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DISCIPLINA: Responsabilidade Civil

Prof. José Rubens Morato Leite


Aluna: Eng. Ambiental - Isadora Palhano

“2º Ao realizar obra de implantação de condomínio de alto luxo em zona litorânea,


determinada empresa do ramo imobiliário é acusada em ação civil pública de
responsabilidade por danos ambientais de ter promovido o aterro de lagoa onde
existiam exemplares de espécie da fauna aquática ameaçada de extinção. No
desenrolar do processo, durante a instrução probatória, perito nomeado pelo
Juízo menciona em seu laudo que, ao verificar fotos de satélite feitas em época
anterior ao suposto aterro, delas não consta sinal da existência da mencionada
lagoa. No entanto, testemunhas ouvidas em audiência, sob o império do
contraditório, confirmam a existência anterior da lagoa e de exemplares da fauna
aquática em questão. Pergunta se:”

a) Como deve o juiz, no caso, conduzir-se na valoração das provas existentes


nos autos?

Tendo em vista que há contradição entre as provas evidenciadas pela


perícia e provas criadas pela escuta das testemunhas, o Juiz poderá decidir pela
condenação ou não da empresa do ramo imobiliário responsável pela
implantação do condomínio de alto luxo. Em sua decisão devem constar as
razões de seu convencimento segundo os elementos probatórios apresentados
no processo.

Faz-se necessário, caso não haja evidência concreta necessária ao


convencimento do Juiz, solicitar a realização de outras perícias técnicas para
que seja possível esclarecer quaisquer dúvidas que permaneçam quanto à
decisão sobre os danos ambientais eventualmente causados.

b) Qual o peso que a prova pericial deve ter, tio caso, em confronto corri a prova
testemunhal?

O Código de Processo Civil de 2015, dispõe sobre cada um dos tipos de


prova, dando início no seu Capítulo XII, das provas.
A prova testemunhal é o relato que se obtém em juízo, por pessoa que
tenha conhecimento dos fatos discutidos no processo. Um ponto importante que
deve ser destacado é que a testemunha não pode ter interesse na causa e deve
cumprir com os requisitos presentes no art. 447 do NCPC, ou seja, não ser
incapaz, impedida ou suspeita.
É importante destacar, que a prova testemunhal é sempre admissível e
que a lei não dispõe em modo diverso, conforme prevê o art. 442 do CPC de
2015, aonde o juiz poderá indeferir a inquirição de testemunha, sobre fatos já
provados por documentos ou quando, quando a confissão da parte ou quando o
fato só pode ser provado por documento ou prova pericial.
Já a prova pericial consiste no exame, vistoria ou avaliação, por pessoa
que possui conhecimentos técnicos suficientes para apuração dos fatos
litigiosos, conforme prevê o art. 464 do CPC de 2015.

Quanto à valoração da prova, ressalta-se que a perícia técnica é


elaborada mediante instrumentos técnicos científicos, cabendo ao juiz a
valoração de seu peso para a comprovação dos fatos alegados por ambas as
provas.

“3') Determinada indústria, no exercício da sua atividade, emite substâncias


químicas dentro dos padrões tidos pelo órgão ambiental como aceitáveis, não
ultrapassando o limite máximo tolerável definido em normas administrativas. No
entanto, nas imediações verifica se a ocorrência de grande aumento de doenças
respiratórias ria população, atribuída por alguns médicos, com respaldo em
análise científica, à atividade da indústria em questão. Movida uma ação civil
pública de responsabilidade civil por dano meio ambiente, a indústria se defende
sustentando, com base em trabalho recente de profissionais igualmente
respeitados, que há controvérsias científicas quanto aos efeitos nocivos das
substâncias emitidas por seu processo de produção, além do que as emissões
estão dentro dos limites tidos como toleráveis, não se podendo, portanto, falar
em dano. Pergunta se:”

a) A circunstância de as emissões questionadas estarem em conformidade com


os padrões definidos pelo órgão ambiental afasta por si só e “a priori" a
caracterização do dano?
Este caso pode ser facilmente aplicado ao princípio do in dúbio pro natura,
partindo do princípio de que havendo emissão de poluentes capazes de afetar a
saúde humana e da natureza, mesmo atendendo aos padrões técnicos de
emissões atmosféricas adotados e aprovados pelo órgão ambiental, o fato não
descaracteriza a ocorrência do dano. Entretanto é necessário comprovar de
outras maneiras o nexo de causalidade entre a emissão de poluentes e as
doenças respiratórias na população ao entorno da indústria.

b) A dúvida científica impede a reparabilidade, do alegando dano no caso, pela ausência


de uma das condições do dano ambiental, consistente na certeza da degradação?

Claramente, o fato de as emissões de compostos químicos atenderem


aos padrões preconizados pela legislação aprovada pelo órgão ambiental, a
dúvida científica não deve impedir a necessidade da reparabilidade pela
degradação ambiental, tendo em vista que o princípio de poluidor pagador já
prevê que, por mais que há o atendimento à legislação, a dano ainda é causado:
“O princípio do poluidor pagador preconiza que os custos decorrentes da
prevenção da poluição e controle do uso dos recursos naturais assim como os custos
da reparação dos danos ambientais não evitados (“custos da poluição”) sejam
suportados integralmente pelo condutor da atividade econômica potencial ou
efetivamente degradadora, que, portanto, internalizará os custos da poluição ao invés
de externalizá-los para o Estado e, consequentemente, para a sociedade.”

c) Como deve o Juiz proceder na hipótese, rio tocante à avaliação das provas, para afastar
ou aceitar a caracterização do dano ambiental?

Como comentado anteriormente, o juiz deve priorizar o julgamento


pautado em provas concretas, nesse caso sendo necessária a realização de uma
perícia técnica com equipe multidisciplinar a fim de obter embasamento quanto
à caracterização do dano. Entretanto, caso ainda permaneçam as dúvidas
quanto à comprovação do causador do dano, o juiz deve decidir com base no
princípio do in dúbio pro natura e também pautado no princípio do poluidor
pagador pela emissão dos compostos químicos no meio ambiente.

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