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ARTIGO ARTICLE
O ensino das ciências sociais em saúde: entre o aplicado e o teórico
Abstract The models of teaching social sciences Resumo Os modelos de ensino de ciências sociais
and clinical practice are insufficient for the needs e da clínica são insuficientes para as necessidades
of practical-reflective teaching of social sciences prático-reflexivas quando aplicados à saúde. O
applied to health. The scope of this article is to objetivo deste artigo é refletir sobre os desafios e as
reflect on the challenges and perspectives of social perspectivas do ensino de ciências sociais para
science education for health professionals. In the profissionais da saúde. Na década de 1950 ini-
1950s the important movement bringing together ciou-se o importante movimento de aproxima-
social sciences and the field of health began, how- ção das ciências sociais com o campo da saúde, no
ever weak credentials still prevail. This is due to entanto prevalecem relações de fraca credencial,
the low professional status of social scientists in devido: baixo status profissional dos cientistas so-
health and the ill-defined position of the social ciais na área da saúde; localização pouco clara
sciences professionals in the health field. It is also dos profissionais de ciências sociais no campo da
due to the scant importance attributed by stu- saúde; pequena importância atribuída pelos es-
dents to the social sciences, the small number of tudantes às ciências sociais; reduzido número de
professionals and the colonization of the social sci- profissionais e a colonização das ciências sociais
ences by the biomedical culture in the health field. pela cultura biomédica no campo da saúde. Dessa
Thus, the professionals of social sciences applied to maneira, aos profissionais das ciências sociais
health are also faced with the need to build an aplicadas à saúde ainda é colocada a necessidade
identity, even after six decades of their presence in de construir uma identidade, mesmo após seis
the field of health. This is because their ambiva- décadas de presença neste campo, pois sua condi-
lent status has established them as a partial, in- ção ambivalente os tem fixado como presença par-
complete and virtual presence, requiring a com- cial, incompleta e virtual, exigindo estratégia
plex survival strategy in the nebulous area between complexa de sobrevivência na fronteira entre as
social sciences and health. ciências sociais e a saúde.
1
Departamento de Saúde Key words Social sciences, Sociology of health, Palavras-chave Ciências sociais, Sociologia da
Coletiva, Faculdade de
Teaching, Identity, Integration saúde, Ensino, Identidade, Integração
Ciências Médicas,
Universidade Estadual de
Campinas. R. Tessália
Vieira de Camargo 126,
Barão Geraldo. 13.083-887
Campinas SP Brasil.
filice@fcm.unicamp.br
Conhecimento
Credencial
Muito Pouco
Forte Forte credencial com muito conhecimento Forte credencial com pouco conhecimento
Graduação de Saúde Coletiva
Fraca credencial com muito conhecimento Fraca credencial com pouco conhecimento
Fraca
Graduações de cursos da saúde Gestão do Sistema Único de Saúde
Pós-Graduação em Saúde Coletiva
po da saúde com determinado quantum de capi- Na célula que situa forte credencial e pouco
tal técnico, cultural, simbólico e político. Por co- conhecimento habitam os cientistas sociais que
nhecimento entendo a produção de conceitos ensinam nos cursos de graduação de saúde cole-
dentro de matrizes teóricas, bem como a produ- tiva e seus correlatos, criados a partir do inicio
ção de métodos e técnicas voltados para a pes- da década de 2000. Caracterizam-se com forte
quisa em saúde. credencial, por oferecerem disciplinas específicas
A célula que situa forte credencial e muito co- de ciências sociais em dois ou três semestres dos
nhecimento representa um tipo ideal11 de inser- cursos, porém com pouca produção de conheci-
ção de cientistas sociais no campo da saúde. Des- mento, uma vez que não foi produzido, ainda,
sa maneira, o ideal racionalmente esperado, após material específico de ciências sociais, com a for-
passadas mais de cinco décadas de trabalho e ça de um manual, segundo Kuhn13, voltada para
com uma tradição bem estabelecida internacio- as análises desse corpo no campo da saúde.
nalmente no ensino, pesquisa e extensão acadê- Por fim, a célula que apresenta fraca credencial
mica, é que o corpo de profissionais de ciências e pouco conhecimento é habitada por homens e
sociais exista com uma credencial forte – que se mulheres invisíveis, tanto do ponto de vista da le-
reproduza em relação aos valores e perspectivas galidade quanto da legitimidade de sua participa-
– e com muito conhecimento – do ponto de vista ção no campo da saúde e contribuição técno-teó-
da construção de matrizes teórico-conceituais –, rico-conceitual para o trabalho neste âmbito14.
criando uma tradição de pensamento. Portanto, A primeira tipologia dos profissionais da so-
muito conhecimento e forte credencial seriam os ciologia que trabalhavam com o tema da saúde
elementos da consagração dos cientistas sociais foi criada em 1957 e ainda é bastante operativa,
no campo da saúde em termos do complexo pois dividiu aqueles que se inseriram no campo
político-científico, porém esse lugar existe ape- da saúde e os que tomaram a saúde como objeto
nas no plano ideal. de pesquisa. Straus15 identificou-os como os pro-
Uma vez estabelecido este tipo ideal e a ope- fissionais “in” e “of ”, mostrando que assim se
ração comparativa ideal-concreto pode-se com- constituem visões e identidades de “insiders” e
preender como os cientistas sociais se inserem, “outsiders”. Uma consequência desta distinção,
produzem e vivem a ambivalência no campo da segundo o autor, é que o mesmo problema ga-
saúde. Assim, a inserção destes profissionais no nha dimensão e abordagem distintas conforme
ensino de cursos de graduação e pós-graduação a inserção profissional.
em saúde pode ser considerada de fraca creden- Turner16 revisitou a classificação de Straus15 e
cial, sobretudo pela pequena participação em concluiu que analisar questões de saúde estando
números absolutos nas instituições de ensino e inserido no campo produz não só análises dife-
pesquisa, e com muito conhecimento, principal- rentes, mas preocupações temáticas distintas nos
mente pela quantidade das produções e potência níveis individual, social e societal. Assim, por
desta produção12. Como se pode ver, esta célula exemplo, no primeiro nível, enquanto cientistas
traz duas formas de inserção e representa o mai- sociais no campo da saúde investigam comporta-
or número de cientistas sociais na saúde, pois o mentos e crenças associados ao processo saúde-
ensino é o lugar privilegiado de ingresso. doença, aqueles que tomam temas do campo da
saúde analisam o conhecimento médico. No ní- de cada um dos tipos de sociologia em relação a
vel social, os primeiros tendem a focar as causas diferentes categorias do conhecimento e da par-
sociais das doenças, enquanto os de fora do cam- ticipação social. Apresento o Quadro 2, constru-
po tendem a debater a dominância médica e a ído por Braga e Burawoy19, cruzando tipos de
rivalidade interprofissional. No nível societal os conhecimento e tipos de sociologia.
cientistas sociais inseridos em instituições da saúde Para o autor, o pensamento social tem duas
trabalham para melhorar a efetividade e eficiên- matrizes orientadas para projetos distintos, pois
cia de políticas de saúde, enquanto os que se in- aqueles que adotam a reforma social assumem o
serem no campo das ciências humanas interes- conhecimento em uma perspectiva instrumental,
sam-se mais pelo debate sobre a globalização e orientando-o para resolução de problemas sociais
os sistemas nacionais de saúde. e, às vezes, sociológicos. Por outro lado, os profis-
A análise mais recente e bastante contundente sionais que procuram compreender a ordem so-
da sociologia aplicada à saúde foi realizada por cial, no seu jogo de oficialização e ocultamento
Michael Burawoy17. Seu propósito principal é dos fatos sociais, adotam a perspectiva reflexiva,
construir o que chama de Sociologia Pública e para orientada para o entendimento dos fins, tanto das
isso toma diferentes tipos de conhecimento soci- premissas valorativas, como técnicas17-19.
ológico, destacando: o conhecimento produzido Os dois tipos de sociologia identificada com
por diferentes perspectivas do fazer sociológico; a o conhecimento reflexivo são a Sociologia Críti-
coexistência dessas diferentes formas; e a orienta- ca e a Sociologia Pública, a primeira acadêmica,
ção ético-política das diferentes “sociologias”. cumpre o papel de examinar as fundações explí-
Não irei reproduzir todo o debate sobre a citas-implícitas e normativas-descritivas dos pro-
Sociologia Pública de Burawoy, mas apenas os gramas de pesquisa da sociologia profissional,
aspectos fundamentais para as ciências sociais de forma que se define amplamente por sua opo-
no campo da saúde. O autor desenvolveu 11 te- sição à sociologia profissional hegemônica (ma-
ses em favor do que denomina “sociologia pú- instream). Em cada caso, a sociologia crítica ten-
blica”, conforme Schwartzman18, imitando Marx ta alertar a sociologia profissional dos vieses e
e gerando uma grande polêmica que ainda per- silêncios através da construção de novos progra-
dura. Considera-se que a mais importante e con- mas de pesquisa construídos em bases alternati-
tenciosa é a décima primeira, pois recupera ques- vas, colocando duas questões fundamentais: So-
tões fundamentais da participação orgânica do ciologia para quem? e Sociologia para que?.
intelectual na sociedade civil. No entanto, as ou- A Sociologia Pública, segundo Braga e Santa-
tras teses também disparam importantes consi- na20, é extra-acadêmica e compreende generica-
derações para explicitar o potencial e os limites mente um “estilo” de se fazer sociologia “engaja-
populações mundiais. Com base nesta relação lhantes em relação aos conceitos de ciências so-
de confiança, intensas transformações demográ- ciais que devem ser ensinados a estudantes de
ficas e movimento de valorização recente, é pos- medicina. No entanto, apontaram, enfaticamen-
sível visualizar elementos específicos da contra- te, a importante diferença em relação à perspec-
dição do ensino das ciências sociais na educação tiva do ensino deste conteúdo e o reconhecimen-
no campo da saúde na atualidade. to do valor da teoria, maior para especialistas
que para não especialistas. Fato que para as au-
As ciências sociais são uma área toras revela falta de conhecimento de base teóri-
tradicionalmente difícil de ser ensinada ca e necessidade pragmática de conteúdo com
nos cursos de graduação da saúde aplicação prática explícita por parte dos “não es-
Para Cockeham29, a década de 1950 é consi- pecialistas”28. As autoras não definiram exata-
derada a “Fase de Ouro” da sociologia da saúde, mente o que identificaram como “aplicação prá-
na qual cientistas sociais passam a ensinar e pes- tica explicita”, no entanto é bastante provável que
quisar temas relativos ao campo da saúde. Se- seja da ordem da relação entre “algodão e con-
gundo Straus15 houve dois tipos de contratações ceito”, que tratamos anteriormente.
de cientistas sociais pelas escolas médicas: uma Além disso, as autoras concluíram que as ci-
que trazia o profissional para se integrar ao cor- ências sociais na educação médica, que generali-
po de docentes de maneira integral e permanente zo para outras carreiras do campo da saúde, são
e outra que “contatava” cientistas sociais de ou- relativamente recentes e que os profissionais que
tros departamentos ou instituições para minis- as realizam sofrem com o pequeno desenvolvi-
trar disciplinas ou tópicos no curso médico. mento de redes sociais formais da categoria. So-
Muitas escolas médicas ainda optam pela “con- bretudo, quando esta falta implica em trabalho
tatação” e mesmo as que “contratam” priorizam extra, em relação ao que o profissional tem que
pouco este profissional, como relata Peters e Li- dominar de maneira especializada no campo das
tva27, para quem não é pouco raro encontrar es- ciências sociais e da saúde. Há, também, sobre-
colas médicas e de outras categorias da saúde carga de trabalho produzida pelas demandas
empregando apenas um ou menos que um pro- complexas de suporte para a prática clínica, que
fessor em tempo integral para ser o responsável exige competência e habilidade do cientista social
por desenvolver, oferecer e avaliar disciplinas de para comunicar a relevância das ciências sociais
ciências sociais em todos os anos do currículo. para estudantes, professores e administradores.
Benbasant et al.30 concordam e afirmam que as Explica Sennet31 que existem dois tipos de li-
consequências são muitas e persistentes, inclusi- mites, o de fronteira e o de divisa. A diferença
ve levando à extinção de disciplinas quando o entre eles é que “a divisa é um limite relativamen-
responsável aposenta-se ou muda de instituição. te inerte; a população se rarefaz e é pequeno o
Outro fenômeno associado à contratação nível de trocas; uma fronteira é um limite mais
precária é o ensino de ciências sociais por profis- ativo (...) uma zona de intensa atividade”. Para
sionais com pequena formação. Para compreen- Santos32 habitar uma fronteira significa: fazer uso
der o processo de trabalho de especialistas e não seletivo e instrumental das tradições trazidas por
especialistas em ciências sociais no campo da saú- diferentes agentes; inventar novas formas de so-
de, Litva e Peters28 conduziram investigação em ciabilidade; lidar com hierarquias fracas e uma
31 escolas de medicina do Reino Unido, em mea- pluralidade de poderes e ordens jurídicas; man-
dos da década de 2000. Obtiveram retorno de ter a fluidez das relações sociais; e misturar he-
profissionais de 29 escolas, sendo 41 especialistas ranças e invenções. Portanto, a sobrecarga a que
em ciências sociais (31 sociólogos e 10 antropó- se referem Litva e Peters28 é da ordem da condi-
logos), 22 especialista em ciências do comporta- ção fronteiriça.
mento (psicólogos) e 28 não especialistas que O princípio de que é preciso ensinar ciências
ensinam ciências sociais. Em relação ao vínculo sociais (‘need-to-know principle”), também uti-
institucional, concluíram que dos 91 profissio- lizado para compor documentos brasileiros,
nais participantes, 52 eram contratados por de- como as Diretrizes Curriculares Nacional33, foi
partamentos de psiquiatria e atenção primária, 8 tomado por Satterfield et al.34 para analisar a
por departamentos de educação médica, 23 de- implementação das ciências sociais em cursos de
partamentos de psicologia e sociologia, 7 depar- medicina nos Estados Unidos. Ao concluírem que
tamentos de enfermagem e 1 contratado do “Na- se trata de uma participação ainda pouco con-
tional Health Service”. sistente, buscaram identificar o currículo míni-
As autoras concluíram, ainda, que especialis- mo de ciências sociais para a educação médica, o
tas e não especialistas têm visões muito seme- que também pode ser generalizado para outras
das ciências sociais para a prática clínica. Para a tas sociais e profissionais de saúde em desenvol-
maior parte deles a forma autorreflexiva de abor- verem integração horizontal e vertical no currí-
dagens das ciências sociais entra muitas vezes em culo. No entanto, para Benbasant et al.30, o que
conflito com protocolos técnicos de outras disci- ocorre desde o início do ensino de ciências sociais
plinas, que em geral são prescritivos e reproduzi- na medicina é um distanciamento que cria, além
dos “acriticamente”40,43. Por isso, aponta Terva- dos conflitos entre “nós e eles”, certos posiciona-
lon39, que existe grande potencial conflitivo do mentos que dificultam a integração. Para ilus-
ensino de temas associados ao conceito de cultu- trar, os autores citam o trecho de uma das entre-
ra na escola médica: primeiro, quando encoraja vistas, realizada em 1981 com chefes de Departa-
os estudantes a identificar a influência da sua mento de Clínica e Medicina de Família de esco-
identidade cultural na formação do seu sistema las médicas norte-americanas, que declara: “é
de crenças e observar o potencial de conflito que perigoso deixar sociólogos nas escolas médicas...
suas crenças disparam nos serviços de saúde; se- eles causam divisões, enfatizando as diferenças
gundo, ao estimular os estudantes a identificar nos cuidados ao invés de pontos em comum”30.
potenciais vieses, preconceitos e discriminação nas Discursos de médicos que mostram menosprezo
suas interações com colegas, profissionais e usu- pelas ciências sociais não parecem ser incomuns
ários, em diferentes cenários de práticas; e tercei- e Briceño-Leon et al.37 também trazem seu exem-
ro, quando os alunos são impulsionados a man- plar venezuelano, “em medicina há muitas situa-
ter sua perspectiva crítica e reflexiva, como parte ções em que o social, que embora nunca deixe de
de seu compromisso ético-político, para a cons- ter importância, em um determinado momento
trução de um cuidado mais humanizado, inte- não constitui o fato fundamental que o médico
gral e universal. deve cuidar, porque a cura é, então, o que real-
Também para Benbasant et al.30 a avaliação mente importa”.
dos estudantes é uma das maiores barreiras para Portanto, desenvolver o contexto sociomédi-
a perspectiva sociomédica no curso de medicina, co em instituições do campo da saúde não é fácil,
pois os estudantes identificam a relação entre os sobretudo porque, na maioria das vezes, como
determinantes sociais e psicológicos na saúde destacam Litva e Peters28, os entraves são repro-
como óbvios e, por isso, afirmam não necessitar duzidos de maneira “invisível” no currículo ocul-
aprofundamento. Os autores discutem como os to das escolas, moldando símbolos e valores nos
alunos demonstram-se desinteressados pelas in- discursos e nas ações das novas gerações, estabe-
formações que acreditam importantes e rejeitam lecendo fronteiras, limites e grande dificuldade
“preconceituosamente” as informações que jul- de legitimidade.
gam irrelevantes. O efeito do posicionamento dos
estudantes leva a dois fenômenos: um mais re-
cente e referente à reinstalação dos profissionais Considerações Finais
das ciências sociais em instituições de ensino e
pesquisa de ciências sociais e humanas, fazendo Embora reconheça as importantes contribuições
crescer a sociologia “da” saúde em detrimento da de Buroway17,19 em sua análise sobre os tipos de
sociologia “na” saúde. Sobre este êxodo, Benba- sociologia, considero que seu olhar é de um ana-
sant et al.30 discutem que os cursos de ciências lista externo ao que se coloca centralmente sobre
sociais nas faculdades de medicina de Israel fo- as ciências sociais no campo da saúde. Sobretu-
ram iniciados e desenvolvidos por sociólogos e do, pelo fato de que ele opera polarizando co-
antropólogos, que aos poucos foram sendo subs- nhecimentos, quando o que mais nos permite
tituídos por não especialistas. O outro fenômeno compreender os desafios e as perspectivas das
relaciona-se à mudança permanente dos conteú- ciências sociais em sua aproximação com as ci-
dos e técnicas pedagógicas das disciplinas de ciên- ências da saúde é a ambivalência de pertencer a
cias sociais. A revisão constante dos conteúdos é um campo do conhecimento sem existir em seu
parte do exercício de ajustamento ao interesse dos núcleo estrutural e ocupacional.
estudantes e necessidades da prática clínica, por Certamente as ciências sociais aplicadas à saú-
outro lado, cria uma dificuldade relativa à multi- de aproximam-se em muito da chamada “Socio-
plicação de abordagens e temas, que confundem logia Pública”, que busca engajar múltiplos pú-
as prioridades do que deve ser ensinado. blicos e caminhos no debate de questões sociais.
Assim, a dificuldade da perspectiva sociomé- Porém, o interesse da maior parte dos profissio-
dica no ensino no campo da saúde deve-se, além nais de saúde de incrementar o ensino das ciênci-
da diversidade de temas, à dificuldade de cientis- as sociais parece estar mais relacionado às suas
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