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Sobre Fernão Lopes:

Fernão Lopes foi um escritor, um cronista, um historiador e o guarda-mor


da Torre do Tombo. Fernão Lopes ficou célebre por ter escrito as crónicas de
alguns reis portugueses. As narrativas deste eram muito bem estruturadas,
sendo ordenadas diacronicamente, e possuindo uma estrutura muito complexa,
sendo este o primeiro a fazê-lo.
Fernão Lopes construía as suas narrativas suplementando-se de fontes
históricas e fontes documentais diversificadas. Completavas também com
relatos de viva voz, ouvindo sempre várias versões da história, com lendas
urbanas, com memórias dispersas, com informações orais do povo, e com
representações artísticas. Consultava os arquivos do reino e tinha uma visão
futurística que fez com que as suas obras fossem uma verdadeira obra de arte
para aquele tempo.
O escritor conferia à leitura um enorme visualismo e realismo.
Foi um escritor ao serviço do poder, e nota-se nas suas obras que tinha
um lado (defendia ações dos reis portugueses), pois as suas crónicas foram
encomendadas por D. Duarte.
A crónica de D. João I serviu para legitimar a regência deste, pois ainda
existiam muitas dúvidas do que é que de facto tinha acontecido em 1383-1385.
Crónica de D. João I:
A crónica de D. João I fala-nos da ascensão e do reinado de D. João I mestre
de Avis. Em contexto escolar importam-nos 3 capítulos: O capítulo 11
(expulsão do conde andeiro e regência de D. João I); O capítulo 115
(preparação para o cerco de Lisboa); O capítulo 148 (Cerco de Lisboa e falta
de mantimentos).
Capítulo 11:
Em contexto, em abril de 1383 D. Fernando assinou o tratado de Salva Terra
de Magos, que dizia que só o filho de D. Beatriz (filha de D. Fernando e mulher
D. João de Castela poderia subir ao trono). Nesse mesmo ano D. Fernando
morreu sem deixar mais nenhum herdeiro. Após a morte deste D. Leonor Teles
ficou como regente, mas iniciou-se uma crise de sucessão. Parte da nobreza
queria que D. João de Castela e D. Beatriz assumissem o poder, mas era uma
decisão que não agradava ao povo e a parte da nobreza. Enquanto isso D.
Leonor continuou como regente, tendo esta a influência de um galego seu
amante, o Conde Andeiro, que o povo via com maus olhos por temer influência
deste nas decisões da Regente D. Leonor Teles.
Personagens:
• Álvaro Pais: Cele-mor dos reis D. Pedro e D. Fernando.
• Mestre de Avis: Futuro rei D. João I
• Pajem do Mestre
• Povo de Lisboa: Personagem coletiva e muito importante neste capítulo.
Espaço:
• 1º momento: pelas ruas de Lisboa até casa de Álvaro Pais
• 2º momento: pelas ruas de Lisboa, desde a cas de Álvaro Pais até ao
Paço.
• 3º momento: Paços da Rainha (Portas do Paço).
• 4º momento: Janela do Paço.
• 5º momento: Ruas do Paço ou junto ao Paço.

Tudo fazia parte de um plano pensado pelo mestre e pelos seus aliados.
O mestre e os seus homens iam invadir os paços da rainha e matar o
seu amante Conde Andeiro. Após terem executado esta missão,
mandaram o pajem cavalgar pelas ruas de lisboa, que era o Mestre que
estava a ser assassinado e não o Conde Andeiro como na realidade
acontecia. O povo ouvia este apelo e saiam das suas casas,
assustados, revoltados, confusos, mas determinados a ir salvar o
mestre, agarrando em “armas” e deslocando-se até aos Paços da
Rainha. O pajem foi até casa de Álvaro Pais, que já estava em cima de
um cavalo já velhote, e já estava equipado com uma armadura, dos pés
à cabeça (demonstrando assim que já sabia do plano). Álvaro Pais saiu
de casa e levou consigo mais aliados. Quando o povo chegou aos
Paços da rainha, já julgavam o Mestre morto, mas mesmo assim
gritavam e ameaçavam invadir o Paço. O mestre vendo tanto alvoroço,
decidiu mostra-se vivo, porque também já tinha percebido que tinha o
povo do seu lado. Então foi à janela do Paço mostra-se e acalmar o
povo de Lisboa. O povo ficou inicialmente confuso, dando graças a Deus
por tal milagre. Após isto o mestre agradeceu, dizendo que já não
precisava deles, pois estes já tinham feito o que o Mestre pretendia, sem
se quer aperceber. Assim o mestre e os seus aliados saíram ilesos,
expulsaram um inimigo e ainda deram mais um passo na corrida pela
coroa portuguesa.

Aspetos a reter:
• O pajem do mestre dirige-se ao povo de Lisboa.
• O povo fica alvoroçado, confuso, revoltado e furioso, saindo das suas
casas, pegando em “armas”, juntando-se e indo acorrer o mestre. Por
isso podemos dizer que o povo respondeu ao apelo do pajem.
• Álvaro Pais é descrito como um homem influente, que estava em cima
de um cavalo que já não cavalgava há muitos anos, Álvaro estava
equipado com uma armadura de cima abaixo, e carregava uma lança.
• O povo surge como personagem coletiva. São evidenciados sentimentos
de curiosidade, de alvoroço, mas sobretudo de união.
• Surge algum discurso direto durante a obra. Que permite trazer um
realismo e um visualismo maior ao texto, assim como uma economia
textual, ou seja, são poupadas palavras e cansam menos a leitura.
• Os verbos que surgem ao longo do texto transmitem alvoroço, confusão,
curiosidade e medo. Foram utilizados verbos no pretérito imperfeito, no
gerúndio e no pretérito perfeito. Transmitem sensações visuais, auditivas
e sensitivas.
• São utilizados advérbios de modo, de tempo e de local.
• O povo é apresentado como uma personagem coletiva, forte, unida, que
ao início está confuso e alvoraçado, mas depois percebemos que se une
e se torna mais forte.
• O narrador transmite essa desorientação e esse alvoroço, através dos
verbos, dos tempos dos verbos e através dos advérbios de modo. E
através da narração de sucessivas ações.
• Podemos dizer que o povo é o verdadeiro herói deste capítulo.

Capítulo 115:
Este capítulo fala-nos de como a cidade de Lisboa se preparou para o cerco,
como se uniram para fortificar a cidade e ainda como Mestre de Avis controlou
a situação. Podemos dividir o excerto em 3 partes: A 1ª parte fala-nos dos
preparativos para o cerco. A 2ª fala-nos das medidas sociais e militares
tomadas. A 3ª fala-nos da estratégia militar.
O Mestre soube de antemão que os castelhanos pretendiam cercar Lisboa.
Quando o soube ordenou imediatamente que o povo preparasse a cidade para
o cerco. Os primeiros preparativos foram os alimentos. Grupos de homens
organizaram-se e foram para fora da cidade arranjar vários mantimentos entre
eles pão e carne. Depois dos alimentos, temos que o Mestre ordenou que
todos tomassem armas para que se fosse necessário se defendessem por si
mesmos. Mas para além disso temos toda uma estratégia pensada para
defender a cidade. Nos muros tínhamos a guarda, fizeram-se fortificações e
tínhamos armas instaladas. Temos também que de tantas portas da cidade,
algumas foram fechadas e 12 delas permaneceram abertas, mas fortemente
vigiadas por guardas. Por último, a Ribeira foi também ela protegida, para que
os castelhanos não invadissem pelo rio, construindo-se cercas e muros.
Neste capítulo é destacado o poder de governação do Mestre. Temos
que o mestre atribui as tarefas de defesa, ao exército e aos nobres que podiam
e deviam defender a cidade, temos que este verificava todas as noites,
passeando pelas ruas de Lisboa, se o plano estava a ser cumprido e se a
cidade estava segura, temos que este confiou as chaves da cidade a homens
da sua confiança, e temos ainda que o Mestre ordenou a construção de
estacas para defender a Ribeira. Outra personagem que não podia faltar e é de
extrema importância é o povo. O povo é uma personagem coletiva e neste
capítulo temos que este se revolta contra a chegada dos castelhanos, temos
também que o povo suporta as duras condições do cerco de Lisboa, e temos
que este mais uma vez se uni e se empenhou, na preparação para o cerco,
indo buscar os alimentos de forma valorosa. Já no final do excerto, Fernão
Lopes fala-nos da chegada dos Castelhanos e mostra-se impressionado e
maravilhado com o tamanho e a organização do exército castelhano.
Subentendemos assim que para Fernão Lopes, o povo português era um
verdadeiro herói por ter conseguido derrotar aquele exército majestoso.
• Muita enumeração e muita descrição, que nos trás um enorme
visualismo e realismo.
• O excerto é quase todo uma narrativa, tendo pouco discurso direto
(possui apenas uma cantiga pequena)
• Temos a mensagem de que o povo português era unido e forte,
estando-se a criar cada vez mais uma identidade nacional.
• O papel do Mestre muito destacado neste capítulo, atribuindo-lhe as
responsabilidades pelos preparativos.
• O destaque para o tamanho do exército Espanhol.

Capítulo 148
Este capítulo fala-nos de como a população sobreviveu ao cerco e sobre a falta
de alimento que existia durante o cerco, pois o cerco durou mais do que o
Mestre tinha pensado.
O capítulo começa dando a informação ao leitor da falta de comida e dando
também informação de que Lisboa estava habitada por muita gente. Os
homens organizavam-se e metiam-se em barcos, e navegavam pela ribeira
durante a noite, para ir buscar trigo fora da cidade. Estes corriam grandes
riscos e muitas vezes eram atacados pelos castelhanos. Quando isto
acontecia, o sino tocava e os populares iam em defesa deles. Temos ainda a
informação que uma vez o grupo de homens foi descoberto, por traição, e que
o traidor foi enforcado pelo crime. O trigo que traziam não chegava e não
suprimia as necessidades da população. O Mestre sabendo de tal falta de
alimento, ordenou que expulsassem para fora da cidade aqueles que eram
inválidos para a defesa do Reino ou que eram mal vistos, como Judeus e
prostitutas. Como consequência de tanta fome, os que já eram pobres, nem
uma minúscula esmola recebiam, morrendo assim de fome. Os que eram
expulsos da cidade, num primeiro momento eram acolhidos pelos castelhanos,
mas depois como os castelhanos perceberam que estavam a fazer um favor a
Lisboa, ordenaram que mais ninguém fosse acolhido, e que os que foram
fossem expulsos e regressassem à cidade. O Mestre manda então recolher
todo o pão da cidade. A população sofre muito, tentando-se alimentar do que
encontrava, procurando comida pelo chão, comendo raízes e ervas e outros
alimentos quase desumanos. Muitas formas as mortes causadas ou pela fome
ou pela ingestão de muita água. As crianças mendigavam pela rua a pedido
dos seus pais. E apesar deste desespero, o povo continuou unido, não desistiu,
lutou sempre pela continuidade da independência e ajudaram-se uns aos
outros com o que podiam. Temos que Fernão Lopes criticou a impotência do
mestre e do seu concelho perante a situação. Depois aparece no texto que
corria o boato de que o Mestre iria expulsar quem não tivesse alimento, a
população fica inicialmente revoltada, mas quando o boato foi desmentido a
população fica aliviada. Temos ainda o destaque para os pais e mães que tanto
sofreram, porque não tinham o que dar de comer aos filhos. Fernão Lopes por
fim congratula o povo português e dirige-se ao autor, como costuma fazer.
A reter:
• Neste capítulo não há presença de discurso direto.
• Temos muita narração.
• O emprego de adjetivos, dos advérbios e dos recursos expressivos
confere à obra o visualismo e realismo que estamos habituados.
• Temos verbos no Pretérito Perfeito e no Pretérito imperfeito, que nos
dão a sensação não só do visualismo e do realismo, com também, do
movimento.
• O povo surge como uma personagem coletiva, heroica, que sofre, mas
não desiste e tem muita força. Para além disso vemos que o povo
estava triste, com muita angústia, com muita fome e com muita dor.
• O Mestre é retratado como poderoso, como solidário, mas é ligeiramente
criticado por algumas decisões, não exitando na hora de tomar decisões
complicadas.
• São enumeradas e descritas várias tentativas de busca por comida, pela
população.
• Podemos dizer que os dois grandes inimigos do povo eram a fome e a
morte.
• Fernão Lopes dirigiu-se algumas vezes ao leitor.

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