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S.E.

F
Servindo com excelência e fidelidade
Obreiros, Diáconos, Presbíteros,
Evangelistas, Missionários e Pastores
Formação de Obreiro 2

INTRODUÇÃO

"Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que


não tem de que se envergonhar que maneja bem a Palavra
da verdade. " (II Tm 2:15)
Antes de Paulo mencionar sobre a postura de obreiros, ele aborda
duas situações fundamentais que não podem ser, em hipótese
alguma, negligenciadas. Ele fala sobre "procurar" atender estas
condições: "Procura apresentar-te a Deus ( 1 ), aprovado ( 2 )... ".
O objetivo primário de alguém que "procura" é simplesmente
encontrar. A questão é que algumas coisas estão mais escondidas do
que imaginamos. Também, pode-se levar um tempo maior que o
esperado para serem obtidas. Como veremos, só depois de vinte anos
no deserto em Padã Arã é que Jacó atingiu estas condições,
restaurando seus relacionamentos e redimindo sua identidade.
Na verdade, indispensavelmente, antes de fazer qualquer coisa para
Deus precisamos de um encontro com estas realidades. Este processo
vai até os porões da alma eliminando a vergonha e todas as demais
impurezas que bloqueiam o fluir do Espírito Santo.
Surge, então, uma capacidade divina de manejar bem a palavra da
verdade que se expressa através de um estilo de vida que prevaleceu
sobre cada estado crônico de reprovação.
Sob esta perspectiva, a Palavra de Deus não é a "espada do
pregador", porém, como Paulo afirma, ao mencionar a armadura de
Deus, é a "espada do Espírito Santo", que apenas corta através de nós
na mesma profundidade que cortou a nós mesmos:

"Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que


qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e
espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os
pensamentos e intenções do coração." (Hb 4:12)

1. A CONDUTA DO OBREIRO
a) O obreiro deve entender o ministério como vocação divina e a
atividade humana mais excelente (1 Tm 3:1);
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b) A Bíblia para o obreiro deve ser considerada como o instrumento


indispensável no seu ministério e deverá usá-la como única regra de fé
e prática (2 Tm 2:15 – 4:1-5);
c) O obreiro deve ser estudioso, mantendo-se em dia com o
pensamento teológico, com a literatura bíblica e a cultura geral (2 Tm
3:14 - 17);
d) O obreiro deve ser um modelo de boa conduta em todos os
sentidos e um exemplo de pureza em suas conversações e atitudes
como líder moral e espiritual do povo de Deus (1 Pe 5:1-3; 1Tm 4:12);
e) O obreiro deve zelar o máximo pelo bom nome do ministério, da
Palavra e do Senhor Jesus Cristo (1 CO 11:1; 4:1-2).
f) O obreiro deve ser prudente ao se relacionar com as pessoas,
principalmente as do sexo oposto (1 Tm 5:1-2);
g) O obreiro deve ter a sua vida submetida ao Espírito Santo para
que o fruto do Espírito seja manifesto em sua vida no dia a dia (Gl 5:22;
Rm 12:17-21)
h) O obreiro deve ser DIZIMISTA fiel.

Sua coragem - Exige-se do obreiro intrepidez e ousadia.

Sua dignidade - Ter uma vida decente e respeitosa no trato com as


pessoas e com valores espirituais.

A dignidade de um obreiro se revela através:


● Da sua linguagem. O obreiro deve evitar linguagem imprópria ao
seu ofício (piadas obscenas);
● Da sua reverência no trato com as coisas sagradas e respeitosas;
● Do seu relacionamento decoroso com o sexo oposto.
● Sua discrição. O obreiro deve ser moderado, agindo sempre com
discernimento em relação à posição que ocupa.
● Deve ter cuidado no trajar. Vestindo sempre condignamente com
a função que ocupa.
● Deve ter cuidado com os gestos.
● Deve evitar cenas patéticas que chamem as atenções para si.
● Deve ter modos e costumes que combinem com a posição que
ocupa.
● Sua polidez. Um obreiro polido é aquele que, no trato com as
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pessoas, principalmente subalternas, demonstra cortesia e


civilidade.
São as boas maneiras do tratamento, tais como:
● Saber dar ordens. Não esquecer das duas palavras chaves do
relacionamento social obrigado e por favor.
● Saber corrigir. Ao fazê-lo não se esqueça do amor.
● Saber relacionar-se com os colegas de ministério: não esquecer
as boas formas de tratamento. Quando se referir ao colega, é
preciso demonstrar respeito.
● Saber vigiar as palavras, elas tanto curam quanto matam.
● Sua liderança. Segundo Gangel "liderança é o exercício de dons
espirituais sob o chamado de Deus para servir a determinado
grupo de pessoas, para que este atinja os alvos que Deus lhes
deu, com o fim de que glorifiquem a Cristo”. Baseado nessa
definição o obreiro tem de entender que :
o ele deve ser o exemplo para os seus liderados (I Pe 5:3b);
o nunca deve agir de forma ditatorial. Esse modelo não
funciona mais;
o deve ter motivação para alcançar os alunos se o professor
não a tem;
o nunca deve agir como dominador, porque o rebanho não é
sua propriedade particular (I Pe 5:3a.). Ele é, apenas,
confiado a homens chamados por Deus;
o deve avaliar sempre o perfil de sua liderança, se ela está
enquadrada no modelo bíblico.

2. O DIACONATO
Com base em Atos 6, os diáconos cuidam da beneficência da igreja,
um trabalho tão importante e difícil que o texto menciona a
necessidade de serem os diáconos "homens de boa reputação, cheios
do Espírito e de sabedoria" (v.3). Estêvão, um daqueles primeiros 7
diáconos, era "homem cheio de fé e do Espírito Santo"(v.5). Alguns
diáconos receberam também o dom da profecia e/ou do ensino e o
talento natural para discursar, de modo que, além da beneficência,
exerciam também o ministério da Palavra. Foi o caso de Estêvão (At
6:8;7:1-60) e de Filipe (At 8:5).
A Visão sobre o diaconato é que : "O diácono é o oficial ungido
pela liderança, mediante o seu preparo, submissão, frutos e
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principalmente a confirmação do Senhor. Sob a supervisão de um


Presbítero, dedicar-se especialmente:
(a) à arrecadação de ofertas para fins piedosos;
(b) ao cuidado dos pobres, doentes e inválidos;
(c) à manutenção da ordem e reverência nos lugares reservados
ao serviço divino;
(d) exercer a fiscalização para que haja boa ordem na Casa de
Deus e suas dependências."

3. AS QUALIFICAÇÕES NECESSÁRIAS
Em I Pe 5:1-3, vemos que os presbíteros (incluindo os pastores)
devem ser "modelos do rebanho". Os diáconos, conforme observamos
em At 6:3-5, devem ser "homens cheios do Espírito Santo e de
sabedoria... e de fé". Paulo, em II Tm 2:2, fala de "homens fiéis e
idôneos." Este mesmo apóstolo, nas duas passagens mais
importantes sobre presbíteros e diáconos, I Tm 3:1-12 e Tt 1:5-9,
enumera cerca de vinte qualificações que os presbíteros e os diáconos
precisam ter. São elas:
● Irrepreensível
● Esposo de uma só mulher
● Bom chefe de família
● Hospitaleiro
● Temperante
● Sóbrio
● Modesto
● Não dado ao vinho
● Não violento
● Cordato
● Inimigo de contendas
● Não avarento
● Apto para ensinar
● Não seja neófito
● Tenha bom testemunho dos de fora
● Piedoso

Vamos estudar cada uma destas virtudes.


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Nosso propósito é duplo:


(a) preparar-nos para uma eleição de presbíteros e diáconos;
(b) desenvolver estas virtudes em nossas próprias vidas.
Naturalmente, nenhum de nós possui todas estas virtudes, no grau
recomendado. Mas o importante é estarmos conscientes de sua
necessidade e crescendo na prática das mesmas...
4. LÍDERES IRREPREENSÍVEIS
Presbíteros, diáconos e os crentes de modo geral devem ser
irrepreensíveis (ITm3:2,8;Tt 1:6,7). Paulo coloca esta virtude em
primeiro lugar porque ela é a principal e englobam todas as outras.

4.1. O SIGNIFICADO DO TERMO


Irrepreensível é "o que não merece censura; que não pode ser
repreendido" (Dicionário). Esta qualidade relacionada por Paulo não
constitui uma novidade no pensamento do Novo Testamento. Quando a
igreja enfrentou o seu primeiro problema de organização em Jerusalém,
os apóstolos recomendaram que sete "homens de boa reputação"
fossem escolhidos para ajudar a resolver o problema da distribuição dos
alimentos (At 6:3). A idéia é a mesma. Um homem irrepreensível é um
homem de boa reputação, de comportamento exemplar.
Quando Paulo chegou a Listra em sua segunda viagem missionária, ele
ouviu falar de Timóteo. "Dele davam bom testemunho os irmãos em
Listra e Icônio" (At 16:1,2). Em outras palavras, Timóteo tinha uma "boa
reputação"; era "irrepreensível" em todo o seu procedimento.
Observe três coisas:
● As pessoas falavam sobre Timóteo. Uma boa reputação gera
comentários, antecedentes positivos.
● Mais de uma pessoa estava falando bem de Timóteo. Este é um
bom teste para saber se uma pessoa tem ou não uma boa
reputação. Todos temos um ou dois amigos que nos admiram, mas
o que as pessoas em geral estão dizendo?
● Os irmãos falavam bem de Timóteo em Listra e Icônio. A reputação
de Timóteo era boa em casa e longe de casa. Quando nos dois
lugares há concordância de bom testemunho acerca de um homem,
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podemos saber com certeza que ele é irrepreensível. Paulo ficou


impressionado com a reputação de Timóteo. Este era o homem (um
jovem) que ele queria que "fosse em sua companhia" (At 16:3).
Leva tempo edificar uma boa reputação. Mas deveria ser o alvo de cada
cristão. Deve acontecer naturalmente enquanto crescemos e
amadurecemos na vida cristã.

4.2. “DESENVOLVEI A VOSSA SALVAÇÃO...”


Como dissemos, esta qualidade, que engloba todas as outras, não
aparece somente aqui em I Tm 3:2,8 e Tt 1:6-9 .
Paulo, em Ef 1:4, ensina-nos que Deus "nos escolheu nEle (Cristo)
antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis
perante Ele". E em CI 1:21-22 diz que "Ele nos reconciliou... para
apresentar-nos perante Ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis" (Ver
também Ef 5:25b-27). Em I Co 1:8, lemos esta promessa: "Cristo vos
confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso
Senhor Jesus Cristo". Cristo começou uma "boa obra" em nós e há de
completá-la! (Fl 1:6).
Em Fl 2:12b,15 somos exortados a cooperar com o Salvador, não na
salvação propriamente, mas no desenvolvimento das virtudes que
devem caracterizar a vida dos salvos: "... desenvolvei a vossa salvação
para que vos torneis irrepreensíveis... inculpáveis no meio de uma
geração pervertida e corrupta..." Não há necessidade de empurrar estas
virtudes para o "dia de Cristo". Ou seja, não devemos nos acomodar e
pensar que só no fim do mundo, no dia da volta de Cristo é que
seremos irrepreensíveis. Pedro exorta aos que aguardam aquele dia:
"...empenhai-vos por ser achados por Ele... sem mácula,
irrepreensíveis... E crescei na graça..." (II Pe 3:10-18).

4.3. MODELOS DE REBANHO


Vê-se, nestas passagens, que todos os filhos de Deus devem ser
irrepreensíveis. Mas em I Tm 3:1-13 e Tt 1:5-9, aprendemos que os
presbíteros e diáconos, por razão de suas posições de liderança,
devem ser "modelos do rebanho", nisto e em tudo o mais (I Pe 5:3).
O apóstolo Paulo, que também ocupava posição de liderança, pôde
escrever aos tessalonicenses. "Vós e Deus sois testemunhas do modo
por que piedosa, justa e irrepreensivelmente procedemos em relação
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a vós outros, que credes" (I Ts 2:10. Ver At 20:18 e 19; I Co 11:1). Este
procedimento irrepreensível, de Paulo e seus companheiros em
Tessalônica, produziu frutos maravilhosos porquanto os muitos novos
convertidos naquela cidade tornaram-se "imitadores" do apóstolo e, eles
próprios, "modelos para todos os crentes na Macedônia e na Acaia" (I
Ts 1:6-7). No verso seguinte, Paulo lhes diz: "... de vós repercutiu a
palavra do Senhor... e por toda parte se divulgou a vossa fé para com
Deus..." Outra vez, a "boa reputação"!
5. O LÍDER E SEU LAR
Sob este título, vamos estudar as qualidades mencionadas por Paulo
em I Tm 3:1-13 e Tt 1:5-8 e que estão relacionadas com o lar do
pastor, do presbítero e do diácono, em especial, e dos cristãos, de
modo geral.

5.1. “ESPOSO DE UMA SÓ MULHER”


A expressão não quer dizer que o líder cristão tem que ser casado.
Significa, sim, que ele tem que ser puro e, se casado, deve ser
absolutamente fiel à sua mulher. É preciso lembrar que esta
recomendação foi feita num tempo em que a poligamia era muito
comum. Muitos conversos ao cristianismo eram de procedência pagã e
praticantes da poligamia. Havia judeus que a admitiam. Em nossos
dias, as leis e os códigos de moral não permitem a poligamia, mas os
casos furtivos ou públicos de infidelidade conjugal e de concubinato se
multiplicam. O cinema, a televisão, a literatura e os pseudo-
conselheiros matrimoniais têm contribuído muito para isto. E, que
tragédia! Alguns crentes e mesmo líderes de igreja têm cedido às
pressões e às tentações.
Veja nas passagens seguintes a seriedade com que a Bíblia trata
deste assunto. Há muitas outras, mas o espaço aqui só nos permite
citar estas:
● Jó 31:1-12. Jó era um "homem íntegro e reto, temente a Deus, e
que se desviava do mal" (1:1). Mas ele também teve que fazer
uma aliança com os seus olhos... Compare com II Sm 11:2-4; Nm
15:39b; Mt 5:27-29.
● Pv 5:1-23 0 sexo, com a própria e única mulher (ou com o próprio
e único marido) é criação e dádiva de Deus, que visa a procriação
(SI 127:3; 128:3-4) e o prazer (Pv 5: 18-19; I Tm 4:3-5). Fora do
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casamento, o sexo é iniqüidade que prende, cordas de pecado que


detém, falta de disciplina, loucura (Pv 5:22-23).
● MI 2:14-16. Note a importância que Deus dá aos votos feitos no
casamento. Ele foi testemunha dos mesmos, e não se esquece...
O patriarca Abraão é censurado no v.15 (ver Gn 16:1-4).’‘Ninguém
seja infiel para com a mulher da sua mocidade”.

Alguns passos preventivos:


a. Evite as fantasias sexuais. Veja Fl 4:8.
b. Se estiver namorando ou noivando, Iembre-se de que Deus
preservou a sexo para o casamento. Veja I Ts 4:3-8. Carícias em
demasia nesse período comprometem o relacionamento do casal
depois, na vida conjugal (haverá desconfiança, ciúme etc.).
c. Se você é casado(a), ame a sua esposa (ou o seu marido); cultive
um relacionamento feliz com ela (ou com ele).
d. A vida espiritual do casal, assim como a comunicação e o sexo são
da máxima importância. Ver Cl 3:19; I Pe 3:7; Tt 2:4-5; I Co 7:2-5.
e. Evite expor-se deliberadamente às tentações. Cada um conhece a
sua estrutura e as suas reações. Por que permitir-se conflitos e
riscos desnecessários? Ver I Co 6:18; II Tm 2:22.
f. Fortaleça-se com o estudo regular da Bíblia, com orações
constantes e participação na adoração da igreja. SI 119:11; Mt
26:6-13; Hb 10:25.

5.2. “QUE GOVERNE BEM A SUA PRÓPRIA CASA”


Em nosso dias, mais e mais homens e mulheres estão confusos a
respeito desta importante questão: o governo da casa. Há maridos
tiranos, machistas, autoritários... E há aqueles que se curvam, se
rendem, e entregam o "governo da casa". Cuidam do seu trabalho (às
vezes nem isto) e deixam para a esposa o controle das finanças, das
compras, dos horários, e a criação e educação dos filhos. Isto é muito
cômodo... e trágico. Não importando o grau de submissão de sua
mulher (Ef 5:22-24) e da obediência dos filhos (Ef 6:1), o marido e pai
deve assumir plenamente a sua posição de "cabeça" e governar bem a
sua casa. Esse "bem" certamente envolve amor, amizade, humildade,
sabedoria, firmeza, presença, conhecimento bíblico, oração. A ênfase
dos textos parece estar na educação dos filhos: "governe... criando os
filhos sob disciplina, com todo respeito" (I Tm 3:4); "que tenha filhos
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crentes, que não são acusados de dissolução, nem são


insubordinados" (Tt 1:6). A razão desta exigência, no caso dos líderes
da igreja é simples: "pois se alguém não sabe governar a própria casa,
come cuidará (governará) da igreja de Deus?" (ITm 3:5)

5.3. “HOSPITALEIRO”
Se os cristãos de modo geral devem "praticar a hospitalidade" (Rm
12:13), muito mais os líderes da Igreja. As portas de suas casas
devem estar abertas para pregadores e evangelistas itinerantes,
músicos, cantores, irmãos em Cristo e mesmo estranhos (ainda que
certos cuidados sejam necessários nestes dias de tanta exploração,
maldade, violência). Convidar irmãos para uma refeição, acolher um
Pequeno Grupo de estudo bíblico e comunhão são formas de praticar
a hospitalidade. Ver Lc 10:38; At 10:22-27; 16:15; Rm16:23; I Co
16:19.
6. LÍDERES BEM QUALIFICADOS
Sob este título, estudaremos as virtudes relacionadas com o equilíbrio
emocional e temperamental tanto dos líderes como dos demais
cristãos.

6.1. “TEMPERANTE”
I Tm 3:2. Ver também I Tm 3:11 e Tt 2:2. O indivíduo temperante tem
uma perspectiva clara e profunda da vida; seus prazeres não são
primariamente os dos sentidos, mas, sim, os da alma; não se dá a
excessos (na alimentação, no trabalho, na doutrina), mas é moderado,
equilibrado e cuidadoso. Esta virtude relaciona-se com os gostos e
hábitos físicos, morais e mentais. Ver Fl 4:5.

6.2. “SÓBRIO”
I Tm 3:2; Tt 1:8. A palavra grega, que nestas passagens é traduzida
por "sóbrio", aparece em Tt 2:2-5 e é traduzida por "sensato".
Também pode significar "prudente". Talvez o melhor comentário
sobre o que Paulo tinha em mente se encontra em Rm 12:3. O
apóstolo queria instruir os cristãos a fazerem uma avaliação mais
"sóbria", "sensata" ou "prudente" de si mesmos em relação a Deus e
aos outros cristãos.
Ver Rm 12:4-8; 1 Co 12:14-27. Nas igrejas de Roma e de Corinto,
havia crentes que tinham uma opinião demasiadamente elevada
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acerca de seus respectivos dons espirituais e posição no corpo de


Cristo. Conseqüentemente, Paulo teve de escrever-lhes: "digo a cada
um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém,
antes, pense com moderação..." (Rm 12:3). As pessoas sóbrias são
necessariamente humildes. Elas têm uma opinião equilibrada a seu
próprio respeito. Estão cônscias de que tudo o que têm (dons,
habilidades, posses, etc.) vem de Deus. Sem Ele, não são nada (Jo
15:4).
Todavia, esta virtude não significa fraqueza. Ter uma perspectiva
adequada do nosso lugar dentro da família de Deus e reconhecer que
não somos nada sem Cristo, não significa que devemos ser tímidos,
retraídos, sem auto-estima, sentindo-nos incapazes. Timóteo, ao que
parece, tinha problemas neste setor. Paulo escreveu-lhe: "...te
admoesto que reavives o dom de Deus, que há em ti... Porque Deus
não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de
moderação. Não te envergonhes, portanto... " (II Tm 1:6-8). E
"ninguém despreze a tua mocidade... " (I Tm 4:12).
As pessoas, mesmo crentes, freqüentemente vão a dois extremos. Ou
se consideram um fracasso ou têm uma opinião exagerada de si
mesmas. Precisamos saber que tudo o que somos e temos provém de
Deus, graciosamente. Por outro lado, devemos reconhecer e usar os
recursos materiais, os talentos naturais e os dons espirituais que Deus
nos tem dado e com eles fazer grandes façanhas para Deus (II Co 3:4-
6a; Fl 4:13).

6.3. “MODÉSTIA”
I Tm 3:2. No original grego, o termo significa "bem comportado",
"respeitável”, "ordeiro" ou "bem- organizado". Paulo está dizendo aqui
que o líder da igreja deve ter uma vida bem organizada, tanto no que
diz respeito à moral interior como no que se refere à conduta exterior.
Pensamentos e conceitos organizados, arrumados e limpos;
vestimenta, calçado, cabelo, barba, casa, jardim, mesa de trabalho,
carro, tudo bem tratado e com boa aparência. Paulo usa a mesma
palavra quando fala da maneira como as mulheres devem se vestir (I
Tm 2:9-10).
A forma verbal dessa palavra é ainda mais esclarecedora. Aparece em
Mt 12:44 (casa varrida e ornamentada), Mt 23:29 (túmulo adornado),
Mt 25:7 (lâmpadas preparadas), Lc 21:5 (templo ornado de belas
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pedras e de dádivas). Mas talvez o uso mais expressivo do termo seja


o que Paulo lhe dá em Tt 2:9-10. Os servos devem ser obedientes,
não respondões etc., "a fim de ornarem... a doutrina de Deus, nosso
Salvador". Esta ilustração, naturalmente, alarga o conceito da
respeitabilidade ou modéstia. Paulo está dizendo que um homem
respeitável ou modesto adorna os ensinamentos da Bíblia. A fala, a
veste, o escritório, o lar, os negócios - tudo deve ser mantido em
ordem, com boa aparência, a bem do testemunho e da doutrina. Nosso
Deus é ordeiro!

6.4. “NÃO DADO AO VINHO”


I Tm 3:3,8;Tt 1:7. A posição bíblica nessa questão de beber ou não
beber vinho é a de equilíbrio, de moderação e cuidado. Paulo diz: "não
dado ao vinho" e "não inclinado a muito vinho". Em I Tm 5:23 ele
mesmo recomenda ao jovem pastor Timóteo: "Não continues a beber
somente água; usa um pouco de vinho por causa do teu estômago e
das tuas freqüentes enfermidades". Naquela época, o vinho era
reputado medicamente útil na ajuda à cura de várias enfermidades; e
quem sofria de dificuldades de digestão poderia ser ajudado mediante
o uso moderado do vinho.
Em suas epístolas, Paulo combate a posição extremada dos hereges
gnósticos da época, os quais pregavam o ascetismo (práticas de
abstinência com fins espirituais ou religiosos). Ver I Tm 4:3-4; Cl
2:16,18. E também Jo 2:1-11; Mt 11:19.
Por outro lado, o mesmo apóstolo e outros autores sagrados
condenam veementemente o uso abusivo do vinho (suco de uva
fermentado) e de bebidas fortes. Paulo escreveu aos Efésios: "Não
vos embriagueis com vinho no qual há dissolução..." (Ef 5:18). E o
sábio Salomão escreveu nos Provérbios: "Para quem são os ais? para
quem os pesares?... para os que se demoram em beber vinho, para
os que andam buscando bebida misturada. Não olhes para o vinho
quando... resplandece no copo... " Em outras palavras, se o vinho lhe
parece tão atraente, tentador, evita-o! Ver Pv 23:29-35.
Há um outro aspecto deste assunto que precisamos considerar.
Embora Paulo não ensinasse a abstinência total por motivos ascéticos
(que estimulam o orgulho espiritual), ele disse aos romanos: "... é bom
não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa
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com que teu irmão venha a tropeçar" (Rm 14:15-21 e 15:1-3). O amor
aos irmãos é o princípio mais elevado.
Assim, temos dois ensinos diretos na Palavra de Deus em relação ao
vinho ou outra bebida forte:
● Não podemos ser adeptos da bebida e jamais devemos permitir que
ela nos influencie negativamente.
● Haverá circunstâncias em que a melhor coisa a fazer é abster-nos
totalmente do vinho a fim de não servir de escândalo para outros.

Os líderes, mais que os seus liderados, têm o dever de praticar estes


princípios.

7. LÍDERES DA PAZ
Consideremos agora as virtudes que permitem que os líderes sejam
instrumentos da paz e harmonia no lar, no trabalho e na igreja.

7.1. “NÃO ARROGANTE”


Tt 1:7. Arrogar é ter como próprio, atribuir-se a si. Diz-se "arrogar-se o
direito de". O indivíduo arrogante é altivo, orgulhoso, pretencioso,
teimoso; ele pensa que nunca erra, e jamais admite que cometeu um
erro; sempre acaba fazendo o que quer. Se tiver que entregar os
pontos, ele o faz resmungando. "Esta bem" - diz ele - "mas acho que
esta não é a melhor maneira de resolvermos o assunto..." O homem
arrogante age corno um ditador no seu lar, e a tendência é ser assim
no trabalho e na igreja. Ele toma as decisões e os outros quase nada
podem dizer ou fazer, senão curvar-se à sua vontade (pelo menos na
sua presença).
A palavra grega traduzida por arrogante em Tt 1:7 só aparece em
mais um outro lugar no Novo Testamento: em II Pe 2:10. Aqui foi
usada num contexto mais amplo, rico em significado. Trata-se de um
caso extremo de arrogância. Pedro adverte os cristãos contra os falsos
mestres e diz como reconhecê-los. Eles "seguirão as suas práticas
libertinas, e... movidos por avareza, farão comércio de vós, com
palavras fictícias..." (II Pe 2:2-3). Eles "menosprezam qualquer
governo". Serão " atrevidos, arrogantes " (II Pe 2:10). Seu
coração será "exercitado na avareza" (II Pe 2:14), e falarão "palavras
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jactanciosas de vaidade" (II Pe 2:18). O perfil está claro. O homem


arrogante é um homem ego-centralizado...

7.2. “NÃO IRASCÍVEL”


Tito 1:7.0 líder cristão não pode ser irascível; não pode irritar-se ou
encolerizar-se com facilidade; não pode perder as estribeiras; não
pode ser "pavio curto".
Nem toda ira é pecado. A Bíblia fala da ira de Deus (SI 76:7; Jo 3:36).
Mas esta tem o sentido de "justa indignação" (SI 7:11) e justo juízo
(Rm 2:5-10; Ef 5:6). Jesus manifestou indignação repetidas vezes
durante o seu ministério terreno (Mc 3:5; Jo 2:13-17). Os cristãos,
conseqüentemente, podem e devem irar-se, manifestando a sua
indignação e reprovação ante o pecado. De fato, há uma grande
necessidade de mais ira contra o mundo de hoje. Devemos, diante do
mal descarado, ficar indignados e não tolerantes, zangados e não
apáticos. Deus odeia o pecado e Seu povo deve odiá-lo também. Se o
mal desperta a Sua ira, também deve despertar a nossa. Ver Nm
16:1s; I Sm 11:6; Sl119:3s.
Ao mesmo tempo, devemos lembrar-nos de que nós próprios somos
pecadores, inclinados à intemperança e à vaidade. Precisamos vigiar
esta nossa ira santa e cuidar para que não se transforme em ira
pecaminosa. Veja SI 4:4; Ef 4:26-27. Nesta ultima passagem, Paulo
tem o cuidado de equilibrar sua expressão permissiva, "irai-vos", com
três negativas:
● "Não pequeis" Devemos assegurar-nos de que a nossa ira esteja
livre do orgulho ofendido, do despeito, da malícia, da animosidade
e do espírito de vingança.
● "Não se ponha a sol sobre a vossa ira". Isto quer dizer: não
fiqueis acalentando a ira; não deixeis que degenere em
ressentimento (ver Os vs. 31-32).
● "Nem deis lugar ao diabo", porque ele sabe quão fina é a
linha entre a ira santa e a ira pecaminosa, e quão difícil é para nós
encontrarmos um uso responsável para a ira. O diabo gosta de
ficar espreitando as pessoas zangadas, esperando poder tirar
proveito da situação ao provocá-las para o ódio ou a violência,
ou a um rompimento do comunhão.

7.3. “NÃO VIOLENTO”


Formação de Obreiro 15

I Tm 3:3. Tt 1:7. 0 que Paulo condena aqui é a atitude agressiva que


resulta da ira pecaminosa. Há indivíduos que parecem estar sempre
com os punhos cerrados, prontos para uma briga; são iracundos,
belicosos. Porque Deus se agradou da oferta de Abel e não da sua,
Caim "irou-se sobremaneira" e acabou matando o irmão (Gn 4:4-8).
Moisés tornou-se um homem "mui manso, mais do que todos os
homens que havia sobre a terra" (Nm 12:3). Mas ele também teve os
seus problemas com a ira que degenera em raiva e, por fim, em
violência. Ver Êx 2:11-12; 32:19; Nm 20:11 com vs. 8 e 12. Tiago e
João, discípulos de Jesus, intentaram pedir fogo do céu para consumir
os samaritanos que não quiseram hospedá-los, a eles e a Jesus (Lc
9:54).
7.4. “... PORÉM CORDATO...”
Tt 3:2; I Pe 2:18 e Tg 3:17. Nesta última passagem descreve-se a
"sabedoria lá do alto". Esta é "pura. pacífica, indulgente, tratável, plena
de misericórdia..." Esta é a idéia. O crente cordato é diferentemente
oposto ao iracundo. Ainda que jamais compromete a verdade bíblica,
ele está disposto a ceder quando a questão envolvida carece de
importância real, e mais ainda quando se trata dos seus próprios
direitos. Isto ele faz no espírito de I Co 6:7: "O só existir entre vós
demandas já é completa derrota para vós outros. Por que não sofreis
antes a injustiça?... o dano?"

7.5. “... INIMIGO DE CONTENDAS”


Esta expressão é ainda mais abrangente que a anterior, pois uma
pessoa pode não estar inclinada a "brigas e contendas" e, todavia,
gostar das contendas de palavras. Veja I Co 1:11-12;.3:3; I Tm 1:3-7;
Tt 3:9 e especialmente II Tm 2:23-25.

8. O LÍDER E O DINHEIRO
As expressões que vamos estudar neste bloco referem-se ao dinheiro
e aos bens materiais. Paulo diz que o (presbítero) não pode ser
"avarento" (1Tm3:3) e que os diáconos não podem ser "cobiçosos
de sórdida ganância" (v.8). Em Tt 1:7 torna a dizer: "O bispo... não
seja... cobiço de torpe ganância". Em muitas outras passagens, a
Bíblia adverte os crentes contra a avareza, a cobiça ou a ganância.
Formação de Obreiro 16

Alguns líderes, ministrando aos demais, são especialmente tentados


nesta área. Mas eles devem ser "modelos do rebanho" nesta questão
também.

8.1. O DINHEIRO NÃO É MAU


Inicialmente, é preciso esclarecer que o dinheiro em si mesmo não é
mau. Leia I Tm 6:9-10 e observe que a Bíblia não proíbe a posse de
riquezas, mas a ambição pela riqueza a qual expõe os homens a
"tentação e cilada", as "concupiscências insensatas e perniciosas". E
acrescenta: "o amor ao dinheiro é raiz de todos os males". Não é o
dinheiro que é mau, mas o "amor ao dinheiro", a ambição desmedida,
a cobiça. Note que o apóstolo está falando de "homens cuja mente é
pervertida... supondo que a piedade é fonte de lucro" (vs. 3-5). O cifrão
domina suas mentes e é a sua motivação.
A Bíblia conta a história de grandes homens de Deus que foram muito
ricos. Deus mesmo os enriqueceu não somente porque queria ser
glorificado neles, mas também porque os amava. Além disso,
aprendemos na Bíblia que quando Deus enriquece a alguns, Ele o faz
não apenas para o seu "aprazimento", mas também e especialmente
para "que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em
dar e prontos a repartir..." (I Tm 6:17-18. Ver At 2:44-45; 4:34-35; II Co
8:14-15).

8.2. UMA QUESTÃO DE PRIORIDADE


Falando das necessidades materiais, Jesus disse. "...vosso Pai
celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em
primeiro lugar, o Seu reino e a Sua justiça, e todas estas cousas vos
serão acrescentadas" (Mt 6:32-33). Jesus ensinou também que não
devemos ajuntar tesouros no terra, mas no céu, e acrescentou:
"Porque onde esta o teu tesouro, aí estará o teu coração" (Mt 6:19-21).
Ver também. Cl 3:1-2.
Trata-se de um "estilo de vida", determinado por aquilo que é mais
importante e duradouro. O dinheiro e os bens são importantes e
necessários, mas são meios, não o fim ou propósito de nossas vidas.
Tornamo-nos materialistas, egoístas, avarentos e gananciosos quando
amamos o dinheiro e os bens, e fazemos deles o alvo de nossas vidas.

8.3. A TENDÊNCIA HUMANA


Formação de Obreiro 17

A tendência humana é esquecer-se de Deus quando as riquezas


prosperam. Os filhos de Israel enfrentaram esta tentação quando
entraram na Terra Prometida. E Moisés os advertira de antemão,
dizendo: "Havendo-te, pois o Senhor teu Deus introduzido na terra
que... prometeu... te daria, grandes e boas cidades..., casas cheias de
tudo o que é bom, casas que não encheste... guarda-te, para que não
esqueças o Senhor..." (Dt 6:10-12). E outra vez: "Guarda-te, não te
esqueças do Senhor teu Deus, não cumprindo os Seus
mandamentos... Não digas no teu coração: A minha força e o poder do
meu braço me adquiriram estas riquezas" (Dt 8:11,17). Aprendamos
esta lição de Israel. As bênçãos materiais que Deus nos concede
podem vir a se transformar em uma maldição. Podemos nos esquecer
dAquele que no-las concedeu. É a tendência humana. Podemos ficar
tão envolvidos com as coisas materiais da vida que perdemos a
perspectiva espiritual. O dinheiro pode se transformar num fim em Si
mesmo e não num meio para alcançar os propósitos divinos.

8.4. A TENTAÇÃO DO LÍDER ESPIRITUAL


A Bíblia faz-nos saber que os líderes espirituais poderão enfrentar
tentações particulares em relação ao dinheiro. Eis por que Paulo, ao
especificar as qualificações dos presbíteros e dos diáconos, diz isto:
"não sejam... avarentos" , "cobiçosos de torpe ganância" (I Tm 3:3; Tt
1:7). Pedro também recomendou aos presbíteros: "Pastoreai o
rebanho de Deus. . não por sórdida ganância, mas de boa vontade" (1
Pe 5:2). Entre os cristãos verdadeiros e espirituais do primeiro século
havia homens com falsas motivações "...enganadores... ensinando o
que não devem, por torpe ganância" (Tt 1:10,11).Entretanto, é preciso
esclarecer que é a vontade de Deus que os líderes espirituais que se
dedicam integralmente ao ministério sejam sustentados
financeiramente pelas igrejas. Paulo escreveu aos coríntios: "Se vos
semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens
materiais?... Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados,
do próprio templo se alimentam? e quem serve ao altar, do altar tira o
seu sustento? Assim ordenou o Senhor aos que pregam o evangelho,
que vivam do evangelho..." (I Co 9:6-14). E a Timóteo, o mesmo
apóstolo escreveu: "Devem ser considerados merecedores de dobrada
honra (o sentido literal é dobrados honorários) os presbíteros que
presidem bem, com especialidade os que se afadigam na Palavra e no
ensino" (1Tm 5:17,18). Houve ocasiões em que o apóstolo Paulo não
Formação de Obreiro 18

recebeu dinheiro das igrejas e, além de pregar o evangelho, trabalhou


fabricando tendas a fim de sustentar-se (At 20:34; At 18:3-4).
Todavia, ele dizia ter o direito de não trabalhar (noutra profissão,
visando sustento) e receber da igreja (I Co 9:6,7,12). Noutras ocasiões
ele aceitou de bom grado as ofertas que lhe foram enviadas (ver Fl
4:15-18). Naquelas ocasiões, ele quis evitar que os pagãos
interpretassem mal suas motivações, não queria ser associado com os
falsos mestres cuja motivação era o dinheiro; algumas vezes, ele quis
sustentar-se através de um trabalho braçal a fim de prover um bom
exemplo para indivíduos que não gostavam de trabalhar (II Ts 3:7-11).
A lição como um todo está muito clara. Os lideres espirituais devem
ser cautelosos. Infelizmente o mundo do século vinte também está
cheio de aproveitadores religiosos. Mesmo entre os crentes
evangélicos existem Iíderes que se aproveitam das igrejas
financeiramente. E isto é uma tragédia! 0 reverso também acontece, e
é igualmente trágico. Paulo escreveu aos filipenses: "...no início do
evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou
comigo, no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros..."
(Fl 4:15). Dar as cousas espirituais e receber os bens materiais; dar
os bens Materiais e receber as cousas espirituais. Ver outra vez I Co
9:11 e Rm 15:26-27.

9. TESTEMUNHO DO LÍDER CRISTÃO


Vamos ver o que Paulo diz sobre o testemunho dos lideres cristãos
perante o mundo.

9.1. “É NECESSÁRIO QUE TENHA BOM TESTEMUNHO DOS DE FORA...”


l Tm 3:7. Um industrial não evangélico observou que os "crentes" que
trabalhavam na sua indústria eram os seus melhores operários.
Quando precisou contratar novos empregados, deu preferência aos
"crentes". Entretanto, o diretor não evangélico de uma escola na
cidade comentou que os professores evangélicos do seu
estabelecimento não eram, de modo algum, os mais zelosos no
cumprimento dos seus deveres.
O que as pessoas de fora da igreja dizem dos crentes é muito
importante. Se é um "bom testemunho'; Cristo é honrado, a igreja é
Formação de Obreiro 19

grandemente beneficiada e a pregação do evangelho encontra uma


melhor acolhida nos corações dos não salvos. Por outro lado, se os
"de fora" não têm boa impressão dos crentes, será muito difícil ganhá-
las para Cristo. Em I Tm 3:7 Paulo está falando da necessidade dos
líderes cristãos terem um "bom testemunho dos de fora", mas há
inúmeras passagens na Bíblia que falam sobre a importância de todos
os crentes terem uma boa reputação entre os não salvos.
(I Ts 4:11-12; Cl 4:5; I Co 10:31-33; II Co 6:3-7; l Pe 2:11-17) Trabalho,
negócios, Linguagem, modo de falar; Hábitos alimentares;
Adversidades, trabalho, caráter; Moral, civismo.).

9.2. “... A FIM DE NÃO CAIR NO OPRÓBRIO”


A Bíblia vê o "cair no opróbrio" (ignomínia, reprovação, crítica) de
duas perspectivas.
● Há a o opróbrio resultante do amor, da obediência e do
serviço a Cristo. É um opróbrio inevitável e bem-aventurado Leia
Mt 5:11 (note "por minha causa" e "mentindo"). Veja também Lc
6:22; I Pe 4:14; IITm 3:12; Hb 11:24-26; Jo 15:18-20; IJo 3:13.
● Mas há um opróbrio em nada bem-aventurado. É aquele que
resulta de procedimentos não condizentes com a fé cristã. Veja o
que Pedro diz em I Pe 4:15. No verso anterior ele fala do opróbrio,
de um sofrimento que podemos e devemos evitar. É deste que
Paulo está falando em I Tm 3:7. O opróbrio será maior se a pessoa
em questão for um líder de igreja.

9.3. “... E NO LAÇO DO DIABO”


"Laço" é armadilha, cilada. Paulo usa a mesma palavra em I Tm 6:9 e
II Tm 2:26. Como a crítica vinda dos não-cristãos pode constituir-se
num "laço do diabo"?
● Desonra. O opróbrio pode levar um homem a sentir-se
terrivelmente envergonhado, humilhado, aniquilado. Leia outra vez
I Pe 4:13-16. Note a preocupação de Pedro em confortar e alegrar
aqueles que estão sofrendo "pelo nome de Cristo". No v.16 ele diz:
"se sofrer como cristão, não se envergonhe disso..." Ora, se o
cristão que não tem motivos para envergonhar-se, sente-se
envergonhado, então, o cristão criticado por mal procedimento tem
Formação de Obreiro 20

duplo motivo para "ficar envergonhado". A emoção descrita aqui


pode levar ao desânimo, à depressão, ao desespero. Falando de
um certo indivíduo cristão que cometera grave pecado e fora
excluído da comunhão da igreja, Paulo, supondo que o faltoso já
teria se arrependido, escreveu aos coríntios: "... deveis perdoar-Ihe
e confortá-lo, para que não seja... consumido por excessiva
tristeza".
(II Co 2:7. Veja I Co 5:1,4-7)
● Temor e perda de confiança. O opróbrio pode causar também
temor e perda de autoconfiança. Até Paulo experimentou temor
e conflito emocional quando criticado (II Co 7:5,6).
● Ira e atitude de defesa. Essa é uma outra reação diante da critica.
Ver Rm 12:17-19.

Vergonha, temor, perda de confiança, ira, defesa geralmente


acompanham opróbrio e são "laços do diabo". Um bom testemunho
pode evitar essa derrota. Como está o seu testemunho perante o
mundo?
10. LÍDER AMIGO DO BEM

10.1. O BEM E O MAL


As Escrituras usam uma série de termos e expressões para definir o
que é o bem e o que é o mal. Identifique-os em Ef 4:25;5:2 e em CI
3:8-15.
Em Tt 1:8 aprendemos também que o líder cristão deve ser "amigo do
bem", isto é, uma pessoa permanentemente desejosa de fazer o bem,
não o mal. As Escrituras freqüentemente contrastam o desejo ou
conveniência de fazer o bem com o desejo ou propensão para fazer o
mal. Leia as seguintes passagens: Sl 37:27; Pv 31:10-12; Jr 13:23;
Am 5:14-15a; Rm 2:5-10; Rm 12:9; II Co 5:10. Vê-se, por estas e
outras passagens, que todos os cristãos devem ser amigos do bem.
Os líderes, porém, são "modelos do rebanho". I Pe 5:3.

10.2. O BEM É “FRUTO DO ESPÍRITO”


O apóstolo Paulo falou da sua luta pessoal para fazer o bem e não o
mal. Chegou a dizer, externando o conflito de todos aqueles que ainda
têm consciência do bem e do mal "... o querer o bem está em mim;
não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas a
Formação de Obreiro 21

mal, que não quero, esse faço... não sou eu quem o faz, e, sim, o
pecado que habita em mim" (Rm 7:18-20). Que situação! Não foi sem
razão que o mesmo apóstolo exclamou: "Desventurado homem que
sou!" (v.24). Mas ele diz, logo em seguida: "Graças a Deus por
Jesus Cristo nosso Senhor" (v. 25). O autor da epístola aos Hebreus
expressou este desejo para os seus leitores: "O Deus da paz... vos
aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a Sua vontade, operando
em vós o que é agradável diante dEle, por Jesus Cristo..." (Hb 13:21).
Toda a nossa propensão é para o mal, mas, quando aceitamos Jesus
Cristo como nosso Salvador pessoal e Senhor de nossas vidas, Seu
Espírito vem habitar em nós. Se nos submetemos inteiramente à Sua
direção, Ele produz em nós o Seu maravilhoso "fruto", que é o bem (Gl
5:16-26).

10.3. AVALIAÇÃO PESSOAL


Avalie a sua vida à luz destes textos bíblicos:
Gl 6:10; Hb 13:16
Aproveito todas as oportunidades para fazer o bem?
Rm 15:2; Ef 4:29
Será que eu edifico as pessoas ou as destruo?
II Co 9:10-11; I Tm 6:17-18
Uso os recursos materiais que Deus me dá para ajudar aos
necessitados?
Sl 35:12-14; Rm 12:19-21; Gl 6:9
Persisto em fazer o bem, mesmo quando me retribuem com o mal?
11. LÍDER JUSTO E PIEDOSO
Em Tt 1:8 lemos: "... é indispensável que a bispo seja... justo,
piedoso..."

11.1. “JUSTO”
No original grego, a palavra é "dikaiós", que aparece em oitenta e uma
vezes nas páginas do Novo Testamento, com significados diversos. Há
a justiça imputada, aquela que o crente recebe pela fé (Rm 3:21-24,26
Formação de Obreiro 22

e II Co 5:21). Essa justiça tem a ver com a nossa posição diante de


Deus. Mas há também a justiça prática, que tem a ver com a vida
diária, com a conduta reta e íntegra. Este parece ser o sentido aqui em
Tt 1:8. Ver também I Tm 1:9; Tt 2:11-12.

11.2. “PIEDOSO”
A palavra grega é "osios" e significa piedoso, agradável a Deus, livre
do pecado e da maldade, santo. Essa palavra aparece lado a lado com
"dikaios", justo, em outras passagens também, e não somente aqui em
Tt 1:8. Ver Lc 2:25; I Tm 6:11; Tt 2:12; II Pe 3:11. E isto não é por
mera coincidência. Essas palavras se completam. O "justo" cumpre os
seus deveres para com o homem; o "piedoso" cumpre as seus deveres
para com Deus. O rei Davi foi um homem muito piedoso. Os salmos
que escreveu mostram o quanto ele amava ao Senhor. E ele se
apercebeu do quanto o Senhor Se agradava disto, porque escreveu:
"O Senhor distingue para Si o piedoso; o Senhor me ouve quando eu
clamo por Ele" (SI 4:3). Uma vez ele ficou assustado com a corrupção
à sua volta e com a falta de temor a Deus e clamou: "Socorro, Senhor!
porque já não há homens piedosos; desapareceram os fiéis entre as
filhos dos homens." (SI 12:1).

11.3. APRENDENDO A JUSTIÇA


No Velho Testamento, o povo de Israel, num tempo de crise,
pretendeu a pratica da piedade sem a justiça. Mas Deus não se
agradou dos seus sacrifícios e demais atos de culto. Disse-Ihes: "De
que me serve a mim a multidão dos vossos sacrifícios?... Não
continueis a trazer ofertas vãs... não posso suportar iniqüidade
associada ao ajuntamento solene... Lavai-vos, purificai-vos, tirai a
maldade de vossos atos de diante dos meus olhos: cessai de fazer a
mal. Aprendei a fazer o bem; atendei a justiça..." ( Is 1:11-17).
Jesus também falou da necessidade de justiça prática antes de
pretender prestar culto a Deus. Ver Mt 5:23-24. Há uma "forma de
piedade" sem poder, que não opera a justiça. É tão morta quanto a fé
sem as obras. I Tm 3:5; Tg 2:17. Não tem valor nenhum para Deus, e
não melhora em nada a vida das pessoas.

11.4. EXERCITANDO A PIEDADE


Paulo escreveu a Timóteo: "Exercita-te pessoalmente na piedade..." (I
Tm 4:7). Os gregos davam muita importância ao exercício físico.
Formação de Obreiro 23

Paulo, porém, afirma que "o exercício físico para pouco é proveitoso,
mas a piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida
que agora é e da que há de ser" (v.8). O exercício físico aumenta a
força física e traz alguma satisfação pessoal, especialmente quando o
atleta consegue o primeiro lugar nas competições. Mas tudo isto tem
pouco proveito quando comparado com os benefícios da piedade,
nesta vida e na que há de ser. Foi neste sentido que Paulo escreveu a
Timóteo nesta epístola: "De fato, grande fonte de lucro é a piedade" (I
Tm 6:6). A própria comparação que Paulo faz entre o exercício da
piedade e o exercício físico, no contexto dos jogos e competições
gregos, dá-nos as dicas para o exercício da piedade:
● O atleta alimenta-se adequadamente e se exercita o mais possível.
Assim também nós devemos nos alimentar adequadamente da
Palavra de Deus e gastar as energias espirituais na prática da
justiça e no serviço a Cristo.
● A oração, praticada regularmente, é também um excelente
exercício espiritual (I Co 9:24-27).
● O atleta despe-se de tudo o que é supérfluo a fim de movimentar-
se livremente. Assim também nós devemos desembaraçar-nos de
tudo aquilo que possa impedir o nosso progresso espiritual e o
nosso serviço a Cristo (Hb 12:1).
● O atleta, quando corre, ou lança um disco, um dardo etc., fixa os
olhos num determinado alvo. Ou, conforme o esporte, ele
estabelece uma meta e esforça-se ao máximo por alcança-la.
Assim também nós devemos fixar os nossos olhos em Cristo
(nosso modelo e inspiração) e estabelecer nossa meta, a completa
dedicação pessoal a Deus e a Cristo (Hb 12:2; I Co 9:26).

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