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Direito do Trabalho
Aulas Teóricas
Prof. Dr. Francisco Liberal Fernandes
Esta sebenta respeita às aulas teóricas de Direito do Trabalho do ano letivo de 2019/2020,
lecionadas pelo docente Francisco Liberal Fernandes. A sebenta foi realizada com base nos
apontamentos das vogais do Departamento de Pedagogia Rita Gomes e Inês Brandão e no manual
“Contrato de Trabalho” de João Leal Amado.
A sua elaboração foi realizada com o objetivo de auxiliar os estudantes para o exame de
Direito do Trabalho. Relevamos ainda que, a leitura desta sebenta não substitui a leitura da
bibliografia obrigatória ou recomendada, sendo apenas um instrumento de auxílio ao estudo.
Caso sejam detetados alguns erros, agradecemos que estes sejam comunicados através do e-
mail da CC3: cc3fdup1920@gmail.com de modo a que o documento seja aperfeiçoado.
Bom estudo!
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“Com vista à sua normalização”: o Direito do Trabalho visa limitar e legitimar os
poderes empresariais, bem como proteger os trabalhadores e ainda legalizar a
posição dominical dos empregados;
Carácter final:
o Mecanismos de conflito.
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2.1. Fontes específicas do Direito do Trabalho
O artigo 1º CT revela depois as fontes específicas do Direito do Trabalho, isto é, aquelas
que vão além das fontes gerais do direito privado. São estas: os instrumentos de regulamentação
coletiva de trabalho e os usos laborais que não contrariem o princípio da boa fé.
Lê-se, no artigo 2º CT, quais são esses instrumentos de regulamentação coletiva.
Podemos ter:
a) Instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho NEGOCIAIS:
Convenção coletiva:
o Contrato Coletivo;
o Acordo Coletivo;
o Acordo de empresa.
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A arbitragem, seja voluntária ou necessária/obrigatória, é um mecanismo de resolução
de conflitos.
Fontes de carácter administrativo: portaria de condições de trabalho; a portaria de
administração de trabalho; e a portaria de extensão.
Segundo o professor Leal Amado, a convenção coletiva não chega a ser uma lei, mas
também não se reduz à mera condição de contrato (“tem corpo de contrato e alma de lei”).
Significa isto que, ao lado das leis laborais, há esta fonte especial que é a convenção coletiva,
a qual, de certa forma, tem uma força vinculativa semelhante à lei.
Por relações hierárquicas, as fontes legais sobrepõem-se às fontes convencionais. No
entanto, a razão de ser das convenções é criar condições que a lei não regula.
As convenções visam fixar normas diferentes das legais e essa diferença pode
manifestar-se em dois aspetos essenciais:
Na criação de condições novas que a lei não regula.
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Tem aqui, portanto, uma função reguladora (porque se as fontes superiores, isto é,
a lei, não regulasse determinada matéria, as partes teriam liberdade de o fazer);
É aqui que temos um problema de hierarquia, porque a lei é uma fonte superior.
Temos de atender ao contexto: a economia é dinâmica (há períodos de crise, outros
de maior desenvolvimento, etc.). Além disso, as relações de concorrência estão
sempre a modificar-se. Se há dinamismo, a lei tem de se adaptar. As leis também
vão atrás da economia, ou da sua evolução, ou da sua (in)volução.
Ou seja, a convenção coletiva era caracterizada pelo facto de estabelecer condições mais
favoráveis para o trabalhador e este modelo foi juridicamente incorporado. Em Portugal, até
2003, as convenções coletivas só podiam modificar as leis nos casos de melhoramento das
condições dos trabalhadores (princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador/princípio
do favor laboratoris). No entanto, o nosso legislador esgotou o modelo antigo de convenção
coletiva pelas novas aplicações da atividade económica e pelo desenvolvimento económico.
Ou seja, a preocupação central do Direito do Trabalho, hoje, consiste em garantir a eficiência
económica das empresas e só em segundo plano garantir as condições mais favoráveis e a
equidade das relações de trabalho.
Em 2009 o artigo 3º, nº1 passou a ter uma nova letra: “as normas legais reguladores
de contrato de trabalho podem ser afastadas por instrumentos de regulamentação coletiva de
trabalho, salvo quando delas resultar o contrário”.
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Ou seja, as convenções podem modificar as leis, tanto para sentido mais favorável para
ambas as partes, tanto para sentido mais favorável apenas a uma (princípio da natureza
convénio-dispositiva das normas trabalhistas).
As convenções podem modificar as leis, salvo quando das leis resultar o contrário, isto
é, quando as leis especificam que não podem ser modificadas. Tal significa que, para saber se
uma convenção pode ou não alterar uma lei, temos de reconhecer a natureza da lei.
As leis são imperativas, mas agora temos aqui uma especificidade: essa imperatividade
pode ou não obstar serem modificadas pelas convenções coletivas. Como é que sabemos se a
lei pode ser modificada? Através da interpretação da lei (mecanismos, meios e critérios da
interpretação da lei – código civil). Interpretada uma lei (de acordo com os critérios gerais),
chegamos a uma conclusão final: a lei admitirá ou não uma modificação.
As leis que admitem sempre ser modificadas são leis imperativas relativas (há quem
lhes chame leis expositivas). Temos de introduzir uma divisão, que se retira da interpretação
da lei através dos critérios gerais, entre leis imperativas relativas e leis imperativas absolutas.
Esta modalidade de modificação da lei característica das convenções coletivas não se
entende às portarias (estas não podem alterar a lei).
3. O CONTRATO DE TRABALHO
(páginas 47 a 52 do livro do professor Leal Amado)
A definição e as características do contrato de trabalho constam do artigo 11º CT: “o
contrato de trabalho é aquele no qual uma pessoa singular se obriga, mediante retribuição, a
prestar a sua atividade a outra ou outras pessoas, no âmbito de organização e sob a autoridade
destas”.
Desta definição conseguimos perceber quais são os três elementos essenciais que
compõem o contrato de trabalho: a prestação de trabalho de uma pessoa singular; a retribuição;
e, por fim, a subordinação jurídica.
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contrato vincula cada trabalhador per si. Do lado do empregador, este já pode ser uma pessoa
singular, uma pessoa coletiva ou várias pessoas. Discute-se agora se o direito do trabalho não
deve ser alargado, nomeadamente aos trabalhadores autónomos. A subordinação,
historicamente, era uma subordinação pessoal. A discussão foi desencadeada pelo trabalho
desenvolvido pelas plataformas digitais (isto porque a Uber, por exemplo, restringe as situações
em que os seus agentes sejam contratados como trabalhadores).
Aula de 4/10/2019
3.1. Formação do contrato de trabalho
Em matéria de formação do contrato de trabalho, temos sempre de ter em conta dois
fatores essenciais: a capacidade jurídica/capacidade de gozo (aptidão para ser titular de certas
relações jurídicas); e a capacidade de exercício (aptidão para atuar juridicamente por ato
próprio e exclusivo).
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No âmbito da capacidade negocial jurídica temos de destacar a problemática do trabalho
dos menores.
Em sede de contrato de trabalho não se pretende apenas de salvaguardar a posição do
menor enquanto sujeito que emite uma determinada declaração de vontade, mas sobretudo de
evitar que a execução do contrato comprometa o normal e saudável desenvolvimento do menor,
bem como a sua educação e adequada formação.
Regra geral, a idade mínima de admissão para prestar trabalho é de 16 (artigo 68º,
nº2 CT).
Artigo 68º, nº3: o menor com idade inferior a 16 anos que tenha concluído a
escolaridade obrigatória ou esteja matriculado e a frequentar o nível secundário de
educação pode prestar trabalhos leves (...).
Artigo 72º, nº2: os trabalhos que, pela sua natureza ou pelas condições em que são
prestados, sejam prejudiciais ao desenvolvimento físico, psíquico e moral dos
menores são proibidos ou condicionados por legislação especifica.
Artigo 70º, nº2: o contrato celebrado diretamente com o menor que não tenha
completado 16 anos (ou seja, em trabalhos leves), ou não tenha ainda concluído a
escolaridade obrigatória nem esteja matriculado e a frequentar o nível secundário
de educação só é válido mediante a autorização escrita dos seus representantes
legais;
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O contrato celebrado diretamente com o menor que tenha completado 16 anos de
idade e tenha concluído a escolaridade obrigatória ou esteja matriculado e a
frequentar o nível secundário de educação é válido, salvo oposição dos seus
representantes legais.
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Há um aspeto relevante que importa destacar: temos de saber distinguir a existência de
um contrato-promessa da celebração de um contrato de trabalho ao qual foi aposta uma
condição ou um termo suspensivo (artigo 135º CT).
No artigo 104º, nº2, a lei prevê uma situação em que a unilateralidade do contrato de
adesão, se transforma em bilateralidade: vamos supor que a entidade empregadora quer alterar
o regulamento interno que estabelece as condições de adesão do trabalhador. Sabemos que a
alteração não foi referida no momento da adesão do trabalhador àquele contrato de trabalho.
Por isso, as alterações só podem ser efetuadas se, de facto, houver concordância do trabalhador
com as mesmas. A lei estabelece uma presunção da aceitação do trabalhador se ele não
se manifestar por escrito num certo período.
Invalidade parcial (artigo 121º CT): no CC, o critério geral das questões de
Invalidade parcial assenta no recurso à chamada vontade hipotética ou
conjectural das partes.
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Já o número 2 do artigo 121º acrescenta que, “a cláusula do contrato de trabalho
que viole uma norma imperativa considera-se substituída por esta”. Ou seja,
quando a invalidade parcial resultar do facto de haver cláusulas contratuais que
violam normais imperativas (constitucionais, legais ou convencionais), o
critério é diferente do nº1. O contrato não é nulo, apenas há uma substituição
(retroativa) da parte invalida pela parte válida: eliminam-se as cláusulas viciadas
e estas são substituídas pelas normas que estavam a ser violadas.
Invalidade total (artigo 122º CT): o aspeto mais diferenciador aqui é que a
invalidade total do contrato não tem efeito retroativo: produz efeito como
válido, a invalidade só opera para o futuro. Se houvesse eficácia retroativa
teríamos uma situação em que o trabalhador deveria devolver o salário e o
trabalhador devia devolver o trabalho prestado. Este segundo aspeto é
impossível (não de pode devolver a atividade). Daí que a retroatividade não
pudesse acontecer. Estamos a pressupor sempre que se trata de trabalho
declarado.
Há um outro aspeto decorrente deste regime e daí que vigore o regime da convalidação
(diverge da TGDC). Há contratos de trabalho que podem ser nulos porque a atividade é ilícita.
Se o objeto for nulo, o contrato também é nulo.
AULA de 10/10/2019
3.3. Tutela do trabalhador
(páginas 187 a 191 do livro do professor Leal Amado)
“Ao contratar um par de mãos, receberá também um ser humano” – Henry Ford.
Antes e mais do que trabalhador, este é uma pessoa e um cidadão, ainda que, ao celebrar
e executar o contrato de trabalho, ele fique colocado sob a autoridade e direção de outrem.
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Não se trata aqui propriamente dos direitos do trabalhador enquanto trabalhador (direito
à greve, à liberdade sindical, direito a férias, etc.), mas antes dos seus direitos enquanto pessoa
e cidadão. Neste âmbito, temos os artigos 14º, 15º e 16º, os quais não se estreiam no código
do trabalho, pois têm fundamento constitucional. No código de trabalho não haverá um ativo
jurídico diferente do protegido constitucionalmente.
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segurança das pessoas e bens, tendo em conta a profissão em causa. Têm-se levantado
problemas, por exemplo, em relação ao GPS: o GPS indica onde está o trabalhador a toda a
hora. Até que ponto não é o GPS um instrumento de controlo da atividade? Naturalmente que
é, mas não é apenas isso (acórdão da relação do porto interessante).
3.3.1. Assédio
(páginas 191 a 195 do livro do professor Leal Amado)
Consta a definição no artigo 29º, nº2 CT. No nº3 do mesmo artigo temos a
particularidade do assédio sexual.
O assédio é talvez a manifestação de maior fragilidade que o poder de direção pode
permitir. O assédio, seja de carácter sexual ou não, é sempre um comportamento
discriminatório (a não ser que o empregador esteja a assediar todos os empregadores). São
comportamentos lesivos da esfera mais íntima da liberdade pessoa: quer da dignidade, da
liberdade, da liberdade sexual, quer do direito a exercer a sua atividade de forma não
constrangida. Claro que está aqui em causa a segurança do trabalhador.
A entidade empregadora dispõe do poder de dirigir, conformar, controlar e fiscalizar a
atividade dos respetivos trabalhadores. Ponto é que, contudo, o exercício destes poderes
empresariais se processe de acordo com a boa fé, não originando constrangimentos ao
trabalhador, não afetando a sua dignidade, não lhe criando um ambiente intimidativo, hostil,
degradante, humilhante ou desestabilizador.
Duradouro
Reiterado
Persistente
Intencional: há um objetivo;
Não intencional: há apenas um efeito.
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Confere ao trabalhador lesado o direito a ser indemnizado pelos danos
patrimoniais e não patrimoniais sofridos (artigo 29º, nº4 CT);
Pode dar azo ao despedimento com justa causa do autor do assédio;
Constituirá justa causa de resolução do contrato por iniciativa do trabalhador;
Relacionado com a liberdade sexual e com a diferença de género, temos o artigo 30º e
o artigo 31º, refletem uma garantia especial sobre a tutela da igualdade e da não
discriminação por razões do género e da orientação sexual.
Todo o nosso direito assenta neste paradigma. Todas as outras relações ditas “especiais”
diferem em alguma destas coisas, ou em ambas. Quando a lei se refere às modalidades do
contrato de trabalho, nos artigos 139º CT e seguintes, refere-se a essas relações especiais do
trabalho, diferentes das paradigmáticas (de trabalho indeterminado ou completo).
Estas normas especificas têm uma natureza imperativa relativamente à fixação das
figuras especiais do contrato, pois estas figuras estão constituídas taxativamente. Não podem
ser criadas novas relações especiais de trabalho, apesar das que existem são flexíveis. Além de
taxativas, têm caracter excecional (embora os dados estatísticos pareçam discordar).
Vamos analisar os contratos a prazo.
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segurança, pois entende-se que segurança é uma pessoa assumir um contrato com duração
indeterminada e ser estável (direito à segurança no trabalho: artigo 73º CT).
Se o contrato a termo põe em causa um princípio/direito fundamental, porque é que não
é avaliado constitucionalmente? Porque às vezes as empresas têm atividades esporádicas e/ou
temporárias e compreende-se que devem poder contratar trabalhadores para satisfazer essas
necessidades. Numa economia de mercado, regulada pela oferta e pela procura, estas situações
são frequentes. Há aqui um grau de discricionariedade do empregador, que vai determinar se,
depois de satisfeita a necessidade esporádica, o trabalhador contratado a termo poderá trabalhar
de forma permanente. Esta discricionariedade é controlada obrigatoriamente, claro.
Por exemplo: quando o empregador tem uma necessidade temporária, de aumentar a
produção e sabe que os trabalhadores ao seu serviço não conseguem dar resposta, compreende-
se que possa contratar temporariamente.
A lei estabelece critérios parcialmente diferentes para a contratação a termo certo e para
a contratação a termo incerto, como veremos adiante.
Em termos quantitativos, o termo certo é muito mais frequente.
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Este número vem a ser complementado pelo número 2 do mesmo artigo, que fornece
uma enumeração exemplificativa daquilo que se entende por “necessidade temporária da
empresa”. Ou seja, a nossa lei fixa aqui os fundamentos para essa contratação a termo. Esta
regulação das situações que legitimam a contratação a termo são um reflexo do princípio da
segurança: há uma liberdade, mas esta está fundada em situações que a lei tipifica.
É claro que a descrição do número 2 é de tal modo ampla que abarca quase todos os
tipos de necessidades, correndo-se o risco de que “sejam temporárias as necessidades que o
empregador defina como tais”.
E, além das situações previstas no número 2, as “situações clássicas”, em que o contrato
a termo surge como instrumento privilegiado de satisfação de necessidades temporárias, este
pode ainda surgir, de acordo com o número 4, como:
Um critério explicito na alínea a) é que, quando temos uma nova atividade, a lei facilita
uma contratação. Isto porque, quando uma empresa se constitui, a empresa dura a até o mercado
permitir que ela dure. A atividade é incerta. A lei pretende facilitar este tipo de investimento
nas empresas porque vai permitir que, na possibilidade recorrente de uma nova atividade ou
uma nova empresa, todos os trabalhadores sejam contratados a termo, uma vez que, sendo
contratados a termo, os benefícios que terão depois com as compensações se o contrato vier a
terminar, serão diferentes. Temos aqui uma restrição ao princípio da segurança em nome do
fomento do investimento. Claro que muitas empresas irão falir, mas outras também irão
prosperar. E, de qualquer dos modos, o que se pretende é mitigar os riscos de abrir uma nova
empresa e incentivar ao desenvolvimento.
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140º e do artigo 145º, estas normas só podem modificadas por instrumentos legais, não por
contratação coletiva. São normas não dispositivas e imperativas absolutas.
Há dois elementos que são mais relevantes: um contrato tem de ter uma data de início
do trabalho e, se for um termo certo, uma data da terminação; se for a termo incerto, a indicação
do acontecimento; além disso, cada contrato tem de discriminar também um fundamento
específico, dentro daquelas necessidades objetivas tipificadas no número 2 ou no número 4 do
artigo 140º. E não só: deve ser feita indicação expressa dos factos que integram (do motivo da
contratação). A fundamentação é individualizante, deve ser ad hoc. É preciso declarar no
contrato que contratamos por motivo x e y. Este é um motivo pelo qual muitos contratos a
termo são inválidos.
Quer do ponto de vista material, quer do ponto de vista normal, o legislador pretende
não tornar a contratação a termo uma coisa sem controlo, mas sim limitada objetivamente.
4.1.3. Duração
O contrato tem uma duração pré-determinada pelas partes, sendo que esta pode ser certa
ou incerta. A lei admite e compreende que as partes convencionem a duração de um contrato a
termo, mas esse período convencionado terá de respeitar as balizas legais.
Quando o empregador pretende contratar a termo certo por duração inferior a seis
meses, a lei impõe dois cuidados:
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O contrato só pode ser celebrado em situação prevista em qualquer das alíneas
a) a g) do número 2 do artigo 140º CT;
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Nos contratos a tremo incerto há uma maior instabilidade para o empregador no sentido
de saber quando termina a necessidade. Para estes casos, a duração tem um regime especial de
caducidade de contrato: Artigos 147º, nº2, al. c); 345º CT.
Em suma, temos 3 regimes de duração: regime normal (para o termo certo e para o
termo incerto); regime de contratos a termo certo inferiores a 6 meses; e regime de contratos
de muito curta duração. Não se considera como regime de duração o que falamos para os
contratos a termo incerto porque estes caem sobre um regime de caducidade que vermos mais
tarde.
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O artigo 143º estabelece que o empregador que tenha celebrado um contrato a termo e
que esse tenha cessado, não pode celebrar um contrato a temo para o mesmo posto de trabalho,
sem ter decorrido metade do tempo da cessação do contrato.
AULA DE 17/10/2019
4.1.6. Caducidade dos contratos a termo
4.1.6.1. Caducidade dos contratos a termo certo
Está regulada no artigo 344º CT.
Uma vez que o contrato foi fixado por um prazo temporal, vencido este, o contrato
caduca. No entanto, aqui a figura da caducidade não opera nos moldes tradicionais. Nos
contratos em geral, o contrato caduca automaticamente. Nos contratos de trabalho a termo certo
temos uma peculiaridade: o contrato, para caducar, está dependente de uma comunicação do
empregador ou do trabalhador à outra parte.
Ou seja, a caducidade não opera aqui automaticamente, carecendo de ser acionada pelo
sujeito nela interessada. Isto é, nos termos do artigo 344º, o contrato só caduca no final do
prazo estipulado quando que o empregador ou o trabalhador comuniquem à outra parte essa
vontade 15 ou 8 dias antes, respetivamente (denuncia escrita com aviso prévio). Ou seja, quer
o empregador, quer o trabalhador, têm de avisar com antecedência a sua vontade.
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O contrato, vencido o respetivo prazo, se não for denunciado pela entidade empregadora
ou pelo trabalhador, renova-se. Portanto, a caducidade tanto pode operar no primeiro contrato
como num contrato sucessivo.
Caso o contrato a termo certo caduque por iniciativa do empregador, é justo que o
trabalhador seja compensado pela perda do emprego, em cuja continuidade estava interessado.
O trabalhador, nestes moldes, tem direito a compensação correspondente a 18 dias de
retribuição base e diuturnidades por cada ano completo de antiguidade, nos termos do artigo
366º CT.
Caso o contrato caduque em virtude de declaração do trabalhador, a lei já entende que
aquela compensação não lhe será devida, pois a perda do emprego deve-se aqui à decisão do
trabalhador.
Há uma omissão no artigo 344º no que toca à compensação do trabalhador nos casos
em que as partes inserem no contrato uma cláusula de caducidade automática (artigo 149º, nº1
CT). Nesta hipótese, o contrato caducará pelo simples decurso do prazo, sem prévia
comunicação de qualquer um dos sujeitos. O professor Leal Amado julga que o trabalhador
terá na mesma direito à compensação prevista no nº2 do artigo 344º. Aqui temos de apelar à
interpretação racional. A inclusão desta cláusula de caducidade no contrato dever-se-á, na
maior parte das vezes, à vontade da entidade empregadora, à qual o trabalhador se limita a
aderir. Ou seja, neste caso, o contrato caducará também por vontade do empregador. E, mais
ainda, a lei não parece ter criado esta compensação em ordem a compensar a frustração de uma
legítima expectativa do trabalhador, a expectativa de renovação do seu contrato a termo, mas
antes concebeu a lei esta figura de um modo mais lato, em vias de compensar o trabalhador
pela perda do seu emprego. É isto que justifica que este seja compensado na mesma no caso de
uma cláusula de caducidade automática.
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legislador não associa ao incumprimento pré-aviso a mesma consequência no contrato incerto
que associa no termo certo. No caso do termo incerto, se o trabalhador não respeitar os prazos
de pré-aviso, o contrato não se converte imediatamente. O que passa a haver é um dever de
indemnizar o trabalhador pelo não cumprimento do prazo.
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Neste período experimental vigora o princípio da segurança, mas vigora numa vertente
mais relaxada. Isto porque a lei confere ao período experimental (que já decorre dentro da
execução do contrato) uma particularidade: durante o período experimental qualquer das partes
pode por fim ao contrato sem qualquer fundamentação. Isto é, pode denunciar o contrato sem
aviso prévio, com a exceção do nº4 do artigo 114º CT, e sem invocação da justa causa, não
havendo lugar a qualquer indeminização ou consequência.
Verdadeiramente, não há aqui segurança no emprego. Mas não há uma liberdade total,
porque não podem ser invocados motivos discriminatórios (despedir a trabalhadora porque esta
engravidou não cabe aqui, por exemplo). Não é preciso nenhuma fundamentação, mas não pode
haver motivo discriminatório. E porque é que hiberna aqui o princípio da segurança? Porque,
sendo um período de prova, o empregador vai avaliar o trabalhador e pode concluir que, afinal,
este não corresponde à sua necessidade (o empregador aprecia negativamente o trabalhador).
Do lado o trabalhador passa-se a mesma coisa, este vai-se adaptando ao ambiente de trabalho,
à sua função e aos seus colegas e pode decidir que não corresponde o emprego às suas
expectativas.
Este relaxamento excessivo do princípio da segurança não deixa de poder ser abusado.
O nosso legislador, na verdade, fomenta esse abuso. E com a legislação atualizada este ano
fomenta-o ainda mais.
Não será isto inconstitucional?
Durante o período experimental, a lei permite aquilo que a CRP proíbe no seu artigo
53º: o despedimento sem justa causa. O período experimental traduz-se, na verdade, num
instituto que coloca o trabalhador numa posição de extrema vulnerabilidade, visto que, ao longo
desse período, vigora a regra do “despedimento livre”. Quer isto dizer que o período
experimental é inconstitucional? Não, mas encontra-se no limiar de inconstitucionalidade. Isto
porque o período experimental surge como um instituto vocacionado para reduzir o risco
empresarial, conferindo ao empregador e ao trabalhador a possibilidade de verificar a
posteriori aquilo que não são capazes de verificar a priori (no processo de recrutamento). Aqui,
o que salva esta figura da inconstitucionalidade, é a sua duração, a qual deve respeitar o
princípio da proporcionalidade: o período experimental só deve existir durante o espaço de
tempo necessário para se verificar se o trabalhador possui ou não as qualidades requeridas para
o desempenho do cargo para o qual foi contratado.
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Tratando-se de um contrato a termo: durará 30 ou 15 dias, consoante a duração
do contrato atinja, ou não, os 6 meses;
Onde as coisas são inconstitucionais é no que toca período experimental de 180 dias
para desempregados de longa duração e para quem está à procura do primeiro emprego, leia-
se, primeiro emprego sem termo.
A norma foi objeto de muitas críticas, porque não está aqui em causa se estes
trabalhadores são bons ou maus. A lei expressamente admite, por razoes subjetivas, que o
contrato destes trabalhadores possa cessar sem qualquer fundamento técnico ou recompensação
num período até 180 dias. Porque é que isto é inconstitucional? Estes trabalhadores têm mais
dificuldades porque ou se trata de jovens sem experiência, ou de desempregados de longa
duração, que são maioritariamente pessoas de mais idade. E, portanto, esta norma traduz uma
discriminação em razão das pessoas e da sua capacidade profissional. É uma discriminação
subjetiva. Temos uma norma discriminatória que não fomenta o emprego (ou apenas o fomenta
até 180 dias).
No meio disto tudo o certo é que esta duração de 180 dias de período experimental tem
uma razão estatística: fica mal ao país dizer que tem muitos desempregados ou que tem muitos
trabalhadores com contratos de trabalho termo.
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Um jovem trabalhador com contrato sem termo e cujo primeiro contrato termine com o
fim do período experimental (neste caso, de 180 dias), já deixa de ser um trabalhador à procura
do primeiro emprego. Estes deixam de beneficiar do estatuto de discriminação positiva.
B. Poder disciplinar
O empregador, além de governar e legislar, tem o poder de julgar e punir, nos termos
do artigo 98º CT.
O poder disciplinar é um poder sensível, visto que, no âmbito das relações de trabalho,
admite-se que um privado possa impor sanções a outro privado. Ainda para mais é um privado
com interesse direito da relacao contratual e no possível conflito. Estamos perante um genuíno
poder punitivo privado.
Este poder constitui um desvio a dois princípios basilares do Direito: o princípio da
justiça pública e o princípio da igualdade das partes.
Infração disciplinar: violação, por culpa do trabalhador, de um dos seus deveres no
âmbito da relação laboral, os quais são elencados pelo artigo 128º CT. A lei prevê que o
empregador (particular afetado pelo comportamento do trabalhador), que é um juiz em causa
própria, deva ajuizar esse comportamento.
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O arsenal sancionatório à disposição do empregador encontra-se estabelecido no artigo
328º, nº1 CT. No entanto, um instrumento de regulação coletiva de trabalho pode prever outras
sanções disciplinares, desde que não prejudiquem os direitos e as garantias do trabalhador.
Este poder de sancionar está restringido pela lei através de normas procedimentais.
Podemos verificar dois tipos de limites:
Limites processuais/procedimentais:
o Está sujeito à legalidade processo de despedimento por justa causa, não pode
simplesmente despedir um trabalhador sem fundo legal;
ii. Princípio non bis in idem: não pode ser aplicada mais do que uma
sanção pela mesma infração (artigo 330º, nº1, in fine CT);
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iv. Princípio da celeridade: o trabalhador não deve ficar sujeito, por
longo período de tempo, à ameaça de vir a ser punido pelo empregador
(artigo 329º e nº3 do artigo 330º CT).
Limites temporais:
o Quanto aos prazos: uma infração disciplinar (grave ou não grave) não deve
acompanhar indefinidamente a vida do trabalhador nesse emprego. Logo, há
prazos. Passados estes prazos, a infração deixa de ser relevante do ponto de
vista disciplinar. Não se pretende que a infração afete toda a vida do contrato
de trabalho, nem o seu desenvolvimento
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Ao trabalhador cabe sempre o recurso hierárquico ou o recurso judicial. O empregador
não só faz de ministério público como faz de juiz. Naturalmente, acima do trabalhador na
empresa não há ninguém, portanto o meio de defesa aqui será o recurso judicial. No caso de
ter sido sancionado pelo superior hierárquico há sempre as duas possibilidades de recurso. De
todo modo, o recurso hierárquico não afasta o recurso judicial.
Ainda assim há um controlo legal: nº1, artigo 331º CT (sanções abusivas). A própria
lei introduz, de certa forma, alguma restrição à falta de prudência do empregador. Estas
restrições estão diretamente relacionadas com a tutela de garantias do trabalhador. Porque é
que a lei considera estas sanções abusivas? Porque todas elas têm que ver com a defesa do
trabalhador e põe em causa as suas garantias (artigo 129º CT).
A lei também estabelece uma presunção de sanção abusiva (nº2 do artigo 331º CT): o
trabalhador é sancionado por uma falta, mas, se essa sanção tiver lugar até 6 meses depois dos
factos mencionados no nº1 do mesmo artigo, ou até 1 ano após a denúncia, presume-se o abuso.
AULA DE 18/10/2019
C. Poder regulamentar
Regulamento interno (artigo 139º CT)
Funciona como uma proposta contratual.
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Algumas estão contempladas no nosso código, outras não. São abordadas em Direito
do Trabalho II (4º ano).
A partir dos artigos 150º e seguintes a lei regula os contratos de trabalho especiais:
Trabalho intermitente: tem em vista as empresas que exerçam a sua atividade com
intensidade variada ou com descontinuidade. Ou seja, tem uma atividade irregular
ao longo do ano. Pode, no entanto, haver nestas empresas períodos de não trabalho,
o que torna este tipo de contrato menos apetecível. É um tipo de contrato duradouro,
de certa forma. Se for um contrato sem termo, que é normalmente, tem este
problema a nível económico;
Comissão de serviço out: alguém que não pertence à empresa é contratado para a
comissão de serviço.
Teletrabalho: é uma atividade a realizar por meio dos meios de comunicação. Por
outro lado, é uma atividade que não é prestada no local de trabalho habitual
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(habitualmente fora da empresa). É caracterizado pelo meio de trabalho e pelo local
de trabalho;
AULA DE 24/10/2019
7. OBJETO (QUID) DO CONTRATO DE TRABALHO
(páginas 197 a 200 do livro do Professor Leal Amado)
A estabilidade do objeto laboral tem algum interesse e é objeto de proteção entre os
artigos 115º a 120º do CT. Isto porque a mutação desse mesmo objeto, a atividade laboral, pode
criar no trabalhador situações de inabilidade para exercer essa atividade. Daí que o princípio
geral entre nós seja aquele plasmado no artigo 115º, nº1: aquando da celebração do contrato de
trabalho, as partes devem determinar por acordo o conjunto de tarefas ou serviços
concretamente definidos ou individualizáveis que o trabalhador irá prestar.
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dicionário dessas categorias, especificando as funções adstritas a cada uma. No entanto, a
empresa também pode especificar as funções de cada categoria.
A lei acautela também as situações em que o objeto da atividade laboral implica a
prática de negócios jurídicos: o contrato de trabalho confere legitimidade aos trabalhadores
para negociarem em nome da entidade empregadora (em nome de outrem), se assim for
necessário.
No exercício da atividade do trabalhador, o empregador dirige e o trabalhador deve
submeter-se de acordo com essas ordens (dentro do exigível pela boa fé). No entanto, há
atividades em que, por motivos técnicos, os trabalhadores devem gozar de alguma autonomia
ou independência técnica/deontológica de exercício maior e, nesses casos, o contrato de
trabalhado não a pode prejudicar em detrimento do poder de direção do empregador (artigo
116º CT). Por exemplo: profissão de médico, de enfermeiro, onde há deveres de
confidencialidade que a relação de trabalho não pode anular. Portanto, dentro da sua atividade
laboral, gozam dessa autonomia. Até porque não raras vezes o trabalhador é o que mais conhece
da sua profissão, da sua arte em específico, não se devendo ter de justificar por certas escolhas.
Há ainda determinadas atividades (e cada vez mais), que exigem carteira
profissional/título formação profissional para atestar as capacidades do trabalhador. Quer isto
dizer que estas atividades só poderão ser exercidas por quem tiver certa carteira profissional,
sendo esta um título habilitante para exercer aquelas funções. A lei considera que o contrato
celebrado por quem não tenha essa carteira profissional e/ou essa competência, é nulo, pois
essas competências são um requisito/elemento indispensável para o celebrar (são requisitos
legalmente indispensáveis), como consta do artigo 117º, nº1 CT.
Pode também acontecer o caso de o trabalhador, que inicialmente era titular de uma
carteira profissional, ficar sem a mesma. O contrato caduca por falta deste elemento essencial
(artigo 117º, nº2 CT).
Voltando à questão principal: os contratos devem ser cumpridos nos termos em que
foram fixados: nos termos do artigo 118º, nº1 CT, o trabalhador deve poder exercer as funções
para as quais foi contatado (princípio da estabilidade).
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pelas tarefas compreendidas na categoria e pelas funções que lhe sejam afins ou funcionalmente
ligadas.
Há ainda situações em que podemos ter uma mudança de categoria profissional, seja
para categoria inferior, ou superior. Se há uma mudança de categoria, há uma mudança de
condições de trabalho. Quando se trata de descida de categoria, em que há uma redução, por
regra, das relações de trabalho, a lei tem mais cuidado, tutelando esta situação no artigo 119º
CT. Isto porque pode haver aqui direitos que sofram uma restrição, por exemplo. Com efeito,
a lei estabelece alguns requisitos para a mudança para categoria inferior:
Tem de haver uma justificação objetiva: ou que tenha que ver com o trabalhador,
ou com o empregador. Ou seja, a mudança de categoria profissional para categoria
inferior não pode depender de uma mera vontade, mas de uma necessidade que se
pode verificar na esfera de uma qualquer das partes.
Além disso, essa mudança tem de ser autorizada pela autoridade das comissões de
trabalho. Ou seja, a verificação desse facto objetivo não pode ficar entre as partes,
pois a lei exige que uma entidade externa comprove que a situação de necessidade
se verifica (ou não).
E quando se é promovido? A lei não diz nada porque, normalmente, só surgem
vantagens para o trabalhador. Naturalmente que a subida de categoria, sendo proposta pelo
empregador, pode ser recusada pelo trabalhador, não querendo este exercer outras funções (não
podendo o trabalhador sofrer quaisquer sanções pela recusa).
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na empresa. Quando ele sobe na hierarquia, esta subida não pode comprometer a sua função
substancial na empresa.
Quando a lei alarga o âmbito às funções afins ou funcionalmente ligadas, a própria lei
engrossa o leque de prestações está obrigado, temos uma mudança definitiva. Por outro lado,
a modificação unilateral terá de ser temporária.
A justificação desta figura é, novamente, a exigência de flexibilidade empresarial, que
reclama que o trabalhador seja funcionalmente móvel.
No artigo 120º, nº1 CT, a lei prevê que as funções do trabalhador possam ser ampliadas,
ou ser reduzidas. Por exemplo, a mudança de categoria profissional, seja para uma mais ampla,
ou mais reduzida.
Há duas modalidades de mobilidade funcional: uma mobilidade temporária (até dois
anos) que decorre do contrato; modalidade funcional que altera a categoria, que decorre da lei.
Se a atividade de mobilidade é temporária, o trabalhador, no caso de mudança de
categoria, não adquire a categoria profissional a que essas funções estão ligadas (artigo 120º,
nº 5 CT). Há um limite de temporalidade para o exercício destas funções, que é de dois anos.
Se um trabalhador estiver mais de dois anos a exercer determinada função, então
adquire o título dessa categoria, pois entende-se que não se trata de algo temporário. Passamos
a uma modalidade funcional. Por outro lado, este prazo não significa que essa mudança não
se possa tornar definitiva antes do fim desses dois anos de acordo com a situação em causa. Ou
seja, não é necessário esperar esses dois anos para que a categoria seja alterada, poderá
acontecer antes. Tudo vai depender da mudança e da causa da mesma, tudo irá depender da
circunstância em causa.
Um outro aspecto que a lei estabelece é que: se a essa mudança temporária corresponder
uma atribuição superior, o trabalhador deve ter direito às condições mais favoráveis; pelo
contrário, se essa mudança corresponder a uma atribuição inferior, ele mantém a sua posição
original (artigo 120º CT). Ou seja, não pode esta mobilidade implicar uma retribuição inferior,
apenas superior.
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inamovibilidade: a entidade patronal, em princípio, não pode transferir o trabalhador para outro
local de trabalho (artigo 129º, nº1, al. f) e artigo 193º, nº1 CT).
Mas qual é a importância do local de trabalho? O local de trabalho condiciona muito a
vida pessoal do trabalhador, especialmente a sua vida familiar. Quando uma pessoa é
contratada para um determinado local de trabalho, tem de organizar a sua vida familiar de
acordo com o mesmo (põe os filhos na escola perto do local, compra uma casa, etc.).
A importância tem que ver, também, com a organização da vida do trabalhador em geral
(extraprofissional), pode não haver família envolvida.
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substancial. O problema é que não estão só em causa as horas de viagem, os trabalhares têm
outros deveres: levar os filhos à escola, trabalho em casa, etc. Felizmente, não há muitos casos
como estes enunciados, pelo que normalmente os trabalhadores conseguem facilmente resolver
o contrato.
Temos ainda a hipótese que consta do nº2 do artigo 194º CT: as partes pode alargar ou
restringir a possibilidade de transferência do local de trabalho (cláusula de mobilidade). Esta
norma origina alguma polémica, pois pergunta-se: “será admissível que este preceito coloque
a transferência individual do trabalhador à mercê do puro arbítrio da entidade empregadora?
Ou que estipule a total inamovibilidade do trabalhador, mesmo em caso de deslocalização do
estabelecimento onde presta serviço?”. Entende-se que a resposta a ambos casos deverá ser
negativa. Nem a mobilidade, nem a inamovibilidade, deverão ser absolutas. Através da
estipulação contratual que decorre do nº2 deste artigo, as partes poderão restringir ou alargar
as faculdades patronais da transferência, mas restringir é diferente de suprir totalmente e alagar
é diferente de dar total liberdade ao empregador.
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na produtividade da empresa. Como tal, ultrapassar estes limites também não interessa ao
empregador.
O período normal de trabalho (artigo 198º CT) é o período contratualizado pelas partes
inicialmente, é o período que o trabalhador se obriga a prestar, medido em número de horas
por dia e por semana (é o quantum da prestação). A determinação deste período normal cabe
às partes, mas não pode estas exceder, em princípio, os limites do artigo 203º, nº1 CT.
O trabalhador compromete-se a trabalhar 8horas por dia. Se este estiver sempre a
trabalhar efetivamente, não é difícil contabilizar horas. No entanto, isto nem sempre acontece.
Há trabalhadores que às vezes não têm trabalho suficiente para trabalhar 8 horas por dia,
ficando “de mãos cruzadas” (à espera de clientes, por exemplo). Esse tempo é contabilizado?
Sim, nos termos do artigo 197º, nº1 CT, considera-se prestação de trabalho quando o
trabalhador está disponível para trabalhar, não apenas quando está efetivamente a prestar
serviço:
Há um conjunto de pausas que a lei equipara ao tempo de trabalho, as quais a lei vem a
enumerar no artigo 197º, nº2 CT.
Em suma, a lei não distingue entre o tempo de disponibilidade para trabalhar (períodos
de inatividade) do tempo de trabalho efeito. Temos períodos de não trabalho que a lei equipara
a período de trabalho, devendo ser contabilizados para efeito das 40 horas/8horas.
Tudo o que não seja tempo de trabalho, a lei considera tempo de descanso (artigo 199º
CT). Considera-se tempo de descanso os períodos nos quais o trabalhador não está disponível
para trabalhar do ponto de vista contratual: quando o trabalhador não tem o dever de estar
disponível para trabalhar. Hoje este conceito não é uma hoje realidade, pelo que se exige, com
as novas tecnologias, que o trabalhador esteja quase sempre disponível.
Depois há uma outra noção, que é o horário de trabalho (artigo 200º CT). Em que
partes/horas do dia se trabalha? Em que dias se trabalha? Como é que se distribuem essas 40
horas semanais? O horário de trabalho determina as horas de início e termo do período normal
de trabalho diário e do intervalo de descanso, bem como do descanso semanal (o quando da
prestação). O horário de trabalho está regulado entre os artigos 212º e 217º do CT.
O horário de trabalho também condiciona muito a vida e, especialmente, a rotina do
trabalhador. O horário diário não deve implicar o esgotamento da energia do trabalhador, que
se leva ainda à perda de produtividade de trabalho.
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O horário de trabalho está, claro, limitado pelo período normal de trabalho (artigo 198º
CT) estipulado pelas partes. Se as partes estipularam que o trabalhador trabalharia 6 horas por
dia, o horário tem de refletir e organizar essa estipulação.
Entre nós há um preceito clássico, que surgiu agora em Espanha e está a dar que falar,
que é o registo do tempo de trabalho (artigo 202º CT): o empregador deve manter o registo
dos tempos de trabalho com a indicação das horas de início e de termo de trabalho, bem como
das interrupções ou intervalos que nele não se compreendam, de forma a permitir apurar o
número de horas de trabalho prestadas por trabalhador por dia e por semana (nº2 do artigo 202º
CT). Os trabalhadores isentos de horário de trabalho também devem manter um registo (nº1 do
artigo 202º CT). Depois há ainda o registo do tempo de trabalho suplementar, do qual vamos
falar mais tarde. O registo está relacionado com dois aspetos: controlo da duração da atividade
do trabalhador pela entidade empregadora; também é vantajoso para o trabalhador, que fica a
saber se têm débitos ou créditos relativamente à entidade empregadora.
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que, com menos trabalhadores, satisfaz as necessidades normais ao fim de semana. A lei apenas
admite isto para estes trabalhadores que são contratados para suprir a ausência dos
trabalhadores semanais que estão em período de descanso.
No artigo 210ª a), há duas expressões que precisam de ser complementadas: “em
relação ao trabalhador de entidade sem fim lucrativo ou estritamente ligada ao interesse
público em sentido técnico-jurídico, desde que a sujeição do período normal de trabalho a
esses limites seja incomportável do ponto de vista económico”. Ou seja, só se podem praticar
estes horários excecionais quando o recurso às 8h seja incomportável do ponto de vista
económico no caso de a entidade empregador não ter fins lucrativos ou ter interesses públicos.
O artigo 210º não determina uma faculdade livre, mas uma faculdade discricionária. O
professor crê que a lei permite que as dificuldades económicas/financeira da instituição
“sobrem para os trabalhadores”, que têm de suportar períodos de trabalho superiores ao limite
legal, podendo não auferir mais por isso.
AULA DE 25/10/2019
9.1.2. Exceções temporárias
Isto ocorre porque o modelo comum de prestação de trabalho, por exemplo, 8 horas de
trabalho, de segunda à sexta, perfazendo isto 40 horas por semana e descansando ao sábado e
ao domingo, é muito pouco flexível às flutuações produtivas sentidas pelas empresas de hoje,
vi-o que, se a empresa necessitasse de maior volume de trabalho durante um certo período de
tempo, então teria de contratar mais trabalhadores ou, em alternativa, recorrer ao trabalho
suplementar, sempre com custos inerentes.
Há certas modalidades, portanto, em que o trabalhador pode ultrapassar as 40 por
semana ou as 8horas por dia, mas, no final deste período excecional, chamado período de
referência, não pode o trabalhador ter trabalhado mais do que a média das 8horas por dia ou
40horas por semana.
Temos, então, a figura da adaptabilidade do tempo de trabalho: permite que o
período normal de trabalho seja definido em termos médios, com base num período de
referência alargado (isto é, não semanal). A adaptabilidade permite, portanto, adaptar o período
normal de trabalho às necessidades da empresa. O empregador pode aqui redistribuir o tempo
de trabalho devido pelo trabalhador num determinado arco temporal, designado por período de
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referência, concentrando numa parte deste algum tempo de trabalho que deveria ser prestado
na outra.
Ou seja, o trabalhador poderá prestar, por exemplo, 50 horas de trabalho em algumas
semanas, compensadas com a prestação de 30 horas noutras semanas. Assim, o período de 40
horas semanais continua a ser respeitado e consegue-se adaptar a prestação de trabalho às
necessidades da empresa. No global (e em média) não se trabalha, como vimos, nem em
trabalhar mais, nem menos.
O período de referência (artigo 207º CT) é adotado em regime de adaptabilidade.
Chama-se período de referência porque a duração média de trabalho em regime de
adaptabilidade deve ser apurada por referência a período estabelecido em instrumento de
regulamentação coletiva de trabalho que não seja superior a 12 meses ou, na sua falta, a um
período de quatro meses, como consta do número 1º deste artigo,
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(artigo 204º, nº1). Depois o número 2 do mesmo artigo estabelece uma contemporização desse
limite.
Período da referência (artigo 207º): a convenção coletiva pode prever adaptabilidade
coletiva, no período máximo de 12 meses. Se a convenção não disser nada, mas prever a
adaptabilidade, entende-se que a lei entende o período superveniente de 4 meses. O número
dois do mesmo artigo comporta uma exceção a esta regra, estendendo o período de referência
para 6 meses.
A adaptabilidade individual resulta de um acordo entre a entidade empregadora e o
trabalhador, que deverá prever o aumento do período normal de trabalho diário até duas horas
e que o trabalho semanal possa atingir as 50horas. Este acordo pode ser celebrado mediante
proposta do empregador, por escrito, presumindo-se a aceitação do trabalhador que a ela não
se oponha nos 14 dias seguintes ao conhecimento da mesma (nº4 do artigo 205º CT). Acontece
que esta será das formas mais adequadas para manifestação da livre vontade do trabalhador,
pelo que se entende que esta não deixa de colocar os pratos da balança num plano diferenciado.
A adaptabilidade grupal é uma adaptabilidade por secções de empresa, pretende-se a
adaptabilidade grupal da empresa na sua globalidade. Às vezes compreende-se que nem todos
os grupos funcionem em harmonia e faz sentido este tipo de regime.
Uma das consequências da adaptabilidade é que, para o trabalhador, nos dias em que é
ultrapassado o seu tempo normal de trabalho, não há rendimentos acrescidos. Isto é, se forem
acrescentadas horas de trabalho, o empregador não paga mais ao trabalhador por isso.
Simplesmente, este tempo a mais tem de se recuperado em tempos de descanso, o trabalhador
poderá trabalhar posteriormente apenas 6 horas, por exemplo, ou ter uma folga. A esta variação
não corresponde despesa salarial acrescida para o empregador, nem supõe perda de retribuição
normal. Além disso, a adaptabilidade tem também repercussões em matéria de conciliar a vida
profissional com a vida familiar e pessoal.
Daí a que o instituto da adaptabilidade grupal, previsto no artigo 206º, seja
problemático: permite que o empregador aplique este regime a um trabalhador que não o
queira, não o aceita e que não está abrangido pelo Instrumento de regulação coletiva que o
instituiu.
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compensação do trabalho prestado em acréscimo pode ser feita de várias formas, não só a
redução equivalente do tempo de trabalho em momento posterior, mas também através do
pagamento em dinheiro por essas horas, ou até através do aumento do período de férias do
trabalhador. Admite-se ainda que possa ser o trabalhador a escolher a compensação por via da
redução do tempo de trabalho (artigo 208º, nº4, c) CT). Na falta de escolha do trabalhador da
forma como quer ser compensado, quem escolhe é o empregador, sendo que apenas decide em
última instância.
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empresa não normal. Agora já há estas outras modalidades nomeadamente o banco de horas e
a adaptabilidade.
O regime da isenção de contrato de trabalho só pode ser admitido por acordo escrito e
nas situações previstas no artigo 218º, nº1 CT, apesar de o instrumento de regulamentação
coletiva de trabalho poder prever outras situações de admissibilidade.
Este regime tem de especial 3 modalidades de isenção, previstas no artigo 219º CT:
Isenção total de horário (não sujeição aos limites máximos de período normal de
trabalho);
O trabalhador isento de horário não ganha, antes perde autodisponibilidade. Isto porque
o horário de trabalho é o instrumento que baliza a situação de disponibilidade do trabalhador,
que sabe que, fora desse horário, não terá de se sujeitar ao poder diretivo do empregador e
prestar-lhe a correspondente atividade laboral. Daí que a lei só admita a isenção num círculo
relativamente limitado de situações, prevendo o direito a uma retribuição especifica para o
trabalhador isento de horário, para compensar a disponibilidade acrescida que lhe é exigida
(artigo 265º CT).
Note-se que a isenção do horário de trabalho é uma situação reversível. Os termos desta
reversão de condições dependerão daquilo que as partes tenham estabelecido a esse propósito:
se o acordo estiver sujeito a um termo resolutivo, não será possível a cessação antecipada do
mesmo por decisão unilateral de qualquer dos sujeitos; não existindo qualquer termo, qualquer
uma das partes poderá fazer cessar a todo o tempo, contando que o comunique à outra parte
com a antecedência exigida pelo princípio da boa fé.
AULA DE 31/10/2019
9.3. Trabalho por turnos
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O trabalho por turnos tem lugar sempre o período de funcionamento for superior ao
período normal de trabalho, devendo, portanto, ser organizados turnos de pessoal diferente
(artigo 220º e 221º CT.)
Há duas modalidades de trabalho por turnos (apesar da lei apenas se referir de uma
forma geral a essas modalidades):
a) Turnos fixos: tendo uma empresa duas ou mais equipas, os turnos serão fixos
sempre o trabalhador estiver em atividade sempre às mesmas horas, isto é, quando
o trabalhador tiver um horário de trabalho normal. O trabalho por turnos fixos não
tem especificidade em si mesmo, não levanta qualquer problema em relação ao
trabalho normal.
Uma rotação de turno longa anda à volta de uma semana e uma rotação curta está
entre os 3 e 4 dias. Ou seja, em certas empresas, os trabalhadores mudam de turno
de 3 em 3 dias, ou de uma em uma semana, aproximadamente. Curiosamente, os
turnos de curta duração desgastam menos do que os de longa. E porquê? Por causa
do trabalho noturno, que é aquele turno em que o organismo tem de suportar um
maior sacrifício de adaptação.
A nossa lei, além da regra já vista (de que a mudança de turno tem de ser precedida
pelo dia de descanso semanal), também estabelece algumas medidas de proteção da
saúde no artigo 222º CT, ordenando ao empregador a organização de atividades de
saúde e segurança no trabalho (exames médicos mais frequentes, etc.). No entanto
não reconhece alei qualquer retribuição especial ou subsídio a estes trabalhadores,
salvo se tal estiver previsto em instrumento de regulação coletiva de trabalho.
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Depois há uma nova questão (que o professor não vai falar, é uma curiosidade): quando
é que deve ocorrer o descanso semanal? Parece que agora se deve entender que a contratação
coletiva pode fixar turnos de 7 a 9 dias, o que significa que a cada período de 7 dias a 9 dias, o
trabalhador goza de um novo descanso. Ou seja, num período de 14 dias, se for o turno fixo de
7, tem de gozar de 2 dias de descanso.
Nos termos da lei, o período que define o trabalho noturno é o período que decorre entre
as 22h de um dia e as 7h do dia seguinte. Esta definição apenas se aplica, como já vimos,
subsidiariamente à designação em convenção coletiva.
Nos instrumentos de regulação coletiva a lei admite uma maior flexibilidade nesta
definição, havendo apenas duas particularidades: o perídio de trabalho noturno tem uma
duração mínima de 7 horas e uma duração máxima de 11 horas, tendo sempre de compreender
o período entre a meia noite e as cinco da manhã (artigo 223º, nº1 CT). Se a convenção adotar
o critério das 7horas (duração mínima), sabendo que o período da 00h00 até às 5h tem que estar
incluído, podem considerar que o trabalho começa às 10h e acaba às 5h ou que começa á 00h00
e acaba às 7h, por exemplo.
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prestando antes, depois ou no meio (se houver intervalo de descanso). Todo o trabalho que está
fora do período normal de trabalho e que está fora daqueles regimes de flexibilidade que vimos
(que está além da duração destes), é trabalho suplementar. É ainda trabalho prestado nos dias
de descanso, nos feriados e nas férias.
O artigo 226º, nº3 prevê alguns tipos de trabalho prestado que não se compreendem na
definição de trabalho suplementar (vamos apenas ver algumas):
Trabalho prestado em isenção de horários: é uma modalidade, a mais comum,
em que não há limites de tempo de trabalho. Originalmente, era única que a lei
previa como trabalho não suplementar. Nesses casos, o trabalho além dos máximos
legais não é considerado trabalho suplementar. Se o critério para considerar o
trabalho suplementar é o trabalho extra-horário de trabalho, compreende-se que, se
não houver horário, então não há trabalho suplementar;
As pontes de trabalho: quando há feriado à quinta, por exemplo, muitas vezes não
se trabalha à sexta, apenas à segunda. Essa sexta feria, sendo período normal de
trabalho, poderá ser compensada noutros dias, pelo que a lei admite que seja
compensada como trabalho normal, apesar de ser prestada fora do período normal
de trabalho, não sendo trabalho suplementar;
Como é claro, o trabal trabalho suplementar tem carácter excecional, daí que a sua
fundamentação tenha que ser objetiva, tem que radicar em interesses relacionados com a
produtividade da empresa. Há então duas causas que o justificam (artigo 227º CT):
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toca ao trabalho suplementar por causa de necessidade, a lei estabelece limites diários e anuais,
nos termos do artigo 228º CT. Esses limites dependem da direção da empresa e do tipo de
contrato (a tempo parcial ou a tempo completo), ou se o trabalho é prestado em dia normal ou
em dia de descanso. Admite-se também que estes limites legais, só o são, se as partes não
convencionarem outros, mais curtos ou mais alargados. Os limites legais são supletivos, podem
ser afastados por acordo individual ou por convenção coletiva em contrário.
Quer tudo isto dizer que não basta um simples acordo do trabalhador para legitimar o
recurso a este tipo de trabalho, sendo necessário que se verifique uma destas causas objetivas.
Entre nós, o trabalho suplementar é obrigatório (artigo 227º, nº3). Isto não deixa de ser
um bocadinho anómalo, mas é a regra entre nós. Quer dizer, o empregador determina e o
trabalhador cumpre. O trabalhador determina porque, note-se, é este quem determina as
necessidades da empresa. Há uma exceção da obrigatoriedade deste trabalho, qie consta do
artigo 227º, nº3: o trabalhador não estará obrigado a prestar o trabalho suplementar, quando,
havendo motivos atendíveis, este expressamente solicitar a sua dispensa. Contudo, o
empregador terá de concordar com a atendibilidade do motivo que o trabalhador expressa. Se
o empregador não o aceitar, o trabalhador não está dispensado. Note-se, no entanto, que motivo
atendível é um conceito indeterminado. Sendo assim, sendo uma faculdade atribuída ao
empregador, esta regra não servirá de muito, sendo que se exerce aqui apenas um poder no
âmbito do poder de direção do empregador. Daí que o professor discorde com a letra da norma.
Todavia, a aceitação da mesma tem sido a doutrina maioritária.
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não devia poder estar mais. Pode-se remeter aqui a questão para o direito administrativo. Há
aqui esta relativa indefinição.
Outra regra entre nós consagrada neste âmbito é o registo do trabalho suplementar
(artigo 231º CT). Isto justifica-se pelas implicações que este tipo de trabalho tem a nível do
descanso do trabalhador, a nível do cumprimento dos limites de duração de trabalho e até a
nível tributário. Presume-se, claro, que o registo corresponderá à verdade.
Complementar: por convenção coletiva ou por contrato de trabalho pode ainda ser
instituído um período de descanso semanal complementar, como consta do número
3 deste artigo. Geralmente, este dia é o Sábado.
Note-se que o trabalho semanal deve ser interrompido durante, pelo menos, 24h, às
quais se somam as normais 11h de descanso diário. A lei, pela conjugação destes dois direitos,
acaba por garantir um descanso semanal obrigatório de 36 horas.
Quando a lei fala de um dia de descanso, parece que se deve entender o “dia” como o
período das 0h às 24h. Significa isto que o descanso não pode começar às 22h e acabar às 22h
do outro dia.
Nos termos do artigo 232º, nº2, a regra entre nós é que o descanso semanal obrigatório
seja ao domingo. Todavia, o mesmo artigo enumera um conjunto de atividades nas quais o dia
de descanso semanal obrigatório pode não ser o domingo: por exemplo, no caso de trabalho
por turnos. Se o descanso semanal obrigatório não for ao domingo, há duas implicações: a ideia
de regularidade perde-se (se o descanso é ao domingo, sabe-se que, de 7 em 7 dias, há um
período de descanso, a regra é 6+1, ou seja, 6 dias de trabalho consecutivos, no qual estão
incluídos os feriados, e depois um de descaso); o trabalho ao domingo é prestado como trabalho
normal, não é suplementar e, como tal, não implica uma remuneração acrescida.
Como já vimos, a lei impõe a cumulação do descanso semanal com o descanso diário
(as tais 11horas), contudo, esta regra não é aplicada nos casos do nº3 do artigo 233º. O que é
que significa isto? Que os trabalhadores que ocupam cargos de administração, como consta da
alínea a) deste número, não têm direito a descansar? Entende-se que estes trabalhadores
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indicados no nº3 do artigo 233º efetivamente não tem direito às 36horas (24h + 11h), mas
parece ao professor que estes tenham, pelo menos, direito às 24h.
9.7. Feriados
Os feriados estão enumerados no artigo 234º e seguintes. Os feriados estão associados
a acontecimentos marcantes, sejam sociais, religiosos ou nacionais. Estes feriados consagrados
na lei são-no a título imperativo, pelo que fontes inferiores não os podem remover, nem
estabelecer feriados diferentes. Podemos ter dois tipos de feriados:
Feriados obrigatórios: há 13 feriados obrigatórios, os quais tratam de um
acontecimento que interessa a toda a sociedade em geral (acontecimento global).
Este dia comemorativo (note-se que não é um dia de descanso) abrange,
naturalmente, empregadores e trabalhadores. Há um direito de os trabalhadores não
comparecerem ao trabalho e de os empregadores a fecharem o
estabelecimento/empresa. O feriado tem estas duas vertentes: é oponível tanto ao
trabalhador como ao empregador. Claro que estamos fartos de ver que as empresas
continuam a trabalhar nos feriados, mas estas têm, nesses casos, de solicitar uma
autorização.
Depois há casos em que a lei admite, dependendo da localidade, que a 6ª feira Santa
possa não ser gozada na sexta feira mesmo, mas noutro dia. Tal como o dia de natal,
dependendo da zona, pode não ser comemorado no dia 25 como no dia 26 (porque
antigamente muitos dos pais de família, que trabalhavam no porto, demoravam um
dia a chegar a casa, sendo que no dia 24 se trabalhava, só chegavam no dia 26).
Feirados facultativos: estes têm de ser previstos. A terça feira de carnaval, por
exemplo, é facultativo, mas tem de ser sempre previsto, ou por convenção ou por
contrato individual. É uma faculdade. Também há um feriado municipal, por
exemplo (comemoração do município), o qual também tem de ser previsto.
Quanto à remuneração dos feriados, consta do nº1 do artigo 269º CT, que o trabalhador
tem direito à retribuição correspondente ao feriado, sem que o empregador possa compensar
com trabalho suplementar.
9.8. Férias
As férias são um direito muito mais recente (séc. XX) do que o direito semanal (séc.
IV). Quando falamos em férias, falamos num período de descanso anual previsto,
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inclusivamente, na nossa Constituição no seu artigo 59º, nº1, al. d). Enquadra-se também em
motivos de saúde e de proteção do trabalhador. No nosso ordenamento jurídico, entende-se que
é necessária uma rotura prolongada do trabalho por uma questão de recuperação da capacidade
de trabalho. É este o papel que cabe às férias.
Por regra, as férias têm de ser gozadas no ano de vencimento. Ou seja, por exemplo, as
férias que o trabalhador gozar em Agosto de 2020, reportar-se-ão ao trabalho prestado ao longo
de 2019, tendo-se vencido esse direito em Janeiro de 2020. No entanto, são admitidas algumas
exceções a esta regra, as quais constam do artigo 240º, nº2 e nº3 CT.
A duração mínima legal do período anual de férias é de 22 dias úteis (nº1 do artigo
238º). Por dias úteis entende-se, neste âmbito, os dias da semana, de segunda a sexta,
excluindo-se os feriados, como consta dos 2 do artigo 238º CT. A lei criou esta uniformidade
em relação à matéria de conflito entre férias e feriados.
Apesar da lei estabelecer a duração mínima em 22 dias, esta também admite, no artigo
238º, nº5, que o trabalhador possa renunciar a dois dias dos 22. Quer isto dizer que, na verdade,
o trabalhador apenas tem de gozar 20 dias úteis.
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A regra consta do artigo 239º, nº1 CT: “no ano de admissão, o trabalhador tem direito
a dois dias úteis de férias por cada mês de duração do contrato, até 20 dias, cujo gozo ter
lugar após seis meses completos de execução do contrato”.
Note-se que este direito especial não afasta a regra geral. No ano de celebração do
contrato o trabalhador terá um duplo direito a férias: no dia 1 de janeiro, vence o direito especial
a férias e o direito normal a férias. Portanto, tendo o trabalhador direito a dois dias úteis de
férias por cada mês que trabalhe, tal significa que, no ano seguinte, se por acaso as férias
relativas ao primeiro ano de contrato ainda forem gozadas no ano seguinte (nº2 do artigo 239º),
o trabalhador teria direito a 22 dias decorrentes do direito normal de férias, mais os dias
decorrentes do direito especial a férias que a lei prevê relativamente ao primeiro ano do
contrato. Claro que, começando sendo o trabalhador contratado no final do ano, terá menos
dias de férias para descontar do direito especial.
Por exemplo: vamos supor que o trabalhador é contratado no dia 1 de Agosto. Por força
do direito especial a férias do nº1 do artigo 239º, terá direito a 10 dias úteis de férias. No
entanto, como o gozo destes dias só pode ter após lugar seis meses completos de execução do
contrato, o trabalhador só os poderá usufruir após Fevereiro do próximo ano. Sucede que,
entretanto, se vence outro direito a férias, pelo que o trabalhador, nesse ano, poderia desfrutar
de um período demasiado generoso de férias, neste caso, 22 dias mais 10, ou seja 32 dias. Para
evitar estas situações, o nº3 do mesmo artigo estabelece que não poderá resultar o gozo, no
mesmo ano civil, de mais de 30 dias úteis de férias.
A norma do artigo 239º, nº4 é a que se aplica, em princípio, ao contrato a termo no que
toca ao direito às férias. Também no contrato a termo há direito a férias. Se o contrato tiver
duração inferior a 6 meses, esse direito a férias será 2 dias por cada mês. E relativamente a um
contrato de 8 meses ou 1 ano e meio? Continua a ser um problema, a lei não dá resposta.
Depois há aqui uma questão cuja legalidade suscita algumas dúvidas, que é a norma do
239º, nº6. Se o trabalhador começa a trabalhar hoje, tem um direito a férias especial (2 dias por
cada mês). A partir do dia 1 de janeiro, tem direito a mais 22 dias. Isto não suscita duvidas.
Vamos supor agora que o trabalhador já o é há 5 anos e adoece no dia 31 de outubro, só
regressando ao trabalho no dia 4 de janeiro. A lei diz que, a este trabalhador, vítima de um
impedimento de saúde prolongado, em matéria de férias, tudo se passa como se este começasse
a trabalhar no dia de regresso. Resta saber os que é que é um impedimento prolongando. Serão
15 dias, será 1 mês? Vamos supor que o trabalhador adoece no dia 30 de dezembro e só regressa
em março: aplica-se este regime, há um impedimento prolongado. Agora vamos supor
trabalhador adoece em agosto e regressa em setembro: já não se vai aplicar este regime. Como
a lei não determina o que é um impedimento prolongado, vamos considerar que, para se aplicar
este regime, tem de o trabalhador parar de trabalhar num ano e apenas no outro recomeçar.
Claro que há dúvidas da legalidade deste regime. Nós vamos admitir que este se aplica de um
ano para o outro, pelo que se foi formando um direito a férias, mas tal não se venceu no dia 1
de janeiro, porque o trabalhador não estava ao serviço. Seja como for, desde que seja
prolongado, sem sabermos nós qual é o mínimo de tempo, a lei introduz ali uma quebra da
formação e do vencimento do direito a férias.
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AULA DE 7/11/2019
9.8.2. Marcação das férias
O princípio geral, que consta do nº1 do artigo 241º CT, é que o período de férias será
definido por acordo entre o empregador e o trabalhador. Não havendo acordo, este é um dever
do empregador, após audição da estrutura representativa dos trabalhadores.
Porém, o trabalhador não tem aqui total liberdade, pelo que a lei estabelece algumas
restrições:
O empregador só pode marcar férias entre 1 de maio e 31 de outubro, a menos que
se admita o contrário em convenção coletiva ou em parecer dos representantes dos
trabalhadores;
Na marcação das férias, os períodos mais pretendidos (junho a agosto), devem ser
repartidos, sempre que possível, de modo a beneficiar alternadamente os
trabalhadores em função dos períodos gozados nos dois anos anteriores. Ou seja, se
há um trabalhador que nos dois últimos anos teve férias em agosto e outro que teve
sempre férias em outubro, estes terão de trocar, por exemplo;
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9.8.3. Violação do direito a férias
Um outro aspeto que também a lei acautela de uma forma um tanto quanto duvidosa
tem que ver com a violação do direito a férias (artigo 246º CT): caso o empregador obste
culposamente ao gozo das férias, a lei confere ao trabalhador uma compensação no valor triplo
da retribuição correspondente ao período em falta.
A questão duvidosa não está na retribuição atribuída ao trabalhador. A questão está no
advérbio culposamente. O que é que isto quer dizer? É não marcar as férias? É proibir que o
trabalhador se ausente? Veremos.
As férias, legalmente, têm que ser marcadas por acordo. Pode é o trabalhador, à margem
da lei, marcar as férias unilateralmente, ou até nem marcar férias nenhumas. Nesses casos, é
claro que há culpa. Como tal, os casos problemáticos não são estes.
O problema está naqueles casos em que o trabalhador não goza férias por sua
iniciativa. Ou, pelo menos, presume-se que é por sua iniciativa. Portanto, chegamos a 31 de
Dezembro e o trabalhador não gozou férias. Haverá aqui uma violação do direito a férias? A
doutrina e a jurisprudência têm tendência a dizer que não, que, se não houve nenhum
impedimento por parte do empregador, paciência, se o trabalhador não gozou de férias, não
gozou.
Por outras palavras: o empregador tem o dever de garantir que o trabalhador goze férias,
o que significa, em última instância, que o proíba de vir trabalhar. Se é o direito a férias um
direito indisponível, em rigor, o empregador tem o dever de reservar um período para férias do
trabalhador, no qual o não o poderia receber a atividade do trabalhador. No entanto, se o
empregador não impedir o trabalhador de gozar férias, mas aceitar que este trabalhe durante
esse período, não parece, atendendo à letra da lei, haver culpa. Todavia, em termos do sentido
do direito, deveria esta situação ser equiparável ao um impedimento por parte do empregador.
Diz o professor que deveríamos interpretar esta norma um bocadinho além da letra da lei.
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9.8.5. Cessação do contrato
Um outro aspeto ainda relacionado com as férias e no qual a nossa lei é contrária ao
direito comunitário tem que ver com a cessação do contrato.
Nós já vimos a estrutura do direito a férias: este é um direito que se vai formando ao
longo da vida do contrato e que se vence no primeiro dia do ano subsequente, a partir do qual
se começa a forma um novo direito a férias. Isto significa que as férias são um direito de
formação constante, de formação continua, visto que cada dia de trabalho vai contribuir para o
gozo de dias de férias no ano subsequente. Daí que, quando um contrato cesse, já há um período
de trabalho prestado que iria ter repercussões no direito a férias, não fosse o contrato cessado.
É destas situações que trata o artigo 245º CT. Sendo cessado o contrato hoje, das duas
uma: ou o trabalhador já gozou as férias relativas ao trabalho do ano anterior, ou ainda não as
gozou e, tendo cessado o contrato hoje, já não poderá gozá-las mais. Logo, tem apenas o direito
a ser recompensado.
Nos casos em que o contrato de trabalho cessa, verifica-se que o trabalhador ainda terá
direito a esta retribuição e ao respetivo subsídio correspondentes às férias vencidas e não
gozadas e proporcionais ao tempo de serviço prestado no ano da cessação (artigo 245º, nº1
CT).
Ou seja, supondo que o contrato de trabalho de um trabalhador se extinguiu em abril de
2019, isso implicará que este aufira a retribuição e o subsídio correspondentes às férias
vencidas em 1 de janeiro de 2019, férias que o trabalhador não chegou a gozar, bem como o
montante proporcional ao tempo de serviço prestado em 2019, visto que a 1 de janeiro se
começou a formar um novo direito a férias, que se venceria plenamente a 1 de Janeiro de 2020,
mas que se vence antecipada e parcialmente aquando da extinção do vínculo, em abril de 2019.
Há um regime especial relativamente aos contratos que têm início num ano e que
cessam no ano seguinte, não perfazendo 12 meses de trabalho prestado. Por exemplo: o
trabalhador começa a prestar trabalho em 2018 e cessa o contrato em 2019. Qual é o critério
aqui? O critério consta do nº3 do artigo 245º CT. Se esta norma não existisse, quem começasse
a trabalhar em dezembro de 2018 e acabasse em 2019, tinha direito na mesma aos 22 dias úteis
de férias. Consta, então, deste número 3º que, quando o contrato começar e acabar em menos
de 12 meses, compreende-se que se calculem as férias em termos proporcionais e não
relativamente há regra geral.
Depois ainda temos de ter atenção ao nº4 do mesmo 245º CT, o qual prevê que:
cessando o contrato após impedimento prolongado do trabalhador, este tem direito à
retribuição e ao subsídio de férias correspondentes ao tempo de serviço prestado no início da
suspensão. Iremos depois estudar o instituo da suspensão do contrato (quando os principais
efeitos do contrato estão suspensos). O regime desta norma tem de ser distinguido daquilo que
vimos a propósito do artigo 239º, nº6 CT. Este último diz que, se o trabalhador,
independentemente de há quanto tempo presta trabalho, adoecer num ano e só regressar ao
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trabalho no ano subsequente, como há ali um período prolongado de inatividade (que a lei não
define totalmente), a lei irá equiparar esse trabalhador, para efeitos de férias, a um trabalhador
contratado no ano de regresso ao trabalho. A hipótese do artigo 245º é diferente. Neste, o
trabalhador adoece num ano e está o ano subsequente todo impedido de trabalhar. Por exemplo:
o sujeito adoece em 2019, no ano de 2020 fica em recuperação e só regressa em 2021. Embora
a lei não o diga expressamente, ou da norma não resulte diretamente isso, na medida em que
temos o artigo 239º, é para estes casos que o artigo 245º serve. A hipótese aqui é que, dois anos
depois de o trabalhador ficar impedido, no ano em que ele pretende voltar, pode o contrato
cessar. O legislador diz que, se o contrato se suspendeu em 2019, ficando suspenso por todo o
2020, só regressando o trabalhador em 2021, cessando também em 2021 o contrato, o
trabalhador terá direito aos proporcionais de férias e ao de subsídio relativos ao ano em que o
contrato se suspendeu, ou seja, os proporcionais correspondentes ao tempo de trabalho de 2019.
A lei congela o ano de trabalho de 2020 e 2021 (anula as férias).
O nosso legislador enuncia a noção de falta, de forma técnica, no artigo 248º, nº1 CT:
considera-se falta a ausência do trabalhador do local de trabalho em que devia desempenhar a
atividade durante o período normal de trabalho diário.
Quanto à ausência do local de trabalho: o local de trabalho pode ser físico, digital ou
móvel (condutores da Uber, por exemplo). Se o local de trabalho é fixo, não há grandes dúvidas
quanto ao conceito de ausência. Se o local de trabalho é móvel, a falta será a ausência do local
onde o trabalhador deveria estar no momento da prestação de trabalho. O local de trabalho é o
espaço físico onde o trabalhador deve estar a prestar a sua atividade.
Segundo a letra da lei, só há falta se essa ausência se verificar dentro do período normal
diário de trabalho. As faltas são diárias, falta-se ao dia em horas. Não há faltas semanais. Para
efeitos de faltas, o dia é divisível. Obviamente que se pode faltar um dia inteiro, mas pode-se
apenas faltar também a uma parte do dia. Agora, se a prestação de trabalho nesse dia for só de
uma hora e se faltar a essa hora, falta-se ao dia. O nº2 do artigo 248º CT é um dos exemplos da
divisibilidade do período diário
Como vimos, o período normal de trabalho é o período contratualizado. O trabalhador
compromete-se a trabalhar x horas por dia e y horas por semana, sendo este o trabalho prestado
pelo mesmo normalmente. Parece que a lei reduz o conceito de falta à ausência do trabalhador
do local de trabalho apenas durante esse período. No entanto, não é isso que acontece. O
período normal de trabalho pode ser alargado: pode o trabalhador prestar serviço em regime de
adaptabilidade, há questão dos turnos, pode haver trabalho suplementar, etc. Quer em regime
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de flexibilidade, quer em regime do trabalho suplementar, o tempo diário de trabalho
ultrapassará o período normal de trabalho. E, como é óbvio, também há o dever de prestar o
trabalho nessas horas prolongadas. A ausência no trabalhador do local de trabalho durante essas
horas, se forem obrigatórias, é também uma falta, embora não seja isso que diz a letra da lei.
Temos de fazer uma interpretação mais ampla. O que parece ao professor que a letra da lei
pretendia aqui excluir eram as faltas em dias de descanso semanal, ou em feriados.
Nos artigos 251º, 252º, 252º-A, a lei fixa o período de duração desses motivos
justificativos. Isto porque, como já vimos, a imperatividade do regime de fatas não tem apenas
que ver só com os motivos, mas também com a sua duração.
Existe, pois, um catálogo taxativo de motivos da ausência do trabalhador, mas a leitura
das alíneas do nº2 do artigo 249º CT logo nos revela que o sistema é mais aberto do que parece
ser. A doutrina costuma aludir, a este propósito, a um sistema de “taxatividade aparente” ou
“tipicidade aberta”.
Vejamos:
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Alínea k): são faltas justificadas as que por lei sejam qualificadas como tal.
Ou seja, os motivos do CT não esgotam o leque das faltas justificadas. Pode haver
mais motivos justificativos noutros diplomas.
Note-se, contudo, que esta norma está ainda prevista para aqueles casos de atrasos
não culposos (por exemplo: quando há um acidente na estrada, quando o comboio
não passa, etc.). O empregador razoável poderá desculpar estas situações que, de
certa forma, não são queridas pelo trabalhador, são acidentes da sociedade.
Note-se também que a lei, no artigo 248º, nº1, apenas fala apenas de uma ausência
pura e simples, não fala de uma ausência culposa. Daí que depois dê ao empregador,
nesta alínea, a faculdade de ser razoável e não contabilizar a falta não culposa do
trabalhador. Agora, não deveriam caber aqui aquelas situações em que a falta é
culposa. Por exemplo: casos em que há uma greve dos comboios (previamente
avisada) e o trabalhador não aparece, porque aí compreende-se que este deveria ter
arranjado um meio de transporte alternativo.
Posto tudo isto, compreende-se que, se a comparência do trabalhador significa
assiduidade, a sua ausência não equivale, necessariamente, a uma violação deste dever.
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9.9.2. Efeitos da falta
Em regra, a falta justificada não afeta qualquer direito do trabalhador, incluindo o
direito à retribuição. No entanto, ainda neste âmbito, pode o trabalhador perder o direito à
retribuição nos casos enumerados no artigo 255º, nº2 CT: por motivo de doença, se o
trabalhador for beneficiário de proteção da segurança social; por motivo de acidente do
trabalho, se o trabalhador tiver direito a um subsídio ou seguro; etc.
De facto, recai sobre o empregador uma obrigação de legal de, quando celebra o
contrato de trabalho, inscrever o trabalhador na segurança social para efeitos de doença. É
também obrigatório fazer um seguro para acidentes de trabalho em benefício do seu
trabalhador. Isto significa que, se o trabalhador não cumprir com estes dois deveres, é
responsável pela retribuição dos trabalhadores nestes casos (doença ou acidente no trabalho).
No que toca à falta injustificada, nos termos do artigo 256º, nº1 CT, temos dois efeitos
automáticos: perta de retribuição e descontinuidade na contagem da antiguidade. A lei permite
perda de retribuição e desconto de antiguidade. O problema é saber como é que se faz esse
desconto.
No limite, poderão as faltas injustificadas levar ao despedimento por justa causa, por
via do artigo 351º, nº2, al. g) CT. Aqui importa falar da culpa, exigida nos casos de
despedimento por justa causa (artigo 351º, nº1 1 CT). Quando é que é a falta não é imputável
ao trabalhador? Quando a causa que levou à falta não foi provocada diretamente pelo
trabalhador. Vamos supor que o trabalhador teve um acidente de viação por própria culpa
(porque adormeceu, porque ia em excesso de velocidade, etc.) e partiu uma perna, ficando
impossibilitado de trabalhar. O impedimento seria-lhe imputável. Pode também dar-se o caso
de o trabalhador adoecer porque se expôs a um certo perigo, por exemplo. O facto também lhe
seria imputável. Em ambos casos há culpa. Contudo, temos de obedecer a uma interpretação
ainda mais restrita deste “comportamento culposo”: temos de ter em conta que o motivo será
aqui imputável, para efeitos de falta culposa, se tiver sido provocado pelo trabalhador
dolosamente, isto é, se foi provocado com vista a não cumprir a obrigação de prestação de
trabalho. Só nestes casos, com esta interpretação muito restritiva, é que a ausência é imputável.
Nos casos que vimos há culpa, mas não há dolo. O trabalhador não pretendia furtar-se ao
trabalho.
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fim de semana. Esta é uma situação excecional, pois a falta é considerada além do período
normal de trabalho diário que determina o conceito de falta.
Artigo 256º, nº4 (quanto à pontualidade): aqui também temos um prolongamento da
falta. Se o trabalhador chegar atrasado por tempo superior a uma hora, o empregador pode não
aceitar a prestação do resto do período normal de trabalho, o resto do dia. É uma forma de punir
a falta da assiduidade. Sendo superior a 30minutos, o empregador pode não aceitar a prestação
relativamente ao resto do período (manhã, tarde ou noite). Claro que, nestas situações, os
trabalhadores não recebem retribuição. A aplicação destas normas vincula o comportamento e
as decisões do empregador relativamente as estas situações, não pode haver uma
discricionariedade total.
Artigo 257º: admite-se que o trabalhador possa compensar a perda de retribuição nos
casos previstos neste artigo, substituindo a perda de retribuição por outra consequência. Depois
acautela-se um aspeto: se o trabalhador substitui perda de retribuição por perda de dias de férias
(alínea a) deste artigo), perde a retribuição desses dias de férias. Isto é, se o trabalhador
substituir dois dias de perda de retribuição por dois dias de perda de férias, a retribuição que
receberá pelo período de férias, como é obvio, apenas corresponderá aos 20 dias e não aos 22
dias úteis de a que tem direito.
Aula de 8/11/2019
10. RETRIBUÇÃO
(páginas 255 a 289 do livro do professor Leal Amado)
A retribuição rege-se por um princípio de igualdade (artigo 59º, nº1, a) CRP): trabalho
igual, retribuição igual. Admite-se apenas a diferenciação salarial com base num critério de
qualidade, que tem que ver com a pessoa do trabalhador, com a sua aptidão pessoal/subjetiva,
ou natureza, que tem que ver com o meio/a forma como a atividade é exercida externamente
(se é exercida de dia ou de noite, etc.).
Há quem acrescente outro critério, a produtividade: seria melhor compensado o
trabalhador que atingisse os melhores resultados (que se mede depois pelo número de peças
que se faz, pelo número de contratos celebrado, etc.). O certo é que será duvidoso se por esta
via se poderá fazer distinção.
O conceito de retribuição está definido no artigo 258º, nº1 CT como uma prestação a
que, nos termos do contrato, das normas que o regem ou dos usos, o trabalhador tem direito em
contrapartida do seu trabalho. A retribuição é a obrigação capital e nuclear da entidade
empregadora. Qualquer prestação só tem natureza retributiva se for obrigatória. Tem que haver
um vínculo/dever de uma parte à qual corresponde o direito da outra parte. Tudo no contrato
de trabalho é sinalagmático.
Do nº2 do mesmo artigo constam vários aspetos:
a) A retribuição compreende a:
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o Retribuição base: não há nenhum critério legal, mas tem sido entendido que
a retribuição de base é o salário que corresponde à categoria profissional do
trabalhador, isto é, às funções que o trabalhador exerce, em condições de
normalidade. A atividade normal é aquela que é prestada em período normal
de trabalho, considerando-se normal aquele trabalho que não é noturno, que
não é de risco, que não é de turno rotativos, em isolamento, etc.;
No final disto tudo ainda poderá haver dúvidas. Como tal, temos ainda um outro critério
para classificar uma prestação como retribuição, o qual está previsto no nº3 do artigo 258º CT.
É um critério que assenta numa presunção: presume-se constituir retribuição qualquer
prestação do empregador ao trabalhador. Sendo o contrato de trabalho uma “relação de troca”,
o elemento de doação está afastado, em princípio. Tudo tem uma causa, não há benefícios
gratuitos. Logo, presume-se que é uma retribuição tudo o que o empregador prestar ao
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trabalhador. É, no entanto, uma presunção relativa. Deve ser o empregador, a querer, a afastar
a presunção.
Como se vê, a lei procura aqui restringir que a parte não pecuniária da retribuição
assuma proporções demasiado altas, criando limitações à mesma. E do número dois consta
ainda outra limitação: a retribuição não pecuniária não pode exceder o da parte em dinheiro.
Esta limitação surge porque só o pagamento em dinheiro preserva a liberdade de escolha de
consumos por parte do trabalhador e é essa função que deve ter um salário, isto é, a função de
garantir liberdade económica ao trabalhador. Por exemplo: se o empregador tem um salário de
1000€, não pode o valor da renda da casa fornecida em espécie não exceder esses 1000€,
independentemente do valor de mercado da região. A lei quer, no nº2, ainda garantir ao
trabalhador uma reserva em dinheiro para as suas necessidades.
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Por exemplo: na alínea a) do número 1), falamos das despesas de transportes, hotéis,
etc. Obviamente, estas prestações não têm em contrapartida diretamente a atividade de
trabalho, embora sejam despesas relacionadas com essa atividade. Se o trabalhador vai
trabalhar para o Lisboa durante uma semana, não é esperado que compre lá uma casa. Nestas
situações, cabe à entidade empregadora comprar a viagem, reservar o hotel, entre outras
despesas. Estas despesas são comummente designadas como despesas de produção. São
despesas relacionadas com as a organização que vai permitir aos trabalhadores exercerem a sua
atividade. Como diz o Professor Leal Amado, “são aquelas importâncias que são pagas ao
trabalhador para o trabalho e não pelo trabalho”. Sendo despesas de produção, estão
diretamente relacionadas com proporcionar ao trabalhador as condições de trabalho, não estão,
portanto, diretamente relacionadas com a atividade laboral. Compreende-se que sejam
excluídas da classificação de retribuição.
No artigo 260º, nº1, al. a) in fine CT, diz-se que as despesas de produção podem fazer
já parte da retribuição do trabalhador quando:
Quanto à alínea d): a participação nos lucros tanto pode ter carácter obrigatório como
não ter. Se o tiver, já haverá carácter retributivo. No entanto, a lei parte aqui do pressuposto de
que não terá carácter obrigatório e por esse motivo é que não considera estas prestações uma
retribuição. Além disso, também parte de uma relação indireta com a atividade laboral, não é
uma relação direta.
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