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DIREITO PENAL

Prof. Nidal Ahmad


01) TEORIA DA NORMA

1) DA LEI PENAL NO TEMPO

1.1) Princípios da lei penal no tempo

Há dois princípios que regem os conflitos de leis penais no tempo:

1º) o da irretroatividade da lei mais severa;


2º) o da retroatividade da lei mais benigna.

Esses dois princípios podem ser resumidos em um só: o da retroatividade da


lei mais benigna.

1.2) HIPÓTESES DE CONFLITOS DE LEIS PENAIS NO TEMPO

A) ABOLITIO CRIMINIS

Ocorre a chamada abolitio criminis quando a lei nova já não incrimina fato que
anteriormente era considerado como ilícito penal. A nova lei, demonstrando não haver mais, por
parte do Estado, interesse na punição do autor de determinado fato, retroage para alcançá-lo.
(adultério era típico, mas se tornou atípico com a Lei 11.106/05) É decorrência da previsão do
art. 5º, XL, CF, e art. 2º, do CP.

B) NOVATIO LEGIS IN MELLIUS

Além da abolitio criminis, a lei nova pode favorecer o agente de várias maneiras. A lei
posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que
decididos por sentença condenatória transitada em julgado (Art. 2, parágrafo único do CP).

C) NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA

A lei nova incrimina fatos antes considerados lícitos (novatio legis


incriminadora): não retroage.

A novatio legis incriminadora, ao contrário da abolitio criminis, considera crime fato


anteriormente não incriminado.

D) NOVATIO LEGIS IN PEJUS

A quarta hipótese refere-se à nova lei mais severa a anterior (a nova lei de drogas, Lei
n. 11.343/06, no art. 33, aumentou a pena do crime de tráfico de drogas). Incide, no caso, o
princípio da irretroatividade da lei penal: "a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu"
(art. 5º, XL).

1.3) CRIME PERMANENTE E CRIME CONTINUADO E LEI PENAL MAIS BENÉFICA

Aplica-se a lei nova durante a atividade executória do CRIME PERMANENTE,


ainda que seja prejudicial ao réu, já que a cada momento da atividade criminosa está
presente a vontade do agente.
Da mesma forma, em sendo o CRIME CONTINUADO uma ficção, considerando que
uma série de crimes constitui um único delito para a finalidade de aplicação da pena, o agente
responde pelo que praticou em qualquer fase da execução do crime continuado. Portanto, se
uma lei penal nova tiver vigência durante a continuidade delitiva, deverá ser aplicada
ao caso, prejudicando ou beneficiando.

É o que diz a Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime
continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou
da permanência”.

2) LEIS DE VIGÊNCIA TEMPORÁRIA – Art. 3º do CP

2.1) Conceito

De acordo com o art. 3º do CP, as leis excepcionais ou temporárias, embora decorrido


o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que as determinaram, aplicam-se aos
fatos praticados durante sua vigência.

São as leis autorrevogáveis. Comportam duas espécies:

* LEIS EXCEPCIONAIS: são feitas para durar enquanto um estado anormal ocorrer. Cessam a
sua vigência ao mesmo tempo em que a situação excepcional também terminar. Portanto, são
aquelas promulgadas em caso de calamidade pública, guerras, revoluções, cataclismos,
epidemias, etc.

* LEIS TEMPORÁRIAS: São as editadas com período determinado de duração, portanto,


dotadas de autorrevogação. É feita para vigorar em um período de tempo previamente fixado
pelo legislador. Traz em seu bojo a data de cessação de sua vigência. É uma lei que desde a sua
entrada em vigor está marcada para morrer.

2.2) Características

A) São autorrevogáveis

Em regra, uma lei somente pode ser revogada por outra lei, posterior, que a revogue
expressamente, que seja com ela incompatível ou que regule integralmente a matéria nela
tratada (art. 2º, § 1º da LICC).

As leis de vigência temporária constituem exceção a esse princípio, visto que perdem
sua vigência automaticamente, sem que outra lei as revogue.

B) São ultrativas

A ultratividade significa a possibilidade de uma lei se aplicar a um fato cometido durante


a sua vigência, mesmo após a sua revogação (a lei adere ao fato como se fosse um carrapato,
acompanhando-o para sempre, mesmo após sua morte).
3) DO TEMPO DO CRIME – Art. 4º

3.1) CONCEITO E IMPORTÂNCIA

A análise do âmbito temporal da aplicação da lei penal necessita da fixação do momento


em que se considera o delito cometido.

O CP adotou a teoria da atividade, segundo a qual se reputa praticado o delito no


momento da conduta, não importando o instante do resultado.

Ex. homicídio: o mais importante é detectar o instante da ação (desfecho dos tiros), e
não o momento do resultado (ocorrência da morte).

4) DA LEI PENAL NO ESPAÇO – Art. 5º

4.1) INTRODUÇÃO

A Lei Penal é elaborada para vigorar dentro dos limites em que o Estado exerce a sua
soberania.

Via de regra, pelo princípio da territorialidade, aplica-se as leis brasileiras aos delitos
cometidos dentro do território nacional. Esta é uma regra geral, que advém do conceito de
soberania, ou seja, a cada Estado cabe decidir e aplicar as leis pertinentes aos acontecimentos
dentro do seu território.

4.2) TERRITÓRIO BRASILEIRO POR EQUIPARAÇÃO (EMBARCAÇÕES E AERONAVES)

Nos termos do artigo 5º, § 1º, do CP, duas situações de território brasileiro por
equiparação:

A) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro


onde estiverem.

B) embarcações e aeronaves brasileiras, de propriedade privada, que estiverem navegando


em alto-mar ou sobrevoando águas internacionais.

Os navios estrangeiros em águas territoriais brasileiras, desde que públicos,


não são considerados parte do nosso território. Em face disso, os crimes neles cometidos devem
ser julgados de acordo com a lei da bandeira que ostentam. Se, entretanto, são de natureza
privada, aplica-se a lei brasileira (art. 5º, § 2º).

Territorialidade: é a regra. Ao crime cometido no território nacional, aplica-se a lei


brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, conforme art.5º
e seus parágrafos.
4.3) EXTRATERRITORIALIDADE

Extraterritorialidade: é uma exceção. Mesmo que o crime seja cometido fora do Brasil, os agentes
se sujeitam à lei brasileira, nas hipóteses mencionadas no art. 7º, do CP, quais sejam:

EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente Nestes casos, o agente é punido segundo a lei
da República; brasileira, ainda que absolvido ou condenado
b) contra o patrimônio ou a fé pública da no estrangeiro.
União, do Distrito Federal, de Estado, de
Território, de Município, de empresa pública,
sociedade de economia mista, autarquia ou
fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem
está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for
brasileiro ou domiciliado no Brasil;
EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se Nestes casos, a aplicação da lei brasileira
obrigou a reprimir; depende do concurso das seguintes
b) praticados por brasileiro; condições:
c) praticados em aeronaves ou embarcações a) entrar o agente no território nacional;
brasileiras, mercantes ou de propriedade b) ser o fato punível também no país em
privada, quando em território estrangeiro e aí que foi praticado;
não sejam julgados. c) estar o crime incluído entre aqueles
pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no
estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no
estrangeiro ou, por outro motivo, não estar
extinta a punibilidade,
segundo a lei mais favorável.
Cometido por estrangeiro contra brasileiro se, reunidas as condições:
fora do Brasil. a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que
foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos
quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no
estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no
estrangeiro ou, por outro motivo, não estar
extinta a punibilidade, segundo a lei mais
favorável.
+
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da
Justiça.
Princípio da Representação ou da Bandeira: por este princípio, aplica-se aos delitos praticados no
interior de embarcação ou aeronave a lei do país em que esteja registrada ou da bandeira adotada
(art. 7º, II, c, do CP).

4.4 Pena cumprida no estrangeiro:

Segundo o art. 8º do Código Penal, a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no
Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

4.5 Eficácia de sentença estrangeira:

A sentença estrangeira pode ser homologada no Brasil, quando a aplicação da lei brasileira produz
na espécie as mesmas consequências. Pode ser homologada para: obrigar o condenado à
reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; ou sujeitá-lo a medida de segurança.
Entretanto, a homologação depende:
a) de pedido da parte interessada, se for para reparar o dano;

b) da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a


sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça, nos demais casos.

5) LUGAR DO CRIME – Art. 6º

A determinação do lugar em que o crime se considera praticado é decisiva no tocante


à competência penal internacional. Surge o problema quando o crime se desenrola em lugares
diferentes.

O CP adotou a teoria da ubiquidade ou mista, segundo a qual é lugar do crime


tanto onde houve a conduta, quanto o local onde se deu o resultado.

6) CONFLITO APARENTE DE NORMAS

6.1) CONCEITO

É o conflito que se estabelece entre duas ou mais normas aparentemente aplicáveis ao


mesmo fato. Há conflito porque mais de uma norma pretende regular o fato, mas é aparente,
porque apenas uma delas acaba sendo aplicada à hipótese.

6.2) PRINCÍPIOS PARA A SOLUÇÃO DOS CONFLITOS APARENTES DE NORMAS

A) PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE

A norma especial, ou seja, a que acresce elemento próprio à descrição legal do crime
previsto na geral, prefere a esta.

A norma do art. 123 do CP, que trata do infanticídio, prevalece sobre a do art. 121, que
cuida do homicídio, porque possui, além dos elementos genéricos deste último, os seguintes
especializantes: “próprio filho”, “durante o parto ou logo após” e “sob a influência do estado
puerperal”.
B) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE

B.1) Conceito de norma subsidiária

Uma norma é considerada subsidiária à outra, quando a conduta nela prevista


integra o tipo da principal, significando que a lei principal afasta a aplicação da lei secundária.

Há relação de subsidiariedade entre normas quando descrevem graus de violação do


mesmo bem jurídico, de forma que a infração definida pela subsidiária, de menor gravidade
que a da principal é absorvida por esta.

O crime de ameaça (art. 147) cabe no de constrangimento ilegal mediante ameaça (art.
146), o qual, por sua vez, cabe dentro da extorsão (art. 158). O sequestro (art. 148) no de
extorsão mediante seqüestro (art. 159). O disparo de arma de fogo (Lei 10.826/2003, art. 15)
cabe no de homicídio cometido mediante disparos de arma de fogo (art. 121). Há um único fato,
o qual pode ser maior do que a norma subsidiária, só se pode encaixar na primária.

B.2) Espécies

a) Subsidiariedade Expressa ou explícita

Ocorre quando a própria lei indica ser a norma subsidiária de outra. Quando a
norma, em seu próprio texto, subordina a sua aplicação à não-aplicação de outra, de maior
gravidade punitiva.

A própria norma reconhece expressamente seu caráter subsidiário, admitindo incidir


somente se não ficar caracterizado fato de maior gravidade.

Ex. Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.

B.2) SUBSIDIARIEDADE TÁCITA OU IMPLÍCITA

Ocorre quando uma figura típica funciona como elementar ou circunstância


legal específica de outra, de maior gravidade punitiva, de forma que esta exclui a simultânea
punição da primeira.

A norma nada diz, mas, diante do caso concreto, verifica-se a sua subsidiariedade.

Ex: Estupro contendo o constrangimento ilegal.

C) PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO

C.1) Conceito

Ocorre quando um ato definido por uma norma incriminadora é meio necessário ou
normal fase de preparação ou execução de outro crime, bem como quando constitui
conduta anterior ou posterior do agente, cometida com a mesma finalidade prática
atinente àquele crime.
Em outras palavras, quando a infração prevista na primeira norma constituir simples
fase de realização da segunda infração, prevista em dispositivo diverso, deve-se aplicar apenas
a última.

Trata-se da hipótese de crime meio e do crime fim.

Ex. é o que se dá na violação de domicílio com a finalidade de praticar furto em


residência. A violação é mera fase de execução do delito de furto.

02) TEORIA DO CRIME

Segundo a concepção analítica, crime é fato típico, antijurídico e culpável.

1) DO FATO TÍPICO

É o fato que se amolda ao modelo legal da conduta proibida. É o fato que se


enquadra no conjunto de elementos descritivos do delito contidos na lei penal.

Elementos do fato típico

a) a conduta
b) o resultado
c) o nexo de causalidade
d) a tipicidade

Ausente um dos elementos do fato típico a conduta passa a constituir um indiferente


penal. É um fato atípico.

1.1) CONDUTA

CONDUTA é a ação ou omissão humana consciente e dirigida a determinada


finalidade.

Para a caracterização da conduta, sob qualquer prisma, é indispensável a existência do


binômio vontade e consciência.

Ausente a vontade ou consciência, não haverá conduta punível, como, por exemplo, na
coação física irresistível, movimentos reflexos e estado de inconsciência.

a) Coação física irresistível (“vis absoluta”)

Ocorre quando o sujeito pratica o movimento em consequência de força corporal


exercida sobre ele. Quem atua obrigado por uma força irresistível não age voluntariamente. Neste
caso, o agente é mero instrumento realizador da vontade do coator.

Assim, não havendo vontade, não há conduta. Não havendo conduta, não há fato típico.
Não havendo fato típico, não há crime. Logo, o fato praticado mediante coação física irresistível
é atípico. Não responde por crime nenhum.

Diversa é a situação, contudo, quando se tratar de coação moral.


Na coação moral, não há aplicação da força física, mas de ameaça ou intimidação, feita
através da promessa de um mal, para que se determine o coato à realização do fato criminoso.

No caso da coação moral, o fato é revestido de tipicidade, mas não é culpável, em face
da inexigibilidade de conduta diversa.

Portanto, existe o fato típico, pois a ação é juridicamente relevante, mas não se há falar
em culpabilidade, aplicando-se a regra do art. 22, 1ª parte, do CP (causa de exclusão da
culpabilidade).

Em síntese:
coação física irresistível: causa de exclusão da tipicidade
coação moral irresistível: causa de exclusão da culpabilidade
coação moral resistível: atenuante (art. 65, III, “c”, CP)

b) Movimentos reflexos

São atos reflexos, puramente somáticos, aqueles em que o movimento corpóreo ou sua
ausência é determinado por estímulos dirigidos diretamente ao sistema nervoso.

Nestes casos, o estímulo exterior é recebido pelos centros sensores, que o transmitem
diretamente aos centros motores, sem intervenção da vontade, como ocorre, por exemplo, em
um ataque epilético (ex...).

Os atos reflexos não dependem da vontade, uma vez que são reações motoras,
secretórias ou fisiológicas, produzidas pela excitação de órgãos do corpo humano (ex. tosse,
espirro, etc.).

c) Estados de inconsciência

A doutrina tem catalogado como exemplos de estados de inconsciência a hipnose, o


sonambulismo a narcolepsia.

2) DA OMISSÃO E SUAS FORMAS

A) CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS

São os que se perfazem com a simples conduta negativa do sujeito,


independentemente da produção de qualquer consequência posterior. A norma, ao
invés de descrever uma conduta negativa (não matarás, p. ex.), impõe um comportamento
positivo.

Nos crimes omissivos próprios basta a abstenção, é suficiente a desobediência ao dever


de agir para que o delito se consume. A OBRIGAÇÃO DO AGENTE É DE AGIR E NÃO DE
EVITAR O RESULTADO. O resultado que eventualmente surgir dessa omissão será irrelevante
para a consumação do crime, podendo apenas configurar uma majorante ou uma qualificadora.
Ex.:
Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida,
ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o
socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão
corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

Abandono material
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou
de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de
ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando
os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia
judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de
socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o
maior salário mínimo vigente no País.

Nesses casos, o crime se perfectibiliza a partir da conduta omissiva. A norma impõe que
o agente pratique uma ação para que o delito não se consume. Se deixar de praticar a ação, terá
cometido o delito omissivo.

B) CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS OU COMISSIVOS POR OMISSÃO

Nos crimes omissivos impróprios, o agente não tem simplesmente a obrigação de agir,
mas a OBRIGAÇÃO DE AGIR PARA EVITAR UM RESULTADO, isto é, deve agir com a
finalidade de impedir a ocorrência de determinado evento. Nos crimes comissivos por omissão
há, na verdade, um crime material, isto é, um crime de resultado.

O Código Penal regulou expressamente as hipóteses em que o agente assume a


condição de garantidor.

De fato, para que alguém responda por crime comissivo por omissão é preciso
que tenha o dever jurídico de impedir o resultado. E esse dever está previsto no artigo
13, § 2º:

a) Ter por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância

É um dever decorrente de lei. Dever esse que aparece numa série de situações, como,
por exemplo, o dever de assistência que se devem mutuamente os cônjuges (art. 1564 do CC),
que devem os pais aos filhos (art. 1634 do CC).

b) De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o resultado

A doutrina não fala mais em dever contratual, uma vez que a posição de garantidor
pode advir de situações em que não existe relação jurídica entre as partes. O importante é que
o sujeito se coloque em posição de garante da não-ocorrência do resultado, haja
contrato ou não, como nas hipóteses em que voluntariamente assume encargo sem mandato ou
função tutelar.

Ex: médico plantonista; salva-vidas, com relação aos banhistas; babá, em relação à
criança.

c) Com o comportamento anterior, criar o risco da ocorrência do resultado

Nesta hipótese, o sujeito, com o comportamento anterior, cria situação de perigo para
bens jurídicos alheios penalmente tutelados, de sorte que, tendo criado o risco, fica obrigado
a evitar que ele se degenere ou desenvolva para o dano ou lesão.

Não importa que o tenha feito voluntariamente ou involuntariamente, dolosa ou


culposamente; importa é que com sua ação ou omissão originou uma situação de risco ou agravou
uma situação já existente.

Ex. exímio nadador convida uma criança para nadar e se omite na hipótese de o infante
estar se afogando.

3) DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

Pela própria denominação (nexo causal) é possível perceber que consiste no vínculo ou
liame de causa e efeito entre a ação e o resultado do crime.

Via de regra, a conduta do agente produz o resultado criminoso de forma direta. Trata-
se de relação de causa (conduta) e efeito (resultado): Nexo de causalidade.

Todavia, pode ocorrer que, aliada à conduta do agente, outra causa contribua para o
resultado. É a chamada concausa.

Esta “concausa” pode ser absolutamente independente ou relativamente independente,


dependendo se teve ou não origem na conduta do agente.

3.1) CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES

A) CONCEITO

São aquelas que não têm origem na conduta do agente. O advérbio de intensidade
“absolutamente” serve para designar que a causa não partiu da conduta, mas de fonte totalmente
distinta.

Além disso, por serem independentes, tais causas atuam como se tivessem por si sós
produzido o resultado, situando-se fora da linha de desdobramento causal da conduta.

Há, na verdade, uma quebra do nexo causal.


B) ESPÉCIES DE CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES

a) Preexistentes

Existem antes de a conduta ser praticada e atuam independentemente de seu


cometimento, de maneira que com ou sem a ação o resultado ocorreria do mesmo modo.

Ex: “A” desfecha um tiro de revólver em “B”, que vem a falecer pouco depois, não em
conseqüência dos ferimentos recebidos, mas porque antes ingerira veneno.

b) Concomitantes

São as causas que não têm nenhuma relação com a conduta e produzem o resultado
independentemente desta, no entanto, por coincidência, atuam exatamente no instante em que
a ação é realizada.

Ex: “A” fere “B” no mesmo momento em que este vem a falecer exclusivamente por
força de um ataque cardíaco.

c) Supervenientes

São causas que atuam após a conduta.

Ex: “A” ministra veneno na alimentação de “B” que, quando está tomando a refeição,
vem a falecer em consequência de um desabamento ou posterior atropelamento.

C) CONSEQUÊNCIAS DAS CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES

Quando a causa é absolutamente independente da conduta do sujeito, o problema é


resolvido pelo caput do art. 13: Há exclusão da causalidade decorrente da conduta. Ou seja, o
agente responde somente por aquilo que deu causa.

Nos exemplos, a causa da morte não tem ligação alguma com o comportamento do
agente. Em face disso, ele não responde pelo resultado morte, mas sim pelos atos praticados
antes de sua produção. Isso porque ocorreu quebra do nexo causal.

CUIDADO: Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo, o agente


responderá por aquilo que deu causa: lesão corporal (leve, grave ou gravíssima).

3.2) CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES

A) CONCEITO

Causa relativamente independente é a que, funcionando em face da conduta anterior,


conduz-se como se por si só tivesse produzido o resultado.
Como são causas independentes, produzem por si sós o resultado, não se situando
dentro da linha de desdobramento causal da conduta. Por serem, no entanto, apenas
relativamente independentes, encontram sua origem na própria conduta praticada pelo agente.

Aqui não há, via de regra, uma quebra do nexo causal, mas uma soma entre as causas,
que, ao final, conduzem ao resultado lesivo.

B) ESPÉCIES DE CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES

a) Preexistentes

São as que atuam antes da conduta.

Ex: “A” desfere um golpe de faca na vítima, que é hemofílica e vem a morrer em face
da conduta, somada à contribuição de seu peculiar estado fisiológico. No caso, o golpe
isoladamente seria insuficiente para produzir o resultado fatal, de modo que a hemofilia atuou de
forma independente, produzindo por si só o resultado.

b) Concomitantes

São as causas que atuam exatamente no instante em que a ação é realizada. Ex:
considera-se o ataque à vítima, por meio de faca, que, no exato momento da agressão, sofre
ataque cardíaco, vindo a falecer, apurando-se que a soma desses fatores (causas) produziu a
morte, já que a agressão e o ataque cardíaco, considerados isoladamente, não teriam o condão
do produzir o resultado morte.

c) Supervenientes

São as causas que ocorrem depois da conduta praticada pelo agente.

Ex. A vítima de um atentado é levada ao hospital e sofre acidente no trajeto, vindo, por
esse motivo, a falecer. A causa é independente, porque a morte foi provocada pelo acidente e
não pelo atentado, mas essa independência é relativa, já que, se não fosse o ataque, a vítima
não estaria na ambulância acidentada e não morreria. Tendo atuado posteriormente à conduta,
denomina- se causa superveniente.

C) CONSEQUÊNCIA DAS CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES

No caso das causas preexistentes e concomitantes, como existe nexo causal, o


agente responderá pelo resultado, a menos que não tenha concorrido para ele com dolo ou culpa.

Na hipótese das causas supervenientes, embora exista nexo físico- naturalístico, a


lei, por expressa disposição do art. 13, § 1º, do CP, que excepcionou a regra geral, manda
desconsiderá-lo, não respondendo o agente jamais pelo resultado, mas tão-somente pelos fatos
anteriores.
4) DO CRIME DOLOSO E CULPOSO – Art. 18 do CP

4.1) DOLO DIRETO

No dolo direto o agente quer o resultado representado como fim de sua ação. A vontade
do agente é dirigida à realização do fato típico. Adota-se, pois, a teoria da vontade.

Ex: o agente desfere golpes de faca na vítima com intenção de matá-la. O dolo se
projeta de forma direta no resultado morte.

4.2) DOLO EVENTUAL

Ocorre o dolo eventual quando o sujeito assume o risco de produzir o resultado, isto é,
admite e aceita o risco de produzi-lo.

O agente não quer o resultado, pois se assim fosse haveria dolo direto. Ele antevê o
resultado e age. Percebe que é possível causar o resultado e, não obstante, realiza o
comportamento. Entre desistir da conduta e causar o resultado, prefere que este se produza.

Sobre o dolo eventual, o Código Penal adota a teoria do consentimento, segundo a qual
o sujeito não leva em conta em conta a possibilidade do evento previsto, agindo e assumindo o
risco de sua produção.

4.3) DO CRIME CULPOSO

A) CONCEITO

É o comportamento voluntário desatencioso, voltado a um determinado objetivo, lícito


ou ilícito, embora produza resultado ilícito, não desejado, mas previsível, que podia ser evitado.

B) ELEMENTOS DA CULPA

a) Conduta humana voluntária

O fato se inicia com a realização voluntária de uma conduta de fazer ou não fazer. O
agente não pretende praticar um crime nem quer expor interesses jurídicos de terceiros a perigo
de dano. Falta, porém, com o dever de cuidado exigido pela norma.

b) Resultado involuntário

É imprescindível que o evento lesivo jamais tenha sido desejado ou acolhido


pelo agente.

c) Nexo de causalidade

Somente a ligação, através da previsibilidade, entre a conduta do agente e o resultado


danoso pode constituir o nexo de causalidade no crime culposo, já que o agente não deseja a
produção do evento lesivo.
d) Tipicidade

Deve haver atenção a este ponto, porquanto o crime culposo precisa estar
expressamente previsto no tipo penal. Ex: não existe menção, no art. 155 do CP, à culpa, de
forma que não há “furto culposo”.

e) Previsibilidade objetiva

É a possibilidade de prever o resultado lesivo, inerente a qualquer ser humano normal.


Ausente a previsibilidade, afastada estará a culpa, pois não se exige da pessoa uma atenção
extraordinária e fora do razoável.

f) Ausência de previsão

É necessário que o sujeito não tenha previsto o resultado. Se o previu, não estamos no
terreno da culpa, mas do dolo. O resultado era previsível, mas não foi previsto pelo sujeito. Daí
falar-se que a culpa é a imprevisão do previsível.

g) Inobservância do cuidado objetivo

Ocorre quando o agente deixa de seguir as regras básicas de atenção e cautela,


exigíveis de todos que vivem em sociedade. Essas regras gerais de cuidado derivam da proibição
de ações de risco que vão além daquilo que a comunidade juridicamente organizada está disposta
a tolerar.

C) MODALIDADES DE CULPA

a) Imprudência

É a prática de um fato perigoso. Ex. dirigir em alta velocidade em via movimentada.

b) Negligência

É a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado. Ex. deixar arma


de fogo ao alcance de uma criança.

c) Imperícia

É a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. Consiste na incapacidade ou


falta de conhecimento necessário para o exercício de determinado mister. Ex. médico que deixa
de tomar as cautelas devidas de assepsia em uma sala de cirurgia, demonstrando sua nítida
inaptidão para o exercício profissional, situação que provoca a morte do paciente.
5) DA CONSUMAÇÃO E TENTATIVA – Art. 14

5.1) DA CONSUMAÇÃO

A) CONCEITO

Determina o artigo 14, I, do CP que o crime se diz consumado “quando nele se reúnem
todos os elementos de sua definição legal”.

É o tipo penal integralmente realizado, ou seja, quando o fato praticado pelo


agente se enquadra no tipo abstrato.

* ITER CRIMINIS

Iter criminis é o conjunto de fases pelas quais passa o delito. É o caminho do crime.
Compõe-se das seguintes etapas:

a) Cogitação

É o momento da ideação do delito, ou seja, quando o agente tem a ideia de praticar


o crime.

A cogitação não constitui fato punível.

b) Atos preparatórios

É a fase de exteriorização da ideia do crime, através de atos, que começam a


materializar a perseguição ao alvo idealizado.

Os atos preparatórios também não são puníveis, salvo quando o legislador os


define como atos executórios de outro delito autônomo. Nesses casos, o sujeito pratica
crime não porque realizou atos preparatórios do crime que pretendia cometer no futuro, mas sim
porque praticou atos executórios de outro delito.

c) Execução

É a fase da realização da conduta designada pelo núcleo da figura típica, constituída,


como regra, de atos idôneos para chegar ao resultado, mas também daqueles que representarem
atos imediatamente anteriores a estes, desde que se tenha certeza do plano concreto do autor.

d) Consumação

É o momento de conclusão do delito, reunindo todos os elementos do tipo


penal.
5.2) DA TENTATIVA

A) CONCEITO

TENTATIVA é a execução iniciada de um crime, que não se consuma por circunstâncias


alheias à vontade do agente.

B) INFRAÇÕES QUE NÃO ADMITEM A TENTATIVA

a) Crimes culposos

Os crimes culposos não admitem tentativa.

Na tentativa, o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado, mas este não
ocorre por circunstâncias alheias à sua vontade.

Assim, no crime culposo, há evento sem intenção de provocá-lo; na tentativa, intenção


sem resultado. Daí ser impossível tentativa em crime culposo.

b) crimes preterdolosos

É incompreensível a tentativa de crime preterdoloso, uma vez que neste o resultado vai
além do que o agente desejou e naquele ele não atinge o evento pretendido.

Sendo o resultado agravado punido a título de culpa, excluída fica a hipótese


de crime tentado.

c) as contravenções (art. 4º LCP);

d) os crimes omissivos próprios

Pois ou o agente deixa de realizar a conduta, e o delito se consuma, ou a realiza, e não


se pode falar em crime.

e) Os crimes unissubsistentes

Pois se realizam por único ato.

f) Os crimes habituais

Pois não possuem iter, como no descrito no art. 230 (rufianismo);


De fato, o que caracteriza estes crimes é a prática reiterada de certos atos que,
isoladamente, constituem um indiferente penal. Conclusão: ou há reiteração e o crime consumou-
se ou não há reiteração e não há crime.

6) DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ – Art. 15

A desistência voluntária consiste numa abstenção de atividade: o sujeito cessa o


seu comportamento delituoso. Ex: ladrão, dentro da residência da vítima e prestes a subtrair-lhe
valores, desiste de consumar o furto e se retira.

O arrependimento eficaz ocorre entre o término dos atos executórios e a


consumação.

O agente, nesse caso, já fez tudo o que podia para atingir o resultado, mas
resolve interferir para evitar a sua consumação.

Assim, o arrependimento eficaz verifica-se quando o agente ultimou a fase executiva


do delito e, desejando evitar o resultado, atua para impedi-lo.

Ex: se estava tentando matar “A” e desiste, já tendo alvejado a vítima, responderá
unicamente pelas lesões corporais causadas.

A) CONSEQUÊNCIA

Nos termos da parte final do artigo 15 do CP, não obstante a desistência voluntária e o
arrependimento eficaz, o agente responde pelos atos já praticados. Desta forma, retiram a
tipicidade dos atos somente com referência ao crime cuja execução o agente iniciou.

Assim, se o ladrão, dentro da casa da vítima, desiste de consumar o furto, responde


por violação de domicílio (art. 150). Se desiste de consumar o homicídio, responde por lesão
corporal (art. 129) se antes ferira a vítima.

A desistência voluntária e o arrependimento eficaz excluem a tipicidade da


tentativa. Assim, nesses casos jamais o agente responderá pelo crime
tentado, mas somente pelos atos até então praticados.

Desistência voluntária e arrependimento eficaz: não consumação do delito


por força de conduta voluntária.

Tentativa: não consumação do delito por circunstâncias alheias à vontade do


agente.

Logo, são institutos incompatíveis.

7) ARREPENDIMENTO POSTERIOR – Art. 16

A) CONCEITO

Trata-se da reparação do dano causado ou da restituição da coisa subtraída nos delitos


cometidos sem violência ou grave ameaça, desde que por ato voluntário do agente, até o
recebimento da denúncia ou da queixa.
É causa obrigatória de redução de pena, pois o artigo 16 é imperativo: “a pena será
reduzida”.

8) CRIME IMPOSSÍVEL – Art. 17

A) CONCEITO

É a tentativa não punível, porque o agente se vale de meios absolutamente ineficazes


ou volta-se contra objetos absolutamente impróprios, tornando impossível a consumação do
crime.

É uma causa de exclusão da tipicidade.

B) DELITO IMPOSSÍVEL POR INEFICÁCIA ABSOLUTA DO MEIO

Ocorre quando o meio empregado pelo agente, pela sua própria natureza, é
absolutamente incapaz de produzir o resultado.

Ex. o agente querendo matar a vítima mediante veneno, ministra açúcar na


alimentação, supondo ser arsênico.

Ex. pretender atirar na vítima com arma defeituosa, sem condições de efetuar disparos.

Obs: a ineficácia do meio, quando relativa, leva à tentativa e não ao crime impossível.

Há ineficácia relativa do meio quando, não obstante eficaz à produção do resultado,


este não ocorre por circunstâncias acidentais. É o caso do agente que pretende desfechar um
tiro de revólver contra a vítima, mas a arma nega fogo.

Ex: uma porção de açúcar é ineficaz para matar uma pessoa normal, mas apta a eliminar
um diabético.

C) DELITO IMPOSSÍVEL POR IMPROPRIEDADE ABSOLUTA DO OBJETO MATERIAL

Ocorre quando inexiste o objeto material sobre o qual deveria recair a conduta, ou
quando, pela sua situação ou condição, torna impossível a produção do resultado visado pelo
agente.

A pessoa ou a coisa sobre que recai a conduta é absolutamente inidônea para a


produção de algum resultado lesivo.

Ex: “A”, pensando que seu desafeto está a dormir, desfere punhaladas, vindo a provar-
se que já estava morto.
9) ERRO DE TIPO – Art. 20

9.1) CONCEITO

A figura típica (ou tipo legal) é composta de elementos específicos ou elementares. Em


outras palavras, os “elementos constitutivos do tipo” tratam de cada componente que constitui o
modelo legal de conduta proibida.

Ex. No crime de lesão corporal temos os seguintes elementos: ofender + integridade


corporal + saúde + outrem. O engano sobre qualquer desses elementos pode levar ao erro de
tipo.

O erro de tipo pode recair sobre uma circunstância qualificadora.

Ex. No crime de lesão corporal seguida de aborto, o sujeito não responde por este crime
se desconhecia o estado de gravidez da vítima. É que neste caso ele supõe inexistente uma
circunstância do crime (o estado de gravidez da vítima), subsistindo o tipo fundamental doloso
(lesão corporal leve).

9.2) ERRO DE TIPO ESSENCIAL

É o erro que incide sobre as elementares e circunstâncias do tipo.

Daí o nome erro essencial: incide sobre situação de tal importância para o tipo que, se
o erro não existisse, o agente não teria cometido o crime, ou, pelo menos, não naquelas
circunstâncias.

Portanto, há erro de tipo essencial quando a falsa percepção da realidade impede o


sujeito de compreender a natureza criminosa do fato.

O erro de tipo essencial se subdivide em: INVENCÍVEL OU VENCÍVEL

I) INVENCÍVEL (OU ESCUSÁVEL)

Ocorre quando não pode ser evitado pela normal diligência. Qualquer pessoa,
empregando a diligência ordinária exigida pelo ordenamento jurídico, nas condições em que se
viu o sujeito, incidiria em erro.

Ex. o agente se embrenha em mata virgem e fechada, distante de qualquer centro


urbano, com a intenção de caçar capivara. Pelas tantas, vislumbra um vulto se movimentando
pela intensa vegetação. Supondo ser um animal, efetua um disparo. Atinge o alvo e constata,
para sua surpresa, que abateu não um animal, mas um ser humano que, por coincidência,
também caçava por ali.

O erro de tipo essencial invencível exclui o dolo e a culpa, pois o sujeito não age
dolosa ou culposamente.
II) ERRO VENCÍVEL (OU INESCUSÁVEL)

Ocorre quando pode ser evitado pela diligência ordinária, resultando de


imprudência ou negligência. Qualquer pessoa, empregando a prudência normal exigida pela
ordem jurídica, não cometeria o erro em que incidiu o sujeito.

É o erro evitável, indesculpável ou inescusável (cuidado: vencível = inescusável):


poderia ter sido evitado se o agente empregasse mediana prudência.

Ex. Suponha-se que o agente vá caçar em mata próxima a zona urbana, onde costumam
passar pessoas, e efetua um disparo de arma de fogo contra um vulto pensando ser um animal,
atingindo, na verdade, uma pessoa que passava pelo local, matando-a. No caso, não obstante
ter se verificado o erro de tipo, o erro, pelas circunstâncias, não era plenamente justificável,
porquanto o agente agiu com imprudência, sem o devido cuidado objetivo, devendo responder
por homicídio culposo.

O erro de tipo essencial vencível exclui o dolo, mas não a culpa, desde que previsto
em lei o crime culposo.

9.3) ERRO DE TIPO ACIDENTAL

Incide sobre dados irrelevantes da conduta típica. Não impede o sujeito de compreender
o caráter ilícito de seu comportamento. Mesmo que não existisse, ainda assim a conduta seria
antijurídica.

São casos de erro acidental:

a) erro sobre o objeto

b) erro sobre pessoa

c) erro na execução (aberratio ictus)

d) resultado diverso do pretendido (aberratio criminis)

A) ERRO SOBRE OBJETO

Há erro sobre objeto quando o sujeito supõe que sua conduta recai sobre determinada
coisa, sendo que, na realidade, ela incide sobre outra.

É o caso do sujeito subtrair farinha pensando ser açúcar. O erro é irrelevante,


pois a tutela penal abrange a posse e a propriedade de qualquer coisa, pelo que o agente
responde por furto.

B) ERRO SOBRE PESSOA – Art. 20, § 3º

Ocorre quando há erro de representação, em face do qual o sujeito atinge uma


pessoa supondo tratar-se da que pretendia ofender. Ela pretende atingir certa pessoa,
vindo a ofender outra inocente pensando tratar-se da primeira.
Nos termos do art. 20, § 3º, 2ª parte, reza o seguinte: “Não se consideram, neste caso”
(erro sobre pessoa), “as condições ou qualidades da vítima, senão as de pessoa contra quem o
agente queria praticar o crime”. Significa que no tocante ao crime cometido pelo sujeito não
devem ser considerados os dados subjetivos da vítima efetiva, mas sim esses dados em
relação à vítima virtual (que o agente pretendia ofender).

Exs:

a) O agente pretende cometer homicídio contra Pedro. Coloca-se de tocaia e,


pressentindo a aproximação de um vulto e supondo tratar-se da vítima, atira e vem a matar o
próprio pai. Sobre o fato não incide a agravante genérica prevista no art. 61, II, “e”, 1ª figura
(ter cometido o crime contra ascendente).

b) o agente pretende praticar um homicídio contra o próprio irmão. Põe-se de


emboscada e, percebendo a aproximação de um vulto e o tomando pelo irmão, efetua disparos
vindo a matar um terceiro. Sobre o fato incide a agravante do art. 61, II, “e”, 3ª figura (ter sido
o crime cometido contra irmão).

C) ERRO NA EXECUÇÃO (aberratio ictus ) – Art. 73

I) CONCEITO

Aberratio ictus significa aberração no ataque ou desvio do golpe. Ocorre quando o


sujeito, pretendendo atingir uma pessoa, vem a ofender outra.

Aqui a relação é entre pessoa e pessoa. Ou seja, o agente pretende atingir uma pessoa
e acerta outra.

II) ABERRATIO ICTUS COM UNIDADE SIMPLES

Existe a aberratio ictus com resultado único quando em face de erro na conduta causal
um terceiro vem a sofrer o resultado, que pode ser lesão corporal ou morte.

O Código Penal vê na aberratio ictus com unidade de resultado um só delito (tentado


ou consumado). Nesse caso, de acordo com o que preceitua o art. 73, 1ª parte, in fine, deve ser
atendido ao disposto no art. 20, § 3º, 2ª parte, ou seja, o agente responde como se tivesse
atingido a pessoa pretendida.

Ex: O agente pretende matar o próprio pai, que se acha conversando com Pedro,
estranho. Atira e mata o terceiro (Pedro). Sobre o fato incide a circunstância agravante.

II) ABERRATIO ICTUS COM RESULTADO DUPLO

Ocorre quando o agente atinge a vítima virtual e terceira pessoa. Aplica-se a 2ª parte
do art. 73: “(...) No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender,
aplica-se a regra do art. 70 deste Código”, ou seja, a regra do concurso formal de crimes.
D) RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO (aberratio criminis) – Art. 74

I) CONCEITO

Significa desvio do crime. Enquanto na aberratio ictus, o agente quer atingir uma pessoa
e ofende outra (ou ambas). Na aberratio criminis, o agente quer atingir um bem jurídico e ofende
outro (de espécie diversa).

Ex: o agente joga uma pedra contra uma vidraça e acaba acertando uma pessoa, em
vez do vidro.

II) ESPÉCIES

1º) Com unidade simples ou resultado único:

Só atinge o bem jurídico diverso do pretendido. Ou seja, o agente quer atingir uma
coisa e atinge uma pessoa. Responde pelo resultado produzido a título de culpa (homicídio ou
lesão corporal culposos).

Portanto, a consequência é a seguinte: responde só pelo resultado produzido, se


previsto como crime culposo.

2º) Com unidade complexa ou resultado duplo:

São atingidos tanto o bem visado quanto um diverso.

O agente quer atingir uma coisa, vindo a ofender esta e uma pessoa. Responde por
dois crimes: dano (art. 163) e homicídio ou lesão corporal culposa em concurso formal (concurso
entre crime doloso e culposo). Aplica-se a pena do crime mais grave com o acréscimo de 1/6 até
metade (regra do concurso formal de crimes – art. 70).

10) DESCRIMINANTES PUTATIVAS – Art. 20, § 1º

A) CONCEITO

É a causa excludente da ilicitude erroneamente imaginada pelo agente. Ela não existe
na realidade, mas o sujeito pensa que sim, porque está errado. Só existe, portanto, na mente,
na imaginação do agente. Por essa razão, é também conhecida como descriminante imaginária
ou erroneamente suposta.

Logo, é possível que o sujeito, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias do
caso concreto, suponha encontrar-se em estado de necessidade, legítima defesa, estrito
cumprimento do dever legal ou em exercício regular do direito. Quando isso ocorre, aplica-se o
disposto no art. 20, § 1º, 1ª parte.
Em relação às consequências, o Código Penal, tendo adotado a teoria limitada da
culpabilidade, disciplina o tema da seguinte forma:

Quando o erro incide sobre os pressupostos de fato da excludente, trata-se de erro de


tipo, aplicando-se o disposto no art. 20, § 1º.

Se invencível, há exclusão do dolo e da culpa. Exemplos acima.

Se vencível, fica excluído o dolo, podendo o sujeito responder por crime culposo. (matar
o vigia pensando ser o ladrão).

Quando, entretanto, o erro do sujeito recai sobre os limites legais (normativos) da causa
de justificação, aplicam-se os princípios do erro de proibição: se inevitável, há exclusão da
culpabilidade; se evitável, não se exclui a culpabilidade, subsiste o crime doloso atenuando-se a
pena (art. 21).

11) ERRO PROVOCADO POR TERCEIRO – Art. 20, § 2º

Existe o erro provocado quando o sujeito a ele é induzido por conduta de terceiro. A
provocação pode ser dolosa ou culposa.

A posição do terceiro provocador é a seguinte:

Responde pelo crime a título de dolo ou culpa, de acordo com o elemento subjetivo do
induzimento.

A posição do provocado é a seguinte:

a) Tratando-se de erro invencível, não responde pelo crime cometido, quer a título de
dolo, quer de culpa.

b) tratando-se de provocação de erro vencível, não responde pelo crime a título de


dolo, subsistindo a modalidade culposa, se prevista na lei penal incriminadora.

12) ERRO DE PROIBIÇÃO – Art. 21

12.1) CONCEITO

Surge o erro de proibição: O erro de proibição é o erro que incide sobre a ilicitude
do fato. O sujeito, diante do erro, supõe lícito o fato por ele cometido. Ele sabe o que faz, mas
supõe inexistir a regra de proibição.

12.2) FORMAS DE ERRO DE PROIBIÇÃO

O erro de proibição pode ser: Escusável ou Inescusável.


A) ESCUSÁVEL OU INEVITÁVEL:

Quando o erro sobre a ilicitude do fato é impossível de ser evitado, valendo-se


o ser humano da sua diligência ordinária, trata-se de uma hipótese de exclusão da
culpabilidade.

Ex. um jornal de grande circulação, por engano, divulga que o novo CP foi aprovado,
trazendo como excludente de ilicitude a eutanásia. Um leitor apressa a morte de um parente,
crendo agir sob o manto da causa de justificação inexistente. Trata-se de erro escusável.

B) INESCUSÁVEL OU EVITÁVEL:

Trata-se de erro sobre a ilicitude do fato que não se justifica, pois, se tivesse
havido um mínimo de empenho em se informar, o agente poderia ter tido conhecimento da
realidade.

Ex. abstendo-se do seu dever de se manter informado, o agente deixa de tomar


conhecimento de uma lei, divulgada na imprensa, que transforma em crime determinada conduta.
Praticando o ilícito, não há exclusão da culpabilidade, embora haja redução da pena, variando
de um 1/6 a 1/3.

13) DA ANTIJURIDICIDADE

13.1) CONCEITO

É a contrariedade de uma conduta com o direito, causando lesão a um bem


juridicamente protegido.

É a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico, pela qual a ação ou omissão


típicas tornam-se ilícitas.

São causas de exclusão da antijuricidade, previstas no artigo 23 do CP:

a) Estado de necessidade;
b) legítima defesa;
c) estrito cumprimento do dever legal
d) exercício regular de direito.

13.2) ESTADO DE NECESSIDADE – Art. 24

I) CONCEITO

É a causa de exclusão da ilicitude da conduta de quem, não tendo o dever legal de


enfrentar o perigo atual, a qual não provocou por sua vontade, sacrifica um bem jurídico
ameaçado por esse perigo para salvar outro, próprio ou alheio, cuja perda não era razoável exigir.
II) EXEMPLOS DE ESTADO DE NECESSIDADE

a) danos materiais produzidos em propriedade alheia para extinguir um incêndio e salvar


pessoas.
b) Subtração de um carro para transportar um doente em perigo de vida ao hospital.
c) Violação de domicílio para salvar vítimas de desastres
d) Subtração de alimentos para salvar alguém da morte por inanição.

13.3) LEGÍTIMA DEFESA – Art. 25

I) CONCEITO

É uma causa de exclusão da ilicitude que consiste em repelir injusta agressão, atual ou
iminente, a direito próprio ou alheio, usando moderadamente dos meios necessários.

II) REQUISITOS

1) agressão injusta, atual ou iminente


2) agressão a direito próprio ou de terceiro
3) repulsa com os meios necessários
4) uso moderado dos meios
5) conhecimento da agressão e da necessidade da defesa (vontade de defender-se).

A ausência de qualquer dos requisitos exclui a legítima defesa.

13.4) ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL

O fundamento reside no fato de que não há crime quando o agente pratica o fato no
“estrito cumprimento de dever legal”. Quem cumpre um dever legal dentro dos limites impostos
pela lei obviamente não pode estar praticando ao mesmo tempo um ilícito penal, a não ser que
aja fora daqueles limites.

Ex: o policial que prende o agente em flagrante ou cumprindo mandado de prisão,


embora atinja o seu direito de liberdade, não comete o crime previsto no art. 148 do CP, porque
cumpre o dever que lhe é imposto por lei.

13.5) EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO

É o desempenho de uma atividade ou a prática de uma conduta autorizada por lei,


que torna lícito um fato típico.

É uma causa de exclusão da ilicitude que consiste no exercício de uma prerrogativa


conferida pelo ordenamento jurídico, caracterizado como fato típico.

Ex: prisão em flagrante realizada por um particular;


Qualquer pessoa pode exercitar um direito subjetivo ou uma faculdade previstos em lei
(penal ou extrapenal).

13.6) EXCESSO – Art. 23, parágrafo único

A condição essencial para que exista excesso é a preexistência de uma situação objetiva
de legítima defesa. Deve haver uma agressão injusta, de modo que o excesso se refere aos
limites da conduta do agredido, não à sua inicial ilicitude. Por isso, chama-se de excesso à
intensificação desnecessária de uma conduta inicialmente justificada.

Os nossos tribunais admitem o excesso quer na imoderação, quer no emprego de meios


desnecessários.

a) Excesso doloso

Ocorre quando o agente, ao se defender de uma injusta agressão, emprega meio que
sabe ser desnecessário ou, mesmo tendo consciência de sua desproporcionalidade, atua com
imoderação.

Ex: já prostrado seu agressor, que não pode continuar a agressão, o agredido
prossegue na conduta de feri-lo. De uma conduta lícita passa a um comportamento ilícito.
Responde por crime doloso (art. 23, parágrafo único).

Consequência: constatado o excesso doloso, o agente responde pelo resultado


dolosamente. Ex: aquele que mata quando bastava tão-somente a lesão responde por homicídio
doloso.

b) Excesso culposo

Ocorre quando o agente, diante do temor, aturdimento ou emoção provocada pela


agressão injusta, acaba por deixar a posição de defesa e partir para um verdadeiro ataque, após
ter dominado o seu agressor.

Não houve intensificação intencional, pois o sujeito imaginava-se ainda sofrendo o


ataque, tendo seu excesso decorrido de uma equivocada realidade.

O agente responderá pelo resultado produzido, a título de culpa.

14) DA CULPABILIDADE

14.1) CONCEITO

Doutrinariamente, a culpabilidade é considerada um juízo de censurabilidade e


reprovação social incidente sobre o fato e seu autor, devendo o agente ser imputável, atuar com
potencial consciência da ilicitude, bem como ter a possibilidade e a exigibilidade de atuar de modo
diverso.
14.2) CAUSAS EXCLUDENTES DE CULPABILIDADE

I) INIMPUTABILIDADE

INIMPUTÁVEL é o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental


incompleto ou retardado, não possui, ao tempo da prática do fato, capacidade de entender o seu
caráter ilícito ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

São causas de exclusão da imputabilidade previstas no Código Penal:

a) doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (art. 26 do CP)

b) menoridade (art. 27 do CP e 228 da CF/88)

c) embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior (art. 28, § 1º, do CP)

Em relação à inimputabilidade pela enfermidade mental, o Código Penal adotou o


critério biopsicológico. Só é imputável o sujeito que, em consequência da anomalia mental,
não possui capacidade de compreender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de
acordo com essa compreensão.

A) DA INIMPUTABILIDADE POR DOENÇA MENTAL OU DESENVOLVIMENTO MENTAL


INCOMPLETO OU RETARDADO (ART. 26)

Para que seja considerado inimputável não basta que o agente seja portador de “doença
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado”. É necessário que, em consequência
desses estados, seja “inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento” (no momento da conduta).

* Diminuição da capacidade de entendimento e de vontade – Semi-imputabilidade –


Art. 26, parágrafo único, CP

É a perda de parte da capacidade de entendimento e autodeterminação, em razão de


doença mental ou de desenvolvimento incompleto ou retardado. Alcança os indivíduos em que
as perturbações psíquicas tornam menor o poder de autodeterminação e mais fraca a resistência
interior em relação à prática do crime.

A responsabilidade diminuída, como o próprio nome indica, não constitui causa de


exclusão da culpabilidade. O agente responde pelo crime com pena privativa de liberdade
atenuada ou medida de segurança. E a sentença é condenatória.

B) DA INIMPUTABILIDADE POR EMBRIAGUEZ COMPLETA PROVENIENTE DE CASO


FORTUITO OU FORÇA MAIOR – Art. 28, § 1º, do CP

a) Conceito

É a causa capaz de levar à exclusão da capacidade de entendimento e vontade do


agente, em virtude de uma intoxicação aguda e transitória causada por álcool ou qualquer
substância de efeitos psicotrópicos, sejam eles entorpecentes (morfina, ópio), estimulantes
(cocaína) ou alucinógenos (ácido lisérgico).

b) embriaguez acidental

A EMBRIAGUEZ É ACIDENTAL quando não voluntária nem culposa. Pode ser


proveniente de:

a) CASO FORTUITO: ocorre quando o sujeito desconhece o efeito inebriante da


substância que ingere, ou quando, desconhecendo uma particular condição fisiológica, ingere
substância que possui álcool (ou substância análoga), ficando embriagado.

b) FORÇA MAIOR: há embriaguez proveniente de força maior no caso, p. ex., de o


sujeito ser obrigado a ingerir bebida alcoólica.

Quando a embriaguez acidental, proveniente de CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR,


é COMPLETA, em consequência da qual, ao tempo da ação ou da omissão, o agente ERA
INTEIRAMENTE INCAPAZ de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento, HÁ EXCLUSÃO DA IMPUTABILIDADE (art. 28, § 1º).

c) Embriaguez acidental: casos de diminuição da pena – Art. 28, § 2º, do CP

Quando a embriaguez acidental, proveniente de CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR,


é INCOMPLETA, não há exclusão da imputabilidade. O sujeito responde pelo crime com a pena
atenuada, desde que haja redução de sua capacidade intelectiva ou volitiva. A sentença é
condenatória. Aplica-se o disposto no art. 28, § 2º.

Tratando-se de EMBRIAGUEZ PREORDENADA não há exclusão da imputabilidade. O


agente responde pelo crime, incidindo sobre a pena a agravante prevista no artigo 61, II, l, CP.

d) Embriaguez voluntária ou culposa – art. 28, II, CP

Não só a embriaguez proveniente de álcool não exclui a imputabilidade, mas também


a derivada de outras substâncias de consequências semelhantes, como a maconha, éter, ópio,
etc. sendo irrelevante que seja completa ou incompleta.

Se o sujeito comete uma infração penal sob efeito de embriaguez voluntária ou culposa,
não há exclusão da imputabilidade e, por consequência, não fica excluída a culpabilidade. Ele
responde pelo crime.

II) FALTA DE POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE – Art. 21

A) CONCEITO

É a consciência ou conhecimento atual ou possível da ilicitude da conduta, ou seja, a


possibilidade de valoração da conduta que toda pessoa possui, independentemente de ser ou
não afeita às ciências jurídicas.
Trata-se, em suma, da possibilidade de o agente poder conhecer o caráter
ilícito da sua ação.

A potencial consciência da ilicitude pode ser excluída no caso de erro de proibição.


Excluindo-se, nesse caso, a própria culpabilidade.

Quando o erro sobre a ilicitude do fato é impossível de ser evitado, valendo- se o ser
humano da sua diligência ordinária, trata-se de uma hipótese de exclusão da culpabilidade.

Ex. um jornal de grande circulação, por engano, divulga que o novo CP foi aprovado,
trazendo como excludente de ilicitude a eutanásia. Um leitor apressa a morte de um parente,
crendo agir sob o manto da causa de justificação inexistente. Trata-se de erro escusável.

III) INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA

Além dos dois primeiros elementos, exige-se que nas circunstâncias do fato tivesse o
agente possibilidade de realizar outra conduta, de acordo com o ordenamento jurídico.

Só há culpabilidade quando, devendo e podendo o sujeito agir conforme o direito,


realiza conduta diversa.

Ao contrário, quando não lhe era exigível comportamento diverso, não incide o juízo de
reprovação, excluindo a culpabilidade.

Isso ocorre na coação moral irresistível e a obediência hierárquica. Ou seja, coação


moral irresistível e a obediência hierárquica excluem a exigibilidade de conduta diversa.

A) COAÇÃO MORAL IRRESTÍVEL – Art. 22

Coação moral é o emprego de grave ameaça contra alguém, no sentido de


que realize um ato ou não. Ex. o sujeito constrange a vítima, sob ameaça de morte, a assinar
um documento falso.

Assim, se o sujeito é coagido a assinar um documento falso, responde pelo crime de


falsidade o autor da coação. O coato não responde pelo crime, uma vez que sobre o fato incide
a causa de exclusão da culpabilidade. Logo, quando o sujeito comete o fato típico e antijurídico
sob coação moral irresistível não há culpabilidade em face da inexigibilidade de outra
conduta (não é reprovável o comportamento). A culpabilidade desloca-se da figura do coato
para a do coator.

Quando o sujeito pratica o fato sob coação física irresistível, não praticará crime por
ausência de conduta, aplicando-se o disposto no art. 13, “caput”, do CP. Trata-se de causa
excludente da tipicidade.

A coação moral deve ser irresistível. Tratando-se de coação moral resistível não
há exclusão da culpabilidade, incidindo uma circunstância atenuante (CP, art. 65, III,
c, 1ª figura).
B) OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA – Art. 22

Ordem de superior hierárquico é a manifestação de vontade do titular de uma função


pública a um funcionário que lhe é subordinado, no sentido de que realize uma conduta (positiva
ou negativa).

A ordem ilegal pode ser: a) manifestamente ilegal; b) não manifestamente ilegal.

Quando a ordem é MANIFESTAMENTE ILEGAL, RESPONDEM pelo crime o


SUPERIOR E O SUBORDINADO.

Ex. o delegado de polícia determina ao soldado que exija do autor de um crime


determinada quantia, a fim de não ser instaurado inquérito policial. Os dois respondem pelo crime
de concussão. Em relação subordinado há uma atenuante genérica (art. 65, III, c).

No caso de a ordem não ser manifestamente ilegal, embora a conduta do


subordinado constitua fato típico e antijurídico, não é culpável, em face de incidir um relevante
erro de proibição. Diante disso, o subordinado não responde pelo crime, em face da
ausência de culpabilidade. A obediência hierárquica constitui, assim, causa de
exclusão da culpabilidade.

15) CONCURSO DE PESSOAS (OU CONCURSO DE AGENTES) – Arts. 29/31

15.1) CONCEITO DE CONCURSO DE PESSOAS

Trata-se de contribuição entre dois ou mais agentes para o cometimento de uma


infração penal.

Ocorre quando duas ou mais pessoas, em conjugação de esforços, reúnem-se para a


prática de um ou mais delitos.

A doutrina utiliza também as expressões concurso de agentes e codelinquência.

15.2) AUTORIA

I. CONCEITO

Para se compreender o instituto do concurso de pessoas, mostra-se imprescindível


estabelecer o conceito de autoria criminal, já que repercutirá na identificação da conduta de cada
agente na prática delituosa.

Várias teorias buscam definir o conceito de autor, merecendo destaque duas posições
apontadas pela doutrina:

A) Teoria do domínio do fato

De acordo com a teoria do domínio do fato, autor é quem tem o controle final do fato.
É quem domina o decurso do crime e decide sobre sua prática, interrupção e circunstâncias. O
partícipe não tem o domínio do fato, pois apenas coopera, induz e incita a prática do delito.
Por essa razão, o mandante, embora não realize o núcleo da ação típica, deve ser
considerado autor, uma vez que detém o controle final do fato até a sua consumação,
determinando a prática delitiva.

Diante da sua natureza conceitual e hipótese de incidência, poder-se-ia cogitar da


aplicação da teoria do domínio do fato somente aos delitos dolosos, porquanto somente esses
exigem voluntariedade e, portanto, domínio em relação ao resultado final.

Os crimes culposos, por se caracterizarem pela ausência de vontade em relação ao


resultado final, não estão adstritos à teoria do domínio do fato, por absoluta incompatibilidade.

B) Teoria restritiva

Segundo essa teoria, autor é aquele que pratica a ação descrita no verbo nuclear do
tipo penal, isto é, o que pratica o verbo nuclear do tipo: mata, subtrai, constrange, etc.

Em síntese, autor é aquele que realiza a conduta descrita no verbo nuclear do tipo, ao
passo que partícipe seria o agente que contribui para a prática delituosa, induzindo, instigando
ou auxiliando materialmente seu autor.

Para a maioria da doutrina 1, a teoria restritiva é a aplicada pelo Código Penal.

Sinala-se, por fim, que a coautoria é a realização conjunta, por mais de uma pessoa,
de uma mesma infração penal. É, em última análise, a própria autoria.

15.3) PARTICIPAÇÃO

I. CONCEITO E FORMAS DE PARTICIPAÇÃO – Art. 31

Conforme a teoria restritiva de autoria, partícipe é quem contribui para que o autor ou
coautores realizem a conduta principal, ou seja, aquele que, sem praticar o verbo nuclear do tipo,
concorre de algum modo para a produção do resultado.

A participação pode ser:

A) Moral

A determinação (ou induzimento) e a instigação são as formas de


participação moral.

A.1) Induzimento ou determinação

Ocorre a determinação ou induzimento quando uma pessoa faz surgir na mente de


outra a intenção delituosa.

1
Guilherme de Souza Nucci; André Estefam; Fernando Capez, Aníbal Bruno, Mirabete, René Ariel Dotti, dentre outros.
Ex: Rafa incute na mente de Iuri a ideia homicida contra Jonas. A característica da
determinação é a inexistência da resolução criminosa na pessoa do autor principal. Se Iuri matar
Jonas, Rafa responde por homicídio na condição de partícipe.

A.2) Instigação

Instigar é reforçar uma idéia já existente. O agente já a tem em mente, sendo apenas
reforçada pelo partícipe.

No caso do exemplo acima, Iuri já tinha em mente matar Jonas. Rafa apenas reforçou
a ideia homicida. Rafa é partícipe do crime de homicídio, enquanto Iuri responde pelo crime na
condição de autor.

B) Material

Ocorre na forma de auxílio. Considera-se, assim, partícipe aquele que presta ajuda
efetiva na preparação ou execução do delito.

Auxilia na preparação quem fornece a arma ou informações úteis à realização do crime.


Auxilia na execução quem permanece de atalaia, no sentido de avisar o autor da aproximação de
terceiro, leva o ladrão em seu veículo ao local do furto, carrega a arma do homicida.

II) NATUREZA JURÍDICA DA PARTICIPAÇÃO

A participação é acessória a um fato principal. Significa que não se pode falar em


participação sem que haja uma ação principal, ou seja, sem que alguém realize atos de execução
de um crime consumado ou tentado.

Como a conduta do partícipe não descrita no tipo penal, faz-se necessária uma norma
de extensão que viabilize a adequação típica da conduta do partícipe à norma incriminadora.
Trata-se de uma norma de ligação entre a conduta do partícipe e o tipo penal. E essa norma se
encontra no artigo 29 do Código Penal, segundo o qual quem concorrer, de qualquer forma, para
um crime por ele responderá.

Nesse sentido, o artigo 29 do Código Penal viabiliza que o agente que contribuiu para
um resultado sem praticar a ação descrita no tipo penal seja enquadrado no crime praticado por
conta de uma conduta principal (do autor). Assim, quem ajudou a matar não praticou a conduta
descrita no art. 121 do Código Penal, mas, como concorreu para o seu cometimento, será
alcançado pelo tipo do homicídio, graças à regra do art. 29.

III) PARCIPAÇÃO IMPUNÍVEL – Art. 31

Para a participação ser punível, afigura-se imprescindível que o ato executório do crime
tenha sido iniciado.
Ex: Fabrício contrata Félix para matar Mafalda. Félix sai em busca de Mafalda e, ao
avistá-la, apiedado, não dá início ao intento executório. Nesse caso, tanto Fabrício quanto Félix
não respondem pelo delito de homicídio, pois sequer foi dado início ao ato executório.

IV) PARTICIPAÇÃO POSTERIOR AO CRIME

A participação em concurso de pessoas exige que a conduta acessória tenha sido


praticada antes ou durante a execução do delito.

A contribuição posterior à consumação do crime, conforme o caso, pode configurar o


crime de favorecimento pessoal (art. 348 do CP) ou real (art. 349 do CP), além de outros...

15.4) TEORIAS DO CONCURSO DE PESSOAS

Estabelecida a distinção entre autoria e participação, importa aqui verificar se as


condutas praticadas em concurso de pessoas ensejam a incidência de vários crimes ou se
revestem em crime único, ou seja, se todos os agentes devem responder pelo mesmo crime.

Todos os que contribuem para a prática do delito cometem o mesmo crime, não
havendo distinção quanto ao enquadramento típico entre autor e partícipe.

Daí decorre o nome da teoria: todos respondem por um único crime (Teoria
unitária).

A teoria pluralista foi adotada, como exceção, no § 2º do art. 29 do CP, que dispõe: “se
algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste...”.

15.5) REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS

I) PLURALIDADE DE CONDUTAS

Trata-se de requisito elementar do concurso de pessoas: a concorrência de mais de


uma pessoa na execução de uma infração penal.

Assim, para que haja concurso de pessoas, exige-se que cada um dos agentes tenha
realizado ao menos uma conduta relevante. Pode ser em coautoria, onde há duas condutas
principais; ou autoria e participação, onde há uma conduta principal e outra acessória, praticadas,
respectivamente, por autor e partícipe.

II) RELEVÂNCIA CAUSAL DAS CONDUTAS

Para justificar a punição de duas ou mais pessoas em concurso, afigura-se necessário


que a conduta do agente tenha efetivamente contribuído, ainda que minimamente, para a
produção do resultado.
Em outras palavras, se a conduta não tem relevância causal, isto é, se não contribuiu
em nada para a produção do resultado, não pode ser considerada como integrante do concurso
de pessoas.

A simples manifestação de adesão a uma prática delituosa não configura


participação.

Assim, se Tereza Cristina simplesmente diz que vai concorrer no homicídio a ser
cometido por Ferdinand não há participação. Agora, se Tereza Cristina instiga Ferdinand a matar,
ocorrendo pelo menos tentativa de homicídio, existe participação.

III) DO LIAME SUBJETIVO E NORMATIVO (Vínculo subjetivo e normativo entre os


participantes)

Exige-se homogeneidade de elemento subjetivo-normativo. Significa que autor e


partícipe devem agir com o mesmo elemento subjetivo (dolo + dolo) ou normativo (culpa +
culpa).

As várias condutas não são suficientes para a existência da participação ou coautoria.


Imprescindível é o elemento subjetivo, pelo qual cada concorrente tem consciência
de contribuir para a realização do resultado.

Os agentes devem atuar conscientes de que participam de crime comum, ainda que
não tenha havido acordo prévio de vontades. A ausência desse elemento psicológico inviabiliza o
concurso de pessoas, ensejando condutas isoladas e autônomas.

Assim, não há participação dolosa em crime culposo. Ex. Anastácio, desejando


matar Grizelda, sua paciente, alcança a Januária, enfermeira contratada para cuidar da velha
senhora, uma substância dizendo ser medicamento, quando, na verdade, tratava-se de veneno.
Mesmo percebendo a dosagem inadequada e a coloração diferente, a enfermeira, sem maiores
cautelas, de forma negligente, ministra a substância à paciente, causando-lhe a morte. Não há,
no caso, concurso de pessoas, por ausência de vínculo subjetivo, já que Anastácio agiu com dolo
e Januária a título de culpa. Há, portanto, dois delitos: homicídio doloso em relação a
Anastácio; homicídio culposo em relação a Januária.

Importante lembrar que a lei não requer acordo prévio entre agentes, sendo suficiente
a consciência por parte das pessoas que de algum modo contribuem com o fato.

Ex. uma empregada doméstica, percebendo a presença de um ladrão, para vingar-se


do patrão, deliberadamente deixa a porta aberta, facilitando a prática do furto. Há participação
e, não obstante, o ladrão desconhecia a colaboração da empregada. Por consequência, a
empregada também responderá pelo crime de furto.

IV) IDENTIDADE DE INFRAÇÃO PARA TODOS OS PARTICIPANTES

Nos termos do artigo 29, todos que concorrem para o crime respondem pelo
mesmo delito.
Ex: Alguém planeja a realização da conduta típica, ao executá-la, enquanto um desvia
a atenção da vítima, outro lhe subtrai os pertences e ainda um terceiro encarrega-se de evadir-
se do local com o produto do furto.

É uma exemplar divisão de trabalho constituída de várias atividades, convergentes,


contudo, a um mesmo objetivo típico: subtração de coisa alheia móvel. Respondem todos por um
único tipo penal, qual seja, furto.

15.6) ESPÉCIES DE AUTORIA

I) AUTORIA MEDIATA

Trata-se de uma modalidade de autoria, que ocorre quando o agente se vale de pessoa
não culpável, ou que atua sem dolo ou culpa, para executar o delito.

Ex: o médico que, dolosa e insidiosamente, entrega uma injeção de morfina, em dose
demasiadamente forte, para enfermeira, que, sem desconfiar de nada, a aplica em enfermo,
matando-o.

O médico é autor mediato de homicídio doloso, pois usou sua assistente como
instrumento de sua agressão, ao passo que a enfermeira não será partícipe deste delito,
respondendo por crime culposo, desde que tenha atuado com imprudência ou negligência, ou
por crime nenhum, se o seu erro tiver sido inevitável.

II) AUTORIA COLATERAL

Ocorre quando os agentes desconhecendo cada um a conduta do outro, realizam


atos voltados à produção do resultado visado por eles, mas que decorre da conduta de
apenas um dos agentes.

Ex. Suponha-se que “A” e “B”, pretendendo matar “C” com tiros, postam-se de
emboscada, ignorando cada um o comportamento do outro. Ambos atiram na vítima, que
vem a falecer unicamente em razão dos ferimentos causados pela arma de “A”. Não há
coautoria nem participação. “A” responde por homicídio consumado; “B” por tentativa
de homicídio.

III) AUTORIA INCERTA

Dá-se a autoria incerta quando, na autoria colateral, não se apura a quem atribuir
a produção do resultado. Suponha-se a hipótese acima. Não foi descoberto de quem partiu o
tiro fatal. A solução é punir os agentes como autores de tentativa de homicídio,
abstraindo-se o resultado, cuja autoria não se apurou.

15.7) PUNIBILIDADE DO CONCURSO DE PESSOAS

A ressalva “na medida da sua culpabilidade” feita aos limites da culpabilidade no art.
29 diz respeito somente à graduação da pena para os agentes que praticaram o mesmo crime.
Portanto, todos respondem pelo mesmo crime (teoria monista ou unitária). Todavia, a
unidade criminosa não importa necessariamente na aplicação de pena idêntica a todos os que
contribuíram para a prática do crime, pois cada um deverá responder na medida da sua
culpabilidade.

I) PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA – ART. 29, §1º

A participação aqui referida diz respeito exclusivamente ao partícipe. Isso porque, ainda
que tenha sido pequena, a contribuição do coautor não pode ser considerada de menor
importância, uma vez que atuou diretamente na execução do crime. A sua culpabilidade,
naturalmente superior à de um simples partícipe, será avaliada nos termos do art. 29, caput, do
CP, e a pena a ser fixada obedecerá aos limites abstratos previstos pelo tipo penal infringido.

II) DA COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA OU DESVIOS SUBJETIVO ENTRE OS


PARTICIPANTES – ART. 29, § 2º

O agente que desejava praticar um delito, sem a condição de prever a concretização


de crime mais grave, deve responder pelo que pretendeu fazer, não se podendo a ele imputar
outra conduta indesejada, sob pena de se estar tratando de responsabilidade objetiva.

Esse dispositivo cuida da hipótese de o autor principal cometer delito mais grave que o
pretendido pelo partícipe ou coautor.

Ex. “A” determina “B” a espancar “C”. “B” mata “C”. Segundo o art. 29, § 2º, “A”
responde por crime de lesão corporal, cuja pena deve ser aumentada até metade se a morte da
vítima lhe era previsível.

15.8) COMUNICABILIDADE DAS ELEMENTARES E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME –


Art. 30

Via de regra, as circunstâncias e condições pessoais relacionadas a um dos agentes não


se comunica aos outros que contribuíram para a prática delituosa.

Todavia, há determinadas circunstâncias ou condições pessoais que compõem,


integram o tipo penal, figurando, no caso, como verdadeira elementar no tipo penal. Nesse caso,
quando também constituem o tipo penal, ou seja, figuram como elementares do tipo penal, as
circunstâncias ou condições pessoais relacionadas a um dos sujeitos se comunicam aos demais
coautores ou partícipes.

Ex: “A”, funcionário público, comete um crime de peculato (art. 312), com a participação
de “B”, não funcionário público. A condição pessoal (funcionário público) é elementar do crime
de peculato, comunicando-se, portanto, ao agente que não é funcionário público. Logo, os dois
respondem por crime de peculato.
3) TEORIA DA PENA

1) CONCEITO DE PENA

Pena é a sanção imposta pelo Estado, por meio de ação penal, ao criminoso como
retribuição ao delito perpetrado e prevenção a novos crimes.

1.2) FINALIDADE

Teoria mista ou eclética

A pena tem a dupla função de punir o criminoso e prevenir a prática do crime, pela
reeducação e pela intimidação coletiva.

De acordo com a doutrina hoje dominante, a pena estatal não se justifica só porque
seria retribuição ao delito cometido (teorias absolutas) nem só porque seria meio de prevenção
de futuros delitos (teorias relativas).

Segundo o Código Penal, sobretudo diante da parte final do artigo 59, a pena
apresenta natureza mista: é retribuitiva e preventiva.

1.3) CLASSIFICAÇÃO DAS PENAS

De acordo com o CP, as penas são privativas de liberdade; restritivas de direitos e de


multa (art. 32).

As penas privativas de liberdade são as penas de reclusão, detenção e prisão simples.


As duas primeiras constituem decorrência da prática de crimes e a terceira à aplicada às
contravenções penais.

São penas restritivas de direito (art. 43 do CP).

a) prestação pecuniária
b) perda de bens e valores
c) prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas
d) interdição temporária de direito
e) limitação de fim de semana

2) REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA – Art. 33

Ao proferir a sentença condenatória, o juiz deve, após fixar a quantidade de pena,


determinar a espécie de regime para início de cumprimento da pena, observando as regras
previstas no artigo 33 do Código Penal e os crimes apenados com reclusão e detenção.
I) CRIMES APENADOS COM RECLUSÃO – Art. 33, § 2º

No momento de proferir a sentença, o juiz, ao se deparar com um crime apenado com


reclusão, detém, desde logo, a informação de que poderá fixar o regime inicial de cumprimento
da pena fechado, semiaberto e aberto. Deverá, no entanto, observar determinados requisitos:

a) Quantidade da pena

a) Se o agente for condenado a pena superior a 08 anos deverá começar a cumpri-la


em regime fechado;

b) o agente não reincidente, cuja pena seja superior a 04 anos e não exceda a 08,
poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto;

c) o agente não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 04 anos, poderá, desde
o início, cumpri-la em regime aberto.

Nos termos da Súmula 269 do STJ: “É admissível a adoção do regime prisional semi-
aberto aos reincidentes condenados à pena igual ou inferior a 04 anos se favoráveis as
circunstâncias judiciais”.

b) Circunstâncias judiciais para fixação do regime carcerário

Mesmo para o condenado a pena inferior a 04 anos, não reincidente, pode ser fixado o
regime inicial fechado ou semiaberto de acordo com as circunstâncias judiciais reveladas no
processo.

Não se tratando de pena superior a 08 anos (art. 33, § 2º, letra “a”, do CP), a imposição
de regime inicial fechado depende de fundamentação adequada em face do que dispõem as
alíneas “b”, “c” e “d” do mesmo parágrafo (2º) e também o § 3º c/c o art. 59 do mesmo diploma.

Nesse sentido é o teor da Súmula 719 do STF: “a imposição do regime de


cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea”.

Merece, ainda, destaque a Súmula 718 do STF, segundo a qual “a opinião do julgador
sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de
regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.”

Súmula 440 do STJ: “Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o


estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta,
com base apenas na gravidade abstrata do delito”.

II) CRIMES APENADOS COM DETENÇÃO

a) Se a pena for superior a 04 anos: inicia em regime semiaberto.

b) Se a pena for igual ou inferior a 04 anos: inicia em regime aberto

c) Se o condenado for reincidente: inicia no regime mais gravoso existente,


ou seja, no semiaberto.

d) Se as circunstâncias do art. 59 do Código Penal forem desfavoráveis ao condenado:


inicia no regime mais gravoso existente, ou seja, no regime semiaberto.

e) importante: não existe regime inicial fechado na pena de detenção (art. 33, caput),
a qual começa obrigatoriamente em regime semiaberto ou aberto.

III) REGIME INICIAL NOS CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS

Conforme prevê o artigo 2º, § 1º, da Lei 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos), os
condenados por crimes hediondos, tráfico ilícito de entorpecentes, terrorismo e tortura devem
necessariamente iniciar o cumprimento da pena em regime fechado, mesmo sendo a pena
imposta inferior a 08 anos.

Ocorre, contudo, que, no dia 27 de junho de 2012, o STF, por oito votos contra três,
declarou inconstitucional tal dispositivo, por considerar que a obrigatoriedade do regime inicial
fechado viola o princípio constitucional da individualização da pena (HC 111.840/ES e Informativo
670).

3) SISTEMA PROGRESSIVO BRASILEIRO

Nos termos do artigo 33, § 2º, do Código Penal, as penas privativas de liberdade devem
ser executadas de forma progressiva, de acordo com o mérito do condenado. Em outras palavras,
adota-se no Brasil o sistema progressivo de cumprimento de pena, no qual o condenado, após
cumprir parte da pena e demonstrar merecimento, passará gradativamente de um regime mais
severo para outro mais brando.

Conforme o artigo 112 da Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84), para que se processe
a progressão exige a lei, em primeiro lugar, dois requisitos: um de caráter objetivo, que é o
cumprimento de 1/6 da pena no regime anterior, e um de caráter subjetivo, que se refere ao
mérito do condenado indicando a oportunidade da transferência.

I) REQUISITOS

a) Requisito objetivo

Em primeiro lugar, para obter a progressão de regime, deve o condenado ter cumprido
1/6 da pena ou do total das penas que lhe foram impostas no regime inicial.

De outro lado, se a pena superar 30 anos, é pacífico na jurisprudência que o lapso


temporal para a progressão de regime deverá considerar a pena total, não sendo observado, para
tal fim, o limite de 30 anos previsto no artigo 75 do CP.

Nesse sentido é a Súmula 715 do STF “a pena unificada para atender ao limite de
trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do código penal, não é considerada para
a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de
execução.”
b) Requisito subjetivo

Além do cumprimento de 1/6 da pena no regime anterior, exige a lei, para a


transferência para regime menos rigoroso, que o mérito do condenado indique a progressão.

Mérito significa aptidão, capacidade, merecimento. Deve o apenado, portanto,


demonstrar, ao longo do cumprimento da pena, estas características para merecer a progressão.

Via de regra, basta para a comprovação do requisito subjetivo a elaboração de atestado


de boa conduta carcerária pelo diretor do presídio.

Todavia, dependendo das circunstâncias do caso concreto, o Ministério Público poderá


requerer a realização do exame criminológico e o juiz poderá, fundamentadamente, deferir a
realização do exame criminológico.

É nesse sentido, aliás, a Súmula 439 STJ, segundo a qual “admite-se o exame
criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”.

II) PROGRESSÃO DE REGIME NOS CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS

A partir do disposto no artigo 5º, XLII, da Constituição Federal, o legislador editou a Lei
nº 8.072/90, estabelecendo regras específicas para os crimes hediondos e equiparados (tráfico
de drogas, tortura e terrorismo).

A redação original do artigo 2º, § 1º, da Lei 8.072/90, previa que os condenados por
crimes hediondos ou equiparados deveriam cumprir a pena integralmente em regime fechado.
Ou seja, os condenados por tais delitos não tinham direito à progressão de regime.

Todavia, no dia 23 de fevereiro de 2006, o Supremo Tribunal Federal (STF), nos autos
do HC 82.959/SP, declarou inconstitucional tal dispositivo, considerando que a vedação à
progressão de regime violava o princípio da individualização da pena e da dignidade da pessoa
humana.

Diante dessa decisão, todos os condenados por crimes hediondos e equiparados


passaram a ter direito à progressão de regime, desde que preenchidos os requisitos legais. Como,
à época, o único parâmetro para estabelecer o lapso temporal para a obtenção do benefício era
o art. 112 da LEP, entendeu-se que o requisito objetivo seria preenchido se o apenado tivesse
cumprido 1/6 da pena.

Na sequência, sobreveio a Lei nº 11.464, publicada em 29 de março de 2007, que


alterou a redação do artigo 2º da Lei 8.072/90, passando a vigorar a regra no sentido de que o
condenado por crimes hediondos ou delitos equiparados deve iniciar o cumprimento da pena em
regime fechado.

Além disso, o lapso temporal para progressão de regime ao condenado por crimes
hediondos e equiparados passou a ser de 2/5, se primário, e 3/5 se reincidente. Convém registrar
que esses lapsos temporais valem somente para os crimes praticados a entrada em vigor da Lei
11.464/2007, já que a lei nova não pode retroagir para prejudicar o réu.
Por evidente, que, além do requisito objetivo, o condenado por crime hediondo ou
equiparado deverá preencher o requisito objetivo, revelando mérito para a obtenção do benefício.

A aferição do requisito subjetivo segue também a redação do artigo 112 da LEP, sendo
suficiente atestado de bom comportamento carcerário produzido pelo diretor do presídio.
Todavia, o juiz da execução criminal poderá determinar a realização de exame criminológico. É
nesse sentido o teor da Súmula Vinculante 26 do STF e Súmula 471 do STJ.

Súmula Vinculante 26 STF: “Para efeito de progressão de regime no cumprimento


de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar
se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo
determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.”

Súmula 471 STJ: “Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos
antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984
(Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional”.

III) PROGRESSÃO NOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (Art. 33, §


4º)

A progressão de regime nos crimes contra a administração pública ficará condicionada


à reparação do dano causado ao erário, devidamente atualizado e com todos os consectários
legais, ou à devolução do produto do crime.

IV) PROGRESSÃO POR SALTO

Não é permitida pela LEP, a qual exige o cumprimento de 1/6 da pena no regime
anterior. Por essa razão a lei vigente torna obrigatória a passagem pelo regime intermediário
(semiaberto).

É nesse sentido a Súmula 491 do STJ, segundo a qual “É inadmissível a chamada


progressão per saltum de regime prisional”

4) DETRAÇÃO (Art. 42)

I) CONCEITO

Trata-se do cômputo na pena privativa de liberdade e da medida de segurança do


período em que ficou detido o condenado em prisão provisória (prisão em flagrante, preventiva
ou temporária), no Brasil ou no exterior, de prisão administrativa ou mesmo de internação em
hospital de custódia e tratamento.

Se, por exemplo, o agente ficou preso provisoriamente pelo prazo de 06 meses e, ao
final, restou condenado a uma pena de 04 anos, terá de cumprir 03 anos e 06 meses, já que o
período da prisão provisória deve ser computado na pena privativa de liberdade.
Até a alteração do § 2º do artigo 387 do Código de Processo Penal, entendia-se que o
tempo de prisão provisória não influenciava na fixação do regime inicial carcerário a ser
estabelecido pelo juiz na sentença.

Todavia, a partir da edição da Lei 12.736/2012 passou a ser plenamente possível


computar o tempo de prisão provisória para o fim de cálculo do regime inicial de cumprimento
de pena.

De fato, a Lei 12.736/2012 incluiu no artigo 387, §2º, do CPP, a seguinte redação: “O
tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro,
será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade”.

Nesse sentido, se o agente ficou preso provisoriamente por 01 ano, sendo, ao final
condenado a 08 anos e 06 meses (o que exigiria a fixação do regime inicial fechado), com a nova
regra o Magistrado da condenação deverá considerar, na fixação do regime carcerário, o período
de prisão provisória, fixando, considerando-se o agente primário, o regime inicial semiaberto, já
que com a desconto da prisão provisória a pena restante é de 07 anos e 06 meses.

5) DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS – Art. 43

I) CONCEITO

São penas alternativas às privativas de liberdade, expressamente previstas em lei, tendo


por fim evitar o encarceramento de determinados criminosos, autores de infrações penais
consideradas mais leves, provocando-lhes a recuperação através de restrições a certos direitos.

II) NATUREZA JURÍDICA – Art. 44, “caput”

São sanções penais autônomas e substitutivas.

As penas restritivas de direitos são substitutivas. Significa que o juiz, em primeiro lugar,
deve fixar a pena privativa de liberdade, para depois substituí-la por uma ou mais alternativas,
conforme o caso.

A autonomia deriva do fato de que, ao substituir a pena privativa de liberdade, a pena


restritiva de direitos segue regras próprias, autônomas. Ex: a prestação de serviço à comunidade
segue as regras do artigo 46 do CP, desvinculando-se das regras das penas privativas de
liberdade.

III) REQUISITOS DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS

A) REQUISITOS OBJETIVOS

a.1) Quantidade da pena aplicada: (art. 44, I)

A pena não superior a 04 (quatro) anos, de reclusão ou detenção, independentemente


da natureza do crime, se doloso ou culposo, pode ser substituída por pena restritiva de direitos.
Em se tratando de concurso de crimes, deve-se levar em conta o total da pena imposta,
por conta da aplicação das regras do cúmulo material ou exasperação da pena. Dessa forma, se
aplicadas as regras do concurso material, concurso formal e crime continuado, o total da pena
privativa de liberdade efetivamente imposta não exceder a 04 (quatro) anos, será possível a
substituição por pena alternativa.

No caso de condenação por crime culposo, a substituição será possível,


independentemente da quantidade da pena imposta, não existindo tal requisito.

a.2) Natureza do crime cometido (art. 44, I)

As penas restritivas de direitos são aplicáveis aos crimes cometidos sem violência ou
grave ameaça à pessoa.

B) REQUISITOS SUBJETIVOS

b.1) Réu não reincidente em crime doloso (Art. 44, II)

É necessário que o sujeito não seja reincidente em crime doloso. O texto não trata de
qualquer reincidente. Refere-se ao não reincidente em crime “doloso”, de modo que não há
impedimento à aplicação da pena alternativa quando:

a) os dois delitos são culposos;


b) o anterior é culposo e o posterior é doloso;
c) o anterior é doloso e o posterior culposo.

Portanto, a reincidência não constitui obstáculo absoluto à imposição das penas


alternativas (art. 44, § 3º). A REINCIDÊNCIA QUE PROÍBE DE FORMA ABSOLUTA A
SUBSTITUIÇÃO É A QUE OCORRE COM A “PRÁTICA DO MESMO CRIME DOLOSO”, ISTO
É, A ESPECÍFICA.

b.2) A culpabilidade, os antecedentes, a conduta ou a personalidade ou ainda os


motivos e circunstâncias recomendarem a substituição. (art. 44, III)

Convém notar que esses requisitos constituem uma repetição das circunstâncias
constantes do art. 59, caput, do CP, salvo duas: comportamento da vítima e consequências do
crime, coincidentemente as únicas de natureza objetiva. Assim, o art. 44, III, do CP somente
levou em conta as circunstâncias subjetivas do mencionado art. 59.

Com relação ao tráfico ilícito de entorpecentes, o descabimento da substituição da


prisão por penas restritivas de direitos encontra-se expresso no art. 44 da Lei nº 11.343/2006.
Todavia, em setembro de 2010, ao julgar o HC 97.256, declarou inconstitucional esta restrição
contida na Lei de Drogas.

A propósito, o Senado editou Resolução nº 05, suspendendo a execução da expressão


que vedada a conversão em penas restritivas de direitos nos crimes de tráfico ilícito de
entorpecentes, conferindo o caráter erga omnes à decisão proferida pelo STF.
RESOLUÇÃO Nº 5, DE 2012.

O Senado Federal resolve:

Suspende, nos termos do art. 52, inciso X, da Constituição Federal, a


execução de parte do § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto
de 2006.

Art. 1º É suspensa a execução da expressão "vedada a conversão em


penas restritivas de direitos" do § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23
de agosto de 2006, declarada inconstitucional por decisão definitiva do
Supremo Tribunal Federal nos autos do Habeas Corpus nº 97.256/RS.

Art. 2º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Senado Federal, em 15 de fevereiro de 2012.


Senador JOSÉ SARNEY Presidente do Senado Federal

Nos termos do artigo 17 da Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, “É
vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de
cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de penas que implique
o pagamento isolado de multa”.

Vê-se, pois, que há vedação parcial da aplicação de pena restritiva de direitos à hipótese
de violência doméstica, limitando-se a vedação à “cesta básica”, prestação pecuniária e multa
isolada. Não há, portanto, restrições às outras espécies restritivas de direitos.

6) DA PENA DE MULTA

I) CONCEITO

É uma sanção penal consistente no pagamento de uma determinada quantia em


pecúnia, previamente fixada em lei.

II) CRITÉRIO DE FIXAÇÃO DA PENA DE MULTA – Art. 49

Para o cálculo da pena de multa, o Código Penal adotou o sistema do dia-


multa.

A quantidade dos dias-multa não é cominada pela norma penal incriminadora, que só
faz referência à multa. Deve ser fixada pelo juiz, variando de, no mínimo, 10 dias-multa a, no
máximo, 360 dias-multa (art. 49).

O valor do dia-multa deve ser também fixado pelo juiz na sentença, não podendo ser
inferior a um trigésimo do salário mínimo mensal de referência vigente ao tempo do fato, nem
superior a 05 vezes esse salário (art. 49, § 1º).
III) MULTA COMO DÍVIDA DE VALOR – Art. 51

No direito penal vigente o não pagamento da multa estatal não conduz, em nenhuma
hipótese, à aplicação da pena de prisão. Ninguém pode ser privado da liberdade em razão do não
pagamento de uma multa estatal.

Nos termos da Lei 9.268/96, que alterou a redação do art. 51 do CP, transitada em
julgado a sentença condenatória, o valor da multa deve ser inscrito como dívida ativa em favor
da Fazenda Pública. A multa permanece com sua natureza penal. A execução é que se procede
em termos extrapenais. Em face disso, a obrigação de seu pagamento não se transmite aos
herdeiros do condenado.

A competência é da Vara da Fazenda Pública. Quem inicia a execução é o procurador


respectivo.

Aplica-se a Lei de Execução Fiscal. Não é o representante do MP o legitimado para


iniciar a execução do valor da multa. Não se executa a multa na Vara de Execuções Penais.

A essa execução aplicam-se as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda


Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.

7) DA APLICAÇÃO DA PENA

I) SISTEMA DE FIXAÇÃO OU DOSIMETRIA DA PENA – Art. 68

Da leitura do artigo 68 do Código Penal, verifica-se que a legislação penal adotou o


critério preconizado por Nelson Hungria: “A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do
art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes;
por último, as causas de diminuição e de aumento”.

Trata-se do sistema trifásico de aplicação da pena.

II) PRIMEIRA FASE DA FIXAÇÃO DA PENA - CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS – Art. 59

As circunstâncias judiciais são as que envolvem o crime, nos aspectos objetivo e


subjetivo, extraídas da livre apreciação do juiz, desde que respeitados os parâmetros fixados pelo
legislador no art. 59 do CP, constituindo efeito residual das circunstâncias legais.

O artigo 59 prevê 08 circunstâncias judiciais, merecendo destaque os antecedentes.

Por antecedentes deve-se entender os fatos anteriores praticados pelo réu, que podem
ser bons ou maus.

O problema é estabelecer o que pode ser considerado maus antecedentes:

Nesse particular, em face do princípio da presunção de inocência, isto é, pode o juiz


levar em consideração os maus antecedentes e reincidência, desde que não tenham como base
as mesmas condenações.
Súmula 444 STJ: “É VEDADA A UTI LI ZAÇÃO DE I NQUÉRI TOS P OLI CI AI S E
AÇÕES P ENAI S EM CUR SO P ARA AGRAVAR A P ENA-BASE”.

Neste contexto, prevalece o disposto na Súmula 241 do STJ: “A reincidência penal


não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância
judicial”.

III) SEGUNDA FASE DA FIXAÇÃO DA PENA – CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES – Art.


61

a) PROIBIÇÃO DO BI S I N I DEM

No art. 61, caput, o CP emprega o advérbio “sempre”, em face do que as agravantes


são em regra de aplicação obrigatória. Em razão disso, o juiz não pode deixar de agravar a pena,
ficando o quantum da pena ao seu critério.

No art. 61, “caput”, o CP dispõe que as circunstâncias mencionadas “sempre agravam


a pena, quando não constituem ou qualificam o crime”. Assim, quando uma das circunstâncias
agravantes funciona como elementar ou como circunstância qualificadora não se aplica a
agravação do art. 61. De outra forma, haveria bis in idem.

Ex: se o sujeito pratica homicídio por motivo fútil (art. 121, § 2º, II), não incide a
agravante do art. 61, II, “a”, 1ª figura (ter sido o crime cometido por motivo fútil), pois a
circunstância genérica funciona como “qualificadora” do homicídio (qualifica o delito).

O rol das agravantes é taxativo, não admitindo ampliação.

B) DA REINCIDÊNCIA – Art. 63

I) CONCEITO

É o cometimento de uma infração penal após já ter sido o agente condenado


definitivamente, no Brasil ou no exterior, por crime anterior.

Alguns sustentam ser duvidosa a constitucionalidade da reincidência. Argumentam que


o princípio do ne bis in idem, que se traduz na proibição de dupla valoração fática, tem hoje seu
apoio no princípio constitucional da legalidade, pois não se permite, segundo essa corrente de
pensamento, que o fato criminoso que deu origem à primeira condenação possa servir de
fundamento a uma agravação obrigatória de pena em relação a um outro fato delitivo.

Em que pese tal discussão, o Código Penal, em sua Parte Geral, manteve a reincidência
como circunstância agravante. A exacerbação da pena justifica-se para aquele que, punido
anteriormente, voltou a delinquir, demonstrando que a sanção anteriormente imposta foi
insuficiente.

Sendo circunstância subjetiva, não se comunica ao partícipe ou coautor.


II) PRESSUPOSTO

A reincidência pressupõe uma sentença condenatória transitada em julgado por prática


de crime. Há reincidência somente quando o novo crime é cometido após a sentença condenatória
de que não cabe mais recurso.

Ex. o sujeito pratica um crime, sendo processado e condenado. Não recorre, vindo a
sentença transitar em julgado. Meses depois, vem a praticar novo crime. É considerado
reincidente uma vez que cometeu novo delito após o trânsito em julgado de sentença que o
condenou por prática de crime.

O cometimento de crime no dia em que transita em julgado a sentença condenatória


por crime anterior não é capaz de gerar a reincidência, pois a lei é expressa ao mencionar “depois”
do trânsito em julgado. No dia do trânsito, portanto, não se encaixa na hipótese legal. (NUCCI,
2013, p. 503).

Além disso, complementando os pressupostos da reincidência, o artigo 7º da Lei de


Contravenções Penais dispõe que: “verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma
contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil, ou no
estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção”.

Assim, segundo DAMÁSIO DE JESUS (2010, p. 610), podem ocorrer várias hipóteses:

a) o agente, condenado irrecorrivelmente pela prática de um crime, vem a cometer


outro delito: é reincidente (art. 63).
b) o agente pratica um crime; condenado irrecorrivelmente, vem a cometer uma
contravenção: é reincidente (art. 7º LCP).
c) o sujeito pratica uma contravenção, vindo a ser condenado por sentença transitada
em julgado; comete outra contravenção: é considerado reincidente (art. 7º LCP).
d) O sujeito comete uma contravenção; é condenado por sentença irrecorrível; pratica
um crime: não é reincidente (art. 63).

Se o juiz aplicou o perdão judicial em relação ao delito anterior, vindo o sujeito a


cometer novo crime não será considerado reincidente, nos termos do art. 120 do CP.

III) EFICÁCIA TEMPORAL DA CONDENAÇÃO ANTERIOR PARA EFEITO DA


REINCIDÊNCIA – Art. 64, I

O CP adotou o sistema da temporariedade (art. 64, inciso I).

Se o agente vier a cometer novo crime depois de cinco anos da extinção da primeira
pena, a anterior sentença condenatória não terá força de gerar a agravação da pena, uma vez
que o réu não será considerado reincidente.

Nos termos do art. 64, inciso I, o termo a quo do prazo de 05 anos é a data:

a) do cumprimento da pena

Trata-se das penas de reclusão, detenção, prisão simples, restritiva de direitos ou multa.
Quando impostas cumulativamente, como p. ex., reclusão e multa, cumprida a primeira e não
satisfeita a segunda, o prazo ainda não começa a correr. Isso somente ocorre quando o
condenado efetuar o pagamento da sanção pecuniária. Se paga em parcelas mensais, o prazo se
conta do pagamento da última prestação.

b) de sua extinção por outra causa

Na segunda hipótese, cuida-se de caso em que há extinção da pretensão executória,


como prescrição, graça, indulto, etc (CP, art. 107, salvo a anistia e a abolitio criminis, pois apagam
todos os efeitos da sentença penal condenatória).

c) do início do período de prova do sursis ou do livramento condicional sem


revogação.

No caso do sursis e do livramento condicional, o prazo começa na data da audiência


admonitória.

IV) CRIMES QUE NÃO INDUZEM REINCIDÊNCIA – Art. 64, II

O art. 64, II, preceitua que “Para efeito de reincidência, não se consideram os crimes
militares próprios ou políticos”.

a) Crimes militares próprios

São os definidos como crimes apenas no Código Penal Militar.

Se a condenação definitiva anterior for por crime militar próprio, a prática de crime
comum não leva à reincidência. Se o agente, porém, pratica crime militar próprio, após ter sido
definitivamente condenado pela prática de crime comum, será reincidente perante o CPM (Código
Penal Militar), pois este não tem norma equivalente.

b) Crimes políticos

Sejam puros (exclusiva natureza política) ou relativos (ofendem simultaneamente a


ordem político-social e um interesse privado), próprios (atingem a organização política do Estado)
ou impróprios (ofendem um interesse político do cidadão).

D) CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES (Art. 65)

A) CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES PREVISTAS EM LEI

As circunstâncias atenuantes são de aplicação em regra obrigatória, pois o caput do art.


65 reza: “são circunstâncias que sempre atenuam a pena”.
Entretanto, há um caso em que as circunstâncias atenuantes não têm incidência:
quando a pena-base for fixada no mínimo legal. Elas não podem atenuar a pena aquém do
mínimo abstrato.

Súmula 231 do STJ: “A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à


redução da pena abaixo do mínimo legal”.

É possível que a atenuante do art. 65 funcione na Parte Especial do CP como causa da


diminuição da pena. Neste caso, a atenuação genérica não tem aplicação. Ex: A circunstância do
relevante valor moral ou social (III, a) integra o homicídio privilegiado (art. 121, § 1º); logo, não
poderá ser considerada como atenuante genérica.

B) CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES INOMINADAS (Art. 66)

São circunstâncias que não estão previstas expressamente em lei e que servem de
meios diretivos para o juiz aplicar a pena.

Ex: agente que se encontra desesperado em razão de desemprego ou moléstia grave


na família.

IV) TERCEIRA FASE DA APLICAÇÃO DA PENA – CAUSAS DE AUMENTO E DE


DIMINUIÇÃO DA PENA

A) DIFERENÇA ENTRE CAUSAS DE AUMENTO E DE DIMINUIÇÃO DA PENA E


CIRCUNSTÂNCIAS QUALIFICADORAS

Na terceira e última fase de aplicação da pena, o juiz deve considerar as causas de


aumento e de diminuição da pena presentes no caso concreto. Essas causas de aumento e de
diminuição da pena podem estar previstas tanto na Parte Geral do Código Penal quanto na Parte
Especial.

São causas de facultativo ou obrigatório aumento ou diminuição da sanção penal em


quantidade fixada pelo legislador (1/3, 1/6, o dobro, metade, etc).

Na parte geral do CP encontramos, por exemplo, as seguintes causas de aumento e de


diminuição da pena: arts. 14, parágrafo único; 24, § 2º; 26, § único; 28, § 2º, 29, §1º; 60, § 1º;
70, caput; 71, caput; 73, 2ª parte, e 74, parte final.

Na parte especial, as causas de aumento e de diminuição da pena estão previstas, por


exemplo, nos arts. 121, §§1º e 4º, 122, § único; 127, etc...

Qualificadoras são as circunstâncias legais especiais ou específicas previstas na parte


especial do CP, que, agregadas à figura típica fundamental, têm função de aumentar a pena.

Quando o CP descreve uma qualificadora, expressamente menciona o mínimo e o


máximo da pena agravada. Ex: art. 121, § 2º (reclusão, de 12 a 20 anos)
8) CONCURSO DE CRIMES

O concurso de crimes caracteriza-se quando um ou mais agentes, em concurso de


pessoas, praticam vários crimes. Diversamente do que ocorre no concurso de pessoas, onde, via
de regra, há um único crime praticado por várias pessoas em conjunto, no concurso de crimes,
há pluralidade de crimes, devendo-se estabelecer regras para aplicação da pena nesses casos.

8.1) CONCURSO MATERIAL DE CRIMES – ART. 69

I) CONCEITO

Ocorre o concurso material quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não (art. 69, caput).

Na hipótese de crimes conexos apurados na mesma ação penal, a soma das penas,
pelo concurso material, será realizada na própria sentença, após a adoção do critério trifásico
para cada um dos delitos.

Ex: Se o agente ingressa na residência da vítima, furta (pena fixada em 02 anos) e


comete estupro (pena fixada em 08 anos), terá, pelo sistema do cúmulo material, pena definitiva
em 10 anos.

II) APLICAÇÃO DA PENA

Nos termos do art. 69, caput, quando o agente realiza o concurso real de crimes,
“aplicam-se cumulativamente as penas em que haja incorrido”. Portanto, no concurso material
as penas são cumuladas, somadas.

Aplica-se, pois, o sistema do cúmulo material de crimes.

Ex: se comete furto e estupro, as penas privativas de liberdade devem ser


somadas.

8.2) CONCURSO FORMAL – Art. 70

I) CONCEITO

Ocorre o concurso formal (ou ideal) quando o agente, mediante uma só ação ou
omissão, pratica dois ou mais crimes (art. 70, caput). Difere do concurso material pela
unidade de conduta. Ex. o agente, com um só tiro ou um golpe só, ofende mais de uma pessoa.

II) CONCURSO FORMAL PERFEITO – Art. 70, primeira parte

Está previsto na primeira parte do artigo 70. Ocorre quando o agente pratica duas ou
mais infrações penais através de uma única conduta. Resulta de um único desígnio. O agente,
por meio de um só impulso volitivo, dá causa a dois ou mais resultados.
Ex: o agente dirige um carro em alta velocidade e acaba por atropelar e
matar três pessoas.

III) CONCURSO FORMAL IMPERFEITO – Art. 70, segunda parte

É o resultado de desígnios autônomos. Aparentemente, há uma só ação, mas o


agente intimamente deseja os outros resultados ou aceita o risco de produzi-los. Como é possível
notar, essa espécie de concurso formal só é possível nos crimes dolosos.

Ex: o agente incendeia uma residência com a intenção de matar todos os moradores.
O agente tem desígnios autônomos (intenção de matar) em relação a cada um dos moradores
da residência.

Observe-se a expressão “desígnios autônomos”: abrange tanto o dolo direto quanto o


dolo eventual. Assim, haverá concurso formal imperfeito, por exemplo, entre o delito de homicídio
doloso com dolo direto e outro com dolo eventual.

Neste caso o concurso continua sendo formal, mas, na aplicação da pena, manda o
CP que seja realizada com base na regra do concurso material: as penas devem ser
somadas.

8.3) CONCURSO MATERIAL BENÉFICO – Art. 70, parágrafo único

Se, da aplicação da regra do concurso formal, a pena tornar-se superior à que resultaria
da aplicação do concurso material (soma de penas), deve-se seguir este último critério (art. 70,
par. único). Portanto, na dosagem da pena, deve esta ser fixada com prudência para que o sujeito
não seja prejudicado.

Ex: Suponha-se que o agente tenha praticado um homicídio simples e uma lesão
corporal leve em concurso formal. Aplicado o princípio do concurso material, sofreria pena mínima
de sete anos de reclusão (seis anos pelo homicídio, mais 1/6 previsto no art. 70 do CP).

Aplicada a pena de acordo com o concurso material, seria de 06 anos de reclusão pelo
homicídio e 03 meses de detenção pela lesão corporal leve (06 anos e 03 meses de pena privativa
de liberdade).

Em face disso, a pena a ser aplicada não pode ser superior à que seria cominada se
fosse caso de concurso material. Daí a razão da regra do parágrafo único do art. 70: “não poderá
a pena exceder a que seria cabível” pelo princípio do concurso material.

8.4) CRIME CONTINUADO - Art. 71

I) CONCEITO

Ocorre o crime continuado quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes da MESMA ESPÉCIE, devendo os subsequentes, pelas condições de
TEMPO, LUGAR, MANEIRA DE EXECUÇÃO E OUTRAS SEMELHANTES, ser havidos como
continuação do primeiro.
II) REQUISITOS

A) Pluralidade de condutas

O mesmo agente deve praticar duas ou mais condutas. Se houver uma conduta, ainda
que desdobrada em vários atos ou vários resultados, o concurso poderá ser formal.

B) Crimes da mesma espécie

São os que estiverem previstos no mesmo tipo penal, considerando-se, inclusive, as


figuras simples ou qualificadas, dolosas ou culposas, tentadas ou consumadas.

Assim, há possibilidade de haver crime continuado entre furto simples (art. 155,
“caput”) e furto qualificado (art. 155, §4º). Todavia, não pode haver crime continuado entre furto
(art. 155) e apropriação indébita (art. 168), entre furto (art. 155, “caput”) e roubo (art. 157) ou
entre roubo (art. 157) e extorsão (art. 158).

Esta é a posição dominante.

C) Condições de tempo

Deve haver uma conexão temporal entre as condutas praticadas para que se configure
a continuidade delitiva. Deve existir, em outros termos, uma certa periodicidade que permita
observar-se um certo ritmo, uma certa uniformidade, entre as ações sucessivas, embora não se
possam fixar, a respeito, indicações precisas.

A jurisprudência tem admitido crime continuado quando entre as infrações penais não
houver decorrido período superior a 30 dias.

D) Condições de lugar (espaço)

Deve existir entre os crimes da mesma espécie uma conexão espacial para caracterizar
o crime continuado.

E) Maneira de execução

A lei exige que a forma de execução das infrações continuadas seja semelhante,
traduzindo-se no modo, forma e os meios empregados para a prática dos delitos.

Ex: o furto fraudulento, por exemplo, não guarda nexo de continuidade com o furto
mediante arrombamento ou escalada.

III) CRIME CONTINUADO ESPECÍFICO – Art. 71, parágrafo único

O crime continuado específico prevê a necessidade de três requisitos, que devem


ocorrer simultaneamente:
a) Contra vítimas diferentes:

Admite-se nexo de causalidade entre crimes que lesam interesses jurídicos pessoais,
ainda que praticados contra vítimas diversas

De fato, a circunstância de os delitos componentes atingirem bens jurídicos pessoais


não impede a continuação. Entretanto, cumpre observar o disposto no parágrafo único do art.
71: “Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à
pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só
dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do
parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.”

Assim, admite a reforma penal nexo de continuidade entre homicídios, lesões corporais
ou roubos contra vítimas diversas, podendo o juiz, de acordo com as circunstâncias judiciais do
art. 59, caput, aumentar a pena de um dos delitos até o triplo, desde que a pena não seja superior
à que seria imposta se o caso fosse de concurso material.

b) com violência ou grave ameaça à pessoa

Mesmo que o crime seja contra vítimas diferentes, se não houver violência – real ou
ficta – contra a pessoa, não haverá a continuidade específica, mesmo que haja violência contra
a coisa.

c) somente em crimes dolosos

Se a ação criminosa for praticada contra vítimas diferentes, com violência à pessoa,
mas não for produto de uma conduta dolosa, não estará caracterizada a exceção.

9) LIMITE DAS PENAS – Art. 75

I) LIMITE DE CUMPRIMENTO DA PENA

Nada obsta a que o agente, num ou em vários processos, seja condenado a tempo
superior: a duração da execução da pena (cumprimento da pena) é que não pode ser superior a
trinta anos.

Esse limite só se refere ao tempo de cumprimento de pena, não podendo servir de base
para o cálculo de outros benefícios, como o livramento condicional e progressão de regime.

Nesse sentido é o teor da Súmula 715 do STF: “A pena unificada para atender ao
limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é
considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime
mais favorável de execução”.
10) DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA EXECUÇÃO DA PENA (SURSIS) – Art. 77

I) CONCEITO

Trata-se de um instituto de política criminal, tendo por fim a suspensão da execução da


pena privativa de liberdade, evitando o recolhimento ao cárcere do condenado não reincidente,
cuja pena não seja superior a 02 anos (ou 04, se septuagenário ou enfermo), sob determinadas
condições, fixadas pelo juiz, bem como dentro de período de prova pré-definido.

II) REQUISITOS OBJETIVOS

a) Condenação à pena privativa de liberdade não superior a 02 anos

Quanto à qualidade da pena, somente a pena privativa de liberdade, seja reclusão,


seja detenção, admite o sistema. As penas restritivas de direitos e a multa não o permitem (art.
80).

Além disso, a pena privativa de liberdade não pode ser superior a 02 anos, ainda
que resulte, no concurso de crimes, de sanções inferiores a ela.

Tratando-se, entretanto, de condenado maior de setenta anos de idade, poderá ser


suspensa a pena privativa de liberdade não superior a 04 anos (art. 77, § 2º).

b) Impossibilidade de substituição por pena restritiva de direitos

Somente se aplica o sursis caso não caiba substituição da pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos.

Portanto, somente em casos excepcionais, quando não for cabível a referida


substituição, como, por exemplo, quando se tratar de crimes violentos contra a pessoa, como a
lesão corporal – pode o juiz aplicar o sursis.

III) REQUISITOS SUBJETIVOS

a) Condenado não reincidente em crime doloso

Nem toda reincidência impede a concessão do sursis, mas tão-somente a reincidência


em crime doloso. Isso quer dizer que a condenação anterior, mesmo definitiva, por crime culposo
ou por simples contravenção, por si só, não é causa impeditiva da suspensão condicional da pena.

Nos termos do artigo 77, § 1º, se a condenação anterior quanto ao crime doloso gerou
aplicação exclusiva de pena de multa, igualmente se mostra possível a suspensão condicional da
pena.
b) Circunstâncias judiciais favoráveis ao agente

IV) CONDIÇÕES – Art. 78

Durante o período do sursis, o condenado deve cumprir determinadas condições, sob


pena de ser revogada a medida e ter de cumprir a sanção privativa de liberdade. Essas condições
são:

No sursis simples (art. 77, caput), no primeiro ano o condenado deve:

1º) prestar serviços à comunidade, nos termos do art. 46 (art. 78, § 1º, 1ª parte); ou

2º) submeter-se à limitação de fim de semana, de acordo com o artigo 48 (art. 78, § 1º, 2ª
parte).

Tratando-se de sursis especial (art. 78, § 2º), satisfeitos os seus requisitos, as condições
alternativas da prestação de serviços à comunidade e a limitação de fim de semana são
substituídas por:

1º) proibição de frequentar determinados lugares;

2º) proibição de ausentar-se o condenado da comarca onde reside, sem autorização judicial; e

3º) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas
atividades (art. 78, § 2º, alíneas a e c).

VI) PERÍODO DE PROVA

Concedido o sursis, o condenado submete-se a um período de prova, por dois a quatro


anos (art. 77, caput). Sendo o condenado maior de setenta anos de idade, o prazo varia de quatro
a seis anos (art. 77, § 2º).

O período de prova pode ser prorrogado, nas hipóteses do artigo 81, § 2º, do CP.

VII) CAUSAS DE REVOGAÇÃO DO SURSIS – Art. 81

A) CAUSAS DE REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA

a) Condenação irrecorrível pela prática de crime doloso

A lei não faz ressalva no sentido de que a condenação deva ser por crime praticado no
curso da suspensão condicional da pena. Logo, não se mostra relevante se o crime foi praticado
antes ou depois ao início da suspensão condicional da pena. Basta que tenha havido sentença
condenatória transitada em julgado pela prática de crime doloso, independentemente de quando
foi praticado.
Todavia, se a nova condenação se referir somente à pena de multa, não haverá
revogação do benefício.

b) Frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem


motivo justificado, a reparação do dano

c) Descumpre a condição do § 1º do art. 78 deste Código (descumprir a prestação


de serviços à comunidade ou a limitação de fim de semana)

B) CAUSAS DE REVOGAÇÃO FACULTATIVA – ART. 81, § 1º

a) o condenado deixa de cumprir as obrigações judiciais (condições impostas na


sentença)

Na hipótese de revogação facultativa, a decisão fica sujeita à discricionariedade do juiz,


que, em vez de revogar a suspensão, poderá prorrogar o período de prova. Aqui a lei refere-se
às condições legais previstas para o sursis especial (art. 78, § 2º, do CP) e às condições judiciais
que houverem sido determinadas (art. 79).

b) condenação irrecorrível, por crime culposo ou contravenção, à pena privativa


de liberdade e restritiva de direitos

Essa hipótese afasta a condenação à pena de multa, já que se refere especificamente


às outras duas modalidades de penas.

VIII) EXTINÇÃO DA PENA – Art. 82

Se o período de prova termina sem que haja ocorrido motivo para a revogação, não
mais se executa a pena privativa de liberdade (art. 82).

Assim, expirado o prazo de suspensão ou de prorrogação, sem que tenha havido motivo
para a revogação, o juiz deve declarar extinta a pena privativa de liberdade.

Trata-se de sentença declaratória da extinção parcial da punibilidade de natureza


constitutiva. Em face disso, a extinção da pena ocorre na data do término do período de prova e
não na em que o juiz profere a decisão, ainda que seja muito tempo depois.

11) DO LIVRAMENTO CONDICIONAL

I) CONCEITO

Consiste na última etapa do cumprimento da pena do sistema progressivo, visando à


reinserção antecipada do condenado ao convívio social.
II) REQUISITOS

Os requisitos do livramento condicional, de ordem objetiva e subjetiva, encontram-se


no art. 83 do CP.

A) REQUISITOS OBJETIVOS

a) Natureza e quantidade da pena – Art. 83, “caput”

Tal como ocorre com a suspensão condicional, somente a pena privativa de liberdade
pode ser objeto do livramento condicional. Esse instituto somente poderá ser concedido à pena
privativa de liberdade igual ou superior a dois anos (art. 83 do CP). A soma das penas é permitida
para atingir esse limite mínimo, mesmo que tenham sido aplicadas em processos distintos.

b) Cumprimento de parte da pena – Art. 83, I, II e IV

Nos termos do artigo 83, I e II, do CP, o criminoso primário deve cumprir mais de 1/3
da pena privativa de liberdade.

Assim também o reincidente, desde que não o seja em crime doloso. Para tanto, é
necessário que apresentem bons antecedentes.

Quando o condenado é reincidente em crime doloso, deve cumprir mais da


metade da pena.

Tratando-se de condenado por prática de tortura, crime hediondo, tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins e terrorismo, desde que não seja reincidente específico em tais
delitos, deve cumprir mais de 2/3 da pena (art. 83, V).

Assim, sendo reincidente específico não é admissível o livramento condicional. Há


reincidência específica, para efeito da disposição, quando o sujeito, já tendo sido condenado por
qualquer dos delitos hediondos por sentença transitada em julgado, vem novamente a cometer
um deles.

c) Reparação do dano, salvo efetiva impossibilidade – Art. 83, IV

Nos termos do art. 91, I, do CP, a condenação torna certa a obrigação de indenizar o
dano resultante do crime. Assim, o condenado não pode obter o livramento condicional enquanto
não repara o dano causado, salvo quando insolvente.

B) REQUISITOS SUBJETIVOS – ART. 83, I E IV

Os requisitos subjetivos são: bons antecedentes, comportamento satisfatório durante a


execução da pena, bom desempenho no trabalho atribuído e aptidão para o trabalho.
C) REQUISITOS ESPECÍFICOS – ART. 83, PARÁGRAFO ÚNICO

Tratando-se de condenado por crime doloso cometido com violência ou grave ameaça
à pessoa, a concessão do livramento fica subordinada, além dos requisitos do art. 83, à
constatação, mediante perícia, de condições pessoais que façam presumir que o liberado não
voltará a delinquir (CP, art. 83, parágrafo único).

III) CAUSAS DE REVOGAÇÃO

A) CAUSAS DE REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA DO LIVRAMENTO CONDICIONAL

a) Crime cometido durante a vigência do livramento condicional – Art. 86, I

Suponha-se que o sujeito tenha sido condenado a seis anos de reclusão. Primário, tenha
obtido o livramento condicional após cumprir dois anos. O período de prova corresponde a quatro
anos.

Se, durante esse lapso de tempo, o liberado vier a cometer novo delito, sendo
condenado irrecorrivelmente a pena privativa de liberdade, haverá revogação obrigatória do
livramento condicional.

b) crime cometido antes do período de prova – Art. 86, II

Revoga-se o livramento condicional, não importando o momento em que tenha sido


cometido o delito, sendo suficiente que sua prática seja anterior à vigência do período de prova
do livramento condicional.

É descontado o tempo em que o sentenciado esteve solto, devendo cumprir preso


apenas o tempo que falta para completar o período de prova. Além disso, terá direito a somar o
que resta da pena com a nova condenação, calculando o livramento sobre esse total (art. 84 do
CP e LEP, art. 141).

B) CAUSAS DE REVOGAÇÃO FACULTATIVA DO LIVRAMENTO CONDICIONAL – Art. 87

Nos termos do art. 87, o juiz poderá também revogar a medida se o liberado deixa de
cumprir qualquer das obrigações constantes na sentença ou é irrecorrivelmente condenado, por
crime ou contravenção, a pena de multa ou restritiva de direitos.

Nesse caso, ocorrem os seguintes efeitos:

1º) o sentenciado tem de cumprir a pena que se encontrava com execução suspensa;

2º) não é computado na pena o tempo em que esteve solto;

3º) não pode mais ser favorecido por novo livramento condicional em relação a essa pena.
IV) PERÍODO DE PROVA – Art. 89

Se, ao término do período de prova, o liberado está respondendo por crime cometido
durante a sua vigência, o prazo do período de prova é prorrogado, não podendo o juiz declarar
a extinção da punibilidade enquanto não transitar em julgado a sentença absolutória. Se for
condenatória, o livramento condicional será revogado.

V) EXTINÇÃO DA PENA – Art. 90

Se até o término do período de prova o livramento não é revogado, considera-se extinta


a pena privativa de liberdade.

A sentença é meramente declaratória e não constitutiva. Assim, tem-se por extinta a


punibilidade na data do término do período de prova e não na em que o juiz profere o despacho.

12) EFEITOS DA CONDENAÇÃO

I) EFEITOS GENÉRICOS – Art. 91

a) Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime

b) A perda em favor da união, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-


fé, dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação,
uso, porte ou detenção constitua fato ilícito – Art. 91, II, “a”, do CP

O artigo 91, II, ressalva o direito do lesado ou do terceiro de boa-fé. Logo, o confisco
só pode recair sobre objeto que pertença ao autor ou partícipe do crime.

II) EFEITOS ESPECÍFICOS – Art. 92

a) A perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:

Nesses casos, a condenação só produz o efeito específico quando impõe pena privativa
de liberdade por tempo igual ou superior a um ano.

Nos demais casos, isto é, nos crimes comuns cometidos por funcionário público, a
referida perda advém de condenação a pena privativa de liberdade por tempo superior a quatro
anos.

b) A incapacidade para o exercício do pátrio poder (poder familiar), tutela ou


curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho,
tutelado ou curatelado;
A incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela ou curatela, depende de duas
condições:

* que o crime seja doloso;


* que seja cominada pena de reclusão.

Trata-se de incapacidade permanente.

c) a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de
crime doloso.

Depende de dois requisitos:

* que o crime seja doloso;

* que o veículo tenha sido utilizado “como meio” para a sua prática.

Em todos os casos do art. 92 do CP o efeito não é automático, devendo ser


motivadamente declarado na sentença (parágrafo único). A imposição é facultativa e não
obrigatória.

13) DA MEDIDA DE SEGURANÇA

I) CONCEITO

Trata-se de uma forma de sanção penal, com caráter preventivo e curativo, visando a
evitar que o autor de um fato havido como infração penal, inimputável ou semi-imputável,
mostrando periculosidade, torne a cometer outro crime e receba tratamento adequado (NUCCI,
2013, p. 593)

II) ESPÉCIES – Art. 96

Há duas espécies de medida de segurança:

a) DETENTIVA: consiste na internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à


falta, em outro estabelecimento adequado.

b) RESTRITIVA: consiste na sujeição a tratamento ambulatorial.

III) IMPOSIÇÃO DE MEDIDA DE SEGURANÇA PARA INIMPUTÁVEL – Art. 97

Nos termos do art. 97, caput, se o agente for inimputável, o juiz, absolvendo-o,
determinará sua internação (periculosidade presumida). É a chamada medida de segurança
detentiva.

Se, contudo, a pena abstrata prevista para o crime por ele cometido for de detenção,
poderá submetê-lo a medida de segurança restritiva e não detentiva, que é a sujeição a
tratamento ambulatorial (periculosidade real).
A sentença que permite a aplicação de medida de segurança denomina-se absolutória
imprópria, tendo em vista que, a despeito de considerar que o réu não cometeu delito, logo, não
é criminoso, merece uma sanção penal (medida de segurança).

IV) DURAÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA

Nos termos do artigo 97, § 1º, do CP, o prazo da internação ou do tratamento


ambulatorial será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante
perícia médica, a cessação da periculosidade. Em qualquer hipótese, o período mínimo de
internação será fixado pelo juiz na sentença, podendo variar entre um a três anos.

Ou seja, a norma não prevê prazo máximo de internação, mas define o período mínimo
que o agente deverá ficar submetido a medida de segurança (01 a 03 anos).

No entanto, para parte da doutrina, embora não seja pena, a indeterminação do prazo
de duração da medida de segurança possui caráter de perpetuidade, violando a própria
constituição.

Nesse sentido, o STJ editou a Súmula 527, segundo a qual “O tempo de duração da
medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao
delito praticado.”

14) DA PRESCRIÇÃO – CONCEITO – Art. 109

I) CONCEITO

A prescrição penal é a perda da pretensão punitiva ou executória do Estado pelo decurso


do tempo sem o seu exercício.

Em regra, a prescrição alcança todas as infrações penais. Nos termos da CF, porém,
não se aplica aos CRIMES DE RACISMO (art. 5º, XLII; Lei 7716/89, com alterações da Lei
9459/97) e aos referentes à AÇÃO DE GRUPOS ARMADOS, CIVIS OU MILITARES, CONTRA A
ORDEM CONSTITUCIONAL E O ESTADO DEMOCRÁTICO (XLIV). De modo que o decurso do
tempo não extingue a prescrição em qualquer de suas formas.

II) PRAZOS PARA O CÁLCULO DA PRESCRIÇÃO

A prescrição é regulada pelos prazos previstos no artigo 109 do Código Penal. Ou seja,
os prazos previstos nesse artigo servem de parâmetro para o cálculo da prescrição da pretensão
punitiva e executória.

Convém destacar que as penas restritivas de direitos, que substituem a pena privativa
de liberdade, prescrevem no mesmo prazo das penas substituídas, nos termos do artigo 109,
parágrafo único, do Código Penal.
Exemplo: Supõe-se que o agente tenha sido condenado a 01 ano pela prática do crime
de furto, sendo a pena privativa de liberdade substituída por uma prestação de serviços à
comunidade. Essa pena prescreverá em 04 anos.

III) REDUÇÃO DOS PRAZOS DE PRESCRIÇÃO EM FACE DA IDADE DO SUJEITO –


Art. 115

O art. 115 determina que SÃO REDUZIDOS DE METADE os prazos da prescrição quando
o criminoso era, AO TEMPO DO CRIME, MENOR DE 21 ANOS ou MAIOR DE 70 ANOS na DATA
DA SENTENÇA.

IV) ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO

Existem duas modalidades de prescrição: a) a prescrição da pretensão punitiva estatal,


que ocorre antes do trânsito em julgado da sentença condenatória; b) a prescrição da pretensão
executória, que pressupõe a existência de sentença condenatória transitada em julgado.

A prescrição da pretensão punitiva subdivide-se em: a) prescrição da pretensão punitiva


em abstrato; b) prescrição da pretensão punitiva em concreto, que, por sua vez, subdivide-se em
prescrição da pretensão punitiva retroativa e superveniente/intercorrente.

15) PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA EM ABSTRATO – Art. 109

I) CONTAGEM DO PRAZO DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA EM ABSTRATO

Na PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA, o decurso do tempo faz com que o Estado


perca o direito de punir no tocante à pretensão de o Poder Judiciário julgar a lide e aplicar a
sanção penal.

A prescrição da pretensão punitiva OCORRE ANTES DE A SENTENÇA FINAL TRANSITAR


EM JULGADO.

Para saber qual o prazo de prescrição da pretensão abstrata punitiva devemos verificar
o limite máximo da pena imposta em abstrato no preceito sancionador e enquadrá-lo
em um dos incisos do art. 109 do CP.

Ex., Suponha-se que um sujeito cometa um crime de lesão corporal leve (pena de 03
meses a 01 ano), não se descobrindo a autoria. Se o Estado, dentro de 04 anos, não exercer o
direito de punir, opera-se a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva. Aplica-
se o disposto no art. 109.

Ex. calúnia (art. 138). Máximo da pena abstrata: 02 anos. Prazo prescricional da
pretensão punitiva: 04 anos (art. 109, V).

No CONCURSO DE CRIMES (concurso material, formal e continuado), a prescrição


atinge a pretensão punitiva em relação a CADA INFRAÇÃO CONSIDERADA ISOLADAMENTE (art.
119).
II) TERMOS INICIAIS DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA – Art. 111

O primeiro termo inicial é a data da consumação do delito (I). Constitui exceção à teoria
da atividade, pois, na prescrição, adota-se a teoria do resultado.

No caso da tentativa (II), o termo a quo da prescrição da pretensão punitiva é o dia da


cessação da atividade criminosa.

No crime permanente (III) a prescrição começa a correr do dia em que cessou a


permanência (CP, art. 111, III, 1ª figura). Suponha-se que a vítima de sequestro permaneça
presa durante 30 dias. A prescrição começa a correr a partir do dia em que conseguiu a liberdade.

No crime continuado, a prescrição deve ser considerada em relação a cada crime,


isoladamente (art. 119).

Nos crimes de bigamia e de falsificação ou alteração de assentamento de registro civil


(arts. 235 e 299, § único), a prescrição começa a correr da data em que o fato se tornou
conhecido de qualquer autoridade pública (art. 111, IV).

Nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos no Código


Penal ou em legislação especial, o termo inicial da prescrição ocorre da data em que a vítima
completar dezoito anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal (art. 111,
V). Esse inciso foi introduzido no Código Penal pela Lei nº 12.650/2012.

Nesse sentido, se uma criança de 10 anos for vítima de crime de estupro de vulnerável,
por exemplo, e a ação ainda não tiver sido instaurada, o prazo prescricional passará a correr a
partir da data em que ela completar 18 anos.

Existe uma ressalva no texto legal, segundo a qual a prescrição começará a correr antes
de a vítima completar 18 anos se a esse tempo já tiver sido proposta ação penal para apurar a
infração penal. Ex: crime contra criança de 10 anos em que a vítima conta o ocorrido aos pais e
o Ministério Público oferece denúncia quando ela tem 15 anos. O prazo prescricional neste caso
começará a correr da propositura da ação penal, e não da data do crime; se até o oferecimento
da denúncia a prescrição não estava ocorrendo, o termo inicial é o da propositura da ação, não
retroagindo à data do fato. (ESTEFAM; GONÇALVES, 2013, p. 704).

16) PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA RETROATIVA

A prescrição retroativa resultava da combinação das disposições dos §§ 1º e 2º do art.


110 do CP e do art. 109.

Haverá prescrição retroativa na hipótese de haver decorrido referido prazo entre o


recebimento da denúncia ou queixa e a publicação da sentença condenatória, uma vez que a Lei
nº 12.234/2010 só proíbe a prescrição retroativa em data anterior ao seu oferecimento.

17) PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA INTERCORRENTE OU SUPERVENIENTE À


SENTENÇA CONDENATÓRIA – Art. 110, § 1º

A redação do artigo 110 foi alterada pela Lei nº 12.234/2010, de 05 de


maio de 2010.

Como visto, nos termos do que dispõe o art. 109, caput, do CP, a prescrição da
pretensão punitiva, salvo a exceção do § 1º do art. 110, é regulada pelo máximo da sanção
privativa de liberdade.

Há, porém, no art. 110, § 1º, uma primeira exceção: caso em que, não obstante
TRATAR-SE DE PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA, TRANSITANDO EM JULGADO a
sentença condenatória para a ACUSAÇÃO, ou SENDO IMPROVIDO o seu recurso, a partir da
sua publicação começa a correr prazo prescricional regulado pela PENA CONCRETA.

18) PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA – Art. 110, “caput”

I) CONTAGEM DO PRAZO DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA

Na PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA, o decurso do tempo sem o seu exercício


faz com que o Estado perca o direito de executar a sanção imposta na sentença condenatória.

A prescrição da pretensão executória OCORRE APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO da


sentença condenatória.

Nos termos do artigo 110, caput, a prescrição, depois de transitar em julgado a sentença
condenatória, REGULA-SE PELA PENA IMPOSTA NA SENTENÇA e verifica-se nos prazos
fixados no art. 109, os quais se aumentam de 1/3 se o condenado é reincidente.

II) TERMOS INICIAIS DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA – Art. 112

I - DO DIA EM QUE TRANSITA EM JULGADO A SENTENÇA CONDENATÓRIA, PARA A ACUSAÇÃO,


OU A QUE REVOGA A SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA OU O LIVRAMENTO CONDICIONAL

Cumpre observar: a prescrição da pretensão executória depende de uma condição: O


TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA PARA A ACUSAÇÃO E DEFESA.
Satisfeita a condição, entretanto, na contagem do prazo leva-se em conta a data em que
transitou em julgado para a acusação.

II - DO DIA EM QUE SE INTERROMPE A EXECUÇÃO, SALVO QUANDO O TEMPO DA INTERRUPÇÃO


DEVA COMPUTAR-SE NA PENA.

INTERROMPIDA A EXECUÇÃO DA PENA PELA FUGA DO CONDENADO, inicia-se a


contagem do prazo prescricional da prescrição executória (art. 112, II, 1ª parte).

Nos casos dos arts. 41 e 42 do CP (superveniência de doença mental ou internação em


hospital), em que se aplica o princípio da detração penal, embora interrompida a efetiva execução
da pena, não corre a prescrição (art. 112, II, 2ª parte).

III) PRESCRIÇÃO NO CASO DE EVASÃO DO CONDENADO OU DE REVOGAÇÃO DO


LIVRAMENTO CONDICIONAL – Art. 113
19) CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO – Art. 117

Ocorrendo uma causa interruptiva, o curso da prescrição interrompe-se, desaparecendo


o lapso temporal já decorrido, recomeçando sua contagem desde o início.

A incidência das causas do art. 117, salvo a do inciso V, faz com que seja extinto o
prazo decorrido antes da interrupção, recomeçando a correr a prescrição por inteiro (§ 2º).

I - PELO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA OU DA QUEIXA

O recebimento da denúncia interrompe o prazo prescricional, recomeçando a correr a


prescrição da pretensão punitiva por inteiro, não se levando em conta o tempo já decorrido antes
da interrupção.

II - PELA PRONÚNCIA

A pronúncia também interrompe a prescrição (art. 117, II). A decisão do juiz tem força
de interromper a prescrição, ainda que o réu venha a ser absolvido no Júri.

III - PELA DECISÃO CONFIRMATÓRIA DA PRONÚNCIA

“Decisão confirmatória da pronúncia”. Se o RÉU RECORRE DA PRONÚNCIA e o Tribunal


confirma, o Acórdão também interrompe a prescrição (art. 117, III), o mesmo ocorrendo quando
é impronunciado (art. 409, caput) ou absolvido sumariamente (art. 411) e o tribunal o pronuncia.

IV - PELA PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA OU ACÓRDÃO CONDENATÓRIOS


RECORRÍVEIS; (REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 11.596, DE 2007).

O art. 117, IV, determina que a prescrição se interrompe pela sentença condenatória
recorrível. A interrupção ocorre na data da publicação da sentença, i.e., no dia em que o escrivão
recebe a sentença do juiz e a junta aos autos, independentemente do registro e de outras
diligências.

O ACÓRDÃO CONDENATÓRIO, ainda que não unânime, e por isso sujeito a embargos
infringentes, TAMBÉM INTERROMPE O PRAZO PRESCRICIONAL da pretensão punitiva. Isso
ocorre quando, tendo sido absolvido em primeiro grau, O RÉU VEM A SER CONDENADO PELO
ACÓRDÃO DO TRIBUNAL. Trata-se de acórdão recorrível.

V - PELO INÍCIO OU CONTINUAÇÃO DO CUMPRIMENTO DA PENA;

Iniciando-se o prazo da prescrição da pretensão executória com o trânsito em julgado


da sentença condenatória, interrompe-se pelo começo do cumprimento da pena. Fugindo o
condenado, a prescrição começa a correr da data da fuga (art. 112, II, 1ª parte), regulando-se
pelo tempo que resta da pena (art. 113). Recapturado, interrompe-se a prescrição.

VI - PELA REINCIDÊNCIA.
A REINCIDÊNCIA SOMENTE INTERROMPE O PRAZO DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
EXECUTÓRIA, SENDO INAPLICÁVEL À PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA (ART. 109). Nesse
sentido, a Súmula 220 do STJ: “A reincidência não influiu no prazo da prescrição da pretensão
punitiva”.

20) DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE – Art. 107

I) CONCEITO

Com a prática do crime, o direito de punir do Estado, que era abstrato, torna-se
concreto, surgindo a punibilidade, que é a possibilidade jurídica do Estado impor a sanção.
Todavia, o Código Penal prevê hipóteses de extinção da punibilidade.

O art. 107 não é taxativo, mas EXEMPLIFICATIVO.

Assim, o CP prevê causas extintivas da punibilidade fora do rol dessa disposição. Exs:

art 82: término do período de prova do sursis, sem motivo para revogação da medida;

art. 90: o término do período de prova do livramento condicional sem motivo para
revogação

art. 312, § 3º, 1ª parte: a reparação do dano no peculato culposo, antes da sentença
final irrecorrível extingue a punibilidade.

II) EFEITOS DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

Em regra, as causas extintivas da punibilidade só alcançam o direito de punir do Estado,


SUBSISTINDO O CRIME EM TODOS OS SEUS REQUISITOS E A SENTENÇA
CONDENATÓRIA IRRECORRÍVEL.

Excepcionalmente, a causa resolutiva do direito de punir APAGA O FATO PRATICADO


PELO AGENTE E RESCINDE A SENTENÇA CONDENATÓRIA IRRECORRÍVEL. É o que
acontece com a ABOLITIO CRIMINIS E A ANISTIA.

III) CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE EM ESPÉCIE

A) MORTE DO AGENTE

Sendo personalíssima a responsabilidade penal, a morte do agente faz com que o


Estado perca o direito de punir (jus puniendi), não se transmitindo a seus herdeiros qualquer
obrigação de natureza penal. (princípio da culpabilidade)

B) DA ANISTIA, GRAÇA E INDULTO

São espécies de indulgência, clemência soberana ou graça em sentido amplo.


Trata-se de renúncia do Estado ao direito de punir.

A anistia é o esquecimento jurídico de uma ou mais infrações penais. Deve ser


concedida em casos excepcionais, para apaziguar os ânimos, acalmar as paixões sociais, etc.
Aplica-se, em regra, a crimes políticos (anistia especial), nada obstante que incida sobre delitos
comuns (anistia comum).

NÃO É APLICÁVEL, porém, aos delitos referentes a “prática de tortura, o tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos” (art. 5º,
XLIII, CF/88, art. 2º, I, da Lei 8072/90).

A anistia tem CARÁTER DA GENERALIDADE, abrangendo FATOS e não pessoas.

A anistia rescinde a sentença penal condenatória irrecorrível. Assim, se o sujeito vier a


cometer novo delito, NÃO SERÁ CONSIDERADO REINCIDENTE.

A competência para concessão de anistia é exclusiva da União e privativa do Congresso


Nacional (art. 48, VIII, CF/88), com a sanção do Presidente da República, só podendo ser
concedida por meio de lei federal.

Enquanto a anistia e o indulto têm caráter de generalidade, incidindo sobre fatos e


abrangendo uma generalidade de pessoas, A GRAÇA É INDIVIDUAL, POIS SÓ ATINGE
DETERMINADO CRIMINOSO.

A graça e o indulto somente extinguem a punibilidade, SUBSISTINDO O CRIME, A


CONDENAÇÃO IRRECORRÍVEL E SEUS EFEITOS SECUNDÁRIOS.

Assim, vindo a ser agraciado ou indulto, o sujeito que cometer novo crime será
considerado reincidente.

A competência para CONCEDER A GRAÇA E O INDULTO É DO PRESIDENTE DA


REPÚBLICA, nos termos do art. 84, XII, da CF/88, podendo, nos termos do § único,
delegar a atribuição “aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-
Geral da União”.

Em resumo: Compete, privativamente, ao presidente da República conceder graça e


indulto; já a anistia é atribuição do Congresso Nacional, com a sanção do presidente da República.

Nos termos do art. 5º, XLIII, da CF/88, a graça e a anistia não podem ser aplicados em
relação a delitos referentes à prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
terrorismo e aos definidos como crimes hediondos.

C) LEI POSTERIOR QUE DEIXA DE CONSIDERAR O FATO CRIMINOSO – “ABOLI TI O


CRI M I N I S”

A lei penal retroage, atingindo fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor, sempre
que beneficiar o agente de qualquer modo (art. 5º, XL, CF/88 e art. 2° do CP).
A abolitio criminis é causa de extinção da punibilidade, nos termos do artigo 107, inciso
III, do CP, e gera o efeito de fazer cessar a execução e os efeitos penais da sentença condenatória
(reincidência, maus antecedentes, lançamento do nome do réu no rol dos culpados).

Todavia, não apaga os efeitos civis da prática delituosa, já que a lei fala em cessação
dos efeitos “penais” da sentença.

D) DA DECADÊNCIA E PEREMPÇÃO – Art. 103

a) DECADÊNCIA

Decadência é a perda do direito de ação do ofendido em face do decurso do tempo.

A decadência NÃO SE APLICA À REQUISIÇÃO DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, de modo


que esta pode ser formulada em qualquer tempo, desde que não esteja extinta a punibilidade
por outra causa.

Se o ofendido é menor de 18 anos, o direito de queixa ou de representação pertence a


seu representante legal. Se o ofendido é maior de 18, só ele pode exercer o direito.

b) PEREMPÇÃO DA AÇÃO PENAL

Perempção é a perda do direito de demandar o querelado pelo mesmo crime em FACE


DE INÉRCIA DO QUERELANTE, diante do que o Estado perde o jus puniendi.

A perempção só é possível na AÇÃO PENAL EXCLUSIVAMENTE PRIVADA. Cabe após o


início da ação penal privada.

Nos termos do art. 60 do CPP, “considerar-se-á perempta a ação penal”:


I – quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer
em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 dias, qualquer das
pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
II – quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato
do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação
nas alegações finais;
III – quando, sendo querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.

E) DA RENÚNCIA

É a abdicação do ofendido ou de seu representante legal do direito de promover a ação


penal privada.

A RENÚNCIA SÓ É POSSÍVEL ANTES DO INÍCIO DA AÇÃO PENAL PRIVADA.

Assim, é oportuna a renúncia dentro dos seis meses previstos para o exercício da ação
penal privada (art. 103 CP).

A renúncia pode ser: expressa e tácita.


A RENÚNCIA EXPRESSA consta de declaração assinada pelo ofendido, seu
representante legal ou procurador com poderes especiais, que não precisa ser advogado (art. 50
CPP).

Importa RENÚNCIA TÁCITA ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a


vontade de o ofendido ou seu representante legal iniciar a ação penal privada (art. 104, § único,
1ª parte).

No caso de CONCURSO DE PESSOAS, a exclusão de um dos ofensores INDICA


RENÚNCIA, não podendo o Promotor de Justiça aditar a queixa para nela incluir o ofensor
excluído.

Dessa forma, SE TRÊS SÃO OS AUTORES DO CRIME DE AÇÃO PENAL PRIVADA,


CUMPRE AO OFENDIDO OFERECER QUEIXA CONTRA TODOS OU NENHUM. A exclusão de um
importa renúncia tácita, estendendo-se aos demais, nos termos do art. 49 do CPP.

F) PERDÃO DO OFENDIDO (Art. 105 e 106) E PERDÃO JUDICIAL

PERDÃO é o ato pelo qual INICIADA A AÇÃO PENAL PRIVADA, o ofendido ou seu
representante legal desiste de seu prosseguimento, nos termos do art. 105, caput, do CP.

O perdão só tem lugar na ação penal EXCLUSIVAMENTE PRIVADA.

O PERDÃO SÓ É POSSÍVEL DEPOIS DE INICIADA A AÇÃO PENAL PRIVADA MEDIANTE


O OFERECIMENTO DA QUEIXA, tendo o efeito até o trânsito em julgado da sentença
condenatória. Transitada em julgado a sentença penal condenatória, não é mais admissível (art.
106, § 2º).

O perdão NÃO PRODUZ EFEITOS QUANDO RECUSADO PELO QUERELADO (art. 106,
III), pois este pode ter o interesse de provar a sua inocência.

Quando há dois ou mais querelados, O PERDÃO CONCEDIDO A UM DELES SE ESTENDE


A TODOS, sem que produza, entretanto, efeito em relação ao que o recusa (art. 51 CPP;
art. 106, I e III, CP).

Assim, havendo dois réus, o perdão aceito por um produz efeito de extinguir a
punibilidade também em relação ao outro, SALVO SE OCORRE RECUSA. Neste caso, a ação penal
continua em relação ao querelado que o recusou.

G) DO PERDÃO JUDICIAL

Perdão judicial é o instituto pelo qual O JUIZ, não obstante comprovada a prática da
infração penal pelo sujeito culpado, deixa de aplicar a pena em face de justificadas circunstâncias.

Exs. Art, 121, § 5º; 129, § 8º, 140, § 1º, I e II.

O perdão judicial constitui causa extintiva da punibilidade de aplicação restrita (art. 107,
IX). Significa que não é aplicável a todas as infrações penais, mas somente àquelas especialmente
indicadas pelo legislador.
O PERDÃO JUDICIAL SE DISTINGUE DO PERDÃO DO OFENDIDO, também causa
extintiva da punibilidade (CP, arts. 105, 106 e 107, V, parte final).

O PERDÃO DO OFENDIDO é concedido pelo sujeito passivo do crime de ação penal


provada, DEPENDENDO DE ACEITAÇÃO. O PERDÃO JUDICIAL é concedido pelo juiz e NÃO
DEPENDE DE ACEITAÇÃO.

ALGUNS CRIMES EM ESPÉCIE

01) HOMICÍDIO

I) CONCEITO

O homicídio consiste na eliminação da vida humana extrauterina provocada por outra


pessoa. A eliminação da vida intrauterina (feto) caracteriza o delito de aborto.

II) MEIOS DE EXECUÇÃO

O crime de homicídio por ser praticado por ação ou omissão, como, por exemplo, no
caso da mãe que deixa de alimentar o filho, causando-lhe a morte.

Todavia, se o meio de execução é absolutamente ineficaz para produzir o resultado,


caracteriza a hipótese de crime impossível, previsto no artigo 17 do Código Penal.

Ex: o agente buscar ceifar a vida da vítima com simulacro de arma de fogo (arma de
brinquedo); se a perícia constatar que a arma era totalmente inapta a desferir disparos por algum
defeito; arma descarregada, sem que haja munição para carregá-la ao alcance do agente.

De outro lado, se o revólver estava carregado com balas velhas ou que falham, que
podem ou não disparar, o meio utilizado é relativamente ineficaz para produzir o resultado,
podendo, nesse caso, caracterizar a tentativa de homicídio.

III) HOMICÍDIO PRIVILEGIADO – Art. 121, § 1º

O art. 121, § 1º, do CP, descreve o homicídio privilegiado como o fato de o sujeito
cometer o delito impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. Neste caso, o juiz pode reduzir
a pena de 1/6 a 1/3.

a) Motivo de relevante valor social

Ocorre quando a causa do delito diz respeito a um interesse coletivo. A conduta, então,
é ditada em face de um interesse que diz respeito a todos os cidadãos de uma coletividade.

Ex: pai desesperado pelo vício que impregna seu filho e vários outros alunos, mata um
traficante que distribui drogas num colégio, sem qualquer ação eficaz da polícia para contê-lo.
b) Motivo de relevante valor moral

Diz respeito a um interesse particular, interesse de ordem pessoal.

Será motivo de relevante valor moral aquele que, em si mesmo, é aprovado pela ordem
moral, pela moral prática, como, por exemplo, a compaixão ou piedade ante o irremediável
sofrimento da vítima.

c) Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da


vítima

A última figura típica privilegiada descreve o homicídio cometido pelo sujeito sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação do ofendido.

Além da violência emocional, é fundamental que a provocação tenha partido da própria


vítima e seja injusta, o que não significa, necessariamente, antijurídica, mas quer dizer não
justificada, não permitida, não autorizada por lei, ou, em outros termos, ilícita.

Ex: Decidiram-se jurados e tribunais pela ocorrência de homicídio privilegiado na


conduta de réu cuja filha menor fora seduzida e corrompida por seu ex-empregador; do que fora
provocado e mesmo agredido momentos antes pela vítima.

O texto legal exige, ainda, que o impulso emocional e o ato dele resultante sigam- se
imediatamente à provocação da vítima, ou seja, tem de haver a imediatidade entre a provocação
injusta e a conduta do sujeito.

IV) HOMICÍDIO PRIVILEGIADO-QUALIFICADO

Em regra, PODE-SE ACEITAR A EXISTÊNCIA CONCOMITANTE DE QUALIFICADORAS


OBJETIVAS COM AS CIRCUNSTÂNCIAS LEGAIS DO PRIVILÉGIO, QUE SÃO DE ORDEM SUBJETIVA
(motivo de relevante valor e domínio de violenta emoção).

V) HOMICÍDIO QUALIFICADO – Art. 121, § 2º

A) MEDIANTE PAGA OU PROMESSA DE RECOMPENSA, OU POR OUTRO MOTIVO TORPE

B) MOTIVO FÚTIL

C) COM EMPREGO DE VENENO, FOGO, EXPLOSIVO, ASFIXIA, TORTURA OU OUTRO MEIO


INSIDIOSO OU CRUEL, OU DE QUE POSSA RESULTAR PERIGO COMUM

D) À TRAIÇÃO, DE EMBOSCADA, OU MEDIANTE DISSIMULAÇÃO OU OUTRO RECURSO QUE


DIFICULTE OU TORNE IMPOSSÍVEL A DEFESA DO OFENDIDO
Cuida-se de qualificadora objetiva, pois diz respeito ao modo de execução do crime.
Neste inciso temos recursos obstativos à defesa do sujeito passivo, que comprometem total ou
parcialmente o seu potencial defensivo.

E) PARA ASSEGURAR A EXECUÇÃO, A OCULTAÇÃO, A IMPUNIDADE OU VANTAGEM DE OUTRO


CRIME:

Constituem qualificadoras subjetivas, na medida em que dizem respeito aos motivos


determinantes do crime.

VI) FEMINICÍDIO (INCLUÍDO PELA LEI Nº 13.104, DE 2015)

A partir da edição da Lei nº 13.104/2015, o crime de homicídio passou a ser qualificado


também se praticado:

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:


(Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
(...)
§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino
quando o crime
envolve:
I - violência doméstica e familiar
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a
metade se o crime for praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104, de
2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao
parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta)
anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que
acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou
mental; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018)
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da
vítima; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018)
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas
nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de
agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.771, de 2018)

VII) HOMICÍDIO CULPOSO – Art. 121, § 3º

A) Conceito

É um tipo penal aberto, que depende, pois, da interpretação do juiz para poder ser
aplicado. A culpa, conforme o artigo 18, II, do CP, é constituída de “imprudência, negligência ou
imperícia”. Portanto, matar alguém por imprudência, negligência ou imperícia concretiza o tipo
penal incriminador do homicídio culposo.
a) Imprudência

A imprudência é a prática de um fato perigoso. Consiste na violação das regras de


conduta ensinadas pela experiência. É o atuar sem precaução, precipitado, imponderado. Há
sempre um comportamento positivo.

Ex: Ao manejar arma carregada para limpá-la, o agente aciona, imprudentemente, o


gatilho e mata uma pessoa que está ao seu lado.

b) Negligência

A negligência é a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado. É


a culpa na sua forma omissiva. O negligente deixa de tomar, antes de agir, as cautelas que
deveria.

Ex. deixar criança de tenra idade no interior de um veículo, que, algum tempo depois,
morre asfixiada.

c) Imperícia

Imperícia é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. A imperícia


pressupõe que o fato tenha sido cometido no exercício da arte ou profissão.

Ex: Engenheiro que constrói um prédio cujo material é de baixa qualidade, vindo este
a desabar e a provocar a morte dos moradores.

d) Perdão Judicial – art. 121, § 5º

É a clemência do Estado, que deixa de aplicar a pena prevista para determinados


delitos, em hipóteses expressamente previstas em lei.
Somente ao autor do homicídio culposo pode-se aplicar a clemência, desde que ele
tenha sofrido com o crime praticado uma consequência tão séria e grave que a sanção penal se
torne desnecessária.

Ex. o pai que provoca a morte do próprio filho, num acidente fruto de sua imprudência,
já teve punição mais do que severa. A dor por ele experimentada é mais forte do que qualquer
pena que se lhe pudesse aplicar. Por isso, surge a hipótese do perdão. O crime existiu, mas a
punibilidade é afastada.

02) INDUZIMENTO AO SUICÍDIO – ART. 122

I) CONCEITO DE SUICÍDIO

É a morte voluntária, que resulta, direta ou indiretamente, de um ato positivo ou


negativo, realizado pela própria vítima, a qual sabia dever produzir este resultado.
SE O ATO DE DESTRUIÇÃO É PRATICADO PELO PRÓPRIO AGENTE, RESPONDE PELO
DELITO DE HOMICÍDIO.

Para que haja o delito de participação em suicídio é necessário que a vítima tenha
capacidade de resistência. TRATANDO-SE DE ALIENADO MENTAL E CRIANÇA, A AUSÊNCIA DE
VONTADE VÁLIDA FAZ COM QUE O DELITO SEJA DE HOMICÍDIO.

II) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O crime de participação de induzimento ao suicídio atinge a consumação com a morte


da vítima (02 a 06 anos) ou lesões corporais de natureza grave (01 a 03 anos).

Embora, em tese, fosse possível, por se tratar de crime material, NÃO EXISTE
TENTATIVA DE PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO.

Trata-se de hipótese em que o legislador condiciona a imposição da pena à produção


do resultado, que no caso pode ser morte ou a lesão corporal de natureza grave. Ou a vítima
morre ou sofre lesão grave e o crime se consuma, ou não morre ou não sofre lesão grave e o
fato é atípico.

Se a vítima é maior de 18 anos, aplica-se o “caput” do artigo 122 do CP

Se a vítima é menor de 14 anos, há crime de HOMICÍDIO

A QUALIFICADORA SÓ É APLICÁVEL quando a VÍTIMA TEM IDADE entre


14 E 18 ANOS.

SE NÃO HÁ OCORRÊNCIA DE MORTE OU DE LESÃO CORPORAL DE NATUREZA LEVE,


O FATO É ATÍPICO.

III) FIGURAS TÍPICAS QUALIFICADAS – ART. 122, PARÁGRAFO ÚNICO

a) Se o crime é praticado por motivo egoístico

Motivo egoístico é o excessivo apego a si mesmo, o que evidencia o desprezo pela vida
alheia, desde que algum benefício concreto advenha ao agente. Logicamente, merece maior
punição.

Ex: É o caso, por exemplo, de o sujeito induzir a vítima a suicidar-se para ficar com a
herança.
b) Se a vítima é menor

Em segundo lugar, a pena é agravada quando a vítima é menor. Qual a idade para
efeito da qualificadora?

c) Tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência

A terceira qualificadora prevê a hipótese de a vítima ter diminuída, por qualquer causa,
a capacidade de resistência, como enfermidade física ou mental, idade avançada.

Ex. induzir ao suicídio vítima embriagada.

Por fim, é de ressaltar que o suicida com RESISTÊNCIA NULA, pelos abalos ou situações
supramencionadas, incluindo-se a idade inferior a 14 anos, é vítima de HOMICÍDIO, e não de
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio.

03) INFANTICÍDIO – Art. 123

I) CONCEITO

Trata-se de homicídio cometido pela mãe contra seu filho, nascente ou recém-nascido,
sob a influência do estado puerperal.

O infanticídio ocorre quando a ação é praticada durante o parto ou logo após. Antes
de iniciado o parto existe o aborto e não infanticídio.

Não incidem as agravantes previstas no art. 61, II, “e” e “h”, do CP (crime cometido
contra descendente e contra criança), vez que integram a descrição do delito de infanticídio. Caso
incidissem, haverá bis in idem.

II) ELEMENTOS DO TIPO OBJETIVO

A ação nuclear é o verbo matar, assim como no delito de homicídio, que significa
destruir a vida alheia, no caso, a eliminação da vida do próprio filho pela mãe.

A ação física, todavia, deve ocorrer durante ou logo após o parto, não obstante a
superveniência da morte em período posterior.

Admite-se a forma omissiva, visto que a mãe tem o dever legal de proteção, cuidado e
vigilância em relação ao filho.

Ex: Mãe, sob influência do estado puerperal, percebe que o filho está morrendo
sufocado com o leite materno e nada faz para impedir o resultado morte. Incide, no caso, o
disposto no artigo 13, § 2º, do CP.
Estado puerperal é o estado que envolve a mulher durante o parto. Há profundas
alterações psíquicas e físicas, que chegam a transtornar a mãe, deixando-a sem plenas condições
de entender o que está fazendo.

Portanto, o estado puerperal é o conjunto das perturbações psicológicas e físicas


sofridas pela mulher em face do fenômeno do parto.

É possível que autora possua doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou


retardado, como situação preexistente ao parto e que, dada a presença do estado puerperal, seja
ela considerada incapaz de compreender o caráter ilícito da sua conduta ou de se determinar
conforme esse entendimento. No caso, incido o disposto no artigo 26 do Código Penal, podendo
ser inimputável ou semi- imputável, conforme o caso.

O infanticídio pressupõe que a conduta seja praticada “durante o parto ou


logo após”.

Não há na literatura médica ou jurídica regra absoluta quanto à duração do estado


puerperal. Há quem adote o parâmetro máximo de sete dias. Todavia, para maioria da doutrina,
a melhor solução é deixar a conceituação da elementar “logo após” para a análise do caso
concreto, entendendo-se que há delito enquanto perdurar a influência do estado puerperal.

III) SUJEITOS DO DELITO

a) Sujeito ativo

A autora do infanticídio SÓ PODE SER A MÃE. Cuida-se de CRIME PRÓPRIO, uma vez
que não pode ser cometido por qualquer autor.

O tipo penal exige qualidade especial do sujeito ativo. Entretanto, isso não impede que
terceiro responda por infanticídio diante do concurso de agentes.

b) Sujeito passivo

Sujeito passivo é o neonato ou nascente, de acordo com a ocasião da prática do fato:


durante o parto ou logo após.

Antes do parto, o sujeito passivo será o feto, caracterizando, portanto, o delito de


aborto.

c) A participação de terceiros no ato

Segundo boa parte da doutrina, estando a mulher sob influência do estado puerperal,
responde ela por infanticídio, delito que também será atribuído aos eventuais concorrentes do
fato, uma vez que se trata de circunstância de caráter pessoal que constitui elementar do crime.
Logo, comunica- se aos coautores ou partícipes, nos termos do art. 30 do CP.
IV) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O infanticídio atinge a consumação com a morte do nascente ou neonato.

Trata-se de crime material. Diante disso, admite-se a tentativa, desde que a morte não
ocorra por circunstâncias alheias à vontade da autora.

Ex: a genitora, ao tentar sufocar a criança com um travesseiro, tem a sua conduta
impedida por terceiros.

04) ABORTO

I) ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTO – Art. 124

O sujeito ativo é a gestante, enquanto o passivo é o feto.

Trata-se de crime de mão própria, pois somente a gestante pode realizá-lo, contudo
isso não afasta a possibilidade de participação no crime em questão.

1ª figura: Aborto provocado pela própria gestante (autoaborto):

É a própria mulher quem executa a ação material do crime, ou seja, ela própria emprega
os meios ou manobras abortivas em si mesma.

Se um terceiro executar ato de provocação do aborto, não será partícipe do crime do


art. 124 do CP, mas sim autor do fato descrito no art. 126 (provocação do aborto com
consentimento da gestante).

2ª figura – Aborto consentido

A mulher apenas consente na prática abortiva, mas a execução material do crime é


realizada por terceira pessoa.

Em tese, a gestante e o terceiro deveriam responder pelo delito do art. 124. Contudo,
o CP prevê uma modalidade especial de crime para aquele que provoca o aborto com o
consentimento da gestante (art. 126).

Assim, há a previsão separada de dois crimes: um para a gestante que consente na


prática abortiva (art. 124); e outro para o terceiro que executou materialmente a ação
provocadora do aborto (art. 126). Há aqui, perceba-se, mais uma exceção à teoria monista adota
pelo CP em seu art. 29.

II) ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO – Art. 125

Trata-se de forma mais gravosa do delito de aborto.

Ao contrário da figura típica do art. 126, não há o consentimento da gestante no


emprego dos meios ou manobras abortivas por terceiro. Aliás, a ausência de consentimento
constitui elementar do tipo penal.
As formas de dissentimento estão retratadas no art. 126, parágrafo único:

a) DISSENTIMENTO PRESUMIDO

É necessário que a gestante tenha capacidade para consentir, não se tratando de


capacidade civil.

Para o CP, quando a vítima não é maior de 14 anos ou é alienada mental, não possui
consentimento válido, levando à consideração de que o aborto se deu contra a sua
vontade.

b) DISSENTIMENTO REAL

Quando o agente emprega violência, grave ameaça ou mesmo fraude, é natural supor
que extraiu o consentimento da vítima à força, de modo que o aborto necessita encaixar-se na
figura do art. 125.

III) ABORTO CONSENSUAL – Art. 126

Para que se caracterize a figura do aborto consentido (art. 126), é necessário que o
consentimento da gestante seja válido, isto é, que ela tenha capacidade para consentir. Ausente
essa capacidade, o delito poderá ser outro (art. 125).

Trata-se de uma exceção à teoria monista (todos os coautores e partícipes respondem


pelo mesmo crime quando contribuírem para o mesmo resultado típico). Se existisse somente a
figura do art. 124, o terceiro que colaborasse com a gestante para a prática do aborto incidiria
naquele tipo penal.

Entretanto, o legislador para punir mais severamente o terceiro que provoca o aborto,
criou o art. 126, aplicando a teoria dualista (ou pluralista) do concurso de pessoas.

IV) ABORTO LEGAL – Art. 128

a) ABORTO NECESSÁRIO OU TERAPÊUTICO

É a interrupção da gravidez realizada pelo médico quando a gestante estiver correndo


perigo de vida e inexistir outro meio para salvá-lo.

A excludente da ilicitude em estudo do crime de aborto somente abrange a conduta do


médico. Não obstante isso, a enfermeira, ou parteira, não responderá pelo delito em questão se
praticar o aborto por força do art. 24 do CP (estado de necessidade, no caso, de terceiro).

b) ABORTO HUMANITÁRIO, SENTIMENTAL OU PIEDOSO

O aborto humanitário, também denominado ético ou sentimental, é autorizado quando


a gravidez é consequência do crime de estupro e a gestante consente na sua realização.

Para se autorizar o aborto humanitário são necessários os seguintes requisitos:

a) gravidez resultante de estupro;


b) prévio consentimento da gestante ou, sendo incapaz, de seu representante legal.

A lei não exige autorização judicial, processo judicial ou sentença condenatória contra
o autor do crime de estupro para a prática do aborto sentimental, ficando a intervenção a critério
do médico. Basta prova idônea do atentado sexual.

05) LESÃO CORPORAL

I) LESÃO CORPORAL LEVE OU SIMPLES – Art. 129, “caput”

A definição de lesão corporal leve é formulada por exclusão, ou seja, configura-se


quando não ocorre nenhum dos resultados previstos nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 129.

II) LESÕES CORPORAIS GRAVES Art. 129, § 1º

A lesão corporal de natureza grave (ou mesmo a gravíssima) é uma ofensa à integridade
física ou à saúde da pessoa humana, considerada muito mais séria e importante do que a lesão
simples ou leve.

a) INCAPACIDADE PARA AS OCUPAÇÕES HABITUAIS, POR MAIS DE TRINTA DIAS

Deve-se compreender como tal toda e qualquer atividade regularmente desempenhada


pela vítima, e não apenas a sua ocupação laborativa, enquadrando-se, inclusive, as atividades de
lazer.

b) PERIGO DE VIDA

É a concreta possibilidade de a vítima morrer em face das lesões sofridas.

A doutrina e a jurisprudência majoritária consideram que, neste caso, somente pode


haver dolo na conduta antecedente (lesão corporal) e culpa no tocante ao resultado mais grave
(perigo de vida), pois, havendo dolo em ambas as fases, haverá tentativa de homicídio.

Portanto, o tipo só admite o preterdoloso, uma vez que, se houver dolo quanto ao
perigo de vida, o agente responderá por tentativa de homicídio.

c) DEBILIDADE PERMANENTE DE MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO;

Não se exige que seja uma debilidade perpétua, bastando que tenha longa duração.

Ex. perda de um dos dedos (membro); perder a visão num dos olhos (sentido); perda
de um dos rins é debilidade permanente e não perda de função, pois se trata de órgão duplo.
d) ACELERAÇÃO DE PARTO:

Significa antecipar o nascimento da criança antes do prazo normal previsto pela


medicina. Nesse caso, é indispensável o conhecimento da gravidez pelo agente.

Se, em virtude da lesão corporal praticada contra a mãe, a criança nascer morta, terá
havido lesão corporal gravíssima (art. 129, § 2º, V).

III) LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA – Art. 129, § 2º

Todas as circunstâncias qualificadoras elencadas neste parágrafo são tanto dolosas


quanto preterdolosas, com exceção da circunstância contida no inciso V (aborto), que é
necessariamente preterdolosa.

a) INCAPACIDADE PERMANENTE PARA O TRABALHO

Trata-se de inaptidão duradoura para exercer qualquer atividade laborativa lícita. A


permanência não significa perpetuidade.

Nesse contexto, diferentemente da incapacidade para as ocupações habituais, exige-


se atividade remunerada, que implique em sustento, portanto, acarrete prejuízo financeiro para
o ofendido.

b) ENFERMIDADE INCURÁVEL

É a doença irremediável, de acordo com os recursos da medicina na época do resultado,


causada na vítima.

c) PERDA OU INUTILIZAÇÃO DO MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO

Perda implica em destruição ou privação de algum membro (ex. corte de um braço),


sentido (ex: aniquilamento dos olhos) ou função (ablação da bolsa escrotal, impedindo a função
reprodutora).

No tocante a órgãos duplos, ter-se-á a perda quando houver a supressão de ambos,


por exemplo, cegueira ou surdez total. Nessa hipótese há a perda total da visão ou audição.
Quando se der a supressão de apenas um órgão, estaremos diante da hipótese de debilidade
(§1º, III), pois a função não foi totalmente abolida, por exemplo, surdez em apenas um dos
ouvidos.

d) DEFORMIDADE PERMANENTE

Deformidade é o dano estético de certa monta. Permanente é a deformidade indelével,


irreparável. Entende-se por irreparável a deformidade que não é passível de ser corrigida pelo
transcurso do tempo.

Ex. perda de orelhas, mutilação grave do nariz, entre outros.


e) ABORTO:

Nesta hipótese, o agente, ao lesionar a vítima, não quer nem mesmo assume o risco
do advento do resultado agravador aborto.

Portanto, para que possa caracterizar-se a qualificadora da lesão corporal gravíssima,


não pode ter sido objeto de dolo do agente, pois, nesse caso, terá de responder pelos dois crimes,
lesão corporal e aborto, em concurso formal impróprio, ou, ainda, por aborto qualificado, se a
lesão em si mesma for grave.

IV) LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE – Art. 129, § 3º

O evento morte não deve ser querido nem eventualmente, ou seja, não deve ser
compreendido pelo dolo do agente, senão será de homicídio.

A tentativa é inadmissível, pois o crime preterdoloso envolve a forma culposa e esta é


totalmente incompatível com a figura da tentativa.

06) CALÚNIA – Art. 138

I) CONCEITO E OBJETIVIDADE JURÍDICA

Calúnia é o fato de atribuir a outrem, falsamente, a prática de fato definido como crime.
O CP tutela a honra objetiva (reputação).

A lei exige expressamente que o fato atribuído seja definido como crime. O fato
criminoso deve ser determinado, ou seja, um caso concreto, não sendo necessário, contudo,
descrevê-lo de forma pormenorizada, detalhada, como, por exemplo, apontar dia, hora, local.

É fundamental, para a existência de calúnia, que a imputação de fato definido como


crime seja falsa. Se o fato for verdadeiro, não há que se falar em crime de calúnia.

O momento consumativo da calúnia ocorre no instante em que a imputação chega ao


CONHECIMENTO DE UM TERCEIRO que não a vítima.

A calúnia verbal não admite a figura da tentativa. Ou o sujeito diz a imputação, e o fato
está consumado, ou não diz, e não há conduta relevante para o Direito Penal.

Já a calúnia escrita admite a tentativa. Ex. o sujeito remete uma carta caluniosa e ela
se extravia. O crime não atinge a consumação, por intermédio do conhecimento do destinatário,
por circunstâncias alheias à vontade do sujeito.

07) DIFAMAÇÃO – Art. 139

Difamar significa desacreditar publicamente uma pessoa, maculando-lhe a


reputação.
O legislador protege a honra objetiva (reputação). A exemplo do crime de calúnia, o
bem jurídico protegido é a honra, isto é, a reputação do indivíduo, a sua boa fama, o conceito
que a sociedade lhe atribui.

Dizer que uma pessoa é caloteira configura uma injúria, ao passo que espalhar o de
que ela não pagou aos credores “A”, “B” e “C”, quando as dívidas X, Y e Z venceram configura a
difamação.

A difamação atinge o momento consumativo quando UM TERCEIRO, que não o


ofendido, toma conhecimento da imputação ofensiva à reputação.

Quanto à tentativa, é inadmissível, quando se trata de fato cometido por intermédio da


palavra oral. Tratando-se, entretanto, de difamação praticada por meio escrito, é admissível.

08) INJÚRIA – Art. 140

Injúria é a ofensa à dignidade ou ao decoro de outrem.

Ao contrário dos delitos de calúnia e difamação, que tutelam a honra objetiva, o bem
protegido por essa norma penal é a honra subjetiva, que é constituída pelo sentimento próprio
de cada pessoa acerca de seus atributos morais (chamados de honra-dignidade), intelectuais e
físicos (chamados de honra-decoro).

Trata-se de crime formal. O crime se consuma quando o sujeito passivo toma


ciência da imputação ofensiva, independentemente de o ofendido sentir-se ou não atingido em
sua honra subjetiva, sendo suficiente, tão-só, que o ato seja revestido de idoneidade ofensiva.

A injúria, quando cometida por escrito, admite a tentativa; quando por meio verbal,
não.

I) INJÚRIA RACIAL – Art. 140, § 3º

Aquele que se dirige a uma pessoa de determinada raça, insultando-a com argumentos
ou palavras de conteúdo pejorativo, responderá por injúria racial, não podendo alegar que houve
uma injúria simples, nem tampouco uma mera exposição do pensamento (como dizer que todo
“judeu é corrupto” ou que “negros são desonestos”), uma vez que não há limite para tal liberdade.

Assim, quem simplesmente dirigir a terceiro palavras referentes a “raça”, “cor”, “etnia”,
“religião” ou “origem”, com o intuito de ofender, responderá por injúria racial.

9) ASPECTOS PONTUAIS DOS CRIMES CONTRA A HONRA

I) CAUSAS ESPECIAIS DE EXCLUSÃO DA ANTIJURIDICIDADE – Art. 142

a) IMUNIDADE JUDICIÁRIA

Exige-se que haja uma relação processual instaurada, pois é esse o significado da
expressão “irrogada em juízo”, além do que o autor da ofensa precisa situar-se em local próprio
para o debate processual.
b) IMUNIDADE LITERÁRIA, ARTÍSTICA E CIENTÍFICA

Esta causa de exclusão diz respeito à liberdade de expressão nos campos literário,
artístico e científico, permitindo que haja crítica acerca de livros, obras de arte ou produções
científicas de toda ordem, ainda que sejam pareceres ou conceitos negativos.

c) IMUNIDADE FUNCIONAL

O funcionário público, cumprindo dever inerente ao seu ofício, pode emitir um parecer
desfavorável, expondo opinião negativa a respeito de alguém, passível de macular a reputação
da vítima ou ferir a sua dignidade ou seu decoro, embora não se possa falar em ato ilícito, pois
o interesse da Administração Pública deve ficar acima dos interesses individuais.

II) AÇÃO PENAL – Art. 145

a) Regra

Nos crimes contra a honra, a regra é a de que ação penal privada da vítima ou do
seu representante legal.

b) Exceções

b.1) Resultando na vítima lesão física (injúria real com lesão corporal), apura-se o crime
mediante ação penal pública incondicionada. No entanto, com o advento da Lei 9.099/95, alguns
autores entendem que se trata de ação penal pública condicionada a representação, já que é a
prevista para os crimes de lesão corporal leve.

b.2) Será penal pública condicionada à representação no caso de o delito ser cometido contra
funcionário público, no exercício das funções (art. 141, II) e condicionada à requisição do Ministro
da Justiça no caso do nº I do art. 141 (contra o Presidente da República ou Chefe de Governo
Estrangeiro).

Convém ressaltar a Súmula 714 do STF: “É concorrente a legitimidade do ofendido,


mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação
penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções”.

IMPUTAR

FALSAMENTE
CALÚNIA
Art. 138 CP
FATO

CRIME
DIFAMAR

FATO
DIFAMAÇÃO
Art. 139 CP
OFENSIVO REPUTAÇÃO

EXCEÇÃO VERDADE

DIGNIDADE

DECORO
INJÚRIA
Art. 140 CP
EXPRESSÃO NEGATIVA

10) FURTO – Art. 155

I) CONCEITO

O crime de furto consubstancia-se no verbo subtrair, que significa tirar, retirar de


outrem bem móvel, sem a sua permissão, com o fim de assenhoramento definitivo. A subtração
implica sempre a retirada do bem sem o consentimento do possuidor ou proprietário.

Exige-se o dolo, consistente na vontade do agente de subtrair coisa alheia móvel.

É indispensável que o agente tenha a intenção de possuir a coisa alheia móvel,


submetendo-a ao seu poder, isto é, de não devolver o bem, de forma alguma. Assim, se ele o
subtrai apenas para uso transitório e depois o devolve no mesmo estado, não haverá a
configuração do tipo penal. Cuida-se na hipótese de mero furto de uso, que não constitui crime,
pela ausência do ânimo de assenhoramento definitivo do bem.

Se o sujeito restituir o objeto subtraído até o recebimento da denúncia, pode incidir o


instituto do arrependimento posterior, previsto no artigo 16 do Código Penal, que constitui causa
de diminuição da pena. Em outras palavras, o agente será processado pelo delito, mas, se
condenado, poderá ter a pena reduzida de 1/3 a 2/3.

Não existe na modalidade culposa.

II) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Para Damásio e Capez, o furto atinge a consumação no momento em que o objeto


material é retirado da esfera de posse e disponibilidade do sujeito passivo, ingressando na livre
disponibilidade do autor, ainda que este não obtenha a posse tranquila. A subtração se opera no
exato instante em que o possuidor perde o poder e o controle sobre a coisa, tendo de retomá-la
porque já não está mais consigo.

A tentativa é admissível. Ocorre sempre que o sujeito ativo não consegue, por
circunstâncias alheias à sua vontade, retirar o objeto material da esfera de proteção e vigilância
da vítima, submetendo-a à sua própria disponibilidade.

III) FURTO NOTURNO – Art. 155, § 1º

A causa de aumento de pena do repouso noturno só é aplicável ao furto simples,


previsto no caput do artigo 155, tendo em vista a sua posição sistemática na construção do tipo
penal. Não se aplica, portanto, ao furto qualificado do § 4º.

IV) FURTO PRIVILEGIADO – Art. 155, § 2º

A corrente majoritária sustenta ser de pequeno valor a coisa que não ultrapassa quantia
equivalente a um salário mínimo vigente à época do fato.

V) FURTO QUALIFICADO – Art. 155, § 4º

a) COM DESTRUIÇÃO OU ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO À SUBTRAÇÃO DA COISA;

É necessário que o sujeito pratique violência contra “obstáculo” à subtração do objeto


material. A violência contra a coisa subtraída não qualifica o furto.

b) com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza

* abuso de confiança

É a confiança que decorre de certas relações (que pode ser a empregatícia, a decorrente
de amizade ou parentesco) estabelecidas entre o agente e o proprietário do objeto. O agente,
dessa forma, aproveita-se da confiança nele depositada para praticar o furto, pois há menor
vigilância do proprietário sobre os seus bens.

* Mediante fraude

É o ardil, artifício, meio enganoso empregado pelo agente para diminuir, iludir a
vigilância da vítima e realizar a subtração. São exemplos de fraude: agente que se disfarça de
empregado de empresa telefônica e logra entrar em residência alheia para furtar, ou agente que,
a pretexto de realizar compras em uma loja, distrai a vendedora, de modo a lograr apoderar-se
dos objetos.

* Mediante escalada

Escalada, que em direito penal tem sentido próprio, é a penetração no local do furto
por meio anormal, artificial ou impróprio, que demanda esforço incomum. Escalada não implica,
necessariamente, subida, pois tanto é escalada galgar alturas quanto saltar fossos, rampas ou
mesmo subterrâneos, desde que o faça para vencer obstáculos.

* Mediante destreza

Consiste na habilidade física ou manual do agente que lhe permite o apoderamento do


bem sem que a vítima perceba. É a chamada punga. Tal ocorre com a subtração de objetos
que se encontrem junto à vítima, por exemplo, carteira, dinheiro no bolso ou na bolsa, colar, etc.,
que são retirados sem que ela note.

Importa dizer que se a vítima perceber a subtração no momento em que ela se realiza,
considera-se o furto tentado na forma simples, pois não há que se falar no caso em destreza do
agente (ex: a vítima sente a mão do agente em seu bolso).

c) com emprego de chave falsa

Chave falsa é qualquer instrumento de que se sirva o agente para abrir fechaduras,
tendo ou não formato de chave.

Ex: grampo, alfinete, prego, fenda, gazua, etc.

d) mediante concurso de duas ou mais pessoas.

e) FURTO DE VEÍCULO AUTOMOTOR – Art. 155, 5º

Esta qualificadora diz respeito, especificamente, à subtração de veículo automotor.


Consideram-se com tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves,
lanchas, Jet-skies.

f) EMPREGO DE EXPLOSIVO QUE CAUSE PERIGO COMUM


A Lei nº 13.654/2018 acrescentou o § 4º-A ao art. 155 do Código Penal
prevendo outra QUALIFICADORA para o crime de furto:

§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se


houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.

g) UTILIZAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS EXPLOSIVAS


A Lei nº 13.654/2018 acrescentou também o § 7º ao art. 155 do Código
Penal prevendo outra QUALIFICADORA para o crime de furto:

§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a


subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
11) ROUBO (Art. 157)

Violência

Grave ameaça

Redução capacidade resistência

I) AÇÃO NUCLEAR

A ação nuclear do tipo, identicamente ao furto, consubstancia-se no verbo subtrair, que


significa tirar, retirar, de outrem, no caso bem móvel. Agora, contudo, estamos diante de um
crime mais grave que o furto, na medida em que a subtração é realizada mediante o
emprego de grave ameaça ou violência contra a pessoa, ou por qualquer outro meio que
reduza a capacidade de resistência da vítima.

São os seguintes os meios executórios do crime de roubo:

a) Violência física (vis corporalis)

Violência física à pessoa consiste no emprego de força contra o corpo da vítima. Para
caracterizar essa violência do tipo básico de roubo é suficiente que ocorra lesão corporal leve
ou simples vias de fato, na medida em que a lesão grave ou morte qualifica o crime.

b) Grave ameaça

Ameaça grave (violência moral) é aquela capaz de atemorizar a vítima, viciando sua
vontade e impossibilitando sua capacidade de resistência. A grave ameaça objetiva criar na vítima
o fundado receio de iminente e grave mal, físico ou moral, tanto a si quanto as pessoas que lhes
são caras. É irrelevante a justiça ou injustiça do mal ameaçado, na medida em que, utilizada para
a prática de crime, torna-se antijurídica.

c) Qualquer outro meio que reduza à impossibilidade de resistência;

Cuida-se da violência imprópria, consistente em outro meio que não constitua violência
física ou grave ameaça, como, por exemplo, fazer a vítima ingerir bebida alcoólica, narcóticos,
soníferos ou hipnotizá-la.
II) ESPÉCIES DE ROUBO: PRÓPRIO E IMPRÓPRIO

AGRESSÃO

ANTES DURANTE PRÓPRIO


OU

DEPOIS

SUBTRAÇÃO IMPRÓPRIO

a) Roubo próprio

No roubo próprio a violência ou grave ameaça (ou a redução da impossibilidade de


defesa) são praticados contra a pessoa para a subtração da coisa. Os meios violentos são
empregados antes ou durante a execução da subtração.

b) Roubo impróprio

ROUBO IMPRÓPRIO ocorre quando o sujeito, logo depois de subtraída a coisa, emprega
violência contra a pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a
detenção da coisa para ele ou para terceiro (§ 1º).

São exemplos típicos de roubo impróprio aquele em que o sujeito ativo, já se retirando
do portão com a res furtiva, alcançando pela vítima, abate-a (assegurando a detenção), ou,
então, já na rua, constata que deixou um documento no local, que o identificará, e, retornando
para apanhá-lo, agride o morador que o estava apanhando (garantindo a impunidade).

Em outros termos, “logo depois” de subtraída a coisa não admite decurso de tempo
entre a subtração e o emprego da violência, ou seja, o modus violento somente é caracterizador
do roubo se for utilizado até a consumação do furto que o agente pretendia praticar (posse
tranquila da res, sem a vigilância). Superado esse momento, o crime está consumado e,
consequentemente, não pode sofrer qualquer alteração; portanto, eventual violência empregada
constituirá crime autônomo (lesão corporal, por exemplo), em concurso com furto consumado.

III) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Nos termos da Súmula 582 do STJ, “Consuma-se o crime de roubo com a inversão
da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo
e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada."

IV) CAUSAS ESPECIAIS DE AUMENTO DE PENA - ROUBO MAJORADO


(CIRCUNSTANCIADO) (Art. 157, § 2º)

A) SE HÁ O CONCURSO DE DUAS OU MAIS PESSOAS

Pode haver concurso material entre roubo majorado e quadrilha armada, pois os bens
jurídicos são diversos. Enquanto o tipo penal de roubo protege o patrimônio, o tipo da quadrilha
ou bando guarnece a paz pública.

B) SE A VÍTIMA ESTÁ EM SERVIÇO DE TRANSPORTE DE VALORES E O AGENTE


CONHECE TAL CIRCUNSTÂNCIA

A pena é agravada se a vítima, regra geral por dever de ofício (caixeiro viajante,
empresa de segurança especialmente contratada para o transporte de valores), realiza serviço
de transporte de valores (dinheiro, joia, etc).

C) SE A SUBTRAÇÃO FOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR QUE VENHA A SER


TRANSPORTADO PARA OUTRO ESTADO OU PARA O EXTERIOR

Assim como no furto, esta majorante diz respeito, especificamente, à subtração de


veículo automotor. Consideram-se com tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas,
aeronaves, lanchas, Jet-skies.

D) SE O AGENTE MANTÉM A VÍTIMA EM SEU PODER, RESTRINGINDO SUA


LIBERDADE.

Ocorre quando o agente segura a vítima por tempo superior ao necessário ou valendo-
se de forma anormal para garantir a subtração planejada.

Ex. subjugando a vítima, o agente, pretendendo levar-lhe o veículo, manda que entre
no porta-malas, rodando algum tempo pela cidade, até permitir que seja libertada ou o carro seja
abandonado.

E) SE A SUBTRAÇÃO FOR DE SUBSTÂNCIAS EXPLOSIVAS OU DE ACESSÓRIOS QUE,


CONJUNTA OU ISOLADAMENTE, POSSIBILITEM SUA FABRICAÇÃO, MONTAGEM OU
EMPREGO

V) SE A VIOLÊNCIA OU AMEAÇA É EXERCIDA COM EMPREGO DE ARMA (art. 157, §


2-A, do CP)

ATENÇÃO! Importante alteração trazida pela Lei nº 13.654/2018, na qual o roubo


“com emprego de arma” deixou de ser uma hipótese de roubo circunstanciado no art. 157, § 2º.
Já o roubo com emprego de arma de fogo continua sendo punido como roubo circunstanciado
no art. 157, § 2º-A, inciso I do CP.

Ou seja, a alteração legislativa tornou o roubo com emprego de arma “branca” um


roubo simples, deixando de punir com mais rigor o agente que o pratica. Pode-se dizer que,
especificadamente neste ponto, a mencionada lei é mais benéfica (novatio legis in mellius).

Em suma: antes da lei nº 13.654/18, tanto a arma de fogo quanto a arma branca eram
causas de aumento de pena, agora, após a entrada em vigor da referida lei, apenas o emprego
da arma de FOGO é causa de aumento de pena.

A arma de brinquedo não serve para majorar a pena, uma vez que não causa à vítima
maior potencialidade lesiva. Pode, no entanto, gerar grave ameaça e, justamente por isso, servir
para configurar o tipo penal do roubo, na figura simples.

VI) ROUBO QUALIFICADO PELO RESULTADO (Art. 157, § 3º)

Comparando o texto legal com outras previsões semelhantes do CP – “se da violência


resulta lesão corporal grave” ou “se resulta morte” -, constata-se que, pela técnica legislativa
empregada, pretendeu o legislador criar duas figuras de crimes qualificados pelo resultado, para
alguns, crimes preterdolosos.

Contudo, na hipótese em apreço, a extrema gravidade das sanções cominadas uniu o


entendimento doutrinário, que passou a admitir a possibilidade, indistintamente, de o resultado
agravador poder decorrer tanto de culpa quanto de dolo, direto ou eventual.

A) CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO LESÕES GRAVES

É uma das hipóteses de delito qualificado pelo resultado, que se configura pela presença
de dolo na conduta antecedente (roubo) e dolo ou culpa na conduta subsequente (lesões
corporais graves).

O roubo qualificado pelas lesões corporais de natureza grave não se inclui no rol dos
crimes hediondos, ao contrário do crime de latrocínio.

HIPÓTESES QUANTO AO RESULTADO MAIS GRAVE:

Lesão grave consumada + roubo consumado = roubo qualificado pelo resultado lesão
grave.

Lesão grave consumada + tentativa de roubo = roubo qualificado pelo resultado lesão
grave, dando-se a mesma solução para o latrocínio.

B) CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO MORTE: LATROCÍNIO

O crime de latrocínio ocorre quando, do emprego da violência física contra a pessoa


com o fim de subtrair o bem, ou para assegurar a sua posse ou a impunidade do crime, decorre
a morte da vítima.
Tratando-se de crime qualificado pelo resultado, a morte da vítima ou de terceiro tanto
pode resultar de dolo (o assaltante atira na cabeça da vítima e a mata) quanto de culpa (o agente
desfere um golpe contra o rosto do ofendido para feri-lo, vindo, no entanto, a matá-lo).

É considerado crime hediondo.

Súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda
que não realize o agente a subtração de bens da vítima”.

Súmula 603 do STF: “A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do


juiz singular e não do Tribunal do Júri.”

12) EXTORSÃO – Art. 158

A) AÇÃO NUCLEAR

Extorsão é o fato de o sujeito constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça,


e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar
que se faça ou deixar de fazer alguma coisa.

A diferença em relação ao roubo concentra-se no fato de a extorsão exigir a participação


ativa da vítima fazendo alguma coisa, tolerando que se faça ou deixando de fazer algo em virtude
da ameaça ou da violência sofrida.

A ação nuclear do tipo consubstancia-se no verbo constranger, que significa coagir,


compelir, forçar, obrigar alguém a fazer (p. ex: quitar uma dívida não paga), tolerar que se faça
(ex: permitir que o rasgue um contrato) ou deixar de fazer alguma coisa (ex: obrigar a vítima a
não propor ação judicial contra o agente).

O constrangimento pode ser exercido mediante o emprego de violência ou grave


ameaça, os quais podem atingir tanto o titular do patrimônio quanto pessoa ligada a ele (filhos,
pai, mãe, etc.).

B) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

A extorsão atinge a consumação com a conduta típica imediatamente anterior à


produção do resultado visado pelo sujeito.

Para a consumação, portanto, o agente deve atingir o segundo estágio, isto é, a


consumação ocorre quando a vítima cede ao constrangimento imposto e faz ou deixa
de fazer algo. Esse é o entendimento que prevalece na doutrina. Nesse sentido a Súmula 96
do STJ: “O crime de extorsão consuma- se independentemente da obtenção da vantagem
indevida”.

A tentativa é admissível. Ocorre quando o sujeito passivo, não obstante


constrangido pelo autor por intermédio da violência física ou moral, não realiza a conduta positiva
ou negativa pretendida, por circunstâncias alheias à sua vontade.
C) EXTORSÃO QUALIFICADA – Art. 158, §§ 2º e 3º

As duas hipóteses (lesão corporal grave ou morte) elencadas, como no roubo,


caracterizam condições de exasperação da punibilidade em razão da maior gravidade do
resultado.

A extorsão qualificada pela morte da vítima também é crime hediondo e,


assim, como o latrocínio, é da competência do juiz singular, e não do Tribunal do Júri.

D) EXTORSÃO QUALIFICADA PELA PRIVAÇÃO DA LIBERDADE – ART. 158, § 3º

Conforme leciona Damásio, na hipótese em que o ladrão constrange a vítima a entregar-


lhe o cartão magnético e a fornecer-lhe a senha, acompanhando-a até caixas eletrônicos de
bancos para sacar dinheiro, ocorre o crime de extorsão qualificada, uma vez que é imprescindível
a atuação do sujeito passivo do ataque patrimonial para a obtenção da vantagem indevida por
parte do autor.
13) EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO – Art. 159

I) CONCEITO E OBJETIVIDADE JURÍDICA

O fato é definido como “sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem como condição ou preço de resgate”.

É crime hediondo.

Consubstancia-se no verbo sequestrar, que significa privar a vítima de sua liberdade de


locomoção, ainda que por breve espaço de tempo.

II) CONSUMAÇÃO

A consumação ocorre com a privação de liberdade de locomoção da vítima, exigindo-


se tempo juridicamente relevante.

Trata-se de crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo.


Assim, enquanto a vítima estiver submetida à privação de sua liberdade de locomoção o crime
estará em fase de consumação.
Tratando-se de crime formal, pune-se a mera atividade de sequestrar pessoa, tendo
a finalidade de obter vantagem. Assim, embora o agente não consiga a vantagem almejada, o
delito está consumado quando a liberdade da vítima é cerceada.

III) FORMAS QUALIFICADAS – Art. 159, § 1º

a) Sequestro por mais de 24 horas

b) Sequestro de menor de 18 ou maior de 60 anos

c) Sequestro praticado por bando ou quadrilha

É possível responsabilizar-se o agente pelo crime autônomo de associação criminosa


(art. 288) em concurso material com a forma qualificada em estudo. Não há falar em bis in idem,
uma vez que os momentos consumativos e a objetividade jurídica entre tais crimes são totalmente
diversos, além do que a figura prevista no art. 288 do CP existe independentemente de algum
crime vir a ser praticado pela quadrilha ou bando.

IV) EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO QUALIFICADA PELO RESULTADO: LESÃO


GRAVE OU MORTE – Art. 159, §§ 2º e 3º

A regra, repetindo, é que, nesses crimes, o resultado agravador seja sempre produto
de culpa. Contudo, na hipótese em apreço, a extrema gravidade das sanções cominadas uniu o
entendimento doutrinário que passou a admitir a possibilidade, indistintamente, de o resultado
agravador poder decorrer tanto de culpa quanto de dolo, direto ou eventual.

a) Se resulta lesão corporal grave

b) Se resulta morte

V) DELAÇÃO PREMIADA – Art. 159, § 4º

A Lei 8.072/90, que instituiu os crimes hediondos, houve por bem criar, no Brasil, a
delação premiada, que significa a possibilidade de se reduzir a pena do criminoso que entregar
o(s) comparsa(s) a qualquer autoridade capaz de levar o caso à solução almejada, causando a
liberação da vítima (delegado, juiz, promotor, entre outros).

14) DANO – Art. 163


I) AÇÃO NUCLEAR

Destruir quer dizer arruinar, extinguir ou eliminar. Inutilizar significa tornar inútil ou
imprestável alguma coisa aos fins para os quais se destina. Deteriorar é a conduta de quem
estraga ou corrompe alguma coisa parcialmente.

É o dolo. Não há a forma culposa, nem se exige qualquer elemento subjetivo do tipo
específico (dolo específico).

Basta a vontade de destruir, não sendo exigível o fim especial de causar prejuízo ao
ofendido, pois a figura penal não faz referência expressa a nenhum elemento subjetivo do tipo.

II) DANO QUALIFICADO – Art. 163, parágrafo único

I) VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA A PESSOA

II) COM EMPREGO DE SUBSTÂNCIA INFLAMÁVEL OU EXPLOSIVA, SE O FATO NÃO CONSTITUI


CRIME MAIS GRAVE

III) CONTRA O PATRIMÔNIO DA UNIÃO, DE ESTADO, DO DISTRITO FEDERAL, DE MUNICÍPIO


OU DE AUTARQUIA, FUNDAÇÃO PÚBLICA, EMPRESA PÚBLICA, SOCIEDADE DE ECONOMIA
MISTA OU EMPRESA CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇOS PÚBLICOS;

IV) MOTIVO EGOÍSTICO E PREJUÍZO CONSIDERÁVEL


III) AÇÃO PENAL – Art. 167

Deteriorar

DANO
Destruir FINALIDADE
ECONÔMICA

Danificar

ART. 163, CAP UT


REGRA: AÇÃO
PENAL PRIVADA
ART. 163, P.Ú.,
INCISO IV
AÇÃO PENAL
EXCEÇÃO: AÇÃO
PENAL PÚBLICA
INCONDICIONA
DA ART. 163, P.Ú.,
INCISOS I, II, III

De acordo com o art. 167, a ação penal privada é cabível no crime de dano simples
(caput) e qualificado (somente na hipótese do inciso IV do parágrafo único).

A ação penal pública incondicionada é cabível nas demais hipóteses.

15) APROPRIAÇÃO INDÉBITA – Art. 168

I) CONCEITO E OBJETIVIDADE JURÍDICA

O pressuposto do crime de apropriação indébita é a anterior posse lícita da coisa


alheia, da qual o agente se apropria indevidamente. A posse, que deve preexistir ao crime,
deve ser exercida pelo agente em nome alheio, isto é, em nome de outrem.

O núcleo do tipo é o verbo “apropriar-se”, que significa fazer sua a coisa alheia. Tendo
o sujeito a posse ou a detenção do objeto material, em dado momento faz mudar o título da
posse ou da detenção, comportando-se como se dono fosse.
A apropriação pode ser classificada em:

1º) APROPRIAÇÃO INDÉBITA PROPRIAMENTE DITA: Ocorre quando o sujeito


realiza ato demonstrativo de que inverteu o título da posse, como a venda, doação, consumo,
penhor, ocultação, etc.
2º) NEGATIVA DE RESTITUIÇÃO: Neste caso, o sujeito afirma claramente ao
ofendido que não irá devolver o objeto material.

I) CAUSAS DE AUMENTO DE PENA – Art. 168, § 1º

a) EM DEPÓSITO NECESSÁRIO;

O depósito necessário, disciplinado no inciso I do § 1º do art. 168, é apenas aquele


conhecido como miserável, ou seja, levado pela necessidade de salvar a coisa da iminência de
uma calamidade, ou, como define o próprio CC, “o que se efetua por ocasião de alguma
calamidade, como o incêndio, a inundação, o naufrágio ou o saque” (art. 647). Está excluído, por
conseguinte, o depósito legal.

b) NA QUALIDADE DE TUTOR, CURADOR, SÍNDICO, LIQUIDATÁRIO,


INVENTARIANTE, TESTAMENTEIRO OU DEPOSITÁRIO JUDICIAL;

c) EM RAZÃO DE OFÍCIO, EMPREGO OU PROFISSÃO.

Para que se configure a agravante especial em exame é necessário que o sujeito tenha
recebido a posse ou detenção do objeto material em razão do emprego, ou seja, deve existir um
nexo de causalidade entre a relação de trabalho e o recebimento.

POSSE DO
OBJETO É
DESVIGIADA
APROPRIAÇÃO
INDÉBITA
POSSE
APROPRIAR-SE
DE OBJETO INICIALMENTE
LÍCITA
DETENÇÃO

16) ESTELIONATO – Art. 171

I) AÇÃO NUCLEAR

Consiste em induzir ou manter alguém em erro, mediante o emprego de artifício, ardil,


ou qualquer meio fraudulento, a fim de obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita em prejuízo
alheio.
A característica primordial do estelionato é a fraude: engodo empregado pelo sujeito
para induzir ou manter a vítima em erro, com o fim de obter um indevido proveito patrimonial.

O meio de execução deve ser apto a enganar a vítima. Tratando-se de meio grotesco,
que facilmente demonstra a intenção fraudulenta, não há nem tentativa, por atipicidade do fato.

II) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Trata-se de crime material. Consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita indevida,


em prejuízo alheio, ou seja, quando o agente aufere o proveito econômico, causando dano à
vítima. Via de regra, esses resultados ocorrem simultaneamente. Há, assim, ao mesmo tempo, a
obtenção de proveito pelo estelionatário e o prejuízo da vítima.

III) FRAUDE NO PAGAMENTO POR MEIO DE CHEQUE – Art. 171, § 2º, VI

Se o indivíduo emite um cheque na certeza de que tem fundos disponíveis para o devido
pagamento pelo banco, quando na realidade não há qualquer numerário depositado na agência
bancária, não se pode falar em ilícito criminal, ante a ausência de má-fé.

O que a lei penal pune é o pagamento fraudulento. Nesse sentido é o teor da Súmula
246 do STF: “comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque
sem fundos”.

Emitir cheque significa pôr em circulação o título de crédito; frustrar o pagamento quer
dizer iludir ou enganar o credor, evitando a sua remuneração.

a) Emitir cheque sem provisão de fundos

O agente preenche, assina e coloca o cheque em circulação sem ter numerário


suficiente na instituição bancária (banco sacado) para cobrir o valor quando da apresentação do
título pelo tomador. No momento da emissão do cheque – que não significa simplesmente o seu
preenchimento, mas a entrega a terceiro – é preciso que o estabelecimento bancário,
encarregado da compensação, já não possua fundo suficiente para cobrir o pagamento.

b) Frustrar o pagamento de cheque

Neste caso, o agente possui fundos suficientes na instituição bancária quando da


emissão do cheque, contudo, antes de o beneficiário apresentar o título ao banco, aquele retira
todo o numerário depositado ou apresenta uma contraordem de pagamento.

c) Consumação

Segundo o art. 4º, § 1º, da Lei 7.357/85, a existência de fundos disponíveis é verificada
no momento da apresentação do cheque para pagamento. Destarte, o crime se consuma no
momento e no local em que o banco sacado recusa o pagamento, pois só nesse momento ocorre
o prejuízo (trata-se de crime material).
Esse é o teor da Súmula 521 do STF: “O foro competente para o processo e
julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem
provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado”.

Arrependendo-se o agente antes da apresentação do título pelo beneficiário no banco


sacado, e depositando o numerário necessário para cobrir a quantia constante do cheque, haverá
arrependimento eficaz, não respondendo ele por crime algum.

Se, por outro lado, o agente arrepender-se somente após a consumação do crime, ou
seja, após a recusa do pagamento pelo banco sacado, incidirá a Súmula 554 do STF: “O
pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não
obsta ao prosseguimento da ação penal”.

Assim, o pagamento do cheque antes do recebimento da denúncia extingue a


punibilidade do agente.

ESTELIONATO OBTER

Art. 171, CP
VANTAGEM

PREJUÍZO VÍTIMA

INDUZIR
FRAUDE ERRO
MANTER

Sem provisão
fundos
EMITIR
POR MEIO CHEQUE
CHEQUE
Art. 171, §2º, VI, CP
Frustrar Pagamento

17) RECEPTAÇÃO – Art. 180

I) CONCEITO

Nos termos do artigo 180, “caput”, do CP, a receptação é o fato de adquirir, receber,
transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio coisa que sabe ser produto de
crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte.
É pressuposto do crime de receptação a existência de crime anterior. Trata-se de delito
acessório, em que o objeto material deve ser produto de crime antecedente, chamado de delito
pressuposto.

A receptação dolosa pode ser:

A) PRÓPRIA: Constitui receptação dolosa própria o fato de o sujeito adquirir,


receber, ocultar etc, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime (art.
180, “caput”, 1ª parte).

B) IMPRÓPRIA: A receptação dolosa imprópria se encontra descrita no art. 180,


“caput”, 2ª parte. Constitui o fato de o sujeito influir para que terceiro, de boa-fé, adquira, receba
ou oculte coisa produto de crime.

A receptação culposa constitui o fato de o sujeito adquirir ou receber coisa que, por sua
natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece,
deve presumir-se obtida por meio criminoso (art. 180, § 3º).

II) RECEPTAÇÃO QUALIFICADA – Art. 180, § 1º

Forma qualificada - § 1º: Tem como elemento subjetivo o dolo, seja direto ou eventual.

III) RECEPTAÇÃO CULPOSA – Art. 180, §3º

Forma culposa - § 3º: O código refere coisa que, “pela sua natureza, deve presumir- se
obtida por meio criminoso”. A expressão “deve presumir-se” é indicativo de culpa na modalidade
imprudência.

IV) RECEPTAÇÃO PUNÍVEL AUTONOMAMENTE – Art. 180, § 4º

Receptação punível autonomamente - § 4º: Para a concretização do crime de


receptação não importa se houve a anterior condenação do autor do crime anterior. Porém, é
necessário evidenciar-se a existência do crime anterior.

V) PERDÃO JUDICIAL – Art. 180, § 5º

Nos termos do artigo 180, § 5º, 1ª parte, do CP, na hipótese da receptação culposa, se
o criminoso é primário, deve o juiz, tendo em consideração determinadas circunstâncias, deixar
de aplicar a pena. No caso, fixaram a doutrina e a jurisprudência, que, além da primariedade,
deve-se exigir o seguinte: a) diminuto valor da coisa objeto da receptação; b) bons antecedentes;
c) ter o agente atuado com culpa levíssima.

VI) TIPO QUALIFICADO – Art. 180, § 6º

Outra forma qualificada: Quando o produto de crime pertencer à União, Estado,


Município, empresa de serviços públicos ou sociedade de economia mista. Exige-se que o agente
tenha conhecimento disso.
18) ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS

I) IMUNIDADE ABSOLUTA – Art. 181

Trata-se da chamada imunidade penal absoluta, também conhecida como escusa


absolutória, incidente sobre os crimes contra o patrimônio, nas seguintes hipóteses:

I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;

II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil


ou natural.

II) IMUNIDADE RELATIVA – Art. 182

Consubstancia-se em imunidade penal relativa ou processual, a qual não extingue a


punibilidade, mas tão-somente impõe uma condição objetiva de procedibilidade.

Neste caso, ao contrário da imunidade absoluta, o autor do crime não é isento de pena,
mas os crimes de ação penal pública incondicionada passam a ser condicionados à representação
do ofendido.

III) EXCLUSÃO DE IMUNIDADE OU PRIVILÉGIO – Art. 183

I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave


ameaça ou violência à pessoa;

II - ao estranho que participa do crime.

III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60


(sessenta) anos.
I- do cônjuge, na constância da
sociedade conjugal
ABSOLUTAS (ART. 181 CP)
Causas de ISENÇÃO de penas II- de ascendente ou
descendente, seja o parentesco
legítimo ou ilegítimo, seja civil
ou natural.

IMUNIDADES
ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS

I- do cônjuge desquitado ou
judicialmente separado;

II- de irmão, legítimo ou


RELATIVAS (ART. 182 CP) ilegítimo;
Somente mediante
representação do ofendido
III- de tio ou sobrinho, com
quem o agente coabita.

I- se o crime é de roubo ou de
extorsão, ou, em geral, quando
haja emprego de grave
ameaça ou violência à pessoa;

II- ao estranho que participa


do crime;
EXCLUSÃO DAS
IMUNIDADES III – se o crime é praticado
(ART. 183 CP) contra pessoa com idade igual
ou superior a 60 (sessenta)
anos.

19) ESTUPRO – art. 213


I) CONCEITO E ELEMENTOS DO TIPO

A Lei n. 12.015, de 07 de agosto de 2009 proporcionou uma unificação das figuras


anteriormente caracterizadoras do estupro e do atentado violento ao pudor. Aliás, está revogado
o artigo 214 do Código Penal que, anteriormente, previa o atentado violento ao pudor.

Constranger significa tolher a liberdade, forçar ou coagir. Nesse caso, o cerceamento


destina-se a obter a conjunção carnal. Ato libidinoso é aquele destinado a satisfazer a lascívia, o
apetite sexual do agente. Considerando que a conjunção carnal é a cópula vagínica, todos os
demais atos que servem à satisfação do prazer sexual são considerados libidinosos, tais como o
sexo oral ou anal, o toque em partes íntimas, a masturbação, o beijo lascivo, a introdução dos
dedos na vagina.

II) SUJEITO ATIVO E PASSIVO

Com a lei nova, outra inovação substancial diz respeito ao sujeito passivo.
Anteriormente à reforma, o sujeito passivo do crime de estupro era apenas a mulher.
Atualmente, o estupro poderá ter como sujeito passivo homens ou mulheres, quando
constrangidos à prática de atos libidinosos de qualquer natureza.

Atinente ao sujeito ativo, por sua vez, pode ser homem ou mulher, indistintamente.

III) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O delito consuma-se com a prática do ato de libidinagem (gênero que abrange


conjunção carnal e vasta enumeração de atos libidinosos ofensivos à dignidade sexual da vítima),
sendo perfeitamente possível a tentativa, quando, iniciada a execução, o ato sexual visado não
se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.

Antes da Lei nova, se ocorresse conjunção carnal e atos libidinosos substanciais contra
a mesma mulher, tínhamos estupro e atentado violento ao pudor. Discutia-se, apenas, se deveria
incidir a continuidade delitiva ou se se tratava de concurso material de crimes.

Agora, tendo o legislador unificado os tipos penais do estupro e do atentado


violento ao pudor, passando a existir apenas o estupro e o estupro contra vulnerável,
haverá crime único, se praticado no mesmo contexto fático.

MESMO
CONTEXTO CRIME ÚNICO
CONJUNÇÃO FÁTICO
CARNAL/
OUTRO ATO
LIBIDINOSO CONTEXTOS
CRIME
FÁTICOS
CONTINUADO
DISTINTOS
IV) FORMAS QUALIFICADAS – art. 213, §§ 1º e 2º

Duas são as hipóteses: 1ª) ocorrência de lesões graves (que abrangem as lesões
gravíssimas) decorrentes da conduta do agente. 2ª) vítima maior de 14 anos e menor de 18 anos
na data do fato.

Quanto às lesões graves (ou gravíssimas), devem ocorrer da conduta. Com isso, deixou
claro o legislador que tais resultados devem decorrer da conduta, portanto da violência ou grave
ameaça empregadas contra a vítima.

O parágrafo 2º do artigo 213, por sua vez, prevê o resultado qualificador morte,
também decorrente da conduta. Neste particular, houve redução da pena máxima, que
anteriormente era de 25 anos, passando para 20 anos de reclusão.

Em ambos os casos, consoante já se tinha definido por ocasião do revogado artigo 223
do Código Penal, os resultados lesões graves (ou gravíssimas) e morte devem ocorrer
a título de culpa do agente.

SE RESULTA LESÃO
CORPORAL GRAVE
OU GRAVÍSSIMA
(ART. 213, §1º)

SE A VÍTIMA É
FORMAS MENOR DE 18 OU PRETERDOLOSOS
QUALIFICADAS MAIOR DE 14 ANOS
(ART. 213, §1º)

SE RESULTA MORTE
(ART. 213, §2º)

20) VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE – Art. 215

20.1) AÇÃO NUCLEAR

A nova redação do artigo 215, nominada de violação sexual mediante fraude, unificou
as antigas figuras da posse sexual mediante fraude e atentado ao pudor mediante fraude, a
exemplo do que ocorreu com o estupro e o atentado violento ao pudor.
Passou-se a ter exclusivamente a figura do artigo 215, que abarca a prática de
conjunção carnal ou a prática de ato libidinoso diverso contra homens ou mulheres, mediante
fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima.

20.2) TIPO OBJETIVO

Quanto à fraude, não há inovações, tratando-se de conduta que ludibrie, iluda, submeta
a vítima ou a mantenha em erro, possibilitando a obtenção de conjunção carnal ou outro ato
libidinoso. Exemplo que se tem visto é a prática de simulações por médico no sentido de
sugestionar estar examinando o(a) paciente para obter aludidos atos libidinosos. Ou mesmo
rituais de cura fraudulentamente praticados com o mesmo fim.
Atentar para que não se configure a hipótese prevista no novel parágrafo 1º do artigo
217, que prevê o tipo penal de estupro contra vulnerável, isto é, quando a vítima, além das
demais hipóteses lá elencadas (vítima menor de 14 anos, pessoa que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tiver o necessário discernimento para a prática do ato), por qualquer
outra causa, não possa oferecer resistência. Se a vítima, por exemplo, estiver absolutamente
embriagada, absolutamente narcotizada, dormindo, em estados de inconsciência, elevada
senilidade, deficiência física que a incapacite de resistir, etc., teremos estupro contra vulnerável.

20.3) SUJEITOS DO CRIME

Inicialmente, destaca-se que o sujeito ativo e passivo da aludida infração penal pode
ser homem e mulher, indistintamente. Trata-se, pois, de crime comum.
Tratando-se, no entanto, de menor de 14 anos o crime será o do art. 217-A do CP
(estupro de vulnerável)

20.4) TIPO SUBJETIVO

É o dolo, consistente na vontade consciente de praticar ato de libidinagem com alguém


mediante o emprego de meio fraudulento ou outro que impeça ou dificulte a livre manifestação
de vontade da vítima.

20.5) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Tal como ocorre no estupro, consuma-se o delito com a prática do ato de libidinagem,
sendo perfeitamente possível a tentativa quando, iniciada a execução, o ato sexual visado não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.

21) IMPORTUNAÇÃO SEXUAL – ART. 215 -A – INCLUÍDO PELA LEI Nº 13.718/2018

21.1) TIPO OBJETIVO

A conduta do agente consiste em praticar ato libidinoso, com o propósito de satisfazer


sua lascívia ou de terceiro.
A partir da introdução do artigo 215-A do CP, o artigo 61 do Decreto-lei 3.688/41 está
revogado.
Deve o ato libidinoso ser praticado contra alguém, ou seja, contra pessoa determinada.
Assim, pratica o crime de importunação sexual o agente que se masturba diante de
uma pessoa para satisfazer a sua lascívia.
Agora, se o agente se masturbar em praça pública, sem visar a uma pessoa
determinada, estará praticando o crime de ato obsceno (art. 233 do CP).
Trata-se de crime que contém subsidiariedade expressa, ou seja, aplicam-se as penas
da importunação sexual se a conduta não caracteriza crime mais grave.
Assim, se, por exemplo, o agente empregar violência na prática do ato libidinoso,
incidirá o crime de estupro (art. 213 do CP).

21.2) SUJEITOS DO CRIME

Trata-se de crime comum, não se exigindo, portanto, qualidade especial da vítima.


Pode, assim, ser praticado por qualquer pessoa.
Da mesma forma, qualquer pessoa pode figurar como vítima.

21.3) TIPO SUBJETIVO

O agente desenvolve conduta com a consciência de praticar o ato libidinoso contra


alguém. Eis o dolo.
Além disso, o tipo prevê um elemento subjetivo específico, consistente no agente atuar
com a finalidade de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro.

21.4) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

A consumação ocorre com a prática do ato libidinoso.


Embora seja de difícil incidência, já que, se o agente inicia o ato libidinoso, estará
consumado o crime, é possível a tentativa.

22) REGISTRO NÃO AUTORIZADO DA INTIMIDADE SEXUAL - Art. 216-B INCLUÍDO


PELA LEI Nº 13.772, DE 2018)

Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com
cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos
participantes:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia,
vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato
sexual ou libidinoso de caráter íntimo. (Incluído pela Lei nº 13.772, de 2018)

22.1) TIPO OBJETIVO

A conduta do agente consiste em produzir, fotografar, filmar ou registrar cena de nudez


ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes.
Nos termos do artigo 216-B, parágrafo único, do CP, na mesma pena incorre quem
realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir
pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.
Assim, pratica o crime do artigo 216-B do CP o agente que, mediante uso de câmara
escondida, registrar cena de nudez, sem autorização da vítima.

22.2) SUJEITOS DO CRIME

Trata-se de crime comum, não se exigindo, portanto, qualidade especial da vítima.


Pode, assim, ser praticado por qualquer pessoa.
Da mesma forma, qualquer pessoa pode figurar como vítima.

22.3) TIPO SUBJETIVO

O agente desenvolve conduta com a consciência de produzir, fotografar, filmar ou


registrar cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização
dos participantes. Eis o dolo.
23) ESTUPRO DE VULNERÁVEL – Art. 217-A

23.1) TIPO OBJETIVO

Antes da Lei 12.015/2009, o ato sexual com pessoa vulnerável configurava, a depender
do caso, estupro ou atentado violento ao pudor, mesmo que praticado sem violência física ou
moral, pois presumida no art. 224 do CP. Este dispositivo agora está expressamente revogado,
subsumindo-se a conduta ao disposto no art. 217-A do CP.

23.2) SUJEITOS DO CRIME

O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.


A vítima, por sua vez, só pode ser pessoa com menos de 14 anos (caput) ou portadora
de enfermidade ou deficiência mental ou incapaz de discernimento para a prática do ato, ou que,
por qualquer outra causa, sem condições de oferecer resistência (§ 1º).

23.3) TIPO SUBJETIVO

O crime é punido a título de dolo, devendo o agente ter ciência de que age em face de
pessoa vulnerável.

23.4) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Consuma-se o delito com a prática do ato de libidinagem, sendo perfeitamente possível


a tentativa quando, iniciada a execução, o ato sexual visado não se consuma por circunstâncias
alheias à vontade do agente.

23.5) FORMAS QUALIFICADAS – ART. 217-A, §§ 3º E 4º

Os parágrafos 3º e 4º qualificam o delito de estupro contra vulnerável se da conduta


ocorrer resultado lesão grave (por consequência, gravíssima também) ou morte da vítima.
Veja-se que a pena, para o resultado lesão corporal grave, é de 10 a 20 anos. Quando
ocorrer morte, 12 a 30 anos de reclusão.

23.6) VULNERABILIDADE ABSOLUTA

Nos termos do art. 217-A, § 5º, do CP, as penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e
4º deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima. É o que consta na
Súmula 593 do STJ.
Logo, ainda que a vítima menor de 14 anos tenha consentido com o ato sexual, estará
caracterizado o crime.

24) MEDIAÇÃO DE MENOR VULNERÁVEL PARA SATISFAZER A LASCÍVIA DE OUTREM


– Art. 218

24.1) TIPO OBJETIVO

O crime se verifica quando o sujeito ativo induzir (aliciar, persuadir) menor de 14 anos
a satisfazer a lascívia (sensualidade, libidinagem, luxúria) de outrem.
A conduta deve recair sobre pessoa determinada, pois se o agente induz a vítima a
satisfazer a lascívia de um número indeterminado de pessoas, o crime passará a ser o de
favorecimento da prostituição (art. 218-B).
24.2) SUJEITOS DO CRIME

Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, isolada ou
associada a outra.
Não distingue a lei o sexo do sujeito passivo (ambos podem ser induzidos à satisfação
dos desejos eróticos de terceiro).

24.3) TIPO SUBJETIVO

É o dolo, consistente na vontade consciente de induzir a vítima a satisfazer a lascívia


de outrem, sabendo o agente que age em face de menor de 14 anos.

24.4) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Consuma-se o delito com a prática do ato que importa na satisfação da lascívia de


outrem, independentemente deste considerar-se satisfeito.
A tentativa é possível.

25) SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE


– Art. 218-A

25.1) TIPO OBJETIVO

Neste tipo penal, diversamente do artigo 218 anteriormente analisado, o agente pratica,
na presença de pessoa menor de 14 anos de idade, ou a induz a presenciar, ato libidinoso de
qualquer espécie, com o fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem.
Veja-se que são duas as condutas:
a) Praticar, na presença de pessoa menor de 14 anos, ato libidinoso, a fim de satisfazer
a lascívia própria ou de outrem.
Nesta hipótese o agente não interfere na vontade do menor, mas aproveita-se da sua
espontânea presença para realizar o ato sexual, visando, desse modo, satisfazer a lascívia própria
ou de outrem.
b) Induzir o menor de 14 anos a presenciar ato de libidinagem, com o fim de satisfazer
a própria lascívia ou a lascívia de outrem.
Hipótese em o agente faz nascer na criança ou no adolescente (menor de 14 anos) a
ideia de presenciar o ato de libidinagem.
Em nenhuma das hipóteses a vítima participa do ato sexual, limitando-se a observar,
pois, caso contrário, haverá estupro de vulnerável (art. 217-A do CP).

25.2) SUJEITOS DO CRIME

O sujeito passivo, neste tipo penal, mais uma vez, é exclusivamente homem ou mulher
vulnerável em razão da idade inferior a 14 anos de idade.

25.3) TIPO SUBJETIVO

Pune-se somente a conduta dolosa, acrescida da finalidade especial de satisfazer a


lascívia (desejo sexual), própria ou de outrem. A idade da vítima deve ser conhecida pelo agente,
pois, se ignorada, haverá erro de tipo, excludente do crime (art. 20 do CP).
25.4) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

A consumação depende da modalidade delituosa.


Na primeira, praticar, na presença de pessoa menor de 14 anos, conjunção carnal ou
outro ato libidinoso, o crime se perfaz somente com a efetiva realização do ato sexual.
Já na segunda, induzir a presenciar, o delito se caracteriza com a realização do núcleo,
independentemente da concretização do ato de libidinagem.
As duas formas, sendo plurissubsistentes, admitem a tentativa.
Ademais, trata-se de delito formal, na medida em que a consumação dar-se-á com a
ocorrência de uma das duas condutas possíveis, isto é, praticar o ato libidinoso na presença do
menor, ou induzi-lo a presenciar o ato libidinoso. O resultado constitui apenas motivo de agir, ou
seja, o fim de saciar a lascívia própria ou de outrem.

26) FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL


DE VULNERÁVEL – Art. 218-B

Inicialmente, destaque-se que esta figura típica revogou tacitamente o artigo 244-A do
Estatuto da Criança e do Adolescente, na medida em que dispôs sobre a mesma matéria por meio
de lei posterior.

26.1) TIPO OBJETIVO

Quanto aos verbos induzir ou atrair, o sujeito passivo, em tese, não pode ser pessoa já
prostituída. Quanto ao verbo dificultar, facilitá-la e impedir que alguém a abandone, pode-se
considerar também sujeito passivo a pessoa já prostituída.
Para completar as condutas típicas do sujeito ativo é preciso a habitualidade da conduta
da vítima. A indução, por exemplo, somente pode ser relevante se a vítima efetivamente passar
a se prostituir com habitualidade ou for explorada sexualmente.
Desta forma, se ocorrer a conduta do sujeito ativo de induzir, atrair, facilitar, dificultar
ou impedir que alguém abandone a prostituição, ou deixe de ser explorada sexualmente, o crime
estará consumado quando a vítima efetivamente, com habitualidade, submeter-se à prostituição
ou exploração sexual.

26.2) SUJEITOS DO CRIME

Para os fins deste tipo penal temos por vulnerável o homem ou mulher menor de 18
anos e aqueles que por enfermidade ou deficiência mental não tiverem o necessário
discernimento para a prática do ato.

26.3) TIPO SUBJETIVO

É o dolo, consistente na vontade consciente de induzir ou atrair alguém à prostituição,


facilitá-la ou impedir que a alguém a abandone.
A nova lei adverte no § 1º que, havendo intuito de lucro por parte do agente, além da
pena de privativa de liberdade, deve ser aplicada também a de multa. Em síntese, para a Lei
12.015/2009, o fito de lucro não aparece como circunstância constitutiva, e sim uma agravante
especial do delito.
26.4) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Nas modalidades submeter, induzir, atrair e facilitar consuma-se o delito no momento


e que a vítima passa a se dedicar à prostituição, colocando-se, de forma constante, à disposição
dos clientes, ainda que não tenha atendido nenhum.
Já na modalidade de impedir ou dificultar o abandono da prostituição, o crime consuma-
se no momento em que a vítima delibera por deixar a atividade e o agente obsta esse intento,
protraindo a consumação durante todo o período de embaraço (crime permanente).

27) DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO E DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, E DE SEXO


OU PORNOGRAFIA – 218-C do CP

27.1) TIPO OBJETIVO

São nove as ações nucleares que compõem o tipo penal: oferecer, trocar, disponibilizar,
transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar.
Assim, quem promove a divulgação de cena de sexo, nudez ou pornografia sem o
consentimento dos envolvidos, bem como de quem possibilita a publicação de cenas reais de
estupro ou de estupro de vulnerável, estará praticando o crime do artigo 218-C do CP, se o fato
não constituir crime mais grave.
O crime pode ser praticado por qualquer meio, inclusive aqueles de comunicação de
massa ou sistemas de informática ou telemática, isto é, qualquer meio que permita a transmissão
de arquivos de fotos ou vídeos, como, por exemplo, e-mail, WhatsApp, Messenger, etc. ou que
admita a transmissão audiovisual (streaming), inclusive em tempo real.
Os objetos materiais do crime são fotografias, vídeos ou outros registros audiovisuais
que: a) contenham cena de estupro ou de estupro de vulnerável; b) façam apologia ou induzam
a sua prática: não é necessário que as imagens veiculem cenas sexuais. c) consistam em registros
de cenas de sexo, nudez ou pornografia sem o consentimento da vítima: não se trata de cenas
de violência sexual, mas de sexo, nudez ou pornografia sem que a pessoa fotografada ou gravada
tenha dado consentimento para a difusão. Ex: namorado que grava a cena de sexo com a
namorada e divulga, sem autorização.

27.2) SUJEITOS DO CRIME

Trata-se de crime comum, podendo, portanto, ser praticado por qualquer pessoa.
Da mesma forma, não se exige qualidade especial do sujeito passivo.
Todavia, se a vítima mantém ou manteve relação íntima de afeto com o autor, aumenta-
se a pena de um a dois terços (§1o.).
Além disso, tratando-se de vítima menor de dezoito anos, o comportamento do agente
pode subsumir-se ao disposto nos arts. 241 ou 241-A, ambos do ECA, a depender das
circunstâncias do caso concreto.

27.3) TIPO SUBJETIVO

É o dolo, consistente em praticar uma das condutas descritas no tipo penal.


Não há elemento subjetivo específico.

27.4) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O crime se consuma com a prática da conduta descrita no verbo nuclear do tipo.


Há condutas de caráter permanente, como a exposição à venda, a disponibilização
(acesso permanente por meio de página em endereço eletrônico, por exemplo) e a divulgação
(que também pode ser promovida continuamente por meio eletrônico).
É possível a tentativa, salvo na conduta de oferecer, por força da inviabilidade do
fracionamento da conduta. Com o oferecimento já estará consumado o delito.

27.5) DA EXCLUDENTE DE ILICITUDE

Nos termos do artigo 218-C, § 2º, incide causa especial de excludente de ilicitude para
as situações em que o fato é praticado em publicação de natureza jornalística, científica, cultural
ou acadêmica, desde que sejam adotados recursos que impossibilitem a identificação da vítima.
Se, por exemplo, um jornal televisivo exibe cena de estupro que tenha sido gravada e divulgada
pelo próprio autor do crime, e o faça para facilitar a identificação daquele indivíduo, preservando
a identidade da vítima, não se cogita a ocorrência do crime.

28) AÇÃO PENAL – Art. 225

Com a redação dada pela Lei 13.718/2018, os crimes contra a dignidade sexual
passaram a ser todos de ação pública incondicionada.

29) CAUSAS DE AUMENTO – Art. 226

Nos termos do artigo 226 do CP, a pena aumenta de quarta parte:


a) se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;
b) de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título
tiver autoridade sobre ela;
c) III - se o agente é casado.de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é
praticado: (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Estupro coletivo (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes; (Incluído pela Lei nº 13.718, de
2018)
Estupro corretivo (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima. (Incluído pela Lei nº
13.718, de 2018)
O estupro coletivo constitui, em última análise, numa forma de concurso de pessoas.
Não há confusão entre os incisos I e IV.
O inciso I se aplica a qualquer dos crimes contra a dignidade sexual.
O inciso IV, por sua vez, é específico para os crimes de estupro (inclusive de vulnerável).
Também constitui causa de aumento de pena o “estupro corretivo”, que de regra tem
como “justificativa” a correção da orientação sexual ou gênero da vítima, como, por exemplo,
estupro cometido contra mulheres lésbicas, bissexuais, com a finalidade de corrigir sua orientação
sexual por meio de atos sexuais.
30) PECULATO – Art. 312

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de


dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público
ou particular, de que tem a posse em razão do cargo,
ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

I) CONCEITO

O peculato próprio, na realidade, constitui uma apropriação indébita, só que praticada


por funcionário público com violação do dever funcional. Antes de ser uma ação lesiva aos
interesses patrimoniais da Administração Pública, é principalmente uma ação que fere a
moralidade administrativa, em virtude de quebra do dever funcional.

A) PECULATO-APROPRIAÇÃO:

É o denominado peculato próprio.

A ação nuclear típica consubstancia-se no verbo apropriar. Assim como no crime de


apropriação indébita, o agente tem a posse (ou detenção) lícita do bem móvel, público
ou particular, e inverte esse título, pois passa a comportar-se como se dono fosse, isto
é, consome-o, aliena-o.

B) PECULATO-DESVIO:

É o denominado peculato próprio.

Está previsto na segunda parte do caput do art. 312: “ou desviá-lo, em proveito próprio
ou alheio”.

O agente tem a posse da coisa e lhe dá destinação diversa da exigida por lei,
agindo em proveito próprio ou de terceiro.

Por exemplo, o funcionário empresta o dinheiro público para perceber os juros.

II) SUJEITOS DO DELITO

Trata-se de crime próprio. Somente o funcionário público (art. 327, caput) e as pessoas
a ele equiparadas legalmente (art. 327, §§1º e 2º) podem praticar o delito de peculato.

A condição especial funcionário público, como elementar do crime de peculato,


comunica-se ao particular que eventualmente concorra, na condição de coautor ou partícipe, para
a prática do crime, nos termos da previsão do art. 30 do CP. Portanto, é perfeitamente possível
o concurso de pessoas, dada a comunicabilidade da elementar do crime (art. 30).
III) PECULATO-FURTO – Art. 312, § 1º:

É o denominado peculato impróprio.

Estamos agora diante de um crime de furto, só que praticado por funcionário público,
o qual se vale dessa qualidade para cometê-lo. Aqui o agente não tem a posse ou detenção
do bem como no peculato-apropriação ou desvio, mas se vale da facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário público para realizar a subtração.

IV) PECULATO CULPOSO – Art. 312, § 2º

Pune-se aqui o funcionário público que por negligência, imprudência ou imperícia


concorre para a prática de crime de outrem.

O funcionário para ser punido insere-se na figura do garante, prevista no art. 13, § 2º.
Assim, tem ele o dever de agir, impedindo o resultado de ação delituosa de outrem. Não o
fazendo, responde por peculato culposo.

Ex. se um vigia de prédio público desvia-se de sua função de guarda, por negligência,
permitindo, pois, que terceiros invadam o lugar e de lá subtraiam bens, responde por peculato
culposo.

V) EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NO PECULATO CULPOSO – Art. 312, § 3º

A reparação do dano, para dar causa à extinção da punibilidade, deve ser anterior ao
trânsito em julgado da sentença criminal.

Deve ser completa e não exclui eventual sanção administrativa contra o funcionário. A
extinção da punibilidade somente aproveita o funcionário, autor do peculato culposo.

Consoante a segunda parte do § 3º, no crime culposo, se a reparação do dano é


posterior à sentença irrecorrível, isto é, transitada em julgado, haverá a redução de
metade da pena imposta.

31) CONCUSSÃO – Art. 316

I) AÇÃO NUCLEAR

A ação nuclear consubstancia-se no verbo exigir, isto é, ordenar, reivindicar, impor


como obrigação.

A vítima cede às exigências formuladas pelo agente ante o temor de represálias


relacionadas ao exercício da função pública por ele exercida.
Assim, não é necessária a promessa da causação de um mal determinado; basta o
temor que autoridade inspira.

Ex. carcereiro que exige dinheiro dos presos sob sua custódia. Na hipótese, o simples
fato de os presos encontrarem-se sob a guarda daquele gera neles o temor de eventuais
represálias.

Contudo, não pratica esse delito, mas o de extorsão ou roubo, por exemplo, o policial
militar que exige vantagem indevida da vítima utilizando-se de violência, ou ameaçando-a
gravemente de sequestrar seu filho.

II) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Trata-se de crime formal. A consumação ocorre com a mera exigência da vantagem


indevida, independentemente de sua efetiva obtenção. Se esta sobrevém, há mero exaurimento
do crime.
E possível a tentativa, na hipótese em que o crime é plurissubsistente.

32) EXCESSO DE EXAÇÃO – Art. 316, § 1º e 2º

I) MODALIDADES

* EXIGÊNCIA INDEVIDA:

Aqui a exigência do tributo ou contribuição social é indevida (elemento normativo do


tipo), isto é, não há autorização legal para sua cobrança, ou seu valor já foi quitado pela vítima,
ou então se refere a quantia excedente à fixada por lei.

* COBRANÇA VEXATÓRIA OU GRAVOSA NÃO AUTORIZADA EM LEI (EXCESSO NO


MODO DE EXAÇÃO OU EXAÇÃO FISCAL VEXATÓRIA).

Ao contrário da modalidade criminosa precedente, aqui a exigência de tributo ou


contribuição social é devida, mas a cobrança se faz com o emprego de meio gravoso ou vexatório
para o devedor, o qual não é autorizado por lei.

II) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

A) EXIGÊNCIA INDEVIDA: Aqui o delito se consuma no momento em que é feita a exigência


do tributo ou contribuição social.

Trata-se de crime formal, portanto a consumação independe do efetivo pagamento do


tributo ou contribuição social pela vítima.

A tentativa é possível. Ex. carta contendo a exigência de vantagem, a qual é


interceptada antes de chegar ao conhecimento da vítima.
B) COBRANÇA VEXATÓRIA OU GRAVOSA: Consuma-se com o emprego do meio vexatório
ou gravoso na cobrança do tributo ou contribuição social, independentemente de seu efetivo
recebimento.

A tentativa é possível.

Ex. Com o devido aparato já se acha na casa ou estabelecimento do ofendido, mas é


obstado antes que inicie a cobrança.

C) EXCESSO DE EXAÇÃO – FORMA QUALIFICADA – Art. 316, § 2º

Nessa modalidade mais gravosa do crime de excesso de exação, pune-se o funcionário


público que, em vez de recolher o tributo ou contribuição social, indevidamente exigido (§1º),
para os cofres públicos, desvia-o em proveito próprio ou alheio.

33) CORRUPÇÃO PASSIVA – Art. 317

I) AÇÃO NUCLEAR

Trata-se de crime de ação múltipla. Três são as condutas típicas previstas:

a) SOLICITAR: pedir, manifestar que deseja algo. Não há o emprego de qualquer


ameaça explícita ou implícita. O funcionário solicita vantagem, e a vítima cede por deliberada
vontade.

b) RECEBER: aceitar, entrar na posse. Significa obter, direta ou indiretamente, para si


ou para outrem, vantagem indevida.

Aqui a proposta parte de terceiros e a ela adere o funcionário, ou seja, o agente não só
aceita a proposta como recebe a vantagem indevida.

Ao contrário da primeira modalidade, é condição essencial para sua existência que haja
a anterior configuração do crime de corrupção ativa, isto é, o oferecimento de vantagem indevida
(art. 333). Sem essa oferta pelo particular, não há como falar em recebimento de vantagem.

c) ACEITAR A PROMESSA DE RECEBÊ-LA: Nessa modalidade típica basta que o


funcionário concorde com o recebimento da vantagem. Não há o efetivo recebimento dela. Deve
haver necessariamente uma proposta formulada por terceiros, à qual adere o funcionário,
mediante a aceitação de receber a vantagem.

II) CLASSIFICAÇÃO

a) CORRUPÇÃO PASSIVA PRÓPRIA

Na corrupção passiva o funcionário, em troca de alguma vantagem, pratica ou deixa de


praticar ato de ofício para beneficiar alguém. O ato a ser praticado pode ser ilegítimo, ilícito ou
injusto. É a chamada corrupção própria.
Ex. o funcionário do cartório criminal solicita indevida vantagem econômica para
suprimir documentos do processo judicial.

b) CORRUPÇAO PASSIVA IMPRÓPRIA

Também configura o crime a prática de ato legítimo, lícito, justo. É a chamada corrupção
passiva imprópria.

Ex. oficial de justiça solicita vantagem econômica ao advogado, a fim de dar prioridade
ao cumprimento do mandado judicial expedido em processo em que aquele atua.

III) SUJEITOS DO DELITO

Trata-se de crime próprio. Portanto, o delito só pode ser cometido por funcionário
público em razão da função (ainda que esteja fora dela ou antes de assumi-la).

Nada impede, contudo, a participação do particular, ou de outro funcionário, mediante


induzimento, instigação ou auxílio. O particular que oferece ou promete vantagem indevida ao
funcionário público responde pelo delito de corrupção ativa (art. 333) e não pela participação no
crime em estudo. Trata-se de exceção á regra prevista no artigo 29 do CP.

IV) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Trata-se de crime formal. Portanto, a consumação ocorre com o ato de solicitar,


receber ou aceitar a promessa de vantagem indevida.

A corrupção passiva consuma-se instantaneamente, isto é, com a simples solicitação da


vantagem indevida, recebimento desta ou com a aceitação da mera promessa daquela.

O tipo penal não exige que o funcionário pratique ou se abstenha da prática do ato
funcional. Se isso suceder, haverá mero exaurimento do crime, o qual constitui condição de maior
punibilidade (causa de aumento de pena prevista no § 1º do art. 317).

A tentativa é de difícil ocorrência, mas não é impossível. Basta que haja um iter criminis
a ser cindido. Ex. solicitação feita por carta, a qual é interceptada pelo chefe de repartição.

V) CAUSA DE AUMENTO DE PENA – Art. 317, § 1º

Eleva-se em 1/3 a pena do agente que, em razão da vantagem recebida ou prometida,


efetivamente retarda (atrasa ou procrastina) ou deixa de praticar (não leva a efeito) ato de ofício
que lhe competia desempenhar ou termina praticando o ato, mas desrespeitando o dever
funcional. É o que a doutrina classifica de corrupção exaurida.

VI) FIGURA PRIVILEGIADA – Art. 317, § 2º


Trata-se de conduta de menor gravidade, na medida em que o agente pratica, deixa
de praticar ou retarda o ato de ofício, não em virtude do recebimento de vantagem indevida, mas
cedendo a pedido ou influência de outrem, isto é, para satisfazer interesse de terceiros ou para
agradar ou bajular pessoas influentes.

34) PREVARICAÇÃO – Art. 319

I) ELEMENTOS DO TIPO. AÇÃO NUCLEAR. OBJETO MATERIAL.

A) RETARDAR: É atrasar, adiar, protelar, procrastinar, não praticar o ato de ofício dentro do
prazo estabelecido (crime omissivo).

Ex. atendente de cartório judicial que, devendo expedir alvará de soltura, por não
simpatizar com o advogado, deixa de fazê-lo com a brevidade que a medida exige.

B) DEIXAR DE PRATICAR: trata-se de mais uma modalidade omissiva do crime em estudo.


Aqui, no entanto, ao contrário da conduta precedente, há o ânimo definitivo de não praticar o
ato de ofício.

C) PRATICAR (contra disposição expressa de lei): cuida-se aqui de conduta comissiva, em que
o agente efetivamente executa o ato, só que de forma contrária à lei.

O interesse pessoal é qualquer proveito, vantagem, podendo ser patrimonial ou moral.

Quanto ao interesse patrimonial, importa distinguir algumas situações:

A) se o ato praticado, retardado ou omitido tiver sido objeto de acordo anterior entre
o funcionário e o particular, visando aquele indevida vantagem, o crime passará a ser outro:
corrupção passiva;

B) se houver, anteriormente à prática ou omissão do ato, a exigência de vantagem


indevida pelo funcionário público, haverá o crime de concussão.

* sentimento pessoal:

Sentimento pessoal reflete um estado afetivo ou emocional do próprio agente, que pode
manifestar-se em suas mais variadas formas, tais como amor, paixão, emoção, ódio.
35) CORRUPÇÃO ATIVA – Art. 333

I) AÇÃO NUCLEAR

As ações nucleares do tipo estão consubstanciadas nos verbos:

OFERECER vantagem indevida, ou seja, propor ou apresentar para que seja aceita;

PROMETER vantagem indevida, isto é, comprometer-se, fazer promessa, garantir a


entrega de algo ao funcionário.

Por não se tratar de crime bilateral, prescinde-se da aceitação da vantagem pelo


funcionário público. Caso aceite, o funcionário deverá responder pelo delito de corrupção passiva.

II) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Trata-se de crime formal, uma vez que a consumação se dá com a simples oferta ou
promessa de vantagem indevida por parte do agente ao funcionário público, isto é,
independentemente de ele aceitá-la ou recusá-la. Também não é necessário que o funcionário
pratique, retarde ou omita o ato de ofício de sua competência.

A tentativa é possível.

Ex. suponha-se a hipótese em que a correspondência contendo a oferta de dinheiro não


chega às mãos do funcionário destinatário por ter sido apreendida pela polícia.

III) CAUSA DE AUMENTO DE PENA – Art. 333, parágrafo único

Eleva-se a pena em 1/3 quando, em razão da promessa ou da vantagem, o funcionário


público efetivamente atrasa ou não faz o que deveria, ou mesmo pratica o ato, infringindo dever
funcional. Nessa hipótese, o crime é material, isto é, exige resultado naturalístico.

36) DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA – Art. 339

I) AÇÃO NUCLEAR

O elemento do tipo “alguém” indica, nitidamente, tratar-se de pessoa certa, não se


podendo cometer o delito ao indicar para a autoridade policial apenas a materialidade do crime
e as várias possibilidades de suspeitos.

Via de regra, a denunciação caluniosa é praticada de forma direta, isto é, o próprio


agente leva o fato ao conhecimento da autoridade, dando causa à investigação, mas nada impede
que ela ocorra na forma indireta.
A imputação deve ser falsa. Assim, temos:

a) o fato criminoso é verdadeiro, porém a pessoa a quem se atribui a autoria ou


participação não o praticou.
b) o fato criminoso é inexistente. Atribui-se ao imputado a prática de crime que
não ocorreu.
c) o fato criminoso existiu, porém se atribui ao imputado a prática de crime mais
grave. Ex. afirmar que Fulano roubou, quando na realidade ele furtou.

II) CONSUMAÇÃO

Trata-se de crime formal, ou seja, delito que não exige, para sua consumação,
resultado naturalístico, consistente no efetivo prejuízo para a administração da justiça.

Consuma-se, portanto, com a instauração de investigação policial, de processo judicial,


de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra
alguém.

Não se exige que a autoridade policial formalmente instaure o inquérito policial para
que se consume o crime. Basta que inicie investigação policial no sentido de coletar dados que
apure a veracidade da denúncia.
CONHEÇA O

+100 MIL +400 MIL +5 MILHÕES

+100 MIL +80 MIL +15 MIL

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