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UNIDADE: Outras formas de viver / Hungria

SITUAÇÃO DE USO
Aquisição de conhecimento e expressão de opinião sobre formas diferentes de
habitar.

MARCADORES
Habitação; Localização; Meio ambiente.

EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM
- Conversar sobre formas diferentes de viver.
- Ler e interpretar testemunhos escritos de vida em autocaravanas.
- Produzir um relato pessoal através de uma gravação em áudio.
- Alargar vocabulário específico, através de um vídeo sobre casas do futuro.
- Escrever um convite aos meios de comunicação social no sentido de promover
um projeto numa conferência de imprensa.
- Preparar uma apresentação oral com apoio sobre o tema da habitação.

ATIVIDADE DE PREPARAÇÃO
Observe a imagem e converse com o seu colega sobre as seguintes
questões.

a) Já alguma vez passou férias numa autocaravana? Comente.

b) Imagina-se a viver numa autocaravana 365 dias por ano? Porquê?

BLOCO DE ATIVIDADES
Atividade 1: Leia o seguinte texto e responda por escrito às perguntas.

Há quem tenha a casa no parque de estacionamento. E goste.


O dia amanheceu com sol no céu e frio na terra, mas não tanto que alguns, a
maioria estrangeiros, não tomem o pequeno-almoço em T-shirt na esplanada do
Ganda Lata, de olhos postos no rapaz que passa rente à estação fluvial de Belém
montado num monociclo, a dedilhar o seu cavaquinho. Leonor, 26 anos, bebe
um café antes de arrancar para o trabalho, os pingos nas botas a contarem o que
tem andado a fazer - "estou a pintar uma casa perto daqui"- o cão Puto ao lado,
sempre, desde que o encontrou na rua há cinco verões. Ontem estava no Cais do
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Sodré, anteontem no quintal dos pais, em Caselas, onde estaciona com


regularidade - "mas o objetivo não é estar parada". Hoje acordou cedo na
carrinha transformada em autocaravana, lugar para tudo, da cama à bicicleta,
painel solar para a energia, interior em madeira quente desenhado à medida das
necessidades e construído a muitas mãos, com mãe, pai e amigos. "Foi um
projeto coletivo muito bonito", diz, "já sabia as funcionalidades que queria, tinha
experiência de viver em espaços semelhantes". Em 2010, acabou o curso de Artes
Plásticas e foi com uma tenda para França, trabalhar na agricultura sazonal. "No
ano a seguir fui de carro e com o namorado. Encontrei uma associação de
viajantes e passei a viver em caravanas, conheci pessoas incríveis. Uma
americana de 60 anos, por exemplo, que vivia numa mota da Segunda Guerra
com uma tenda atrás e que agora mora numa ambulância antiga que
transformou. Vivíamos em comunidade, construímos ali qualquer coisa, e isso é
muito interessante, as pessoas terem coisas para dar." De vez em quando
regressa a Portugal, trabalha em festivais, faz animações para festas de crianças
e coisas pontuais que vão aparecendo, como a tal casa que anda a pintar.
"Quando não tenho estes trabalhos desenho, fotografo, leio. Tenho um tear que
gosto de meter à beira-rio para trabalhar. E faço jantaradas para os amigos, gosto
muito de cozinhar."
Orgulha-se de arranjar lugar para todos no seu T0: se uma mesa de gente que se
ama a partilhar um piquenique ao ar livre nunca feriu a dignidade de um lugar -
desde que haja civismo e caixotes do lixo –, compreende no entanto "que as
pessoas se chateiem com uma mesa posta no meio da rua. O espaço público é
isso mesmo, de todos. E todos o podem utilizar desde que se respeitem uns aos
outros." Diz que esta é uma forma de vida económica e alternativa e que
"chatices" tem tido poucas, medos alguns. "Sou uma rapariga a viver sozinha com
um cão que nem sequer é grande. Mas é preciso enfrentar os nossos receios,
este sistema de medo. É o que digo à minha mãe, que volta e meia se preocupa."
Belém, com o seu café-bar aberto até tarde e o grupo de autocaravanistas que
ali para, é uma espécie de rede de segurança na cidade.
"Uma mulher quando se mete nisto não tem medo de nada", diz Maria Vieira,
vizinha temporária de Leonor. Há várias coisas a uni-las e uns cinquenta anos a
separá-las - mais ou menos, que Maria pertence ao tempo em que a idade não
se pergunta a uma senhora e invariavelmente responde "metade mais outros
tantos" a quem o faz. Comprou a primeira rulote em 1976, "por cinco contos", e
diz que são tantas as mulheres caravanistas que até há planos para formar um
grupo só delas, "para abrir os olhos dos homens! Porque há muitas senhoras com
carta que só não conduzem as autocaravanas porque os maridos não deixam".
Reformada de "um pequeno negócio de artesanato", conta que já viveu bem e já
viveu mal, já morou num barco e já morou numa casa e que nunca lhe ocorreu
desistir da vida sobre rodas. "Mesmo quando fiquei viúva, em 2005, o bichinho
já cá estava. Enquanto puder conduzir, lá vou eu!"
Chegou há pouco das compras - "fui a Algés, ao supermercado e ao talho, depois
passei em Carcavelos, fui passear. De vez em quando vou à Costa [de Caparica],
outras às Caldas, a Peniche, ao Algarve vou menos. É onde me dá na cabeça. E
gosto mais de ir sozinha. Não gosto de me comprometer com ninguém e onde
vou encontro sempre gente conhecida". Em Lisboa, a filha aparece para jantar,
em Fátima há um grupo certo todos os meses - e a 13 de dezembro celebra-se o
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Dia do Caravanista. "A solidão é sempre triste", diz, "seja numa caravana ou
numa casa. Eu faço amigos em qualquer lado." Só não há pneu sobresselente na
autocaravana que tem tudo, da casa de banho à cama e à bicicleta, da cozinha e
mesa de jantar às cortinas e napperons em croché. "Tenho a minha internet, o
meu telefone, o meu aquecimento, estou garantida. Quando me dá na telha,
vou." E se tem um furo, chama a assistência em viagem.
Zezé passou o verão no Algarve, depois zarpou a norte. E voltou a Lisboa para
celebrar o 49.º aniversário com a filha que mora na capital e festejou 24 logo a
seguir, antes do fim do ano. Diz-se "o verdadeiro homem dos sete ofícios" e a
vida confirma-o: é artista, artesão e DJ, organiza festas e festivais e ainda faz
"altos pitéus na cozinha". Há seis anos fartou-se de pagar a renda do
apartamento em Sintra "quando, na realidade, nunca parava em casa", comprou
uma rulote em segunda mão e passou a viver sobre rodas. Tem um ateliê no Cais
do Sodré e a namorada tem casa em Lisboa - umas vezes ficam na caravana,
outras estacionam-na à porta dela -, mas Belém continua a ser um poiso favorito,
pelo "rio em frente, o comboio ao pé, os transportes para todo o lado na cidade,
os pescadores e velhotes reformados que param aqui e têm histórias incríveis
para partilhar". Tem boas recordações de quando "a zona vinha em tudo quanto
era guia de autocaravanismo e era o sítio por excelência para pousar em Lisboa,
uma espécie de aldeia móvel com vista para o rio e todo o tipo de habitantes,
jovens com pouco dinheiro e burgueses com altos camiões", estrangeiros e
portugueses, muitos na reforma, alguns no desemprego, eletricistas,
enfermeiras, trabalhadores da CP e do aeroporto, um paraquedista, até um
agente da PSP. Depois, da doca do Bom Sucesso ao parque fronteiro ao novo
Museu dos Coches, o espaço foi sendo interditado às autocaravanas, só uns
poucos lugares a escapar à proibição geral. Zezé acredita que muito se perde, da
mais-valia para o comércio local que a presença de turistas com poder de compra
e necessidades de consumo quotidianas representa, à constância de uma
comunidade que vivifica a zona o ano inteiro e não apenas na "época alta".
Continua a crer na coexistência legal e pacífica de vários modos de vida e nada o
faz desistir da sua casa sobre rodas. "Desde o momento em que a escolha é tua,
viver numa caravana não tem desvantagens. Acordo onde quero, vou para onde
quero. Vivo como se morasse num apartamento das Amoreiras mas sem o prédio
manhoso cheio de vidros e elevadores."
Tintin, amigo de muitos anos e vizinho ocasional, confirma: "Poder estar hoje
aqui e amanhã na serra de Sintra com a minha casa é imbatível. São opções de
vida. Eu sou feliz. E dificilmente me tiram a felicidade." Sempre fez campismo e
desde que teve carta de condução passou a fazer caravanismo. "Primeiro
comprei uma carrinha velhota e transformei-a toda, só mais tarde investi no meu
T0 com rodas, em terceira mão." Há quatro anos mudou a vida. "Era tipógrafo,
como o meu pai, que tinha uma tipografia no Príncipe Real, mas o digital acabou
com a profissão. Estava desempregado, pagava 500 euros de renda no Bairro Alto
e tinha uma autocaravana à porta. Percebi que não fazia sentido e a partir daí ela
passou a ser a minha base." Trabalha em montagem de espetáculos, vive o
tempo quente quase sempre a sul, no outono e no inverno procura estar na
capital. "A minha filha tem 7 anos, anda na escola, e eu quero estar por perto
para a apoiar" - outra razão para a zona de Belém ser conveniente, com a sua
rede de transportes até de madrugada. Dificilmente o convencem de que um
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autocarro de turismo aparcado o dia inteiro na zona monumental seja mais digno
do que uma caravana ou de que entre os ocupantes de um e de outra exista
qualquer escala de valores. A crescente ilegalidade da situação preocupa-o, mas
não a compreende. "Pago os meus impostos como qualquer cidadão
automobilista, a minha autocaravana ocupa o espaço de estacionamento de uma
carrinha de mercadorias. Não aceito a discriminação. Sou autossuficiente, vou a
áreas de serviço dos arredores fazer os despejos e encher o depósito da água,
não deixo lixo na rua e até chego a limpar o dos outros, para não apontarem o
dedo a caravanistas." Sente-se seguro em Belém, apesar de não existirem
infraestruturas adequadas e de a lei municipal estipular que "para acampar, o
único espaço que existe é o Parque de Campismo de Monsanto" (posição oficial
da CML em declarações à Lusa, em agosto passado). "Não gosto de ir para
parques de campismo, são geralmente afastados do centro das cidades e
demasiado caros para os serviços de que necessitamos. Até o cão tem de pagar",
diz Philip na sua autocaravana com casa de banho e cozinha, energia solar e
espaço q.b. para ele, a mulher, Vilma, e o Butch, um bicho de 13 anos com porte
de pastor-alemão.
Se estacionassem no camping de Monsanto teriam de desembolsar, consoante a
época, 23,80 ou 34,60 euros por dia. Em jeito de comparação, o vizinho Udo, um
alemão de 77 anos, conta que apesar de viajar por Portugal numa pequena
autocaravana vive numa versão XL permanentemente aparcada num parque de
campismo em Hanôver: "Pago mil euros por ano, com tudo incluído, água, luz,
wi-fi, esgoto. Fica bastante em conta." Ressalvando que "temos de respeitar as
regras e as pessoas", Philip lembra que a última vez que parou a sua casa móvel
em Belém, o vasto espaço de estacionamento em frente à estação fluvial ainda
não tinha a sinalização "exceto autocaravanas" por baixo do P de Parque. "Há
nove anos que vimos para cá e ficamos sempre nos mesmos sítios." Assim que o
corpo dá sinal, Philip fecha à chave o apartamento em Bruges e a família põe-se
a caminho do Sul. "Os meus ossos doem até eu chegar ao sol" diz, num português
com sotaque à conta do ano em que foi "sozinho de mochila para o Brasil, era
muito novo. Falo várias línguas e nunca aprendi nenhuma na escola, além do
flamengo". Agora tem 59 anos e está reformado, gosta de entrar por Coimbra,
descer à Nazaré, depois Batalha, chegar a Belém, estacionar e apanhar o elétrico
para matar saudades de Lisboa e dos amigos que aqui encontra. Vilma, de origem
filipina, acha piada à última novidade lisboeta: "Os tuk-tuks, que dão muito jeito
para subir ao castelo e arredores." Gosta de acordar cedo e de tricotar à noite,
adora a comida portuguesa - "quase sempre jantamos fora e sempre que
podemos comemos peixe". Philip continua: "Gosto do convívio com os
portugueses, do cafezinho, do sol. A mentalidade aqui agrada-me, as pessoas são
afáveis, disponíveis. Cada vez encontro mais caravanistas portugueses,
principalmente ao fim de semana. Na última vez que estive na praia da
Consolação, o único estrangeiro era eu, e aquilo estava cheio." A família aponta
a autocaravana ao Algarve e continua a descer, lá para o fim do inverno há de
começar a subida até ao Porto e Braga, depois atravessa a Espanha, e por aí fora
até ao verão belga. Seis meses lá, seis cá. "A Vilma gosta de voltar a casa, mas eu
podia viver numa caravana para sempre", remata Philip. "You are free like a bird.
Se chegas a um sítio e ele te agrada, ficas. Senão, vais!"
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Se uma cidade é tanto mais cosmopolita quanto os diferentes modos de vida


que consegue acomodar no seu quotidiano, Lisboa está no caminho certo.
Fonte: https://www.dn.pt/sociedade/ha-quem-tenha-a-casa-no-parque-de-estacionamento-e-
goste-4962532.html

a) O que há em comum e de diferente relativamente às formas de vida


mencionadas no texto? Justifique.

b) Quais são as vantagens e eventuais desvantagens deste estilo de vida


mencionadas no texto?

c) Justifique a afirmação dentro do contexto:” Sou uma rapariga a viver


sozinha com um cão que nem sequer é grande” (Leonor).

d) O que significa “...que volta e meia se preocupa” (Leonor)?

e) “O bichinho já cá estava”: o que quer dizer Maria com esta expressão?

f) Por que motivo Zezé critica a proibição de estacionamento de


autocaravanas em algumas zonas de Belém?

g) O que Tintin quer dizer com “um bicho de 13 anos com porte de pastor-
alemão”?

h) Porque é que aos autocaravanistas não lhes agrada a opção dos parques
de campismo em Lisboa?

i) Explique por outras palavras “fica bastante em conta” (Udo).

j) O que Philip quer dizer com as expressões “assim que o corpo dá sinal”
e “a família aponta a caravana ao Algarve”?

Atividade 2: Imagine que é um estrangeiro a viver numa autocaravana no


seu país/na sua cidade. Faça um curto relato em áudio dessa realidade
(max 3’).
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Atividade 3: Assista a um vídeo sobre as casas do futuro e responda


oralmente às questões.
https://www.youtube.com/watch?v=_6GCE46eDC4

Falar global – Casas do Futuro COOLHAVEN

a) De acordo com a entrevista, em que consiste a construção modular?


b) Por que se pode dizer que é parecida ao Lego?
c) Quais são as vantagens deste tipo de casas?
d) Em que consiste a arquitetura bioclimática e a arquitetura inteligente?
e) Em que medida estes edifícios podem ser mais seguros?
f) Compare o tempo de construção e o impacto ambiental destas casas com o
tradicional.
g) Podemos estar face a um produto com potencial para as camadas
populacionais com baixo poder de compra? Justifique.
h) Este conceito é aplicável apenas a habitações individuais? Porquê?

EXTENSÃO DA UNIDADE
Leia o seguinte texto sobre um projeto que alia uma preocupação social
ao princípio ecológico e conceito de mobilidade referidos nos exercícios
anteriores.

Artista transforma lixo de rua em casas móveis para sem-abrigo


Gregory Kloehn dedica grande parte do seu dia a remexer no lixo, como tantos outros fazem,
infelizmente, todos os dias. Contudo, este norte-americano não o faz por necessidade básica.
Kloehn é artista e procura no lixo a matéria-prima para construir casas móveis para os sem-
abrigo.
O artista selecciona os materiais recicláveis para as pequenas criações arquitectónicas, que
custam menos de €73 (R$ 220) cada. Para tal, ele escolheu um ponto conhecido de despejo
ilegal de resíduos sólidos, em Oakland, Califórnia, para trabalhar.
Depois de realizar a recolha, Kloehn projecta os abrigos com materiais disponíveis. Segundo o
artista, cada estrutura é única, sendo os únicos pontos comuns o tamanho reduzido, as rodas –
para que a casa possa ser empurrada com facilidade – e o telhado inclinado, para não acumular
a água da chuva.
Como pode ver na nossa galeria, criatividade é o que não falta a Kloehn: desde paletes a tampas
de máquinas de lavar e portas de frigoríficos, todos os materiais sem uso actual são boas
matérias-primas.

Fonte: https://greensavers.sapo.pt/artista-transforma-lixo-de-rua-em-casas-moveis-para-sem-
abrigo/
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Agora imagine que vai promover uma iniciativa na sua comunidade, no sentido
de sensibilizar e reunir voluntários para um projeto de recolha e posterior
aproveitamento de lixo.

Escreva um texto para enviar a diferentes empresas de comunicação


social a convidá-las para uma conferência de imprensa sobre esta
iniciativa.

ATIVIDADE DE AVALIAÇÃO
Tendo em mente o que foi estudado, observe as seguintes imagens e, com
base nas mesmas, prepare uma apresentação oral com powerpoint para
os seus colegas, sobre habitação e sociedade, referindo questões como
ecologia e mobilidade habitacional.

(Deve partir de uma ou mais das imagens apresentadas).

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