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ESTUDO DIRIGIDO PSIQUIATRIA – 28/10/2021

1- Qual a epidemiologia dos transtornos psicóticos?


As formas clínicas mais comuns de transtornos psicóticos na prática médica ambulatorial são
as seguintes, para cada grupo etário:
 Adolescência (11 a 18 anos): transtornos esquizofrênicos e quadros psicóticos induzidos
por substâncias psicoativas.
 Adulto (18 a 30 e 31 a 64 anos): transtornos esquizofrênicos, psicoses induzidas por
substâncias psicoativas, reações psicóticas induzidas por trauma (na primeira etapa da
vida adulta) e transtornos do humor (na segunda etapa da vida adulta).
 Velhice (65 anos ou mais): psicoses devidas a lesão e disfunção cerebral e doença física
orgânica (antigamente denominadas síndromes cerebrais orgânicas) e transtornos do
humor (depressões).

2 - Quais as principais alterações psicopatológicas dos transtornos psicóticos.


A possibilidade de ocorrência de psicose deve ser considerada diante das seguintes situações:
 Surgimento mais ou menos súbito de perturbações claras de sensopercepção (alucinações
de qualquer modalidade: auditiva, visual, tátil), particularmente quando acompanhadas
de alterações de curso de pensamento (desorganização, fuga de ideias e incoerência), de
conteúdo do pensamento (ideias delirantes, com crenças irrefutáveis de situações irreais),
podendo haver associação com desorientação no espaço, no tempo, em relação a outras
pessoas e quanto à própria pessoa.
 Desconfiança exagerada, isolacionismo, perda importante de interesse pelas atividades
sociais, hostilidade e agressividade.
 Tristeza acentuada, insônia, ideias e tentativas de suicídio, descuido da higiene pessoal,
emagrecimento, ideias de ruína e autoacusação.
 Humor eufórico, insônia, excitação ou agitação psicomotoras, ideias e planos grandiosos,
loquacidade extrema.
 Marcada alienação quanto ao mundo externo, com nítido predomínio do mundo interno.
 Embotamento afetivo, conduta bizarra ou estranha.

3 - Qual o tratamento não farmacológico dos transtornos psicóticos?


O tratamento deve ser feito em ambiente físico agradável, seguro, confortável e não
ameaçador. Assim, os hospitais psiquiátricos tradicionais podem agravar o quadro, sendo que
esse fato deve ser considerado pelo médico.

Os lares substitutos e as pensões protegidas são úteis apenas nos casos em que a família
realmente não pode cuidar dos pacientes. Quando o paciente permanecer em casa, são
necessárias visitas domiciliares regulares que podem ser realizadas pelos vários membros de
uma equipe de saúde, a partir de um plano de acompanhamento individualizado.

Observação cuidadosa e assistência de enfermagem. Se houver conduta desorganizada ou


destrutiva (com riscos para o paciente ou outras pessoas), pode ser indicada uma breve
internação hospitalar, de preferência em leito psiquiátrico de hospital geral. Recomenda-se
atendimento psicossocial no seguimento pós-alta, visando desenvolver no paciente a
capacidade de lidar com as consequências da crise psicótica.

A terapia cognitivo-comportamental pode ser útil para prevenir recidivas, mas seu benefício
segue incerto.
É especialmente importante que o paciente não seja marginalizado das comunicações entre
profissionais para evitar o aumento das suas desconfianças.
Fornecer instruções claras para os demais membros da equipe de APS e familiares. Essa
modalidade de atendimento é ainda mais eficaz quando o clínico está atento aos seguintes
sinais prodrômicos de reagudização:
 Ansiedade, irritabilidade, dificuldade de concentração, diminuição do desempenho na
escola, no trabalho ou nas atividades domésticas.
 Diminuição da energia e da atividade, apatia, retraimento social e sintomas não psicóticos
como ansiedade e insônia.
 Desinibição, descontrole dos impulsos.
 Desorganização psicótica.

O treinamento de habilidades sociais para a reabilitação do paciente e sua manutenção na


comunidade reduz recidivas quando comparado com o tratamento usual e possui efetividade
semelhante a intervenções psicoeducacionais, podendo ser feito das seguintes formas:
 Grupos homogêneos com pacientes egressos, nos quais se estimulam os mecanismos de
ajuda mútua e esclarecimentos sobre doença, medicamentos e efeitos colaterais.
 Clubes ou associações (organizações mantidas pelos próprios pacientes).
 Pensões protegidas (lares intermediários entre o hospital e a residência do paciente).
 Oficinas protegidas (treinamento no trabalho).
 Trabalho com familiares (facilitando a reintegração do paciente com sua família e grupo
social).
 Treinamento de habilidades sociais perdidas ou comprometidas pelo processo da doença
e do contato inadequado/prolongado com instituições totais/manicomiais.

4- Qual o tratamento farmacológico dos transtornos psicóticos?


Se forem necessários fármacos, pode-se usar o haloperidol, começando com doses pequenas
e fazendo cuidadosa monitorização clínica de efeitos e paraefeitos.

O uso de antipsicóticos por pelo menos seis meses após um episódio agudo reduz
aproximadamente pela metade o risco de recidiva. Com exceção da clozapina, que
reconhecidamente tem uma eficácia maior, os demais antipsicóticos têm uma eficácia
semelhante quando utilizados em doses equivalentes.

Os antipsicóticos tradicionais (potencialmente capazes de provocar reações extrapiramidais e


um maior número de outros efeitos colaterais) podem constituir-se na primeira escolha para o
tratamento da de quadros psicóticos da fase aguda da esquizofrenia, como coadjuvantes nos
episódios maníacos do transtorno bipolar do humor (TBH), por serem reconhecidamente
eficazes e seguros, e principalmente pelo seu menor custo, quando este fator é decisivo.
Entretanto os de baixa potência podem provocar tonturas, sedação, constipação intestinal; os
de alta potência sintomas extrapiramidais aos quais são suscetíveis especialmente jovens do
sexo masculino. Os antipsicóticos atípicos em geral não causam efeitos extrapiramidais nas
doses usuais, são mais bem tolerados e na atualidade vem sendo cada vez mais preferidos
como primeira escolha: a risperidona quando há sintomas positivos proeminentes,
hostilidade, agitação, obesidade, tabagismo, hiperglicemia ou diabetes; a olanzapina quando
há tendência a ocorrerem sintomas extrapiramidais ou acatisia, ou a clozapina quando ocorre
discinesia tardia. Além de um melhor perfil de efeitos colaterais uma metanálise recente
constatou uma melhor eficácia de alguns representantes dos atípicos: clozapina, amisulprida,
risperidona e olanzapina em relação aos tradicionais (haloperidol), e não de outros como a
quetiapina, a ziprazidona, o aripriprazol.

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