Você está na página 1de 20

Tema 11:

Inexecução das Obrigações. Dolo e culpa. Indenização: dano emergente e lucro cessante.
Redução pelo Juiz. Inexecução da obrigação sem indenização: caso fortuito de força maior. A
cláusula de não indenizar. Da teoria da perda de uma chance.

1ª QUESTÃO:
Jerônimo propõe demanda por danos materiais e morais em face de Cooperativa Agrícola. Aduz,
em síntese, que emitiu em 2017 duplicata em favor da ré, no valor de R$ 300,00, referente à compra
de adubo e sementes de trigo e que o referido débito foi pago com três dias de atraso. Contudo, três
meses após o pagamento, ao buscar um financiamento no valor de R$ 5.000,00, destinado à
aquisição de duas vacas de leite, o demandante teve o pedido negado em virtude do protesto do
título emitido em favor da demandada com a consequente inscrição de seu nome em serviço de
proteção ao crédito. Diante do exposto, Jerônimo requer indenização por danos materiais no valor
de R$ 8.000,00, referentes às duas fêmeas bovinas adultas, avaliadas em R$ 5.000,00, que seriam
compradas com o montante do financiamento; duas crias que seriam geradas pelas matrizes,
avaliadas em R$ 2.000,00, e R$ 1.000,00 decorrentes da venda do queijo que seria produzido com
o leite no período, além do dano moral, por ter havido dano à imagem de bom pagador do autor.
Em defesa, sustenta a demandada que houve culpa concorrente do autor quando deixou de pagar a
dívida na data pactuada, e, assim sendo, deve o pedido ser julgado improcedente.
O Juízo de primeira instância condenou a ré a pagar R$ 5.000,00 a título de danos morais e mais R$
5.000,00 pelos danos emergentes quanto à impossibilidade da aquisição do financiamento.
Quanto aos danos materiais, decidiu corretamente o magistrado? Responda fundamentadamente a
questão.

RESPOSTA:
REsp 1369039 / RS RECURSO ESPECIAL 2013/0047957-3 Relator(a) Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA (1147) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento
04/04/2017 Data da Publicação/Fonte DJe 10/04/2017
Ementa
RECURSO ESPECIAL. DANO MORAL. CADASTRO DE INADIMPLENTES. TÍTULO
QUITADO. INSCRIÇÃO INDEVIDA. INDENIZAÇÃO. AFASTAMENTO OU REDUÇÃO.
INVIABILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. DANO MATERIAL. MÚTUO. NEGÓCIO
FRUSTRADO. VALOR OBJETO DO CONTRATO NÃO APERFEIÇOADO.
RESSARCIMENTO. EFETIVO PREJUÍZO. AUSÊNCIA. DANO EMERGENTE.
INEXISTÊNCIA.
1. A inscrição ou manutenção indevida do nome do devedor no cadastro de inadimplentes acarreta,
conforme jurisprudência reiterada deste Tribunal, o dano moral in re ipsa, ou seja, dano vinculado
à própria existência do fato ilícito, cujos resultados são presumidos.
DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 32
Precedentes.
2. O caso concreto não comporta a excepcional revisão do valor da indenização fixada por danos
morais, com o afastamento do óbice previsto na Súmula nº 7/STJ, pois a quantia de R$ 5.000,00
(cinco mil reais) não se revela exorbitante para reparar o emitente de
título de crédito que, mesmo quitado, foi inscrito em serviço de proteção ao crédito e utilizado como
fundamento para negativa de financiamento bancário.
3. A controvérsia sobre o dano material está limitada a definir se o valor que seria objeto de mútuo,
negado por força de inscrição indevida em cadastro de inadimplentes, pode ser ressarcido a título
de dano emergente.
4. A negativa de concessão de crédito impede o acréscimo de valores no patrimônio do mutuante e,
de forma simultânea, a aquisição de dívida pela quantia equivalente, circunstância que obsta o
ressarcimento por danos emergentes por ausência de redução
patrimonial do suposto lesado.
5. A condenação em danos emergentes, carente de efetivo prejuízo, resulta em duas situações
rejeitadas pelo ordenamento jurídico vigente: a) a teratológica condenação com liquidação
resultando em "dano zero" e b) o enriquecimento ilícito daquele que obtém
reposição financeira sem ter suportado a perda equivalente.
6. Recurso especial parcialmente provido.

2ª QUESTÃO:
Lúcio propõe demanda indenizatória em face da Construtora Nova Aliança Ltda. Aduz, em síntese,
que adquiriu na planta uma unidade residencial do Condomínio do Edifício Solaris, que seria
erguido pela demandada. Contudo, o imóvel não foi entregue no prazo convencionado, o que,
consequentemente, lhe causou prejuízos, tendo em vista que a unidade residencial poderia ter sido
alugada a terceiros. Dessa forma, em razão da conduta vagarosa da ré, requer lucros cessantes
durante todo o período de mora caracterizado, tendo em vista serem estes presumidos, pois decorrem
da supressão do direito de fruir, gozar e dispor do imóvel.
Em contestação, a construtora demandada não nega os fatos, contudo sustenta que não há que se
falar em lucros cessantes, pois se trata de pedido genérico e sem comprovação dos prejuízos
alegados. Por fim, afirma que o autor, quando da aquisição do imóvel, não informou que pretendia
utilizar a unidade para fins de investimento e há no contrato a previsibilidade de cláusula penal
moratória, o que afasta a incidência do pedido de lucro cessante.
Decida, fundamentadamente, a questão.

RESPOSTA:
Não discutiu cláusula penal:

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 33


AgInt no AREsp 1021640 / AM AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2016/0308372-6 Relator(a) Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI (1145) Órgão Julgador T4 -
QUARTA TURMA Data do Julgamento 25/06/2019 Data da Publicação/Fonte DJe 01/07/2019
Ementa
AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROMESSA DE COMPRA E
VENDA DE IMÓVEL. ATRASO EXPRESSIVO NA ENTREGA DO IMÓVEL. DANOS
MORAIS. OCORRÊNCIA. LUCROS CESSANTES. SÚMULAS 7 E 83 DO STJ.
1. Nos termos da jurisprudência do STJ, o atraso na entrega do imóvel enseja pagamento de
indenização por lucros cessantes durante o período de mora do promitente vendedor, sendo
presumido o prejuízo do promitente comprador.
2. Não cabe, em recurso especial, reexaminar matéria de fato (Súmula 7/STJ).
3. Agravo interno a que se nega provimento.

Discutiu cláusula penal:

RECURSO REPETITIVO
Pesquisa de tema: Tema Repetitivo 970
Situação do tema: Trânsito em Julgado
Pesquisa de Repetitivos e IACs Organizados por Assunto
Processo
REsp 1498484 / DF RECURSO ESPECIAL 2014/0306634-9 Relator(a) Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO (1140) Órgão Julgador S2 - SEGUNDA SEÇÃO Data do Julgamento 22/05/2019 Data
da Publicação/Fonte DJe 25/06/2019
Ementa
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. COMPRA E VENDA DE
IMÓVEL NA PLANTA. ATRASO NA ENTREGA. NOVEL LEI N. 13.786/2018. CONTRATO
FIRMADO ENTRE AS PARTES ANTERIORMENTE À SUA VIGÊNCIA. NÃO
INCIDÊNCIA. CONTRATO DE ADESÃO. CLÁUSULA PENAL MORATÓRIA. NATUREZA
MERAMENTE INDENIZATÓRIA, PREFIXANDO O VALOR DAS PERDAS E DANOS.
PREFIXAÇÃO RAZOÁVEL, TOMANDO-SE EM CONTA O PERÍODO DE INADIMPLÊNCIA.
CUMULAÇÃO COM LUCROS CESSANTES. INVIABILIDADE.
1. A tese a ser firmada, para efeito do art. 1.036 do CPC/2015, é a seguinte: A cláusula penal
moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra,
estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes.
2. No caso concreto, recurso especial não provido.
DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 34
AgInt no REsp 1771929 / SE AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL 2018/0261324-4
Relator(a) Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140) Órgão Julgador T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento 23/11/2020 Data da Publicação/Fonte DJe 02/12/2020
Ementa
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. ATRASO
NA ENTREGA DO IMÓVEL. DANOS MATERIAIS E CLÁUSULA PENAL.
IMPOSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação,
e, em regra, estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros
cessantes (REsps 1635428/SC e 1498484/DF).
3. Agravo interno não provido.

Conforme é sabido no final de 2018 entrou em vigor a Leiº 13786 que disciplinou a resolução do
contrato de promessa de compra e venda por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária
em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.
A lei em questão introduziu o artigo 43-A na Lei 4591/64 que prevê pagamento de indenização de
1% a.m. sobre o valor pago pelo adquirente no caso de atraso na entrega do imóvel ao comprador.
A Introdução do aludido artigo gera o debate sobre a manutenção ou não da jurisprudência do STJ
sobre os lucroscessantes, tendo em vista a previsibilidade da cláusula penal moratória.
O próprio STJ afasta a cumulação quando o valor locativo for equivalente a cláusula penal, ocorre
que a nova lei estabeleceu como base de cálculo o montante pago pelo adquirente e não mais o valor
do contrato, o que pode levar a valores bem inferiores ao valor locatício o que consequentemente
autorizará a cumulação da cláusula penal com a multa legal.
Quanto a cumulação da cláusula penal com a multa legal, em artigo publicado no site genjurídico,
o professor Flávio Tartuce se manifesta acerca do tema, no seguinte sentido:

O referido dispositivo não afirmou que esse 1% a.m. sobre o valor pago era uma multa. O texto
“legal afirma que, no caso de atraso na entrega do imóvel, o incorporador terá de pagar
“indenização” de 1%.
Daí surgem duas questões: essa indenização prefixada é uma multa moratória? O adquirente poderá
cobrar, além dessa indenização prefixada, o valor por lucros cessantes correspondente ao atraso na
entrega do imóvel e outras indenizações por danos materiais e morais sofridos?
A nova lei pecou na técnica ao ter sido omisso no tratamento direto da matéria, embora tenha, no §
3º do art. 43-A da Lei nº 4.591/64, dado uma singela pista ao insinuar que essa indenização é uma
multa. Até o advento dessa nova lei, a jurisprudência predominante é no sentido de que, no caso de
atraso na entrega do imóvel, o incorporador tem de pagar multa moratória cumulada com
DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 35
indenização integral pelos lucros cessantes, os quais correspondem ao valor mensal do aluguel do
imóvel. Cabia ao legislador, que tinha ciência desse entendimento jurisprudencial dominante, ter
expressamente disciplinado a matéria.
Em nenhum momento, o § 2º do art. 43-A da Lei nº 4.591/64 especifica se a qual tipo de dano essa
indenização se destina a reparar. Será que essa indenização está a reparar os lucros cessantes
correspondente à indisponibilidade do imóvel atrasado? Ou será que está a reparar danos morais
eventualmente sofridos? Ou será que a indenização é por outros danos materiais que possam ter sido
sofridos pelo adquirente? Tampouco esse dispositivo legal vale-se de um advérbio de exclusão para
assentar que o adquirente somente poderá cobrar essa indenização.
É de antever o cipoal de controvérsias doutrinárias sobre o tema.
Ao nosso aviso, a nova lei deve ser interpretada sob a presunção de que o legislador conhecia o
entendimento jurisprudencial preponderante, firmado no sentido de que o consumidor poderia
cobrar da incorporadora uma multa moratória de 2% a.m. (fruto da inversão da multa moratória
cobrada contra o consumidor) em cumulação com uma indenização por lucros cessantes
correspondente ao valor do aluguel do imóvel, sem prejuízo de outras indenizações devidas. Se o
legislador quisesse afastar essa cumulação, ele teria sido expresso, pois sabia do quadro
jurisprudencial predominante. O legislador, todavia, não foi expresso em vedar a cumulação. E,
considerando que a cláusula penal é uma indenização prefixada que pode ser cobrada
independentemente de prejuízo e que também tem função punitiva, entendemos que a indenização
de 1% de que trata o § 2º do art. 43-A da Lei nº 4.591/64 temnatureza jurídica de uma multa
moratória. Isso é confirmado pelo fato de o § 3º desse art. 43-A aludir à referida indenização como
“a multa prevista no § 2º”.
Desse modo, temos que a nova lei, em relação ao quadro jurisprudencial anterior, somente reduziu
a multa moratória de 2% do valor do imóvel para 1% do valor pago. A nova lei não impede, portanto,
que, além dessa multa moratória, o adquirente possa cumulativamente cobrar indenização por lucros
cessantes (pela indisponibilidade do imóvel), por dano moral (se o caso admitir) ou por outros danos
materiais, tudo mediante prova do prejuízo. A discussão relativa à cumulação de multa moratória
com outras indenizações não foi atingida pela nova lei; ela continua girando em torno da correta
interpretação do art. 416, parágrafo único, do CC. Ao nosso aviso, a jurisprudência anterior à nova
lei já se equivocava em admitir a cumulação por contraria o art. 416, parágrafo único, do CC. Para
nós, o mais adequado era admitir que a multa moratória era um início de indenização, de maneira
que o credor só poderia cobrar indenização SUPLEMENTAR, e não integral, mediante prova de
que o prejuízo excedia ao valor da multa moratória. A jurisprudência, todavia, preferia focar a
natureza punitiva da multa moratória do que a sua natureza indenizatória.
Em síntese, no caso de atraso na entrega do imóvel, o incorporador tem de pagar multa moratória
de 1% do valor pago pelo adquirente, sem prejuízo do direito de este cobrar integralmente
indenização por lucros cessantes (pela indisponibilidade do imóvel), por outros danos materiais
comprovados e por danos morais eventualmente existente. Acrescemos que o mero atraso na entrega
do imóvel não gera dano moral, mas, a depender do caso concreto, poderá haver alguma
excepcionalidade a caracterizar esse tipo de dano.” (http://genjuridico.com.br/2019/01/29/a-recente-
lei-do-distrato-lei-no-13-786-2018-o-novo-cenario-juridico-dos-contratos-de-aquisicao-de-
imoveis-em-regime-de-incorporacao-imobiliaria-ou-de-loteamento-parte-2/)

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 36


Por outro lado, é importante mencionar que independentemente do posição a ser seguida, o próprio
STJ já firmou entendimento que a Lei 13786, somente se aplica aos contratos firmados após a
entrada em vigor da referida lei, ou seja, quanto aos contratos pretéritos prevalece intacta a
jurisprudência do STJ quanto aos lucros cessantes.

REsp 1633274 / SP RECURSO ESPECIAL 2014/0095592-6 Relator(a) Ministra NANCY


ANDRIGHI (1118) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 08/11/2016
Data da Publicação/Fonte DJe 14/11/2016 Ementa
CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E COMPENSAÇÃO POR DANO
MORAL. CONSTRUTORA. ATRASO NA ENTREGA DE UNIDADE IMOBILIÁRIA.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 282/STF. REEXAME DE FATOS E
PROVAS. INADMISSIBILIDADE. LUCROS CESSANTES. PRESUNÇÃO. CABIMENTO.
1. Ação de indenização por dano material e compensação por dano moral ajuizada em 11.07.2012.
Agravo em Recurso especial atribuído ao gabinete em 25.08.2016.
2. Cinge-se a controvérsia a definir se o atraso da recorrida em entregar unidade imobiliária gerou
danos materiais e morais aos recorrentes.
3. A ausência de decisão acerca dos dispositivos legais indicados como violados, impede o
conhecimento do recurso especial.
4. Ajurisprudência do STJ vem evoluindo, de maneira acertada, para permitir que se observe o fato
concreto e suas circunstâncias, afastando o caráter absoluto da presunção de existência de danos
morais indenizáveis.
5. O reexame de fatos e provas em recurso especial é inadmissível.
6. A inexecução do contrato pelo promitente-vendedor, que não entrega o imóvel na data estipulada,
causa, além do dano emergente, figurado nos valores das parcelas pagas pelo promitente-comprador,
lucros cessantes a título de alugueres que poderia o imóvel ter rendido se tivesse sido entregue na
data contratada. Trata-se de situação que, vinda da experiência comum, não necessita de prova (art.
335 do CPC/73). Precedentes.
6. Recurso especial parcialmente conhecido, e nessa parte, provido.

Tema 12:
Prestações pecuniárias. Dívidas de valor. Obrigação de pagamento em moeda estrangeira.
Juros compensatórios. Taxa. Capitalização. Correção monetária. Perdas e danos

1ª QUESTÃO:
Jarbas firma com o Banco Pontual contrato de mútuo, cujo objeto foi vinculado ao dólar norte-
americano, a ser convertido para a moeda nacional por ocasião do vencimento, devendo o

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 37


pagamento ocorrer no Brasil. Comente a legalidade da cláusula acima, em face do curso forçado da
moeda nacional e da orientação jurisprudencial sobre a matéria.

RESPOSTA:
DIREITO CIVIL E COMERCIAL. CONTRATAÇÃO EM MOEDA ESTRANGEIRA.
PAGAMENTO MEDIANTE CONVERSÃO EM MOEDA NACIONAL. INDEXAÇÃO DE
DÍVIDAS PELA VARIAÇÃO CAMBIAL DE MOEDA ESTRANGEIRA. CONTRATO CIVIL
DE MÚTUO.
ALEGAÇÃO DE AGIOTAGEM. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA DE REGULARIDADE
JURÍDICA DAS RESPECTIVAS OBRIGAÇÕES.
- O art. 1º do Dec. 23.501/33 proíbe a estipulação de pagamentos em moeda estrangeira, regra essa
mantida pelo art. 1º do DL 857/69 e pelo art. 1º da Lei 10.192/01 e, mais recentemente, pelos arts.
315 e 318 do CC/02. A vedação aparece, ainda, em leis especiais, como no art. 17 da Lei 8.245/91,
relativa à locação. A exceção a essa regra geral vem prevista no art. 2º do DL 857/69, que enumera
hipóteses em que se admite o pagamento em moeda estrangeira.
- A despeito disso, pacificou-se no STJ o entendimento de que são legítimos os contratos celebrados
em moeda estrangeira, desde que o pagamento se efetive pela conversão em moeda nacional.
- O entendimento supra, porém, não se confunde com a possibilidade de indexação de dívidas pela
variação cambial de moeda estrangeira, vedada desde a entrada em vigor do Plano Real (Lei
8.880/94), excepcionadas as hipóteses previstas no art. 2º do DL 857/69.
- Quando não enquadradas nas exceções legais, as dívidas fixadas em moeda estrangeira não
permitem indexação. Sendo assim, havendo previsão de pagamento futuro, tais dívidas deverão, no
ato de quitação, ser convertidas para moeda nacional com base na cotação da data da contratação e,
a partir daí, atualizadas com base em índice de correção monetária admitido pela legislação pátria.
- Não obstante o art. 3° da MP 1.965-14/00, cuja última reedição se deu sob o nº 2.172-32/01, impute
ao credor ou beneficiário de contratos civis de mútuo o ônus de provar a regularidade jurídica das
correspondentes obrigações, a inversão do ônus da prova é vinculada à demonstração, pelo devedor,
da verossimilhança de suas alegações.
Recurso especial a que se nega provimento.
REsp 804791 / MG RECURSO ESPECIAL 2005/0209775-0 Relator(a) Ministra NANCY
ANDRIGHI (1118) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 03/09/2009
Data da Publicação/Fonte DJe 25/09/2009

Informativo nº 0310
Período: 12 a 23 de fevereiro de 2007
Segunda Seção

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 38


CONTRATO. MOEDA ESTRANGEIRA. PAGAMENTO. CONVERSÃO. MOEDA
NACIONAL.
A questão cinge-se à possibilidade ou não de contratação em moeda estrangeira, com pagamento a
ser realizado pela conversão em moeda nacional e, como questão secundária, se a conversão em
moeda nacional deve ocorrer no momento do ajuizamento da execução ou do efetivo pagamento da
dívida. A Min. Relatora esclareceu que a discussão, nesse processo, não gira sob o foco da Lei do
Plano Real e sim sob a égide do DL n. 857/1969. O art. 1º do referido DL veda quaisquer negócios
jurídicos que estipulem pagamento em moeda estrangeira. E, por sua vez, o art. 27 da Lei n.
9.069/1995, ao fixar índice oficial de correção monetária, proíbe a indexação em moeda estrangeira.
No que concerne ao momento em que se deve proceder à conversão da moeda estrangeira em
nacional, os precedentesmais antigos deste Superior Tribunal são no sentido de que deve a conversão
ocorrer na data da propositura da ação de execução, ao fundamento de que proceder de modo diverso
implicaria negar o curso legal de nossa moeda. A jurisprudência mais recente adota posicionamento
diverso (REsp 119.773-RS, DJ 15/3/1999). Sob essa ótica, extrai-se que respeitar o curso forçado
da moeda nacional não significa proibir a vinculação de um débito à variação cambial, notadamente
quando esse débito, como na hipótese, tem como parâmetro caixas de laranja, que são usualmente
cotadas em dólares pelo mercado brasileiro (a própria Bolsa de Mercados Futuros da Bolsa de
Valores de São Paulo - Bovespa faz suas cotações diárias de produtos agrícolas em dólares). A
obediência ao curso forçado da moeda nacional implica, indiscutivelmente, a proibição de o credor
recusar-se a receber o pagamento da dívida em reais e faz surgir a conclusão de que o momento da
conversão em moeda nacional é o do pagamento da dívida, não o do ajuizamento da execução.
Precedentes citados: REsp 402.071-CE, DJ 24/2/2003; REsp 239.238-RS, DJ 1º/8/2000, e REsp
83.752-RS, DJ 13/8/2001. REsp 647.672-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/2/2007.

Informativo nº 0401
Período: 29 de junho a 7 de agosto de 2009.
Quarta Turma
REVISÃO. CONTRATUAL. VARIAÇÃO CAMBIAL.
Trata-se de REsp em que se alega a omissão do Tribunal a quo relativa a dois aspectos postos como
causa de pedir, isto é, o desequilíbrio contratual não foi causado apenas pela desvalorização cambial
de janeiro de 1999, e sim pelas subsequentes, ao longo daquele ano e de 2000, elevando as parcelas
a patamares estratosféricos, bem como o que se refere à impossibilidade de indexação em moeda
americana, sem comprovação da captação de recursos no exterior, invocando o CDC como norma
protetiva. É cediço que a jurisprudência do STJ consolidou-se no sentido de que a elevação abrupta
do dólar norte-americano no mês de janeiro de 1999 representa fato superveniente capaz de ensejar
a revisão contratual, devendo o ônus correspondente ser repartido entre credor e devedor e que não
é possível a indexação em moeda americana, sem comprovação da captação de recursos no exterior.
Contudo, para o Min. João Otávio de Noronha, a prova de captação de recursos no exterior não é
necessária, visto que os contratos de leasing cujos bens são adquiridos com recursos externos sempre
fazem menção à captação de recursos em dólar sem indicar precisamente a fonte ou sua vinculação
contábil, pois se trata de captação de um determinado montante para distribuição no varejo. Mesmo
assim, in casu, a arrendadora juntou contratos de repasse de empréstimos externos nos quais há
DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 39
indicação de efetiva captação de recursos no exterior. Portanto, fez a prova que lhe competia.
Ressalte-se que o arrendamento mercantil indexado ao dólar é apenas uma das modalidades
ofertadas no mercado. A instituição não tem por que indexar em dólar recursos nacionais, sendo que
disponibiliza tais recursos a preço de mercado interno, muitas vezes mais dispendiosos. Na hipótese
em questão, vale destacar que o recorrente, quando subscreveu o contrato de financiamento, aceitou
(naverdade, optou) expressamente que os recursos financeiros eram provenientes do exterior, tanto
que chegou a honrar 29 prestações das 36 que devia. Portanto, não se pode dizer que o arrendatário
tenha deixado de assumir o risco de sua operação, pois contratou em junho de 1999, quando a
desvalorização do real frente ao dólar já era acontecimento concretizado e somente com o
inadimplemento é que alardeou a necessidade de revisão contratual. A ação de revisão tem por
objeto ajuste de cláusulas contratuais, não há cobrança, daí ser despicienda a prova da origem dos
recursos. A fiscalização da entrada no País de moeda estrangeira, que lastreia o financiamento em
moeda nacional, é tarefa exclusiva do Banco Central do Brasil, conforme dispõe a Lei n. 4.595/1964,
e não do Poder Judiciário no exame de cada processo. Diante disso, a Turma, ao prosseguir o
julgamento, por maioria, não conheceu do recurso. REsp 897.591-PB, Rel. originário Min. Aldir
Passarinho Junior, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 6/8/2009.

Lei 8.880/94
Art. 6º - É nula de pleno direito a contratação de reajuste vinculado à variação cambial, exceto
quando expressamente autorizado por lei federal e nos contratos de arrendamento mercantil
celebrados entre pessoas residentes e domiciliadas no País, com base em captação de recursos
provenientes do exterior.

Lei 9.069/95
Art. 1º A partir de 1º de julho de 1994, a unidade do Sistema Monetário Nacional passa a ser o
REAL (Art. 2º da Lei nº 8.880, de 27 de maio de 1994), que terá curso legal em todo o território
nacional.
CAPÍTULO IV
Da Correção Monetária
Art. 27. A correção, em virtude de disposição legal ou estipulação de negócio jurídico, da expressão
monetária de obrigação pecuniária contraída a partir de 1º de julho de 1994, inclusive, somente
poderá dar-se pela variação acumulada do Índice de Preços ao Consumidor, Série r - IPC-r.
§ 1º O disposto neste artigo não se aplica:
I - às operações e contratos de que tratam o Decreto-lei nº 857, de 11 de setembro de 1969, e o art.
6º da Lei nº 8.880, de 27 de maio de 1994;
II - aos contratos pelos quais a empresa se obrigue a vender bens para entrega futura, prestar ou
fornecer serviços a serem produzidos, cujo preço poderá ser reajustado em função do custo de
produção ou da variação de índice que reflita a variação ponderada dos custos dos insumos
utilizados;

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 40


III - às hipóteses tratadas em lei especial.
§ 2º Considerar-se-á de nenhum efeito a estipulação, a partir de 1º de julho de 1994, de correção
monetária em desacordo com o estabelecido neste artigo.
§ 3º Nos contratos celebrados ou convertidos em URV, em que haja cláusula de correção monetária
por índice de preços ou por índice que reflita a variação ponderada dos custos dos insumos utiliza-
dos, o cálculo desses índices, para efeitos de reajuste, deverá ser nesta moeda até a emissão do REAL
e, daí em diante, em REAL, observado o art. 38 da Lei nº 8.880, de 27 de maio de 1994.
§ 4º A correção monetária dos contratos convertidos na forma do art. 21 desta Lei seráapurada
somente a partir do primeiro aniversário da obrigação, posterior à sua conversão em REAIS.
§ 5º A Taxa Referencial - TR somente poderá ser utilizada nas operações realizadas nos mercados
financeiros, de valores mobiliários, de seguros, de previdência privada, de capitalização e de futuros.
§ 6º Continua aplicável aos débitos trabalhistas o disposto no art. 39 da Lei nº 8.177, de 1º de março
de 1991.
Art. 28. Nos contratos celebrados ou convertidos em REAL com cláusula de correção monetária por
índices de preço ou por índice que reflita a variação ponderada dos custos dos insumos utilizados, a
periodicidade de aplicação dessas cláusulas será anual.
§ 1º É nula de pleno direito e não surtirá nenhum efeito cláusula de correção monetária cuja
periodicidade seja inferior a um ano.
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às obrigações convertidas ou contratadas em URV até 27 de
maio de 1994 e às convertidas em REAL.
§ 3º A periodicidade de que trata o caput deste artigo será contada a partir:
I - da conversão em REAL, no caso das obrigações ainda expressas em Cruzeiros Reais;
II - da conversão ou contratação em URV, no caso das obrigações expressas em URV contratadas
até 27 de maio de 1994;
III - da contratação, no caso de obrigações contraídas após 1º de julho de 1994; e
IV - do último reajuste no caso de contratos de locação residencial.
§ 4º O disposto neste artigo não se aplica:
I - às operações realizadas no mercado financeiro e no Sistema Financeiro de Habitação - SFH, por
instituições financeiras e demais entidades autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil,
bem assim no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo - SBPE e aos financiamentos
habitacionais de entidades de previdência privada;
II - às operações e contratos de que tratam o Decreto-lei nº 857, de 1969, e o art. 6º da Lei nº 8.880,
de 27 de maio de 1994.
§ 5º O Poder Executivo poderá reduzir a periodicidade de que trata esse artigo.

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 41


§ 6º O devedor, nos contratos com prazo superior a um ano, poderá amortizar, total ou parcialmente,
antecipadamente, o saldo devedor, desde que o faça com o seu valor atualizado pela variação
acumulada do índice contratual ou do IPC-r até a data do pagamento.
§ 7º Nas obrigações em Cruzeiros Reais, contraídas antes de 15 de março de 1994 e não convertidas
em URV, o credor poderá exigir, decorrido um ano da conversão para o REAL, ou no seu
vencimento final, se anterior, sua atualização na forma contratada, observadas as disposições desta
Lei, abatidos os pagamentos, também atualizados, eventualmente efetuados no período.

DECRETO-LEI Nº 857, DE 11 DE SETEMBRO DE 1969.


DECRETAM:
Art 1º São nulos de pleno direito os contratos, títulos e quaisquer documentos, bem como as
obrigações que exeqüíveis no Brasil, estipulem pagamento em ouro, em moeda estrangeira, ou, por
alguma forma, restrinjam ou recusem, nos seus efeitos, o curso legal do cruzeiro.
Art 2º Não se aplicam as disposições do artigo anterior:
I - aos contratos e títulos referentes a importação ouexportação de mercadorias;
II - aos contratos de financiamento ou de prestação de garantias relativos às operações de exportação
de bens de produção nacional, vendidos a crédito para o exterior;
III - aos contratos de compra e venda de câmbio em geral;
IV - aos empréstimos e quaisquer outras obrigações cujo credor ou devedor seja pessoa residente e
domiciliada no exterior, excetuados os contratos de locação de imóveis situados no território
nacional;
V - aos contratos que tenham por objeto a cessão, transferência, delegação, assunção ou
modificação das obrigações referidas no item anterior, ainda que ambas as partes contratantes sejam
pessoas residentes ou domiciliadas no país.
Parágrafo único. Os contratos de locação de bens móveis que estipulem pagamento em moeda
estrangeira ficam sujeitos, para sua validade a registro prévio no Banco Central do Brasil.
Art 3º No caso de rescisão judicial ou extrajudicial de contratos a que se refere o item I do artigo 2º
dêste Decreto-lei, os pagamentos decorrentes do acêrto entre as partes, ou de execução de sentença
judicial, subordinam-se aos postulados da legislação de câmbio vigente.
Art 4º O presente Decreto-lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogados o Decreto nº
23.501, de 27 de novembro de 1933, a Lei nº 28, de 15 de fevereiro de 1935, o Decreto-lei nº 236,
de 2 de fevereiro de 1938, o Decreto-lei número 1.079, de 27 de janeiro de 1939, o Decreto-lei nº
6.650, de 29 de junho de 1944, o Decreto-lei nº 316, de 13 de março de 1967 e demais disposições
em contrário mantida a suspensão do § 1º do Art. 947 do Código Civil.

Lei 10.192/01

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 42


Art. 1o As estipulações de pagamento de obrigações pecuniárias exeqüíveis no território nacional
deverão ser feitas em Real, pelo seu valor nominal.
Parágrafo único. São vedadas, sob pena de nulidade, quaisquer estipulações de:
I - pagamento expressas em, ou vinculadas a ouro ou moeda estrangeira, ressalvado o disposto nos
arts. 2o e 3o do Decreto-Lei no 857, de 11 de setembro de 1969, e na parte final do art. 6o da Lei no
8.880, de 27 de maio de 1994;
II - reajuste ou correção monetária expressas em, ou vinculadas a unidade monetária de conta de
qualquer natureza;
III - correção monetária ou de reajuste por índices de preços gerais, setoriais ou que reflitam a
variação dos custos de produção ou dos insumos utilizados, ressalvado o disposto no artigo seguinte.
Art. 2o É admitida estipulação de correção monetária ou de reajuste por índices de preços gerais,
setoriais ou que reflitam a variação dos custos de produção ou dos insumos utilizados nos contratos
de prazo de duração igual ou superior a um ano.
§ 1o É nula de pleno direito qualquer estipulação de reajuste ou correção monetária de periodicidade
inferior a um ano.
§ 2o Em caso de revisão contratual, o termo inicial do período de correção monetária ou reajuste,
ou de nova revisão, será a data em que a anterior revisão tiver ocorrido.
§ 3o Ressalvado o disposto no § 7o do art. 28 da Lei no 9.069, de 29 de junho de 1995, e no parágrafo
seguinte, são nulos depleno direito quaisquer expedientes que, na apuração do índice de reajuste,
produzam efeitos financeiros equivalentes aos de reajuste de periodicidade inferior à anual.
§ 4o Nos contratos de prazo de duração igual ou superior a três anos, cujo objeto seja a produção de
bens para entrega futura ou a aquisição de bens ou direitos a eles relativos, as partes poderão pactuar
a atualização das obrigações, a cada período de um ano, contado a partir da contratação, e no seu
vencimento final, considerada a periodicidade de pagamento das prestações, e abatidos os
pagamentos, atualizados da mesma forma, efetuados no período.
§ 5o O disposto no parágrafo anterior aplica-se aos contratos celebrados a partir de 28 de outubro
de 1995 até 11 de outubro de 1997.(Vide Medida Provisória nº 2.223, de 4.9.2001)
§ 6o O prazo a que alude o parágrafo anterior poderá ser prorrogado mediante ato do Poder
Executivo.(Vide Medida Provisória nº 2.223, de 4.9.2001)
Art. 3o Os contratos em que seja parte órgão ou entidade da Administração Pública direta ou indireta
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, serão reajustados ou corrigidos
monetariamente de acordo com as disposições desta Lei, e, no que com ela não conflitarem, da Lei
no 8.666, de 21 de junho de 1993.
§ 1o A periodicidade anual nos contratos de que trata o caput deste artigo será contada a partir da
data limite para apresentação da proposta ou do orçamento a que essa se referir.
§ 2o O Poder Executivo regulamentará o disposto neste artigo.

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 43


OBS: “O caso concreto, apesar de antigo, mantém-se relevante para a metodologia e para o
aprendizado dos alunos em sala de aula.”

2ª QUESTÃO:
Fernando propõe demanda de revisão contratual e repetição do indébito em face de Banco de Crédito
Amigão. Alega, em síntese, que firmou contrato de mútuo com o demandado, e que se encontra
atualmente inadimplente. Sustenta haver no contrato cobrança abusiva da taxa de juros
remuneratórios (14% ao mês), além de capitalização mensal de juros, fatos que inviabilizam o
adimplemento da obrigação assumida. Dessa forma, requer o autor o reconhecimento da invalidade
de cláusulas contratuais abusivas contidas em contrato de empréstimo e a restituição do pagamento
a maior em dobro.
Em defesa, sustenta o réu que as instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros
remuneratórios que foi estipulada na Lei de Usura - súmula 596 do STF e 283 do STJ. Alega ainda
que a estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano não indica abusividade. Sustenta
que não há no ordenamento jurídico limitação à cobrança de juros nas operações do mercado
financeiro nacional. Acrescenta que a Medida Provisória 2.170-36 autoriza a capitalização de juros
com periodicidade inferior a um ano. Por fim, lembra que não houve pagamento por erro, mas de
acordo com o livremente pactuado, sustentando não se tratar de hipótese de repetição do indébito.

A prova pericial produzida apontou a existência de capitalização mensal dos juros relativos ao
contrato, gerando uma cobrança a maior, para o período, de R$ 2000,00, se não admitida a
capitalização.

Decida fundamentadamente a questão.

RESPOSTA:
AgInt no AREsp 1696378 / MS AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2020/0100064-6 Relator(a) Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA (1146) Órgão Julgador T4
- QUARTA TURMA Data do Julgamento 12/04/2021 Data da Publicação/Fonte DJe 16/04/2021
Ementa
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. DECISÃO DA PRESIDÊNCIA. EMBARGOS À EXECUÇÃO. NOVAÇÃO.
REEXAME DO CONTRATO E DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO.
INADMISSIBILIDADE. CAPITALIZAÇÃO. ADMISSIBILIDADE. SÚMULAS N. 539 E 541
DO STJ. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. LEGALIDADE. TARIFAS. FUNDAMENTAÇÃO
DEFICIENTE. SÚMULA N. 284/STF. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO.
DECISÃO MANTIDA. FUNDAMENTO DIVERSO.

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 44


1. O recurso especial não comporta exame de questões que impliquem revolvimento do contexto
fático-probatório dos autos ou interpretação de cláusula contratual, a teor do que dispõem as
Súmulas n. 5 e 7 do STJ.
2. No caso dos autos, o acolhimento da tese de que não houve novação demandaria reexame de
prova e do contrato, inviável em recurso especial.
3. "A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma expressa
e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é
suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada" (REsp n. 973827/RS, Relatora
para o acórdão Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 8/8/2012,
pelo rito do art. 543-C do CPC/1973, DJe 24/9/2012).
4. "É possível a cobrança de comissão de permanência durante o período de inadimplemento
contratual, à taxa média dos juros de mercado, limitada ao percentual fixado no contrato (Súmula
294/STJ), desde que não cumulada com a correção monetária (Súmula 30/STJ), com os juros
remuneratórios (Súmula 296/STJ) e moratórios e multa contratual (Recurso Especial Repetitivo
1.058.114/RS, Relator p/ acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Segunda Seção,
julgado em 12/8/2009, DJe de 16/11/2010)" (AgInt no AREsp 1544215/GO, Rel. Ministro RAUL
ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 08/02/2021, DJe 23/02/2021).
5. É inadmissível o recurso especial, se a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata
compreensão da controvérsia, a teor da Súmula n. 284/STF.
6. O conhecimento do recurso especial pela alínea "c" do permissivo constitucional exige a
indicação do dispositivo legal ao qual foi atribuída interpretação divergente e a demonstração do
dissídio mediante a verificação das circunstâncias que assemelhem ou identifiquem os casos
confrontados (arts. 255, §§ 1º e 2º, do RISTJ e 541, parágrafo único, do CPC).
7. Agravo interno a que se nega provimento.

AgInt no REsp 1862436 / RS AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL 2020/0038307-2


Relator(a) Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA
TURMA Data do Julgamento 29/03/2021 Data da Publicação/Fonte DJe 06/04/2021
Ementa
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PROCESSO CIVIL. BANCÁRIO.
AÇÃO REVISIONAL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DOS ARTS. 489 E 1.022 DO CPC/2015.
PRESCRIÇÃO DECENAL. SÚMULA 83/STJ. JUROS REMUNERATÓRIOS,
CAPITALIZAÇÃO MENSAL E MORA. SÚMULAS 5 E 7/STJ. HONORÁRIOS.DEFICIÊNCIA
DE FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULAS 283 E 284/STF. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL
PREJUDICADO. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. AGRAVO IMPROVIDO.
1. Não ficou configurada a violação do art. 1.022 do CPC/2015, uma vez que o Tribunal de origem
se manifestou de forma fundamentada sobre todas as questões necessárias para o deslinde da
controvérsia. O mero inconformismo da parte com o julgamento contrário à sua pretensão não
caracteriza falta de prestação jurisdicional.

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 45


2. O entendimento do acórdão recorrido está em conformidade com o entendimento desta Corte de
que, tratando-se de ação revisional, o prazo prescricional aplicável é aquele previsto no art. 205,
caput, do Código Civil de 2002, ou seja, 10 (dez) anos. Incidência da Súmula n. 83/STJ.
3. A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma expressa
e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é
suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada.
4. É possível, de forma excepcional, a revisão da taxa de juros remuneratórios prevista em contratos
de mútuo, sobre os quais incide a legislação consumerista, desde que a abusividade fique cabalmente
demonstrada, mediante a colocação do consumidor em desvantagem
exagerada.
5. Na hipótese, o Tribunal local, com base na análise das peculiaridades da presente demanda e das
cláusulas contratuais, consignou a existência de contratação da capitalização de juros, bem como
afastou a alegada abusividade da taxa de juros praticada pela instituição financeira.
Reverter a conclusão do Colegiado originário, para acolher a pretensão recursal, demandaria o
revolvimento de cláusulas contratuais e do acervo fático-probatório dos autos, o que se mostra
impossível ante a natureza excepcional da via eleita, consoante enunciado das Súmulas n. 5 e 7 do
Superior Tribunal de Justiça.
6. A falta de impugnação de argumento suficiente para manter, por si só, o acórdão impugnado, a
argumentação dissociada bem como a ausência de demonstração da suposta violação à legislação
federal impedem o conhecimento do recurso, na esteira dos enunciados n. 283 e 284 da Súmula do
Supremo Tribunal Federal.
7. A incidência da Súmula n. 7/STJ impede o conhecimento do recurso lastreado, também, pela
alínea c do permissivo constitucional, dado que falta identidade entre os paradigmas apresentados e
os fundamentos do acórdão recorrido, tendo em vista a situação fática de cada caso.
8. Agravo interno improvido.

SÚMULA 539 DO STJ.

Notícias do STF

Quarta-feira, 04 de fevereiro de 2015


Plenário mantém validade de MP que regula capitalização de juros e libera 13 mil processos sobre
o tema
Por sete votos a um, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) deu provimento ao Recurso
Extraordinário (RE) 592377 em que o Banco Fiat S/A questionava decisão do Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul (TJ-RS) que declarou inconstitucional dispositivo de uma medida provisória
editada em 2000, que permitiu a capitalização mensal de juros no sistema financeiro. Em razão da
DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 46
repercussão geral reconhecida neste processo, a decisão desta tarde tem impacto em 13.584
processos que estavamsobrestados (com tramitação suspensa) em todo o País e que agora serão
solucionados.
No julgamento de hoje não se discutiu o mérito da questão, ou seja, a possibilidade de haver
capitalização de juros (incidência de juros sobre juros) nas operações inferiores a um ano, mas sim
se os requisitos de relevância e urgência, necessários a edição das MPs, estavam presentes no
momento da edição do ato normativo. A questão da capitalização mensal de juros é objeto de outro
processo em tramitação no STF, a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2316, que está
pendente de conclusão.
Relator do RE, o ministro Marco Aurélio foi o único a votar pela negativa de provimento (leia a
íntegra do voto). Para ele, não é possível que um instrumento precário e efêmero como a medida
provisória, editado para viger por período limitado, continue surtindo eternamente efeitos no cenário
normativo sem a suspensão pelo Supremo. No caso da MP 1.963-17/2000, reeditada 36 vezes até a
Medida Provisória 2.170-36/2001, durante 15 anos. "Não imagino medida provisória a vigorar por
prazo indeterminado", afirmou.

Divergência

Segundo a votar, o ministro Teori Zavascki abriu a divergência e foi acompanhado pelos demais
ministros. Zavascki ponderou que, embora o Poder Judiciário possa aferir a presença dos requisitos
que autorizam a edição de uma medida provisória, para declarar a inconstitucionalidade de uma MP
em razão da ausência de tais requisitos, é preciso uma demonstração cabal nesse sentido, o que é
muito difícil obter depois de tantos anos.
"É difícil declarar que não havia relevância na matéria, em se tratando de regular operações do
sistema financeiro. No que se refere à urgência, também vejo dificuldade de agora, já passados 15
anos, nos transportarmos para o passado - numa época em que a situação econômica e o sistema
financeiro eram completamente diferentes -, e afirmarmos, hoje, que a medida provisória deve ser
considerada nula porque faltou urgência naquela oportunidade", ressaltou o autor da divergência.
O ministro Teori também lembrou os efeitos que uma eventual declaração de inconstitucionalidade
desta MP poderia causar em milhares de operações financeiras. Ele afirmou que a jurisprudência do
STF considera que não há inconstitucionalidade nas disposições normativas que estabelecem
critérios de remuneração no sistema financeiro diversos dos previstos na Lei da Usura, chegando a
editar súmula a esse respeito (Súmula 596).
Além disso, segundo ressaltou o ministro Teori Zavascki, a Emenda Constitucional 32 - que alterou
o artigo 62 da Constituição Federal - dispôs que as medidas provisórias editadas em data anterior à
sua publicação (11 de setembro de 2001) continuam em vigor até que medida provisória posterior
as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do Congresso Nacional. Acompanharam a
divergência aberta pelo ministro Teori Zavascki os ministros Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toffoli,
Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski (presidente).

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 47


VP/FB

Processos relacionados

RE 592377

RE 592377 / RS - RIO GRANDE DO SUL RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator(a): Min.


MARCO AURÉLIO Relator(a) p/ Acórdão: Min. TEORI ZAVASCKI Julgamento: 04/02/2015
Órgão Julgador: Tribunal Pleno Publicação
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-055 DIVULG 19-03-2015
PUBLIC 20-03-2015 Parte(s)
Ementa: CONSTITUCIONAL. ART. 5º DA MP 2.170/01. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS COM
PERIODICIDADE INFERIOR A UM ANO. REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA EDIÇÃO DE
MEDIDA PROVISÓRIA. SINDICABILIDADE PELO PODER JUDICIÁRIO. ESCRUTÍNIO
ESTRITO. AUSÊNCIA, NO CASO, DE ELEMENTOS SUFICIENTES PARA NEGÁ-LOS.
RECURSO PROVIDO. 1. A jurisprudência da Suprema Corte está consolidada no sentido de que,
conquanto os pressupostos para a edição de medidas provisórias se exponham ao controle judicial,
o escrutínio a ser feito neste particular tem domínio estrito, justificando-se a invalidação da iniciativa
presidencial apenas quando atestada a inexistência cabal de relevância e de urgência. 2. Não se pode
negar que o tema tratado pelo art. 5º da MP 2.170/01 é relevante, porquanto o tratamento normativo
dos juros é matéria extremamente sensível para a estruturação do sistema bancário, e,
consequentemente, para assegurar estabilidade à dinâmica da vida econômica do país. 3. Por outro
lado, a urgência para a edição do ato também não pode ser rechaçada, ainda mais em se considerando
que, para tal, seria indispensável fazer juízo sobre a realidade econômica existente à época, ou seja,
há quinze anos passados. 4. Recurso extraordinário provido.

Decisão

O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, rejeitou a preliminar de


prejudicialidade apontada pelo Ministério Público. No mérito, o Tribunal, decidindo o tema 33 da
repercussão geral, por maioria, deu provimento ao recurso, vencido o Ministro Marco Aurélio
(Relator), que lhe negava provimento e declarava inconstitucional o art. 5º, cabeça, da Medida
Provisória nº 2.170-36, de 23 de agosto de 2001. Redigirá o acórdão o Ministro Teori Zavascki.
Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello e Roberto Barroso. Falaram, pelo
recorrente Banco Fiat S/A, o Dr. Luiz Carlos Sturzenegger, e, pelo Banco Central do Brasil, o Dr.
Isaac Sidney Menezes Ferreira. Presidiu o julgamento o Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário,
04.02.2015.

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 48


AgRg no AREsp 332456 / RS

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL


2013/0120256-6

Relator(a)
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (1147)

Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 23/09/2014 Data da Publicação/Fonte DJe
29/09/2014 Ementa AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
CONTRATOS BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL. MORA. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO
DISPOSITIVO LEGAL VIOLADO. SÚMULA Nº 284/STF. JUROS REMUNERATÓRIOS.
LIMITAÇÃO EM 12% AO ANO. IMPOSSIBILIDADE. CAPITALIZAÇÃO MENSAL
CONTRATADA. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. PROIBIÇÃO DE CUMULAR COM OS
DEMAIS ENCARGOS.

1. Considera-se deficiente de fundamentação o recurso especial que não indica os dispositivos legais
supostamente violados pelo acórdão recorrido, circunstância que atrai a incidência, por analogia, do
enunciado nº 284 da Súmula do Supremo Tribunal Federal.
2. A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp nº 1.061.530/RS,
Relatora a Ministra Nancy Andrighi, submetido ao regime dos recursos repetitivos,
firmouposicionamento do sentido de que: "a) As instituições financeiras não se sujeitam à limitação
dos juros remuneratórios estipulada na Lei de Usura (Decreto 22.626/33), Súmula 596/STF; b) A
estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade; c)
São inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as disposições do art.
591 c/c o art. 406 do CC/02; d) É admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações
excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz de colocar
o consumidor em desvantagem exagerada - art. 51, §1º, do CDC) fique cabalmente demonstrada,
ante às peculiaridades do julgamento em concreto".
3. Restando consignado pelas instâncias ordinárias a ausência de abusividade dos juros
remuneratórios, inviável a reforma do julgado.
4. A capitalização dos juros em periodicidade inferior a 1 (um) ano é admitida nos contratos
bancários firmados após 31/3/2000, data da publicação da Medida Provisória nº 1.963-17, desde que
pactuada de forma clara e expressa, assim considerada quando prevista a taxa de juros anual em
percentual pelo menos 12 (doze) vezes maior do que a mensal.

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 49


5. É válida a cláusula contratual que prevê a cobrança da comissão de permanência, calculada pela
taxa média de mercado apurada pelo Banco Central do Brasil, de acordo com a espécie da operação,
tendo como limite máximo o percentual contratado (Súmula nº 294/STJ).
6. Referida cláusula é admitida apenas no período de inadimplência, desde que pactuada e não
cumulada com os encargos da normalidade (juros remuneratórios e correção monetária) e/ou com
os encargos moratórios (juros moratórios e multa contratual). Inteligência das Súmulas nº 30 e nº
296/STJ.
7. Agravo regimental não provido.

0011024-81.2004.8.19.0001 - APELACAO

1ª Ementa

DES. MARCELO LIMA BUHATEM - Julgamento: 07/11/2012 - QUARTA CAMARA CIVEL

APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO DO CONSUMIDOR REVISIONAL DE CONTRATO


BANCÁRIO DE EMPRÉSTIMO PESSOAL - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA - PERÍCIA QUE
RECONHECEU A PRÁTICA DE ANATOCISMO - TAXAS SUPERIORES A DE MERCADO -
RECONHECIMENTO - JUROS EXORBITANTES - QUESTÃO CONTROVERTIDA NOS
TRIBUNAIS SUPERIORES - PRÁTICA VEDADA PELO ORDENAMENTO JURÍDICO -
AUSÊNCIA DE REVOGAÇÃO DO ART. 4º DO DECRETO 22.626/33 PELA LEI 4595/64 -
VERBETE SUMULAR Nº 121 DO S.T.F. - RECONHECIMENTO DA
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 5º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA MEDIDA
PROVISÓRIA Nº 2170-36/2001 NO JULGAMENTO DA ARGUIÇÃO Nº10/2003 PELO ÓRGÃO
ESPECIAL DO TJRJ EXEGESE DO VERBETE SUMULAR Nº 202 DESTE T.J.R.J.
AJUIZAMENTO DA ADI 2316/DF PERANTE O S.T.F. JULGAMENTO SOBRESTADO PARA
RETOMADA DE QUORUM, QUANDO JÁ PROFERIDOS QUATRO VOTOS A FAVOR DA
SUSPENSÃO DA EFICÁCIA DO ART. 5º DA MP 1963-17/00 DEVOLUÇÃO NA FORMA
SIMPLES E AUSÊNCIA DE CONDENAÇÃO À COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAIS -
APELO DA RÉ INEXISTÊNCIA DE RECURSO AUTORAL - SENTENÇA QUE SE MANTÉM.
1. Cuida-se de apelação contra sentença de procedência em demanda revisional de contrato bancário
de empréstimo pessoal, movida pelo apelado em face do apelante. 2. Anatocismo. O fatode não
estarem sujeitas às limitações das taxas de juros não libera as instituições financeiras para a prática
do anatocismo, que é vedado pelo art. 4º, do Decreto 22.626/33, conforme consolidado pela Súmula
121 do STF. 3. O E. Órgão Especial do TJERJ, inclusive, no julgamento da arguição de
inconstitucionalidade 10/2003, teve oportunidade de declarar inconstitucional o art. 5º da Medida
Provisória nº 2.170-36/2001, que permite a nefasta capitalização dos juros em periodicidade inferior
à anual. 4. Ajuizamento da ADI 2316/DF perante o STF, tendo como objeto a declaração de
inconstitucionalidade do art. 5º da MP 1.963-17/00, ação na qual já foram proferidos quatro votos,
em sede cautelar, a favor da suspensão da eficácia do mencionado art. 5º, o que demonstra tendência

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 50


da Suprema Corte no sentido da inconstitucionalidade do dispositivo. 5. É certo que a lei reputa
abusivas e, consequentemente, nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam obrigações
iníquas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada (art. 51, IV, do CDC), não sendo
por outra razão que se nega validade às cláusulas que importam capitalização de juros, ainda mais
em casos de dívidas contraídas em contratos de cartão de crédito. 6. Incidência à hipótese do verbete
sumular nº 202 deste T.J.R.J.: "Nas obrigações periódicas inadimplidas, as instituições financeiras
não estão vinculadas a taxa de juros fixada na lei de usura, vedada, no entanto, a prática da
capitalização mensal." 7. Laudo pericial conclusivo. Prática de anatocismo reconhecida. Taxa de
juros superior à média de mercado. Dessa forma, atestada a prática do anatocismo, devem os juros
capitalizados ser decotados do saldo devedor do apelado, não carecendo a sentença de nenhum
reparo. 8. Por fim, registra-se que a apelante foi condenada a devolução dos valores de forma
simples, fazendo-se a compensação com o valor residual do saldo devedor, a ser apurado em
liquidação de sentença. Ademais, a ré não foi condenada à compensação por danos morais,
ressaltando o magistrado a quo que não houve negativação do nome do consumidor. NEGA-SE
PROVIMENTO AO RECURSO.

INTEIRO TEOR

Íntegra do Acórdão - Data de Julgamento: 07/11/2012 (*)


Ainda de acordo com Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald: " Neste tema ainda é bom salientar que
o Supremo Tribunal Federal, através do Ministro Sydney Sanches, deferiu liminar a ADIn nº 2.316-
36, de 23/08/2001, que permitia a capitalização de juros com periodicidade inferior a 01 (um) ano
nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema financeira Nacional.

DIREITO CIVIL - CP02 - 02 - CPII - 2º PERÍODO 2021 51

Você também pode gostar