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Inexecução das Obrigações. Dolo e culpa. Indenização: dano emergente e lucro cessante.
Redução pelo Juiz. Inexecução da obrigação sem indenização: caso fortuito de força maior. A
cláusula de não indenizar. Da teoria da perda de uma chance.
1ª QUESTÃO:
Jerônimo propõe demanda por danos materiais e morais em face de Cooperativa Agrícola. Aduz,
em síntese, que emitiu em 2017 duplicata em favor da ré, no valor de R$ 300,00, referente à compra
de adubo e sementes de trigo e que o referido débito foi pago com três dias de atraso. Contudo, três
meses após o pagamento, ao buscar um financiamento no valor de R$ 5.000,00, destinado à
aquisição de duas vacas de leite, o demandante teve o pedido negado em virtude do protesto do
título emitido em favor da demandada com a consequente inscrição de seu nome em serviço de
proteção ao crédito. Diante do exposto, Jerônimo requer indenização por danos materiais no valor
de R$ 8.000,00, referentes às duas fêmeas bovinas adultas, avaliadas em R$ 5.000,00, que seriam
compradas com o montante do financiamento; duas crias que seriam geradas pelas matrizes,
avaliadas em R$ 2.000,00, e R$ 1.000,00 decorrentes da venda do queijo que seria produzido com
o leite no período, além do dano moral, por ter havido dano à imagem de bom pagador do autor.
Em defesa, sustenta a demandada que houve culpa concorrente do autor quando deixou de pagar a
dívida na data pactuada, e, assim sendo, deve o pedido ser julgado improcedente.
O Juízo de primeira instância condenou a ré a pagar R$ 5.000,00 a título de danos morais e mais R$
5.000,00 pelos danos emergentes quanto à impossibilidade da aquisição do financiamento.
Quanto aos danos materiais, decidiu corretamente o magistrado? Responda fundamentadamente a
questão.
RESPOSTA:
REsp 1369039 / RS RECURSO ESPECIAL 2013/0047957-3 Relator(a) Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA (1147) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento
04/04/2017 Data da Publicação/Fonte DJe 10/04/2017
Ementa
RECURSO ESPECIAL. DANO MORAL. CADASTRO DE INADIMPLENTES. TÍTULO
QUITADO. INSCRIÇÃO INDEVIDA. INDENIZAÇÃO. AFASTAMENTO OU REDUÇÃO.
INVIABILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. DANO MATERIAL. MÚTUO. NEGÓCIO
FRUSTRADO. VALOR OBJETO DO CONTRATO NÃO APERFEIÇOADO.
RESSARCIMENTO. EFETIVO PREJUÍZO. AUSÊNCIA. DANO EMERGENTE.
INEXISTÊNCIA.
1. A inscrição ou manutenção indevida do nome do devedor no cadastro de inadimplentes acarreta,
conforme jurisprudência reiterada deste Tribunal, o dano moral in re ipsa, ou seja, dano vinculado
à própria existência do fato ilícito, cujos resultados são presumidos.
DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 32
Precedentes.
2. O caso concreto não comporta a excepcional revisão do valor da indenização fixada por danos
morais, com o afastamento do óbice previsto na Súmula nº 7/STJ, pois a quantia de R$ 5.000,00
(cinco mil reais) não se revela exorbitante para reparar o emitente de
título de crédito que, mesmo quitado, foi inscrito em serviço de proteção ao crédito e utilizado como
fundamento para negativa de financiamento bancário.
3. A controvérsia sobre o dano material está limitada a definir se o valor que seria objeto de mútuo,
negado por força de inscrição indevida em cadastro de inadimplentes, pode ser ressarcido a título
de dano emergente.
4. A negativa de concessão de crédito impede o acréscimo de valores no patrimônio do mutuante e,
de forma simultânea, a aquisição de dívida pela quantia equivalente, circunstância que obsta o
ressarcimento por danos emergentes por ausência de redução
patrimonial do suposto lesado.
5. A condenação em danos emergentes, carente de efetivo prejuízo, resulta em duas situações
rejeitadas pelo ordenamento jurídico vigente: a) a teratológica condenação com liquidação
resultando em "dano zero" e b) o enriquecimento ilícito daquele que obtém
reposição financeira sem ter suportado a perda equivalente.
6. Recurso especial parcialmente provido.
2ª QUESTÃO:
Lúcio propõe demanda indenizatória em face da Construtora Nova Aliança Ltda. Aduz, em síntese,
que adquiriu na planta uma unidade residencial do Condomínio do Edifício Solaris, que seria
erguido pela demandada. Contudo, o imóvel não foi entregue no prazo convencionado, o que,
consequentemente, lhe causou prejuízos, tendo em vista que a unidade residencial poderia ter sido
alugada a terceiros. Dessa forma, em razão da conduta vagarosa da ré, requer lucros cessantes
durante todo o período de mora caracterizado, tendo em vista serem estes presumidos, pois decorrem
da supressão do direito de fruir, gozar e dispor do imóvel.
Em contestação, a construtora demandada não nega os fatos, contudo sustenta que não há que se
falar em lucros cessantes, pois se trata de pedido genérico e sem comprovação dos prejuízos
alegados. Por fim, afirma que o autor, quando da aquisição do imóvel, não informou que pretendia
utilizar a unidade para fins de investimento e há no contrato a previsibilidade de cláusula penal
moratória, o que afasta a incidência do pedido de lucro cessante.
Decida, fundamentadamente, a questão.
RESPOSTA:
Não discutiu cláusula penal:
RECURSO REPETITIVO
Pesquisa de tema: Tema Repetitivo 970
Situação do tema: Trânsito em Julgado
Pesquisa de Repetitivos e IACs Organizados por Assunto
Processo
REsp 1498484 / DF RECURSO ESPECIAL 2014/0306634-9 Relator(a) Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO (1140) Órgão Julgador S2 - SEGUNDA SEÇÃO Data do Julgamento 22/05/2019 Data
da Publicação/Fonte DJe 25/06/2019
Ementa
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. COMPRA E VENDA DE
IMÓVEL NA PLANTA. ATRASO NA ENTREGA. NOVEL LEI N. 13.786/2018. CONTRATO
FIRMADO ENTRE AS PARTES ANTERIORMENTE À SUA VIGÊNCIA. NÃO
INCIDÊNCIA. CONTRATO DE ADESÃO. CLÁUSULA PENAL MORATÓRIA. NATUREZA
MERAMENTE INDENIZATÓRIA, PREFIXANDO O VALOR DAS PERDAS E DANOS.
PREFIXAÇÃO RAZOÁVEL, TOMANDO-SE EM CONTA O PERÍODO DE INADIMPLÊNCIA.
CUMULAÇÃO COM LUCROS CESSANTES. INVIABILIDADE.
1. A tese a ser firmada, para efeito do art. 1.036 do CPC/2015, é a seguinte: A cláusula penal
moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra,
estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes.
2. No caso concreto, recurso especial não provido.
DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 34
AgInt no REsp 1771929 / SE AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL 2018/0261324-4
Relator(a) Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140) Órgão Julgador T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento 23/11/2020 Data da Publicação/Fonte DJe 02/12/2020
Ementa
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. ATRASO
NA ENTREGA DO IMÓVEL. DANOS MATERIAIS E CLÁUSULA PENAL.
IMPOSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação,
e, em regra, estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros
cessantes (REsps 1635428/SC e 1498484/DF).
3. Agravo interno não provido.
Conforme é sabido no final de 2018 entrou em vigor a Leiº 13786 que disciplinou a resolução do
contrato de promessa de compra e venda por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária
em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.
A lei em questão introduziu o artigo 43-A na Lei 4591/64 que prevê pagamento de indenização de
1% a.m. sobre o valor pago pelo adquirente no caso de atraso na entrega do imóvel ao comprador.
A Introdução do aludido artigo gera o debate sobre a manutenção ou não da jurisprudência do STJ
sobre os lucroscessantes, tendo em vista a previsibilidade da cláusula penal moratória.
O próprio STJ afasta a cumulação quando o valor locativo for equivalente a cláusula penal, ocorre
que a nova lei estabeleceu como base de cálculo o montante pago pelo adquirente e não mais o valor
do contrato, o que pode levar a valores bem inferiores ao valor locatício o que consequentemente
autorizará a cumulação da cláusula penal com a multa legal.
Quanto a cumulação da cláusula penal com a multa legal, em artigo publicado no site genjurídico,
o professor Flávio Tartuce se manifesta acerca do tema, no seguinte sentido:
O referido dispositivo não afirmou que esse 1% a.m. sobre o valor pago era uma multa. O texto
“legal afirma que, no caso de atraso na entrega do imóvel, o incorporador terá de pagar
“indenização” de 1%.
Daí surgem duas questões: essa indenização prefixada é uma multa moratória? O adquirente poderá
cobrar, além dessa indenização prefixada, o valor por lucros cessantes correspondente ao atraso na
entrega do imóvel e outras indenizações por danos materiais e morais sofridos?
A nova lei pecou na técnica ao ter sido omisso no tratamento direto da matéria, embora tenha, no §
3º do art. 43-A da Lei nº 4.591/64, dado uma singela pista ao insinuar que essa indenização é uma
multa. Até o advento dessa nova lei, a jurisprudência predominante é no sentido de que, no caso de
atraso na entrega do imóvel, o incorporador tem de pagar multa moratória cumulada com
DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 35
indenização integral pelos lucros cessantes, os quais correspondem ao valor mensal do aluguel do
imóvel. Cabia ao legislador, que tinha ciência desse entendimento jurisprudencial dominante, ter
expressamente disciplinado a matéria.
Em nenhum momento, o § 2º do art. 43-A da Lei nº 4.591/64 especifica se a qual tipo de dano essa
indenização se destina a reparar. Será que essa indenização está a reparar os lucros cessantes
correspondente à indisponibilidade do imóvel atrasado? Ou será que está a reparar danos morais
eventualmente sofridos? Ou será que a indenização é por outros danos materiais que possam ter sido
sofridos pelo adquirente? Tampouco esse dispositivo legal vale-se de um advérbio de exclusão para
assentar que o adquirente somente poderá cobrar essa indenização.
É de antever o cipoal de controvérsias doutrinárias sobre o tema.
Ao nosso aviso, a nova lei deve ser interpretada sob a presunção de que o legislador conhecia o
entendimento jurisprudencial preponderante, firmado no sentido de que o consumidor poderia
cobrar da incorporadora uma multa moratória de 2% a.m. (fruto da inversão da multa moratória
cobrada contra o consumidor) em cumulação com uma indenização por lucros cessantes
correspondente ao valor do aluguel do imóvel, sem prejuízo de outras indenizações devidas. Se o
legislador quisesse afastar essa cumulação, ele teria sido expresso, pois sabia do quadro
jurisprudencial predominante. O legislador, todavia, não foi expresso em vedar a cumulação. E,
considerando que a cláusula penal é uma indenização prefixada que pode ser cobrada
independentemente de prejuízo e que também tem função punitiva, entendemos que a indenização
de 1% de que trata o § 2º do art. 43-A da Lei nº 4.591/64 temnatureza jurídica de uma multa
moratória. Isso é confirmado pelo fato de o § 3º desse art. 43-A aludir à referida indenização como
“a multa prevista no § 2º”.
Desse modo, temos que a nova lei, em relação ao quadro jurisprudencial anterior, somente reduziu
a multa moratória de 2% do valor do imóvel para 1% do valor pago. A nova lei não impede, portanto,
que, além dessa multa moratória, o adquirente possa cumulativamente cobrar indenização por lucros
cessantes (pela indisponibilidade do imóvel), por dano moral (se o caso admitir) ou por outros danos
materiais, tudo mediante prova do prejuízo. A discussão relativa à cumulação de multa moratória
com outras indenizações não foi atingida pela nova lei; ela continua girando em torno da correta
interpretação do art. 416, parágrafo único, do CC. Ao nosso aviso, a jurisprudência anterior à nova
lei já se equivocava em admitir a cumulação por contraria o art. 416, parágrafo único, do CC. Para
nós, o mais adequado era admitir que a multa moratória era um início de indenização, de maneira
que o credor só poderia cobrar indenização SUPLEMENTAR, e não integral, mediante prova de
que o prejuízo excedia ao valor da multa moratória. A jurisprudência, todavia, preferia focar a
natureza punitiva da multa moratória do que a sua natureza indenizatória.
Em síntese, no caso de atraso na entrega do imóvel, o incorporador tem de pagar multa moratória
de 1% do valor pago pelo adquirente, sem prejuízo do direito de este cobrar integralmente
indenização por lucros cessantes (pela indisponibilidade do imóvel), por outros danos materiais
comprovados e por danos morais eventualmente existente. Acrescemos que o mero atraso na entrega
do imóvel não gera dano moral, mas, a depender do caso concreto, poderá haver alguma
excepcionalidade a caracterizar esse tipo de dano.” (http://genjuridico.com.br/2019/01/29/a-recente-
lei-do-distrato-lei-no-13-786-2018-o-novo-cenario-juridico-dos-contratos-de-aquisicao-de-
imoveis-em-regime-de-incorporacao-imobiliaria-ou-de-loteamento-parte-2/)
Tema 12:
Prestações pecuniárias. Dívidas de valor. Obrigação de pagamento em moeda estrangeira.
Juros compensatórios. Taxa. Capitalização. Correção monetária. Perdas e danos
1ª QUESTÃO:
Jarbas firma com o Banco Pontual contrato de mútuo, cujo objeto foi vinculado ao dólar norte-
americano, a ser convertido para a moeda nacional por ocasião do vencimento, devendo o
RESPOSTA:
DIREITO CIVIL E COMERCIAL. CONTRATAÇÃO EM MOEDA ESTRANGEIRA.
PAGAMENTO MEDIANTE CONVERSÃO EM MOEDA NACIONAL. INDEXAÇÃO DE
DÍVIDAS PELA VARIAÇÃO CAMBIAL DE MOEDA ESTRANGEIRA. CONTRATO CIVIL
DE MÚTUO.
ALEGAÇÃO DE AGIOTAGEM. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA DE REGULARIDADE
JURÍDICA DAS RESPECTIVAS OBRIGAÇÕES.
- O art. 1º do Dec. 23.501/33 proíbe a estipulação de pagamentos em moeda estrangeira, regra essa
mantida pelo art. 1º do DL 857/69 e pelo art. 1º da Lei 10.192/01 e, mais recentemente, pelos arts.
315 e 318 do CC/02. A vedação aparece, ainda, em leis especiais, como no art. 17 da Lei 8.245/91,
relativa à locação. A exceção a essa regra geral vem prevista no art. 2º do DL 857/69, que enumera
hipóteses em que se admite o pagamento em moeda estrangeira.
- A despeito disso, pacificou-se no STJ o entendimento de que são legítimos os contratos celebrados
em moeda estrangeira, desde que o pagamento se efetive pela conversão em moeda nacional.
- O entendimento supra, porém, não se confunde com a possibilidade de indexação de dívidas pela
variação cambial de moeda estrangeira, vedada desde a entrada em vigor do Plano Real (Lei
8.880/94), excepcionadas as hipóteses previstas no art. 2º do DL 857/69.
- Quando não enquadradas nas exceções legais, as dívidas fixadas em moeda estrangeira não
permitem indexação. Sendo assim, havendo previsão de pagamento futuro, tais dívidas deverão, no
ato de quitação, ser convertidas para moeda nacional com base na cotação da data da contratação e,
a partir daí, atualizadas com base em índice de correção monetária admitido pela legislação pátria.
- Não obstante o art. 3° da MP 1.965-14/00, cuja última reedição se deu sob o nº 2.172-32/01, impute
ao credor ou beneficiário de contratos civis de mútuo o ônus de provar a regularidade jurídica das
correspondentes obrigações, a inversão do ônus da prova é vinculada à demonstração, pelo devedor,
da verossimilhança de suas alegações.
Recurso especial a que se nega provimento.
REsp 804791 / MG RECURSO ESPECIAL 2005/0209775-0 Relator(a) Ministra NANCY
ANDRIGHI (1118) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 03/09/2009
Data da Publicação/Fonte DJe 25/09/2009
Informativo nº 0310
Período: 12 a 23 de fevereiro de 2007
Segunda Seção
Informativo nº 0401
Período: 29 de junho a 7 de agosto de 2009.
Quarta Turma
REVISÃO. CONTRATUAL. VARIAÇÃO CAMBIAL.
Trata-se de REsp em que se alega a omissão do Tribunal a quo relativa a dois aspectos postos como
causa de pedir, isto é, o desequilíbrio contratual não foi causado apenas pela desvalorização cambial
de janeiro de 1999, e sim pelas subsequentes, ao longo daquele ano e de 2000, elevando as parcelas
a patamares estratosféricos, bem como o que se refere à impossibilidade de indexação em moeda
americana, sem comprovação da captação de recursos no exterior, invocando o CDC como norma
protetiva. É cediço que a jurisprudência do STJ consolidou-se no sentido de que a elevação abrupta
do dólar norte-americano no mês de janeiro de 1999 representa fato superveniente capaz de ensejar
a revisão contratual, devendo o ônus correspondente ser repartido entre credor e devedor e que não
é possível a indexação em moeda americana, sem comprovação da captação de recursos no exterior.
Contudo, para o Min. João Otávio de Noronha, a prova de captação de recursos no exterior não é
necessária, visto que os contratos de leasing cujos bens são adquiridos com recursos externos sempre
fazem menção à captação de recursos em dólar sem indicar precisamente a fonte ou sua vinculação
contábil, pois se trata de captação de um determinado montante para distribuição no varejo. Mesmo
assim, in casu, a arrendadora juntou contratos de repasse de empréstimos externos nos quais há
DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 39
indicação de efetiva captação de recursos no exterior. Portanto, fez a prova que lhe competia.
Ressalte-se que o arrendamento mercantil indexado ao dólar é apenas uma das modalidades
ofertadas no mercado. A instituição não tem por que indexar em dólar recursos nacionais, sendo que
disponibiliza tais recursos a preço de mercado interno, muitas vezes mais dispendiosos. Na hipótese
em questão, vale destacar que o recorrente, quando subscreveu o contrato de financiamento, aceitou
(naverdade, optou) expressamente que os recursos financeiros eram provenientes do exterior, tanto
que chegou a honrar 29 prestações das 36 que devia. Portanto, não se pode dizer que o arrendatário
tenha deixado de assumir o risco de sua operação, pois contratou em junho de 1999, quando a
desvalorização do real frente ao dólar já era acontecimento concretizado e somente com o
inadimplemento é que alardeou a necessidade de revisão contratual. A ação de revisão tem por
objeto ajuste de cláusulas contratuais, não há cobrança, daí ser despicienda a prova da origem dos
recursos. A fiscalização da entrada no País de moeda estrangeira, que lastreia o financiamento em
moeda nacional, é tarefa exclusiva do Banco Central do Brasil, conforme dispõe a Lei n. 4.595/1964,
e não do Poder Judiciário no exame de cada processo. Diante disso, a Turma, ao prosseguir o
julgamento, por maioria, não conheceu do recurso. REsp 897.591-PB, Rel. originário Min. Aldir
Passarinho Junior, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 6/8/2009.
Lei 8.880/94
Art. 6º - É nula de pleno direito a contratação de reajuste vinculado à variação cambial, exceto
quando expressamente autorizado por lei federal e nos contratos de arrendamento mercantil
celebrados entre pessoas residentes e domiciliadas no País, com base em captação de recursos
provenientes do exterior.
Lei 9.069/95
Art. 1º A partir de 1º de julho de 1994, a unidade do Sistema Monetário Nacional passa a ser o
REAL (Art. 2º da Lei nº 8.880, de 27 de maio de 1994), que terá curso legal em todo o território
nacional.
CAPÍTULO IV
Da Correção Monetária
Art. 27. A correção, em virtude de disposição legal ou estipulação de negócio jurídico, da expressão
monetária de obrigação pecuniária contraída a partir de 1º de julho de 1994, inclusive, somente
poderá dar-se pela variação acumulada do Índice de Preços ao Consumidor, Série r - IPC-r.
§ 1º O disposto neste artigo não se aplica:
I - às operações e contratos de que tratam o Decreto-lei nº 857, de 11 de setembro de 1969, e o art.
6º da Lei nº 8.880, de 27 de maio de 1994;
II - aos contratos pelos quais a empresa se obrigue a vender bens para entrega futura, prestar ou
fornecer serviços a serem produzidos, cujo preço poderá ser reajustado em função do custo de
produção ou da variação de índice que reflita a variação ponderada dos custos dos insumos
utilizados;
Lei 10.192/01
2ª QUESTÃO:
Fernando propõe demanda de revisão contratual e repetição do indébito em face de Banco de Crédito
Amigão. Alega, em síntese, que firmou contrato de mútuo com o demandado, e que se encontra
atualmente inadimplente. Sustenta haver no contrato cobrança abusiva da taxa de juros
remuneratórios (14% ao mês), além de capitalização mensal de juros, fatos que inviabilizam o
adimplemento da obrigação assumida. Dessa forma, requer o autor o reconhecimento da invalidade
de cláusulas contratuais abusivas contidas em contrato de empréstimo e a restituição do pagamento
a maior em dobro.
Em defesa, sustenta o réu que as instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros
remuneratórios que foi estipulada na Lei de Usura - súmula 596 do STF e 283 do STJ. Alega ainda
que a estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano não indica abusividade. Sustenta
que não há no ordenamento jurídico limitação à cobrança de juros nas operações do mercado
financeiro nacional. Acrescenta que a Medida Provisória 2.170-36 autoriza a capitalização de juros
com periodicidade inferior a um ano. Por fim, lembra que não houve pagamento por erro, mas de
acordo com o livremente pactuado, sustentando não se tratar de hipótese de repetição do indébito.
A prova pericial produzida apontou a existência de capitalização mensal dos juros relativos ao
contrato, gerando uma cobrança a maior, para o período, de R$ 2000,00, se não admitida a
capitalização.
RESPOSTA:
AgInt no AREsp 1696378 / MS AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2020/0100064-6 Relator(a) Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA (1146) Órgão Julgador T4
- QUARTA TURMA Data do Julgamento 12/04/2021 Data da Publicação/Fonte DJe 16/04/2021
Ementa
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. DECISÃO DA PRESIDÊNCIA. EMBARGOS À EXECUÇÃO. NOVAÇÃO.
REEXAME DO CONTRATO E DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO.
INADMISSIBILIDADE. CAPITALIZAÇÃO. ADMISSIBILIDADE. SÚMULAS N. 539 E 541
DO STJ. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. LEGALIDADE. TARIFAS. FUNDAMENTAÇÃO
DEFICIENTE. SÚMULA N. 284/STF. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO.
DECISÃO MANTIDA. FUNDAMENTO DIVERSO.
Notícias do STF
Divergência
Segundo a votar, o ministro Teori Zavascki abriu a divergência e foi acompanhado pelos demais
ministros. Zavascki ponderou que, embora o Poder Judiciário possa aferir a presença dos requisitos
que autorizam a edição de uma medida provisória, para declarar a inconstitucionalidade de uma MP
em razão da ausência de tais requisitos, é preciso uma demonstração cabal nesse sentido, o que é
muito difícil obter depois de tantos anos.
"É difícil declarar que não havia relevância na matéria, em se tratando de regular operações do
sistema financeiro. No que se refere à urgência, também vejo dificuldade de agora, já passados 15
anos, nos transportarmos para o passado - numa época em que a situação econômica e o sistema
financeiro eram completamente diferentes -, e afirmarmos, hoje, que a medida provisória deve ser
considerada nula porque faltou urgência naquela oportunidade", ressaltou o autor da divergência.
O ministro Teori também lembrou os efeitos que uma eventual declaração de inconstitucionalidade
desta MP poderia causar em milhares de operações financeiras. Ele afirmou que a jurisprudência do
STF considera que não há inconstitucionalidade nas disposições normativas que estabelecem
critérios de remuneração no sistema financeiro diversos dos previstos na Lei da Usura, chegando a
editar súmula a esse respeito (Súmula 596).
Além disso, segundo ressaltou o ministro Teori Zavascki, a Emenda Constitucional 32 - que alterou
o artigo 62 da Constituição Federal - dispôs que as medidas provisórias editadas em data anterior à
sua publicação (11 de setembro de 2001) continuam em vigor até que medida provisória posterior
as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do Congresso Nacional. Acompanharam a
divergência aberta pelo ministro Teori Zavascki os ministros Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toffoli,
Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski (presidente).
Processos relacionados
RE 592377
Decisão
Relator(a)
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (1147)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 23/09/2014 Data da Publicação/Fonte DJe
29/09/2014 Ementa AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
CONTRATOS BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL. MORA. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO
DISPOSITIVO LEGAL VIOLADO. SÚMULA Nº 284/STF. JUROS REMUNERATÓRIOS.
LIMITAÇÃO EM 12% AO ANO. IMPOSSIBILIDADE. CAPITALIZAÇÃO MENSAL
CONTRATADA. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. PROIBIÇÃO DE CUMULAR COM OS
DEMAIS ENCARGOS.
1. Considera-se deficiente de fundamentação o recurso especial que não indica os dispositivos legais
supostamente violados pelo acórdão recorrido, circunstância que atrai a incidência, por analogia, do
enunciado nº 284 da Súmula do Supremo Tribunal Federal.
2. A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp nº 1.061.530/RS,
Relatora a Ministra Nancy Andrighi, submetido ao regime dos recursos repetitivos,
firmouposicionamento do sentido de que: "a) As instituições financeiras não se sujeitam à limitação
dos juros remuneratórios estipulada na Lei de Usura (Decreto 22.626/33), Súmula 596/STF; b) A
estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade; c)
São inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as disposições do art.
591 c/c o art. 406 do CC/02; d) É admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações
excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz de colocar
o consumidor em desvantagem exagerada - art. 51, §1º, do CDC) fique cabalmente demonstrada,
ante às peculiaridades do julgamento em concreto".
3. Restando consignado pelas instâncias ordinárias a ausência de abusividade dos juros
remuneratórios, inviável a reforma do julgado.
4. A capitalização dos juros em periodicidade inferior a 1 (um) ano é admitida nos contratos
bancários firmados após 31/3/2000, data da publicação da Medida Provisória nº 1.963-17, desde que
pactuada de forma clara e expressa, assim considerada quando prevista a taxa de juros anual em
percentual pelo menos 12 (doze) vezes maior do que a mensal.
0011024-81.2004.8.19.0001 - APELACAO
1ª Ementa
INTEIRO TEOR