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PARECER JURÍDICO DE N.

013/2022
Processo Administrativo Eletrônico de n. 000099/2022

EMENTA: 1. Somente farão jus ao pagamento da gratificação regulada


pela Lei Municipal de n. 1985, aqueles servidores que exerceram, efetiva-
mente, a sua função no âmbito da atenção primária ou no Núcleo de Apoio
à Saúde da Família (NASF) ou na Vigilância em Saúde, cujas equipes es-
tiveram vinculadas ao Programa Previne Brasil, salvo os servidores elen-
cados no art. 12 da Portaria de n. 014/2021/SMS, independentemente do
regime de trabalho, isto é, home office ou presencial. 2. No caso do home
office, deverá haver a comprovação do exercício das atividades do servi-
dor, as quais devem estar vinculadas as funções mencionadas no art. 1º,
da Lei Municipal de n. 1985/2020, considerando a natureza propter labore
da gratificação. Colocando-se de outra forma, aqueles servidores que, por
qualquer motivo, estiveram afastados ou não executaram as suas ativida-
des no âmbito das funções mencionadas pelo art. 1º, da Lei Municipal de
n. 1.985/2020, não têm direito ao recebimento da gratificação. 3. Outras
recomendações.

Cuida-se de pedido de parecer jurídico formulado pela Secretaria Municipal


de Saúde, solicitando orientação a respeito do pagamento da gratificação de de-
sempenho criada pela Lei Municipal de n. 1985/2020.
Em suma, questiona possiblidade de pagamentos nas seguintes hipóteses,
conforme memorando do anexo 1: i) Servidores que atuaram na Fiscalização CO-
VID - (Vigilância em Saúde); ii) Servidor que atuava na Secretaria de Saúde, no
cargo de escriturário, porém com atividades voltadas ao acompanhamento, avali-
ação e orientações as UBSs; iv) Servidores ocupantes dos cargos de Analista de
Saúde e Escriturário, porém com atividades voltadas à Vigilância em Saúde; e v)
Servidor que estava afastado por home-office, porém exerceu outras atividades
junto à Secretaria de Saúde (Comitê) ou regulação de exames.
Já no anexo 2, requereu consulta quanto aos valores referentes aos rendi-
mentos do valor que ficou depositado em conta.
É o relatório do necessário. Passo a opinar.
Inicialmente, o parecer será emitido com fundamento nas informações
apresentadas pela Secretaria Municipal de Saúde e abarcará somente as ques-
tões legais a eles inerentes.
A Gratificação por Prêmio de Melhor Desempenho, de que trata o presente
parecer, fora criada pela Lei Municipal de n. 1985/2020, tendo por finalidade a
destinação da integralidade dos valores, recebidos pelo Município, do incentivo
financeiro do Programa Federal Previne Brasil, criado pela Portaria Ministerial de
n. 3.222/2019, do Ministério da Saúde.
Segundo o disposto no art. 4º, §1º, da citada lei,
“O montante recebido pelo resultado da avaliação será destinado integralmente ao paga-
mento da gratificação a todos os profissionais e trabalhadores das Equipes de Atenção

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Primária à Saúde, dos profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família - NASF e da
Vigilância em Saúde, dividido em três parcelas a serem pagas quadrimestralmente, con-
forme recebimento do recurso a cada quadrimestre avaliado.”

Logo, a integralidade dos valores recebidos a título do incentivo financeiro


do Programa Previne Brasil, compõe o valor da gratificação, o qual será rateado
entre todos os servidores que têm direito ao seu pagamento (art. 4º, §3º, da Lei
Municipal de n. 1985/2020).
A vigência da lei estava destinada ao dia 1º de janeiro de 2021. Entretanto,
por força da Lei Complementar Federal de n. 173/2020, vislumbrando a segurança
jurídica, o pagamento fora postergado para o ano de 2022. Aliás, tal medida fora
contemplada na Lei Municipal de n. 2.037/2021, que incluiu vários dispositivos no
Lei Municipal de n. 1985/2020. Nesse sentido, é o parágrafo único, do art. 2º, desta
última lei:
“Art. 2º. (...)
Parágrafo único. O pagamento da gratificação, considerando as restrições do art. 8º, da Lei
Complementar Federal de nº 173/2020, poderá ser realizado acumulando todos os valores
recebidos pelo Município nos anos de 2020 e 2021, a partir de janeiro de 2022.”

Outro ponto a ser destacado é que o pagamento da gratificação é pró-


labore ou propter laborem (art. 10).1 Isso significa que o pagamento da gratificação
se liga à um pressuposto fático que é o trabalho, sem ele não há possibilidade de
se pagar a indenização.2 Em conformidade a isso é o disposto no art. 8º, da Por-
taria de n. 014/2021, da Secretaria Municipal de Saúde, que regulamentou o dis-
posto na Lei Municipal de n. 1985/2020:
“Art. 8º. O servidor/profissional não fará jus ao recebimento da Gratificação MELHOR DE-
SEMPENHO, em valor proporcional ao mês de ocorrência:
I – No gozo de licenças ou afastamentos por prazo superior a 09 (nove) dias;
a) Licença para tratamento da própria saúde (atestado médico);
b) Licença por acidente em serviço;
c) Licença por motivo de doença em pessoa da família;
d) Licença maternidade, licença paternidade ou adoção;
e) Férias-prêmio;
f) Licença para tratar de assuntos particulares;
g) Licença para atividade política ou classista;
h) Afastamento para exercício de cargo comissionado ou cessão em outro Poder, Órgão ou
entidade;
i) Afastamento em missão oficial para estudo e estágio;
j) Na hipótese de falta injustificada ao trabalho;
§ 2º. (sic) No caso de a licença ou afastamento descrito no inciso I, alíneas “a” a “i” for igual
ou inferior a 09 (nove) dias os valores serão descontados proporcionalmente aos dias de

1
Art. 10. A gratificação de que trata a presente lei será pró-labore e tem natureza indenizatória.
2
"pressupõe sempre a ocorrência de um suporte fático específico para gerar o direito a sua percep-
ção,” ou seja, a gratificação funcional e de natureza propter laborem. Portanto, uma vez que o su-
pedâneo fático se altera, o pagamento da gratificação se torna ilegal. –– CARVALHO FILHO, José
dos Santos: Manual de Direito Administrativo. 31ª ed. São Paulo/SP: Atlas, 2017, edição Kindle;

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ausências.”

A lei ainda estipula quais frentes de trabalho, dentro da atenção primária,


se destina o pagamento da gratificação:
“Art. 1º. Fica criada na estrutura administrativa da Secretaria Municipal de Saúde a Gratifi-
cação por Prêmio de Melhor Desempenho, no âmbito da Atenção Primária à Saúde,
do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), bem como da Vigilância em Saúde, a
ser atribuída às equipes de saúde junto ao Programa Previne Brasil, objetivando a
Atenção Primária como principal condutora da prevenção à saúde e da melhoria das con-
dições de saúde dos munícipes.” – grifei.

Nota-se do artigo colacionado dois requisitos i) o exercício da função deve


ocorrer no âmbito da atenção primária ou no Núcleo de Apoio à Saúde da Família
(NASF) ou na Vigilância em Saúde; e ii) a equipe a ser gratificada deve estar vin-
culada ao Programa Previne Brasil, contribuindo com a realização de todos os
seus indicadores, em especial, os indicados nos arts. 6º e 7º, da Portaria Ministe-
rial de n. 3.222/20193 e que tenham cadastro no Sistema de Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde (SCNES), conforme determina o art. 2º, da Lei Muni-
cipal de n. 1985/2020.
Além disso, o art. 12, da Portaria de n. 014/2021/SMS, determina que os
servidores ocupantes de cargo ou função comissionada, inativos, pensionistas,
cedidos e prestadores de serviço não farão jus ao pagamento da gratificação.4
Logo, em resposta ao primeiro questionamento, referente aos grupos de
servidores elencados pela Secretaria Municipal de Saúde, respondo que somente
farão jus ao pagamento aqueles que exerceram, efetivamente, a sua função no
âmbito da atenção primária ou no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) ou
na Vigilância em Saúde, cujas equipes estiveram vinculadas ao Programa Previne
Brasil, salvo os servidores elencados no art. 12 da Portaria de n. 014/2021/SMS,
independentemente do regime de trabalho, isto é, home office ou presencial.
No caso do home office, deverá haver comprovação do exercício das ati-
vidades do servidor e que, repito, devem estar vinculadas as funções menciona-
das no último parágrafo, considerando a natureza propter labore da gratificação.
Colocando-se de outra forma, aqueles servidores que, por qualquer motivo, esti-
veram afastados ou não executaram as suas atividades no âmbito das funções
mencionadas pelo art. 1º, da Lei Municipal de n. 1.985/2020, não têm direito ao
recebimento da gratificação.
Ressalto que a análise deve ser casuística, levando-se em consideração
cada situação particular, sendo a decisão administrativa devidamente motivada

3
Disponível no Link: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-3.222-de-10-de-dezembro-de-
2019-232670481
4
Art. 12. Não farão jus ao recebimento da Gratificação Melhor Desempenho os servidores ou pro-
fissionais: I. Que ocupem cargos em comissão; II. Que exerçam função de confiança; III. Inativos;
IV. Pensionistas; V. Prestadores de serviços; VI. Servidores cedidos ao Município oriundos de outros
órgãos de Poder Público Estadual ou Federal, ainda que com atuação diretamente na Atenção Bá-
sica do Município. VI. Que no desempenho de suas funções apresentar qualquer ausência injustifi-
cada no quadrimestre.

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pela Secretaria Municipal de Saúde, quando da análise do pagamento.
Em relação aos valores referentes aos rendimentos da conta em que estão
depositadas as receitas do Previne Brasil, declino a competência para examinar a
questão, considerando as atribuições da Controladoria-Geral do Município, esti-
puladas no art. 3º, II, c/c o art. 8º, da Lei Complementar de n. 1970/2020, nas
hipóteses em que a consulta é em tese.
Quanto às consultas sobre casos específicos e concretos, entendo que a
atribuição é da Secretaria Municipal de Administração Pública, haja vista a suas
atribuições descritas no art. 10, da Lei Municipal de n. 1.703/2013.
Afirmo isso porquanto a matéria é contábil e estranha às atribuições da
Procuradoria-Geral do Município, definidas pela Lei Complementar Municipal de
n. 1969/2020.
É o que se opina.
Santa Bárbara/MG, 10 de janeiro de 2022.

Davi Soares de Oliveira


Procurador-Geral do Município

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