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REGIONALIZAÇÃO: FATO E FERRAMENTA *
Ajustando lentes
Inicialmente procuramos definir ângulos de leitura do seminário
que contemplassem o fenômeno – a regionalização – e as diferentes
formas assumidas por seu questionamento durante o evento. Por
outro lado, também buscamos esclarecer diretrizes analíticas da
síntese aqui apresentada. Tais diretrizes encontraram abrigo na
diferença entre a regionalização como fato, que independe da ação
hegemônica do presente, e a regionalização como ferramenta desta
ação na atual conjuntura. Convém esclarecer, ainda, que
entendemos por ação hegemônica aquela conduzida pelas forças
econômicas e políticas que dominam o território brasileiro,
expressivas da aliança entre agentes externos e internos e condutora
de numerosas e difusas ações subalternas ou subalternizadas. Na
contra-face dos desígnios da ação hegemônica, temos tanto as
formas de resistência, por vezes em confronto apenas com agentes
secundários, como dinâmicas sociais que escapam aos mecanismos
de controle que garantem a expansão da territorialidade dominante.
* Agradecemos a Ester Limonad a atenta leitura das primeiras anotações deste texto e as
valiosas contribuições recebidas para a sua revisão.
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O fenômeno da regionalização
A noção de regionalização é nitidamente polissêmica. O termo
refere-se, mais do que à efetiva existência de regiões, à capacidade
de produzí-las, o que inclui o acionamento de ideologia, com apoio,
por exemplo, em dados da paisagem, valores culturais
compartilhados ou critérios político-científicos que legitimem
fronteiras e limites. O reconhecimento de regiões fundamenta-se,
como afirmado por Pierre Bourdieu (op cit), na naturalização de
relações sociais, baseada em processos que ocultam diferenças e
interesses. Atualmente, talvez seja justo dizer que a acirrada disputa
entre agentes da regionalização dificulta a, até recentemente, segura
preservação deste ocultamento. Emergem assim perguntas do tipo:
Para que regionalizar? Indagação realizada por Ester Limonad** na
abertura do seminário, a partir da história do planejamento. Esta
pergunta também surge na contribuição de Cláudio Egler, quando
valoriza as dimensões institucionais da questão regional.
É necessário salientar que a estratégica conjugação entre
regionalização como fato e regionalização como ferramenta, trazida
pela presentificação, envolve as seguintes mudanças, identificadas
no seminário:
1. aumento da reflexividade e da influência da ação
instrumental na formulação da questão regional, o que traz,
como assinala Egler, mudanças significativas nos arranjos
institucionais responsáveis pela regionalização;
2. intensificação dos vínculos entre território, economia e
política, conforme propõe Rogério Haesbaert ao ressaltar
as diferentes modalidades de territorialização da ação social.
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VII. Por que a análise espacial necessita grandes investimentos nas tarefas
teóricas e conceituais, que são também de método? A ideologização do
presente.
Na análise da regionalização, existem difíceis tarefas teóricas,
relacionadas às mediações entre fenômenos aparentemente
descolados uns dos outros. Estes fenômenos integram a
racionalidade e a reflexividade contemporâneas, que atualizam
relações técnicas e sociais de produção. Na análise do presente,
torna-se relevante o retorno à história, como demonstram Dias,
Monte-Mór, Lencioni, Barbosa e Egler. Este retorno também favorece,
como demonstra Limonad, a observação crítica da retórica
regionalista e, como apresenta Lencioni, a reflexão do complexo
fenômeno da desindustrialização.
Ganha destaque, atualmente, a problemática da produção social
do espaço através do entrelaçamento, em distintas escalas, de
processos de diferentes idades. Este entrelaçamento impõe a
consideração dos conceitos de rede e de representação, tratados
por Dias. A região ressurge através de novos ordenamentos dos
fluxos, como Egler exemplifica ao citar os conceitos de bacia urbana
x rede urbana. Nesta direção, Lencioni desenvolve a reflexão da
produção social do espaço através da análise de processos
complexos, tais como os que expressam a desconcentração e a
descentralização industriais. Monte-Mór, por sua vez, examina o
entrelaçamento de processos na urbanização extensiva e no espaço
social regional. Nestes investimentos analíticos, evidencia-se a
necessidade de construir reais híbridos teórico-empíricos, tais como
as noções de cidade-região e território-rede (Lencioni), que buscam
dar conta da nova dinâmica da expansão da mancha urbana (Egler).
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Indicações de método
No conjunto dos trabalhos, identificamos outros desafios de
método. Citamos, de início, a crise do pensamento dicotômico, que
restringia o recurso à dialética. Haesbaert destaca, nesta direção,
as dinâmicas abertas e inconclusas, ao mesmo tempo em que
valoriza invariantes da reflexão do espaço: superfícies, pontos, linhas
e malhas, nós e redes.
Em sua apreensão do mundo-mundializado, Barbosa, por outro
lado, contrapõe indicadores e conceitos e, também, indicadores e
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