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ETSUS BLUMENAU DR.

LUIZ EDUARDO CAMINHA

URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
MÓDULO 2:
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS

Blumenau, SC
ETSUS Blumenau Dr. Luiz Eduardo Caminha
2018
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição
Não Comercial 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta
obra, desde que para uso não comercial e com citação da fonte.

ETSUS BLUMENAU DR. LUIZ EDUARDO CAMINHA


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CEP: 89.052-000 / Telefone: (47) 3322-4271

Coordenação Pedagógica Supervisão Gráfica


Daniela Maysa de Souza Sandra Araujo
Kellin Danielski
Direção de Arte e Capa
Elaboração Paula Xavier
Maria Beatriz Silveira Schmitt Silva Sandra Araujo

Coordenação do projeto Itinerários do Saber Projeto Gráfico


Maria Cristina Soares Guimarães Sandra Araujo
Maria da Conceição Rodrigues de Carvalho
Ruy Casale Diagramação
Sandra Araujo
Assessoria de Comunicação Eduardo Andrade
Rafael Cavadas
Igor Cruz

O projeto Itinerários do Saber viabilizou a produção deste material.


Todo o conteúdo desta obra é de autoria e de responsabilidade da Escola.

S586e Emergências clínicas / Maria Beatriz Silveira Schmitt Silva [Elaboradora] –


Blumenau, SC: ETSUS-Blumenau, 2018.
32 p. – Urgência e Emergência, módulo 2.

Projeto Itinerários do Saber – Observatório do Cuidado. Qualificação dos


profissionais de saúde de nível médio/técnico, aperfeiçoamento do Sistema
Único de Saúde (SUS), Escolas Técnicas do SUS (ETSUS), 2018.
Referências: f. 30-31.

1. Vigilância em Saúde. 2. Tratamento de Emergência. 3. Emergências. I.


Urgência e Emergência – Módulo 2: Emergências clínicas.

CDU 616-083.98
Catalogação na publicação por Clarissa Cezário da Cunha – CRB-7 / 6123
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAS – Ácido Acetilsalicílico (Aspirina)

AIT – Ataque Isquêmico Transitório

AVC – Acidente Vascular Cerebral

AVCH – Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico

AVCI – Acidente Vascular Cerebral Isquêmico

BVM – Bolsa-valva-máscara

CAD – Cetoacidose diabética

CIES – Comissões de Integração Ensino-Serviço

CIT – Centro de Informações Toxicológicas

CM – Cardiomiopatias

DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica

DM – Diabetes Mellitus

EAP – Edema Agudo do Pulmão

ECG – Eletrocardiograma

EHH – Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar

EV – Endovenosa

FC – Frequência Cardíaca

HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica

HGT – Hemoglicoteste

HO – Hipotensão Ortostática

IAM – Infarto Agudo do Miocárdio

IC – Insuficiência Cardíaca

ICA – Insuficiência Cardíaca Aguda

ICP – Intervenção Coronária Percutânea

IgE – Imunoglobulina E

IM – Intramuscular

IOT – Intubação Orotraqueal


MS – Ministério da Saúde

OVACE – Obstrução de Via Aérea por Corpo Estranho

PAD – Pressão Arterial Diastólica

PAS – Pressão Arterial Sistólica

PCR – Parada Cardiorrespiratória

SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência

SAMPLA – Sinais vitais, Alergias, Medicamentos em uso, Passado médico, Líquidos e alimen-
tos, Ambiente

SCA – Síndrome Coronariana Aguda

SF – Soro Fisiológico

SL – Sublingual

SNA – Sistema Nervoso Autônomo

SV – Sinais Vitais

Tax – Temperatura Axilar

TV – Taquicardia Ventricular

TVS – Taquicardia Ventricular Sustentada

UTI – Unidade de Tratamento Intensivo

VD – Ventrículo Direito

VO – Via Oral
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................... 7

DOR TORÁCICA ................................................................................................................................ 8


1. CONSIDERAÇÕES ..................................................................................................................... 8
2. QUADRO CLÍNICO.................................................................................................................... 9
3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO ......................................................................................... 10

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA (ICA) – EDEMA AGUDO DE PULMÃO (EAP) ................. 11


1. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................... 11
2. QUADRO CLÍNICO.................................................................................................................. 12
3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO ......................................................................................... 12

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC) ..................................................................................... 13


1. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................... 13
2. QUADRO CLÍNICO.................................................................................................................. 13
3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO ......................................................................................... 14

CRISE CONVULSIVA ....................................................................................................................... 15


1. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................... 15
2. QUADRO CLÍNICO.................................................................................................................. 15
3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO ......................................................................................... 15

SÍNCOPE .......................................................................................................................................... 16
1. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................... 16
2. QUADRO CLÍNICO.................................................................................................................. 17
3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO ......................................................................................... 17

INTOXICAÇÃO EXÓGENA ............................................................................................................. 18


1. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................... 18
2. QUADRO CLÍNICO.................................................................................................................. 18
3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO ......................................................................................... 19
3.1. Lavagem gástrica ....................................................................................................... 19
3.2. Carvão ativado ........................................................................................................... 19
3.3. Diurese forçada e alcalinização de urina................................................................ 20
3.4. Hemodiálise e hemoperfusão .................................................................................. 20
3.5. Antídotos .................................................................................................................... 20
4. INTOXICAÇÃO POR ORGANOFOSFORADO OU CARBAMATO (“CHUMBINHO”, INSE-
TICIDAS OU RATICIDAS) ............................................................................................................ 20
4.1. Sintomas ..................................................................................................................... 20
4.2. Protocolos de Atendimento ..................................................................................... 20
SURTO PSICÓTICO ......................................................................................................................... 21
1. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................... 21
2. QUADRO CLÍNICO.................................................................................................................. 21
3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO ......................................................................................... 21

BRONCOESPASMO ........................................................................................................................ 22
1. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................... 22
2. QUADRO CLÍNICO.................................................................................................................. 22
3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO ......................................................................................... 23
3.1. Sequência de Intubação Rápida .............................................................................. 23

OBSTRUÇÃO DE VIA AÉREA POR CORPO ESTRANHO (OVACE) ............................................. 24


1. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................... 24
2. QUADRO CLÍNICO.................................................................................................................. 24
3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO ......................................................................................... 25
3.1. Obstrução leve ........................................................................................................... 25
3.2. Obstrução grave ........................................................................................................ 25

ANAFILAXIA .................................................................................................................................... 26
1. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................... 26
2. QUADRO CLÍNICO.................................................................................................................. 26
3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO ......................................................................................... 27

DIABETES DESCOMPENSADO – HIPOGLICEMIA ....................................................................... 27


1. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................... 27
2. QUADRO CLÍNICO.................................................................................................................. 28
3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO ......................................................................................... 28

DIABETES DESCOMPENSADO – HIPERGLICEMIA ..................................................................... 28


1. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................... 28
2. QUADRO CLÍNICO.................................................................................................................. 28
3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO ......................................................................................... 29

TRANSPORTE .................................................................................................................................. 29

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 30

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 30


Urgência e Emergência – Módulo 2:
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Emergências Clínicas | SC – 2018

APRESENTAÇÃO

“De todos os avanços no atendimento emergencial nos últi-


mos 50 anos, o desenvolvimento do atendimento pré-hospi-
talar, o treinamento que estabelece a prontidão e o desen-
volvimento de centros e sistemas de trauma têm levado às
maiores reduções da mortalidade.” David B. Hoyt (Diretor
Executivo do American College of Surgeons).

Urgência é dita como uma “ocorrência imprevista de agravo à saúde, com ou sem risco po-
tencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata”. Por sua vez, Emer-
gência está classificada como “a constatação médica de condições de agravo à saúde que
impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso exigindo, portanto, tratamento
médico imediato”, segundo o Conselho Federal de Medicina (1995), através da Resolução
CFM nº 1.451, de 17 de março de 1995. Num conceito ampliado, pode-se considerar que a
Urgência difere da Emergência em função de quem a sente ou a percebe, pois pode estar
associada a uma ruptura de ordem do curso da vida (BRASIL, 2006).

A crescente demanda por serviços de saúde nesta área, devido ao crescimento do número
de acidentes, da violência urbana e à insuficiente estruturação da rede de saúde, são fatores
que têm contribuído decisivamente para a sobrecarga de serviços de Urgência e Emergência
disponibilizados para o atendimento da população. Isso tem transformado esta área numa
das mais problemáticas do nosso Sistema de Saúde (BRASIL, 2002).

Dentro da concepção de reestruturação do modelo assistencial atualmente preconizado, in-


clusive com a implementação da Estratégia de Saúde da Família, é fundamental que a Aten-
ção Primária e a Estratégia de Saúde da Família se responsabilizem pelo acolhimento dos pa-
cientes com quadros agudos ou crônicos agudizados de sua área de cobertura ou adstrição
de clientela, cuja complexidade seja compatível com este nível de assistência (BRASIL, 2002).

Com base nesta realidade, foi publicada pelo Ministério da Saúde a Portaria GM/MS nº 2.048,
de 2002 (BRASIL, 2002), criando o Regulamento Técnico dos Sistemas Estaduais de Urgência e
Emergência, considerando a área de urgência e emergência como um importante componente
de assistência à saúde. Este regulamento estabeleceu princípios e diretrizes, que normatiza o
atendimento às urgências e emergências e ainda criando os núcleos de educação em urgência.

Em 2003, o governo federal, considerando o quadro brasileiro de morbimortalidade relativo


a todas as urgências (inclusive as relacionadas ao trauma e a violência), instituiu a Política
Nacional de Atenção as Urgências, através da Portaria GM nº 1.863, de 29 de setembro de
2003. Esta política foi implantada em todas as unidades federadas, respeitadas as compe-
tências das três esferas da gestão. Ficou estabelecido que o sistema deve ser organizado de
modo que permita, entre outros: fomentar, coordenar e executar projetos estratégicos de
atendimento às necessidades coletivas de saúde; e contribuir para o desenvolvimento de
processos e métodos de coleta, análise e organização dos resultados das ações e serviços
de urgência (BRASIL, 2003).

O atendimento em serviços de Urgência e Emergência, sem dúvida, requer preparo. O pro-


fissional deve estar qualificado para tal atendimento e, se assim não estiver, deve ser previa-
mente reciclado ou treinado.
8

A ETSUS Blumenau, existente há 61 anos é uma instituição pública municipal, vinculada à


Secretaria Municipal de Saúde de Blumenau, e é integrante da Rede de Escolas Técnicas do
SUS (RET-SUS), criada em 2000 pelo Ministério da Saúde (MS), sendo especializada em Edu-
cação Profissional na área da saúde (qualificação e formação) para trabalhadores do Siste-
ma Único de Saúde (SUS) na sua área de abrangência1. É uma escola que segue a legislação
da educação e da saúde; realiza cursos de aperfeiçoamento, qualificação, formação e espe-
cialização técnica na área da saúde para profissionais inseridos no SUS, e segue a Política
Nacional de Educação Permanente e da Educação Profissional.

Com recursos provenientes da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde e de


convênios do MS (que objetivam qualificar trabalhadores de nível médio inseridos no SUS),
trabalha na modalidade ensino-serviço, atuando de maneira centralizada e descentralizada,
atendendo à demanda de 53 municípios da área de abrangência, sendo 14 deles na Asso-
ciação dos Municípios do Médio Vale do Itajaí (AMMVI); 11 na Associação dos Municípios da
Foz do Rio Itajaí (AMFRI) e os 28 restantes na Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí
(AMAVI), onde as necessidades locais de formação são apresentadas pelas Comissões de
Integração Ensino-Serviço (CIES)2.

Sendo assim, a ETSUS Blumenau, ao ofertar qualificação, colabora para a difusão do conhe-
cimento e capacitação das equipes de saúde. Ofertando o curso de Aperfeiçoamento em
Urgência e Emergência, nos seus diferentes módulos, a ETSUS Blumenau tem como objetivo
atender às necessidades de formação dos profissionais da saúde, como enfermeiros(as),
médicos(as), técnicos(as) e auxiliares de enfermagem, cirurgiões dentistas e técnicos(as) em
saúde bucal das Unidades de Atenção Básica dos 53 municípios de abrangência da escola.

Este material didático tem o intuito de dar suporte e sugerir rotinas aos atendimentos das
Unidades de Atenção Básica de Saúde (UBS) dos municípios, como unidades de atendimen-
to pré-hospitalar inseridas na Rede de Atenção às Urgências, dentro de suas capacidades
instaladas de atendimento, até que o paciente possa ser transferido a um hospital para re-
cebimento do tratamento definitivo. A partir desta realidade e da demanda dos municípios
atendidos pela ETSUS Blumenau, desde 2014, esta escola vem ofertando capacitação na
área de Urgência e Emergência aos funcionários da rede básica da região.

DOR TORÁCICA

1. CONSIDERAÇÕES
No atendimento inicial de paciente com dor torácica, a meta deve ser descartar Síndrome
Coronariana Aguda (SCA) sem esquecer outras causas potencialmente fatais como: embolia
pulmonar; pneumotórax; dissecção de aorta; pericardite ou ruptura esofágica.

A SCA ocupa papel central no diagnóstico diferencial da dor torácica pelo aumento em sua
incidência e pelas terapêuticas e ações populacionais que têm sido desenvolvidas para re-
duzir seu impacto sobre os indicadores de saúde pública.

1 SOUZA, D. M. et al. Enfermagem na ETSUS Blumenau. In: SOUZA, D. M.; Danielski, K. (Org). ETSUS
Blumenau 60 anos. Blumenau, 2016.
2 SOUZA, D. M. et al. Enfermagem na ETSUS Blumenau. In: SOUZA, D. M.; Danielski, K. (Org). ETSUS
Blumenau 60 anos. Blumenau, 2016.
Urgência e Emergência – Módulo 2:
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Emergências Clínicas | SC – 2018

O perfil clínico dos pacientes com SCA demonstrou que 30% são mulheres e 23% são
diabéticos (fator com pior prognóstico); há, ainda, um número crescente de idosos e por-
tadores de doença renal crônica (sendo fatores associados à não realização de terapia de
reperfusão, apesar de elegíveis).

Quadro 1 – Diagnóstico diferencial de dor torácica

FATORES DE OUTROS
TIPO LOCALIZAÇÃO DURAÇÃO DESENCADEANTES
MELHORA ASPECTOS

Opressiva Esforço
Síndromes Precordial Repouso Circadiano
Angústia 5-15 min Estresse
isquêmicas Retrosternal Nitratos Reposta
Constrição Repouso

Opressiva Sentar
Precordial Infecção
Pericardite Constrição Contínua AINH
Retrosternal IAM
Ardência AIH

Pontada
Dissecção da Face anterior HAS
Facada Contínua
aorta do tórax Espontânea
Lancinante

Tromboembolismo Pontada
Tórax > 30 min Espontânea Repouso Dispneia
pulmonar (TEP) Pleurítica

Infecção Base de tórax Deitar de


Pleurítica > 30 min Infecção Dispneia
pulmonar Retrosternal lado

Aperto Esforço Nitrato


Retrosternal
Esôfago Espasmo 5-60 min Alimentação Antiácidos
Epigástrica
Queimação Espontânea Alimentação

Peso Jejum Antiácidos


Úlcera Epigástrica Horas Cólica
Queimação Alimentação Alimentação

Espasmo Espontânea
Vesícula Epigástrica Horas Analgésicos Cólica
Aperto Alimentação

Superficial Contínua Movimento Repouso


Osteomiofacial Tórax
Fisgadas Variável Trauma Analgésicos

Angústia Hemitórax Espontânea


Costas Variável Resp. dif.
Opressiva Precordial Estresse

Fonte: Manuseio de dor torácica no PS, DR Miguel A. Mosetti. FACC.FAHA. InCor – HC – FMUSP.

A Síndrome Coronariana Aguda (SCA) pode ser dividida em dois grandes grupos: a SCA com
supradesnível de segmento ST e a SCA sem supradesnível de segmento ST – esta pode, ain-
da, ser dividida em angina instável e infarto agudo do miocárdio (IAM) sem supradesnível de
segmento ST. A maioria das mortes por IAM ocorre após os primeiros sinais de manifestação
da doença (40-65% dos óbitos ocorrem na primeira hora; 80%, nas primeiras 24 horas) ge-
ralmente em ambiente extra-hospitalar.

2. QUADRO CLÍNICO

Quando suspeitar de SCA?


Dor torácica típica: desconforto, queimação ou sensação opressiva localizada em região pre-
cordial ou retroesternal, que pode irradiar para os ombros, os braços, o pescoço ou a mandí-
bula acompanhada frequentemente de diaforese, palpitações, náuseas, vômitos ou dispneia.
10

Dor em aperto, pressão, queimação, desencadeada por estresse físico ou emocional, aliviada
com repouso. A dor pode durar alguns minutos (geralmente entre dez a 20 minutos); no
caso de infarto, ela pode durar mais de 30 minutos.

CUIDADO: em algumas ocasiões, a dor pode se localizar em região epigástrica e cessar


com eructações, acompanhada de indigestão, sendo erroneamente interpretada e tratada
como dispepsia.

3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO
„ Realizar o acolhimento do paciente;
„ Encaminhar paciente para sala de emergência;
„ Colocá-lo na maca com cabeceira elevada a 45º;
„ Realizar avaliação primária (ABCDE) e tranquilizar o paciente;
„ Proceder à monitorização com aferição dos sinais vitais completos;
„ Administrar O2 suplementar em cateter (3-4 litros/min se a SatO2 < 94%);
„ Garantir acesso venoso calibroso.
„ Realizar avaliação secundária – anamnese e exame físico direcionados: realização do
SAMPLA (aferição de sinais vitais – SSVV, alergias, medicamentos em uso, passado médico,
líquidos e alimentos, ambiente) com análise de fatores de risco (tabagismo, hipertensão
arterial sistêmica – HAS, diabetes mellitus – DM, hipercolesterolemia, histórico familiar,
LDL aumentado, idade elevada, obesidade, sedentarismo) e verificação da pressão arterial;
„ Eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações (se disponível na unidade) em dez minutos.

Figura 1 – Diagrama das posições dos eletrodos no ECG

V1 V2
V6
V3 V5
V4R V4

Fonte: EMTprep / Arte – montagem: diagramação do material.


Urgência e Emergência – Módulo 2:
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Emergências Clínicas | SC – 2018

Figura 2 – Derivações X Parede miocárdica

LATERAL
V5, V6, DI, aVL

SEPTAL
V1, V2

ANTERIOR
V3, V4
INFERIOR
DII, DIII, aVF

Fonte: https://cardiopapers.com.br/curso-basico-de-eletrocardiograma-parte-12-areas-inativas/

„ Abordagem medicamentosa:
ƒ Ácido acetilsalicílico (AAS) 300mg macerado (contraindicação: hipersensibilidade, úlcera
péptica, discrasia sanguínea ou hepatopatia grave);
ƒ Clopidogrel 300mg via oral via oral (VO) (contraindicação: hipersensibilidade, sangra-
mento ativo, intolerância a galactose). Para pacientes candidatos a angioplastia primá-
ria, a dose é de 600mg;
ƒ Dinitrato de isossorbida 5mg sublingual (SL). Pode ser repetido até duas vezes (máx.
15mg) com intervalo de 3 a 5 minutos entre as administrações. Limitar diminuição da PA
em 10% em normotensos e em 30% em hipertensos (contraindicação: pacientes com PAS
< 90mmHg; Frequência cardíaca < 50bpm ou > 100bpm; suspeita de IAM de ventrículo
direito (VD) ou pacientes que fizeram uso de medicação para disfunção erétil nas últimas
48 horas);
ƒ Morfina 2-4mg endovenosa (EV) em bolus em caso de dor constante. Repetir a aplicação
em intervalos de cinco a dez minutos até alívio da dor;
ƒ **Atropina 0,5-1,5mg EV está indicada se houver hipotensão severa com Pressão Arterial
Sistólica (PAS) < 90mmHg e/ou FC < 50bpm.
„ Fazer contato com hospital de referência para Intervenção Coronariana Percutânea (ICP).

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA (ICA) –


EDEMA AGUDO DE PULMÃO (EAP)

1. CONSIDERAÇÕES

Na Insuficiência Cardíaca Aguda (ICA) ou agudização de ICC crônica, tem-se evolução rápida
e progressiva, geralmente ao longo de dias.
12

Pode ocorrer no paciente hígido ou naquele já portador de insuficiência cardíaca e que apre-
senta descompensação por alguns fatores como infecção, SCA, arritmias cardíacas, não ade-
são ao tratamento, álcool, tromboembolismo, diabetes descompensado, AVC etc. Devido à
alta prevalência, ao alto impacto em morbimortalidade e aos custos gerados, o edema agu-
do de pulmão é considerado um grande problema de saúde pública.

2. QUADRO CLÍNICO

Presença inicial de taquipneia e dispneia leves, tosse seca, hipoxemia; com o tempo, este
quadro clínico evolui para dispneia intensa, taquipneia, ortopneia, tosse com expectoração
clara ou rósea, estertores pulmonares à ausculta (com ou sem roncos e sibilos), opressão
torácica, palidez cutânea, extremidades frias, sudorese e cianose.

É importante traçar o perfil hemodinâmico inicial do paciente, o que pode ser determinado
a partir da análise dos seguintes fatores: nível de consciência; ausculta pulmonar; estase
jugular; terceira bulha; refluxo hepatojugular e tempo de enchimento capilar.

Figura 3 – Classificação clínico-hemodinâmica


Congestão em repouso?
Não Sim

Quente Quente
Não
Seco Congesto

Baixa perfusão
em repouso?

Frio Frio
Sim
Seco Congesto

Fonte: Fisioterapia Intensiva – blog destinado a discussões sobre Terapia Intensiva (https://ligadafisiointensiva.
blogspot.com/).

3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO
„ Realizar o acolhimento do paciente;
„ Encaminhar paciente para sala de emergência;
„ Colocar paciente na maca, na posição sentada, com pernas pendentes e/ou posição
confortável;
„ Realizar avaliação primária – ABCDE;
„ Proceder à monitorização e aferição de sinais vitais completos;
„ Administrar O2 suplementar de acordo com necessidade: máscara não reinalante, bolsa-
-valva-máscara (BVM), intubação orotraqueal (IOT);
„ Garantir acesso venoso;
„ Realizar avaliação secundária – SAMPLA;
Urgência e Emergência – Módulo 2:
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Emergências Clínicas | SC – 2018

„ Abordagem medicamentosa:
ƒ Se PAS > 90mmHg: dinitrato de isossorbida 5mg SL, podendo ser repetida em um inter-
valo de cinco a dez minutos;
ƒ Se PAS < 90mmHg: morfina 2mg EV, aplicada lentamente em um intervalo de cinco mi-
nutos (máximo de 20mg);
ƒ Furosemida 40 a 80mg (1mg/Kg) EV (máximo de 200mg em pacientes congestos);
„ Transferir paciente para hospital de referência.

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC)

1. CONSIDERAÇÕES

Os AVCs estão entre as principais causas de morte e incapacidade física em todo o mundo.

No Brasil, é uma das principais causas de internação e de deficiência parcial ou completa.


Ocorre predominantemente em adultos de meia-idade e idosos.

Conceitualmente, AVC é todo déficit neurológico, geralmente focal, de instalação súbita ou


com rápida evolução, sem outra causa aparente que não vascular, com duração maior que
24 horas; 80%-85% dos AVCs são isquêmicos (AVCI) e 15-20% são hemorrágicos (AVCH).

Ataque isquêmico transitório (AIT): quando sinais e sintomas regridem totalmente em me-
nos de 24 horas; AVCH pode ser sugerido por um déficit neurológico agudo associado à
cefaleia, convulsão ou rebaixamento do nível de consciência, embora seja absolutamente
necessário um exame de imagem para confirmação.

Todo déficit neurológico agudo deve ser visto como um AVCI, até prova em contrário.

Avaliar sempre presença de tabagismo, HAS, DM, dislipidemias, cardiopatias, uso de anti-
concepcionais orais, uso de drogas como cocaína e anfetaminas.

A conduta inicial para AVC e Ataque Isquêmico Transitório (AIT) deve ser uniforme e rotineira.

O paciente deve ser enviado para serviço de referência em neurologia a fim de realizar ava-
liação por um especialista e exames complementares.

2. QUADRO CLÍNICO

Início súbito de déficit neurológico focal; distúrbio de fala; alteração de consciência: de


confusão à completa arresponsividade; cefaleia intensa e súbita sem causa conhecida;
alteração visual súbita; vertigem ou perda do equilíbrio ou da coordenação motora. Dificul-
dade para deambular.
Escala de Cincinnati:
1. Déficit motor
14

2. Desvio de rima labial


3. Problema na fala
Se um dos três sinais estiver presente, a probabilidade de AVC é de 72%. Se os três parâme-
tros estiverem presentes, a probabilidade é superior a 85%.

Figura 4 – Escala de Cincinnati com mnemônica SAMU


SORRIA ABRACE MÚSICA URGENTE

BOCA TORTA PERDA DE FORÇA DIFICULDADE LIGUE PARA O


Peça para dar Peça para elevar DE FALA
SAMU
um sorriso os braços Repita a frase como
uma música 192
AJA RÁPIDO! TEMPO PERDIDO É CÉREBRO PERDIDO!
Fonte: Shutterstock / Arte – montagem: diagramação do material.

3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO
„ Realizar o acolhimento do paciente;
„ Encaminhar paciente para sala de emergência;
„ Colocar paciente na maca;
„ Realizar avaliação primária:
ƒ cuidados com vias aéreas e ventilação;
ƒ decúbito elevado (consciente) ou lateral (inconsciente);
ƒ aspiração de orofaringe, se necessário;
„ Realizar avaliação neurológica: Escala de Cincinnati; Escala de Coma de Glasgow, reação
pupilar;
„ Realizar avaliação secundária: SAMPLA, com ênfase na hora do início dos sinais e sinto-
mas;
„ Proceder à monitorização e aferição dos sinais vitais completos;
„ Administrar O2 suplementar com máscara não reinalante se SatO2 < 94%;
„ Garantir acesso venoso no membro superior não parético;
„ Se convulsão: administrar Fenitoína (dose de 15-20mg/kg, diluída em 250ml de soro fisio-
lógico a 0,9% EV) em 20 minutos;
„ Se temperatura axilar > 37,8ºC: administrar dipirona 1g EV;
„ Se glicemia < 80mg/dL, administrar de 30 a 50ml de glicose 50% EV;
Urgência e Emergência – Módulo 2:
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Emergências Clínicas | SC – 2018

„ Não reduzir PAS, exceto se PAS > 220mmHg ou Pressão Arterial Diastólica (PAD) >
110mmHg ou se houver patologia de risco associada (dissecção de aorta, IAM, EAP) – nes-
tes casos, administrar Captopril 25mg VO (início de ação em 15 a 30 minutos);
„ Fazer contato com hospital de referência e preparar paciente para transferência – uso de
trombolítico intravenoso em AVCI não deve ultrapassar as primeiras quatro horas e meia
do início do quadro.

CRISE CONVULSIVA

1. CONSIDERAÇÕES

Crise convulsiva é uma alteração paroxística da função neurológica causada pela despolariza-
ção síncrona e rítmica dos neurônios corticais. É um episódio de contração muscular excessi-
va e anormal, usualmente bilateral, que pode ser sustentada ou interrompida. Habitualmen-
te o paciente chega à unidade de saúde no período pós-ictal (pós-crise), sonolento e confuso.

Estado de mal convulsivo (status epiléptico) é uma crise suficientemente prolongada ou re-
petitiva que causa uma condição fixa e duradoura, com mais de cinco minutos de duração
ou de 20 a 30 minutos de crises contínuas subentrantes com, no mínimo, três convulsões
em uma hora.

A causa mais comum de crise convulsiva é o uso inadequado da medicação anticonvulsivan-


te, podendo ser causada por tumores, traumas, intoxicações medicamentosas, metabólicas
e infecção.

Sempre realizar histórico clínico minucioso: uso de medicamentos ou drogas ilícitas, possi-
bilidade de abstinência medicamentosa, de drogas ou de álcool; lesão neurológica prévia;
trauma; medicações anticonvulsivantes usadas.

Prioridade inicial é buscar hipoglicemia e realizar manobras de suporte avançado de vida


(garantir acesso às vias aéreas, ventilação e circulação).

Conduta farmacológica é reservada para casos selecionados, uma vez que a maioria das
crises é autolimitada.

2. QUADRO CLÍNICO

Perda súbita de consciência, com contrações musculares involuntárias; cianose; sialorreia, lá-
bios e dentes cerrados; eventual liberação de esfíncteres. Na fase pós-convulsão: sonolência,
confusão mental, agitação; flacidez muscular; cefaleia; relato do ocorrido por acompanhante.

3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO
„ Realizar o acolhimento do paciente;
„ Encaminhar paciente para a sala de emergência;
16

„ Colocar paciente na maca;


„ Realizar avaliação primária com ênfase na responsividade e manutenção da permeabili-
dade de via aérea;
„ Realizar avaliação secundária – SAMPLA;
„ Proceder à glicemia capilar;
„ Administrar O2 suplementar se SatO2 < 94%;
„ Aspirar secreções, se necessário;
„ Proteger o paciente para evitar traumas adicionais, principalmente na cabeça;
„ Garantir acesso venoso periférico.
„ Considerar administrar glicose a 50% se glicemia < 60mg/dL.
„ Fazer contato com hospital de referência e preparar paciente para transferência.

Quadro 1 – Medicamentos em crises com duração superior a 5 minutos

TEMPO DE CHEGADA
SEQUÊNCIA TERAPÊUTICA
AO PRONTO-SOCORRO
Estabilização: vias aéreas, acesso venoso, coleta de exames,
Até 5 minutos
oxigênio, monitor e glicemia capilar
Diazepam: 1-2mg/min EV até 10-20mg;
De 5 a 10 minutos
repetir por até duas vezes se o paciente continuar em convulsão
Fenitoína: 15-20mg/kg EV, diluído em SF, administrado a uma
De 10 a 20 minutos
velocidade de 50mg/min

Após 20 minutos Dose adicional de fenitoína: 5-10mg/Kg EV

Prepare o material de intubação orotraqueal


Prepare o material de
Fenobarbital: 10mg/kg EV, administrado a uma velocidade de
intubação orotraqueal
50-75mg/min
Proceda IOT e ventilação mecânica;
Monitorização com ECG;
Proceda IOT e ventilação
Encaminhar ao hospital de referência em neurologia;
mecânica
Repetir mais 10mg/Kg de fenobarbital, se necessário;
Anestesia geral com monitorização;
Monitorização com ECG
Midazolam: 0,2mg/Kg EV lentamente;
manutenção de 1-10 mcg/Kg/min

SÍNCOPE

1. CONSIDERAÇÕES

A perda transitória de consciência é uma queixa comum em unidades de saúde.


Urgência e Emergência – Módulo 2:
17
Emergências Clínicas | SC – 2018

Síncope é a perda transitória e súbita da consciência, associada com perda de tônus postural,
ocasionada pela hipoperfusão cerebral global e caracterizada por rápido início, curta dura-
ção e recuperação completa e espontânea. Aproximadamente 40% dos pacientes que apre-
sentam síncope necessitam internação.

Quadro 2 – Prevalência de causas de síncope

MEDIAÇÃO HIPOTENSÃO ARRITMIA CARDIOPULMONAR


NÃO SÍNCOPE
NEURAL ORTOSTÁTICA CARDÍACA ESTRUTURAL
1 2 3 4 5
• Vasovagal • Induzida por • Lentificação • IAM • Metabólica
fármacos – Seio doente
• Seio carotídeo • Estenose aórtica • Epilepsia
– Bloqueio
• Falha do
• Situacional Atrioventricular • Cardiomiopatias (CM)/ • Intoxicações
Sistema Nervoso
– Tosse (AV) Hipotensão ortostática
Autônomo (SNA): • Ataques de queda
– Micção (HO)
– Primária • Taquicardia • Psicogênica
– Defecação
– Secundária – Taquicardia • Hipertensão pulmonar
– Deglutição • AIT
Ventricular (TV); • Outros
– Outros • Depleção
– Taquicardia • Quedas
volumétrica
Ventricular
Sustentada (TVS)

• Hereditária

66% 10% 11% 5% 6%


Causa desconhecida = 2%
Fonte: Adaptado de Brignole M.

2. QUADRO CLÍNICO
„ Perda súbita de consciência com diminuição do tônus muscular.
„ Podem existir sintomas prodrômicos: náuseas, sudorese, fraqueza, escurecimento visual.
„ A anamnese deve ser cuidadosa, buscando fatores de risco para internação como: doença
cardíaca, hipertensão, doença vascular na família, medicações em uso, morte súbita na
família.

3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO
„ Realizar o acolhimento do paciente;
„ Encaminhar paciente para sala de emergência;
„ Colocar paciente na maca;
„ Realizar avaliação primária: verificar responsividade e comprovar a inconsciência do paciente;
„ Observar expansibilidade torácica e checar pulso carotídeo ou femoral:
1. Caso não haja respiração e pulso, iniciar RCP;
2. Caso não haja respiração e haja pulso, considerar obstrução de via aérea e iniciar pro-
cedimentos para tal;
3. Caso haja respiração e pulso, prosseguir atendimento.
18

„ Proceder à monitorização e aferir vitais completos;


„ Realizar oxigenoterapia com máscara não reinalante (10-15L/min, se SatO2 < 94%);
„ Garantir acesso venoso;
„ ECG de 12 derivações;
„ Reconhecer e tratar causas reversíveis;
„ Alta do paciente (baixo risco): exame físico normal; ECG normal; nenhum critério de inter-
nação presente.
„ Transferência para hospital de referência, conforme esquema abaixo:
ƒ Diagnóstico estabelecido: internar se houver etiologia cardíaca ou doença com risco de
morte; coletar exames laboratoriais; monitorização contínua; realização de ecocardio-
grafia transtorácica e de outros exames de acordo com a hipótese diagnóstica no PS.
ƒ Diagnóstico não estabelecido: considere internação hospitalar (alto risco) – histórico de
insuficiência cardíaca (IC), de doença cardíaca estrutural, insuficiência coronariana (ICo),
arritmia; ECG anormal; síncope durante exercício físico ou hematócrito < 30%; idoso;
alterações do estado mental.

Leitura complementar: MARTINS, H. S. et al. Emergências Clínicas: abordagem prática.


São Paulo: Manole, 2007. (European Society of Cardiology e American College of Emergency
Physicians, 2007).”

INTOXICAÇÃO EXÓGENA

1. CONSIDERAÇÕES

A prioridade na abordagem das intoxicações exógenas agudas sempre será a estabilização


clínica do paciente, evitando a absorção completa da substância a que ele foi exposto.

As principais causas de intoxicação exógena são:


„ Tentativa de suicídio;
„ Abuso de medicações;
„ Uso de drogas ilícitas;
„ Acidente com substâncias tóxicas (agrotóxicos).

No atendimento inicial, há necessidade de se levantar um histórico clínico detalhado na


tentativa de identificar o agente envolvido, realizando exames físicos e oferecendo, na abor-
dagem inicial, suporte básico e avançado de vida.

2. QUADRO CLÍNICO
„ Averiguar a presença de odor de álcool no hálito; fala pastosa; alterações de humor; nível
de consciência; prejuízo de coordenação motora; ansiedade; taquicardia; irritabilidade;
sudorese; hiper ou hipotensão; agitação psicomotora; fraqueza; tremores; febre; convul-
são e delírio.
Urgência e Emergência – Módulo 2:
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Emergências Clínicas | SC – 2018

3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO

PRINCÍPIOS GERAIS DE MANEJO DE INTOXICAÇÕES AGUDAS

Reconhecer uma intoxicação (histórico e exame físico).

Identificação do tóxico (nome, via de intoxicação, tempo decorrido).

Avaliar risco da intoxicação. Centro de Informações Toxicológicas – CIT. Telefone: 0800 643 5252.

Avaliar a gravidade do paciente e estabilizá-lo clinicamente (inclui antídotos).

Diminuir a absorção do tóxico.

Aumentar a eliminação do tóxico.

Prevenir reexposição: avaliação psiquiátrica.

„ Realizar o acolhimento do paciente: avaliar ambiente onde aconteceu intoxicação; cuida-


do com roupas, uso de EPIs (em caso de suspeita de organofosforados);
„ Encaminhar paciente para sala de emergência;
„ Colocar paciente na maca;
„ Realizar avaliação primária – valorizar tipo de substância e via de absorção;
„ Realizar avaliação secundária – SAMPLA;
„ Monitorização e sinais vitais completos;
„ Administrar O2;
„ Garantir acesso venoso periférico;
„ Se glicemia < 60mg/dL: administrar glicose 25% 2-4ml/Kg EV;
„ Maneiras de intervir na ação da substância: diminuir a exposição ao agente; aumentar
eliminação da substância; utilizar antídotos ou antagonistas.

3.1. LAVAGEM GÁSTRICA


„ Método: Sondagem nasogástrica (SNG) de grosso calibre; posição do corpo: decúbito late-
ral esquerdo (DLE) em declive; SF 100-250ml a cada inserção de soro;
„ Indicada em intoxicação por VO há menos de 60 minutos (30% de recuperação média do
material ingerido); substância potencialmente tóxica ou desconhecida;
„ Contraindicação: rebaixamento do nível de consciência; ingestão de substâncias corrosi-
vas (ácidos ou bases); ingestão de hidrocarbonetos e risco de hemorragia ou perfuração
do trato gastrointestinal (TGI).

3.2. CARVÃO ATIVADO


„ Método: 0,5-1g de carvão/Kg (25-100g) diluído em SF ou manitol ou sorbitol 8ml/g de car-
vão via SNG;
20

„ O uso do carvão ativado é indicado nas intoxicações por via oral em até 60 minutos (36%
de recuperação do tóxico);
„ Contraindicação: nos mesmos casos de lavagem gástrica; substâncias não adsorvidas
pelo carvão álcool: metanol, etilenoglicol, cianeto, ferro, lítio e flúor.

3.3. DIURESE FORÇADA E ALCALINIZAÇÃO DE URINA


„ Hiper-hidratação: SF 1000ml EV a cada seis ou oito horas (até débito urinário de 100-
400ml/hora) (álcool, brometos, cálcio, flúor, lítio, potássio e isoniazida).
„ Alcalinização: manter o pH urinário maior que 7,5. Administrar 850ml de soro glicosado
(SG) a 5% + 150ml de bicarbonato de sódio EV a cada seis ou oito horas (fenobarbital, sa-
licilatos, clorpromazina, flúor, metotrexate e sulfonamidas).

3.4. HEMODIÁLISE E HEMOPERFUSÃO

3.5. ANTÍDOTOS
„ Naloxona (Narcan): antídoto de opioides – 0,4-0,8mg EV lentamente. Pode ser repetido.
„ Flumazenil (Lanexat): antídoto de benzodiazepínicos – 0,1-0,2mg EV. Pode ser repetido
(máximo de 1mg).

4. INTOXICAÇÃO POR ORGANOFOSFORADO OU CARBAMATO (“CHUMBI-


NHO”, INSETICIDAS OU RATICIDAS)

4.1. SINTOMAS
„ Tosse, cianose, broncoespasmo, broncorreia;
„ Bradicardia, hipotensão;
„ Polaciúria, incontinência urinária;
„ Dores abdominais, náuseas, vômitos, diarreia;
„ Distúrbios visuais, miose, lacrimejamento e salivação excessiva.

4.2. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO


„ Uso de equipamentos de proteção individual (EPIs);
„ Realizar o acolhimento do paciente;
„ Remover roupas, lavar região afetada com água e sabão;
„ Proceder à monitorização e aferir sinais vitais completos; afastar hipoglicemia;
„ Administrar O2 suplementar se SatO2 < 94%;
„ Garantir acesso venoso;
„ Atropina 0,01-0,05mg/Kg a cada 15 min (dose máxima: 20-40mg), se paciente respirando
e FC < 60bpm; interromper o uso quando houver sinais de atropinização (redução da hi-
persecreção);
„ SNG: carvão ativado 1g/Kg na diluição em SF de 8ml/g de carvão ativado; manter por 30
minutos no estômago.
Urgência e Emergência – Módulo 2:
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Emergências Clínicas | SC – 2018

SURTO PSICÓTICO

1. CONSIDERAÇÕES

As emergências psiquiátricas consistem em situações de risco iminente tanto para o paciente


quanto para os indivíduos que o cercam e são causadas por transtorno psiquiátrico ou crise
psicológica. Exigem ação imediata da equipe de saúde, a fim de evitar maiores problemas ou
desfechos dramáticos.

Agitação psicomotora pode ser causada por inúmeras razões, desde hipóxia obstrutiva, pas-
sando por crise emocional ou reagudização de quadro psicótico.

Ao realizar atendimento de emergência psiquiátrica, avaliar histórico clínico do paciente e


realizar exame físico. Garantir sempre a segurança do paciente e da equipe.

Contenção física deve ocorrer somente quando estritamente necessária. Sempre relatar to-
das as condutas necessárias à contenção do paciente no prontuário.

Após saída da crise, liberar o paciente para o CAPS ou encaminhar para referência.

Suspeitar de organicidade quando:


„ Início agudo em paciente adulto jovem;
„ Primeiro episódio;
„ Histórico de doença associada ou atual;
„ Abuso significativo de substância – intoxicação;
„ Alucinações táteis e/ou visuais;
„ Sintomas neurológicos – alteração de consciência; desorientação; alteração de fala ou
marcha;
„ Mutismo, negativismo, combatividade, rigidez, posturas incomuns ou movimentos repe-
titivos, entre outros.

2. QUADRO CLÍNICO
„ Inquietação, movimentação excessiva, reatividade aumentada a estímulos externos; às
vezes, agressividade verbal ou física.
„ Delírio (alteração do juízo) e/ou alucinações (alteração da sensopercepção), com compor-
tamento incomum e agressivo.

3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO
„ Avaliar ambiente, sujeitos e segurança (método ACENA);
„ Avaliar situação, visando sempre à segurança da equipe e do paciente (se necessário, so-
licitar auxílio da Polícia Militar ou Corpo de Bombeiros);
„ Caso seja necessária contenção física, fazê-la da maneira adequada, de preferência por
equipe capacitada;
22

„ Após contenção física e/ou química, monitorar e aferir sinais vitais;


„ Fazer acesso venoso;
„ Contenção química/medicamentosa: Haloperidol 5mg IM; repetir a cada 30 minutos e, se
necessário, associado à Prometazina 50mg IM;
„ Em caso de suspeita de intoxicação por drogas estimulantes, pode-se associar Midazolam
5mg IM e/ou Diazepam 10mg EV lento;
„ Abstinência alcoólica: administrar O2 suplementar, soro fisiológico 0,9% EV e Tiamina
300mg IM. Corrigir hipoglicemia (< 70mg/dL) com 40ml de glicose 50%. Sempre adminis-
trar Diazepam 10mg EV de 30 em 30 min, com dose máxima de 50mg;
„ Transferência para hospital de referência.

Quadro 3 – Avaliação psiquiátrica

Avaliar: Arredores, a casa e a presença de armas ou artefatos que indiquem o uso de


A
álcool e drogas; altura e a aparência do paciente.

C Observar a presença de sinais de conflito e crise na rede social do paciente.

Avaliar as expectativas e a receptividade da rede social, do próprio paciente e da


E
equipe de atendimento.
Avaliar o nível de consciência, a adequação à realidade, a capacidade de escolha e o
N
nível de sofrimento.
Avaliar a presença de sinais de uso de álcool e drogas, a presença de agressividade
A
(atual ou anterior) e a presença de sinais de autoagressão.

Fonte: Protocolo de Suporte Básico de Vida (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_suporte_


basico_vida.pdf).

BRONCOESPASMO

1. CONSIDERAÇÕES

A maioria dos casos de broncoespasmos atendidos nas unidades de saúde é por exacerbação
de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). A exacerbação da DPOC é um evento agudo
caracterizado por piora aguda dos sintomas respiratórios, tosse e/ou expectoração do pa-
ciente, além da sua rotina, prejudicando a qualidade de vida, piorando sua função pulmonar.

Está relacionada com altas taxas de mortalidade e altos custos para o sistema de saúde, com
pior prognóstico para os idosos.

A principal causa de descompensação é a infecção – porém, há outras causas não esclarecidas.

2. QUADRO CLÍNICO

Tríade clínica: dispneia, opressão torácica e sibilância.


Urgência e Emergência – Módulo 2:
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Emergências Clínicas | SC – 2018

Realização de histórico clínico e exame físico detalhados.

Ao exame físico, normalmente nota-se aumento no diâmetro anteroposterior do tórax;


tiragens intercostais; expansibilidade diminuída; ausculta pulmonar com roncos e sibi-
los difusos.

O diagnóstico a ser realizado deve ser o clínico.

Oximetria deve ser verificada em todos os pacientes; se > 90%, administra-se oxigênio su-
plementar.

3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO
„ Realizar o acolhimento do paciente;
„ Encaminhar o paciente para sala de emergência;
„ Colocar o paciente na maca;
„ Realizar avaliação primária, manter paciente sentado e/ou em posição confortável;
„ Proceder à monitorização e aferir vitais completos;
„ Administrar O2 suplementar por máscara com reservatório se SatO2 < 94%. No paciente
DPOC, se SatO2 < 90%, administrar O2 com cautela sob cateter nasal;
„ Garantir acesso venoso periférico;
„ Realizar avaliação secundária – SAMPLA;
„ Abordagem medicamentosa direcionada:
ƒ Salbutamol aerossol com espaçador e máscara: 4 a 8 jatos. Pode ser repetido a cada 20
minutos (até 3 nebulizações), ou;
ƒ Nebulização com Fenoterol (Berotec) 10 gotas em 5ml de SF com O2, administrado a
um fluxo de 6 L/min – 3 nebulizações com intervalos de 20 minutos;
ƒ Na asma grave, pode-se associar 40 gotas de brometo de ipratrópio (Atrovent) à nebu-
lização com Fenoterol;
ƒ Hidrocortisona 200-300mg EV;
ƒ Sulfato de magnésio 1-2g (2-4ml) EV diluído em 50ml de SF – infusão lenta em 20-30
minutos. Pode ser repetido em 20 minutos;
„ Indicação de intubação: presença de hipoxemia refratária (SatO2 < 90% persistente), ins-
tabilidade hemodinâmica, rebaixamento do nível de consciência, exaustão e fadiga da
musculatura respiratória;
„ Transferir paciente para hospital de referência, se não houver melhora.

3.1. SEQUÊNCIA DE INTUBAÇÃO RÁPIDA


„ Preparação: avaliação do paciente; escolha dos medicamentos e dosagens, checagem do
material; monitorização cardíaca; PA; oxímetro; acesso venoso.
„ Pré-oxigenação: O2 a 100% bolsa-valva-máscara por 3 minutos (permite obter reserva
de 8 minutos antes que a saturação de O2 abaixe de 90% durante a laringoscopia).
24

„ Pré-tratamento:
DROGA DOSE TEMPO DE INÍCIO DURAÇÃO
Lidocaína 2% 1,5mg/Kg 45-90s 10-20min
Fentanil 0,1-0,3mg por Kg 2 a 3min 30-60min

„ Sedação:
ƒ Midazolam (0,5mg/Kg);
ƒ Etomidato (0,3mg/Kg);
ƒ Ketamina (1,5mg/Kg);
ƒ Propofol (2,5mg/Kg);
ƒ Tiopental (4mg/Kg).
„ Paralisia muscular:
ƒ Succinilcolina (1mg/Kg);
ƒ Rocurônio (0,6-1mg/Kg).
„ Posicionamento: posicionar a cabeça do paciente de maneira adequada a permitir a la-
ringoscopia. Cuidado com pacientes vítimas de trauma.
„ Posição com confirmação: checar posição do tubo através da ausculta do epigástrio,
bases e ápices pulmonares, fixando-o com esparadrapo (pediatria) ou cadarço.
„ Pós-intubação: estar atento às complicações do procedimento, principalmente intuba-
ção esofágica e seletiva.

OBSTRUÇÃO DE VIA AÉREA POR CORPO ESTRANHO (OVACE)

1. CONSIDERAÇÕES

A obstrução de via aérea por corpo estranho (OVACE) é um evento súbito bastante comum
na faixa pediátrica e em idosos, no qual o indivíduo, previamente hígido, subitamente evolui
para uma dificuldade respiratória.

Pode ocorrer também em casos de pacientes vítimas de intoxicação alcoólica aguda ou por-
tadores de patologias neurológicas, nos quais têm-se em comum os distúrbios de deglutição.

As causas mais frequentes de OVACE são: alimentos, próteses dentárias, pequenos objetos,
leite e material regurgitado.

2. QUADRO CLÍNICO

Nos casos de obstrução parcial da via aérea, o paciente tem tosse com sibilos e estridores,
desconforto respiratório leve a moderado. Consegue falar.

Nas obstruções totais, a tosse é ineficaz, fraca; há ruídos respiratórios estridentes ou, ainda,
ausência de movimentos respiratórios; gemência, dificuldade respiratória acentuada com
cianose, podendo evoluir para uma parada cardiorrespiratória em pouco tempo.
Urgência e Emergência – Módulo 2:
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Emergências Clínicas | SC – 2018

3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO
„ Realizar o acolhimento do paciente;
„ Encaminhar rapidamente paciente para sala de emergência.
„ Avaliar a severidade: obstrução leve (capaz de responder) ou grave (não fala, não respira
ou respiração ruidosa, tosse silenciosa e/ou inconsciência).

3.1. OBSTRUÇÃO LEVE:


„ Avaliação primária:
ƒ Não tentar manobras de desobstrução;
ƒ Acalmar o paciente;
ƒ Incentivar tosse vigorosa;
ƒ Garantir acesso venoso;
ƒ Realizar avaliação secundária – SAMPLA;
ƒ Realizar monitorização e fornecer suporte de O2, se necessário;
ƒ Observar atenta e constantemente;
ƒ Se evoluir para o quadro de obstrução grave, transferir o paciente para o hospital de
referência.

3.2. OBSTRUÇÃO GRAVE


„ Paciente consciente: Manobra de Heimlich (pode ser realizada em crianças de um a oito
anos);
„ Inconsciente: compressão torácica. Mesma manobra deve ser feita em pacientes obesos
e gestantes, ao invés de manobra de Heimlich.

Figura 5 – Manobra de Heimlich


26

„ No caso de o paciente evoluir para uma parada cardiorrespiratória (PCR), iniciar mano-
bras de reanimação cardiopulmonar;
„ Paciente com obstrução grave, inconsciente, com ausência de respiração e com pulso: se
o corpo estranho (CE) estiver visível e próximo à arcada dentária, pode ser retirado cuida-
dosamente com pinça de Magill.

Figura 6 – Compressão torácica


SOBE

DESCE OMBROS
SOBRE AS
MÃOS

BRAÇOS
ESTICADOS

USAR A BASE
DAS MÃOS

Fonte: EMS Safety Services, Inc.

ANAFILAXIA

1. CONSIDERAÇÕES

Anafilaxia: se refere a manifestações clínicas sistêmicas características, potencialmente gra-


ves, desencadeadas por reações mediadas pela imunoglobulina E (IgE) após exposição a um
antígeno em indivíduos previamente sensibilizados.

É uma condição que pode ameaçar a vida; sendo assim, seu reconhecimento precisa ser
imediato.

Causas: alimentos, veneno de insetos, medicamentos, exercício, imunoterapia, látex e trans-


fusão de plasma, contrastes e idiopática.

2. QUADRO CLÍNICO
„ Geralmente, as manifestações clínicas são imediatas ou demoram menos de 30 minutos
para iniciar;
Urgência e Emergência – Módulo 2:
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Emergências Clínicas | SC – 2018

„ Na maioria dos casos, a anafilaxia tem sintomas premonitórios como: prurido na palma
da mão e planta do pé; formigamento na boca e na língua; sensação de aperto no peito,
de “nó na garganta” e calor. Tontura e síncope podem ocorrer pela hipotensão;
„ Urticária e angioedema em cerca de 90% dos casos;
„ O edema de laringe, que pode causar dor e rouquidão, é a principal causa de morte por
anafilaxia;
„ Podem haver sintomas gastrointestinais, principalmente se a crise for causada por agente
alimentar.

3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO
„ Realizar o acolhimento do paciente;
„ Encaminhar o paciente para sala de emergência;
„ Colocar o paciente na maca;
„ Realizar avaliação primária com ênfase na preservação da permeabilidade de vias aéreas;
posição de conforto;
„ Realizar avaliação secundária: SAMPLA;
„ Proceder à monitorização;
„ Administrar oxigênio suplementar se SatO2 < 94%;
„ Garantir acesso venoso;
„ Adrenalina: 1:1000 (1mg/ml) na dose de 0,01mg/Kg (máximo de 0,5mg) via IM (EV somen-
te em casos graves com PCR). Pode ser repetida a cada 5-15 minutos;
„ Na ocorrência de choque anafilático, repor volemia 1-2 litros SF 0,9% EV;
„ Hidrocortisona 5-10mg/Kg EV (máximo de 100mg) ou Metilprednisolona 125mg EV;
„ Salbutamol aerossol com espaçador e máscara, 1 jato para cada 2Kg de peso (máximo de
4-8 jatos), com intervalos de 15 a 20 minutos entre as aplicações;
„ Difenidramina (Benadryl): 25-50mg EV (máximo de 100mg), ou Ranitidina 50mg EV;
„ Transferir para hospital de referência.

DIABETES DESCOMPENSADO – HIPOGLICEMIA

1. CONSIDERAÇÕES

Em pacientes diabéticos, a hipoglicemia é uma complicação aguda bastante comum, prin-


cipalmente naqueles em insulinoterapia, considerando-se valores glicêmicos abaixo de 55-
60mg%. É uma condição incomum nos pacientes não diabéticos.

Confirmação diagnóstica: hipoglicemia (< 60mg/dL) com sintomas e, após administração de


glicose, melhora do quadro clínico.

Deve ser prontamente identificada e tratada, pois é potencialmente fatal.


28

2. QUADRO CLÍNICO

Manifestações neuroglicopênicas (cefaleia, sonolência, tontura, ataxia, astenia, dificuldade


de concentração, lentidão de pensamento, confusão, irritabilidade, alterações de comporta-
mento, déficits focais, convulsões e coma) e manifestações adrenérgicas (palpitações, taqui-
cardia, ansiedade, tremores, sudorese, fome e parestesias).

3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO
„ Realizar o acolhimento do paciente;
„ Encaminhar o paciente para sala de emergência.
„ Colocar o paciente na maca;
„ Realizar avaliação primária com ênfase na responsividade e permeabilidade de vias aéreas;
„ Realizar avaliação secundária – SAMPLA;
„ Proceder à monitorização e aferir sinais vitais completos – avaliar glicemia capilar;
„ Administrar oxigênio por máscara não-reinalante com fluxo de 10-15L/min se SatO2 < 94%;
„ Garantir acesso venoso;
„ Abordagem medicamentosa:
ƒ Glicose 50%: 30-50ml EV/IO, repetir hemoglicoteste (HGT) e administrar glicose, se ne-
cessário;
ƒ Tiamina 100mg IM antes da glicose para prevenção da encefalopatia de Wernicke-
-Korsakoff em pacientes etilistas, hepatopatas ou desnutridos;
„ Transferir para hospital de referência, nos casos de refratariedade ou na presença de cau-
sa secundária para hipoglicemia (infecção, tratamento inadequado do diabetes).

DIABETES DESCOMPENSADO – HIPERGLICEMIA

1. CONSIDERAÇÕES

O estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH) e cetoacidose diabética (CAD) são as complica-


ções metabólicas agudas mais graves do diabetes mellitus (DM) e permanecem associadas
a altas taxas de mortalidade.

A maneira como estas complicações se apresentam é variável e nem sempre o diagnóstico


diferencial entre elas é claro.

A CAD é mais comum em jovens com DM tipo 1, enquanto a EHH é mais comum em idosos
com DM tipo 2.

2. QUADRO CLÍNICO
„ Cetoacidose diabética (CAD): glicemia capilar > 250mg/dL: hiperglicemia + cetonemia +
acidemia. Fadiga, náuseas, hálito cetônico, vômitos, polidipsia, poliúria, estupor men-
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tal e até coma. Pode provocar, ainda, dor abdominal e desidratação. Quadro geral-
mente agudo;
„ Estado hiperosmolar hiperglicêmico (EHH): glicemia capilar > 600mg/dL, alteração variável
no nível de consciência, até coma e sinais de desidratação severa. Geralmente leva vários
dias até semanas.
„ Achados físicos: turgor de pele diminuído; hálito cetônico; respiração de Kussmaul; taqui-
cardia; hipotensão; alteração do estado mental; choque e até coma.

3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO
„ Realizar o acolhimento do paciente;
„ Encaminhar o paciente para sala de emergência;
„ Colocar o paciente na maca;
„ Realizar avaliação primária com ênfase na responsividade;
„ Realizar avaliação secundária – SAMPLA;
„ Proceder à monitorização e aferir sinais vitais. Se glicemia > 250mg/dL: considerar cetoa-
cidose diabética; se glicemia > 600mg/dL com alteração de nível de consciência e desidra-
tação: considerar estado hiperosmolar hiperglicêmico.
„ Administrar oxigênio por máscara não-reinalante 10-15l/min, se SatO2 < 94%;
„ Garantir acesso venoso;
„ SF 0,9% EV rápido na velocidade de 500-1000ml/h;
„ Se Glasgow inferior a 8, considerar intubação;
„ Transferir para hospital de referência.

TRANSPORTE

O transporte do paciente até um hospital a partir de uma unidade básica de saúde pode ser
interpretado de duas maneiras:

1. Atendimento pré-hospitalar secundário: uma unidade de APH móvel será enviada


pela Central de Regulação das Urgências a fim de proceder a um atendimento, ou su-
porte e estabilização do paciente, para então conduzi-lo a um hospital determinado pela
Regulação como em qualquer atendimento pré-hospitalar;

2. Remoção: o paciente será removido da unidade de atendimento até um hospital


após contato do médico assistente com médico receptor, estabilização, acompanha-
do de relatório médico, conforme legislação vigente (CFM nº 1.672/2003; Portaria GM/
MS nº 2.048/2002), muito embora as Unidades Básicas de Saúde não sejam ambien-
tes hospitalares.
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REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Comissão Intergestores Tripartite.


Portaria n. 2.048, de 5 de novembro de 2002. Regulamento Técnico dos Sistemas
Estaduais de Urgência e Emergência. Brasília, DF, 2002. Disponível em: <http://bvsms.
saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2002/prt2048_05_11_2002.html>. Acesso em: 2 jul. 2017.

______. ______. ______. Portaria n. 1.863, de 29 de setembro de 2003. Institui a Política


Nacional de Atenção às Urgências, a ser implantada em todas as unidades federadas,
respeitadas as competências das três esferas de gestão. Brasília, DF, 2003. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2003/prt1863_26_09_2003.html>. Acesso
em: 2 ago. 2018.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (Brasil). Resolução n. 1.451, de 10 de março de 1995.


Estabelece estruturas para prestar atendimento nas situações de urgência-emergência,
nos Pronto Socorros Públicos e Privados. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília,
DF, 17 mar. 1995, seção 1, p. 3666. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/library/
modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=2989>. Acesso em: 24 jul. 2017.

______. Resolução CFM n. 1.672, de 9 de julho de 2003. Dispõe sobre o transporte inter-
hospitalar de pacientes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29
jul. 2003, seção 1, p. 75-78. Disponível em: <http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/
cfm/2003/1672_2003.htm>. Acesso em: 24 jul. 2018.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

AMERICAN HEART ASSOCIATION (AHA). Destaques da American Heart Association 2015:


Atualização das Diretrizes de RCP e ACE. Dallas: AHA, 2015.

______. Suporte avançado de vida em cardiologia: livro do profissional de saúde. São


Paulo: Prous Science, 2015.

BONNIN, M. J.; PEPE, P. E.; KIMBALL, K. T. et al. Distinct criteria for termination of
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BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção às Urgências. 3. ed. ampl.


Brasília, DF, 2006. 256 p. (Série E. Legislação de Saúde). Disponível em: <http://bvsms.
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CAVALCANTI, Ismar Lima; CANTINHO, Fernando Antônio de Freitas; ASSAD, Alexandra (Ed.).
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GONZALEZ, M. M; TIMERMAN, S.; GIANOTTO-OLIVEIRA, R. et al. I Diretriz de Ressuscitação


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ANOTAÇÕES

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