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SITUAÇÃO DE USO
Aquisição de conhecimento e expressão de opinião sobre formas diferentes de
habitar.
MARCADORES
Habitação; Localização; Meio ambiente.
EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM
- Conversar sobre formas diferentes de viver.
- Ler e interpretar testemunhos escritos de vida em autocaravanas.
- Produzir um relato pessoal através de uma gravação em áudio.
- Alargar vocabulário específico, através de um vídeo sobre casas do futuro.
- Escrever um convite aos meios de comunicação social no sentido de promover
um projeto numa conferência de imprensa.
- Preparar uma apresentação oral com apoio sobre o tema da habitação.
ATIVIDADE DE PREPARAÇÃO
Observe a imagem e converse com o seu colega sobre as seguintes
questões.
BLOCO DE ATIVIDADES
Atividade 1: Leia o seguinte texto e responda por escrito às perguntas.
Dia do Caravanista. "A solidão é sempre triste", diz, "seja numa caravana ou
numa casa. Eu faço amigos em qualquer lado." Só não há pneu sobresselente na
autocaravana que tem tudo, da casa de banho à cama e à bicicleta, da cozinha e
mesa de jantar às cortinas e napperons em croché. "Tenho a minha internet, o
meu telefone, o meu aquecimento, estou garantida. Quando me dá na telha,
vou." E se tem um furo, chama a assistência em viagem.
Zezé passou o verão no Algarve, depois zarpou a norte. E voltou a Lisboa para
celebrar o 49.º aniversário com a filha que mora na capital e festejou 24 logo a
seguir, antes do fim do ano. Diz-se "o verdadeiro homem dos sete ofícios" e a
vida confirma-o: é artista, artesão e DJ, organiza festas e festivais e ainda faz
"altos pitéus na cozinha". Há seis anos fartou-se de pagar a renda do
apartamento em Sintra "quando, na realidade, nunca parava em casa", comprou
uma rulote em segunda mão e passou a viver sobre rodas. Tem um ateliê no Cais
do Sodré e a namorada tem casa em Lisboa - umas vezes ficam na caravana,
outras estacionam-na à porta dela -, mas Belém continua a ser um poiso favorito,
pelo "rio em frente, o comboio ao pé, os transportes para todo o lado na cidade,
os pescadores e velhotes reformados que param aqui e têm histórias incríveis
para partilhar". Tem boas recordações de quando "a zona vinha em tudo quanto
era guia de autocaravanismo e era o sítio por excelência para pousar em Lisboa,
uma espécie de aldeia móvel com vista para o rio e todo o tipo de habitantes,
jovens com pouco dinheiro e burgueses com altos camiões", estrangeiros e
portugueses, muitos na reforma, alguns no desemprego, eletricistas,
enfermeiras, trabalhadores da CP e do aeroporto, um paraquedista, até um
agente da PSP. Depois, da doca do Bom Sucesso ao parque fronteiro ao novo
Museu dos Coches, o espaço foi sendo interditado às autocaravanas, só uns
poucos lugares a escapar à proibição geral. Zezé acredita que muito se perde, da
mais-valia para o comércio local que a presença de turistas com poder de compra
e necessidades de consumo quotidianas representa, à constância de uma
comunidade que vivifica a zona o ano inteiro e não apenas na "época alta".
Continua a crer na coexistência legal e pacífica de vários modos de vida e nada o
faz desistir da sua casa sobre rodas. "Desde o momento em que a escolha é tua,
viver numa caravana não tem desvantagens. Acordo onde quero, vou para onde
quero. Vivo como se morasse num apartamento das Amoreiras mas sem o prédio
manhoso cheio de vidros e elevadores."
Tintin, amigo de muitos anos e vizinho ocasional, confirma: "Poder estar hoje
aqui e amanhã na serra de Sintra com a minha casa é imbatível. São opções de
vida. Eu sou feliz. E dificilmente me tiram a felicidade." Sempre fez campismo e
desde que teve carta de condução passou a fazer caravanismo. "Primeiro
comprei uma carrinha velhota e transformei-a toda, só mais tarde investi no meu
T0 com rodas, em terceira mão." Há quatro anos mudou a vida. "Era tipógrafo,
como o meu pai, que tinha uma tipografia no Príncipe Real, mas o digital acabou
com a profissão. Estava desempregado, pagava 500 euros de renda no Bairro Alto
e tinha uma autocaravana à porta. Percebi que não fazia sentido e a partir daí ela
passou a ser a minha base." Trabalha em montagem de espetáculos, vive o
tempo quente quase sempre a sul, no outono e no inverno procura estar na
capital. "A minha filha tem 7 anos, anda na escola, e eu quero estar por perto
para a apoiar" - outra razão para a zona de Belém ser conveniente, com a sua
rede de transportes até de madrugada. Dificilmente o convencem de que um
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autocarro de turismo aparcado o dia inteiro na zona monumental seja mais digno
do que uma caravana ou de que entre os ocupantes de um e de outra exista
qualquer escala de valores. A crescente ilegalidade da situação preocupa-o, mas
não a compreende. "Pago os meus impostos como qualquer cidadão
automobilista, a minha autocaravana ocupa o espaço de estacionamento de uma
carrinha de mercadorias. Não aceito a discriminação. Sou autossuficiente, vou a
áreas de serviço dos arredores fazer os despejos e encher o depósito da água,
não deixo lixo na rua e até chego a limpar o dos outros, para não apontarem o
dedo a caravanistas." Sente-se seguro em Belém, apesar de não existirem
infraestruturas adequadas e de a lei municipal estipular que "para acampar, o
único espaço que existe é o Parque de Campismo de Monsanto" (posição oficial
da CML em declarações à Lusa, em agosto passado). "Não gosto de ir para
parques de campismo, são geralmente afastados do centro das cidades e
demasiado caros para os serviços de que necessitamos. Até o cão tem de pagar",
diz Philip na sua autocaravana com casa de banho e cozinha, energia solar e
espaço q.b. para ele, a mulher, Vilma, e o Butch, um bicho de 13 anos com porte
de pastor-alemão.
Se estacionassem no camping de Monsanto teriam de desembolsar, consoante a
época, 23,80 ou 34,60 euros por dia. Em jeito de comparação, o vizinho Udo, um
alemão de 77 anos, conta que apesar de viajar por Portugal numa pequena
autocaravana vive numa versão XL permanentemente aparcada num parque de
campismo em Hanôver: "Pago mil euros por ano, com tudo incluído, água, luz,
wi-fi, esgoto. Fica bastante em conta." Ressalvando que "temos de respeitar as
regras e as pessoas", Philip lembra que a última vez que parou a sua casa móvel
em Belém, o vasto espaço de estacionamento em frente à estação fluvial ainda
não tinha a sinalização "exceto autocaravanas" por baixo do P de Parque. "Há
nove anos que vimos para cá e ficamos sempre nos mesmos sítios." Assim que o
corpo dá sinal, Philip fecha à chave o apartamento em Bruges e a família põe-se
a caminho do Sul. "Os meus ossos doem até eu chegar ao sol" diz, num português
com sotaque à conta do ano em que foi "sozinho de mochila para o Brasil, era
muito novo. Falo várias línguas e nunca aprendi nenhuma na escola, além do
flamengo". Agora tem 59 anos e está reformado, gosta de entrar por Coimbra,
descer à Nazaré, depois Batalha, chegar a Belém, estacionar e apanhar o elétrico
para matar saudades de Lisboa e dos amigos que aqui encontra. Vilma, de origem
filipina, acha piada à última novidade lisboeta: "Os tuk-tuks, que dão muito jeito
para subir ao castelo e arredores." Gosta de acordar cedo e de tricotar à noite,
adora a comida portuguesa - "quase sempre jantamos fora e sempre que
podemos comemos peixe". Philip continua: "Gosto do convívio com os
portugueses, do cafezinho, do sol. A mentalidade aqui agrada-me, as pessoas são
afáveis, disponíveis. Cada vez encontro mais caravanistas portugueses,
principalmente ao fim de semana. Na última vez que estive na praia da
Consolação, o único estrangeiro era eu, e aquilo estava cheio." A família aponta
a autocaravana ao Algarve e continua a descer, lá para o fim do inverno há de
começar a subida até ao Porto e Braga, depois atravessa a Espanha, e por aí fora
até ao verão belga. Seis meses lá, seis cá. "A Vilma gosta de voltar a casa, mas eu
podia viver numa caravana para sempre", remata Philip. "You are free like a bird.
Se chegas a um sítio e ele te agrada, ficas. Senão, vais!"
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g) O que Tintin quer dizer com “um bicho de 13 anos com porte de pastor-
alemão”?
h) Porque é que aos autocaravanistas não lhes agrada a opção dos parques
de campismo em Lisboa?
j) O que Philip quer dizer com as expressões “assim que o corpo dá sinal”
e “a família aponta a caravana ao Algarve”?
EXTENSÃO DA UNIDADE
Leia o seguinte texto sobre um projeto que alia uma preocupação social
ao princípio ecológico e conceito de mobilidade referidos nos exercícios
anteriores.
Fonte: https://greensavers.sapo.pt/artista-transforma-lixo-de-rua-em-casas-moveis-para-sem-
abrigo/
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Agora imagine que vai promover uma iniciativa na sua comunidade, no sentido
de sensibilizar e reunir voluntários para um projeto de recolha e posterior
aproveitamento de lixo.
ATIVIDADE DE AVALIAÇÃO
Tendo em mente o que foi estudado, observe as seguintes imagens e, com
base nas mesmas, prepare uma apresentação oral com powerpoint para
os seus colegas, sobre habitação e sociedade, referindo questões como
ecologia e mobilidade habitacional.