita religiosa, mas a filosofia da ciência, da
religião e da moral; a síntese essencial do conhecimento humano aplicada à investigação da
verdade; a ciência das ciências. E com isto fica dito que não é antigo nem novo; porque sendo a
ciência produto da investigação da verdade, mais ou menos ampla, metódica e perfeita, existe
desde que há seres inteligentes (eternamente) com a tendência natural da investigação.
Sendo formado seu corpo doutrinário das verdades universais que o homem surpreendeu na
natureza, e visto a verdade não contar o tempo, desde que vem dos Deuses sendo eterna, a sua
doutrina não é antiga e nem nova, e pode ser considerada nesse sentido como a enciclopédia
das verdades eternas e infinitas que a pesquisa humana foi, até o dia de hoje, capaz de penetrar
e conhecer.
O Espiritismo vem, portanto, da ciência da razão e da razão da ciência e, consequentemente,
vai até o maior conhecimento possível das verdades divinas universais.
São seus fundadores, todos os homens, de todas as idades e de todas as crenças que
alcançaram o conhecimento de alguma verdade incontestável demonstrada pela razão e pela
ciência.
São seus apóstolos, todos os homens que ensinaram, ensinam e ensinarão, daí em diante a
verdade. E estes receberam sua missão do dever moral que cada homem tem de ensinar aos
outros as verdades que ele venha a conhecer, de não esconder sob o alqueire a luz que possui e
que ela não brilhe para ninguém, porque isso é egoísta e anti-caridoso.
O testemunho dessa missão será encontrado em toda manifestação humana que determinar o
dever acima mencionado, e a prova de sua legitimidade, que para existir não precisa do
testemunho dos homens, encontra-se no mesmo dever moral que todo homem tem em relação a
seus pares.
O Espiritismo não é uma opinião sistemática nem vem de qualquer capricho humano nem
tende a satisfazer qualquer interesse pessoal ou coletivo. É por isso que goza de uma
independência especial: não se impõe nem se esconde, porque a verdade, para sê-lo, não
precisa de ninguém; mas, nobre e generosa, sempre se oferece continuamente àqueles que a
buscam, e permite ser possuída por aqueles que a amam.
Os princípios fundamentais nos quais se baseia sua parte filosófico-doutrinal são:
“Existência de Deus, infinito em extensão e intensidade - Ser absolutamente infinito e
infinitamente absoluto - Inteligência, Bem e Poder infinitos, do qual são desprendidos todos os

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atributos de beleza, amor, misericórdia, justiça e onipotência, etc., etc., etc. Realidade essencial
sem princípio nem fim; sem tempo ou espaço, e a causa única de toda a realidade essencial, e
de toda a lei da essência”.
“Eternidade, em Deus, da essência constitutiva do universo”.
“Eternidade de manifestação da essência universal, no cumprimento da lei a que obedece,
isto é, na realização de sua natureza por suas propriedades”.
“Unidade característica essencial de tudo aquilo que fora do Espírito divino, embora em
Deus, existe; isto é, que um mesmo gênero, ordem e natureza essencial, constitui o que realiza
matéria, fluido e espírito”.
“Unidade característica essencial de Deus, quanto ao Espírito”.
“Síntese das duas unidades essenciais mencionadas constituindo o Todo, o Infinito, o Ser,
Deus”.
“Progresso infinito (no desenvolvimento das propriedades) da essência universal constitutiva
de tudo o que não é o Espírito divino, embora incluído em Deus como Ser”.
“Evolucionismo universal da essência para a realização do progresso, em uma pluralidade de
mundos, substâncias e seres”.
“Individualidade do espírito como ser instintivo e inteligente, naquilo que chamamos de
reino animal e reino hominal”.
“Sintetização da matéria organizada e do espírito, para constituir o ser animal e o ser
humano, através de um laço fluídico, plástico, chamado de perispírito, metaespírito ou corpo
aéreo ou celestial.”
“Preexistência do espírito.”
“Encarnação do espírito em organismo adequado ao modo de ser que o caracteriza”.
“Separação do espírito do corpo, através do fenômeno chamado de Morte”.
“Conservação, após o desencarne e sobrevivendo ao seu organismo, do espírito, da sua
individualidade, suas propriedades, suas faculdades, suas afeições, seus conhecimentos e sua
história.”
“Vida espiritual periódica, nos espaços interplanetários”.
“Reencarnação do espírito em mundos e organismos adequados ao modo de ser que o
caracterizar, para continuar a realização do seu progresso infinito, desenvolvendo suas
propriedades e suas faculdades”.
“Solidariedade universal”.
“Comunicação do espírito desencarnado com o encarnado.”

***

Os pontos principais da sua parte filosófico-religiosa resumem-se nos seguintes:


“Crenças em Deus, causa de tudo que existe e é.”
“Dever de adoração a Deus, em espírito e verdade; com o pensamento e sem qualquer
manifestação ou cerimônia ostensiva; orando e praticando o bem”.
“Templo de adoração a Deus, o universo inteiro, sem circunscrição de local ou de qualquer
edifício”.
“Sacerdócio, todo homem que ensinar a verdade”.
“Responsabilidade individual do espírito, perante a lei da consciência, de todos os seus atos e
pensamentos”.

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“Redenção ou purificação do espírito pelo seu próprio trabalho; pelo desenvolvimento de sua
inteligência e seu sentimento, aplicados para conhecer Deus e praticar o bem. Salvação do
espírito pelos seus próprios méritos e não pelos dos outros”.
“Prêmio e punição do espírito, consequência de ter ou não cumprido a lei da natureza,
consistindo nos mesmos efeitos produzidos pela lei em seu cumprimento ou em sua
transgressão.”
“Expiação pela falta de cumprimento da lei, consistindo na pena de ser privado da felicidade
durante sua vida espiritual posterior no espaço; e depois, na reencarnação, em suportar os
mesmos efeitos ou sofrimentos que indiretamente causaram a outros”.
“Reparação pela mesma causa, neutralizando os danos causados com os benefícios que os
compensarem, mesmo à custa de todo tipo de sacrifício”.
“Purificação relativa ao modo de ser que por seu grau de progresso é característico ao
espírito, gozando, por efeito da mesma lei, uma felicidade proporcional que irá, cada vez mais,
conquistando infinitamente por seus esforços, por seu trabalho, pelo seu progresso, por seu
maior conhecimento da natureza, pelo seu maior domínio sobre ela, por seus maiores elementos
de prodigar o bem, por sua maior aproximação a Deus, pela sensação mais direta e intensa da
essência superior, pela maior sublimação de seu corpo fluídico na vida do espaço, pela maior
simplicidade da substância orgânica que animar em sucessivas reencarnações, em mundos mais
perfeitos.
E pela conquista da mais alta pureza que serve como um receptáculo direto às inspirações de
Deus e de agente em seus desígnios, por ser revestido de caráter divino e constituído em deus
subordinado, em deus relativo, com poderes para formar mundos, presidir seu
desenvolvimento, governá-los dentro da lei e prodigar aos seres, chamados neles a se
purificarem, as inspirações e doutrinas com que em cada uma de suas épocas históricas devam
ser aperfeiçoados e redimidos”.
***
Os princípios de sua parte filosófico-moral são resumidos nas palavras de Jesus Cristo;
“Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo mais do que a si mesmo”.
“Ascender a Deus pela da caridade e a ciência”.
“Sacrifício do homem pelo homem”.

Fonte: Manuel González Soriano - El Espiritismo es a Filosofía

Tradutora: Teresa da Espanha

CORRESPONDÊNCIAS

Manuel González Soriano a Allan Kardec

Ao Sr. Allan Kardec.


Caro Senhor,

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Os espíritas que compõem o círculo da cidade de Andújar, hoje disseminados pela vontade
de Deus para a propagação da verdadeira Doutrina, vos saúdam fraternalmente.
Ínfimos pelo talento, grandes pela fé, propomo-nos sustentar a Doutrina Espírita, tanto pela
imprensa, como pela palavra, tanto em público como em particular, porque é a mesma que
Jesus pregou, quando veio à Terra para a redenção da Humanidade.
A Doutrina Espírita, chamada a combater o materialismo, a fazer prevalecer a divina palavra,
a fim de que o espírito do Evangelho não seja mais truncado por ninguém, a preparar o
caminho da igualdade e da fraternidade, necessita hoje, na Espanha, de apóstolos e de mártires.
Se não podemos ser os primeiros, seremos os últimos: estamos prontos para o sacrifício.
Lutaremos sós ou em conjunto, com os que professam nossa Doutrina. Os tempos são
chegados; não percamos, por indecisão ou por medo, a recompensa que está reservada aos que
sofrem e são perseguidos pela justiça.
Nosso grupo era composto de seis pessoas, sob a direção espiritual do Espírito Fénelon.
Nosso médium era Francisco Perez Blanca, e os outros: Pablo Medina, Luís Gonzalez,
Francisco Marti, José Gonzalez e Manuel Gonzalez.
Depois de haver espalhado a semente em Andújar, estamos hoje em diversas cidades: Leon,
Sevilha, Salamanca, etc., onde cada um de nós trabalha na propagação da Doutrina, o que
consideramos como nossa missão.
Seguindo os conselhos de Fénelon, vamos publicar um jornal espírita. Desejando ilustrá-lo
com extratos tirados das obras que publicastes, pedimos que nos concedais a permissão. Além
disso, ficaríamos muito contentes com a vossa benévola cooperação e, para tal fim, pomos à
vossa disposição as colunas do nosso jornal.
Agradecendo-vos antecipadamente, rogamos saudar, em nosso nome, os nossos irmãos da
Sociedade de Paris.
E vós, caro senhor, recebei o fraternal abraço de vossos irmãos. Por todos,
Ciudad-Real, fevereiro de 1869.
Manuel Gonzalez Soriano

Allan Kardec a Manuel González Soriano

Em muitas ocasiões já dissemos que a Espanha contava numerosos adeptos, sinceros,


devotados e esclarecidos. Aqui, não é mais devotamento, é abnegação; não uma abnegação
irrefletida, mas calma, fria, como a do soldado que marcha para o combate, dizendo: Custe-me
o que custar, cumprirei o meu dever. Não é essa coragem que flameja como um fogo de palha e
se extingue ao primeiro alarme; que, antes de agir, calcula cuidadosamente o que pode perder
ou ganhar: é o devotamento daquele que põe o interesse de todos acima do interesse pessoal.
Que teria sucedido às grandes idéias que fizeram avançar o mundo, se só tivessem
encontrado defensores egoístas, devotados em palavras enquanto nada tivessem a temer e a
perder, mas se dobrando ante um olhar de ameaça e o medo de comprometer algumas parcelas
de seu bem-estar? As ciências, as artes, a indústria, o patriotismo, as religiões, as filosofias têm
tido os seus apóstolos e os seus mártires.

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O Espiritismo também é uma grande idéia regeneradora; apenas surge; ainda não está
completo, e já encontra corações devotados até a abnegação, até o sacrifício; devotamentos
muitas vezes ignorados, não buscando a glória nem o brilho, mas que, por agir numa pequena
esfera, nem por isso são menos meritórios, porque moralmente mais desinteressados.
Contudo, em todas as causas, os devotamentos em plena luz são necessários, porque
eletrizam as massas. Não está longe o tempo, isto é certo, em que o Espiritismo terá também
seus grandes defensores que, afrontando os sarcasmos, os preconceitos e a perseguição,
empunharão sua bandeira com a firmeza que dá a consciência de fazer uma coisa útil; apoiá-lo-
ão com a autoridade de seu nome e de seu talento, e seu exemplo arrastará a multidão dos
tímidos que, por prudência, se tenham mantido afastados.
Nossos irmãos da Espanha abrem a marcha; cingem os rins e se preparam para a luta. Que
recebam os nossos cumprimentos e os de seus irmãos em crença de todos os países, porque
entre os espíritas não há distinção de nacionalidades. Seus nomes serão inscritos com honra ao
lado dos corajosos pioneiros, aos quais a posteridade deverá um tributo de reconhecimento, por
terem sido os primeiros a pagar com suas pessoas e contribuído para o soerguimento do
edifício.
Significa dizer que o devotamento consiste em tomar o bastão de viagem para ir pregar pelo
mundo a toda a gente? Não, certamente; em qualquer lugar onde se esteja pode-se ser útil. O
verdadeiro devotamento consiste em saber tirar o melhor partido de sua posição, pondo ao
serviço da causa, o mais utilmente possível e com discernimento, as forças físicas e morais que
a Providência distribuiu a cada um.
A dispersão desses senhores não se deveu à sua vontade. Reunidos, inicialmente, pela
natureza de suas funções, estas os chamaram a vários pontos da Espanha. Longe de
desanimarem por esse isolamento, compreenderam que, ficando unidos por pensamento e ação,
poderiam fincar a bandeira em vários centros, e que assim sua separação redundaria em
proveito da vulgarização da idéia.
Assim se deu num regimento francês, onde um certo número de oficiais tinha formado
grupos, dos mais sérios e mais bem organizados que vimos. Animados de um zelo esclarecido e
de um devotamento a toda prova, seu objetivo era, primeiramente, instruir-se a fundo nos
princípios da Doutrina e, depois, exercitasse na palavra, impondo-se a obrigação de tratar, cada
um por sua vez, uma questão, para se familiarizarem na controvérsia. Fora de seu círculo
pregavam pela palavra e pelo exemplo, mas com prudência e moderação; não procurando fazer
a propagação a qualquer preço, a tornavam mais proveitosa. Deslocado o regimento, se
espalharam por várias cidades; assim o grupo se dispersou materialmente, mas, sempre unido
em intenções, prossegue sua obra em pontos diferentes.

Allan Kardec
Fonte: Revista Espírita de março de 1869

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