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Tema 07:

Extinção das Obrigações II. Formas indiretas. Pagamento em consignação. Pagamento com
sub-rogação. Imputação de pagamento. Dação em pagamento.

1ª QUESTÃO:
Fernando adquiriu de Paulo um cavalo de raça pelo valor de R$ 10.000,00. Conforme o pactuado,
o valor foi pago quando da contratação, mas a entrega do animal ficou acordada para 60 dias, a
contar da avença. Fernando tinha interesse no objeto, pois passaria a oferecer aulas de equitação
para os seus alunos da academia de ginástica, sendo certo que já tinha vários alunos matriculados
para as aulas, que começariam com a chegada do animal.
Na data do pagamento, Paulo, sem qualquer justificativa, não tinha o cavalo para entregar a
Fernando e, em contrapartida ofertou-lhe R$ 10.000,00, com o que Fernando concordou.
Diante do exposto, pergunta-se: Houve dação em pagamento? Responda fundamentadamente a
questão.

RESPOSTA:
Na dação em pagamento o credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida.
No caso há diversidade entre a prestação devida e a oferecida em substituição, contudo a devolução
do montante pago não sinaliza dação em pagamento, mas sim e tão somente o equivalente. Note-se
que no caso o devedor agiu com culpa, uma vez que não entregou o objeto na data convencionada e
não se eximiu de afastar a culpa, assim sendo responderia pelo equivalente ( R$10.000,00), mais as
perdas e danos apuradas (dano emergente e lucro cessante) que no caso seria o lucro obtido com as
aulas de equitação. Na verdade o que se pode extrair da conduta de Fernando foi uma remissão
quanto a indenização que caberia ao caso. Somente se poderia falar no artigo 927 do Código Civil,
se por ventura o valor não tivesse sido pago, mas como o foi trata-se apenas do equivalente.

Segundo Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves, o artigo 356 do CC/02 não mais excepciona as
obrigações pecuniárias - ao contrário do art. 995 do Código Civil de 1916. Mesmo assim, a restrição
remanesce quanto à substituição do objeto originário por pecúnia, à medida que o pagamento em
dinheiro importa a própria indenização pela perda da coisa, servindo o pagamento como
ressarcimento (art. 947, do CC), e não dação em pagamento propriamente dita.

Gabarito elaborado por Bruno Magalhães de Mattos (DIACD-EMERJ)

2ª QUESTÃO:

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Manoel adquiriu em 2015, através de escritura de cessão de direitos e obrigações um imóvel
hipotecado de Pedro, não tendo, todavia a Caixa Econômica Federal, credora hipotecária,
participado do ato.
Por sua vez, Manoel pretende pagar a dívida de Pedro e extinguir a hipoteca, sendo que a Caixa
Econômica Federal nega tal possibilidade, alegando que o pagamento não pode ser efetuado por
pessoa estranha ao vínculo obrigacional. Pergunta-se: Manoel é parte legítima para ingressar com
ação de consignação em pagamento? Justifique.

RESPOSTA:
Outro exemplo, extraído da jurisprudência pátria, ocorre quando há cessão de contrato de
financiamento no âmbito do sistema financeiro da habitação, sendo o cessionário terceiro
interessado para continuar realizando o pagamento das prestações do mútuo contratado pelo cedente
junto ao banco financiador. O cessionário, embora parte no negócio jurídico que opera a cessão, é
terceiro, porque estranho ao contrato de mútuo anteriormente celebrado entre o cedente e a entidade
mutuante; tais entidades, aliás, frequentemente invocam cláusulas do próprio contrato para se negar
a receber o pagamento. Admite-se, afinal, a cessão de contrato, não cabendo onerar-se o cessionário
com a imposição de um novo financiamento, pelo que o mesmo tem o direito, inclusive, a consignar
o pagamento, embora inexista anuência do financiador com a cessão da posição contratual do
devedor, ainda que houvesse convenção obrigando o cedente a não ceder sem anuência do cedido.
Tepedino, Gustavo; et alli, Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República. Vol. I.
Rio de Janeiro: Renovar, 2007. pag. 598.

Salienta, todavia Flávio Tartuce que:

Pois bem, em que pesem os arestos anteriores da Corte Superior aqui colacionados, infelizmente,
houve uma reviravolta no entendimento nos últimos anos. Passou-se a entender que “Tratando-se
de contrato de mútuo para aquisição de imóvel garantido pelo FCVS, avençado até 25.10.1996 e
transferido sem a interveniência da instituição financeira, o cessionário possui legitimidade para
discutir e demandar em juízo questões pertinentes às obrigações assumidas e aos direitos adquiridos.
(...). No caso de cessão de direitos sobre imóvel financiado no âmbito do Sistema Financeiro da
Habitação realizada após 25.10.1996, a anuência da instituição financeira mutuante é indispensável
para que o cessionário adquira legitimidade ativa para requerer revisão das condições ajustadas,
tanto para os contratos garantidos pelo FCVS como para aqueles sem referida cobertura” (STJ, REsp
1.150.429/CE, Corte Especial, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 25.04.2013, DJe 10.05.2013,
publicado no seu Informativo n. 520).

Muitas outras decisões seguem essa linha, que é a predominante hoje na jurisprudência superior,
servindo a ementa recente como exemplo dessa consolidação. Como se pode notar, o aresto é de
decisão proferida pela Corte Especial do STJ, unificando a questão no Tribunal.

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Em suma, na atualidade, é preciso verificar quando o negócio foi celebrado para a conclusão da
necessidade ou não da autorização do promitente vendedor e da instituição financeira que subsidia
o negócio. Com o devido respeito, não se filia a esse novo posicionamento superior, pois o contrato
de gaveta representa realidade a ser reconhecida no meio imobiliário brasileiro, como concretização
da função social dos institutos privados.

Tema 08:
Extinção das Obrigações III. Formas indiretas. Novação. Compensação. Confusão. Remissão
de dívidas.

1ª QUESTÃO:
Renato é credor de R$ 5.000,00 de Daniel. Na data prevista para o pagamento e temeroso quanto a
Daniel não efetuá-lo, Renato resolve extinguir a obrigação existente e constituir, por expromissão,
uma nova, no mesmo valor, com Pablo. Ocorre que Daniel pretendia cumprir com a obrigação na
data pactuada e, portanto, não concorda com a substituição do polo passivo da obrigação. Sustenta
que Pablo é seu desafeto e, ao ter sido conferida a este a possibilidade de efetuar o pagamento, teme
ter que conviver ad æternum com o rótulo de inadimplente perante seu opositor. Diante do exposto,
poderia Daniel, com fulcro no artigo 304, parágrafo único, do Código Civil, constranger o credor a
receber o objeto da obrigação previamente estabelecida? Responda fundamentadamente a questão.

RESPOSTA:
Aduz o professor Gustavo Tepedino que nos casos de novação subjetiva por expromissão o devedor
originário não participa da nova pactuação. Contudo, sustenta que o disposto no artigo 362 do CC
não deve ser interpretado de maneira absoluta, sendo legítimo valorar, no caso concreto, se há
interesse merecedor de tutela do devedor em não aceitar a expromissão. Ao se referir ao artigo 304,
corrobora o autor com os ensinamentos de Washington de Barros Monteiro e citando Caio Mario,
afirma que se por um lado, o credor não pode recusar injustificadamente a prestação oferecida pelo
terceiro, por outro, é vedado ao terceiro não interessado pagar em nome e por conta do devedor,
quando este se opõe ao pagamento. Em outras palavras, o terceiro pode ser obstado no pagamento
desde que a recusa seja merecedora de tutela. Comentários ao Código Civil, Vol, I. Ed. Renovar.
2007. P. 600/666. No mesmo sentido Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves:"Concordamos com a
advertência de Gustavo Tepedino, no sentido do artigo 362, do Código Civil não merecer
interpretação absoluta, "sendo legítimo valorar, no caso concreto, se há interesse merecedor de tutela
do devedor em não aceitar a expromissão". A nosso viso, o ponto de partida para a admissão da
expropriação é a inexistência de prejuízo para o devedor originário, perquirindo-se na espécie a
legitimidade de sua vontade de manter a obrigação e adimplir."Curso de Direito Civil, Vol. II, Jus
Podivm, 2014. p.474

2ª QUESTÃO:

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Renato e Henrique são ao mesmo tempo credor e devedor um do outro, sendo certo que, no
pagamento e logo após a ele, as dívidas eram líquidas, exigíveis e de coisa fungível. Após algum
tempo, Renato procura Henrique para cobrar seu crédito, e este alega compensação, na forma do
artigo 368 e seguintes do Código Civil. Renato, por outro lado, rejeita a alegação de compensação,
sob o fundamento de que o crédito pertencente a Henrique, nesse momento da cobrança, está
prescrito, e, portanto, não mais exigível.

A quem assiste razão? Responda fundamentadamente a pergunta.

RESPOSTA:
Ensina Venosa que "A obrigação natural não é compensável, porque lhe falta o requisito da
exigibilidade. No tocante à obrigação prescrita, se a prescrição operou antes da coexistência das
dívidas, não pode a dívida ser compensada, porque há inexigibilidade e porque a prescrição extingue
a pretensão. No entanto, se os dois créditos coexistiram antes de se escoar o prazo de prescrição,
houve compensação de pleno direito. Cabe ao juiz tão somente declará-la" (cf. Pereira, 1972, v.
2:166; Lopes, 1966, v. 2:282). (Venosa, obrigações e responsabilidade civil, 2020).

No mesmo sentido Gustavo Tepedino e Anderson Schreiber sustentam que as dívidas prescritas
também carecem de exigibilidade, mas a doutrina admite a possibilidade de compensação se a parte
a quem favorecia a prescrição deixar de alegá-la.54 No atual sistema jurídico, em que a prescrição
pode ser reconhecida de ofício, a falta de alegação parece irrelevante para fins de compensação. Se
a prescrição se operou após a compensação, evidentemente o problema não se coloca porque a dívida
já estará extinta por força da compensação, a qual, repita-se, assume caráter automático no direito
brasileiro. De modo semelhante, a obrigação nula não pode ser compensada, mas a anulável o pode,
desde que a anulação ainda não tenha sido judicialmente declarada (analogamente ao que ocorre em
sede de novação, como já visto). "Nas obrigações alternativas em que se achem in obligatione um
objeto compensável e outro não, só após a realização da escolha é que se poderá decidir a
possibilidade ou não da compensação. (TEPEDINO, SCHREIBER, obrigações, 2020)

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