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ARQUITETURA

ECLÉTICA
O uso do termo como conceito é introduzido na historiografia da arte
no século XVIII pelo teórico alemão Johann Joachim Winckelmann
para designar uma espécie de sincretismo consciente.

O termo passa a ser utilizado sobretudo em sentido pejorativo como


sinônimo de falta de personalidade e originalidade. No século XX o
conceito de ecletismo perde algo da conotação negativa que o
acompanha, e é usado para indicar fases ou fenômenos sincréticos
em culturas de diferentes períodos ou regiões. Desde a Segunda
Guerra Mundial (1939 - 1945) tende-se a admitir o ecletismo como
procedimento válido na atividade criativa.
“Ecletismo é o uso livre do passado”
César Denis Daly - principal teórico do ecletismo arquitetônico
Como movimento artístico, o ecletismo ocorre na

arquitetura no século XIX. Por volta de 1840, na França,

em reação à hegemonia do estilo greco-romano os

arquitetos começam a propor a retomada de outros modelos

históricos como, por exemplo, o gótico e o românico.


Costuma-se designar por Ecletismo à prática acadêmica do mundo

ocidental, acontecida entre as últimas décadas dos século XIX e

primeiras do século XX, orientada para questões estilísticas,

segundo a qual todos os estilos e tendências históricas da

tradição ocidental – grego, romano, gótico, renascentista,

barroco, juntamente com arquiteturas exóticas – chinesa,

japonesa, indiana, mourisca – são considerados, isoladamente ou

conjugados entre si, como tipos ou modelos para edifícios a serem

projetados, podendo ainda fornecer figuras para a composição mural

destes.
O termo ecletismo denota a combinação de diferentes estilos

históricos em uma única obra sem com isso produzir novo estilo. Tal

método baseia-se na convicção de que a beleza ou a perfeição pode

ser alcançada mediante a seleção e combinação das melhores

qualidades das obras dos grandes mestres. Além disso, pode

designar um movimento mais específico relativo a uma corrente

arquitetônica do século XIX.


Não se trata de uma atitude de simples copista, mas da habilidade de

combinar as características superiores desses estilos em construções

que satisfaçam a demandas da época por todo tipo de edificação.

Na segunda metade do século XIX, o ecletismo tem forte presença na

Europa. O estilo Segundo Império ou Napoleão III, na França, é

caracterizado pela realização de importantes edifícios ecléticos, como o

Teatro Ópera de Paris, projetado por Charles Garnier.


Ópera de Paris, por Charles Garnier (1861)
Pavilhão Real de Brighton, 1818. Proto-ecletismo neomourisco.
Arq. John Nash.

Proto: Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de primeiro, anterior, ancestral
Casas do Parlamento. Londres, 1836-52. Proto-ecletismo neo-gótico.
Arq. Sir Charles Barry e Augustus Pugin.
Friedrichswerdwerche Kirche.Berlim, 1825: Protoecletismo neogótico
Projeto: Karl-Friedrich Schinkel.
Esta igreja mistura, à maneira do ecletismo sincrético do final do século, a
linguagem românica e gótica. Porém, o projeto inicial dava ao cliente a
alternativa de um edifício neo-romano.

Schinkel fez dois estudo

para o interior da igreja,

uma no estilo clássico e

outra no estilo Gótico.

Embora funcionalmente

iguais, a solução gótica é

mais verticalizada.
Gliptoteca de Munique. Projeto: Leo von Klenze, 1816-34. Protoecletismo
neoclássico.
SÓ LEMBRANDO....

Na Gliptoteca, o pórtico central jônico é ladeado por dois blocos de

inspiração renascentista. Embora não se possa dizer que o arquiteto

afastou-se da linguagem clássica, é certo que toma como modelo dois

momentos muito distintos, o que confere a sua obra um certo hibridismo

característico do Ecletismo.
O Alto Ecletismo corresponde à segunda metade do século XIX e

primeiras décadas do século XX, quando o historicismo romântico

prevalece claramente sobre as práticas revivalistas.

Ópera de Paris, por Charles Garnier (1861)


A prática eclética serviu bem ao público burguês de então, e os problemas
“higiênicos”, funcionais, tecnológicos, e de conforto, foram nivelados aos
problemas estéticos e estilísticos. É neste momento que ocorre a dissociação
entre o construtivismo e a Arquitetura, o que muitas vezes vai exigir a
colaboração entre um engenheiro e um arquiteto – nas estações ferroviárias, nos
mercados, etc. –, e para este último foi reservado um papel secundário,
segundo uma crítica que perdurou até meados do século XX, o papel de
“decorador de fachadas”.

O Higienismo, refere-se a conceitos, normas, políticas e práticas desenvolvidas pelos médicos


sanitaristas e engenheiros higienistas para resolver os inúmeros problemas surgidos pelo
crescimento descontrolado dos núcleos urbanos, no século XIX, e combater as epidemias e
endemias, tão frequentes nas grandes metrópoles e cidades industriais. A maior preocupação com a
insolação e ventilação dos edifícios, construção de redes de esgoto, águas pluviais e abastecimento de
água, construção de latrinas em todas as casas, uso de materiais impermeáveis, políticas de vacinação, e
práticas de higiene pessoal fazem parte das recomendações dos higienistas.
Por último, temos o Ecletismo Tardio, no final do século XIX e início do

século XX, quando a arquitetura eclética convive com outras

tendências dissidentes, como o Art Nouveau, o Expressionismo, e

mesmo o Movimento Moderno.


“O ecletismo resumiria o desejo de formar uma
nova cultura que em nada lembrasse a velha
metrópole ou os tempos ominosos da colônia,
levando o país a mirar-se nos centros opulentos e
deslumbrantes de civilização”
Silmara Dias Feiber citando Ricardo Severo

Ominoso: abominável, abominoso, detestável, execrando, execrável, funesto, insuportável,


nefando e odioso
ARQUITETURA ECLÉTICA
NO BRASIL
As residências foram marcadas pelo surgimento dos porões, gerando

privacidade e verticalidade a edificação, elementos arquitetônicos aparecem

como, platibanda, arco, bandeira e pináculos. A utilização de cores claras, tons

pastel. Neste período surge a infra-estrutura trazendo rede de água, esgoto,

iluminação e transporte coletivo. Trabalha com a valorização da esquina

chanfrada, conservação do alinhamento da via através das edificações mas

utilizam o recuo lateral como entrada da edificação(pátio).

Platibanda: designa uma faixa horizontal (muro ou grade) que emoldura a parte superior de um
edifício e que tem a função de esconder o telhado. Podendo ser utilizado em diversos tipos de
construção, como casas e igrejas, tornou-se num ornamento característico durante o estilo
gótico.
No Brasil, no período de transição para o século XX, o ecletismo é a
corrente dominante na arquitetura e nos planos de reurbanização das
grandes cidades, como o realizado no Rio de Janeiro pelo engenheiro
Francisco Pereira Passos (1836 - 1913).

Reurbanização do Rio de Janeiro


“A urbanização desigual e incompleta, o crescimento populacional, o agravamento

da pobreza, transformaram a cidade num foco assustador de doenças e epidemias

(…) que matavam pessoas de todas as classes sociais (…) Na aurora do século

XX, portanto, a imagem da capital federal estava distante das aspirações de

modernização, progresso e civilização que (…), nutriam as elites nacionais. Em

consonância com os ideais da República, uma outra cidade, com feitio moderno,

precisava ser “erigida sobre os escombros da ‘cidade pocilga`”.


“Pereira Passos, baseando-se em estudos anteriores, propôs uma grande

intervenção na cidade do Rio de Janeiro, cujo núcleo era a construção de um

moderno centro urbano. Para isso, a cidade deveria se submeter a um plano

rigoroso de saneamento com eliminação das habitações coletivas, abertura de

ruas retilíneas, aumento da circulação viária e demolição de centenas de

construções antigas.”
Passos empreende a reforma urbanística que derruba antigas construções do

período colonial para abrir a moderna avenida Central, atual avenida Rio Branco, e a

avenida Beira-Mar, expandindo a cidade em direção à zona sul.

Na avenida Rio Branco encontram-se ainda hoje os maiores exemplares da

arquitetura eclética no Brasil, como a Escola e Museu Nacional de Belas Artes -

MNBA (1908), cuja suntuosidade e pluralidade de estilos remetem às construções

francesas ecléticas, no caso diretamente à fachada do Louvre.


Escola e Museu Nacional de
Belas Artes - MNBA (1908),
obra de Adolfo Morales de Los
Rios

Museu do Louvre
Teatro Municipal, projetado
por Francisco de Oliveira
Passos e edificado na avenida
Central, entre 1903 e 1909

Aparece como o maior símbolo


do ecletismo no Brasil.

Ópera de Paris, por Charles


Garnier (1861)
"O monumento público, o monumento que se dirige a todos, que pertence à
nação... deve satisfazer o sentimento geral, nacional de beleza... A beleza de
um monumento público deveria ser uma emanação deslumbrante e direta do
gênio vivo da sociedade, uma profissão de fé́ estética da raça."
Biblioteca Nacional (1910),
na mesma avenida, projeto do
engenheiro militar Souza
Aguiar
Derby Clube (1914), projeto de
Heitor de Mello
Pisos de vidro nos armazéns, armações e estantes
de aço com capacidade para 400.000 volumes.

Importam-se:
- Ideias sobre arquitetura, sem discussão ou interpretação regional;
- Formas características de estilos que não faziam parte na historia brasileira
A remodelação do Rio de Janeiro quando da construção da Avenida Central
simbolizava a modernidade , em oposição à "tradição do mau gosto e da
imundície” (Bilac em 1905)

“Construídos com estruturas de alvenaria e ferro, em estilo eclético, os edifícios


da avenida Central praticamente demarcavam o centro da cidade como espaço
privilegiado do governo, das grandes empresas e das elites sociais
“A arquitetura brasileira do início do século XX é destituída de originalidade, (...)
pois está interessada tão somente na imitação de obras de maior ou menor
prestígio pertencentes a um passado recente ou longínquo (... )ou em meras cópias
da moda então em voga na Europa” -Yves Bruand
Supremo Tribunal Federal, hoje Centro Cultural da
Justiça, por Adolfo Morales de Los Rios (1909)
Palacio Monroe, Francisco
Marcelino de Souza Aguiar, 1904
“Por decisão do Presidente da Republica, o Patrimônio da União já está autorizado a
providenciar a demolição do Palácio Monroe. Foi, portanto, vitoriosa a campanha desse
jornal que há muito se empenhava no desaparecimento do monstrengo arquitetônico da
Cinelândia. (…) O Monroe não tinha qualquer função e sua sobrevivência era condenada por
todas as regras de urbanismo e de estética. Em seu lugar o Rio ganhará mais uma praça.
Que essa boa noticia, que coincide com o fim das obras de superfície do metrô da Cinelândia
seja mais um estimulo à remodelação de toda essa área de presença tão marcante na
historia do Rio de Janeiro”. – Trecho de editorial do jornal O Globo
Arquitetura Eclética na cidade de São Paulo

Patrocinada pelo capital do Café

Elites usavam as habitações para demonstrar o seu poder


econômico

Francisco de Paula Ramos de Azevedo

Ecletismo também no paisagismo: Vale do Anhangabaú, Parque


Trianon, Avenida paulista, Praça da República e Parque Dom Pedro
Ópera de Paris, por Charles
Garnier (1861)

Inaugurado no dia 12 de setembro de 1911

Ramos de Azevedo, Cláudio Rossi e Domiziano Rossi

Têm como claro modelo a Ópera de Garnier


Teatro Municipal de São Paulo, por Ramos de Azevedo (1909)
Estilos Renascentista, Barroco(seiscentismo) e Art Nouveau

Construção iniciada em 1903

Tombado pelo CONDEPHAAT em 1981


Palácio das Indústrias, por Ramos de Azevedo (1924)
Inaugurado no dia 29 de abril de 1924
Domiziano Rossi e Ramos de Azevedo
Tombado pelo CONDEPHAAT em 1982
Mercado Municipal de São Paulo, por Ramos de Azevedo (1933)
Mercado Municipal de São Paulo

Inaugurado em 25 de Janeiro de 1933

Ramos de Azevedo, Felisberto Ranzini e Conrado Sorgenicht Filho

Estrutura de concreto armado


Museu do Ipiranga, Tommaso Gaudenzio Bezzi(1895)
Inaugurado no dia 7 de setembro de 1895
Tommaso Gaudenzio Bezzi
Tombado pelos três níveis, IPHAN, CONDEPHAAT e pelo CONPRESP
Alvenaria de tijolos cerâmicos, uma novidade para a época
Palácio de Versailles Museu do Ipiranga
Escola Normal Caetano de Campos, por Ramos de Azevedo (1894)
Edifício inaugurado em 1894 onde atualmente está instalada a Secretaria da
Educação do Estado de São Paulo

Antônio Francisco de Paula Sousa e Ramos de Azevedo

O edifício da praça da República foi tombado pelo CONDEPHAAT em 1978


Casa das Rosas, por Ramos de Azevedo (1935)
• Tombada pelo CONDEPHAAT no dia 22 de outubro de 1985
Estação da Luz, por Charles Henry Driver (1901)
Estação da Luz

Inaugurada no dia 1º de março de


1901, no lugar da antiga estação

Projetada pelo arquiteto inglês


Charles Henry Driver em estilo
neoclássico

Estruturas trazidas da Inglaterra que


copiam o Big Ben e a abadia de
Westminster (em estilo gótico na
cidade de Westminster, sendo
considerada a igreja mais importante
de Londres)

Seu projeto é similar à Flinders Street


Station, de Melbourne, Austrália
Estação da Luz

Em 1946 foi parcialmente destruída


por um incêndio. A reconstrução da
estação se estendeu até 1951.

Em 1982 tombada pelo CONDEPHAAT.

Possui área de 7520 metros


quadrados, 150 metros de comprimento
de fachada e uma torre de 50 metros
de altura.

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