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A

desgraça do ateísmo na educação


Felipe Sabino de Araújo Neto (org.)



A educação das crianças para Deus é a tarefa mais
importante desempenhada sobre a terra. Trata-se do
único negócio para o qual a terra existe. A ela deveriam
estar subordinadas a política, a guerra, a literatura e a
produção de dinheiro em sua totalidade. Todo pai, a
cada hora do dia, deveria sentir especialmente que, após
assegurar a própria eleição e vocação, é este o fim para
o qual Deus o mantém vivo — essa é a sua tarefa sobre
a terra.

R.L. Dabney



Copyright © 2019 de Editora Monergismo
Títulos dos artigos originais: On Secular Education, Politics and Education, Education and the Family, Sovereignty and Education, Christian Schools.


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EDITORA MONERGISMO
SCRN 712/713, Bloco B, Entrada 28 — Ed. Francisco Morato
Brasília, DF, Brasil — CEP 71.760-620
www.editoramonergismo.com.br

1ª edição, 2019

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto e Fabrício Tavares de Moraes
Revisão: Fabrício Tavares de Moraes e Felipe Sabino


PROIBIDA A REPRODUÇÃO POR QUAISQUER MEIOS,
SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.

Todas as citações bíblicas foram extraídas
da versão Almeida Revista e Atualizada (ARA) salvo indicação em contrário.



Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Araújo Neto, F. S.
A desgraça do ateísmo na educação / Felipe Sabino de Araújo Neto (org.), tradução Felipe Sabino de Araújo Neto e Fabrício Tavares de Moraes — Brasília, DF: Editora Monergismo,
2019.

ISBN 978-85-69980-86-5

1. Educação 2. Humanismo 3. Ateísmo 4. Cristianismo I. Título


CDD: 261


SUMÁRIO
Prefácio do editor

Parte I

1. Sobre educação secular

Parte II
1. Política e educação

2. Educação e a família
3. Soberania e educação

Parte III

1. Escolas cristãs
PREFÁCIO

Fumantes de cigarro encontram
em cada maço uma advertência
que fumar pode ser prejudicial à
saúde deles. Ora, eu não sou
fumante, mas ressinto-me diante
da reivindicação superzelosa do
Big Brother de dizer o que é bom
ou ruim para nós. Em meu livro,
esse poder pertence a Deus, não ao
Estado.

Além do mais, por que não


colocar um aviso em cada edifício
federal, afirmando: “Atenção! Um
governo grande pode ser
prejudicial à sua saúde”? Ou por
que não avisar cada pai de um
estudante: “Atenção! Escolas
públicas podem ser prejudiciais à
saúde do seu filho”?[1]

Nesta nova coletânea sobre as sucessivas “desgraças” ocasionadas pela


desobediência aos mandamentos divinos e apostasia modernas, analisamos os
[2]

efeitos deletérios do ateísmo (ou humanismo) na educação de nossos filhos. O


livro está dividido em três partes, cada uma escrita por um autor distinto,
abordando um assunto correlato aos problemas do secularismo na educação,
[3]

formando assim — apesar das diferentes abordagens — um todo coeso.


Na primeira parte, intitulada “Educação secular”, Robert L. Dabney (1820-
1898) apresenta os problemas de uma possível secularização total das escolas,
algo que já se tornou realidade em certas partes de nosso país (e quase
plenamente nos Estados Unidos, cenário que Dabney está avaliando). Não
bastasse a secularização, isto é, um ensino limitado “a disciplinas puramente
seculares”, como Dabney chama, o que vemos hoje é uma militância aberta
contra o cristianismo em geral e a moralidade judaico-cristão em particular. Tal
desfecho era inevitável, pois todo ato de educar — que inclui, entre outras
coisas, treinar os alunos para que sejam competentes em suas responsabilidades,
seja na esfera civil, familiar, profissional e que tais — pressupõe uma base ética,
e o Estado nunca reivindicou para si a mera tarefa de instruir, mas sim de educar
nossas crianças e jovens. Sendo assim, as escolas públicas (não obstante mesmo
[4]
pais piedosos e preocupados com os seus filhos não verem dessa forma)
tornaram-se muito mais prejudiciais do que o tabagismo. Essa visão profética de
Dabney é reconhecida por Douglas Wilson:

Há alguns anos fui apresentado
aos escritos de R. L. Dabney. Em
seu texto “secular” fiquei
impressionado com o que só pode
ser chamado sua visão profética.
Embora estivesse envolvido nas
controvérsias do último século, é
bastante claro que ele entendia os
princípios fundamentais
envolvidos. Por ser um pensador
de princípios, ele foi capaz de ver
aonde o Estados Unidos estavam
indo. Os anos têm provado que ele
estava certo em muitas coisas.[5]

É justamente por considerarmos o texto valioso ao público moderno que o
incluímos nesta breve coletânea de artigos sobre educação. Prossegue Wilson:
Pelo valor dos seus insights,
julguei que seria proveitoso
apresentar algo de sua obra ao
público cristão moderno. Este
artigo se provará especialmente
útil àqueles cristãos que estão
envolvidos na educação, quer em
escolas privadas ou domiciliares.[6]

Desnecessário dizer que não endossamos tudo o que Dabney diz, quer em
suas críticas, quer em suas “soluções”. A ressalva de Wilson é salutar:
Alguns podem achar a polêmica
de Dabney contra a educação
católica desagradável, e podem se
perguntar o porquê de tê-la
mantido. Há duas razões. A
primeira é que a questão católica
está tão ligada ao seu argumento,
que não seria possível removê-la
sem fazer considerável violência
ao texto. A segunda razão é que
acredito que o catolicismo romano
de hoje é uma ameaça maior do
que quando Dabney escreveu
essas palavras e, portanto, não há
necessidade de remover suas
advertências. Aqueles que se
impressionarem com a sua
percepção sobre a natureza da
“educação secular” podem talvez
considerar que sua posição sobre a
ameaça do catolicismo tenha
algum peso.[7]

Isso não significa que concorde


com tudo no artigo. Por exemplo,
não sou tão otimista quanto ele
parece ser em relação à “lei
natural” como a base do governo
civil. Todavia, as reflexões que ele
apresenta são dignas de nossa
análise, particularmente quando
consideramos a época em que
escreveu. Estamos no meio das
ruínas de um outrora orgulhoso
sistema educacional público, e
muitos cristãos ainda não
perceberam o que Dabney
percebeu no século passado.
Confio que Deus usará seus
pensamentos uma vez mais, e oro
para que eles tenham, entre os
cristãos, uma recepção melhor do
que quando primeiramente
publicado.[8]


Esperamos que ao final deste artigo de Dabney percebamos a pertinência
da afirmação de Machen: “Vejo pouca consistência num tipo de atividade cristã
que prega o evangelho nas esquinas das ruas e até os confins da terra, mas
negligencia os filhos da aliança abandonando-os a um secularismo frio e
incrédulo”. [9]

Na segunda parte deste livreto incluímos três artigos incisivos de R. J.


Rushdoony, um profeta moderno que denunciou a secularização da educação,
bem como o caráter messiânico que assumiu nos Estado Unidos (e, por certo, no
Brasil).
Em “Política e educação”, Rushdoony desenvolve as implicações de um
mote (pronunciado, conforme ele explica, num contexto subversivo, porém
contendo em seu núcleo uma poderosa intuição) para a realidade da educação e
sua soberania dentro de sua esfera divinamente designada: “Mantenham a
política fora da educação!”. De fato, Rushdoony, assumindo uma posição que
talvez surpreenda aqueles ainda não familiarizados com seu pensamento, afirma
que a educação deve livrar-se das cadeias não somente do Estado, mas também
de quaisquer ditames eclesiásticos. Isto é, seguindo o que Kuyper fizera na
Universidade Livre de Amsterdã, ao menos conforme inicialmente planejara,
Rushdoony defende que a escola é um aspecto do Reino de Deus, e portanto
submete-se diretamente à lei divina. Esta é a razão pela qual a soberania das
esferas não se confunde jamais com a autonomia, que faz do homem e sua razão
a fonte de toda norma.
O autor nos lembra, contudo, que uma das questões aparentemente
ignoradas ou suprimidas da discussão pública é a impossibilidade de uma
educação neutra. Há — no debate de ideias brasileiros — uma real confusão
entre neutralidade e objetividade. Com efeito, é impossível conceber um
professor ou mesmo uma simples exposição neutra de qualquer tema concebível.
A objetividade, por sua vez, é uma questão não somente metodológica, mas
também virtuosa, isto é, fundamenta-se na honestidade, sinceridade e amor pela
verdade. Não afirma um ponto de vista imparcial, ou uma perspectiva supra-
pessoal (por si só uma contradição) que transcenda as “querelas” intelectuais,
ideológicas e partidárias. Nisto torna-se evidente a importância da ética
subjacente na prática educacional — sua fonte moral (vale dizer: sua religião)
necessariamente permeia todo seu ensino. Com isso, obviamente, a educação
estatal promove não só os interesses, mas os valores do Estado, dentre os quais
sua supremacia moral sobre todas as demais instâncias e instituições. Nas
palavras de Rushdoony: “Se o Estado ou a igreja controla a escola, então torna-
se função da escola servir aos propósitos do Estado ou da igreja. A propaganda
passa a governar a educação”.
Em “Educação e a família”, por sua vez, Rushdoony retoma um dos
aspectos que, recentemente, tem sido objeto de controvérsia mesmo em
ambientes eclesiásticos. O “castigo”, disciplina e punição dos filhos é uma
questão passível de contemporização ou um dever oriundo da prática e ensino
bíblicos? Ora, desde Locke, passando por Dewey e Piaget, a noção que se tem da
criança é geralmente a de um ente neutro, maleável e plástico, suscetível à
modelação por parte dos educadores. Não há inclinação inata, nem pecado
original; de modo que a criança é sempre presa das circunstâncias, um reagente
em estado puro que não carrega consigo as tendências à rebeldia, revolta e
desobediência comuns aos filhos de Adão. Contra isso, Rushdoony nos lembra o
ensino e prática bíblicos, manifestos principalmente no livro de Provérbios, de
que os verdadeiros pais, em semelhança ao Pai eterno, repreendem aquele que
ama.
No capítulo “Soberania e educação”, por seu turno, Rushdoony, retoma o
tratamento sobre o mito da neutralidade da educação, que hoje em dia predomina
mesmo entre os cristãos. É de fato estranho que mesmo cristãos versados na
apologética pressuposicional — seja nos moldes de Van Til, Gordon Clark,
Bahnsen ou John Frame —, um movimento intelectual que se opõe frontalmente
à ideia da factualidade bruta virgemente acessível à interpretação desenviesada
dos humanistas, não reconhecem, numa espécie de paralaxe cognitiva, que todo
o sistema educacional em nossos dias é baseado numa “falsidade satânica”,
como já dizia Cornelius Van Til e Louis Berkhof. Ora, “na grande batalha
[10]

espiritual, as forças das trevas são organizadas contra o Senhor e seu Ungido.
Qualquer organização que se diz neutra, como as escolas públicas e algumas
organizações de trabalho, nega as exigências de Cristo de rendição absoluta a
seu senhorio sobre todas as coisas. Dessa maneira, estão servindo à causa do
anticristo. Negar tal fato é andar obstinadamente cego ou ser, infelizmente,
ignorante quanto às intenções do maligno e às exigências de Cristo”. Como [11]

disse Gordon Clark,



… as escolas não são, obviamente,
cristãs. Mas, com semelhante
obviedade, não são neutras. As
Escrituras dizem que o temor do
Senhor é o princípio da sabedoria
— parte essencial do
conhecimento; mas as escolas,
omitindo todas as referências a
Deus, passam aos alunos a noção
de que o conhecimento é obtido
sem qualquer relação a Deus. Elas
ensinam, na realidade, que Deus
não tem qualquer controle sobre a
história; que não existe qualquer
planejamento nos eventos
operados por Deus; e que Deus
não preordenou qualquer
acontecimento… As escolas não
são, nunca foram, nunca poderão
ser neutras. O sistema escolar que
ignora a Deus, ensina seus alunos
a ignorarem a Deus. Isso não é
neutralidade, é a pior forma de
antagonismo, porque julga que
Deus não é importante; ele é
irrelevante à raça humana. Isso é
ateísmo.[12]

Na última parte deste livro incluímos um breve artigo do teólogo e
filósofo John Frame sobre escolas cristãs. Cremos que o ensino de Frame é
relevante ao público brasileiro por dois motivos: (1) Muitas escolas que arrogam
para si o nome de cristã não passam de escolas seculares que incluem aqui ou
acolá algum ensino “bíblico”, quiçá uma matéria sobre ensino religioso; (2)
Muitos pais que têm testemunhado a calamidade do sistema educacional pensam
que a única alternativa cristã seria o chamado homeschool (ensino no lar),
quando, na verdade, a igreja, juntamente com os pais e todos os seus membros
deveriam lutar para estabelecer escolas verdadeiramente confessionais, com
preços acessíveis sobretudo aos seus membros, e na qual a Bíblia fosse de fato (e
não apenas nominalmente) o fundamento de todo o currículo escolar. Mesmo
que alguém favoreça, como Frame, o ensino no lar, isso não diminui a
importância e a necessidade do estabelecimento de escolas que façam jus ao
nome “cristã”.
Que este livro possa despertar pais, pastores, professores, e cristãos em
geral, acerca da urgente necessidade de uma educação distintamente cristã.
Nosso Senhor não exige nada menos do que isso dos seus servos!

— Felipe Sabino de Araújo Neto e
Fabrício Tavares de Moraes
Novembro de 2018
PARTE I
1. SOBRE EDUCAÇÃO SECULAR

R. L. Dabney

Quem deveria controlar a educação, e o que é uma educação apropriada?
Estas duas questões são interdependentes.
Ao longo da história, duas respostas têm sido apresentadas para a
primeira questão — o Estado e a Igreja. Na Europa, o progressismo tem insistido
no Estado, e busca secularizar a educação. Isto implica arrancar a educação do
controle do catolicismo. Os esquerdistas veem claramente que, sob o controle
católico, não existe nenhuma liberdade verdadeira na educação. Mas, conforme
insistem também na secularização do Estado, sua ideia de uma educação livre é
uma destituída de religião. Eles separam a cultura mental da espiritual. Dessa
forma concluem que a educação deve abstrair-se de Deus a fim de ser livre.
A Igreja Católica deve culpar a si mesma por isso — ela alega ser a única
igreja cristã. Mentes independentes replicam: “Bem, então o cristianismo é
perverso”. Se a educação católica fosse a única educação cristã possível, os
homens livres teriam de rejeitar a educação cristã. Considere: se o juízo privado
é pecado; se o professor é um verdadeiro sacerdote; se seu ensino é infalível; se
o fim real da cultura é escravizar a alma a um sacerdócio com um cabeça
exterior; se este cabeça é absolutamente superior às autoridades seculares, a
educação baseada nesses princípios levará à escravidão civil. Não é estranho que
homens em busca de liberdade a rejeitem.
O engano reside em confundir educação eclesiástica com educação
cristã. Que a Escritura seja ouvida: “O reino de Deus está dentro de vós” (Lc
17.21). Ele consiste não numa hierarquia gananciosa, mas no governo da
verdade. O clero não deve ser senhor sobre o povo de Deus, mas somente
“ministros por meio de quem cremos” (1Co 3.5).
A igreja não tem penalidades senão as espirituais. Ela não toca no direito
civil de nenhum homem. Sua única outra função é ensinar, e seu ensino é
obrigatório apenas na medida em que a própria consciência do leigo responde à
Palavra de Deus como esta é declarada.
Ora, é dever da igreja instruir os pais sobre como Deus deseja que criem
seus filhos, e impor o dever com sanções espirituais; mas aí termina seu poder
oficial. Ela não usurpa o cumprimento da importante tarefa que instrui os pais a
fazer.
Como um cristão privado, o ministro empresta a outros pais seu
conhecimento e exemplo para ajudá-los em sua obra. Mas tudo isso não constitui
nenhum perigo à liberdade espiritual ou religiosa.
Assim, seria bom que o esquerdista moderno parasse e se perguntasse se
ele assegura algo mediante essa transferência de responsabilidade educacional da
igreja para o Estado. Ele aponta para os resultados do ensino católico? Ali vemos
uma erudição espúria e superficial, juntamente com uma consciência escravizada
e mórbida, que não ousa sequer desejar quebrar seus grilhões. Há também a
ganância insaciável da hierarquia por influência e dinheiro. O retrato é
suficientemente repulsivo.
Mas os clérigos católicos são os únicos gananciosos? Não são todos os
homens depravados? O mesmo não se dá essencialmente com todos os homens?
Então por que ficamos surpresos quando os clérigos agem de maneira similar aos
outros homens, quando sujeitos às mesmas tentações? O esquerdista moderno
deveria ser o último homem a ignorar esta verdade; ele já é cético de todas as
profissões de princípios espirituais em clérigos. Ele já é propenso a atribuir
motivos seculares. Ele deveria ser coerente e esperar que o demagogo exiba uma
ambição imprudente exatamente como os sacerdotes. O que é um clérigo senão
um demagogo espiritual? O demagogo é apenas um sacerdote no altar do
Dinheiro.
O progressista não perverte aquela outra agência educacional, a imprensa,
tão violentamente como o jesuíta faz com a escola? Se ele vier a controlar o
Estado, e este assumir a responsabilidade pela educação, existe, portanto, um
grande risco de que a educação dos jovens será pervertida para servir a uma
facção ideológica. Isto dar-se-á por odiosos meios de saturar suas mentes com
erros e paixões ao invés da verdade e do certo. O resultado é o despotismo de
uma facção em vez de um papa. Um pode ser tão ruim quanto o outro.
Se o Estado tornar-se o educador na América, então a educação deverá ser
inteiramente secularizada. Em teoria, nosso Estado é a instituição para a
consecução da justiça secular. Ele se separou absoluta e igualmente de todas as
religiões. Comprometeu-se para que nenhum dos direitos civis do indivíduo
fossem modificados, ou que a igualdade fosse diminuída, em razão de sua
religião, ou ausência dela. Proibiu o estabelecimento de qualquer religião por lei,
bem como a imposição de qualquer fardo, por motivos religiosos, a qualquer
pessoa.
Ora, o professor da escola pública é um oficial do Estado, e ensina pautado
em sua autoridade. Todos os funcionários da escola têm como fonte de sua
autoridade as leis do Estado. Por conseguinte, todas suas funções são
efetivamente ações do Estado — tais como a do xerife na execução pela forca,
ou a do juiz ao sentenciar um assassino. Os fundos da escola, captados mediante
a taxação, é propriedade comum e igual do povo.
Porém os americanos se dividem em várias religiões, de modo que não se
deve usar dinheiro nas escolas para o ensino de uma religião em detrimento das
outras — assim como não seria usado para o estabelecimento de uma igreja.
Certa feita, em estados como Connecticut, a população era tão homogênea,
e os dissidentes tão poucos, que a religião dominante pôde ser ensinada por
conta do Estado sem qualquer protesto inflamado que chegasse ao ponto da
inconveniência. Mas a mistura de nosso povo, e especialmente a força e audácia
do catolicismo, agora torna tudo isto muito diferente.
Os católicos apresentam um argumento eficaz quando dizem que o Estado
não deve usar o dinheiro do povo para um ensino que utiliza a versão King
James da Bíblia, a qual eles, uma parte do povo, acreditam ser herética.
Protestantes zelosos, em geral defensores fervorosos das escolas públicas,
tentam refutar essa argumentação. No entanto, consentiriam eles que seus filhos,
com seu dinheiro, fossem ensinados a partir de uma versão bíblica que diz: “Mas
se não fizerdes penitência, pereceis todos do mesmo modo”? Eles afirmam:
“Trata-se de uma versão equivocada, ao passo que a King James é fiel”.
Teologicamente, isso é decerto verdade. Porém, deve-se designar o Estado para
julgar se tal afirmação é verdadeira?
Na esfera pública, nossa obrigação é respeitar os pontos de vista religiosos
dos católicos, do mesmo modo que exigimos que eles respeitem os nossos.
Suponhamos, então, que, certo dia, uma maioria num Estado, tão numerosa
quanto os protestantes o são na Nova Inglaterra, busquem tornar compulsório o
estudo de uma versão católica da Bíblia em escolas públicas. A menos que
admitamos que nosso poder cria o direito, não convém impor tais erros sobre os
judeus, os muçulmanos, os ateístas e os budistas que vivem conosco,
simplesmente porque são menos numerosos.
Busca-se desviar-se dessa conclusão do seguinte modo: Embora todas as
religiões sejam iguais, e nenhuma seja estabelecida, o Estado não é uma
instituição ateísta. Fundamenta-se na vontade de Deus, que é o padrão de todos
os direitos. O Estado é uma instituição ética, e existe para fins éticos.
Consequentemente, ele implementa o Sabbath, pune a blasfêmia etc. O Estado,
embora não estabeleça uma religião em detrimento das demais, deve ensinar as
verdades divinas comuns a todos, mediante o uso não sectário da Bíblia.
Mas seja esta a base justa ou não de uma nação, nossos estados não a
reconhecem declaradamente. Em segundo lugar, a questão diz respeito à versão
que se deve utilizar, dentre outras versões concorrentes. Em vista disto, tal
questão ascende disputas sectárias.
Em terceiro lugar, não cremos — não mais do que esses sofistas — que o
Estado possa ser ateísta. É uma instituição ética, e a vontade divina é a única
norma ética válida. Todavia, o Estado encontra seu fundamento teísta na teologia
natural. A prova é que os Estados pagãos, assentando-se somente num teísmo
natural, eram autênticos e possuíam legitimamente a obediência dos próprios
cristãos (Romanos 13.5). Evadir-se da questão é, pois, fútil.
Mas independentemente da lógica da questão, a consequência visível é
certa. Os católicos inevitavelmente cumprirão seu objetivo, assim como já
fizeram em várias partes. Que triunfarão em qualquer outro lugar em que se
importem de tentar, é evidente pela crescente tibieza dos evangélicos, pela
pobreza dos acordos que oferecem e pela indiferença cada vez maior das massas
em relação ao valor do ensino bíblico.
De fato, considerando-se as premissas americanas, os evangélicos não têm
argumento senão um apelo piedoso ao preconceito. Cedo ou tarde, as
considerações lógicas, que são tão claras, deverão asseverar sua força. A
dificuldade do problema pode ser vista nas complicações que também afetaram
outros governos livres, como a Grã-Bretanha e a Holanda.
No tocante à educação pública, há quatro soluções possíveis ao problema.
A primeira é a injusta solução de forçar a religião da maioria sobre a
minoria.
A segunda é aquilo que é chamado na Grã-Bretanha de plano de
“financiamentos concorrentes”. Cada denominação pode ter suas próprias
escolas financiadas pelo Estado e ensinar nelas sua própria religião juntamente
com o aprendizado secular. Este é praticamente o esquema que apaziguou em
parte os católicos de Nova York. É rejeitado, com razão, por protestantes de toda
parte, devido a uma série de razões. Em primeiro lugar, porque não oferece
solução exceto onde haja várias denominações grandes o suficiente para
sustentarem, nessas localidades, uma escola para cada uma de si. Em segundo
lugar, o Estado não tem direito de afirmar o valor igual de credos opostos, cuja
verdade de um pode implicar a falsidade positiva do outro. Em terceiro lugar, o
Estado não tem o direito de afirmar, seja de um credo ou de outro, o que é ou
não verdadeiro e proveitoso. Em quarto lugar, o protestantismo promove mais
parcimônia e riqueza do que os restantes credos equivocados.
Consequentemente, determinado número de protestantes pagará mais impostos
destinados às escolas do que o mesmo número de pessoas que se encontram no
erro, de maneira que esse plano usa uma parte de seu dinheiro para impulsionar
credos que os protestantes conscientemente consideram perniciosos. Em quinto
lugar, concede ao erro um apoio moral e financeiro além daquele que seria
recebido pelo zelo espontâneo de seus adeptos. E, por fim, causa desunião à
população ao treinar os jovens em campos religiosos hostis. Católicos irlandeses
e americanos declararam sua aprovação, porque ganham com esse plano. Porém,
quem se ilude que, caso fossem a maioria, eles estariam dispostos a ver o “bom
dinheiro católico” sendo gasto para o ensino da heresia protestante?
O terceiro plano propõe dar instrução a religiões não sectárias no primeiro
horário da manhã, ao passo que os pais que discordassem disso tivessem
autorização de não manter seus filhos na escola até o fim desse período. Isto
equivale a estabelecer uma religião e usar o dinheiro do povo para ensiná-la,
embora permitindo a discordância sem qualquer outra penalidade que não a
taxação em prol de um propósito religioso que o contribuinte condena. Em
outras palavras, coloca a questão na mesma posição em que a Inglaterra coloca
sua religião estabelecida desde que o “Ato de Tolerância” de Guilherme III e
Maria Stuart livrou os dissidentes das penalidades pela ausência aos cultos das
igrejas anglicanas.
Mas o ponto reivindicado pelos americanos é a liberdade, e não a
tolerância. Eles negam o direito do Estado de escolher uma religião como a
verdadeira e a mais importante, para quem quer que seja, deliberadamente ou
não. Aqueles que discordam dessa religião escolhida negam que o Estado possa
então dispender o dinheiro público como uma isca para induzir pais incautos ou
equivocados a submeterem seus filhos à inculcação do erro.
A única alternativa restante é a secularização total do ensino nas escolas
púbicas, limitando-o a disciplinas puramente seculares, deixando aos pais ou à
igreja suplementarem-no com o ensino religioso que lhes apraz ou nenhum.
Alguns cristãos, impelidos pelas dificuldades criadas pelas escolas públicas,
adotam essa conclusão. No entanto, a maioria, não obstante essa dificuldade,
rejeita-a energicamente. Vejamos se esse plano é possível ou admissível.
Essa é de fato a questão vital, porém não pode ser discutida até chegarmos a
um acordo sobre o que é a educação e assim afastar concepções equivocadas e
enganadoras sobre o tema.
De modo conveniente, educa-se o homem ou a pessoa em sua integralidade;
no entanto o objeto principal do trabalho de educação é o espírito. A educação é
o treino e o desenvolvimento do homem inteiro para seu fim apropriado. Este
fim deve ser corretamente concebido para que se compreenda o processo, e
mesmo o fim terreno do homem é preponderantemente moral.
Se a destreza em qualquer arte, como o manuseio de um tipo da prensa, de
um arcabuz ou de um tear, fosse educação, sua secularização poderia ser tanto
possível quanto apropriada. Ora, não é uma confusão neste ponto a fonte de
grande parte do argumento em defesa desse tipo de educação pública?
Por exemplo: “Por que o Estado não pode ensinar a ler e a escrever sem
qualquer viés religioso? Por que não o fazer tal como o mecânico ensina seus
aprendizes a limar, delinear e martelar?”. Porque a destreza numa arte não é
educação.
Esta última nutre a alma, a outra apenas exercita um órgão do sentido ou
um músculo; uma tem uma finalidade mecânica, a outra, um propósito moral. A
resposta não pode satisfazer simplesmente com a afirmação: “Concordemos
então que o Estado está somente ensinando a destreza nas letras”.
O Estado recusa-se a ser concebido dessa forma. Ele afirma educar, e isto
pode ser visto no argumento universal dos defensores da educação pública. Essa
perspectiva pressupõe que o Estado possui o direito e o dever de possibilitar que
os jovens cidadãos sejam competentes em suas responsabilidades enquanto
cidadãos. Todavia, essa responsabilidade é por natureza ética.
Novamente, se o Estado afirma conceder a mera destreza e não educação,
a igualdade exigiria a concessão de mais do que simples habilidade nas letras.
Todas as demais artes úteis teriam de ser incluídas. As crianças teriam o direito
igual de serem ensinadas nas demais artes que podem trazer-lhes o sustento, e o
governo teria de abraçar o comunismo mais feroz. Não, o Estado não pode
adotar essa evasiva. A menos que afirme educar, não há nada que possa fazer.
É preciso também aqui salientar que as artes da leitura e da escrita são antes
meios de educação do que educação em si, e não necessariamente são os mais
eficazes. Conforme Macaulay demonstrou, em resposta ao dr. Johnson, o
segmento iletrado dos atenienses eram, em alguns aspectos, altamente instruídos.
Também vemos muitas pessoas, que embora letradas, são contudo desinstruídas.
À vista disso, uma educação secularizada é possível ou admissível?
1. Antes de nós, nenhum povo de qualquer época, religião ou civilização
jamais pensou que o fosse. Contra o presente esforço, certo ou errado, impõe-se
todo o senso comum da humanidade. Pagãos, católicos, muçulmanos, gregos e
protestantes — todos rejeitaram qualquer educação não fundamentada na
religião como algo absurdo e maligno.
Um exemplo pode ser visto na controvérsia em relação ao Testamento de
Gerard. Com o intuito de excluir o cristianismo de uma faculdade, exigia-se que
nenhum ministro jamais entrasse em seus domínios. O sr. Webster argumentou
contra o testamento da seguinte maneira: o fideicomisso cujo cumprimento era
ali proposto opunha-se de tal modo a toda jurisprudência civilizada, que se
tornava ilegal e portanto nulo. O argumento pareceu tão formidável aos
advogados, que o advogado de defesa, o sr. Horace Binney, dirigiu-se à
Inglaterra para espoliar as leis britânicas de fideicomisso. Foi ao instar nesse
ponto que o sr. Webster pronunciou estas memoráveis palavras:

Em que época, qual culto,
onde, quando, por quem a
verdade religiosa foi
excluída da educação da
juventude? Nenhures.
Nunca! Por toda parte, e
em todos os tempos, foi
tida como essencial. É da
essência, da vitalidade da
instrução valiosa.

Não foi uma declaração do sr. Webster, o político, mas do douto


advogado, frente a frente a oponentes muito capacitados. Naquele momento,
realizava um dos esforços forenses mais respeitáveis de sua vida. Ele sabia que
exprimia a densa voz da história e da jurisprudência.
Ouçamos outra testemunha, de igual erudição e caráter superior. John B.
Minor disse o seguinte acerca dessa questão:

Deve-se reconhecer como
um dos fenômenos mais
notáveis de nossa
humanidade pervertida o
fato de que, dentre um
povo cristão, e numa terra
protestante, tal discussão
[se a educação dos jovens
pode ser secularizada]
não devesse soar tão
absurda quanto indagar se
as salas de aula deveriam
localizar-se sob a água ou
em cavernas escuras! O
judeu, o muçulmano, o
seguidor de Confúcio e o
seguidor de Brama, cada
um deles e portanto todos
cuidam de instruir os
jovens de seu povo nas
doutrinas das religiões
que professam, e não se
contentam até que, por
ensino direto e reiterado,
eles tenham se
familiarizado com pelo
menos os traços gerais
dos livros que contêm, de
acordo com suas crenças,
a vontade revelada de
Deus. Por que os cristãos
são tão indiferentes a esse
dever tão óbvio, que é tão
patentemente reconhecido
pelo judeu e pelo pagão?

Estamos lutando, pois, em prol de uma inovação absoluta. Mas não pode a
árvore ser conhecida pelos seus frutos? A educação estatal entre os americanos
tende a ser inteiramente secularizada. Qual é o resultado disso?
Neste país, há uma revolta generalizada para com a fé cristã, ainda que o
país esteja repleto de igrejas, pregadores e um excesso de literatura cristã.
E o que preparou tantos para as deprimentes absurdidades do
materialismo? Por que os jornais que almejam a circulação nacional pensam que
é de seu interesse afetarem irreligião? Por que tantas lamentações a respeito das
corrupções públicas e populares?
Observando a corrente de opinião, percebe-se que os mais sábios possuem
muitas reservas quanto aos frutos de nossos presentes métodos de educação
pública. A título de ilustração, analisemos estas palavras. O governador Rice de
Massachusetts “ergueu uma voz de alerta, com relação à inadequação e perigos
de nosso moderno sistema unilateral de educação, que supostamente poderia
desenvolver a natureza humana e a cidadania somente a partir do cultivo
mental”.
2. A verdadeira educação é, em certo sentido, um processo espiritual. É o
treinamento de uma alma. A educação é o treinamento de um espírito que é
racional e moral, no qual a consciência é a faculdade reguladora e imperativa. O
propósito característico da consciência, mesmo neste mundo, é moral.
Mas Deus é o único Senhor da consciência; a alma é sua semelhança em
miniatura. A vontade divina é a fonte das obrigações da alma, e a semelhança a
Deus é sua perfeição. A religião é a ciência das relações da alma para com Deus.
Reunamos essas declarações, e os processos teológico e educacional mostram-se
tão intimamente relacionados a ponto de não poderem ser separados.
É por essa razão que o senso comum da humanidade sempre invocou a
orientação de um ministro da religião para a educação da juventude. Na Índia é o
brâmane, na Turquia, o imã, no judaísmo, o rabi, e nas terras cristãs, o pastor. Do
mesmo modo, os livros sagrados sempre foram os principais livros didáticos. A
única exceção no mundo é a que Roma estabeleceu para si mesma por meio do
abuso intolerável de seus poderes.
A alma é espiritualmente indivisível. Esses poderes, que nomeamos como
faculdades separadas, são apenas modos diferentes de funcionamento. O poder
central é ainda uno. Partindo destas verdades, aparentemente a alma não poderia
ser cultivada com êxito mediante parcelas. Não é possível ter o trabalhador
intelectual polindo-a num lugar e o trabalho espiritual, em outro. Pode-se
apresentar uma sucessão de objetos à alma a fim de evocar e disciplinar suas
potências; contudo, a unidade do ser demonstraria a necessidade de uma unidade
em sua educação bem-sucedida.
Os conceitos cristãos são os que mais estimulam e enobrecem a alma.
Aquele que os omite de seus ensinamentos vê-se privado da destra de sua força.
Onde há de extrair uma definição semelhante de virtude, tal como a que nos é
apresentada no caráter revelado de Deus? Onde há outra representação tão
enobrecedora da benevolência como a demonstrada no sacrifício de Cristo por
seus inimigos? A concepção de espaços interestelares pode expandir a mente
tanto quanto o pensamento de um Deus infinito, de uma existência eterna e de
um destino sempiterno?
Toda linha de conhecimento genuíno deve encontrar sua completude na sua
convergência em Deus, assim como todo raio de luz do dia conduz o olhar ao
sol. Se se exclui a religião do estudo, todo processo de pensamento será
interrompido antes de alcançar seu fim apropriado. A estrutura do pensamento
deve continuar sendo um cone truncado, privado de seu vértice superior.
3. Se é para tornar a educação secular consistente e honestamente não
cristã, então deve-se omitir todos os principais ramos, ou deve-se mutilá-los e
falseá-los, o que é muito pior do que a omissão absoluta. O instrutor deve
ensinar história, cosmogonia, psicologia, ética e as leis das nações. Pode ele
fazer isso sem dizer nada favorável ou desfavorável acerca das crenças dos
cristãos evangélicos, católicos, socinianos, deístas, panteístas, materialistas ou
animistas, todos os quais exigem direitos iguais sob a autoridade das instituições
americanas? O ensino desse instrutor será de fato “a peça de Hamlet, omitindo-
se as partes de Hamlet”.

A educação secular deixará o cidadão jovem totalmente ignorante de suas
próprias origens? Como ele aprenderá a narrativa das lutas por meio das quais os
ingleses alcançaram as liberdades que as colônias herdaram, sem o entendimento
das ferozes perseguições aos protestantes da parte de Maria, a Sanguinária?
Como os filhos dos huguenotes em Nova York, na Virgínia ou na Carolina do
Sul saberão a razão por que seus pais deixaram a bela França, esconderam-se em
meio às nevascas do Norte ou nos bosques assolados pela malária do Sul? Eles
não leram algo sobre a violação do “Édito de Nantes”, as “Dragonadas” e o
massacre indiscriminado da Noite de São Bartolomeu, em honra do qual um
predecessor “infalível” do papa entoou o Te Deum e cunhou medalhas? Se o
médico tenta olhar para os primórdios da história do homem, ele pode apresentar
a gênese da terra e do ser humano sem indicar se é Moisés ou Julian Huxley seu
profeta?
É possível estabelecer a ciência do imperativo moral sem qualquer
referência a Deus? Não é preciso indagarmo-nos se sua vontade define ou não
todo dever humano?
O etnólogo é capaz de determinar os direitos da natureza e das nações sem
afirmar ou negar, juntamente com o apóstolo, que “de um só fez toda a raça
humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos
previamente estabelecidos e os limites da sua habitação” (Atos 17.26)?
E quanto da mais nobre literatura deveria ser excluído caso esse plano fosse
sistematicamente levado a cabo? O professor da escola pública não deve
mencionar Shakespeare a seus alunos, nem Bacon, nem Milton, nem Macauley.
A censura da livre democracia será mais rigorosa do que a da Roma despótica!
Porém não é preciso multiplicar os exemplos. Eles demonstram que as
verdades e os fatos cristãos estão tão entrelaçados na tessitura do conhecimento
dos americanos, que consequentemente constituem uma parte benéfica e
essencial de nossa civilização. O professor da escola pública que imparcialmente
evita tanto a afirmação ou a negação dessas verdades e fatos deve reduzir seu
ensino a uma modesta concessão dos rudimentos insuficientes. Tais rudimentos,
conforme vimos, não são conhecimento, mas meros indícios de conhecimento.
Alguém pode dizer que se trata de um exagero. Por que um professor não
pode simplesmente apresentar uma matéria secular, sem mutilar o conteúdo ou o
cristianismo?
Se seu ensino é de fato mais do que uma simples frivolidade numa área da
educação, perceberemos que será, pois, tacitamente anticristão. Não há ataques
diretos, porém, há uma evasão calculada que é, com efeito, hostil. Não é possível
haver posição neutra entre esses dois extremos, que têm um “grande golfo fixo”
entre si.
4. No tocante à ação humana, a vontade e a consciência devem ser
purificadas e iluminadas. Aumentar o vigor das demais ações da alma por meio
do treinamento nada mais é do que um malefício supérfluo. Se, num navio, a
bússola está danificada e o piloto é cego, é preferível que não haja uma grande
força a mover seu maquinário. Quanto mais potente seu movimento, maior a
probabilidade de o navio ir celeremente de encontro às rebentações. Certamente
isto basta para demonstrar à mente reflexiva que não é possível separar a
instrução moral correta nesse ponto, ou em qualquer outro, do treinamento
intelectual, sem que haja grande dano.
Uma pequena porém óbvia aplicação dessa verdade dá-se em relação à
própria disciplina da escola. Não se desenvolve nenhuma faculdade sem algum
governo. Para o professor que omite completamente todo recurso à religião,
sobre que base moral se assenta sua autoridade a ser exercida na sala de aula?
Ele perceberá que é necessário dizer ao pupilo: “Seja diligente. Seja obediente.
Não minta”. Isto deve ser feito de maneira que o estudante possa adquirir o
conhecimento secular. Mas com base em que autoridade? Por qual padrão?
Há apenas um fundamento da obrigação moral — a vontade de Deus. Entre
as pessoas deste país, aquela que não se depara com o desvelamento dessa
vontade nas Escrituras no mais das vezes também não a encontra em outra parte.
Contudo, o professor não deve imprimir no espírito de seu pupilo os
ensinamentos da Bíblia. Por conseguinte, seu poder somente deve produzir o
direito — ou também o poder dos pais, ou do magistrado, para cuja autoridade
delegada ele aponta. Ou seu apelo deveria ser ao interesse próprio do aluno?
Esse governo será salutar à alma do jovem?
Quando cresce, o aluno torna-se um cidadão. Passa a ter obrigações maiores
e mais complexas. O propósito das escolas públicas é equipá-lo para isso. A
mesma questão vem à tona novamente. Em que base se assentam esses deveres?
Quando homem crescido, é presumível que ele agirá tal como fora ensinado em
sua infância. Segue-se, pois, que os fundamentos da obrigação que lhe foram
apresentados na escola devem ser aqueles que reconhecerá na vida adulta. Na
escola pública, é possível que lhe tenha sido dado apenas um padrão não cristão.
Não se pode esperar que agora seja elevado a um padrão superior, embora seja
possível degradar-se a um padrão inferior, visto que o que lhe fora dado
primeiramente não possui um fundamento subjacente.
Qual é o resultado? Jovens americanos devem assumir suas
responsabilidades com os costumes morais pagãos, pois é somente isto que a
razão humana obtém sem a revelação de Deus. Será o suficiente para sustentar as
instituições americanas?
Possivelmente dirão que o teísmo natural é capaz de deduzir um código
moral bastante elevado, conforme evidenciado na filosofia grega clássica. Um
homem que entende corretamente os dados de sua consciência pode ser um ateu,
e mesmo o ateísta é capaz de encontrar neles alguma prova da necessidade de
governar-se a consciência. Mas não é assim que funciona na prática. Passemos a
legislar para o povo conforme este deveria ser ao invés de como ele é de fato, e
assim teremos um belo castelo de cartas!
De fato, não há americanos, considerados aqui no modo que com eles
habitualmente nos deparamos, cujas restrições morais não provenham da Bíblia.
Se, quando treinarmos moralmente os jovens, abrirmos mãos do “Assim diz o
Senhor”, não teremos mais o governo. O ensinamento que não fundamenta o
dever no cristianismo é, para nós, praticamente imoral.
Se é preciso um testemunho, citemos o dr. Griffin: “Educar a mente de um
homem mau sem corrigir sua moral é colocar uma espada nas mãos de um
maníaco”.
John Locke tratou dessa mesma questão. “É a virtude, pois, a virtude direta,
que é a parte difícil e valiosa que a educação deve visar. Se a virtude não se
arraigar no aluno, excluindo assim todos os hábitos viciosos, toda a educação no
mundo nada fará senão tornar o estudante pior ou mais perigoso”.
Escutemos o dr. Francis Wayland: “O cultivo intelectual pode existir
facilmente sem a existência da virtude ou do amor à retidão. Neste caso, seu
único efeito é incitar o desejo; e este, sem as restrições do amor à retidão, deve,
por fim, transtornar o tecido social que o cultivo intelectual num primeiro
momento havia construído”.
E, por fim, deveríamos considerar o que Washington disse em seu discurso
de despedida. Ele ensinou-nos que a virtude dos cidadãos é a única base para a
segurança social, e que a religião cristã é a única base adequada para essa
virtude.
No entanto, o cultivo mental não é, em si mesmo, enobrecedor? É-nos
difícil desistir desse conceito, porque até aqui a educação foi relativamente
cristã. O ministro foi o diretor da escola americana. Mas os mais educados não
são também os mais elevados? Sim, isto é verdade pela razão que acabamos de
apresentar. Há outra ainda. Não é que o cultivo da mente dos alunos os fez
buscar uma moralidade superior; antes, sua moralidade superior (e a de seus
pais) os fez buscar o cultivo mental. Somos propensos a pôr a carroça na frente
dos bois. Novamente é preciso retornar às evidências.
O conhecimento não governa o coração. Se algo o faz, é a consciência. O
simples conhecimento, sem o temor a Deus, faz com que o desejo se desenvolva
mais rapidamente do que a prudência.
Sir Henry Bulwer coloca isso da seguinte maneira: “Não deposito muita
confiança no filósofo que finge que o conhecimento que desenvolve as paixões
seja um instrumento para sua supressão, ou que onde há mais desejos, é provável
que haja mais ordem, e também maior abstinência na gratificação desses
desejos”.
A alma deve desenvolver-se simetricamente. Se os ramos de uma árvore
crescem, ao passo que as raízes (inteiramente saudáveis) não se expandem, será
derrubada no primeiro vendaval em razão da desproporção de suas partes.
5. Precisamos dos melhores homens ensinando nossas crianças. Porém os
melhores são os cristãos genuínos, que carregam sua religião consigo em todas
as coisas. Esses homens não podem se comprometer a serem professores de
preciosas almas pelas quais Cristo morreu e não fazer quaisquer esforços para
salvá-las.
Desse modo, a tendência necessariamente será a entrega das escolas
públicas nas mãos dos cristãos titubeantes ou nas mãos de descrentes insolentes.
É possível sequer confiar em tais pessoas com uma tarefa secular importante? As
ferrovias persistem em transgredir o Dia do Senhor; desse modo elas têm de
empregar exclusivamente transgressores profanos do Dia do Senhor ou adeptos
transigentes da religião. Qual é a consequência? São atormentados com oficiais
negligentes, engenheiros bêbados e caixas desonestos.
Assim, nossas escolas públicas cairão nas mãos de professores que nem
mesmo ministrarão honestamente o ensino secular. Dinheiro será desperdiçado,
e as escolas tornar-se-ão, para seus próprios pupilos, exemplos corrompedores de
trabalho desleixado e abuso de fideicomissos.
6. Para cada cidadão cristão, o argumento conclusivo contra a educação
escolar está presente em seu próprio credo no que se refere à responsabilidade
humana. De acordo com este credo, a obrigação para com Deus envolve a
totalidade dos atos e do ser de cada homem. Mesmo as melhores tentativas serão
julgadas imperfeitas. “A lâmpada do perverso… é pecado” [Provérbios 21.4]. O
fim deliberado para o qual nossos atos se dirigem determina derradeiramente sua
(dos atos) compleição moral.
Nosso Salvador também afirmou que não há neutralidade moral — aquele
que não é por ele é contra ele. Juntamente a isto, consideremos que todo homem
nasce num estado de alienação em relação a Deus. A inimizade e ateísmo
práticos são o desenvolvimento natural dessa disposição. O único remédio para
essa doença natural do espírito do homem é a verdade do evangelho. A
comparação dessas verdades tornará perfeitamente claro que o ensino não cristão
deve ser literalmente um ensino anticristão.
Eis, portanto, o argumento conclusivo. A réplica já foi lançada: “Não é
verdade que os cristãos não sustentam essa teologia como membros da igreja, e
não como cidadãos? Tu mesmo não disseste que o Estado não é um agente
evangélico, e sua função apropriada não é a conversão de almas de seu pecado
original?”.
É verdade, mas o Estado também não tem o direito de tornar-se uma
agência antievangélica, impondo resistência ao trabalho da comunidade
espiritual. Embora o Estado não autorize as crenças teológicas dos cidadãos
cristãos, também não possui o direito de travar guerra contra elas. Não obstante
o fato de não termos o direito de pedir ao Estado para difundir nossa teologia,
temos, contudo, o direito de exigir que não se oponha a ela. E educar almas
dessa maneira é opor-se à nossa teologia. Eis a razão por que um ensino não
cristão é um ensino anticristão.
Pode-se apresentar ainda outro argumento contrário: “Essa consequência,
embora maligna, não será mitigada caso o Estado cesse por completo de ensinar,
pois então o ensino dos jovens será, ao menos no que lhe diz respeito,
igualmente não cristão”.
A resposta: uma coisa é tolerar um erro cometido por alguém sobre o qual
não temos autoridade legal, e outra inteiramente diferente é cometermos nós
mesmos esse erro. Pois o Estado fazer aquilo que lhe cabe a fim de condenar os
pais ímpios (embora ele não tenha autoridade para interferir) seria o pecado de
“forjar o mal, tendo uma lei por pretexto” [Salmo 94.20]. Esta é a própria
característica de um “trono da iniquidade”, com o qual o Senhor não pode ter
comunhão.
Outra objeção é que se o Estado deve governar e punir — ambas as quais
são funções morais —, ele também deve ensinar. Se estamos preparados para a
ideia totalitária de Estado, que faz deste a instituição humana universal, então
podemos chegar a essa conclusão acima. Entretanto, o Estado deve fazer tudo,
desde reparar uma estrada e drenar um pântano até apoiar uma religião?
Mas então a coerência fará com que adicionemos às escolas públicas uma
religião governamental, um clero sustentado por impostos, um exame religioso
para cargos públicos, e o Estado empunhando seu poder para suprimir tanto o
erro teológico quanto o social. Novamente, embora o governo e punição
seculares sejam funções éticas, eles estão suficientemente fundamentados à luz
do teísmo natural. No entanto, o ensino é uma função espiritual — no sentido
acima definido. Para o ensino de indivíduos caídos e moralmente arruinados, o
teísmo natural é totalmente inadequado, conforme vê-se no Estado da sociedade
pagã.
Os cidadãos cristãos estão autorizados por Deus (e não pelo Estado) a
sustentar que o único ensino adequado para uma alma caída é o ensino da
redenção. Mas disto o Estado, enquanto tal, nada sabe. Como instituição de Deus
para a consecução da justiça secular, o Estado sabe o suficiente da retidão moral
para honrar aqueles que fazem o bem e para trazer terror aos malfeitores.
A evasiva mais plausível que se possa apresentar é esta: “Visto que a
educação é tão abrangente, por que não podemos ter uma ‘divisão de tarefas’?
Deixem o Estado educar o intelecto, enquanto os pais cristãos e a igreja educam
a consciência e o coração, tanto em casa quanto no local de adoração”. Muitos
cristãos julgam essa solução satisfatória. É claro que tal arranjo não seria tão
maligno quanto a negligência para com a educação do coração por parte do
Estado e dos pais.
Essas objeções, contudo, já foram respondidas. Uma vez que a consciência
é a faculdade reguladora de todas as demais, o professor que não pode lidar com
a consciência não pode também lidar adequadamente com qualquer outra coisa.
Visto que a alma é indivisível, não se pode equipá-la em diferentes partes e em
momentos e locais diferentes do mesmo modo que um homem pode comprar seu
chapéu numa loja e suas botas em outra.
Tendo em vista que todas as verdades se convergem em Deus, o professor
que não pode mencionar o nome de Deus necessariamente ministra um ensino
fragmentado. Ele é capaz de construir somente uma figura truncada. Na história,
na ética, na filosofia e na jurisprudência, os fatos e pressupostos religiosos são
absolutamente inseparáveis do conteúdo que se tem em mãos. A disciplina
necessária de uma sala de aula e a fidelidade secular dos professores exigem a
religião.
E nenhuma pessoa ou instituição tem o direito de dizer a uma alma
responsável, imortal: “Nesta extensa porção intelectual e ética de tua vida, estás
autorizado a ser ímpio”. A escola pública não deve sequer ousar negar a seu
pupilo o estabelecimento de sua própria atividade. Essa negação seria, por si
mesma, uma inculcação religiosa!
Porém, há mais ainda. Por que as pessoas desejam que o Estado interfira na
educação? A resposta é que ele possui o poder e os recursos para melhor fazê-lo.
Mas então, a menos que sua intervenção seja uma fraude, sua educação secular
deve, com efeito, ser algo que exerça profunda impressão. Isto significa que essa
impressão — que, de acordo com a teoria, será não cristã —, terá um efeito
maior na alma do jovem. E é o ensino mais fraco ministrado na Escola
Dominical que deverá contrabalancear isso.
O coração natural é carnal e naturalmente se inclina para longe do
evangelho. Para o jovem, quando inspirado por seus estudos, o professor é
geralmente um deus; e, neste estado de coisas, será, para o estudante entusiasta,
uma divindade completamente pagã. O lado cristão do professor, caso exista,
não poderá mostrar-se a esse adorador! Se estas coisas de fato ocorrem, quão
pálido e frio parecerá o raro raio de evangelho, quando vier sobre o jovem aos
domingos! Em resumo, ao estudante de sucesso que está sob a autoridade de um
professor competente, a escola é seu mundo. Torne a escola irreligiosa, e a vida
do estudante tornar-se-á irreligiosa.
Perguntemos novamente: “Por que o Estado não se poupa de problemas
simplesmente deixando toda educação aos pais?”. A resposta que nos chega é a
seguinte: “Porque muitos pais são incapazes ou descuidados para que possamos
confiar a eles essa tarefa”.
Evidentemente se a maioria dos pais cumprissem o trabalho de forma
satisfatória, o Estado não teria razão para intrometer-se. Mas então a própria
razão para a existência da escola pública é essa ampla classe de pais negligentes.
Porém, o homem é um ser carnal, alienado da piedade. Consequentemente, todos
aqueles que negligenciam o desenvolvimento mental de seus filhos também
negligenciam seu cultivo espiritual.
Portanto, devemos supor que, na própria classe que serve de pretexto para a
intervenção do Estado, o desenvolvimento fatalmente parcial que ele fornece
permanecerá sendo parcial. O Estado não tem direito de presumir nada diferente
disso. No entanto, alguém pode replicar: “Nisto, não cabe à igreja assumir esse
trabalho, negligenciado tanto pela escola pública secularizada quanto pelos pais
ímpios?”.
A resposta é que a escola secular não pode declarar a igreja como um
aliado. Ademais, se a igreja se encontra suficientemente onipresente, disposta e
eficiente ao redor de todo o país para que se possa confiar nela, por que ela não
inspirará, nos pais e indivíduos filantropos, zelo suficiente para cuidarem de toda
a educação da juventude? Assim, mais uma vez, desaparecerão todas as razões
para a intervenção do Estado.
Todavia, a igreja de fato não repara, nem é capaz de fazê-lo, o agravo que
está sendo causado pelo seu mais rico e poderoso rival. O Estado secular está
fornecendo, sob o disfarce de uma educação não cristã, uma educação anticristã.
É também um fato bastante conhecido aos homens práticos que as escolas
públicas obstruem os empenhos dos pais e de filantropos. Desse modo, caso não
houvesse interferência, pais seguiriam o impulso de cristãos iluminados, seus
próximos e seus guias naturais, criando assim escolas privadas para seus filhos.
As escolas seriam tanto primárias quanto clássicas. Porém, agora
invariavelmente oferecem apenas a educação primária. “O imposto referente à
escola deve ser pago de qualquer modo, e é pesado. Isso é tudo que podemos
fazer”.
No passado, filhos de pais pobres que demonstravam aspiração para a
aprendizagem encontravam sua oportunidade para receber a instrução clássica
perto de seus lares, nas incontáveis escolas privadas criadas pela iniciativa de
pais e pelo espírito público. A caridade da vizinhança jamais permitiu que tais
jovens merecedores fossem impedidos pela simples falta de instrução. Uma vez
que os melhores homens são líderes naturais de seus próximos, eles trariam uma
grande parte das crianças das classes próximas a eles para as escolas privadas
criadas para suas próprias famílias. Essas, por essa mesma razão, seriam
certamente escolas cristãs.
No entanto, o objetivo da educação pública é trazer um grande número de
crianças para as escolas primárias e reduzir de algum modo a iliteracia — o que
é um grande deleite para filantropos superficiais. Porém o número de jovens
educados para além dos meros rudimentos, e especialmente aqueles que
passaram por educação cristã cotidiana, é diminuto.
Dessa maneira, a secularização efetiva e consistente da educação não deve
ser tolerada. Mas quase todos os homens públicos e pregadores declaram que as
escolas públicas são a glória da América. Elas são uma finalidade, e de modo
nenhum deve-se abrir mão delas. Vimos que sua secularização total é
logicamente inevitável. Os cristãos devem preparar-se, então, para as seguintes
consequências: todas as orações, catecismos e Bíblias serão, por fim, retiradas
das escolas.
Mas isto não satisfará os católicos, que obstinadamente — e caso sua
religião estivesse certa, corretamente — insistem que a educação para suas
crianças deve ser cristã. Esse poder sobre as esperanças e medos dos demagogos
assegurar-lhes-á aquilo que os protestantes não podem exigir por coerência —
uma verba separada retirada dos fundos públicos.
Portanto, em relação ao protestantismo, Roma desfrutará de uma grande
vantagem na corrida do propagandismo. A humanidade sempre perceberá, mais
cedo ou mais tarde, que não pode subsistir sem uma religião, e isto fará com
que assuma preferencialmente uma religião falsa em lugar de nenhuma.
Infidelidade e impiedade práticas tornar-se-ão cada vez mais predominantes
entre os jovens protestantes, e nossas igrejas enfrentarão uma dificuldade maior
para seu crescimento, quando não para sua existência.
Talvez os protestantes americanos possam ser conduzidos não ao abandono,
mas à revisão de suas opiniões no tocante à educação. Eles poderiam relembrar
as condições sob as quais a teoria da educação pública veio a ser primeiramente
aceita neste país. Deu-se nas colônias que, ao mesmo tempo, advogavam
firmemente a união entre igreja e Estado.
As colônias de Massachusetts e Connecticut, por exemplo, honoráveis
pioneiras na educação pública desta nação, eram resolutamente teocráticas em
sua constituição. A religião reformada fora estabelecida por lei.
O mesmo sucedeu em todos os países protestantes da Europa, cujos
exemplos bem-sucedidos são sempre citados. Escócia e Prússia, por exemplo,
têm a fé protestante como religião estabelecida. Essa união igreja/Estado e a
educação pública primária sempre foram parte de um sistema coerente nas
mentes de seus governantes na igreja e no Estado.
Uma educação secular, tal como esta que resultará de nosso sistema escolar
público, teria sido repudiada com indignação pelos Winthrops e Mathers, os
Knoxs, os Melvilles e os Chalmers. Pode-se até mesmo dizer com segurança que
os Tholucks e os Bismarcks, que são apontados como precedentes e modelos,
condenariam tal coisa.
Será de fato honesto os defensores da escola pública citarem as opiniões e
ações de todos esses grandes homens, para algo que é inteiramente diferente
daquilo que defendiam? John Knox, por exemplo, insistia na educação primária
para cada criança na Escócia por parte do Estado. Mas isto porque o Estado que
ele havia auxiliado a reconstruir na Escócia estava revestido do poder legitimado
para ensinar a religião reformada (por meio da igreja aliada), e porque era assim
competente para ensinar as crianças a lerem e de igual modo ensiná-las as
Escrituras e o Catecismo da Assembleia [de Westminster].
Se Knox tivesse testemunhado uma ruptura entre igreja e Estado (a qual ele
teria condenado como maligna e pagã) conduzindo a uma educação secular, e
que educasse o intelecto sem a consciência ou o coração, sua língua heroica não
teria pronunciado palavras inseguras.
Vemos, pois, que homens bons e sábios adotaram e desenvolveram com
êxito esse sistema. Mas eles o fizeram somente por comunidades que uniam
igreja e Estado, e a educação mental com a espiritual. A questão para
consideração honesta é, pois, a seguinte: “Que modificações a teoria da
educação pública deveria receber, quando é importada para comunidades cujos
governos civis secularizaram-se de forma absoluta, tornando ilegal e impossível
a união entre os poderes secular e espiritual?”.
A resposta talvez possa ser encontrada ao retrocedermos ao primeiro
princípio sugerido no início desta discussão. A educação das crianças é uma
função cívica ou eclesiástica?
Não é propriamente uma função doméstica que cabe aos pais?
Primeiramente, lemos nas Escrituras que Deus estabeleceu a família pela união
de uma mulher com um homem, numa só carne, para a vida, para o fim
declarado de “buscar a descendência que prometera” [Malaquias 2.15]. Isto não
implica que Deus olha para os pais, nos quais se fundamenta a família, como os
agentes responsáveis desse resultado?
No Quinto Mandamento, Deus vinculou o filho não com o presbítero ou o
magistrado, mas com seus pais, o que evidentemente confere a estes a autoridade
apropriada e primacial. Esse argumento aparece novamente na própria ordem da
gênese histórica da família e do Estado, assim como da igreja visível. A família
foi estabelecida em primeiro lugar.
Os pais, no princípio, foram os únicos chefes sociais existentes. A criação
correta das crianças por parte deles foi necessária para a constituição correta de
duas outras instituições. Consequentemente, a autoridade dos pais sobre as
crianças aparentemente não pôde ter se originado pela delegação do Estado ou
da igreja visível — não mais do que a água na fonte procede do reservatório
inferior.
Em segundo lugar, o modo como Deus opera no curso da natureza
demonstra onde estão depositados o poder e o dever da educação. Deus
determinou que os pais decidam em que momento a criança iniciará sua carreira
adulta. O filho herda a fortuna, a posição social, a responsabilidade, ou a má
reputação de seu pai.
Em terceiro lugar, Deus deu aos pais influências sociais e morais tão
singulares, tão extensas, que nenhum outro poder terreno, ou todos os demais
poderes juntos, podem substituí-los na formação do caráter da criança. O
exemplo doméstico, fortalecido pela venerável autoridade do pai e da mãe,
repetido continuamente em casa e reforçado pela reverência filial, deveria ter a
força suprema sobre o caráter. Deus preservou esse poder ímpar por meio da
afeição natural, a mais poderosa e mais altruísta que ainda se mantém no coração
do homem caído. Até que o magistrado seja capaz de sentir o amor, sendo por
este animado para um cuidado e trabalho abnegados iguais ao de um pai e ao de
uma mãe, ele não pode apresentar nenhuma razão para assumir qualquer função
parental.
O melhor argumento neste ponto é o próprio instinto do coração. Pais
nenhuns podem deixar de ressentir-se pela intrusão de qualquer autoridade entre
sua consciência e convicções e a alma de seu filho. Se o pai conscientemente
acredita que seu próprio credo é verdadeiro e justo e impreterível perante Deus,
então ele deve intuitivamente considerar como usurpação a intrusão entre ele e
seu filho por parte de qualquer poder que busca promover a rejeição desse credo.
Somente a liberdade da mente do filho, quando se tornar um adulto, pode
legitimamente interpor-se. Se essa usurpação é cometida pela igreja visível, é
uma caminhada em direção ao catolicismo. Se é cometida pelo magistrado, é
uma caminhada em direção ao despotismo.
Pode-se objetar que essa teoria torna os pais soberanos durante a
menoridade mental e moral da criança. Isso afeta a formação das opiniões e
caráter da criança, e visto que os pais são falíveis e podem ensinar o filho
equivocadamente, é necessário que haja uma autoridade superior para
supervisionar e intervir.
A resposta para isso é que a suprema autoridade deve ser colocada em
algum lugar. Deus indicou que, em geral, nenhum lugar é tão seguro para isso
quanto os braços dos pais, os quais possuem o amor maior pela criança e as
melhores oportunidades.
Mas, os pais não podem, no entanto, negligenciar ou perverter esse poder?
Sim, mas acaso o Estado jamais negligencia ou perverte seus poderes? Com as
lições da história para nos ensinarem acerca dos abusos de poder horríveis e
quase universais nas mãos de governantes civis, essa questão é conclusiva. No
caso de um Estado ímpio ou injusto, o mal seria universal e enorme. Não há
dúvida de que Deus depositou o dever da educação no lugar mais seguro.
As competições entre Estado e igreja pelo poder sobre a educação têm sido
tão absorventes que quase nos esquecemos dos pais, o terceiro e legítimo
competidor. E agora muitos olham para a reivindicação dos pais quase com
desprezo. Uma vez que as esferas da igreja e do Estado são muito mais amplas e
mais populosas do que a esfera dos pais, eles estão inclinados a considerá-la em
tudo inferior. No entanto, não vimos que o menor círculo é, de fato, o original e
mais autorizado dentre os três?
Qualquer homem que faça uso mínimo de seu intelecto dirá que seu direito
de casar-se e ser um pai advém da permissão do Estado? Há aqui um equívoco
em relação à autoridade do Estado, porque as constituições civis conferem ao
Estado certas funções policiais relativas ao casamento e às famílias. Do mesmo
modo, há leis relativas a certos pertences eclesiásticos. Mas por que os
protestantes supõem, a partir disto, que seus direitos religiosos são conferidos ou
podem ser legitimamente retirados pela autoridade civil?
A verdade é que Deus instituiu imediata e fidedignamente três organismos
[13]

para o homem na terra — o Estado, a igreja visível e a família. Eles são


coordenados em seus direitos e mútua independência. O Estado ou a igreja não
têm mais direito de invadir a esfera parental do que os pais de invadirem as
suas esferas. A justa distribuição de todos os deveres e poder entre os três
círculos seria a solução completa desse problema de bom governo que jamais foi
resolvido com êxito total.
O que é essencial para uma teoria genuína dos direitos humanos? A
independência real do menor porém mais elevado domínio — o domínio dos
pais — deve ser respeitada. Não ficou provado que a direção da educação é uma
de suas prerrogativas?
Mas o direito que o Estado tem de existir não implica o direito de assegurar
todas as condições de sua existência? Acaso não existe a possibilidade de os pais
perverterem ou negligenciarem de tal modo a educação ao ponto de criar uma
geração que não tem a competência para preservar nossas instituições civis? Isto
não dá ao Estado o controle sobre a educação?
A primeira resposta é que isso não é sequer um pretexto para a invasão por
parte do Estado à esfera parental para além do que diz respeito à existência de
uma negligência destrutiva. Isto é, o Estado deve estimular, ou ajudar, ou coagir
somente os pais negligentes.
Em segundo lugar, este mesmíssimo argumento pode autorizar o Estado a
intrometer-se no círculo espiritual e estabelecer e ensinar uma religião. Há aqui
um sofisma. Pressupõe-se que uma forma particular de instituições civis tem um
direito prescritivo de perpetuar-se a si mesma. Não há direito algum desse tipo.
Essa é a abordagem americana — as pessoas possuem um direito inerente de
mudarem suas instituições.
Porventura nossos pais republicanos sustentaram que quaisquer pessoas
possuem o direito de subverter a ordem moral da sociedade ordenada por Deus e
pela natureza? Certamente não. Neste ponto, então, a distinção entre a ordem
moral e qualquer ordem civil particular é-nos desvelada. E isto é frequentemente
ignorado. Não é verdade que a autoridade civil está autorizada a moldar um povo
que a ela se ajuste. O oposto é verdadeiro: o povo deve moldar a autoridade
civil.
Trata-se de uma máxima na filosofia política, assim como na mecânica, que
quando um organismo é utilizado numa função para a qual não fora projetado,
ele é danificado e a função é realizada de modo precário. Pensemos num
fazendeiro que tem um moinho projetado e bem ajustado para moer seu grão. Ele
resolve, no entanto, que o moinho também há de debulhar seus feixes. O
resultado é uma debulha horrível e um moinho avariado.
Repito: Deus designou o Estado como o órgão para assegurar a justiça
secular. Quando ele se volta para o ensino ou a pregação, ele reproduz a
experiência do fazendeiro.
O governo afeta poderosamente o caráter nacional pela maneira que realiza
suas funções designadas. Se a administração é justa, pura e livre, ela engradece o
povo. Mas isto se dá mediante influência indireta, e é tudo que a administração
pode fazer bem. O resto de qualquer elevação nacional (um resultado que todo
homem bom tem de desejar) deve proceder de outras agências. Devemos olhar
para as obras da Providência todo-poderosa. Devemos buscar as ideias férteis e
os atos heroicos com os quais Deus inspira os grandes homens que ele
soberanamente concede às nações que pretende abençoar. Devemos também
buscar a energia da divina Verdade e as virtudes cristãs, que são vistas
primeiramente nos indivíduos, em seguida nas famílias, e por fim nas igrejas
visíveis.
Suponhamos que tanto o Estado quanto a igreja reconheçam os pais como o
poder educador. Suponhamos, além disso, que eles assumam em relação aos pais
uma atitude comedida porém prestativa — ao invés de uma atitude de
dominação. O Estado deveria encorajar os esforços individuais e voluntários ao
preservar o escudo imparcial da proteção legal sobre toda propriedade que possa
ser dedicada à educação. Deveria encorajar todos os esforços privados, e poderia
ajudar aqueles cuja pobreza e adversidades incapacitaram-nos a criar
adequadamente seus próprios filhos.
Desse modo, os problemas relativos à religião nas escolas públicas seriam
resolvidos. O Estado não é o criador responsável das escolas, mas sim os pais.
Nosso sistema educacional teria uma simetria menos mecânica, porém seria mais
flexível, mais prático e muito mais proveitoso.
PARTE II






1. POLÍTICA E EDUCAÇÃO[14]
R. J. Rushdoony

Nos primeiros meses de 1967, estudantes em Berkeley manifestaram-se contra a
possibilidade de uma mensalidade, e uma frase excelente foi cunhada por alguns
dos manifestantes: Mantenham a política fora da educação. É tempo de pensar
seriamente sobre esse princípio. Precisamos manter a política fora da educação.
O Estado não possui o direito de governar as escolas, assim como não possui o
direito de governar as igrejas, e não tem mais fundamentos para financiar a
educação do que tem para financiar igrejas. O que precisamos urgentemente é o
disestablishment das escolas — a separação da escola e o Estado.
[15]

A educação não é função do Estado; é função dos educadores. Um


advogado, barbeiro, ministro, geólogo de petróleo ou pecuarista — todos agem
sem o benefício de qualquer subsídio de alguma agência do governo civil. Eles
sobrevivem porque, primeiro, seus serviços são necessários, e, em segundo
lugar, porque seus serviços são melhores do que aqueles dos seus competidores.
Um subsídio destrói a qualidade; ele impede que os fracassos num campo de
atividade paguem pelo preço do fracasso, que abandonem o negócio. Visto que o
subsídio permite que um fracasso continue, ele sustenta a incompetência viva e a
torna pelo menos igual à competência.
Certamente, a educação é necessária para a sociedade, mas igrejas também
são muito necessárias, assim como médicos, advogados, mecânicos e muitas
profissões e ofícios. A necessidade qualifica-os, pois, para o recebimento de um
subsídio? Um subsídio é uma forma de establishment ; é também uma forma de
[16]

aprisionamento. Sempre e onde quer que um governo civil financie qualquer tipo
de atividade, ele tem o direito legal e moral de controlar essa atividade. Se o
Estado financia as igrejas, ele tem o direito de controlar as igrejas. Se o Estado
financia as escolas, faculdades e universidades, ele tem o direito e o dever de
controlá-las.
Alguns objetarão, contudo, que nem todos podem pagar pela educação. A
resposta é que antes do Estado começar a financiar a educação nos Estados
Unidos, todas as crianças americanas eram educadas. Os filhos dos pobres e dos
imigrantes eram educados por sociedades missionárias educacionais. Além
disso, é um engano pensar que não pagamos pela educação quando esta é
custeada pelo Estado. Não só pagamos, mas pagamos mais. Recentemente, duas
escolas foram construídas em uma comunidade, para um número quase igual de
crianças, mas o custo da escola cristã era metade daquele da escola estadual e
oferecia uma educação de maior qualidade. Deve-se também acrescentar que a
carga tributária educacional sobre o pobre é bem mais pesada do que
mensalidade de qualquer escola cristã; ele paga esse imposto direta ou
indiretamente, quase a cada momento do dia.
A educação custeada pelo Estado é uma educação totalitária. A essência do
totalitarismo é simplesmente esta: ele afirma que o Estado tem todas as respostas
para a vida, e que praticamente toda esfera da atividade humana deve ser
governada pelo Estado. O totalitário crê que a educação, a economia e o
comércio, a família, o bem-estar da criança e do idoso, a medicina, a ciência e
tudo o mais precisa da mão controladora e orientadora do Estado. Há diferentes
tipos de totalitarismo — marxista, democrático, fascista, fabiano e assim por
diante — mas suas diferenças não são essenciais, ao passo que suas
correspondências o são. Comum a todas as formas de totalitarismo é a crença no
controle da educação pelo Estado. Desde o projeto de Platão para um Estado
comunista até os dias de hoje, o planejamento totalitário tem investido de forma
pesada sobre o controle da educação.
O libertarianismo cristão é hostil à política na educação. Ele também não é
a favor da igreja na educação. A escola, sob Deus, é uma agência tão livre
quanto a igreja e o Estado. Nem a igreja nem o Estado têm qualquer direito de
controlar o outro, nem possuem qualquer direito de controlar a família, a
economia, a cultura, a arte ou qualquer outra esfera de atividade humana.
Nenhuma instituição tem o direito de fazer o papel de deus e de guardiã de todas
as outras instituições na sociedade. A reivindicação desse direito por qualquer
instituição se configura como totalitarismo. A família não pertence à igreja nem
ao Estado; ela é uma instituição separada, estando diretamente sob a autoridade
de Deus. Da mesma forma, a escola tem o direito a uma existência livre e
separada. Ela é um reino independente, com uma função marcadamente diferente
daquela da igreja e do Estado.
A função da escola e do professor é ensinar, educar. Se o Estado ou a igreja
controla a escola, então torna-se função da escola servir aos propósitos do
Estado ou da igreja. A propaganda passa a governar a educação. Em vez de
servir à função primária da escola ou da faculdade, o professor serve então ao
propósito primário do Estado ou igreja controladores. Além disso, a qualidade da
escola declina, pois a escola nesse caso existe por meio de um subsídio de outra
instituição, não por estar fazendo um trabalho bem-sucedido.
Uma escola verdadeira bem-sucedida é aquela cujos propósitos e ensinos
agradam tão fortemente certo grupo de pessoas, que elas voluntariamente a
apoiam, pagam as mensalidades para matricularem-se nela, e julgam que sua
existência é importante o suficiente para promovê-la.
Sob o sistema de escolas livres — escolas não subsidiadas — algumas
escolas ensinarão com base na fé cristã, outras, com base no humanismo, mas
cada escola dependerá de seus méritos e do apoio popular para manter-se em
funcionamento. Essa é exatamente a forma como as igrejas sobrevivem, e não
nos faltam igrejas. É assim também que o negócio sobrevive, atendendo à
demanda pública com um produto superior que venda facilmente.
A educação não estatal hoje é o movimento social que mais cresce na
América. Todo o ano mais e mais escolas cristãs e privadas estão sendo
estabelecidas, e muitas têm longas listas de espera. Essas escolas não
representam apenas as classes mais ricas. Uma das melhores escolas que visitei
havia se estabelecido numa pequena cidade, e a maioria das crianças eram de
famílias que trabalhavam em moinhos, quase todas com rendas muito modestas.
Essas escolas estavam sendo estabelecidas porque os pais estavam exigindo uma
educação que satisfizesse seus requerimentos, e não os do Estado. Hoje entre
25% e 30% de todas as crianças do ensino fundamental não estão em escolas
públicas; elas estão em escolas privadas, paroquiais e cristãs. E 10% de todos os
estudantes do ensino médio nos Estados Unidos também estão em escolas não
estatais. E a percentagem está crescendo rapidamente. Essa é a maior revolução
social dos nossos dias, e todavia os jornais raramente a mencionam. Desde 1950,
o cenário educacional tem visto um grande deslocamento da educação estatal no
ensino fundamental e médio, mas poucos estão cientes desse fato revolucionário.
No ritmo atual de crescimento, até o final do século a escola pública terá sumido
e a escola independente tê-la-á substituído.
O slogan: Mantenham a política fora da educação é ao mesmo tempo bom
e necessário. A educação precisa de liberdade para sobreviver. O mundo
acadêmico tem também sido há muito tempo um refúgio para excêntricos que
prosperam num mundo subsidiado. O professor mediano de hoje não é um
scholar. Ele está disposto a fazer uma pesquisa apenas se lhe for necessária para
uma promoção. Tão logo se torna um professor titular e efetivo, desinteressa-se
em aprender, pois o seu mundo é um lugar melhor para se esconder da educação
do que um lugar para a educação. Poucos professores são professores aceitáveis;
eles não estão suficientemente interessados no ensino ou na erudição para além
do pouco que se requer atualmente deles. Karl Jaspers, um filósofo
existencialista e professor universitário, admitiu que a universidade moderna é
basicamente anti-intelectual e hostil à excelência. Sendo ela o refúgio de homens
medíocres, Jaspers afirma, “a excelência é instintivamente excluída por medo de
competição”. [17]

Nas ciências, embora incontáveis milhões de dólares sejam despejados


anualmente nas escolas de pós-graduação e nos centros universitários de
pesquisa, os resultados são muito pobres. Os avanços essenciais em pesquisas
procedem de laboratórios particulares, de homens que devem produzir com base
no mercado. A ciência tem um maior avanço não com subsídios, mas sob
competição e sob a necessidade de produzir com base no lucro.
A educação subsidiada é produtiva não de acordo com as necessidades do
mundo em geral, mas sim em relação às exigências dos políticos. A escola é
adaptada às necessidades do Estado, e não de uma perspectiva de um mundo de
trabalho. O resultado é uma incompetência crescente na educação pública.
Quanto mais a educação se desenvolve com base em seus propósitos orientados
pelo Estado, mais incompetente ela se torna. Quando a política governa a
educação, é a política que ganha, e a educação torna-se a perdedora. A educação
tem declinado progressivamente à medida que o controle político sobre ela tem
aumentado. Dessa forma, o National Fifth Reader da década de 1850 estava
[18]

tão à frente do McGuffy Fifth Reader que não havia comparação, e agora temos
muitos que olham para trás, para o McGuffy, como sendo superior às
capacidades dos leitores atuais. O declínio é real, pois a escola está ajustada à
política, não à educação, e, nos próximos anos, o declínio somente agravar-se-á
mais rapidamente.
As escolas independentes estão ganhando terreno velozmente porque elas
oferecem educação superior. Em vez de melhorar a qualidade da educação que
oferecem, alguns educadores do Estado têm expressado a opinião que escolas
independentes deveriam ser declaradas ilegais ou assumidas pelo Estado. Esta é
a resposta totalitária aos problemas: proíba a concorrência. Em 1935, no caso de
Oregon, a Suprema Corte dos Estados Unidos prescreveu: “A teoria fundamental
da liberdade sobre a qual todos os governos na União se assentam exclui
qualquer poder geral do Estado para padronizar suas crianças, forçando-os a
aceitar instrução apenas de professores da rede pública”; em outas palavras, a
educação independente é essencial para a liberdade humana. Mas John L. Childs,
professor emérito da Columbia Teachers College, questionou esse direito alguns
anos depois, dizendo: “A menos que as práticas educacionais da igreja que se
presume terem sido sancionadas por aquela decisão histórica da Suprema Corte
sejam revistas e reexaminadas, o futuro da escola comum não é promissor”.
Contra essa atitude, devemos insistir firmemente: Mantenham a política fora da
educação; defendamos a separação do Estado e a escola.
2. EDUCAÇÃO E A FAMÍLIA[19]
R. J. Rushdoony

Um aspecto fundamental do amparo que os pais devem ao seu filho é a
educação no sentido mais amplo da palavra. Isso envolve, em primeiro lugar, o
castigo. De acordo com Provérbios 13.24: “O que retém a vara aborrece a seu
filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina”. Novamente, “castiga a teu filho,
enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo” (Pv 19.18); os
pais de então eram tão inclinados a serem moles como hoje em dia, mas a
necessidade de castigo não pode ser posta de lado por uma compaixão tola. O
castigo pode salvar a vida da criança: “Não retires da criança a disciplina, pois,
se a fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a
sua alma do inferno” (Pv 23.13-14). O castigo é necessário, como Kidner
apontou, pois, como é dito em Provérbios:

Primero, “a estultícia está ligada ao coração
da criança”; será necessário mais do que
palavras para desalojá-la dali (22.15).
Segundo, o caráter (no qual a sabedoria se
concretiza) é uma planta que cresce mais
robustamente mediante algumas podas (cf.
15.32, 33; 5.11, 12; Hb 12.11) — e isso desde
os primeiros dias (13.24b: “cedo”; cf. 22.6:
“Ensina a criança no caminho em que deve
andar, e, ainda quando for velho, não se
desviará dele.”). Numa “criança entregue a si
mesma”, o único resultado previsível é a
vergonha (29.15). [20]


Mas o castigo não é substituto para a sã instrução, para o ensino
apropriado. Dessa forma, em segundo lugar, os pais têm o dever de fornecer à
criança uma educação piedosa: “O temor do SENHOR é o princípio do saber, mas
os loucos desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv 1.7); “O temor do Senhor é o
princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência.” (Pv 9.10). A
sabedoria reside na fé, e o verdadeiro conhecimento tem como seu pressuposto o
Deus soberano. Não pode haver nenhuma neutralidade na educação. Educação
pelo Estado terá fins estatistas.
Educação pela igreja será orientada para a promoção da igreja. A escola
não pode ser subordinada nem à igreja, nem ao Estado. A igreja dos dias de
Cristo ensinava aos homens a dar à igreja, supostamente a Deus, em vez de
[21]

prover para os seus pais (Marcos 7.7-13). O pecado era assim ensinado como
uma virtude.
Deus exige que os filhos obedeçam a seus pais. A contraparte a isso é o
dever dos pais de ensinarem aos seus filhos os fundamentos da obediência, a lei
de Deus. A própria lei requer isso:
Pois que grande nação há
que tenha deuses tão
chegados a si como
o SENHOR, nosso Deus,
todas as vezes que o
invocamos? E que grande
nação há que tenha
estatutos e juízos tão
justos como toda esta lei
que eu hoje vos
proponho? Tão somente
guarda-te a ti mesmo e
guarda bem a tua alma,
que te não esqueças
daquelas coisas que os
teus olhos têm visto, e se
não apartem do teu
coração todos os dias da
tua vida, e as farás saber a
teus filhos e aos filhos de
teus filhos. (Dt 4.7-9)

Estas palavras que, hoje,
te ordeno estarão no teu
coração; tu as inculcarás a
teus filhos, e delas falarás
assentado em tua casa, e
andando pelo caminho, e
ao deitar-te, e ao levantar-
te. (Dt 6.6-7)

Uma vez a cada sete anos, no ano sabático, as crianças, juntamente com
os adultos, tinham que ouvir a leitura de toda a lei (Dt 31.10-13).
Desde os primórdios, líderes religiosos em Israel assumiram a tarefa da
educação. O profeta Natã tornou-se o instrutor do jovem Jedidias, “amado do
Senhor”, ou Salomão (2Sm 12.25). [22]

Terceiro, visto que a lei é intensamente prática, a educação hebraica era


intensamente prática. A opinião comum sustentava que um homem que não
ensinasse ao seu filho a lei e um ofício, a habilidade de trabalhar, estava na
verdade criando-o para ser um tolo e ladrão. É dito que Simeão, o filho do
famoso Gamaliel, observou: “Não o aprender, mas o fazer é a principal coisa”. [23]

Josefo, em sua obra Contra Apião, comparou a educação dos hebreus com a dos
gregos. A educação grega, apontou Josefo, afastava-se do rigorosamente prático
em direção ao abstrato e teórico, ao passo que a lei bíblica tinha uma relação
sadia entre princípio e prática.
Quarto, a educação bíblica, sendo centralizada na família e enfatizando a
responsabilidade de pais e filhos, produzia pessoas responsáveis. Uma pessoa
criada e educada na doutrina de que tem a responsabilidade de cuidar dos seus
pais tão logo surja a necessidade, de prover para os seus filhos, e, no melhor de
sua capacidade, de deixar uma herança de disciplina e exemplo moral, bem
como riqueza material, é uma pessoa profundamente condicionada à
responsabilidade. Em tal sistema educacional, o Estado não é a parte
responsável, mas sim a família, e o homem tem o dever de ser um cabeça
competente e providente para seu lar, e a esposa, uma ajudadora habilidosa para
o seu marido. O abandono da educação orientada para a família leva à destruição
da masculinidade, e torna as mulheres em graciosos regalos para os homens ou
em suas competidoras agressivas. Homens e mulheres, tendo perdido sua função,
vagueiam instavelmente e sem um senso legítimo de propósito. A educação
moderna abstrai o conhecimento; o especialista se orgulha por não saber nada
fora de sua área e exibe sua recusa em relacionar seu conhecimento com outras
áreas como se fosse um distintivo de honra. Se o erudito busca relatividade
social, também o faz sem um princípio transcendental, e o resultado é uma
imersão no processo social sem uma estrutura de valor; tudo o mais é
considerado como destituído de sentido, a não ser o processo que, naquele
momento, se torna a estrutura encarnada.
Na educação moderna, o Estado é o educador, e o Estado é considerado a
agência responsável em vez do homem. Tal perspectiva milita para destruir o
aluno, cuja lição básica se torna a dependência em relação ao Estado. Recorre-se
ao Estado, e não ao indivíduo e à família, para decisões e ações morais, e o papel
moral do indivíduo é assentir e se curvar perante o Estado. A educação estatista
é, no mínimo, implicitamente antibíblica, mesmo quando e onde ela dá à Bíblia
um papel no currículo.
Quinto, essencial para o chamado de toda criança é ser membro de uma
família. Praticamente todas as crianças um dia tornar-se-ão maridos e mulheres,
e pais ou mães. A escola estatista destrói este chamado. Suas tentativas de
satisfazer a necessidade são essencialmente externas e mecânicas, i.e., cursos de
economia doméstica, educação sexual e coisas semelhantes. Mas o treinamento
essencial para a vida familiar é a vida em família e uma escola e sociedade
orientadas para a família. Isto implica educação bíblica. Implica também
disciplina e prática numa responsabilidade piedosa.
A escola estatista, além disso, basicamente treina mulheres para serem
homens; não é de surpreender que tantas estejam infelizes por serem mulheres. [24]

E os homens não são mais felizes, visto que o domínio na educação moderna é
transferido do homem para o Estado, e o homem é progressivamente
emasculado. A maior vítima da educação moderna é o estudante do sexo
masculino. Uma vez que, segundo o propósito criativo de Deus, o domínio é um
aspecto básico do homem, qualquer educação que diminua o chamado do
homem para exercer domínio também diminui, na mesma proporção, o homem.
Sexto, a educação bíblica enfatiza o aprendizado, o aprendizado piedoso.
Os provérbios judaicos ressaltam esse aspecto. Já nos referimos a um deles:
“Assim como exige-se que o homem ensine a Torá ao seu filho, da mesma forma
requer-se que ensine uma profissão”. Ademais, “aquele que ensina ao filho do
seu próximo a Torá, é como se o tivesse gerado”. Mas, principalmente, “um
homem ignorante não pode ser santo”. Visto que a santidade não é um ato
[25]

autogerado, mas, pelo contrário, exige uma conformidade à lei e justiça de Deus,
um homem ignorante não pode ser santo. Além disso, visto que o conhecimento
também não é autogerado, e o sentido da factualidade não vem dos fatos mas do
Criador, o conhecimento requer, como seu pressuposto em cada área, o
conhecimento de Deus, cujo temor é o princípio da sabedoria e do
conhecimento.
É necessário mais do que nunca enfatizar que os melhores e mais
confiáveis educadores são os pais sob a autoridade de Deus. A maior escola é a
família. No aprendizado, nenhum ato de ensino em qualquer escola ou
universidade se compara à tarefa rotineira de mães ao ensinar a um bebê, que
não fala nenhum idioma, a língua materna em tão pouco tempo. Nenhuma outra
tarefa na educação pode comprar-se a isso. O treinamento moral da criança, a
disciplina de bons hábitos, é uma herança dos pais aos filhos que sobrepuja todas
as demais. A família é a primeira e fundamental escola do homem.




3. SOBERANIA E EDUCAÇÃO[26]
R. J. Rushdoony

James E. Wood Jr., editor do Journal of Church and State [Periódico da
Igreja e Estado], primeiramente ridicularizou a noção dos fundamentalistas de
que o humanismo secular é a fé das escolas estatistas dos Estados Unidos. Ele
faz eco à opinião de que se trata de “uma ilusão paranoica” por parte da direita
religiosa. Ele vê o humanismo secular como um mito cujos “autores” são os
fundamentalistas. Ele cita a declaração do senador Daniel Patrick Moynihan de
que nem ele, nem qualquer um que tenha ajudado na elaboração do Education
for Economic Security Act (1984), que em parte barrou um distrito escolar de
receber fundos para financiar qualquer curso que envolva humanismo secular,
sabia “de qualquer distrito escolar que ensinasse um humanismo secular. Não
estou certo se alguém sabe o que é humanismo secular… certamente, nenhuma
das escolas afetadas pela legislação” o ensina.
Em segundo lugar, Wood afirmou a “neutralidade” das escolas públicas
“para com as fés ou tradições religiosas particulares”. [27]

Wood aceitou a declaração de neutralidade em relação aos valores feita


pelas escolas do Estado. A ideia de neutralidade é, contudo, um mito. Cada
pessoa e instituição têm uma perspectiva e um plano que envolve um
comprometimento. Se Deus é de fato o Criador dos céus e da terra, e se o Deus
da Escritura é o Deus vivo, eliminá-lo da educação não é neutralidade, mas
inimizade; a consideração mais importante de todas não é considerada. Nenhum
homem pode ser neutro para com Deus. A ideia de neutralidade pressupõe uma
objetividade da parte do homem que não é sustentável. Além disso, não nos é
possível presumir que a neutralidade seja essencial para o estabelecimento da
verdade; se um homem é neutro para com todas as coisas, então todas as coisas
são igualmente sem sentido para ele. Nem mesmo Deus professa ser neutro; ele
fala de odiar certas coisas e pessoas (e.g., Provérbios 6.16-19). Nas ciências,
uma hipótese, que é uma pressuposição não neutra, conquanto experimental, é
usada na abordagem da factualidade. A educação estatista não é neutra; cada
tema no currículo, cada livro-texto, e cada regulação envolve um julgamento não
neutro. Os tribunais não são neutros; num julgamento de assassinato, nem a corte
nem a lei é neutra em relação ao crime de assassinato. Antes, a busca é por
justiça no procedimento e no julgamento, algo muito diferente de neutralidade.
Quanto ao humanismo secular ser um mito, Wood não apresenta
nenhuma evidência de qualquer conhecimento das faculdades de pedagogia, seus
livros didáticos e os livros didáticos da escola. Como ele explicaria um manual
do professor como o Humanistic Education Sourcebook [Livro de Referência
para a Educação Humanista]? Os cinquenta e seis artigos, escritos por grandes
[28]

educadores, enfatizam o humanismo. Um artigo nos diz que “os valores


evoluem”. Os valores são uma opção humana, não um mandato religioso. Eles
são um “produto das nossas experiências. Não se tratam somente de uma questão
de verdadeiro ou falso”. Isto coloca os valores para além do bem do mal. Outro [29]

artigo ridiculariza a doutrina bíblica do homem como um pecador; somos


informados: “as pessoas não são más”. Ainda outro ensaio é intitulado:
[30]

“Humanismo: o ápice de uma pessoa educada”. [31]

Se o humanismo secular (i.e., humanismo como praticado pelos leigos) é


um mito, como podemos explicar tais escritos? [32]

Uma publicação de abril de 1988, da Association for Supervision and


Curriculum Development [Associação para a Supervisão e Desenvolvimento do
Currículo], intitulada Moral Education in the Life of the School [Educação Moral
na Vida Escolar], ignora totalmente a moralidade bíblica. Ela segue Emile
Durkheim, que sustentava que os três elementos essenciais na moralidade são,
primeiro, disciplina; em segundo lugar, a “autoridade moral” que é “social na
origem”, o que elimina portanto Deus; e em terceiro lugar, autonomia,
autodeterminação, e o ser humano (não Deus) como “a coisa sagrada por
excelência”. A seção sobre “A pessoa moralmente madura” continua na mesma
[33]

linha. Para uma educação que pretende ser democrática, negligenciar a fé bíblica
da maioria dos americanos, ou pelo menos o maior elemento na população,
dificilmente é democrático! Ainda mais, negligenciar a fé religiosa que é básica
à civilização ocidental não apenas não é uma postura neutra, mas é de fato uma
postura de hostilidade agressiva. Trata-se de uma hostilidade com graves
consequências.
Em 1957, Kenneth Rexroth analisou o que estava acontecendo à arte com
o surgimento do movimento beatnik (que precedeu os hippies). Ele observou que
“muitos dos desenvolvimentos mais impressionantes nas artes de hoje são
aberrantes, idiossincráticos”. A “melhor ficção popular” estava preocupada
[34]

“com o mundo dos totalmente repudiados”. Segundo Rexroth, a tese de Nelson


Algren era: “é melhor estar fora do que dentro”. “É da maior importância social
o fato de que os novelistas que dizem, ‘me orgulho de ser delinquente’, são,
todavia, vendidos em edições de centenas de milhares”. Sendo assim, concluiu:
[35]


O desprendimento do
criador, que, como
criador é necessariamente
juiz, é uma coisa, mas o
absoluto niilismo do
hipster esvaziado é outra.
O que virá de uma atitude
como essa? É impossível
continuar dizendo
indefinidamente: “Me
orgulho de ser um
delinquente”, sem
destruir todo valor
civilizado. Entre tais
pessoas nenhum
relacionamento
interpessoal duradouro
pode ser construído, e
sem dúvida, nada que se
assemelhe a uma
“cultura” verdadeira —
um estar em casa dos
homens uns com os
outros, seu trabalho, seus
amores, seu ambiente. O
resultado final deve ser a
desesperança do
naufrágio — o desespero,
as orgias, em última
instância o canibalismo
de um bote salva-vidas
perdido. Creio que a
maior parte de uma
geração inteira irá para a
ruína — a ruina de
Celine, Artaud, Rimbaud,
voluntariamente, mesmo
entusiasticamente. O que
acontecerá depois não sei,
mas nos próximos dez
anos ou mais teremos que
lidar com a juventude que
nós, minha geração,
fizemos passar pelo
esmagador de átomos. [36]

Desengajamento social,
integridade artística,
pobreza voluntária —
essas são virtudes
poderosas e podemos
introduzi-las, mas não são
as virtudes que tentamos
inculcar — antes, elas são
o exato oposto. [37]


Uma educação que se “desengaja” de Deus e de toda a sua história é uma
educação apaixonada pela morte; ela tem, nos termos de Rexroth, “o
canibalismo de uma bote salva-vidas perdido”. Não é surpresa, pois, que escolas
estatais estejam hoje num estado de ilegalidade e anarquia, tanto moral como
educacional.
Numa interessante passagem, a romancista Erica Jong falou de
casamento não como cura para solidão; de amantes não como sendo nenhuma
panaceia; do sexo não como uma solução final, e em seguida disse: “se você fez
de sua vida uma prolongada doença, então a morte foi a única cura”. [38]

Progressivamente, mais e mais estudantes veem a morte como a única cura, pois
a própria vida é rejeitada. Antes da Revolução Francesa, o mundo dos escritores
foi marcado por uma hostilidade a tudo que fosse positivo. Esses homens eram
os enraivecidos . Antes da Revolução Russa, os escritores, assim como os
[39]

jovens, se tornaram niilistas, tornando-se, portanto, uma classe enraivecida.


Herzen, que não era nenhum defensor da antiga ordem, escreveu com irritação,
de Londres, no tocante a esses niilistas, os enraivecidos:
O que me impressionou
neles foi a facilidade com
a qual desesperaram de
tudo; a alegria feroz de
sua negação e sua terrível
crueldade. A despeito de
seus espíritos excelentes e
intenções nobres, nossos
“biliosos” podem, por seu
tom, levar um anjo a
arroubos e um santo a
maldições. Eles exageram
tudo no mundo com
tamanha compostura, e
não como uma piada, mas
por causa de uma grande
amargura, que se
tornaram completamente
insuportáveis. [40]


Na educação, como na sociedade em geral, atacar as normas cristãs é
ganhar a simpatia como um homem “inteligente” e “perceptivo”. Não poucos
líderes eclesiásticos ganharam proeminência nacional dando voz a tais críticas
“cultas” à fé e lei bíblicas. Em 18 de junho de 1943, durante a Segunda Guerra
Mundial, George Orwell escreveu um poema sobre seu “crime” de patriotismo,
isto é, sua deserção de desprendimento dos valores tradicionais. Ele disse

alguém teve o desaforo
De escrever três páginas
me chamando “traidor”
Um crime tão negro é
amar o próprio país.
Todavia, onde está o
pulha que teria achado
estranho eu
Escrever uma prateleira
de livros em louvor à
sodomia? [41]


Os enraivecidos do nosso século estão enfurecidos acima de tudo contra
a ordem religiosa. Em 1968, The Rolling Stones, uma banda de rock, apresentou
sua música, “Sympathy for the Devil” [Simpatia pelo Diabo]. Marshall Berman,
escrevendo sobre a revolução estudante da década de 1960, registrou, como
membro desse elemento revolucionário, quão enervante foi para muitos deles,
quando os fatos do caso Manson começaram a surgir, descobrir como o mundo
deles coincidia com o dos Manson. Eles eram uma parte da mesma
“contracultura”, com as mesmas músicas, drogas, comportamento sexual, e
muito mais. O “Weatherpeople” aclamou os assassinatos dos Manson “como um
ato político exemplar”. Eles “usaram a linguagem da demonologia
revolucionária”. Berman considerou “pertinente que o LSD tenha sido usado e
celebrado pela primeira vez não nos sombrios enclaves boêmios, mas em
Harvard e no UCLA Medical Center”. Mesmo assim, Berman afirmou:

Qualquer um que persista
na crença “que o bem
pode proceder apenas do
bem e o mal apenas do
mal” — que crê, em
outras palavras, que pode
viver neste mundo e ainda
manter sua inocência
intacta — “é um infante
político”. A vida humana
é sombriamente ambígua
em sua essência. [42]


Nossa cultura simpatiza com o diabo, pois ela se ressente das
reivindicações do Deus soberano das Escrituras. Por conseguinte, ela aceitará
qualquer absurdo em nome da educação; continuará a tolerar a destruição de
suas crianças, moral e intelectualmente; continuará a tolerar o crime nas ruas e
em cada esquina; continuará a tolerar homens degenerados como políticos. Ela
continuará a fazer essas coisas e outras mais, pois já foi dito acerca do soberano,
Jesus Cristo: “não queremos que este reine sobre nós” (Lucas 19.14).
PARTE III
1. ESCOLAS CRISTÃS[43]
John Frame

As Escrituras deixam claro que os pais têm a obrigação de criar seus
filhos num ambiente que seja não somente centrado em Cristo, mas inclusive
saturado de Cristo. Basta ler Deuteronômio 6.4-9:
Ouve, Israel, o SENHOR,
nosso Deus, é o único
SENHOR. Amarás, pois, o
SENHOR, teu Deus, de
todo o teu coração, de
toda a tua alma e de toda
a tua força. Estas palavras
que, hoje, te ordeno
estarão no teu coração; tu
as inculcarás a teus filhos,
e delas falarás assentado
em tua casa, e andando
pelo caminho, e ao deitar-
te, e ao levantar-te.
Também as atarás como
sinal na tua mão, e te
serão por frontal entre os
olhos. E as escreverás nos
umbrais de tua casa e nas
tuas portas.
Conforme apresento minha posição, não concordo, por um lado, com
certos puristas de homeschool que dizem que as Escrituras proíbem qualquer
delegação dessa tarefa; acredito que as crianças nos tempos bíblicos eram
frequentemente aprendizes de praticantes de vários ofícios. Mas claramente os
pais têm a responsabilidade última pela educação dos seus filhos, tanto religiosa
como secular, e eles não deveriam permitir que seus filhos, numa idade jovem,
frequentem uma escola que viole seus valores fundamentais ou que não permita
nenhuma supervisão substancial por parte dos pais.
Por outro lado, acho difícil imaginar qualquer situação em que os pais
possam justificar enviar os seus filhos para uma escola pública americana. [44]
Talvez uma extrema destituição financeira poderia ser uma justificativa, ou a
total incapacidade de uma família ensinar seus filhos em casa. Mas as escolas
públicas excluem as influências cristãs; de fato, elas frequentemente falseiam a
história do mundo a fim de negar a imensa influência do cristianismo sobre a
nossa civilização. Todavia, hoje elas percebem (como não o faziam há trinta
anos) que devem comunicar alguns valores. Esses valores tendem a ser
humanistas seculares, ou relacionados à Nova Era, relativistas, ocultistas etc. E
sem dúvida há problemas dentro do sistema público educacional sempre
mencionados na mídia: violência, drogas, educação sexual relativista, um
número imenso de gravidez entre adolescentes, que tais. [45]

Como, sob tais condições, podem os pais fornecer o ambiente de


Deuteronômio 6, saturado pela Palavra? Além disso, as escolas públicas (e,
infelizmente, muitas privadas) tendem a consumir mais e mais o tempo de uma
criança. Atividades extraclasse de esporte ou complementares e coisas
semelhantes deixam pouquíssimo tempo para a igreja e ensino no lar. Todavia,
um pai cristão precisará de tempo: não somente para ensinar as Escrituras, mas
também para desensinar os valores aprendidos da sociedade em geral, incluindo
professores e colegas da escola pública. Essa tarefa pode ser intimidadora, e
tenho visto pouquíssimos pais que têm conseguido algum sucesso substancial
nela.
Admito que há professores cristãos no sistema de escola pública, e sou
grato por eles. Eles são missionários na linha de frente. É verdade que seus
lábios devem frequentemente permanecer fechados; isso é verdade também em
outras circunstâncias onde há inimigos do evangelho, como em países
muçulmanos. Mas eles possuem oportunidades ocasionais de falar aos seus
colegas e estudantes sobre Jesus, e essas coisas não devem ser desprezadas. Tais
pessoas devem entender o seu papel. A tarefa delas não é educar crianças cristãs.
Elas deveriam ser honestas e direcionar seus amigos cristãos a enviar seus filhos
a outro lugar. No cenário de uma escola pública elas jamais podem esperar
ensinar os jovens cristãos como deveriam, pelo menos não mantendo o seu
emprego. O trabalho delas é realizar um serviço para o seu empregador, o
Governo, e nessa situação, apresentar, tanto quanto possível, um testemunho de
palavra e vida. Há caminhos sutis, também, em que professores podem
apresentar um testemunho, mesmo em sala de aula. Eles podem, por exemplo,
apresentar críticas de filosofias seculares, demonstrando que elas degeneram em
absurdo mediante análise. Agindo assim, eles estarão fornecendo um bom
[46]

serviço intelectual para os seus estudantes, ao mesmo tempo em que colocam


toda a ideologia secularista em cheque. E imagine o estudante descobrindo fora
do ambiente escolar que esse professor, um cético de todos os tipos de
pensamento em sala de aula, é na verdade um cristão!
Mas as famílias cristãs deveriam educar suas crianças jovens em escolas
cristãs ou mediante ensino no lar, caso possível. Digo crianças “jovens”, pois
creio que as crianças cristãs deveriam ser educadas para a vida no mundo, não
para passar o restante de suas vidas num gueto cristão. Elas deveriam ser
ensinadas de tal forma que seriam capazes de entrarem em escolas seculares sem
sofrerem dano, sendo, antes, sal e luz naquela situação. De fato, muitos níveis
avançados de educação exigirão interação de primeira mão com abordagens não
cristãs.
Estudantes diferem quanto ao momento em que estão prontos para o
estudo secular, ou para um emprego no “mundo”. Alguns seriam capazes de
lidar com isso no ensino médio, outros na faculdade, e ainda outros não até que
entrem numa pós-graduação. Mas ninguém deveria entrar numa instituição não
cristã até que estivesse bem fundamentado nas Escrituras e na cosmovisão
reformada a fim de discernir o verdadeiro e falso no ensino não cristão. E ele não
deveria ingressar em tal escola até que seu caráter cristão estivesse bem
formado, até que fosse capaz de dizer “não” às tentações de uma sociedade não
cristã.
Há problemas especiais, também, com colégios e seminários que
professam convicções bíblicas, mas na prática apoiam uma crítica bíblica
destrutiva, ordenação de mulheres, direitos homossexuais e outros aspectos de
uma agenda esquerdista. Estudantes são seres impressionáveis, mesmo quando
cursando o segundo grau ou universidade. Conheci poucos, se é que algum,
alunos secundaristas ou universitários que não tenham sido profundamente
influenciados pelas escolas que frequentaram. Muitos jovens que conheci foram
enviados para tais escolas por pais que esperavam que seus valores cristãos
seriam reforçados, para então experimentar a tragédia de ver seus filhos
conduzidos ao naufrágio espiritual por professores e colegas. Lealdade
denominacional ou confessional frequentemente leva tais pais a ignorarem
problemas que eles perceberiam facilmente em escolas seculares ou escolas de
outras denominações ou tradições. Pastores e presbíteros que encorajam esse
tipo de denominacionalismo cego em detrimento da fé dos jovens terão muito
pelo que responder: “Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes
pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao
pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar”
(Mt 18.6). Como se pode ver, isso é mais do que uma simples questiúncula sobre
filosofia educacional.
Mas devemos retornar à educação das crianças jovens. Entre escolas
institucionais cristãs (CSI, ACSI etc.) e educação cristã no lar, estou inclinado a
favorecer o último, embora haja certamente papeis legítimos para cada um. Isso
depende grandemente da capacidade e tempo dos pais de ensinar adequadamente
por si mesmos. Considerações financeiras podem também influenciar decisões
nessa área. Minha preferência por educação no lar é baseada no fato que
estudantes no método homeschool podem caminhar no seu próprio ritmo, e os
métodos de ensino podem ser personalizados para cada estudante. Com uma
excelente interação professor-estudante, a fraqueza do estudante pode ser
rapidamente observada e corrigida. Quando feita com excelência, a educação no
lar ensina num ritmo rápido, e com enriquecimentos que não podem ser
superados em instituições. Na educação feita no lar, assuntos acadêmicos e
valores cristãos podem ser integrados com projetos da vida real: os filhos podem
participar nos negócios da família, na agricultura, em ministérios de vários tipos,
tudo no contexto de relacionamento social familiar.
A crítica comum de escolas no lar é que elas não fornecem socialização
adequada para as crianças. Contudo, um grupo de apoio a escolas cristãs no lar
(há um excelente onde morei, em Escondido, bem como em Orlando) pode
fornecer muitas atividades coletivas a fim de suprir essa necessidade. Além
disso, precisamos ser muito cautelosos sobre como as crianças são socializadas.
Nosso objetivo para as crianças é que elas se tornem adultos piedosos.
Provérbios 13.20 nos diz que a companhia dos tolos será destruída, e que a tolice
está ligada ao coração da criança (22.15). Esses princípios bíblicos parecem
implicar que as melhores companhias para crianças em crescimento são adultos
maduros, não outras crianças. Sabemos quão danosa é a pressão dos pares nas
crianças, mesmo em ambientes cristãos. Ocasionalmente pode ser benéfico, mas
no todo é prejudicial, como Provérbios nos leva a esperar. Esse comentário não
pretende justificar alguma política de isolamento absoluto; isso seria cruel e
[47]

educacionalmente contraproducente. Se as crianças devem ser preparadas para o


mundo, elas precisam ser expostas ao mundo, inclusive à tolice de outras
crianças. Mas enviá-las a uma escola onde seus principais mentores são outras
crianças (isso é exatamente o que acontece em qualquer escola) pode muito bem
ser um equívoco, ainda que essa escola seja cristã.
Além disso, muitas escolas cristãs institucionais têm pouca ideia sobre
como integrar os estudos das crianças com ensinos bíblicos. E mesmo quando
sabem como fazer isso na teoria, frequentemente negam essas percepções por
conta da atmosfera espiritual e ética da escola. Conheci escolas cristãs (que
professam a fé reformada!) nas quais as crianças têm tédio à Bíblia, em que a fé
delas é tida como certa, nas quais as crianças são magoadas por outras e pelos
professores por serem da nacionalidade ou denominação “erradas”. Uma escola
cristã que conheci ganhou a reputação entre seus rivais atléticos por conta da
linguagem suja que seus estudantes utilizam durante os jogos. E tenho visto pais
tentando trazer tais problemas à atenção por parte de determinada escola apenas
para serem dispensados sem nenhuma consideração séria desse problema. A
escola recusou tomar qualquer responsabilidade pelo desenvolvimento do caráter
da criança, culpando as famílias e igrejas por todos os problemas de suas
crianças. Alguém não deveria presumir que uma escola será adequada
simplesmente por ostentar o nome “cristã”.
Contudo, escolas cristãs são um “gigante dormente”, potencialmente uma
das maiores armas cristãs na presente batalha espiritual. Muitas pessoas estão
preocupadas sobre os fracassos das escolas públicas e estão buscando algo
melhor. Se os cristãos puderem mostrar que podem fazer melhor no ensino de
fatos e valores, pessoas sem quaisquer raízes cristãs correrão para a sua porta.
Essa pode ser a maior oportunidade evangelística no terceiro milênio. Mas temo
que as escolas cristãs estejam negligenciando grandemente essa oportunidade.
Essa é uma das piores falhas da igreja moderna; e os reformados, que têm
conduzido as igrejas protestantes no campo da educação cristã, devem receber
grande parte da culpa.
Os presbíteros de uma igreja têm a responsabilidade de tornar esses fatos
conhecidos a seus membros e apresentar uma convincente defesa em prol de
escolas cristãs e escolas cristãs no lar. Os diáconos deveriam cumprir o seu
[48]

dever e assegurar que os filhos das famílias pobres tenham oportunidades de


educação cristã adequada. É difícil imaginar qualquer tarefa na igreja que tenha
mais alta prioridade em nosso tempo. Tanto a teologia da aliança como a Grande
Comissão exigem um alto investimento na educação cristã das crianças. Mas
primeiro devemos nos educar sobre como e por que fazê-lo.

[1]
R. J. Rushdoony, Our Threatened Freedom: A Christian View on the Menace of American Statism.
[2]
Veja o outro livro que organizamos, por título A desgraça do ateísmo na economia (Brasília:
Monergismo, 2018), contendo artigos escritos pelo pastor e teólogo P. Andrew Sandlin.
[3]
“Secularismo, como entendido popularmente, é a visão que os valores e padrões da sociedade não devem
ser influenciados ou controlados pela religião. A falha aqui é perceber que o próprio secularismo é uma
perspectiva religiosa, a religião do humanismo, na qual a fonte da definição para a realidade, verdade e
moralidade é “deste mundo”, a saber, na forma do raciocínio e experiência humanos. A fé bíblica nega tal
distinção artificial entre o “espiritual e “terreno” e reivindica em vez disso que tudo da vida e da realidade,
em toda parte, é criada e definida por Deus e sua revelação. Consequentemente, não existe área da vida ou
do pensamento que não esteja sob sua autoridade e senhorio” (Joseph Boot, The Mission of God: A
Manifesto of Hope for Society).
[4]
Um excelente livro que merece ampla divulgação é Professor não é educador (Brasília: Editora Edesio,
2013), de Armindo Moreira.
[5]
Robert Lewis Dabney, On Secular Education (Moscow: Canon Press, 1996), p. 5.
[6]
Ibid.
[7]
Ibid.
[8]
Ibid, p. 5-6.
[9]
J. Gresham Machen, Forward in Faith (Chicago: National Union of Christian Schools, 1934).
[10]
Louis Berkhof e Cornelius Van Til, Foundations of Christian Education: Addresses to Christian
Teachers (ed.) Dennis E. Johnson (Phillipsburg, New Jersey: Presbyterian and Reformed Pub, 1990), p. 16.
[11]
Henry Van Til, O conceito calvinista de cultura (São Paulo: Cultura Cristã, 2010), p. 246.
[12]
Gordon H. Clark, A Christian Philosophy of Education (Jefferson, MD: The Trinity Foundation, 1988),
p. 73. Ou como coloca outro autor: “A grande mentira das escolas públicas é que o Deus da Bíblia é
irrelevante. Os livro-textos nunca o mencionam. Todo mundo pressupõe que as crianças não precisam saber
nada sobre Deus, a lei de Deus e a Palavra de Deus a fim de se tornarem pessoas educadas. Essa é a mentira
do próprio Satanás (Robert L. Thoburn, The Children Trap: The Biblical Blueprint for Education, p. 34).
[13]
No sentido de que foram instituídos sem mediação, isto é, de modo direto. [N. do T.]
[14]
Publicado originalmente em Rousas John Rushdoony, Law and Liberty (Vallecito, CA: Ross House
Books, 1984).
[15]
Veja nota abaixo. [N. do R.]
[16]
O termo establishment, já amplamente utilizado nos círculos acadêmicos e mesmo jornalísticos, não
oferece a possibilidade de aportuguesamento, visto que expressa um conceito diferente do falso cognato
“estabelecimento”. Segundo o Dicionário de usos do Português do Brasil (2002), establishment é “a ordem
ideológica, econômica, política e legal que constitui uma sociedade ou um Estado”. E é nesta última
acepção que Rushdoony se refere quando utiliza o termo. [N. do R.]
[17]
Karl Jaspers, The Idea of the University, p. 71.
[18]
Livro didático fornecido às escolas estatais em fins do século XIX, para uso das aulas de literatura, e que
continha, dentre outras coisas, exercícios de declamação de poesia, de interpretação de texto e de leitura. O
McGuffy Fifth Reader, por sua vez, cumpria a mesma função, com a diferença que era utilizado — e ainda o
é — para escolas privadas e para o homeschooling. O ponto de Rushdoony é que pouco mais de um século
foi o suficiente para que a educação estatal norte-americana se tornasse nitidamente precária, visto que, à
época deste ensaio (1984), poucos eram capazes de atender o nível exigido por um livro didático que
anteriormente fora tido como inferior. [N. do R.]
[19]
Publicado originalmente em Rousas John Rushdoony, Institutes of Biblical Law, volume 1 (Nutley, N.J.:
The Craig Press, 1973).
[20]
Derek Kidner, Proverbs, An Introduction and Commentary (Chicago, IL: Intervarsity Press, 1964), 51.
[21]
Como obviamente depreende-se do contexto e da citação bíblica, Rushdoony refere-se às práticas
habituais dos fariseus, que instruíam o povo a valer-se da prática acima mencionada, e não propriamente a
igreja formada pelos apóstolos e discípulos. [N. do R.]
[22]
A. R. S. Kennedy, “Education”, in James Hastings, A Dictionary of the Bible, 1:647.
[23]
Ibid., 646.
[24]
Carle C. Zimmerman and Lucius F. Cervantes, Marriage and the Family (Chicago, IL: Regnery, 1956),
310-11.
[25]
Julius B. Mailer, “The Role of Education in Jewish History”, in Louis Finkelstein, The Jews: Their
History, Culture, and Religion, 3rd ed. (New York, NY: Harper and Brothers, 1960), 2: 1240-41.
[26]
Publicado originalmente em Rousas John Rushdoony, Sovereignty (Vallecito, CA: Ross House Books,
2007).
[27]
James E. Wood Jr., “Editorial: Religious Fundamentalism and the Public Schools”, Journal of Church
and State 29, no. 1 (Winter 1987): 15-17.
[28]
Donald A. Read and Sidney B. Simon, eds., Humanistic Education Sourcebook (Englewod Cliffs, NJ:
Prentice-Hall, 1975).
[29]
Louis E. Raths, Merrill Harmin and Sidney B. Simon, “Values and Valuing”, in ibid., 72-81.
[30]
William R. Coulson, “Encounter Group and Brainwashing,” in ibid., 232.
[31]
Stephen N. Stivers, L. Gerald Buchan, C. Robert Dettloff, e Donald C. Orlich, “Humanism: Capstone of
an Educated Person”, in ibid., 363-69.
[32]
Veja R.J. Rushdoony, The Messianic Character of American Education (Phillipsburg, NJ: Presbyterian
and Reformed Publishing Company, 1963).
[33]
Association for Supervision and Curriculum Development, Moral Education in the Life of the School
(Alexandria, VA, 1988), 16-18.
[34]
Kenneth Rexroth, “Disengagement: The Art of the Beat Generation”, in New World Writing, no. 11
(New York, NY: New American Library, 1957), 32.
[35]
Ibid., 35-36.
[36]
Forma popular norte-americana de referir-se ao acelerador de partículas. [N. do R.]
[37]
Ibid., 41.
[38]
Erica Jong, Fear of Flying (New York, NY: New American Library, 1973), 254.
[39]
No original, Enraged, referência à denominação francesa (“enragés”) dadas aos revolucionários radicais
chefiados por Jacques Roux, que exigiam até mesmo a taxação dos gêneros alimentícios para os ricos e para
a nobreza. [N. do R.]
[40]
Citado em Walter Laqueur, “Literature and the Historian”, in Walter Laqueur and George L. Mosse, eds.,
Literature and Politics in the Twentieth Century (New York, NY: Harper Torchbook, 1967), 13.
[41]
Stephen Lutman, “Orwell’s Patriotism”, in ibid., 150-51.
[42]
Marshall Berman, “Sympathy for the Devil: Faust, the ‘60s and the Tragedy of Development”, in
American Review, no. 19 (New York, NY: Bantam Books, 1974), 23-75.
[43]
Publicado originalmente em IIIM Magazine Online, Volume 4, Número 10, 18 a 24 de março de 2002.
[44]
Seria tolice retrucar: “Mas Frame está falando do cenário americano”. As nossas escolas, tanto em
qualidade como em anticristianismo, estão numa situação muito pior que as americanas. Assim, confiando
na inteligência e honestidade do leitor, recusei-me traduzir a passagem como simplesmente “acho difícil
imaginar qualquer situação onde os pais possam justificar enviar os seus filhos para uma escola pública”.
[N. do T.]
[45]
Infelizmente, muitos pais cristãos pensam ser esse o único ou principal problema das escolas em geral,
ou escolas públicas em particular, quando, na verdade, trata-se de uma das muitas consequências de se
negar a cosmovisão e a moralidade cristãs. Assim sendo, uma escola que exija uma moralidade semelhante
àquela defendida por judeus e cristãos, mas negue a relevância de Deus e do cristianismo para toda a esfera
do aprendizado, é igualmente impura e infiel. [N. do T.]
[46]
Um excelente auxílio para pais e professores neste aspecto é o livro De Tales a Dewey (São Paulo:
Cultura Cristã), de Gordon H. Clark. [N. do T.]
[47]
Algo, aliás, impossível, caso a família esteja realmente preocupada em seguir a Bíblia como padrão de
vida. Afinal, isso necessariamente exigirá participar de uma comunidade cristã de maneira regular e de
forma ativa, o que significará que os filhos estarão em contato não apenas com outros adultos, mas com
outras crianças cristãs da comunidade da aliança. Esse é o motivo de sempre me parecer falaciosa essa
objeção ao ensino no lar. Argumentar que “conheço casais cujos filhos sofreram por causa do isolamento
produzido pela educação no lar” teria o mesmo peso de dizer que “conheço casais que se separaram depois
de se abraçarem a fé reformada”. [N. do T.]
[48]
“Os presbíteros deveriam avaliar as escolas cristãs locais e examinar o material curricular delas. A igreja
pode recomendar escolas a seus membros. Esse é um serviço legítimo da igreja, pois a igreja é protetora das
famílias. Ela está simplesmente fornecendo informação especializada que os membros podem não possuir.
O pastor deveria ter mais experiência em avaliar uma educação cristã do que o membro ordinário. Se não
tiver, está na hora de encontrar um novo pastor” (Robert L. Thoburn, The Children Trap: The Biblical
Blueprint for Education, p. 143).
Table of Contents
Prefácio do editor
Parte I
1. Sobre educação secular
Parte II
1. Política e educação
2. Educação e a família
3. Soberania e educação
Parte III
1. Escolas cristãs

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