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O Inconsciente

1. O adjetivo inconsciente é por vezes usado para exprimir o conjunto dos


conteúdos não presentes no campo efetivo da consciência, isto num
sentido 'descritivo' e não 'tópico', quer dizer, sem se fazer discriminação
entre os conteúdos dos sistemas rpé-consciente e inconsciente.
2. No sentido 'tópico', inconsciente designa um dos sistemas definidos por
Freud no quadro da sua primeira teoria do aparelho psíquico. É
constituído por conteúdos recalcados aos quais foi recusado o acesso ao
sistema pré-consciente-consciente pela ação do recalque. Podemos
resumir do seguinte modo as características essenciais do Inconsciente
como sistema (ou Ics): a) as seus 'conteúdos' são 'representantes' das
pulsões; b) estes 'conteúdos' são regidos pelos mecanismo específicos do
processo primário, principalmente a condensação e o deslocamento; c)
fortemente investidos pela energia pulsional, procuram retornar à
consciência e à ação; mas só podem Ter acesso ao sistema Pcs-Cs nas
formações de compromisso, depois de terem sido submetidos às
deformações da censura. D) são, mais especialmente, desejos da infância
que conhecem uma fixação no inconsciente.A abreviatura Ics designa o
inconsciente (Das Unbewusste) sob a sua forma substantiva como
sistema: ics é a abreviatura do adjetivo inconsciente (unbewusst)
enquanto qualifica em sentido estrito os conteúdos do referido sistema.
3. No quadro da Segunda tópica freudiana, o termo inconsciente é usado
sobretudo na sua forma adjetiva: efetivamente, inconsciente deixa de ser
o que é próprio de uma instância especial, visto que qualifica o id e, em
parte, o ego e o superego. Mas convém notar: a) as características
atribuídas ao sistema Ics na primeira tópica são de um modo geral
atribuídas ao id na Segunda; b) a diferença entre o pré-consciente e o
inconsciente, embora já não esteja baseada numa distinção
intersistêmica, persiste como distinção intra-sistêmica (o ego e o
superego são em parte pré-conscientes e em parte inconscientes).
Se fosse preciso concentrar numa palavra a descoberta
freudiana, seria incontestavelmente na palavra inconsciente. Por
isso, nos limites da presente obra, não pretendemos historiar esta
descoberta nos seus antecedentes pré-freudianos, na sua gênese
e nas suas elaborações sucessivas em Freud. Vamos limitar-nos,
num desejo de clarificação, a sublinhar alguns traços essenciais
que a própria difusão do termo tem freqüentemente apagado.

I) O inconsciente freudiano é, em primeiro lugar,


indissoluvelmente uma noção tópica e dinâmica, que brotou da
experiência do tratamento. Este mostrou que o psiquismo não é
redutível ao consciente e que certos 'conteúdos' só se tornam
acessíveis à consciência depois de superadas certas resistências;
revelou que a vida psíquica era '... cheia de pensamentos
eficientes embora inconscientes, e que era destes que emanavam
os sintomas';1 levou a supor a existência de 'grupos psíquicos
separados' e, de modo mais geral, a admitir o inconsciente como
um 'lugar psíquico' particular que deve ser concebido não como
uma Segunda consciência, mas como um sistema que possui
conteúdos, mecanismos e, talvez, uma 'energia' específica.

II) Quais serão esses conteúdos? A) No artigo O Inconsciente,


Freud denomina-os 'representantes da pulsão'. Com efeito, a
pulsão, na fronteira entre o somático e o psíquico, está aquém da
oposição entre consciente e inconsciente; por um lado, nunca se
pode tornar objeto da consciência e, por outro, só está presente
no inconsciente pelos seus representantes, essencialmente o
'representante-representação'. Acrescente-se que um dos
primeiros modelos teóricos freudianos define o aparelho
psíquico como sucessão de inscrições (Niederschriften) de
sinais,2 idéia retomada e discutida nos textos ulteriores. As
representações inconscientes são dispostas em fantasias,
histórias imaginárias em que a pulsão se fixa e que podemos
conceber como verdadeira encenações do desejo; b) a maior
parte dos textos freudianos anteriores à Segunda tópica
assimilam o inconsciente ao recalcado. Note-se, todavia, que
esta assimilação não deixa de Ter restrições; vários textos
reservam lugar para conteúdos não adquiridos pelo indivíduo,
filogenéticos, que constituiriam o 'núcleo do inconsciente'.3 Essa
idéia completa-se na noção de fantasias originárias como
esquemas pré-individuais que vêm informar as experiência
sexuais infantis do sujeito; c) outra assimilação classicamente
reconhecida é a do inconsciente ao infantil em nós, mas também
aqui se impõe uma reserva. Nem todas as experiências infantis
estão destinadas, na medida em que seriam naturalmente vividas
segundo o modo daquilo a que a fenomenologia chama
consciência irreflexiva, a se confundirem com o inconsciente do
sujeito. Para Freud, é pela ação do recalque infantil que se opera
a primeira clivagem entre o inconsciente e o sistema Pcs-Cs. O
inconsciente freudiano é constituído - apesar de o primeiro
tempo do recalque originário poder ser considerado mítico; não
é uma vivência indiferenciada.

III) Sabe-se que o sonho foi para Freud o caminho por


excelência da descoberta do inconsciente. Os mecanismos
(deslocamento, condensação, simbolismo) evidenciados no
sonho em A Interpretação de Sonhos (Die Traumdeutung, 1900)
e constitutivos do processo primário são reencontrados em
outras formações do inconsciente (atos falhos, lapsos, etc.),
equivalentes aos sintomas pela sua estrutura de compromisso e
pela sua função de 'relaização de desejo'.

Quando Freud procura definir o inconsciente como sistema,


resume assim as suas característica específicas: 4 processo
primário (mobilidade dos investimentos, característica da
energia livre); ausência de negação, de dúvida, de grau de
certeza; indiferença perante a realidade e a regulação
exclusivamente pelo princípio de desprazer-prazer (visando este
restabelecer pelo caminho mais curto a identidade de
percepção).

IV) Freud procurou finalmente fundamentar a coesão própria do


sistema Ics e a sua distinção radical do sistema Pcs através da
noção econômica de uma 'energia de investimento' própria de
cada um dos sistemas. A energia inconsciente aplicar-se-ia a
representações por ela investidas ou desinvestidas, e a passagem
de um elemento de um sistema para o outro produzir-se-ia por
desinvestimento por parte do primeiro e reinvestimento pelo
segundo.

Mas esta energia inconsciente - e está é uma dificuldade da


concepção freudiana - ora aparece como uma força de atração
exercida sobre representações e resistente à tomada de
consciência (é o que acontece na teoria do recalque, onde a
atração pelos elementos já recalcados vem colaborar com a
repressão do sistema superior),5 ora como uma força que tende a
fazer emergir os seus 'derivados' na consciência e só seria
contida graças à vigilância da censura.6

V) As considerações tópicas não devem fazer-nos perder de


vista o valor dinâmico do inconsciente freudiano, que o seu
autor tantas vezes sublinhou; devemos, pelo contrário, ver nas
distinções tópicas o meio de explicar o conflito, a repetição e as
resistências.

Sabe-se que a partir de 1920 a teoria freudiana do aparelho


psíquico foi profundamente remodelada e foram introduzidas
novas distinções tópicas que já não coincidiam com as do
inconsciente, pré-consciente e consciente. Com efeito, se é
verdade que reencontramos na instância do id as principais
características do sistema Ics, também nas outras instâncias -
ego e superego - é reconhecida uma origem e uma parte
inconscientes.

Notas
1 Freud, S. (1912): A Note on the Unconscious in Psycho-Analysis, G. W.,
VIII, 3433; S.E., XII, 262; Fr., 13.

2 Freud, S. (1896): Aus den Anfängen der Psychoanalyse, carta a Fliess de


06/12/1896, Al., 185-6.

3 Freud, S. (1915): Das Unbewusste, G. W., X. 294.

4 Ibid., 285-8.

5 Freud, S. (1915): Die Verdrüngung, G. W. X, 250-1.

6 Freud, S. (1915): Das Unbewusste, G. W., X 280.

in Laplanche, J. & Pontalis, J.B. (1998): Vocabulário de


Psicanálise, São Paulo: martins Fontes.

Sobre o Inconsciente Freudiano (um


breve estudo)
Por Márcia Vasconcellos de Lima e Silva

2000

Introdução:O presente trabalho tem por objeto o tema o


inconsciente e seu objetivo é fazer uma panorâmica
acerca do assunto. Não possui maiores pretensões, uma
vez que seria tarefa árdua e incerta tentar versar sobre
algo tão profundo, complexo e enigmático. O Inconsciente
é um tema fascinante e extremamente vasto e
controvertido na obra freudiana. Acredito ter sido uma
oportunidade ímpar a de - a partir desse trabalho - ter
tomado um pouco mais de contato com esse tema, nessa
caminhada que, para mim, está apenas começando.
Evolução do termo "o inconsciente":Numa nota de rodapé
à anamnese do caso Emmy (ESB, vol. II), encontra-se
publicado pela 1a. vez o termo inconsciente. OBS: Foi
Breuer, contudo, que em sua contribuição aos Estudos
sobre histeria fez primeiramente uma defesa das idéias
inconscientes. No íten 5 das considerações teóricas de
Breuer à Comunicação preliminar, ele fala em
representações inconscientes e representações
inadmissíveis à consciência - divisão da mente (ESB, vol.
II; pg. 241 e segs.).No início do artigo "As neuropsicoses
de defesa" (1896), Freud descreve explicitamente o
mecanismo psíquico da defesa como inconsciente.O
interesse de Freud pela suposição da existência do
inconsciente não era um interesse filosófico, senão um
interesse prático. Ele achava que sem essa suposição era
incapaz de explicar ou mesmo descrever a grande
variedade de fenômenos com que se defrontava. *
Disciplina: Fundamentos de PsicanáliseProf: Ruth Cnop
Goldemberg1o. período - 01/99
As possíveis influências de Freud com relação a esse
tema foram seus professores diretos interessados por
psicologia - Meynert, p. ex.; o fisiologista e também
professor Hering e os conceitos de Herbart. Os princípios
herbatianos eram utilizados na escola secundária que
Freud freqüentou. O reconhecimento da existência de
processos mentais inconscientes desempenhou papel
essencial no sistema de Herbart.Freud, de início, muito
interessado em tentar desenvolver uma psicologia de
base científica, dedica-se a escrever um trabalho
intitulado "Psicologia para neurologistas" que redundou na
obra incompleta "O Projeto para uma Psicologia
Científica", 1895. Com isso, a necessidade de postular
quaisquer processos mentais inconscientes foi
inteiramente evitada naquele momento. Em "A
Interpretação dos sonhos", 1900, principalmente em seu
Cap. VII., estabelece-se o inconsciente de uma vez por
todas. Naquele capítulo, pela 1a. vez, Freud revelou o
inconsciente tal qual era, como funcionava, como diferia
de outras partes da mente, e quais eram suas relações
recíprocas com elas. Num artigo que escreveu em 1912
para a SPP "Uma nota sobre o inconsciente em
Psicanálise", Freud investiga a ambigüidade do termo
inconsciente, estabelecendo as diferenças entre os
empregos descritivo, dinâmico e sistemático da palavra.
Em seu "Estudo autobiográfico" (1924 - vol. XX, ESB),
Freud nos diz que: "A subdivisão da mente faz parte de
uma tentativa de retratar o aparelho da mente como
sendo constituido de grande número de instâncias ou
sistemas, cujas relações mútuas são expressas em
termos espaciais, sem contudo implicarem qualquer
ligação com a verdadeira anatomia do cérebro (descrevia
esse ponto como o método topográfico de abordagem)".
Já havia dito antes nesse mesmo artigo que "A
psicanálise considerava tudo de ordem mental como
sendo, em primeiro lugar, inconsciente; a qualidade
ulterior de 'consciência' também pode estar presente ou
ainda ausente". Freud sempre insistiu em dizer que o
critério consciente x inconsciente, "(...) é, em última
instância, o nosso único farol nas trevas da psicologia
profunda" (Freud, pg. 169 de O Inconsciente e pg. 32 de
O ego e o id).Capítulo VII - A interpretação dos sonhos:
(E) Os processos primário (identidade de percepção) e
secundário (identidade de pensamento) - Recalcamento
e (F) O inconsciente e a consciência - realidade.No início
do artigo Freud diz que "A tese de que os sonhos dão
prosseguimento às ocupações e interesses da vida de
vigília foi inteiramente confirmada pela descoberta dos
pensamentos oníricos ocultos" (Freud, 1900: 615 - grifos
nossos). Ora, oculto = latente = por trás de... =
inconsciente! "Assim, quando uma cadeia de pensamento
é inicialmente rejeitada (conscientemente, talvez) pelo
julgamento de que é errada ou inútil para o fim intelectual
imediato em vista, o resultado pode ser que essa cadeia
de pensamentos prossiga, inobservada pela consciência,
até o início do sonho" (Freud, 1900: 620). O trabalho do
sonho, a formação do sonho, prova que "(...) as mais
complexas realizações do pensamento são possíveis sem
a assistência da consciência...". Uma vez que os restos
diurnos, que servem de material para a formação do
sonho, podem ter sido originados no dia anterior e, assim,
terem passado despercebidos pela consciência do
sonhador desde o início... E continua: "Esses
pensamentos oníricos não são, em si, inadmissíveis à
consciência; é possível que tenha havido diversas razões
para que não se tornassem conscientes para nós durante
o dia. O tornar-se consciente está ligado à aplicação de
uma certa função psíquica, a da atenção, função esta
que, segundo parece só se acha disponível numa
quantidade específica, a qual pode ter sido desviada pela
cadeia de pensamentos em questão para alguma outra
finalidade" (Freud, 1900: 620 - grifos nossos).Daí ele
segue falando em catexia da atenção e abandono da
catexia de atenção, para colocar a questão do pré-
consciente. Coloca-nos que dentro de nosso pré-
consciente existem representações (idéias) derivadas de
fontes situadas no inconsciente e de desejos
(inconscientes) que estão sempre em alerta. E que a
cadeia de pensamentos desprezada ou suprimida pode
cessar espontaneamente ou persistir... (p. 621). Com isso,
Freud pontua que existem dois tipos fundamentais de
processos psíquicos. São os dois sistemas que, no
aparelho psíquico, descreve como o Ics. e o Pcs,
respectivamente.A finalidade do aparelho psíquico é o de
manter-se num estado de homeostase. Assim, sua função
é a de evitar ao máximo possível o desprazer... Freud
assim nos fala: "(...) o segundo sistema só pode catexizar
uma representação se estiver em condições de inibir o
desenvolvimento do desprazer que provenha dela"
(Freud, 1900: 627). Daí a teoria do recalque. Quando a
realização daqueles desejos inconscientes pudessem
gerar um afeto de desprazer (ao invés de afeto de
prazer), a transformação do afeto constitui aquilo que é
chamado de recalcamento. Qual sua ligação com a
neurose? "O Pcs. reforça sua oposição aos pensamentos
recalcados (isto é, produz uma contracatexia /
anticatexia ) e, a partir daí, os pensamentos de
transferência, que são veículos do desejo inconsciente,
irrompem em algum tipo de compromisso obtido pela
formação de um sintoma" (Freud, 1900: 630)."Proponho
descrever o processo psíquico admitido exclusivamente
pelo primeiro sistema como 'processo primário', e o
processo que resulta da inibição imposta pelo segundo
sistema, como processo secundário" (Freud, 1900: 625-
627). O processo primário esforça-se por uma descarga
da excitação acumulada a fim de estabelecer uma
identidade perceptiva [com a vivência da 1a. experiência
de satisfação perdida]; enquanto que o processo
secundário - por sua vez - abandona essa intenção e
adota outra em seu lugar: o estabelecimento de uma
identidade de pensamento [com aquela vivência].
Formulações sobre os dois princípios do funcionamento
mental (1911):O tema principal deste artigo é a distinção
entre os princípios reguladores (o princípio do prazer e o
princípio da realidade) que dominam, respectivamente, os
processos mentais primário e secundário.No início do
artigo, Freud nos diz que "(...) toda neurose tem como
resultado e, portanto, provavelmente, como propósito
arrancar o paciente da vida real, aliená-lo da realidade"
(paralelo com o sujeito alienado de Lacan: o neurótico).
Ao conceituar recalque, Freud coloca o processo de
repressão/recalque na gênese das neuroses: "Os
neuróticos afastam-se da realidade por achá-la
insuportável - seja no todo ou em parte" (Freud, 1911:
237). A psicologia que se baseia na PSA, toma como
ponto de partida os processos mentais inconscientes que
"(...) são os processos mais antigos, primários, resíduos
de uma fase de desenvolvimento em que eram o único
tipo de processo mental" (Freud, 1911: 238). Seu
propósito dominante (dos processos primários) é descrito
como o princípio do prazer-desprazer [ lust-unlust ], isto é,
o princípio do prazer. Esta é a 1a. vez que este termo
aparece. Em A interpretação dos sonhos (1900), é
sempre denominado princípio de desprazer. Estes
processos se esforçam para a busca da satisfação, ou
seja, do prazer; a atividade psíquica rejeita qualquer
evento que possa despertar desprazer - é aqui que ocorre
o recalque! (Freud, 1911: 238). O termo recalque
(verdrangt) aparece pela 1a. vez na seção II da
Comunicação Preliminar de 1893 no sentido que viria a
ter na teoria psicanalítica. Em História do movimento
psicanalítico (1914), Freud coloca que a Teoria do
Recalque é a pedra angular da psicanálise.O Princípio da
Realidade se instaura/estabelece quando o aparelho
mental se vê diante de realidades externas desagradáveis
cuja existência é inegável, que não consegue deixar de
perceber... Assim, se antes o bebê alucinava no sentido
de buscar a 1a. experiência de satisfação perdida, num
dado momento o princípio do prazer vai sendo substituído
pelo da realidade, na medida em que a cça cresce...
(Freud, 1911: 238 - nota de rodapé).Note-se, porém, que
"(...) a substituição do princípio de prazer pelo princípio de
realidade não implica a deposição daquele, mas apenas
sua proteção. Um prazer momentâneo, incerto quanto a
seus resultados, é abandonado, mas apenas a fim de
ganhar mais tarde, ao longo do novo caminho, um prazer
seguro" (Freud, 1911: 242).Aí então, Freud fala das
religiões, da ciência, da educação e da arte que seriam
todas formas de sublimação da insatisfação e frustração
advindas da instauração do princípio da realidade sobre o
do prazer (Freud, 1911: 242). A instituição do princípio de
realidade causa frustração: "(...) insatisfação que resulta
da substituição do princípio de prazer pelo princípio de
realidade"(Freud : 243 - grifos nossos).Uma nota sobre o
inconsciente em Psicanálise (1912): Este artigo é
considerado um dos mais importantes trabalhos de
Freud, pois pela 1a. vez forneceu uma longa e ponderada
descrição das premissas para sua hipótese de processos
mentais inconscientes, especificando os diversos sentidos
em que empregou o termo, bem como a ambigüidade do
mesmo fazendo clara distinção entre seus três empregos
- o descritivo, o dinâmico e o sistemático.Neste artigo, o
aspecto dinâmico é aplicado ao inconsciente reprimido,
enquanto que o sistemático surgiu com um passo no
sentido da posterior divisão estrutural da mente em ID,
EGO e SE. OBS: Freud retorna à distinção tríplice feita
aqui no 1o. cap. de "O ego e o id" (1923) e na conferência
XXXI, de 1933. Freud começa o artigo dizendo: "Uma
concepção que se ache agora presente em minha
consciência pode tornar-se ausente no momento
seguinte, e novamente presente, após um intervalo. (...) É
este fato que estamos acostumados a explicar pela
suposição de que, durante o intervalo, a concepção
esteve presente em nossa mente, embora latente na
consciência" (Freud, 1912: 279). E segue explicando que
consciente não é um termo correlato de psíquico, uma
vez que consciente é um termo que designa algo que está
na consciência e que nos damos conta... Assim, aquilo
que existe e não nos damos conta por não se achar
presente na consciência num dado momento, não
significa que deixe de ser psíquico... É algo psíquico, mas
fora da consciência... As concepções latentes seriam
designadas pelo termo inconsciente. "(...) uma concepção
inconsciente é uma concepção da qual não estamos
cientes, mas cuja existência, não obstante, estamos
prontos a admitir, devido a outras provas ou sinais"
(Freud, 1912: 279). Provas ou sinais = formações do
inconsciente: lapsos, atos falhos, sonhos, sintomas, etc.
Depois, nos coloca que a questão das idéias ativas e
inconscientes era, em princípio, uma característica
marcante das pacientes histéricas. Contudo, "a mesma
preponderância de idéias inconscientes ativas é revelada
pela análise como sendo o fato essencial na psicologia de
todas as outras formas de neurose" (Freud, 1912: 280 -
grifos nossos). São idéias ativas porque produzem
ações/sintomas, mas permanecem inconscientes, no
sentido de que a pessoa não se apercebe do que está
fazendo... ou do porquê o faz... não se dá conta daquilo.
E explica que uma idéia não é ou deixa de ser latente
pelo fato de ser considerada forte ou fraca. "Adquirimos
hoje a convicção de que há algumas idéias latentes que
não penetram na consciência por mais fortes que possam
se haver tornado" (Freud, 1912: 281).Finaliza o artigo
fazendo considerações importantíssimas! Freud fala do
inconsciente enquanto sistema. "O sistema assinalado
pelo fato de seus atos isolados serem inconscientes é
chamado O Inconsciente (...) E este é o terceiro e mais
significativo sentido que o termo 'inconsciente' adquiriu na
psicanálise" (Freud, 1912: 285). Qual seja: o sentido
sistemático; a conotação de um aparelho psíquico dividido
em sistemas. O Inconsciente (191 ): Lê-se na nota do
editor inglês: "Se a série de artigos sobre metapsicologia
talvez seja considerada como o mais importante de todos
os escritos teóricos de Freud, não há dúvida alguma de
que este ensaio sobre o inconsciente constitui seu ponto
culminante" (pg. 165). Na introdução do presente artigo
Freud nos fala que mesmo inconsciente, uma idéia pode
produzir efeitos (o que nos remete às idéias inconscientes
e ativas) e, até mesmo, chegar à consciência. E afirma:
"Como devemos chegar a um conhecimento do
inconsciente? Certamente só o conhecemos como algo
consciente depois que ele sofreu transformação ou
tradução para algo consciente. A cada dia o trabalho
psicanalítico nos mostra que esse tipo de tradução é
possível" (Freud, 1915: 171).Segue colocando que o
atributo de ser inconsciente é apenas um dos aspectos do
elemento psíquico. Divide o inconsciente por um lado em
atos meramente latentes (temporariamente inconscientes)
e, de outro lado, abrange processos tais como os
recalcados. E alerta: "Não podemos escapar à
ambigüidade de empregar as palavras 'consciente' e
'inconsciente' algumas vezes num sentido descritivo,
algumas vezes num sentido sistemático, sendo que, neste
último, elas significam a inclusão em sistemas particulares
e a posse de certas características " (Freud, 1915: 177).E
continua dizendo que um ato psíquico passa por duas
fases até chegar à consciência. Entre uma fase e outra
existe uma espécie de censura (ou teste) à qual o referido
ato psíquico deverá ser submetido. Nas palavras de
Freud: "Na primeira fase, o ato psíquico é inconsciente e
pertence ao sistema Ics; se no teste for rejeitado pela
censura não terá permissão de passar à segunda fase;
diz-se então que foi recalcado, devendo permanecer
inconsciente. Se, porém, passar por esse teste, entrará
na segunda fase e, subseqüentemente, pertencerá ao
segundo sistema, que chamaremos sistema Cs." (Freud,
1915: 178 ). Por pertencer ao sistema Cs. isso não
significa sua relação com a consciência, mas sim, sua
capacidade de tornar-se consciente (característica do até
então sistema Pcs.). Assim, Freud acopla os dois
sistemas: "(...) o sistema Pcs. participa das características
do sistema Cs. e a censura rigorosa exerce sua função no
ponto de transição do Ics. para o Pcs. (ou Cs.)" (Freud,
1915: 178). A partir disso, Freud propõe que se
empregue por escrito as abreviações Cs. e Ics. quando se
estiver mencionando, respectivamente, o consciente e o
inconsciente em seu sentido sistemático.Freud, então,
segue falando sobre a questão da repressão/recalque. A
repressão ou recalque é um processo que afeta as idéias
na fronteira entre os sistemas Ics. e Pcs. (Cs). Tal
processo deve tratar-se de uma retirada de catexia. E
pergunta: "(...) em que sistema ocorre a retirada e a que
sistema pertence a catexia retirada? A idéia reprimida
permanece capaz de agir no Ics., e deve, portanto, ter
conservado sua catexia. O que foi retirado deve ter sido
outra coisa. Tomemos o caso da repressão quando afeta
uma idéia pré-consciente ou mesmo consciente. Aqui a
repressão só pode consistir em retirar da idéia a catexia
(pré)-consciente que pertence ao sistema Pcs. A idéia,
portanto, ou permanece não catexizada, ou recebe a
catexia do Ics., ou retém a catexia do Ics. que já possuía.
Assim, há uma retirada da catexia pré-consciente, uma
retenção de catexia inconsciente, ou uma substituição da
catexia pré-inconsciente por uma inconsciente". E
prossegue: "(...) baseamos essas reflexões na suposição
de que a transição do sistema Ics. para o sistema
seguinte não se processa pela efetuação de um novo
registro, mas por uma modificação em seu estado, uma
alteração em sua catexia" (Freud, 1915: 185).Anticatexia
é o processo por meio do qual o sistema Pcs. se protege
da pressão que sofre por parte da idéia inconsciente " (...)
É bem possível que seja precisamente a catexia retirada
da idéia a utilizada para a anticatexia" (Freud, 1915: 186).
Ics.- catexias / anticatexias - Pcs. "(...) gradativamente
fomos levados a adotar um terceiro ponto de vista em
nosso relato dos fenômenos psíquicos. Além dos pontos
de vista dinâmico e topográfico, adotamos o econômico" =
economia da libido. E, desta forma, Freud instaura a
Metapsicologia: "Não será descabido dar uma
denominação especial a essa maneira global de
considerar nosso tema, pois ela é a consumação da
pesquisa psicanalítica. Proponho que, quando tivermos
conseguido descrever um processo psíquico em seus
aspectos dinâmico, topográfico e econômico, passemos a
nos referir a isso como uma apresentação
metapsicológica" (Freud, 1915: 186). Conclusão:Foi
extremamente proveitoso e prazeiroso para mim estudar e
realizar esse trabalho, uma vez que redundou numa mini-
pesquisa do termo inconsciente que é vital para a
psicanálise. Muito gratificante, também, poder
acompanhar os passos de Freud nas suas principais
formulações acerca do inconsciente. Quando comecei a
fazer este trabalho, resolvendo não me ater ao artigo
metapsicológico de 1915, O Inconsciente, pretendi tentar
acompanhar a linha de raciocínio de Freud e li os artigos
de acordo com a ordem cronológica em que foram
escritos. E com o intuito de enfatizar isso é que subdividi
o trabalho de acordo com os textos lidos. Afinal, poderia
ter condensado as principais idéias num resumo geral.
Porém, não era essa a minha intenção.Espero ter
conseguido atingir os objetivos pertinentes à disciplina,
embora confesse que, independentemente disso, atingi o
objetivo a que me propus ao realizar esse breve estudo: o
de começar o percurso de tentar compreender e explicar
sobre aquilo que é, em si, incompreensível e inexplicável.
Referências Bibliográficas:Freud, S. (1900). A
Interpretação dos Sonhos. In: ESB das obras completas
de Sigmund Freud. Imago, Rio de Janeiro, 1996. v. V, p.
615-645. Freud, S. (1911). Formulações sobre os dois
princípios do funcionamento mental. In: ESB das obras
completas de Sigmund Freud. Imago, Rio de Janeiro,
1996. v. XII, p. 233-244.Freud, S. (1912). Uma nota sobre
o inconsciente em psicanálise. In: ESB das obras
completas de Sigmund Freud. Imago, Rio de Janeiro,
1996. v. XII, p. 275-285.Freud, S. (1915). O Inconsciente.
In: ESB das obras completas de Sigmund Freud. Imago,
Rio de Janeiro, 1996. v. XIV, p. 165-209.

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