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UNIVERSIDADE VILA VELHA

CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE E LAZER

IRAUAN ALVES PASSOS

OS EFEITOS FISIOLÓGICOS DO EXERCÍCIO ISOMÉTRICO EM HIPERTENSOS

VILA VELHA
2021
IRAUAN ALVES PASSOS

OS EFEITOS FISIOLÓGICOS DO EXERCÍCIO ISOMÉTRICO EM HIPERTENSOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Educação Física, Esporte e Lazer da
Universidade Vila Velha, como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Educação Física.
Orientadora: Profª Ms. Lorenna Pereira Oliosi

VILA VELHA
2021
FOLHA DE APROVAÇÃO (Este documento será entregue ao aluno após
apresentação do TCC 2)
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OS EFEITOS FISIOLÓGICOS DO EXERCÍCIO ISOMÉTRICO EM HIPERTENSOS

Irauan Alves Passos


Orientadora: Profª Me. Lorenna Pereira Oliosi
Universidade Vila Velha

Resumo
A hipertensão arterial é uma doença que acomete grande parte da população
brasileira. Grande parte dos indivíduos hipertensos não apresentam sintomas e não
necessitam de tratamento medicamentoso, pois possuem uma forma mais branda
da doença, estes são orientados a prática de exercício físico para o controle da
doença. Dentre as formas de execução dos exercícios físicos existe uma variação
onde é realizada uma contração muscular sem ocorrer movimento chamado de
isometria. Neste sentido, esta pesquisa bibliográfica teve por objetivo analisar os
efeitos fisiológicos do exercício isométrico em hipertensos, verificando oscilações na
frequência cardíaca e pressão arterial. Pode-se verificar a partir da análise de
estudos, que o exercício isométrico não gera variações significantes na frequência
cardíaca e na pressão arterial sistólica, alguns estudos apresentaram variações na
pressão arterial diastólica.

Palavras chave: Exercício isométrico, Hipertensos, Efeitos fisiológicos.

INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020), a hipertensão arterial afeta


mais de 30% da população brasileira acima de 40 anos, e grande parte deste
quantitativo desconhece a existência desta doença ou não recebe assistência
médica necessária para o tratamento e controle. As doenças cardíacas lideraram o
ranking de doenças que mais matam no mundo, gerando cerca de 9 milhões de
mortes no ano de 2019.

Segundo McArdle (2016) um indivíduo é classificado como hipertenso quando sua


pressão arterial sistólica supera 140 mmHg ou a diastólica acima de 90 mmHg,
sendo que a idade e o peso estão diretamente relacionados com o aumento da
pressão arterial, logo o exercício físico auxilia no controle da PA nos estágios iniciais.
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McArdle (2016) relata ainda sobre a relação do exercício físico e o sistema


cardiovascular periférico pois o comprime as artérias de forma mecânica, o que
aumenta o fluxo sanguíneo durante o exercício, o que gera um aumento
considerável da pressão arterial.

Dentre as diversas possibilidades de prática de exercício físico e métodos de


treinamento, propomos, neste estudo, compreender os efeitos fisiológicos do
exercício isométrico em indivíduos hipertensos. Segundo Cossenza (2001), o
exercício isométrico se trata da manutenção do movimento em ângulos variados,
consequentemente a vasoconstrição é mantida durante o período do exercício.

Para realização deste Trabalho de Conclusão de Curso, adotamos como


metodologia a revisão sistemática de literatura. Segundo Sampaio e Mancini (2006),
a revisão sistemática de literatura consiste em sintetizar de forma imparcial as
informações que foram adquiridas em fontes bibliográficas expondo uma análise
crítica sobre as informações, que podem ser coincidentes ou divergentes, além de
possibilitar a orientação para pesquisas futuras. Foram utilizados como fonte de
pesquisa livros e artigos científicos disponíveis em bases de dados eletrônicas.

O interesse pelo tema surge devido ao fato de ser praticante de atividades físicas e
ter uma grande incidência de hipertensos no meu histórico familiar. Assim, esta
pesquisa justifica-se por se tratar de uma doença que afeta grande parte da
população mundial e seu tratamento está relacionado, em parte, com a prática de
exercício físico, o qual é o objeto de estudo dos acadêmicos de educação física.
este estudo almeja trazer informações relevantes para o educador físico que irá lidar
com indivíduos hipertensos.

Diante do exposto, esta pesquisa se propõe a responder a seguinte questão: Quais


os efeitos fisiológicos do exercício físico isométrico em indivíduos hipertensos?
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HIPERTENSÃO ARTERIAL

Nosso sistema cardiovascular é composto pelo coração, artéria, veias e capilares,


onde o coração é responsável pelo bombeamento do sangue para os pulmões e
corpo, para enriquecer o sangue com oxigênio e distribuí-lo pelo corpo, oxigenando
as células e permitindo o correto funcionamento do corpo. O sistema de distribuição
composto pelas artérias, veias e capilares, são estruturas distensíveis de músculo
liso, variando o diâmetro de acordo com a funcionalidade, sendo que quanto mais
periféricos menor é o calibre do vaso. A pressão arterial é diretamente proporcional
ao volume de sangue ejetado (débito cardíaco) e a resistência periférica (McARDLE,
2016), logo os fatores que interferem diretamente no calibre dos vasos sanguíneos
podem alterar a pressão sanguínea.

As diretrizes do ACSM (2018) definem a hipertensão a partir da aferição da sistólica


igual ou acima de 140 mmHg e/ou diastólica acima ou igual a 90 mmHg, sendo
estas medidas essenciais para a prescrição de exercício físico e testes de esforço.
Kohlmann Jr. et al. (1999) no 3º consenso brasileiro de hipertensão arterial
subdividiram a hipertensão em estágios, sendo eles limítrofe, hipertensão leve,
moderada, grave, divisão que é reafirmada por McArdle (2016), porém este
acrescenta a hipertensão muito grave, sendo acima de 210/120. Kohlmann Jr. et al.
(1999) ainda relacionam a hipertensão a estatura e idade e identifica procedimentos
a serem adotados em cada estágio, demonstrando que a mudança de estilo de vida
pode ser adotado como único tratamento em indivíduos com hipertensão leve e sem
lesões em órgão vitais ou diabete mellitus. Sendo assim, é possível afirmar que o
exercício físico é uma forma de tratamento precoce para hipertensos auxiliando na
melhora da qualidade de vida, porém deve ser avaliado com cuidado e realizado os
testes necessários para controle da doença.

Em um estudo relacionando aos fatores associados à hipertensão no Brasil e a


frequência desta em grupos selecionados, identificou-se que a obesidade,
sedentarismo e o tabagismo estão diretamente relacionados ao aumento da
incidência de hipertensos. O exercício físico e a mudança para hábitos saudáveis de
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alimentação e estilo de vida, proporcionam um controle da hipertensão. O estudo


identificou que as mulheres tendem a se importar com os hábitos saudáveis, são
mais propensas a querer mudar os hábitos e buscam direcionamento para isto
(FERREIRA et al., 2006).

EXERCÍCIOS ISOMÉTRICOS PARA HIPERTENSOS


O conceito de treinamento isométrico, de acordo com Steven e William (2017), se
resume em ausência de movimento, seja por oposição entre um membro mais fraco
com um mais forte, ou um peso contrário, seja pela manutenção do movimento em
determinado ângulo, gerando resistência contrária. Estudos comprovam a eficiência
do treinamento isométrico para o ganho hipertrófico da secção transversa do
músculo treinado, variando de acordo com o tipo de fibra trabalhada. Lippert (1942,
p.38) define a contração isométrica “quando um músculo se contrai, produzindo
força sem que seu comprimento seja alterado.”

Considerando a forma como é feito o retorno venoso, em que membranas finas


permitem o fluxo unidirecional do sangue, o qual estava em baixa pressão após a
circulação sistêmica. Nesta existe o aumento do fluxo sanguíneo durante o
exercício, permitindo a vasodilatação dos capilares para o fluxo periférico do sangue,
porém há a necessidade do retorno deste sangue para o coração, neste momento o
sangue recebe um ligeiro aumento aumento do fluxo, devido a menor área das
vênulas, porém este sangue retorna para as veias de maior calibre, promovendo a
queda da pressão (McARDLE, 2001).

McArdle (2001) afirma ainda que pequenas variações na pressão ocorrem devido às
contrações musculares, auxiliando no retorno venoso, atualmente considera-se que
a bomba muscular (região dos gastrocnêmios) fornece a vasoconstrição arterial
promovendo a mobilização do sangue.
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Fonte: McArdle (2001, p.xx)

Em um estudo feito na Universidade Federal do Maranhão, foi analisado o efeito


agudo do exercício isométrico nos mecanismos de controle da pressão arterial, para
isto dispuseram de 10 mulheres idosas, diagnosticadas com hipertensão. Os
indivíduos analisados realizaram treinamento isométrico no supino reto com barra
guiada, onde foi utilizado dois protocolos: 4 séries intercalando 2 minutos de
isometria e 2 minutos de descanso, e 16 séries intercalando 30 segundos de
isometria e 24 segundos de descanso, intervalo de 7 dias entre os treinos. Neste
estudo foram realizadas medições de pressão pré treino e 10 minutos após o
protocolo. Concluiu-se com este estudo que o exercício isométrico não proporciona
variações significativas na pressão arterial ou frequência cardíaca, somente quando
comparando um protocolo com o outro foi possível observar uma pequena diferença
no efeito das contrações de curta duração sobre a pressão arterial sistólica (ABREU,
2019).

No artigo publicado por Da Silva et al. (2019), foi realizado um estudo com 23
homens saudáveis, onde foram submetidos a estimulantes cardiovasculares
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(esteróides anabolizantes, energéticos, entre outros) e um treinamento com handgrip


executando 4 séries de 2 minutos com 1 minuto de intervalo, o grupo foi dividido
aleatoriamente em grupos que realizaram o exercício com 30% da contração
voluntária máxima (CVM), 50% da CVM e 3% da CVM. A pressão arterial foi
coletada pré treino e 15 a 30 minutos após o exercício. Assim como no estudo
anterior, não foi possível identificar, de forma aguda, alterações relevantes na
pressão arterial, porém neste estudo, o protocolo realizado com 50% da CVM
apresentou um aumento da atividade simpática e uma redução da parassimpática,
que segundo McArdle (2016) são os responsáveis pelo controle do débito cardíaco e
frequência cardíaca, onde o sistema simpático quando estimulado aumenta a
frequência cardíaca gerando taquicardia, e o sistema parassimpático é responsável
pela regulação destas variáveis, com isto regulando a pressão arterial.

Em estudo realizado com 41 pacientes diagnosticados com hipertensão e


participantes de um programa de treinamento utilizando um protocolo de treinamento
isométrico com prensa manual, no qual os indivíduos foram submetidos a uma
sessão de treino intercalando 2 minutos de isometria e 1 min de descanso, por 4
sessões, e foram realizadas medições de pressão arterial antes, durante e 1 minuto
após o exercício, assim como frequência cardíaca. Foi constatado que a frequência
cardíaca durante o exercício teve um leve aumento, porém a pressão arterial
aumentou significativamente (PAS 16 mmHg e PAD 7 mmHg, em média), porém
retornou aos valores de repouso após um minuto de descanso, isto ocorre
provavelmente devido a vasoconstrição ocorrida pelo exercício (ARAÚJO et al.,
2011).

Na análise realizada por Teixeira et al. (2012), em que foram executados testes de
treinamento isométrico em indivíduos saudáveis na faixa de 20 a 30 anos, sendo
três grupos distintos, onde um grupo era praticante de exercícios anaeróbios, outro
com exercícios aeróbios e por fim um grupo sedentário. Ao executarem 4 ações
isométricas à 70% de 1 RM, foram mensuradas a pressão arterial, pré, durante,
imediatamente após e cinco minutos depois do término, os indivíduos foram
orientados a não realizarem a manobra de valsalva, para evitar erros na coleta de
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dados. Foi constatado que a frequência cardíaca sofreu um pico durante a execução
do exercícios, assim como a pressão arterial, fato que se reverteu na medida de
cinco minutos após o término, a pressão arterial sistólica se manteve elevada nas
medidas durante e imediatamente após a execução, porém a diastólica se recuperou
na medida imediatamente após.

Akdur et al. (2002), compararam os efeitos dos exercícios dinâmicos e dos


exercícios isométricos sobre a frequência cardíaca, pressão arterial sistólica e
diastólica, em 25 mulheres e 25 homens entre 63 e 74 anos com fibrilação atrial
crônica, estes foram orientados a cessarem a medicação ou qualquer estimulantes
que poderiam alterar os resultados dos testes. Foram submetidos a testes na esteira
como exercício dinâmico e o handgrip com 3 minutos de isometria a 50% de 1 RM,
para o exercício isométrico. Não foi permitida a realização da manobra de valsalva
durante os exercícios, e os indivíduos foram estimulados a manter a tensão no
exercício isométrico. Como resultado foi observado que a frequência cardíaca teve
aumento significante no exercício realizado na esteira com um aumento médio de
51% quando comparado ao repouso, não foi observado o mesmo aumento no
exercício isométrico. A pressão arterial obteve um pequeno aumento durante o
exercício, sendo que nas análises do 1º e 2º minutos a sistólica se mantiveram
iguais em ambos os exercícios, no 3º minuto o exercício dinâmico forneceu uma
pressão arterial sistólica com aumento, enquanto o exercício isométrico se manteve
estável.

Leite et al. (2010) realizaram um estudo avaliando a oscilação da frequência


cardíaca, durante o exercício isométrico em intensidade submáxima e máxima,
foram estudados doze homens que apresentavam doença da artéria coronária, ou
propensão para tal, neste estudo foi possível perceber que a fator principal para o
aumento da frequência cardíaca em ambos os casos foi o tempo, pois quando
realizado em intensidade alta (100%) porém com curta duração (5-10”), sofre a
mesma alteração que intensidade baixa (30%) com longa duração (148”). Neste
estudo não foram consideradas relevantes as alterações notadas na frequência
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cardíaca para que seja restringido a prescrição do exercício isométrico para o grupo
analisado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados apresentados neste estudo, foi possível concluir que o
exercício isométrico tem como vantagem um menor aumento na frequência cardíaca
durante a prática da atividade, quando comparado ao exercício dinâmico, apesar de
ambos gerarem um aumento na pressão arterial.

Inicialmente pensou-se que o exercício isométrico poderia gerar aumento


significativo na pressão arterial em indivíduos hipertensos, gerando riscos durante a
prática. No entanto, os estudos analisados contrapõem esta alegação, pois
imediatamente após o exercício observou-se um declínio na pressão arterial sistólica
retornando a parâmetros anteriores à realização do exercício. Enquanto a pressão
arterial diastólica leva cerca de 4 minutos para retornar às condições pré
estabelecidas.

Considerando que todos os estudos foram realizados em indivíduos com doenças


cardíacas, porém controladas, e durante os testes estes indivíduos não
apresentaram mal estar ou necessidade de atendimento médico, pode-se concluir
que o exercício isométrico não gera riscos à saúde. No entanto, todos os artigos
analisados apresentaram seus resultados a partir de uma análise aguda do exercício
isométrico, mas faz-se necessário realizar estudos que analisem os efeitos crônicos
da aplicação deste tipo de exercício.

REFERÊNCIAS

ABREU, L. Efeito agudo do Exercício isométrico nos mecanismos de controle


de Pressão Arterial. Mongrafia - Licenciatura em educação física, Universidade
Federal do Maranhão. São Luis, p. 57. 2019.

AKDUR, Hülya et al. Comparison of Cardiovascular Responses to Isometric (Static)


and Isotonic (Dynamic) Exercise Tests in Chronic Atrial Fibrillation. Jpn Heart J, [s.l.],
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v. 43, nº 6, Nov 2002. Disponivel em:


https://www.jstage.jst.go.jp/article/jhj/43/6/43_6_621/_pdf. Acesso em: 24/05/2021

ARAUJO, Cláudio Gil Soares et al. Respostas Hemodinâmicas a um Protocolo de


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https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2011001400009&script=sci_abstrac
t. Acesso em: 20/05/2021.

COSSENZA, Carlos E. Musculação: métodos e Sistemas. 3ª edição. Rio de


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DA SILVA, Igor Marcelino et al. Resposta cardiovascular após exercícios isométricos


com handgrip em diferentes intensidades em homens saudáveis. Journal of
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https://www.scielo.br/pdf/jpe/v30/2448-2455-jpe-30-e3020.pdf. Acesso em:
20/05/2021.

MCARDLE, William; KATCH, Frank; KATCH, Victor. Fisiologia do Exercício:


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TEIXEIRA, Bruno Costa et al. Efeitos do exercício isométrico na pressão arterial de


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