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,UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
DISCIPLINA: POLÍTICA SOCIAL I – 1ª AVALIAÇÃO (2021.02)
Equipe: Adriana Rocha da Piedade, Andreia Cristina Pereira dos Santos, Marcely Botão de
Sousa,

1. Os princípios liberais caracterizam a origem das políticas sociais de forma que as


primeiras iniciativas de ações assistenciais associadas ao trabalho forçado
possuíam caráter punitivo e ofertavam garantias mínimas aos pobres. Reflita a
respeito.
Diante do contexto histórico e econômico no período que procede a Revolução
Industrial existiram algumas ações que na época eram consideradas como políticas sociais,
com a finalidade de preservar a ordem com a utilização do poder coercitivo e com punição,
segundo Behring e Boschetti as legislações seminais estabeleciam um “código coercitivo do
trabalho”, em que o propósito era de punir severamente e não proteger os pobres. A lei
Speenhamland que ficou em vigor até 1795 tinha objetivo de manter a ordem e proibir o
fluxo da força de trabalho, desacelerando a circulação do livre mercado de trabalho, e em
meados dos séculos XIX é promulgado “A nova lei dos pobres” em 1834, com o intuito de
tornar livre a força de trabalho necessária, tornando o mercado de trabalho competitivo.
No Entanto, a intenção dessas leis era de obrigar a todos que estavam em boas
condições para trabalhar, e que manter-se sua sobrevivência por meio do trabalho mediante
ao trabalho forçado, ofertava-se auxílios mínimos aos pobres trabalhadores, que se
sujeitavam a uma seleção criteriosa e restrita, assim, poucos obtinham os benefícios, na qual
era necessário desempenhar um trabalho para ter o direito a assistência.
Em contradição, enquanto que “A nova lei dos pobres” impulsionava o trabalhador
a aceitar qualquer trabalho, mesmo o salário sendo mínimo e irrisório, a todo custo, a lei
Speenhamland possibilitava o trabalhador barganhar o valor da sua força de trabalho,
restringindo o mercado de trabalho. Portanto “A nova lei dos pobres” se estabeleceu na
primazia do capitalismo com a ideologia liberal do trabalho, reduzindo a assistência aos
pobres, fomentando “a liberdade e competitividade na compra e venda da força de trabalho,
cujo, fez com que o capitalismo regredisse mesmo em relação a essas formas restritivas de
proteção assistencial à população pobre.” (BERING e BOSCHETTI, 2016, pg. 50).
Assim, essas legislações que puniam o trabalhador para preservar a ordem foram se
modificando, quando a classe trabalhadora se mobilizou contra a jornada de trabalho e o
salário insignificante que não era suficiente para sua subsistência, e com a inserção do
capitalismo liberal e o livre mercado do trabalho se intensificou a desigualdade e a crescente
pauperização em que o liberalismo definiu como seleção natural.
O liberalismo foi inspirado pelas ideias de David Ricardo e Adam Smith em que
relacionava cada indivíduo a agir em seu próprio interesse econômico, isto é, cada um faz sua
parte, conforme sua individualidade, e juntos tornam uma coletividade, na qual
potencializaria o bem estar coletivo, ou seja, o livre mercado se torna ilimitado para se
manter o bem-estar, ocasionada pela mão invisível do mercado, que orienta as relações
econômicas e também sociais em que produz o interesse mútuo. Essa é a visão liberalista
diante da questão social evidenciada por essa ideologia.
A ideologia liberal nega as leis de proteção, de acordo Malthus (LUX 1993: 44 apud
BERING e BOSCHETTI, 2016, pg.61) “há um direito que geralmente se pensa que o homem
possui e que estou convicto de que ele não possui nem pode possuir: o direito de subsistência
quando seu trabalho não a provê devidamente.” Esse raciocínio impulsiona a punição e a
vigilância, e o salário também era naturalizado. Logo a “relação semelhante se mantém com
os trabalhadores: os salários não devem ser regulamentados sob pena de interferir no preço
natural do trabalho, definido nos movimentos naturais e equilibrados da oferta e da procura
no âmbito do mercado.” (BERING e BOSCHETTI, 2016, pg.61). Em outras palavras, é
definido pela naturalização e a lei de mercado.
Esse viés enfatiza a negação da política social, se tratando dos princípios liberais que
condiciona o mercado a uma lei suprema na qual é direcionado aos interesses individuais
econômica de cada indivíduo.
À vista disso, o cenário retrata uma realidade muito presente que se mostra atualmente
sobre a questão social. Ao analisar a conjuntura histórica, econômica e política compreende-
se que é impossível se ter condições dignas e direitos respeitados com a ideologia da
meritocracia e o mecanismo de seleção natural, em que privilégios e as oportunidades estão
cada vez mais se distanciando da realidade das classes subalternas, devido ao aumento dos
problemas provocados com a introdução do capitalismo liberal, na qual se intensificou a
desigualdades, a miséria ao decorrer dos séculos e se mantém presente em um processo de
avanço nas relações produtivas e sociais com o capitalismo contemporâneo.
2. Ao final do século XIX, o Estado capitalista sob pressão das lutas da classe
trabalhadora, assume e implementa ações sociais de forma planejada, sistematizada e
obrigatória. Discorra sobre o contexto e os determinantes desse processo:

Foi no final do século XIX e início do século XX, o fruto de alguns


processos políticos e econômicos, dois deles merecem destaque. O primeiro é o
desenvolvimento do movimento operário, que passou a ocupar um espaço político
muito importante, obrigando a burguesia a "entregar o anel para não perder os
dedos". Digamos, o reconhecimento civil político e social mais amplo dos direitos dos
trabalhadores, assim como a redução da jornada de trabalho, proibição do trabalho
de menores e mulheres em locais insalubres, a fixação de um salário mínimo, a luta
ao longo do tempo é uma forte manifestação desse processo por busca de direitos
da classe operaria, e também a oposição da burguesia alemã à social-democracia
como movimento de massas, e à proposta de legislação sobre previdência social e a
legislação de acidentes de trabalho (BEHRING; BOSCHETTI, 2006).
Vale ressaltar que a vitória do movimento socialista russo no ano de 1917,
também foi importante para a formação da atitude defensiva do capital frente ao
movimento operário e mobilização sindical, com o surgimento do fordismo, o mundo
da produção mudou. Essas mudanças deram aos trabalhadores um maior poder
coletivo, que passaram a exigir acordos coletivos de trabalho, direitos sociais e
aumento da produtividade, que só se tornaram universais no pós-guerra.
O segundo processo igualmente importante é a concentração e a
monopolização do capital que vem destruir a utopia livre de empreendedores
individuais guiado por emoções morais. O mercado estará cada vez mais liderado
pelos grandes monopólios, a criação de uma empresa vai depender de um grande
número de investimentos, o dinheiro emprestado pelos bancos, misturam-se
verdadeiramente entre o capital financeiro e o industrial abordado por Lenin (1987).
A concorrência entre as grandes empresas estatais superaram as fronteiras e se
transformou em confronto aberto e bárbaro nas duas grandes guerras mundiais.
No entanto, além das guerras, há também um marco importante, a partir
do qual as elites políticas e econômicas na qual estão começando a perceber os
considerados limites do mercado, vêm se deixando à mercê de seus movimentos
conhecidos como naturais: A crise de 1929 á 1932, também conhecida como Grande
Depressão. Foi a maior crise econômica capitalista do mundo até aquele momento.
Uma crise que começou no sistema financeiro dos EUA, a partir de 24 de outubro de
1929, Quando a história registra o primeiro dia de pânico na Bolsa de Valores de
Nova York em todo o mundo, reduzindo o comércio mundial a um terço do nível
anterior. A partir disso, instaura-se as suspeitas acerca de que os pressupostos do
liberalismo econômico poderiam estar errados (SANDRONI, 1992, p. 151) e se
instaura, em paralelo à revolução socialista de 1917, uma forte crise de legitimidade
do capitalismo.
3. As reflexões de Pereira (2002) sobre as concepções de necessidades humanas como
base para a formulação de políticas públicas apontam para a importância da distinção
entre mínimo e básico, entendendo que este último qualifica as necessidades a serem
satisfeitas como condições prévias para o exercício da cidadania. Comente.

4. Os direitos sociais são de natureza coletiva, possuem caráter distributivo e têm como
fundamento a igualdade de acesso a bens e serviços socialmente produzidos. Sua
efetivação e materialidade requer a centralidade do Estado. Reflita.
Resolução:
Os direitos sociais surgiram em razão do tratamento desumano vivido pela classe
operária durante a Revolução Industrial na Europa, nos séculos XVIII e até meados do XX,
com a substituição do trabalho artesanal pela produção em grande escala e com uso das
máquinas, focados no lucro advindo da intensa exploração do operariado em troca de salário
baixíssimos.

Nesse contexto, os direitos liberais de liberdade, igualdade e de fraternidade,


encontravam-se ainda mais fragilizados, pois, a igualdade pregada vinculava-se a ideia de que
todos poderiam, pelos seus próprios meios, prover sua subsistência e enfrentar as
adversidades impostas pela vida, num contexto demarcado pelo empobrecimento da classe
trabalhadora. Contudo, não conseguiu garantir o vestuário, a moradia, a alimentação, a saúde,
segurança laboral, a velhice, etc.

Em resposta o descontentamento da classe operária representou o “forte de


conscientização” sobre a necessidade de “direitos sociais que se pautam na igualdade de
condições, surgida a partir da conjuntura desse cenário de massacre vivido. Pois, a
industrialização, marcada pelo signo do laissez faire, laissez passer, acentuou a exploração
do homem pelo homem, problema que o Estado liberal, de característica absenteísta, não
tinha como resolver (SARMENTO, 2006).
Assim no decorrer do século XIX, amplos movimentos reivindicatórios surgiram,
com consequente reconhecimento de direitos que impunham ao Estado um comportamento
ativo na busca da realização de justiça social (SARLET, 2007, p. 56), entre os quais, os
direitos sociais, de segunda geração ou dimensão, conjuntamente com os direitos econômicos
e culturais, caracterizados por serem uma "densificação do princípio da justiça social", aque
correspondem, invariavelmente, a reivindicações das classes menos favorecidas, sobretudo a
operária, a título de compensação em decorrência da extrema desigualdade que caracteriza as
relações com a classe empregadora, detentora de maior poderio econômico (SARLET, 2007,
p. 57).

Visou-se assim idealizar direitos capazes de assegurar o essencial ao indivíduo, para


que pudesse ter uma vida digna. Portanto, a partir dos ideais advindos dos movimentos
socialistas, acreditava-se na superioridade dos direitos dos proletários em relação aos direitos
naturais, estes considerados como direitos eminentemente burgueses (TORRES, 2003, p.
102), recolhendo-se os direitos econômicos e os direitos sociais de maneira positivada.
Evidenciou-se que o conjunto dos grupos sociais oprimidos pela miséria e pela doença,
tornaram-se os titulares dos direitos sociais. Assim sendo, os direitos fundamentais de
segunda dimensão revelam-se como anticapitalistas e, por este motivo, só prosperaram a
partir do momento histórico em que os donos do capital foram obrigados a buscar uma forma
de composição com os trabalhadores (COMPARATO, 2007, p. 54-55).
Diante ao exposto é tácito que o cenário demarcado pelo massacre da classe
trabalhadora, foi o palco para a organização em prol da luta para que tivessem seus direitos
de segunda dimensão garantidos, através de intensas reinvindicações focados na participação
do bem-estar social. Á vista disso é importante destacar que os direitos tradicionais burgueses
foram trocados pela ideia de direito do “homem total”:
Se o capitalismo mercantil e a luta pela emancipação da "sociedade burguesa" são
inseparáveis da consciencialização dos direitos do homem, de feição individualista, a luta
das classes trabalhadoras e as teorias socialistas (sobretudo Marx, em "A Questão Judaica")
põem em relevo a unidimensionalização dos direitos do homem "egoísta" e a necessidade de
completar (ou substituir) os tradicionais direitos do cidadão burguês pelos direitos do
"homem total", o que só seria possível numa nova sociedade. Independentemente da adesão
aos postulados marxistas, a radicação da idéia da necessidade de garantir o homem no
plano econômico, social e cultural, de forma a alcançar um fundamento existencial-material,
humanamente digno, passou a fazer parte do patrimônio da humanidade (CANOTILHO,
2003, p. 385).

Apesar disso, da elaboração até a efetivação dos direitos sociais, observou-se uma
longa e tórrida jornada demarcada pela necessidade de reformulação das relações entre
capital-trabalho, com a adoção de um novo Estado, no século XX. Nasceu o Estado Social
voltado a reformulações do capitalismo. Os direitos de liberdade, considerados como direitos
naturais e correlatos à própria condição humana, revelaram-se incapazes de conter conflitos
crescentes no âmbito social, sendo necessário que o Estado passasse a positivar direitos de
índole "artificial", os direitos econômicos e sociais (APPIO, 2005, p. 55-56).
Para tal, cita-se dois importantes documentos históricos: Constituição mexicana de
1917 e a Constituição de Weimar de 1919, nas quais os direitos econômicos e sociais foram
inicialmente positivados (COMPARATO, 2007, p. 54). Ou seja, marcos iniciais da
positivação dos direitos fundamentais de segunda dimensão, que somente muitos anos depois
seriam alvo de documentos adotados pela Assembleia Geral das Nações Unidas, como: a
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e o Pacto Internacional sobre Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais (1966).
Em 1944, a Conferência da Organização Internacional do Trabalho aprovou uma
declaração que dá ênfase à dignidade do ser humano, à liberdade de expressão e de
associação, à formação profissional, ao direito de todos à educação. E a Declaração Universal
dos Direitos Humanos de 1948, passou a assegurar também os direitos sociais e sua base no
princípio da dignidade da pessoa humana e da solidariedade que envolvia os seguintes
direitos: seguridade social (artigos 22 e 25); direito ao trabalho e a proteção contra o
desemprego (art. 23, item 1); principais direitos ligados ao contrato de trabalho, como a
remuneração igual por trabalho igual (artigo 23, item 2), salário mínimo (artigo 23, item 3);
livre sindicalização dos trabalhadores (artigo 23, item 4); repouso e o lazer; limitação horária
da jornada de trabalho; férias remuneradas (artigo 24); educação: ensino elementar
obrigatório e gratuito, a generalização da instrução técnico-profissional, a igualdade de
acesso ao ensino superior (artigo 26); e,itens elementares indispensáveis para a proteção das
classes ou grupos sociais mais fracos ou necessitados.
Outro destaque a ser referenciado é que a necessidade de garantia da dignidade da
pessoa humana tornou-se ainda mais evidente na eclosão e término das guerras mundiais na
primeira metade do século XX, demarcados pela total desvalorização dos indivíduos e de
seus direitos diante aos interesses das maiores potências econômicas. Consequentemente os
direitos sociais assegurados em âmbito internacional passaram a ser assegurados também em
âmbito nacional e estiveram presentes em todas as constituições que vigoraram em nosso
país, desde a do Império (1824) até a atual (1988), mas com distanciamento relacionado a
essas positivações de segunda geração.
E somente em 1988, na Constituição Cidadã, ocorreram implementações voltadas
para a dignidade da pessoa humana. Não obstante os poderes ainda não concretizaram e
satisfizeram os anseios em plenitude desde a sua elaboração. Cabe conceituar os direitos
sociais como aqueles que buscam a qualidade de vida dos indivíduos assim como os direitos
individuais. Na Constituição Federal de 1988 são definidos em dois títulos: 1. Direitos e
garantias fundamentais: significa que eles são parte essencial daquilo que o Estado deve
garantir a seus indivíduos; 2. Ordem social: são uma necessidade para o estabelecimento de
uma sociedade capaz de perpetuar-se ao longo do tempo de maneira harmônica. Pode-se dizer
que os direitos sociais são, em sentido material:
[...] direitos a ações positivas fáticas, que, se o indivíduo tivesse condições financeiras e
encontrasse no mercado oferta suficiente, poderia obtê-las de particulares; porém, na
ausência destas condições e, considerando a importância destas prestações, cuja outorga ou
não-outorga não pode permanecer nas mãos da simples maioria parlamentar, podem ser
dirigidas contra o Estado por força de disposição constitucional (LEIVAS, 2006, p. 89).
Destarte encontram-se prescritos no Art. 6º da Constituição Federal uma série de
direitos sociais, que precisam ser regulamentados por outras leis, mas que definem a essência
daquilo que a nação se compromete a garantir. "Não se cuida mais, portanto, de liberdade
‘do’ e ‘perante’ o Estado, e sim de liberdade ‘por intermédio’ do Estado"(SARLET, 2007, p.
56-57), a citar: o direito à educação, à saúde, à alimentação, ao trabalho, a moradia, ao lazer,
a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos
desamparados.
É importante ressaltar que o sujeito passivo dos direitos sociais é o Estado, sendo
este o responsável pelo atendimento do objeto de tal modalidade de direitos, qual seja, a
prestação de um serviço: o serviço escolar, quanto ao direito à educação; o serviço médico-
sanitário-hospitalar, quanto ao direito à saúde; os serviços desportivos, para o lazer, etc.
(FERREIRA FILHO, 2006, p. 50). Os direitos sociais, portanto, encontram-se entre as
espécies de direitos prestacionais em sentido amplo e podem ser considerados como direitos
prestacionais em sentido estrito. [...] (ALEXY, 2007, p. 391-393)
Deste modo os direitos sociais, por terem como característica a generalidade e a
publicidade, dependem, para sua eficácia, da atuação dos Poderes Executivo e Legislativo.
Assim é o caso, por exemplo, dos serviços públicos de educação, saúde e segurança (LOPES,
2005, p. 129). Entretanto observa-se que o princípio de eficiência na oferta de serviços
públicos essenciais ainda é inócuo na prática, sem oferecer qualidade e muito menos sem
atender a todos, que culminam com as condições de precariedade na oferta dos direitos
sociais. E as causas todas emanam, principalmente, da má distribuição de riquezas e do
conluio do Poder Público com o poder econômico, permitindo que este caminhe
paralelamente com ele, como seu sub-gerente na condução dos destinos de um país
(FERNANDES et al, 2002, p. 389). Em destaque tem-se:
O desemprego como questão preocupante: dados são da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), (30/11/2021), divulgados pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), afirma que houve um recorde da desocupação verificada
de 13,5 milhões de brasileiros; 5,1 milhões de desalentados e 7,8 milhões de subocupados. E
ainda que faltavam oportunidades no mercado para cerca de 30,7 milhões de trabalhadores.
Este contingente forma o que o instituto classifica como trabalhadores subutilizados. O
contingente de trabalhadores informais aumentou em 7 milhões desde o pior momento do
isolamento social; atingindo 37,709 milhões de pessoas no terceiro trimestre de 2021. São
homens e mulheres da população ativa sem carteira de trabalho, vivendo de atividades
informais e sem contar com seus direitos sociais.
Os direitos sociais apresentam-se como uma contribuição essencial do Estado,
sobretudo em favor daquela parcela da população que se mostra carente dos recursos básicos
para o acesso a uma condição existencial minimamente aceitável, possibilitando-lhe alcançar
o livre desenvolvimento físico e espiritual (ZIMMERMANN, 2006, p. 333-334). Contrário a
isso, destaca-se ainda que com a redução da carga laboral, os salários também diminuíram e
com isso, os trabalhadores complementam a renda familiar através de formas alternativas, o
que resulta na não utilização de seu tempo livre para o descanso e/ou lazer, como previsto em
lei que culminam com trabalhadores doentes.
Outro destaque são as alarmantes condições do Sistema Único de Saúde (SUS), que
atende mais de 190 milhões de pessoas - 80% delas dependem, exclusivamente, dos serviços
públicos para qualquer atendimento de saúde, e enfrenta inúmeras dificuldades,
comprometendo a qualidade do atendimento à população. Além disso, em um país de
dimensões continentais e tão heterogêneo, a saúde, assim como outros aspectos (educação,
segurança) é bastante discrepante no território. Conforme noticiado no site G1.com em
20/03/2021: O orçamento de 2021 para a área de saúde, em discussão no Congresso
Nacional, retomou valores próximos ao registrado antes da pandemia da Covid-19. De acordo
com a Comissão Mista de Orçamento, do Congresso Nacional, o orçamento previsto para
2021 é de R$ 125,8 bilhões. Em 2020, primeiro ano de pandemia, foram R$ 160,9 bilhões e,
em 2019, quando não havia pandemia, R$ 122,2 bilhões. E ainda, segundo o Conselho
Nacional de Saúde em sua Carta Aberta (Brasília, 31 de março de 2021):
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) vem, respeitosamente, recorrer a esta carta aberta para
dizer que o orçamento destinado ao financiamento das ações e serviços de saúde para o ano
de 2021, aprovado em março, é incompatível com os seus custos mínimos, ainda mais ao se
considerar o crescimento exponencial da pandemia da Covid-19. O orçamento da saúde foi
aprovado com valores equivalentes ao do piso federal do SUS do ano de 2017 (atualizados
pela inflação do período). Isto significa a retirada de cerca de R$ 60 bilhões em comparação
ao valor do orçamento de 2020, acrescido dos créditos extraordinários para suprir
necessidades da Covid-19. Trata-se usar a mesma lógica que permitiu encerrar o estado de
calamidade pública em 31 de dezembro de 2020, ou seja, de que não há mais necessidade de
recursos para Covid-19 em 2021.
No período pandêmico o número de mortes por covid-19 em 09/12/21, segundo o
site G1.com: O Brasil registrou nesta quinta-feira (9) 206 mortes por Covid-19 nas últimas 24
horas, com o total de óbitos chegando a 616.504 desde o início da pandemia. Com isso, a
média móvel de mortes nos últimos 7 dias ficou em 183. Em comparação à média de 14 dias
atrás, a variação foi de -20% e aponta tendência de queda.
A educação apesar de todos os compromissos feitos pelos governantes por meio de
instrumentos internacionais como a Carta da ONU e Declarações de Direitos Humanos e
nacionais como as Constituições, voltadas em promover a educação para todos,
especialmente a educação básica de qualidade, milhões de crianças ainda permanecem
privadas de oportunidades educacionais, muitas delas devido à pobreza. Em levantamento,
obtido pelo Jornal Hoje, feito pelo Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa,
entidade que congrega os Tribunais de Contas Brasileiros com base nos dados do último
Censo Escolar (15/06/2021), apontaram que: 6,1 milhões alunos (26,91%) das redes
municipais de ensino e 3,7 milhões (24,73%) das redes estaduais estão matriculados em
escolas que apresentam ao menos um problema de infraestrutura que dificulta o cumprimento
dos protocolos de segurança para o enfrentamento da pandemia.
Em 2019, 3,5 mil escolas públicas não tinham banheiros, o que representava 2,4%
do total. Em 2020, aumentou para 4,3 mil, 3,2% do total. A internet banda larga não chegava
a 15 mil escolas urbanas em 2019 (18,1%), e cresceu para 17,2 mil (20,5%) em 2020. Além
disso, 35,8 mil escolas seguem sem coleta de esgoto, 26,6% do total. Antes, eram 36,6 mil
(27,1%). Além da falta de estrutura apontada pelo Censo, dados da União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação (Undime) apontam que quase 6 em cada 10 prefeituras
ainda não fizeram protocolos de biossegurança para reabrir as escolas. Enquanto isso,
estudantes podem perder habilidades que já haviam desenvolvido.
Uma análise do Banco Mundial aponta que 7 em cada 10 estudantes do país podem
ter nível de leitura abaixo do ideal após 13 meses de aulas remotas. Antes da pandemia, eram
5 em cada 10 estudantes. Com menor instrução e empregos que pagam menos, os alunos de
hoje poderão deixar de ganhar US$ 1.300 ao ano, justamente pela falha na formação. Com o
dólar a R$ 5,49 (cotação desta sexta,19), o valor chega a R$ 7,1 mil ao ano. As condições dos
alunos matriculados em escolas públicas sem condições básicas na pandemia entre 2020-
2021: 1.728.791 sem água potável; 836.973 sem banheiro; 554.886 sem rede de esgoto;
124.570 sem rede de energia elétrica e 8.088.221 sem internet banda larga. Neste sentido,
ressalta-se as alarmantes condições dos sistemas de saúde e educação, incapazes de garantir o
mínimo ao indivíduo que procura.
Salienta-se ainda que a consolidação da economia de mercado têm exercido sobre o
modelo de Estado, que adota uma estratégia de cunho neoliberal, a consolidação das
profundas desigualdades sociais entre os cidadãos e acentua a seletividade no campo de
incidência dos mecanismos do sistema penal, atingindo principalmente os pobres e
miseráveis, que resulta na diminuição dos investimentos públicos na área dos direitos sociais,
submetendo as camadas da população menos favorecidas do ponto de vista econômico a
condições de vida cada vez mais precárias e excludentes.
Destaca-se que para que possam ser materialmente eficazes, os direitos sociais
demandam a intervenção ativa e continuada dos Poderes Públicos, sendo que, ao contrário da
maioria dos direitos individuais tradicionais, cuja proteção exige do Estado que jamais
permita sua violação, os direitos sociais requerem uma enorme diversidade de políticas
públicas que devem ter por objetivo a sua concretização (FARIA, 1994, p. 54), devido a
necessidade de que a todos sejam garantidas condições mínimas de bem-estar, assegurando-
se a igualdade de oportunidades.
Ou seja, que sejam adotadas mecanismos de concretização dos direitos fundamentais
de segunda geração, com vista a recrudescer a violência e a criminalidade. Mas para isso, é
de suma importância a efetividade das políticas públicas sociais, pautando-se numa cidadania
não somente formal, mas substancial, já que a mesma é a ideia do direito fundamental à
educação, à saúde, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, entre outras garantias que o
Estado deve assegurar, por ser a cidadania compreendida, entre outras acepções, como o
poder jurídico do indivíduo voltado para a fruição de serviços públicos ligados aos direitos
fundamentais sociais (saúde, educação, moradia, segurança, etc.) (APPIO, 2005, p. 69), e
quando inexistente direciona a pobreza e a miséria, como fatores que ocasionam a violência e
a criminalidade, devido a geração de desigualdade social.
Nesses casos, a repressão policial tem valor limitado, não elimina as causas. Assim,
mostra-se necessário que aos indivíduos seja garantida a possibilidade de superarem a
pobreza e a miséria. Acredita-se que com esses direitos assegurados é possível exercer com
qualidade de vida o papel de cidadão em sociedade.

5. Discorra sobre a relação entre a mobilização e organização da classe trabalhadora e


sua determinação na origem e desenvolvimento das políticas sociais?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estudios


Politicos y Constitucionales: Madrid, 2007.
APPIO, Eduardo. Teoria geral do Estado e da Constituição. Curitiba: Juruá, 2005.
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Constituição. Coimbra: Almedina, 2003.
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http://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/1676-carta-aberta-do-cns-as-autoridades-
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COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. São
Paulo: Saraiva, 2007.
FARIA, José Eduardo. Os desafios do Judiciário. Revista USP. São Paulo, n. 21, p.
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FERNANDES, Newton; FERNANDES, Valter. Criminologia integrada. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2002.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos humanos fundamentais. São
Paulo: Saraiva, 2006.
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BEHRING, Elaine e BOSCHETTI, Ivanete-Política Social: fundamentos e história- São
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