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A BUSCA INCANSÁVEL DO TREINAMENTO IDEAL

Quantos vezes todos nós nos perguntamos qual é a melhor rotina de treino. O melhor
método. Como dividir nossas séries de um jeito mais proveitoso. O que funciona, peito
e costas, ou peito e tríceps ? E perna ? É correto manter um dia só para treino de perna,
ou podemos combinar com outros grupos musculares. É melhor seguir a teoria do Mike
Mentzer, o Heavy Duty, ou partir para o GVT, o German Volume Training ? E as
novidades, como o Dog Crapp ou o Max-Ot, funcionam ou são mais uma enganação da
indústria do bodybuilding ? E que tal copiar a série do Mr. Olympia, que nós lemos nas
revistas ?

Hoje em dia, diante de muitas facilidades em termos de tecnologia, algumas teorias do


meio esportivo podem ter sua eficiência submetida a comprovação. E mesmo diante
dessas facilidades, e até de alguns estudos comprovando ou não algum método de
treino, alguns pesquisadores insistem em não aceitar os veredictos apresentados.

Com esse artigo, começo uma jornada pelas mais variadas metodologias de treino, na
tentativa de descobrir o que funciona, e o que é enrolação. Serão várias matérias sobre o
assunto, e convido os amigos do Treino Pesado a participar dessa jornada. Deixando
claro que vou tentar ser bem imparcial, favorecendo ou criticando em cima de algum
embasamento. Até porque, como também treino, tenho grande interesse em descobrir
boas maneiras de poder fazer de mim, e dos leitores do site, os próximos candidatos ao
troféu do Olympia (ah-ah, te cuida Ronnie Coleman)!

Será que existe um método perfeito ? É o que vamos

Então, porque não começar pela metodologia que mais é discutida entre o pessoal que
treina forte, que gera mais discussões, com defesas da parte dos que juram que
conseguem ganhos estúpidos, e do pessoal que insiste que não adianta nada. Achei uma
boa idéia iniciar discutindo o Heavy-Duty. Para quem ainda não ouviu nada a respeito, o
Heavy-Duty defende que apenas uma série de exercícios, levada até a exaustão, é mais
do que suficiente para estimular o crescimento. E com grandes intervalos entre os dias
de treino. Uma série atrás da outra ? Treinar o mesmo músculo duas, três vezes na
semana ? Pura perda de tempo. Bastante tentador. Mas...funciona ?

Esse estilo de treino ganhou muita popularidade através de poderosos garotos-


propaganda, como Dorian Yates, Casey Viator (o mais jovem Mr. America) e seu maior
divulgador, Mike Mentzer, que muitos acreditam ter inventado o método, o que não é
verdade, já que o pai da criança foi o Arthur Jones, criador da linha de equipamentos
Nautilus.

http://www.treinopesado.com.br/img/arhurjones3.jpg

Mas radicalmente contra essa filosofia, também temos fisiculturistas igualmente


famosos, como Franco Columbu, o eterno parceiro do Arnold, e Larry Scott, o primeiro
Olympia. E se considerarmos os últimos "freakys" entre os Olympias, teremos o Yates
de um lado, e o mutante Colleman do outro. Cada um com um estilo de treino próprio e
completamente diferente. O inglês tinha uma queda pelo Heavy-Duty, e eu digo "queda"
porque ao assistir o vídeo Blood and Guts (se você gosta de um treino radical, assista!),
não considero aquilo apenas Heavy-Duty, mas uma combinação com o método
tradicional da pirâmide. De qualquer modo, com Yates esse método voltou a alcançar
uma grande popularidade. E o próprio Mentzer dizia ser um dos responsáveis pelos
treinos do gigante britânico. Mas se olharmos o Ronnie Colleman, veremos um treino
diretamente oposto. Muito peso, muitas repetições (8 a 12) e grupos musculares
trabalhados em 2 ou 3 vezes na mesma semana. Com essas observações, acho que
decidir qual metodologia de treino, usando o argumento de que esse ou aquele Olympia
usou, é descartável. Afinal, a verdade é que essas aberrações genéticas, se treinarem do
jeito X ou do jeito Y, vão crescer, e ponto final.

http://www.treinopesado.com.br/img/mentzer.jpg

Quando começamos a procurar estudos que possam comprovar a eficácia do Heavy-


Duty, aí a coisa começa a ficar complicada para o falecido Mentzer e os defensores
desse estilo de treino. Todos os experimentos científicos que tentaram mostrar como
essa metodologia poderia ajudar, acabaram provando que ela não funciona como
promete.

Para começar, em 1993, um estudo conduzido pelo Journal of Applied Sport Science
Research, com voluntários da SWAT, separou 27 pessoas em dois grupos. Um utilizando
os métodos de Arthur Jones, e outro da maneira tradicional, com 3 séries de 10
repetições. Ambos treinando 3 dias por semana. Depois de 2 meses, o segundo grupo,
do treino convencional, mostrou um ganho superior de volume e força - "o método do
Heavy-Duty diz que basta uma série de exercícios até a exaustão, mas a verdade é que
múltiplas séries ainda são a melhor maneira de estimular a musculatura" disse o Dr.
Michael Stone, da Appalachian State University, da Carolina do Norte.

Na minha própria experiência, como esportista e como instrutor, nunca vi ninguém


conseguir ganhos expressivos com uma série até a exaustão. Já com a utilização dos
métodos tradicionais vi muita gente. Principalmente entre os chamados hardgainers, o
pessoal, que como eu, tem muita dificuldade em ganhar massa muscular. Obviamente,
Yates e Viator tem uma condição genética excepcional, e pessoas com essa facilidade se
beneficiarão de qualquer método de treino, como já citei anteriormente.

Um detalhe muito importante, principalmente ao considerarmos o pessoal que está


começando a treinar, cheios de gás, é que ao fazer somente uma série, até a exaustão,o
normal é que o sujeito tente mais uma, para "garantir" que o resultado aconteça.
Nenhum iniciante na musculação aceitará o heavy-duty. Alem disso, ao treinarmos com
intensidade, não estamos só procurando uma melhora no corpo, existe muito mais coisa
envolvida. Existem componentes emocionais, que acabam esquecidos nessa
metodologia de treinamento, e para a maioria dos frequentadores de academia que não
conseguem treinar com seriedade. Quando treinamos de verdade, estamos sempre nos
desafiando, tentando superar limites estabelecidos. Está fácil fazer o supino com 100
kgs? Tentamos 120. Chegou nos 120? Agora queremos 150. O estilo de treino do
Heavy-Duty limita isso. Imaginem, por exemplo, um powerlifter, ou mesmo um
bodybuilder que treine com muito peso, chegando na academia frio, aquecendo com
uma ou duas séries de 80 kgs no supino, e logo pulando para 180, para tentar 5,6 ou 8
repetições até a exaustão. O risco de lesão é enorme, e para quem não acredita nisso,é só
pesquisarmos quem foi o Olympia recordista de lesões, o próprio Yates, que acabou
tendo que parar em razão dessas lesões. Depois de um tempo de treino, queremos mais.
Queremos a sensação de sair do treino esgotados, fatigados. Do contrário temos a
impressão de que não fizemos nada na academia. Nessa maneira tradicional, o risco de
overtraining é enorme, e nesse ponto as teorias do Mentzer devem ser levadas em conta.

Bodybuilders e powerlifters, em sua maioria, precisam dessa sensação de desafio. Não


se trata de apenas 8 repetições e voltar para casa. É a experiência, a sensação que só os
que se dedicam ao treino com intensidade passam. E a musculatura maior e a força
aumentada são os troféus dessa disputa pessoal.
Correndo o risco de dar uma viajada, uma academia de pesos-livres seria o equivalente
moderno da arena dos gladiadores romanos. Qual marombeiro não gosta do som das
anilhas batendo umas nas outras? Da barra sendo largada no apoio? E se a academia
tiver a decência de manter uma música inspiradora nas caixas de som, aí melhor ainda.
Uma boa academia será tanto um campo de batalha, quanto um campo de experimentos
científicos. Precisamos de ambos os aspectos.

Outra falha no método, é achar que uma coisa funciona para um cara, e assim deve
funcionar para todos os outros. E qualquer um, com um conhecimento razoável, sabe
que isso é impossível.

Agora vou recorrer a um estudo recente, de 2006, elaborado e publicado no Journal of


Applied Physiology. Essa pesquisa mostrou que o treino levado, constantemente, até a
exaustão causa um aumento de cortisol e queda de IGF-1 e Testosterona, comparado ao
que acontece com quem não treina até a exaustão. Os voluntários do estudo foram
divididos em dois grupos. Um executando os exercícios no estilo Heavy-Duty, até a
exaustão, e o outro executando as séries de modo tradicional, evitando o ponto de
exaustão. Os pesquisadores definiram "exaustão" como o momento em que o sujeito
não conseguia mais executar o movimento completo, ou quando havia uma pausa entre
as repetições de alguns segundos. Ao final de 16 semanas, o treino até a exaustão
resultou em aumento de cortisol, e queda das concentrações de IGF-1. Já o grupo que
evitou a exaustão teve menos aumento de cortisol, e elevação das concentrações de
testosterona.
Teorias simples, como as criadas por Arthur Jones, e difundidas por Mentzer, atraem
adeptos exatamente pela simplicidade. Mas a resposta do nosso corpo, aos estímulos do
treino com pesos, muda constantemente. É o processo contínuo de experiências, e
conhecimento do funcionamento do nosso organismo, que fará que o progresso
aconteça. Esse procedimento pode ser tanto educativo como divertido, mesmo que você
precise mais algumas séries, em vez de terminar com uma.

Fred Azevedo

http://www.treinopesado.com.br

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