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ROTEIRO PARA AULA DE BIOQUÍMICA

METABOLISMO DOS GLICÍDIOS

1-INTRODUÇÃO:
Os três principais Glicídios da dieta humana são os dissacarídeos sacarose e lactose e o homopolissacarídeo
amido. A celulose, presente nas frutas, legumes, verduras frescas, grãos e cereais constitui o conteúdo em fibras da
dieta normal, porém, não pode ser digerida por nenhuma das enzimas digestivas do organismo humano. Em vista
disso, esta é eliminada sem utilização, contribuindo para aumentar a quantidade de resíduo alimentar no intestino,
criando massa para as fezes e estimulando o trânsito intestinal. Sua capacidade de absorver água reduz o esforço da
evacuação. A ingestão de Glicídios é de 250 a 800 g/dia, o que representa cerca de 50 a 60% da dieta normal.

2-DIGESTÃO:
A digestão dos Glicídios inicia-se na boca, pela ação da enzima amilase salivar (ptialina), que hidrolisa as
ligações glicosídicas 1-4 do amido e do glicogênio, formando uma mistura de dextrinas e moléculas de maltose,
isomaltose e glicose. Quanto maior o tempo de contato do alimento com a saliva, maior a ação da amilase. O
cozimento de alimentos vegetais, com o conseqüente rompimento da camada de celulose, ajuda à ação da amilase
que é inativada quando o alimento passa para o estômago, devido ao baixo valor do pH. Embora a digestão do
amido se inicie na boca, quase toda a digestão dos Glicídios ocorre no intestino delgado devido à ação das enzimas
 amilase pancreática, maltase, sacarase, lactase e oligo 1:6 glicosidase a qual promove a ruptura das ligações 1-6
da isomaltose. Os produtos finais da digestão são glicose, galactose e frutose.

3-ABSORÇÃO:
Os monossacarídeos provenientes da digestão são absorvidos nas células epiteliais do intestino delgado. A
glicose e a galactose são absorvidas por um sistema de transporte ativo Na +-dependente. O transportador tem dois
sítios de ligação para o Na+ e um outro, ao qual a molécula de glicose ou de galactose pode se ligar. Como dois Na +
são transportados a favor de um gradiente eletroquímico, grande quantidade de energia fica disponível para o
transporte; portanto, quase toda a glicose e a galactose presentes no intestino podem ser absorvidas. A frutose é
absorvida rapidamente porque a maior parte da frutose presente na dieta é convertida imediatamente em glicose e
ácido láctico nas células epiteliais intestinais. Após absorção pelos enterócitos os monossacarídeos são
transportados através da membrana basolateral, por difusão facilitada e, em seguida, difunde-se do interstício
intestinal para os capilares das vilosidades. Não existe nenhum fator que controla a absorção dos monossacarídeos.
Por isto, o intestino pode receber, digerir e absorver mais de 5 Kg de sacarose por dia. A deficiência na absorção de
glicídios resulta em diarréia e gases intestinais. Os monossacarídeos não absorvidos atuam como partículas
osmóticas e atraem excesso de líquidos para o intestino, o que resulta em diarréia. A flora do intestino e cólon
metaboliza os monossacarídeos não absorvidos produzindo uma variedade de gases como Hidrogênio, Metano, e
Gás Carbônico, assim como substâncias que irritam a mucosa intestinal. A intolerância à lactose é a causa mais
comum de disabsorção de Glicídios. É resultante da incapacidade das células caliciformes produzirem lactase. Nos
adultos é mais comum, porém, normalmente não é um problema. Entretanto, nas crianças, a desidratação
decorrente da diarréia pode ser uma ameaça à vida.

4-CIRCULAÇÃO:
A glicose, após absorção, cai na circulação e chega às células de todos os tecidos, em todo o organismo,
para ser metabolizada. A presença de glicose no sangue é chamada glicemia. Sua quantidade é normal quando está
entre 70 e 100 mg/dL de sangue. Acima ou abaixo destes valores dizemos que o indivíduo está hiperglicêmico ou
hipoglicêmico, respectivamente. Para transpor a membrana das células a glicose necessita do hormônio Insulina,
produzido pelo pâncreas e que tem função hipoglicemiante. Após a entrada da glicose nas células inicia-se o seu
metabolismo. Determinados órgãos como o cérebro, os rins, as glândulas mamárias e algumas células como
eritrócitos e hepatócitos não necessitam de insulina.

5-ARMAZENAMENTO:
No organismo humano a glicose é armazenada principalmente no fígado e nos músculos na forma do
homopolissacarídeo chamado Glicogênio.
6-METABOLISMO DA GLICOSE:
No interior das células a glicose sofre fosforilação no Carbono 6. No fígado esta reação é catalisada pela
enzima glicoquinase ativada por insulina, conforme mostrado na reação abaixo:

GLICOSE + ATP G-6-P + ADP

No fígado e nos tecidos periféricos onde sofre fosforilação no Carbono 6, catalisada pela enzima
hexoquinase, a G-6-P pode seguir várias vias metabólicas. É importante ressaltar que, nos músculos, a fosforilação
da glicose se dá no Carbono 1, formando G-1-P que permanece dentro das células musculares. A G-1-P não pode
sair transformando-se em G-6-P e a seguir em glicose, pois as células musculares, assim como as células cerebrais,
não possuem a enzima glicose-6-fosfatase existente nos hepatócitos. Para o fígado, a saída de glicose é irrelevante,
visto que o mesmo pode usar como combustível, outras moléculas como o lactato e os ácidos graxos.

VIAS METABÓLICAS DA G-6-P NAS CÉLULAS HEPÁTICAS

6.1-GLICÓLISE:
Via metabólica que ocorre no citosol e consiste na oxidação da glicose e formação de ATP. A degradação
da glicose por via aeróbica tem como produto o ácido pirúvico ou piruvato, já que na célula este ocorre sempre na
forma ionizada. Por via anaeróbica a degradação da glicose produz ácido láctico ou lactato. A maioria das reações
da glicólise é reversível, sendo a enzima utilizada nos dois sentidos da reação. Apenas três é exceção: 1-reação de
fosforilação da glicose formando glicose-6-fosfato (G-6-P), mencionada anteriormente e chamada reação de
aprisionamento da glicose na célula;
- 2-reação de fosforilação da frutose-6-fosfato formando frutose-1-6-difosfato;
- 3-reação de transformação do fosfoenolpiruvato em piruvato;

Na glicólise temos também a formação de ATP sem a participação da CTE em dois pontos, onde a energia
liberada na transformação do substrato em produto é suficiente para ligar o fosfato ao ADP, formando ATP. São
eles: a transformação do 1,3-difosfoglicerato em 3-fosfoglicerato e a transformação do fosfoenolpiruvato em
piruvato.
A glicólise também produz o composto NADH+H + que poderá doar seus elétrons seguindo duas vias
diferentes:
1- Quando o NADH+H+ doa seus elétrons para o piruvato este se reduz a lactato, em ausência de Oxigênio,
nos músculos.
2- Quando o NADH+H+ doa seus elétrons para a CTE estes são transferidos por vários substratos até chegar
ao Oxigênio formando água e ATP.
Os Hidrogênios do NADH+H+ são transportados do citosol para as mitocôndrias através dos sistemas
Oxaloacetato/malato/aspartato em órgãos como o fígado, os rins e o coração; no cérebro e nos músculos
esqueléticos o transporte é feito através do sistema Dihidroxicetona-fosfato/glicerol-fosfato.
Ë importante notar que no sistema Oxaloacetato/malato/aspartato o aceptor inicial dos elétrons é o NAD + e
serão formados, portanto, três ATPs. No sistema Dihidroxicetona-fosfato/glicerol-fosfato o aceptor de elétrons é a
Coenzima Q e, portanto, serão formados somente dois ATPs.

7- METABOLISMO DO ÁCIDO PIRÚVICO:


O metabolismo do ácido pirúvico em mamíferos ocorre nas mitocôndrias, a partir da reação de
descarboxilação oxidativa do mesmo formando Acetil-CoA. Esta reação é catalisada pelo sistema enzimático
Piruvato-desidrogenase que inclui três enzimas, a saber: piruvato desidrogenase, transacetilase diidrolipóica e
desidrogenase diidrolipóica. Este sistema inclui ainda cinco cofatores, indispensáveis para que ocorra a seqüência
de reações. Os cofatores são: Tiamina pirofosfato (TPP), Ácido Lipóico (LTPP), FAD, NAD e Coenzima A (CoA-
SH). A reação de descarboxilação do piruvato é irreversível, impedindo, assim, a síntese efetiva de Glicídios a
partir de Lipídeos.
O metabolismo do ácido pirúvico em ausência de Oxigênio é realizado por alguns microrganismos
chamados fermentadores e no final produz etanol. Esta via, característica de microorganismos, chamada
fermentação alcoólica e que não ocorre no homem, será estudada em separado.

POSSÍVEIS VIAS METABÓLICAS DO ÁCIDO PIRÚVICO

8-CICLO DE KREBS:
Também chamado ciclo do ácido cítrico ou ciclo dos ácidos tricarboxílicos, o ciclo de Krebs ocorre nas
mitocôndrias, a partir do AcetilCoA formado pela descarboxilação oxidativa do piruvato. Como partimos de uma
molécula de glicose que é uma aldohexose, teremos a formação de duas moléculas de piruvato e também duas de
AcetilCoA. Cada molécula de AcetilCoA vai entrar no ciclo de Krebs após reação de condensação com o
oxaloacetato formando citrato. Uma vez formado, o citrato dará início a uma seqüência de oito reações e ao final, o
oxaloacetato será regenerado. A molécula de oxaloacetato, chamada “alimentadora” do ciclo de Krebs, pode ser
formada também a partir da reação de carboxilação do piruvato, conforme reação abaixo:

PIRUVATO + CO2 + ATP OXALOACETATO + ADP + Pi

Esta reação é catalisada pela enzima piruvato-carboxilase em presença dos cofatores Biotina e íons
Magnésio.
O ciclo de Krebs tem duas funções essenciais no organismo:

1-Função energética:
- produção de três moléculas de NADH+H+ , as quais levarão à formação de nove ATPs na CTE sendo três
para cada molécula de NADH+H+;
- produção de uma molécula de FADH2 (forma reduzida), que na CTE dará origem a dois ATPs;
- produção de uma molécula de GTP (ácido guanidílico), que dará origem a uma molécula de ATP, sem o
auxílio da CTE.

2-Função biossíntética:
Alguns intermediários do ciclo de Krebs podem ser desviados, a bem do metabolismo aeróbico, para a
produção de determinados aminoácidos e outros compostos como bases nitrogenadas púricas e pirimídicas.
Com a passagem do AcetilCoA pelo ciclo de Krebs, liberando prótons, elétrons e uma molécula de CO 2,
completa-se a glicólise aeróbica. Podemos agora, fazer um balanço total da quantidade de ATPs produzidos e
gastos nas reações da degradação total da glicose até CO2 e água.

REAÇÕES PRODUÇÃO DE ATP GASTO DE ATP


Glicólise aeróbica 10 2
Descarboxilação do piruvato 6 0
Ciclo de Krebs 24 0
TOTAL 40 2
SALDO

9. GLICONEOGÊNESE:
É o processo de formação de glicose a partir de substâncias não glucídicas tais como: ácido láctico, ácido
pirúvico, glicerol, alanina, etc.. Este processo ocorre no fígado e nos rins, no citosol e nas mitocôndrias, quando o
organismo não possui glicose em quantidade suficiente para suprir as suas necessidades. A maioria das reações da
gliconeogênese ocorre na glicólise, só que em sentido inverso, sendo então este processo chamado glicólise
reversa. Para se transformar em glicose, primeiramente a alanina se transforma em ácido pirúvico numa reação
catalisada por uma transaminase. O ácido láctico, por sua vez, transforma-se em ácido pirúvico em reação
catalisada pela lactato-desidrogenase, em presença da coenzima NAD. O glicerol também não forma glicose por
via direta, sendo necessário que se transforme, através de três etapas de reações, em dihidroxicetona-fosfato, que
em seguida entra na via da glicólise reversa. Este processo gasta uma molécula de ATP para cada molécula de
glicerol ser fosforilada.

10- CICLO DE CORI:


É o nome dado ao processo de ida até o fígado do ácido láctico produzido nos músculos, por via vascular,
onde este é transformado em ácido pirúvico e depois em glicose, a qual retorna aos músculos pela mesma via para
ser degradada produzindo ATP. Esta via alternativa de síntese tem como função suprir os músculos de glicose
durante a execução de exercícios. O aproveitamento do ácido láctico para este fim também reduz a possibilidade da
ocorrência de fadiga em atletas que realizam exercícios de resistência.

11-METABOLISMO DO GLICOGÊNIO:

11.1-SÍNTESE DO GLICOGÊNIO:
Também chamado glicogenogênese ou glicogênese este processo ocorre no fígado e nos músculos quando
há disponibilidade de glicose para ser armazenada. Esta forma de armazenamento da glicose não engorda. Inicia-se
a partir de um conjunto de 4 moléculas de glicose chamado Primer. A partir deste são acrescentadas, por ligação
glicosídica  1-4, mais moléculas de glicose, sob ação da enzima glicogênio-sintetase. Quando a cadeia apresenta
cerca de 8 resíduos de glicose, entra em ação uma outra enzima chamada ramificante, que une as moléculas de
glicose por ligação  1-6, iniciando, assim, a formação de ramificações ao longo da cadeia glicosídica do
glicogênio.

11.2- DEGRADAÇÃO DO GLICOGÊNIO:


Ocorre toda vez que o organismo necessita de glicose, a partir da hidrólise das ligações glicosídicas por
ação enzimática, levando à formação de glicose-1-fosfato (G-1-P). As enzimas que atuam neste processo são:
- glicogênio fosforilase: hidrolisa ligações glicosídicas  1-4, a partir das extremidades, até faltarem três
resíduos de glicose para chegar na ramificação. Esta enzima existe na forma inativa, sendo ativada por
fosforilação.
- transferase: transfere a ramificação com três resíduos de glicose para a cadeia linear, deixando apenas um
resíduo de glicose com ligação  1-6.
- glicosidase: hidrolisa a ligação  1-6, formando uma estrutura sem ramificação, contendo somente ligações
 1-4 sobre as quais a enzima glicogênio fosforilase volta a atuar.
A hidrólise ocorre sempre da extremidade não-redutora para a extremidade redutora. É ativada no fígado
pelo hormônio Glucagon e nos músculos pela noradrenalina. A glicogenólise no fígado ocorre, geralmente, em
decorrência de jejum prolongado e, nos músculos, em decorrência da realização de exercícios físicos intensos e de
longa duração. A G-1-P assim formada sofre ação de uma enzima chamada mutase e se transforma em G-6-P e
depois em glicose, caindo na circulação.

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