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Tema 03:

Classificação das Obrigações quanto ao objeto II. Obrigações de fazer e não fazer. Execução
genérica e específica. Obrigações de meio, de resultado e consumerista. Obrigação condicional
e a termo. Obrigação principal e acessória.

1ª QUESTÃO:
Carlos propõe demanda de cobrança em face de Ricardo. Alega, em síntese, que atuou como
advogado em causa jurídica proposta pelo réu, em face de determinada Instituição Financeira, e que,
a título de honorários advocatícios contratados, o demandado pagaria 30% sobre o valor da
condenação.
O autor narra que, na demanda proposta pelo réu em face do Banco, foi requerido, em sede de
antecipação de tutela, a devolução de R$ 5.000,00, acrescido de multa diária para o caso de
deferimento da medida de urgência e inércia da instituição financeira em efetuar o pagamento.
Informa que o pedido foi julgado procedente e a instituição financeira foi ainda multada em R$
10.000,00 pelo fato de não ter depositado no tempo assinalado pelo magistrado o valor retido
indevidamente.
Contudo, aduz o advogado que, quando foi cobrar do seu cliente os honorários advocatícios, este
somente concordou em pagar 30% sobre o valor retido pelo banco, sem repercussão nas astreintes.
Diante do exposto, a quem assiste razão?
Responda fundamentadamente à questão.

RESPOSTA:
Notícias do Superior Tribunal de Justiça

Astreinte não integra base de cálculo de honorários advocatícios


A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, por unanimidade, que não faz parte
da base de cálculo dos honorários advocatícios o valor da multa cominatória - aquela paga pelo
atraso no cumprimento de determinações judiciais.
Ao negar recurso especial de advogado que atuava em causa própria, o relator, ministro Villas Bôas
Cueva, afirmou que a base de cálculo dos honorários advocatícios deve ser a condenação referente
ao mérito principal da causa, o que exclui as multas (ou astreintes) do cálculo das verbas
sucumbenciais.
"As astreintes, sendo apenas um mecanismo coercitivo posto à disposição do Estado-Juiz para fazer
cumprir suas decisões, não ostentam caráter condenatório, tampouco transitam em julgado, o que as
afastam da base de cálculo dos honorários advocatícios", destacou o ministro.

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CPC de 73

Villas Bôas Cueva disse, ainda, que o Código de Processo Civil de 1973 - aplicável ao presente caso
- estabelece que os honorários de advogado serão fixados entre 10% e 20% sobre o valor da
condenação.
O ministro explicou que o valor da condenação deve ser entendido como o valor do bem pretendido
pelo demandante, ou seja, o montante econômico envolvido na questão litigiosa.

Multa

Para o relator, a multa não se confunde com a condenação, pois possui natureza jurídica diferente.
Segundo ele, a multa funciona como forma de coerção judicial para obrigar o réu a uma obrigação
de fazer, não fazer ou se abster, não formando coisa julgada material, podendo até ser modificada
para mais ou para menos, o que a deixa de fora dos cálculos dos honorários.
"Em virtude de sua natureza inibitória, [a multa] destina-se a impedir a violação de um direito, de
forma imediata e definitiva", disse.

Para o ministro, no caso concreto, o acórdão do Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR) solucionou
bem a controvérsia, ao decidir que o advogado só deve receber honorários no que se refere ao
montante da condenação a título de danos morais.

2ª QUESTÃO:
Carla propõe demanda por danos morais, com fundamento em erro médico em face do ortopedista
Gustavo. Aduz, em síntese, que se submeteu a uma cirurgia para a retirada de um tumor benigno do
joelho esquerdo. Contudo, como as fortes dores do joelho não cessaram, foi submetida, um ano após
a primeira cirurgia, a novos exames que constataram, então, a existência de um tumor maligno no
referido joelho, o que a fez passar por nova cirurgia dois meses após o diagnóstico para a retirada
do joelho. Sustenta que o ortopedista ao deixar de prestar o devido acompanhamento da paciente
após procedimento cirúrgico mesmo sabendo das dores no joelho, ceifou desta a chance de
diagnóstico mais seguro e tratamento mais preciso e eficaz, que poderia ter evitado a amputação de
parte da perna esquerda, residindo aí o nexo de causalidade, em aplicação da teoria da perda de uma
chance.
Em defesa, sustenta o médico que a obrigação que assumiu foi de meio e que empregou todo o seu
conhecimento e técnica existente tanto para a cirurgia quanto para o pós-operatório, obedecendo
todos os protocolos para tanto. Afirma que o acompanhamento pós-cirúrgico adotado baseou-se em
laudos de tumor benigno e que somente com novos exames realizados pode apurar a mutação
patológica, não havendo portanto que se falar em erro médico.

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Quanto às provas produzidas nos autos, foi realizada perícia médica, tendo o laudo do perito
nomeado constatado que houve evolução não esperada e rara de uma lesão benigna para uma lesão
maligna.
Decida, fundamentadamente, a questão.

RESPOSTA:
REsp 1622538 / MS RECURSO ESPECIAL 2016/0065270-4 Relator(a) Ministra NANCY
ANDRIGHI (1118) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 21/03/2017
Data da Publicação/Fonte DJe 24/03/2017 Ementa
CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E COMPENSAÇÃO POR DANO
MORAL. ERRO MÉDICO. RESPONSABILIDADE CIVIL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL NÃO CONFIGURADA. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA
282/STF. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. COTEJO ANALÍTICO E SIMILITUDE FÁTICA.
INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO LEGAL. AUSÊNCIA. ACOMPANHAMENTO NO
PÓS-OPERATÓRIO. APLICAÇÃO DA TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE.
POSSIBILIDADE. ERRO GROSSEIRO. NEGLIGÊNCIA. AUSÊNCIA.
1. Ação de indenização por dano material e compensação por dano moral ajuizada em 24.01.2008.
Recurso especial atribuído ao gabinete em 25.08.2016. Julgamento: CPC/73.
2. A centralidade do recurso especial perpassa pela análise da ocorrência de erro médico, em razão
de negligência, imprudência ou imperícia, passível de condenação em compensar dano moral.
3. O não acolhimento das teses contidas no recurso não implica omissão, obscuridade ou
contradição, pois ao julgador cabe apreciar a questão conforme o que ele entender relevante à lide.
4. A ausência de decisão acerca de argumentos do recorrente e de dispositivos legais indicados como
violados, impede o conhecimento
do recurso especial.
5. O dissídio jurisprudencial deve ser comprovado mediante o cotejo analítico entre acórdãos que
versem sobre situações fáticas idênticas.
6. Não se conhece do recurso especial quando ausente a indicação expressa do dispositivo legal a
que teria sido dada interpretação divergente.
7. Por ocasião do julgamento do REsp 1.254.141/PR, a 3ª Turma do STJ decidiu que a teoria da
perda de uma chance pode ser utilizada como critério para a apuração de responsabilidade civil,
ocasionada por erro médico, na hipótese em que o erro tenha reduzido possibilidades concretas e
reais de cura de paciente.
8. A visão tradicional da responsabilidade civil subjetiva; na qual é imprescindível a demonstração
do dano, do ato ilícito e do nexo de causalidade entre o dano sofrido pela vítima e o ato praticado
pelo sujeito; não é mitigada na teoria da perda de uma chance. Presentes a conduta do médico,
omissiva ou comissiva, e o comprometimento real da possibilidade de cura do paciente, presente o
nexo causal.
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9. A apreciação do erro de diagnóstico por parte do juiz deve ser cautelosa, com tônica especial
quando os métodos científicos são discutíveis ou sujeitos a dúvidas, pois nesses casos o erro
profissional não pode ser considerado imperícia, imprudência ou negligência.
10. A dúvida sobre o diagnóstico exato da paciente foi atestada por vários especialistas, não sendo
possível, portanto, imputar ao recorrente erro crasso passível de caracterizar frustração de uma
oportunidade de cura incerta, ante a alegada "ausência de tratamento em momento oportuno" (e-STJ
fl. 519).
11. Recurso especial conhecido parcialmente, e nessa parte, provido.

Tema 04:
Classificação das Obrigações quanto ao sujeito. Indivisibilidade e solidariedade. Conceito de
indivisibilidade. Efeitos da indivisibilidade. Pluralidade de devedores e de credores. Perda da
indivisibilidade. Solidariedade. Conceito. Solidariedade ativa. Solidariedade passiva. Extinção
da solidariedade.

1ª QUESTÃO:
Paulo, José e Ricardo se comprometeram a entregar a Antônio um camelo. Realizada a escolha pelo
credor, o animal se perde por culpa de Ricardo, antes da data convencionada para a entrega.
Antônio efetuaria o pagamento quando da entrega da coisa.
Diante do exposto, aponte as obrigações e responsabilidade de cada devedor envolvido na relação
jurídica pactuada. Analise ainda a situação de cada devedor se houvesse a previsão de solidariedade
passiva no vínculo obrigacional.
Responda fundamentadamente a questão.

RESPOSTA:
Quem bem explica as posições doutrinárias sobre o tema é o professor Flávio Tartuce, vejamos:

No art. 263, caput, do CC reside a principal diferença, na opinião deste autor, entre a obrigação
indivisível e a obrigação solidária. Conforme o comando em análise, a obrigação indivisível perde
seu caráter se convertida em obrigação de pagar perdas e danos, que e? uma obrigação de dar
divisível. Por outra via, a obrigação solidária, tanto ativa quanto passiva, conforme demonstrado
oportunamente, não perde sua natureza se convertida em perdas e danos.
Inicialmente, caso haja culpa lato sensu por parte de todos os devedores no caso de descumprimento
da obrigação indivisível, todos responderão em partes ou frações iguais, pela aplicação direta do
princípio da proporcionalidade, devendo o magistrado apreciar a questão sob o critério da equidade
(art. 263, § 1.o, do CC).

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Porém, se houver culpa por parte de um dos devedores, somente este respondera? por perdas e danos,
bem como pelo valor da obrigação (art. 263, § 2.o, do CC). Entendemos que a exoneração
mencionada no parágrafo em análise e? total, eis que atinge tanto a obrigação em si quanto a
indenização suplementar. Segue-se, portanto, a opinião de Gustavo Tepedino e Anderson Schreber,
que lecionam: "Se somente um dos devedores for culpado pelo descumprimento da prestação
indivisível, a deflagração do dever de indenizar a tal devedor se limita. Por expressa disposic?a?o
do art. 263, § 2.o, credor ou credores nada podem exigir dos devedores não culpados, que ficam
exonerados do vínculo obrigacional. A solução, aqui sim, e? irrepreensível, por restringir a
responsabilidade pelo inadimplemento obrigacional a quem culposamente lhe deu causa" (Código
Civil..., 2008, p. 108).
Mas a questão não e? tão pacífica assim, pois ha? quem entenda que, havendo culpa de um dos
devedores na obrigação indivisível, aqueles que não foram culpados continuam respondendo pelo
valor da obrigação; mas pelas perdas e danos só? responde o culpado. Nesse sentido entende Álvaro
Villaça Azevedo, nos seguintes termos:
"Entretanto, a culpa e? meramente pessoal, respondendo por perdas e danos só? o culpado, dai? o
preceito do art. 263, que trata da perda da indivisibilidade das obrigações deste tipo, que se resolvem
em perdas e danos, mencionando que, se todos os devedores se houverem por culpa, todos
responderão em partes iguais (§ 1.o), e que, se só? um for culpado, só? ele ficara? responsável pelo
prejuízo, restando dessa responsabilidade exonerados os demais, não culpados. Veja-se bem!
Exonerados, tão somente, das perdas e danos, não do pagamento de suas cotas" (Teoria..., 2004, p.
94).
Esclarecendo, a razão pela qual se filia ao primeiro posicionamento e? que dentro do conceito de
perdas e danos - nos termos do art. 402 do CC - esta? o valor da coisa percebida, concebido como
dano emergente, pois o aludido comando legal fala em "do que ele efetivamente perdeu". Desse
modo, no exemplo citado, havendo culpa de um dos devedores pela perda do animal (touro
reprodutor), respondera? o culpado pelo valor da coisa (a título de dano emergente) e eventuais
lucros cessantes que foram provados pelo prejudicado. Os demais devedores nada deverão pagar.
Aliás, igual regra não existe na obrigação solidária passiva. Conforme o art. 279do atual Código
Civil, mesmo se houver culpa de somente um dos devedores, todos serão responsáveis pela
obrigação, somente respondendo pelas perdas e danos o responsável culposo ou doloso. Seguindo a
corrente adotada, haverá uma diferença substancial e maior entre a obrigação indivisível e a solidária
passiva. A diferença também existe se for adotado o posicionamento encabeçado por Álvaro Villaça,
eis que os devedores não culpados apenas respondem proporcionalmente. Entretanto, a diferença,
adotando-se essa corrente, tem menor amplitude. Mais uma justificativa para seguir o entendimento
de Gustavo Tepedino e Anderson Schreber.
Fonte: TARTUCE, Flávio. Direito Civil, Vol. 2. São Paulo: Editora Método. Pag. 94-95.

No sentido da posição defendida por Álvaro Villaça, ver Enunciado 540 da VI CJF.

A posição adotada pelos professores Gustavo Tepedino e Anderson Schreber seguida por Flavio
Tartuce, pode ainda ser defendia sobre o prisma da teoria da obrigações de dar coisa certa, ante o
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que dispõe o artigo 234 do Código Civil. A partir do momento em que há a escolha nas obrigações
de dar coisa incerta, o objeto torna-se identificado no gênero, quantidade e qualidade passando a se
submeter as regras das obrigações de dar coisa certa, art. 245 do CC.
O artigo 234 do CC é claro ao mencionar que a obrigação se resolve quando o devedor não agir com
culpa. No caso Paulo e José não concorreram para a perda do objeto, portando não devem ficar
vinculados pelo valor da coisa, ainda mais quando o credor ainda não efetuou o pagamento, a
obrigação se resolve para eles.
Aqui reside outra problemática interpretativa, que é definir o equivalente previsto no artigo
mencionado artigo 234 e 279 do CC.
Entende alguns autores como Nelson Rosenvald que o equivalente é a estimativa pecuniária do
objeto e assim sendo, seria o dano emergente previsto nas perdas e danos, ou seja, aquilo que
efetivamente se perdeu, conforme demonstrado pelo professor Flávio Tartuce.
Para outros autores como Carlos Roberto Gonçalves, no caso de perda com culpa do devedor este
responderia conforme previsto no dispositivo, ou seja, pelo equivalente mais as perdas e danos por
ventura apuradas, o que é possível de se vislumbrar no seguinte exemplo: A pessoa adquire o camelo
citado no problema, e para tanto aluga um galpão para guardar o animal, sendo que no contrato de
locação há previsão de multa para o caso de resilição unilateral. Logo, se o animal se perde por culpa
do devedor poderá o credor exigir o equivalente (valor do animal), dano emergente ( o pagamento
da multa pela resilição do contrato de locação, uma vez que tal contrato não tem porque mais existir)
e os lucros cessantes (aluguel do animal para um circo).
Contudo, entendemos que somente fala-se em equivalente quando o credor já tiver pago pelo objeto,
o que diante da perda do mesmo terá que lhe ser restituído, pois se assim não o fosse o credor estaria
se locupletando indevidamente, pois adquiriu o objeto, nada pagou por ele e nos casos de perda com
culpa terá direito ao equivalente.
Portanto, no caso do artigo 279 do CC, somente se fala em equivalente se o credor já tiver pago pelo
preço, pois caso contrário somente poderá exigir as perdas e danos daquele que efetivamente agiu
com culpa. Neste sentido de interpretação do equivalente está o professor José Simão que cita alguns
autores para formar seu entendimento, vejamos:
"Em se tratando de Teoria Geral das Obrigações o Código Civil se utiliza, com frequência, do termo
equivalente. A palavra aparece em diversos dispositivos e entre eles os artigos 234, 236, 239, 279,
418 e 410. (...) Agora, qual seria o significado da expressão "equivalente"? A leitura da doutrina se
faz necessária. Paulo Luiz Netto Lobo, em obra de excelência, afirma que o na hipótese de culpa do
devedor este responderá "pelo valor da obrigação mais perdas e danos, devendo ainda restituir o que
recebeu do credor" (Teoria Geral das Obrigações, 2005, p. 124). Note-se que o mestre se utiliza da
ideia "valor da obrigação" para substituir o termo equivalente. Diz Maria Helena Diniz que o
devedor responderá pelo equivalente, isto é, pelo valor que a coisa tinha no momento em que
pereceu, mais perdas e danos (Curso, 2009, v. II, p. 79). Da obra clássica de Tito Fulgêncio
depreende-se que "impossível a entrega da coisa certa, uma vez que se perdeu, em sua entidade real,
a consequência da culpa é a entrega da coisa na sua entidade econômica, a sub-rogação no
equivalente. Este sub-rogado da prestação devida não pode consistir senão em dinheiro, única
matéria que, na linguagem das fontes, tendo uma publica e perpetua aestimatio, é denominador
comum de todos os valores". (Do direito das obrigações, 1958, p.74).
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Por fim, também expõe sue entendimento, por meio de um exemplo, Sílvio de Salvo Venosa "se o
devedor se obrigou a entregar um cavalo e este vem a falecer porque não foi bem alimentado (...)
deve o devedor culpado pagar o valor do animal, mais o que for apurado em razão de o credor não
ter recebido o bem, como, por exemplo, indenização referente ao fato de o cavalo não ter participado
de competição turfística já contratada pelo comprador" (Direito civil, 2009, v. 2, p. 63).
Diante das opiniões transcritas, qual o conceito de equivalente? Usemos como exemplo aquela
situação da obra de Venosa.
João vende a José um cavalo pela importância de R$ 2.000,00. José aluga o cavalo que lhe seria
entregue em 10 dias para um rodeio em Jaguariúna. Antes da entrega, João, por negligência (culpa)
esquece a porteira aberta e o animal escapa, desaparecendo definitivamente. Certamente, João
responderá pelo lucro cessante de José referente ao aluguel do animal para o rodeio (perdas e danos).
Agora, indaga-se: sendo o valor do cavalo de R$ 2.000,00, João deverá pagar esta importância a
José? A resposta depende do caso concreto. Se o comprador já havia pago a importância de R$
2.000,00 a vendedor, este fica obrigado a restituí-la acrescida de correção monetária e juros de mora,
porque a perda se deu por culpa.
Entretanto, se João nada recebeu de José, não será responsável pelo pagamento do valor do animal
(equivalente!). Se o fosse, teríamos claro enriquecimento sem causa do credor. Assim vejamos. Se,
no exemplo, José recebesse de João R$ 2.000,00 pela perda do cavalo, sem nada ter pago a ele, João
ganharia um cavalo em sua entidade econômica, nas palavras de Tito Fulgêncio, ocorrendo claro
enriquecimento sem causa.
Qual seria, então, o alcance da expressão equivalente? Aquela constante na lição de Maria Helena
Diniz. Se o credor havia pago pelo coisa, e esta perece antes da entrega, por culpa do devedor, o
devedor responderá pelo valor da coisa na data em que se perdeu mais perdas e danos. Vamos, então,
ao exemplodo cavalo.
Se José pagou a João R$ 2.000,00 pelo cavalo que se perdeu por culpa de João, temos duas hipóteses:
Se o cavalo se valorizou após o pagamento, porque houve uma doença mundial (gripe equina) que
causou mortes a centenas de animais e, agora, vale R$ 5.000,00, João responde por R$ 5.000,00,
qual seja, o equivalente. Se o cavalo se desvalorizou após o pagamento porque houve uma explosão
demográfica de cavalos (superpopulação) e agora vale R$ 1.000,00, João paga a José R$ 2.000,00,
ou seja, R$ 1.000,00 referente ao equivalente e R$ R$ 1.000,00 de desvalorização referente às perdas
e danos."
Gabarito elaborado por Bruno Magalhães de Mattos - DIACD/EMERJ

Considerações do Professor Responsável, Dr. Marco Alcino de Azevedo Torres:

No gabarito da questão um, deve ser observado também as considerações da 2ª parte, pois caso o
devedor do preço já tenha pago e tendo os credores do preço o repartido, por ex, ou atribuído a um
deles não faz sentido afirmar que só culpado responderá pela parte do preço. Me parece que solução
mais correta é no sentido de que ele responde apenas pelos danos.

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O art. 263 está cuidando da hipótese da conversão em perdas e danos e portanto, me parece que a
interpretação se limita às perdas e danos e não a obrigação em si. Veja a conjugação dos parágrafos.
Se para efeito do disposto neste artigo, qual o efeito, responder pelas perdas e danos, todos
contribuírem todos respondem e aí vem o § 2º para dizer que se de um for a culpa só esse responde
pelas perdas e danos - parte final.

Assim considerar todas as posições apresentadas, porque sustentáveis, embora me pareça que a do
Vilaça estaria correta.

Na questão do equivalente também - a situação retratada por José Simão está bem adequada, aliada
ao referido por Maria Helena e Silvio Venosa quanto a eventual variação no preço da coisa.

2ª QUESTÃO:
Maria das Dores propõe demanda de embargos de terceiros na ação cautelar que move Lojas
Inglesas em face de Mario Caldas. Nos embargos, pleiteia a embargante a liberação de valores
depositados em conta corrente, os quais foram bloqueados nos autos da ação cautelar. Afirma que,
apesar de manter conta corrente conjunta com Mario Caldas, todo o valor que se encontrava na conta
lhe pertencia de forma exclusiva e que, portanto, não poderiam ser bloqueados pelo juízo cautelar.
Na sentença, o juízo de primeira instância julgou improcedente o pedido, pois entendeu que, além
de não haver prova nos autos da propriedade exclusiva dos valores depositados pela embargante, a
mesma mantém dinheiro em conta conjunta, o que admite de forma tácita que tal importância
responde pelas obrigações do outro correntista.
Correta a decisão do Magistrado? Responda fundamentadamente a pergunta.

RESPOSTA:
INFORMATIVO 613 DO STJ

PROCESSO
REsp 1.510.310-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 03/10/2017, DJe
13/10/2017
RAMO DO DIREITO
DIREITO CIVIL, DIREITO BANCÁRIO
TEMA
Embargos de terceiro. Bloqueio de valor depositado em conta-corrente conjunta. Solidariedade
passiva em relação a terceiros. Descabimento. Comprovação da titularidade integral do patrimônio.
Inocorrência. Penhora. Apenas da metade pertencente ao executado.
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DESTAQUE
Em se tratando de conta-corrente conjunta solidária, na ausência de comprovação dos valores que
integram o patrimônio de cada um, presume-se a divisão do saldo em partes iguais, de forma que os
atos praticados por quaisquer dos titulares em suas relações com terceiros não afetam os demais
correntistas.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
O propósito recursal consiste em definir se é possível a presunção de solidariedade passiva entre
titulares de conta-corrente conjunta perante terceiros, à luz dos arts. 264 e 265 do CC/02. Além
disso, investiga-se o que acontece quando o titular não comprova os valores que integram o
patrimônio de cada correntista. Para tanto, faz-se necessária a análise do contrato de conta-corrente,
uma espécie contratual do ramo do Direito Bancário, o qual regula as operações de banco e as
atividades daqueles que as praticam em caráter profissional, isto é, pelas instituições financeiras.
Nessa senda, importa destacar a existência de duas espécies de conta-corrente bancária: a individual
ou unipessoal e a coletiva ou conjunta. Esta última, por sua vez, classifica-se em fracionária ou
solidária. A fracionária é aquela que é movimentada por intermédio de todos os titulares, isto é,
sempre com a assinatura de todos. No que tange à conta conjunta solidária - objeto da discussão -,
cada um dos titulares pode movimentar a integralidade dos fundos disponíveis, em decorrência da
solidariedade ativa em relação ao banco. Aliás, sobre o ponto, a doutrina e a jurisprudência desta
Corte convergem para o entendimento de que, nessa modalidade contratual, existe solidariedade
ativa e passiva entre os correntistas apenas em relação à instituição financeira mantenedora da conta-
corrente, de forma que os atos praticados por quaisquer dos titulares não afetam os demais
correntistas em suas relações com terceiros. Com efeito, a solidariedade inerente à conta-corrente
conjunta atua para garantir a movimentação da integralidade dos fundos disponíveis em conta
bancária conjunta, e não para gerar obrigações solidárias passivas dos correntistas em face de
terceiros. Salienta-se, porém, que, por força do disposto no art. 265 do CC/2002 e considerando que
o contrato de conta-corrente é atípico (sem disposição em lei), a solidariedade na conta-corrente
conjunta deve ser expressamente convencionada entre todas as partes. Diante dessas considerações,
aos titulares da referida modalidade contratual é permitida a comprovação dos valores que integram
o patrimônio de cada um, sendo certo que, na ausência de provas nesse sentido, presume-se a divisão
do saldo em partes iguais. Logo, diante da ausência de comprovação de que a totalidade dos valores
contidos na conta fossem de propriedade de um dos correntistas, a constrição não pode atingir a
integralidade desse montante, mas somente a metade pertencente ao executado.

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