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PARTE

2
Eletrocardiografia
Básica

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Capítulo 2 • 15
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16 • Capítulo 2
Princípios Básicos do Capítulo
Eletrocardiograma 2
Carlos Alberto Pastore
Augusto H. Uchida
Nancy Tobias

CONCEITOS BÁSICOS comandar naturalmente o ritmo car-


díaco (Fig. 2.1):
Para interpretar o ECG é preciso 1. Nó sinusal (NSA). Geralmen-
conhecer como se processa a forma- te é o grupo de células marca-passo
ção e a condução da atividade elétrica que comanda o ritmo cardíaco pois
cardíaca. impõe a maior freqüência (60 a
100bpm).
2. Nó atrioventricular (NAV). É
FORMAÇÃO DA A TIVIDADE E LÉTRICA
capaz de formar impulsos com fre-
CARDÍACA
qüência em torno de 50bpm.
3. His-Purkinje. É capaz de
Existem três grupos de células formar impulsos com freqüência em
marca-passo no coração que podem torno de 35bpm.

NSA
80bpm

NAV
50bpm

His-Purkinje
35bpm

Fig. 2.1 — Os três grupos de células marca-passo do coração e suas freqüências de disparo.

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Capítulo 2 • 17
CONDUÇÃO DA A TIVIDADE E LÉTRICA ciais (feixes internodais) até atingirem
CARDÍACA o NAV. Como o NSA fica localizado
à direita, a seqüência de ativação atrial
fica assim configurada:
Os impulsos gerados pelo marca-
passo dominante, em geral o NSA, 1o) Ativação atrial direita. Corres-
caminham pelo coração por vias de ponde à primeira porção da onda P.
condução preferencial, permitindo 2o) Ativação atrial esquerda. Cor-
uma rápida ativação elétrica de todo responde à segunda porção da onda
o miocárdio. P.
A seqüência de ativação do cora- Após atingir o NAV, o impulso
ção pode ser didaticamente dividida elétrico sofre um retardo fisiológico
em duas partes (Fig. 2.2): na condução denominado condução
decremental e só então alcança o feixe
1. ATIVAÇÃO ATRIAL. Corres-
de His.
ponde à onda P do ECG.
2. ATIVAÇÃO VENTRICULAR.
Corresponde ao complexo QRS do ATIVAÇÃO VENTRICULAR
ECG.
A onda de ativação elétrica passa
ATIVAÇÃO ATRIAL pelo feixe de His, localizado no septo
interventricular, e se espalha pelos
seus dois ramos principais (direito
O NSA fica localizado na junção e esquerdo). O ramo esquerdo ainda
da veia cava superior com o átrio di- se reparte em três divisões (divisão
reito. Como é ele o marca-passo que ântero-superior, divisão anteromedial
gera impulsos com a maior freqüên- e divisão póstero-inferior); que tam-
cia, geralmente temos como ritmo bém participam do sistema preferen-
predominante o ritmo sinusal. cial de condução. A ativação ventri-
Os impulsos gerados pelo NSA cular pelo sistema de condução
ativam os átrios por vias preferen- produz um QRS estreito (< 0,12s).

Início da ativação elétrica


Disparo do NSA
Onda P
Ativação atrial
NAV-HIS
Retardo fisiológico
da condução
Ativação septal

Ativação das
paredes livres
Ativação das
porções basais
Onda T
Recuperação
ventricular
Onda U
Avaliação
ventricular tardia

Fig. 2.2 — Ciclo elétrico do coração, ilustrando as seqüências de ativação dos átrios e dos
ventrículos.

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18 • Capítulo 2
A seqüência de ativação ventricu- REGISTRO DO ECG
lar pode ser didaticamente dividida
em três partes:
DERIVAÇÕES DO ECG
1a) Ativação do septo interventri-
cular. Corresponde à onda Q do com-
plexo QRS. Entendam as derivações do
ECG como pontos de vista diferen-
2a) Ativação das paredes livres dos tes. Chama-se derivação à linha
ventrículos. Corresponde à onda R que une dois eletrodos; na práti-
do complexo QRS. ca, uma derivação corresponde ao
3a) Ativação das porções basais dos registro obtido por um eletrodo
ventrículos. Corresponde à onda S do posicionado em qualquer ponto do
complexo QRS. corpo.
ECG é, portanto, o registro da se- Normalmente os eletrodos são
qüência de ativação elétrica do co- colocados na superfície do tórax e
ração. dos membros, no entanto, existem
Esquematicamente temos (Tabela situações onde se usam eletrodos no
2.1): interior do esôfago (derivação eso-
fágica), no interior do coração (de-
rivação endocárdica) ou na super-
TESTE SEUS CONHECIMENTOS
fície do coração (derivação epicár-
dica).
1) Quais as células que mantém
a freqüência cardíaca entre 60-
Derivações Unipolares e Bipolares
100bpm?
2) Onde se dá o retardo fisiológi-
co da condução elétrica dentro do Uma derivação é dita unipolar
sistema de condução? quando um eletrodo explorador faz
o registro da atividade elétrica cardí-
3) O que corresponde no ECG ao
aca (ex.: V1 a V6 e aVR,aVL,aVF). As
fenômeno da ativação vetricular?
derivações aVR, aVL e aVF são de-
4) Embora a onda P seja monofá- nominadas derivações unipolares
sica, quais regiões anatômicas corres- aumentadas dos membros. Derivação
pondem a suas 1a e 2 a posições? bipolar é aquela em que o registro se
5) A presença da onda T repre- faz através de dois eletrodos situados
senta que momento da ativação elé- a mesma distância do coração (ex.: DI,
trica do coração? DII e DIII).

Tabela 2.1
Seqüência da Ativação do Coração e o ECG

Seqüência de Ativação do Coração Correspondência


Eletrocardiográfica

1. Ativação atrial direita Onda P (1 a porção)

Ativação atrial 2. Ativação atrial esquerda Onda P (2 a porção)

NAV — HIS Intervalo PR

1. Ativação septal Onda Q

Ativação ventricular 2. Ativação das paredes livres Onda R

3. Ativação das porções basais Onda S

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Capítulo 2 • 19
Tabela 2.2
Detalhes da Ativação do Coração

SE VOCÊ QUISER SABER MAIS

O POTENCIAL DE AÇÃO (PA). O PA CARACTERIZA A SÍSTOLE ELÉTRICA DO


CORAÇÃO, E É CLASSIFICADO EM DOIS TIPOS :
TIPO RESPOSTA RÁPIDA. Possui cinco fases, característico das fibras de Purkinje.
FASE 0. É a fase de ascensão do PA. Gerada devido a um grande influxo de Na por
abertura de canais voltagem-dependentes.
FASE 1. É a fase inicial da repolarização rápida. Resulta em uma espícula devido ao
término brusco da fase 0. Há um efluxo transitório de K.
FASE 2. Fase de platô. Momento onde o efluxo de K contrabalança o influxo de Na e
Ca.
FASE 3 . É a fase terminal da repolarização rápida. Promovida por efluxo de K tempo-
dependente.
FASE 4. Fase de repouso (diástole elétrica), onde as células permanecem com o
potencial de repouso estável até serem ativadas por um impulso propagado.

TIPO RESPOSTA LENTA. Característico das células marca-passo do coração.


Exemplo: NSA.
FASE O. Fase de ascensão mediada por um influxo lento de Ca e Na.
FASE 4. Em tipos celulares tais como no NSA, NAV e His-Purkinje, o potencial de
repouso não se mantém estável. Há uma despolarização gradual, fenômeno
denominado despolarização diastólica da fase 4, o que confere a propriedade de
automatismo.

Plano Frontal e Plano Horizontal usamos 12 derivações. Seis deriva-


ções cobrem o plano frontal ou ver-
Para o registro do ECG padrão tical (aVR, aVL,aVF, DI, DII e DIII) e

Fig. 2.3 — As derivações do plano frontal e horizontal.

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20 • Capítulo 2
seis cobrem o plano horizontal ou trodos devem ser posicionados segun-
precordial (V1 a V6), numa tentati- do convenção universal (Tabela 2.3):
va de registrar a atividade elétrica Outras variações são ainda descri-
cardíaca por vários ângulos diferen-
tas:
tes. Eventualmente, são utilizadas
derivações precordiais adicionais para V1 a V3............................. PA-
uma melhor visualização da parede REDE ÂNTERO-SEPTAL
posterior do coração (V7 e V8) e do V4 a V6............................. PA-
ventrículo direito (V3R e V4R). REDE ANTEROLATERAL
V1 a V6............................ PARE-
Posicionamento dos Eletrodos DE ANTERIOR EXTENSA
D1 e aVL.......................... PARE-
Para a obtenção do ECG, os ele- DE LATERAL

Tabela 2.3
Derivações Eletrocardiográficas

Derivação Posicionamento do(s) eletrodo(s)

DI MSD/MSE

DII MSD/MIE

DIII MSE/MIE

AVR MSD

AVL MSE

AVF MIE

V1 4o EIC / BORDA ESTERNAL DIREITA

V2 4o EIC / BORDA ESTERNAL ESQUERDA

V3 5o EICE / ENTRE V2 e V4 (V3R - 5 o EICD)

V4 5 o EICE / LINHA HEMICLAVICULAR ESQUERDA (V4R - 5 o EICD – LHCD)

V5 5o EICE / LINHA AXILAR ANTERIOR

V6 5o EICE / LINHA AXILAR MÉDIA

V7 5o EICE / LINHA AXILAR POSTERIOR

V8 5 o EICE / LINHA HEMICLAVICULAR POSTERIOR

Localização topográfica das expressões eletrocardiográficas. Todas as paredes do


coração têm as suas derivações correspondentes:

DERIVAÇÕES PAREDE CORRESPONDENTE

V1 a V4 ANTERIOR

DII, DIII e Avf INFERIOR ou DIAFRAGMÁTICA

V5,V6 e DI,Avl LATERAL

V7,V8 ou IMAGEM EM ESPELHO EM V1-V2 DORSAL OU POSTERIOR

V3R, V4R VENTRÍCULO DIREITO

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Capítulo 2 • 21
Fig. 2.4 — O registro da calibração.

A PADRONIZAÇÃO DO REGISTRO 4) Qual a duração do menor qua-


ELETROCARDIOGRÁFICO drado do papel do ECG?
(FIG. 2.4) 5) Qual a voltagem correspondente
a cinco quadrados pequenos no ECG?
A calibração é padronizada para
1mV = 10mm (calibração N). DICAS IMPORTANTES
A velocidade do papel também é • Deflexões positivas indicam que
padrão: 25mm/s. o vetor de ativação caminha no sen-
Com esta padronização, a menor tido do eletrodo.
unidade de área (menor quadrado) vale • Deflexões negativas indicam que
1mm de lado vertical e 0,04s de lado o vetor se afasta do eletrodo.
horizontal (Fig. 2.5).
ANÁLISE DO ECG. CRITÉRIOS
CONFIRA SEUS CONHECIMENTOS DE NORMALIDADE

1) O que você entendeu por deri- Conselho: seja sistemático na aná-


vação? Dê exemplo. lise do ECG para não esquecer qual-
quer detalhe.
2) O que são derivações uniformes
e bipolares? Sugestão para a seqüência de aná-
lise: (Fig. 2.6)
3) Quais as derivações que enxer-
gam a parede inferior e a parede la- RITMO e FREQÜÊNCIA.
teral? ONDA P.

Fig. 2.5 — Os valores das unidades. Calibração N.

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22 • Capítulo 2
R

J
T
P U

Segmento P-R Segmento S-T


QRS interno
P-R interno Q-T interno

Fig. 2.6 — Deflexões do eletrocardiograma.

INTERVALO P-R. quando a freqüência está abaixo dos


COMPLEXO QRS. 60bpm e ritmo sinusal taquicárdico
quando a freqüência ultrapassa os
SEGMENTO S-T.
100bpm). Existem duas regras práticas
ONDA T. para obtenção da freqüência (Fig. 2.7).
INTERVALO Q-T.
CONCLUSÃO. REGRA DOS 1.500
Para obter a freqüência através da
RITMO E FREQÜÊNCIA regra dos 1.500, basta dividir 1.500
pelo número de quadrados MENO-
RES (unidade menor).
O ritmo normal é o sinusal, carac-
terizado por onda P arredondada e
monofásica; sendo positiva em DI,DII ONDA P
e aVF e negativa em aVR. A freqüên-
cia normal varia de 60 a 100bpm. • Eixo (orientação): no plano fron-
(Temos ritmo sinusal bradicárdico tal o eixo de P fica entre 0º-90o (onda

1 segundo
0.20 seg

1 2 3 4 5 6
1 2 3 4 5 300
300
150

1 segundo 100
.20 seg

75
5 mm 1 2 3 4 5
60

50

Fig. 2.7 — Regra dos 300 — para obter a freqüência através da regra dos 300, basta dividir
300 pelo número de cinco quadrados menores, que perfazem 0,20s.

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Capítulo 2 • 23
P positiva em DI, DII e aVFe negati- rizontal, o vetor médio do QRS é
va em aVR), considerado o vetor orientado para trás (Fig. 2.8).
normal dirigido para baixo e para a • Amplitude: diz-se que existe
esquerda. No plano horizontal, o vetor baixa voltagem quando não se regis-
se dirige para frente (onda P positi- tra qualquer deflexão maior do que
va em V1). Em V1, a onda P pode 5mm em derivação bipolar ou se a
ser difásica tipo plus-minus. Quan- maior deflexão no plano horizontal
do isso ocorre a fase positiva deve não ultrapassa 8mm. Alta voltagem
ser maior do que a negativa. é definida quando se registram on-
• Amplitude: a maior amplitude das R ou S > 20mm nas derivações
não deve exceder 2,5mm (0,25mV). frontais ou, no plano horizontal,
• Morfologia: arredondada e mo- ondas S (V1/V2) ou ondas R (V5/V6)
nofásica, podendo ser difásica em V1. > 30mm.
• Duração: duração máxima é de • Morfologia: varia de acordo com
0,10s. a derivação e a posição elétrica do
coração.
INTERVALO PR Onda Q. É a primeira deflexão
negativa do QRS e representa a ati-
vação septal. Onda Q patológica é
É medido do início da onda P até
definida quando exceder 25% do
o início do QRS. Varia de 0,12s a
tamanho de R e duração > 0,04s. Em
0,20s. Representa o tempo que o
impulso gerado pelo NSA levou para algumas derivações, estes limites
atingir as fibras de Purkinje. podem ser ultrapassados (aVR, aVL
e D3). A presença de onda Q em V1,
V2 e V3 deve ser sempre considera-
COMPLEXO QRS da anormal. A ausência de onda q em
V5 e V6 também é anormal (Fig. 2.9).
• Eixo (orientação): a faixa de va- Onda R. É a primeira deflexão
riação do eixo do QRS no plano fron- positiva do QRS e representa funda-
tal é de –30o a +120 o. No plano ho- mentalmente a ativação das paredes

Fig. 2.8 — Determinação rápida do eixo elétrico do coração.

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24 • Capítulo 2
Q > 0,04s

ou

Q > 1/ 4R

Fig. 2.9 — Onda Q patológica.

livres. Normalmente deve progredir cio do QRS até o vértice da onda R,


de amplitude de V1 para V6. deve ser no máximo de 0,045s. O
Onda S. É a segunda deflexão aumento da deflexão intrinsecóide
negativa do complexo QRS e repre- pode ocorrer por: hipertrofia ventri-
senta a ativação das porções basais cular, bloqueio de ramo, bloqueio
dos ventrículos. Normalmente deve divisional ou infarto agudo do mio-
diminuir de amplitude de V1 para V6. cárdio (Fig. 2.10).
• Duração: o complexo QRS deve
ter duração máxima de 0,12s. SEGMENTO ST
Deflexão intrinsecóide é o tempo de
ativação ventricular. Medido do iní- Começa no ponto J (término do

rS qR(s)

V1 V2 V3 V4 V5 V6

1 2
3
4 5 6

Fig. 2.10 — Complexos qRs do plano horizontal e suas respectivas derivações.

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Capítulo 2 • 25
QRS) e termina na porção ascendente DIAGNÓSTICO
da onda T. Normalmente a primeira ELETROCARDIOGRÁFICO DAS
porção do segmento ST é isoelétrica. PRINCIPAIS ALTERAÇÕES
Desníveis do segmento ST podem
ocorrer por múltiplas causas, sejam SOBRECARGA
elas primárias (corrente de lesão do
IAM) ou secundárias (hipertrofias,
bloqueios de ramo etc.). Os critérios para o diagnóstico de
sobrecarga ventricular seguem na
seqüência:
ONDA T

Para Diagnóstico de SVE


Sua orientação segue o vetor mé-
dio do QRS. Tem morfologia tipica-
mente assimétrica, com a porção ini- Escore de Romhilt-Estes para SVE
cial mais lenta. Não deve exceder
5mm nas derivações frontais ou 1. R ou S no plano
10mm nas precordiais. Sua polari- frontal > 20mm 3 pontos
dade pode ser muito variável, sen-
do obrigatoriamente positiva em V5 S (V1ouV2) ou R (V5/V6) > 30mm
e V6 e obrigatoriamente negativa em 2. Padrão Strain (V5/V6): infra ST
aVR. com inversão da onda T.
(Se usa digital: 1 ponto)
INTERVALO QT 3. SAE 1. 3 pontos
4. Desvio do eixo > — 30o
É medido do início do QRS até o 2 pontos
final da onda T e representa o tem- 5. Duração do QRS > 0,09s
po de ativação e recuperação do mio-
cárdio ventricular. O QT varia com 1 ponto
a idade, sexo e muito com a freqüên- 6. Deflexão intrinsecóide > 0,05s
cia cardíaca, portanto, deve ser cor- 1 ponto
rigido através da fórmula de Bazzet:

QTmedido SVE = 5 pontos. Possível SVE = 4


QTcorrigido = pontos
RR
(O limite superior para homens
fica em torno de 0,425s e para mu- Critério de SOKOLOW-LYON para
lheres em torno de 0,440s). SVE
Dica: o QT é mais bem medido em S (V1) + R (V6) > 35mm
aVL, pois a onda U é perpendicular
a esta derivação.
Critério de CORNELL para SVE
Obs.: a onda U é uma deflexão
R (aVL) + S (V3) > 28mm (ho-
pequena após a onda T e segue a sua
polaridade. Parece corresponder a mem) ou > 20mm (mulher)
repolarização dos músculos papilares.
Onda U oposta à onda T é sempre Para Diagnóstico de SVD
sinal de patologia. Ocorre em presen-
ça de hipertrofia ventricular, bloqueio
de ramo, insuficiência coronária e Critério de SOKOLOW-LYON para
distúrbios metabólicos ou hidroele- SVD
trolíticos. R (V1) + S (V 6) > 11mm

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26 • Capítulo 2
Para Diagnóstico de Sobrecarga congênita, sífilis, embolia pulmonar,
Biventricular trauma cirúrgico, uremia, hipercale-
mia, intoxicações (digital, quinidina,
• SVE com desvio do eixo para procainamida), entre outras.
direita. Dica: o diagnóstico de bloqueio
completo de ramo é feito nas deriva-
• SVE com R amplas em V1 e V2.
ções precordiais (V1 a V 6).
• onda s em V1 com S em V2
Duas condições caracterizam o
• SAE com critérios de SVD diagnóstico de bloqueio completo de
• Complexos RS em V2/V3/V4 (Si- ramo (direito ou esquerdo):
nal de Katz-Wachtel). • QRS alargado (> 0,12s)
• Onda T oposta ao retardo do QRS
DISTÚRBIOS DA CONDUÇÃO
INTRAVENTRICULAR Distúrbio da Condução Intraven-
tricular
BLOQUEIOS COMPLETOS DE RAMO Resumo Eletrocardiográfico:
BRE — Acentuação do ECG
Bloqueio de ramo ocorre quando Normal (V1 a V 6)
o estímulo elétrico sofre um retardo Bloqueio do Ramo — QRS alargado
ou é impedido de prosseguir através na porção média
de um dos ramos do feixe de His. A Esquerdo — QRS predominantemente
ativação ventricular fica retardada em negativo em V1
conseqüência da ativação lenta (célula
BRD — Inversão do ECG Normal (V1
a célula) do ventrículo com o ramo
a V6)
bloqueado. A manifestação eletrocar-
diográfica desse retardo da ativação Bloqueio do Ramo Direito — QRS alar-
é o alargamento do QRS. gado na porção final — QRS predo-
minantemente positivo em V1
Existem várias causas para os blo-
queios de ramo: fibrose degenerativa
senil, insuficiência coronária, cardio- Bloqueios Divisionais
patia chagásica, cardiopatia hiperten-
siva, cardiopatia valvar (principalmen- O ramo esquerdo se subdivide em
te aórtica), malformação cardíaca três divisões (ântero-superior, ante-

Tabela 2.4
Principais Critérios para o Diagnóstico das Sobrecargas

SOBRECARGA ATRIAL ESQUERDA (SAE) Onda P bífida. Duração > 0,12s.


Índice de Morris. Onda P difásica em
V1 com componente negativo >
positivo (> 0,04mm/s)

SOBRECARGA ATRIAL DIREITA (SAD) Onda P ponteaguda. Amplitude >


2,5mm.

SOBRECARGA VENTRICULAR ESQUERDA Romhilt-Estes. Escore > 5 pontos.


(SVE) Cornell . Homem > 28mm. Mulher >
20mm. Sokolow-Lyon > 35mm.

SOBRECARGA VENTRICULAR DIREITA (SVD) Desvio do eixo para direita qR em V1


Relação R/S > 1 em V1 Relação R/S <
1 em V5 Sokolow-Lyon > 11mm.

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Capítulo 2 • 27
romedial e póstero-inferior); já o ramo presente em corações normais
direito apresenta três subdivisões anatômicos e em uma série de pato-
nascidas em torno do músculo papilar logias: insuficiência coronária,
anterior direito, onde a rede de cardipatia hipertensiva, cardiopatia
Purkinje é muito abundante, o que chagásica, cardiopatias valvares (prin-
impossibilita a individualização ele- cipalmente aórtica), malformações
trocardiográfica do bloqueio de uma cardíacas congênitas (coartação aórtica,
destas três subdivisões direitas. estenose aórtica, atresia tricúspide,
defeitos septais).
Bloqueios Divisionais do Ramo Esquer-
do — Fundamentos do Diagnóstico: BDAM
o
BDAS — Eixo do QRS além de –30
Bloqueio Divisional Ântero-Superior Para diagnosticar esta entidade é
— (S cresce de D2 para D3) obrigatório afastar as outras condições
que produzem o mesmo aspecto
BDAM — Eixo do QRS anteriorizado
eletrocardiográfico (R amplas em V1
Bloqueio Divisional Anteromedial e V2):
— (R amplas em V1/V2)
• Sobrecarga ventricular direita
BDPI — Eixo do QRS além de +120o (SVD) → o desvio do eixo para di-
Bloqueio Divisional Póstero-Inferior reita e os critérios de SVD excluem
— (R cresce de D2 para D3) o diagnóstico de BDAM.
• Infarto dorsal → infarto dorsal
Dicas: isolado é muito raro; geralmente é
acompanhado de infarto inferior. Se
• Para o diagnóstico de BDAS e houver área eletricamente inativa na
BDPI olhe para o plano frontal. parede inferior (D2,D3 e aVF), não se
• Para o diagnóstico de BDAM pode fechar o diagnóstico de BDAM.
olhe para V1 e V2. • Wolff-Parkinson-White → pre-
sença de PR curto e onda delta in-
BDAS dicando via anômala localizada à
esquerda.
Este forte desvio do eixo para a • Hipertrofia septal seletiva (hi-
esquerda comporta vários diagnósti- pertrofia septal assimétrica) → pre-
cos diferenciais: SVE, BRE, desvio sença de ondas Q amplas na presença
posicional do coração (brevilíneos, de SVE.
enfisema, gravidez, ascite), infarto
inferior, síndrome de Wolff-Parkin- Dicas:
son-White, hiperpotassemia e estimu-
lação cardíaca artificial. São sinais • BDAM isolado é muito raro e
frequentemente se associa ao BDAS
acessórios do BDAS:
e/ou ao BRD.
• ausência de onda q e presença
• A onda R obrigatoriamente cres-
de onda S em V5 e V6 (precordiais
ce de V1 para V2.
esquerdas).
• BDAM é um diagnóstico de ex-
• QRS em aVR e aVL deve termi-
clusão.
nar em uma onda R.
• O pico da onda R em aVR re-
tardado em relação ao pico da onda BDPI
R de aVL.
Significado clínico do BDAS. Tal Seu diagnóstico é baseado no gran-
distúrbio da condução pode estar de desvio do eixo para direita. Pode

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28 • Capítulo 2
ser presumido se podemos excluir frimento isquêmico, porém, sem evi-
SVD. Enquanto a divisão ântero-su- dência de lesão.
perior tem irrigação única da descen-
dente anterior, a divisão póstero-in-
DIAGNÓSTICO T OPOGRÁFICO
ferior tem irrigação dupla da
DO IAM
descendente anterior e da coronária
direita. Portanto, é preciso uma isque-
mia muito extensa para causar um Do ponto de vista prático, quan-
BDPI. do conseguimos localizar a parede do
IAM consideramos como IAM Q (an-
tigo IAM transmural). Quando não
O ECG NO IAM: DIAGNÓSTICO
conseguimos definir a parede do IAM
TOPOGRÁFICO, EVOLUTIVO E
temos o IAM NÃO Q (antigo IAM
DIFERENCIAL
subendocárdico).

IMPORTANTE → o diagnóstico
Dicas importantes:
presuntivo de infarto agudo do mio-
cárdio é feito baseado num tripé diag- • SUPRA de ST localiza a pare-
nóstico: de do IAM, o INFRA de ST não!
1. DOR TORÁCICA TÍPICA PRO- • Existem várias causas de SUPRA
LONGADA (> 30 minutos). ST além de IAM!
2. ECG COM SUPRADESNIVE- • Cuidado com as alterações re-
LAMENTO DO ST (em duas deriva- cíprocas! INFRA de ST em V1 e V2
ções contíguas). pode ser imagem em espelho de um
SUPRA de ST de V7 e V8.
3. ELEVAÇÃO DE ENZIMAS
CARDÍACAS (com curva caracterís- • Localizando o infarto. A locali-
tica). zação do infarto é baseada na presen-
ça de ondas Q patológicas ou do
O diagnóstico de IAM é feito quan-
SUPRA de ST se estamos na fase
do temos duas condições antes rela-
aguda do IAM. Localizando a pare-
cionadas!
de infartada podemos até inferir a
Existe uma regra mneumônica para coronária relacionada ao infarto (Ta-
caracterizar as alterações clássicas da bela 2.5).
fase aguda do IAM: é a regra dos três
Is.
DIAGNÓSTICO EVOLUTIVO
Infarto: cuja expressão eletrocar-
diográfica é a onda Q. Infarto é re-
sultado da necrose isquêmica do Esta é a seqüência de eventos ele-
miocárdio. Portanto, significa que trocardiográficos que se seguem após
houve lesão miocárdica irreversível a oclusão de uma artéria coronária:
devido ao tempo prolongado de is- 1) Ondas T apiculadas (onda T
quemia. hiperaguda). Ondas T amplas, posi-
Injúria: representada pelo supra- tivas, pontiagudas e de base simétrica
desnivelamento do segmento ST. A ocorrem nos minutos iniciais de
corrente de lesão ou SUPRA de ST isquemia miocárdica.
representa uma área de miocárdio em 2) Supradesnivelamento do seg-
risco. Existe uma lesão isquêmica mento ST (corrente de lesão). A ele-
porém, reversível se houver alguma vação do segmento ST ocorre após 20
intervenção terapêutica rápida. minutos de isquemia miocárdica
Isquemia: manifestação no ECG pe- transmural contínua. Morfologicamen-
las alterações da onda T. Significa que te, o supradesnivelamento tende a ser
existem áreas de miocárdio com so- convexo.

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Capítulo 2 • 29
Tabela 2.5
Localização do Infarto do Miocárdio e Coronárias Relacionadas

IAM ECG (SUPRA ST) Coronária Relacionada

ANTERIOR V1 a V4 DA 1/3 médio

ANTERIOR EXTENSO V1 a V6 DA 1/3 proximal

INFERIOR ou DIAFRAGMÁTICO DII,DIII, aVF CD ou CX

LATERAL V5, V6 ou DI, aVL Dg , ME ou Dglis

DORSAL ou POSTERIOR V7, V8 (ou infra ST V1,V2) CD ou CX

VD V3R e V4R ou V1 isolado CD ou CX

3) Ondas Q patológicas ou di- predomínio das forças do septo di-


minuição das ondas R. O apareci- reito). Simulam infarto ântero-septal;
mento de ondas Q patológicas e a • Grandes sobrecargas atriais es-
amputação das ondas R vão aconte- querdas. Simulam infartos laterais;
cer após horas de isquemia contínua.
• Síndrome de Wolff-Parkinson-
4) Inversão de onda T e normali- White;
zação do segmento ST. O retorno do • Obesos, brevilíneos ou pacien-
segmento ST à linha de base e a onda tes com cúpula diafragmática eleva-
T negativa, profunda e simétrica ocor- da (grávidas, ascite, tumores abdomi-
rem após alguns dias da oclusão nais).
coronária aguda. A persistência do
Outras condições clínicas que
supradesnivelamento do segmento ST
podem cursar com supradesnivela-
após 6 semanas do evento agudo mento do segmento ST:
sugere a presença de aneurisma
ventricular. • Pericardite;
• Bloqueio do ramo esquerdo;
5) Positivação da onda T. Uma
eventual onda T positiva poderá • Sobrecarga ventricular esquerda;
surgir meses após o evento agudo. • Repolarização precoce;
• Wolff-Parkinson-White;
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Estimulação cardíaca artificial;
• Hipotermia.
Existem vários quadros eletrocar- Outras condições clínicas que
diográficos que podem simular um podem cursar com alterações do seg-
infarto do miocárdio. mento ST e da onda T simulando
Outras condições clínicas podem insuficiência coronária:
cursar com ondas Q ou complexos • Distúrbios da condução intra-
QS: ventricular;
• Tromboembolismo pulmonar • Tromboembolismo pulmonar;
com cor pulmonale agudo; • Sobrecargas ventriculares;
• Cardiomiopatia hipertrófica; • Pericardite;
• Deformidades torácicas; • Miocardite;
• Distrofias musculares; • Cardiomiopatias;
• Tumores cardíacos primários; • Deformidades torácicas;
• Grandes sobrecargas atriais di- • Distúrbios metabólicos: mixe-
reitas (inversão da ativação septal por dema;

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• Distúrbios hidroeletrolíticos; BIBLIOGRAFIA
• Hipertensão intracraniana;
• Gravidez; 1. Semiologia Cardiologia Não-inva-
siva. Del Nero Junior e cols. Epume,
• Obesidade;
1979.
• Hipotermia;
2. Tratado de Eletrocardiografia Clíni-
• Uso de digital;
ca. A. Bayes de Luna; Editorial Ci-
• Uso de antiarrítmicos; entífico-Médica, 1988.
• Prolapso valvar mitral;
3. Revista da Sociedade de Cardiolo-
• Dextrocardia; gia do Estado de São Paulo, volume
• Troca de eletrodos. 9, no 3, Maio/Junho, 1999.

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