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INTRODUÇÃO À NEUROLOGIA

RESUMO DA UNIDADE

Esta unidade analisará os princípios básicos do sistema nervoso e a apresentação


de algumas de suas partes mais importantes ligadas ao processamento e o
funcionamento cerebral. Apresentar noções de anatomia cerebral e suas correlações
funcionais permitem um entendimento mais aprofundado dos quadros neurológicos
e psiquiátricos que são mais predominantes na clínica neuropsicopedagógica.
Entender particularidades e as sutilezas relacionadas ao neurodesenvolvimento
permitem uma melhor compreensão dos fenômenos psíquicos e do entendimento
das formas de comunicação neuronal. Após esses conhecimentos, o profissional
terá um olhar mais refinado e criterioso referente a observação mais acurada de
comportamentos ditos normais ou aqueles desviantes da norma e poder assim,
entender a semiologia dos transtornos e da epidemiologia.

Palavras chave: anatomia funcional sistema nervoso; nervos cranianos; funções e


estruturas neuronais; epidemiologia e semiologia.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
SUMÁRIO
RESUMO DA UNIDADE ............................................................................................. 2
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO ............................................................................... 4
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO A NEUROLOGIA BÉSICA........................................ 5
1.1 NEUROLOGIA GERAL .................................................................................. 5
1.2 FUNÇÕES E ESTRUTURAS NEURONAIS ................................................... 7
1.2.1 Atividade elétrica dos neurônios .................................................................... 9
1.2.2 Sinapses ...................................................................................................... 10
1.2.3 Neurotransmissores ..................................................................................... 11
1.3 FORMAS DE ABORDAGEM DA COGNIÇÃO HUMANA ............................. 12
1.3.1 Psicologia cognitiva ...................................................................................... 13
1.3.2 Neuropsicologia cognitiva ............................................................................ 16
1.3.3 Neurociência cognitiva ................................................................................. 17
1.4 INTRODUÇÃO PARA AS TÉCNICAS PARA O ESTUDO DO CÉREBRO .. 17
1.5 CIÊNCIA COMPUTACIONAL COGNITIVA .................................................. 20
CAPITULO 02 - ANATOMIA CEREBRAL ................................................................ 22
2.1 DIVISÃO DO SISTEMA NERVOSO ............................................................. 22
2.2 ANATOMIA FUNCIONAL DO CÓRTEX CEREBRAL .................................. 23
2.2.1 Aspectos filogenéticos do sistema nervoso .................................................. 23
2.3 ANATOMIA DO TELENCÉFALO ................................................................. 25
2.3.1 Bulbo ............................................................................................................ 27
2.3.2 Ponte ............................................................................................................ 28
2.3.3 Mesencéfalo ................................................................................................. 29
2.3.4 Cerebelo....................................................................................................... 29
2.4 NERVOS CRANIANOS ................................................................................ 33
2.5 ÁREAS FUNCIONAIS DO CÓRTEX CEREBRAL ....................................... 36
CAPÍTULO 03 - SEMIOLOGIA NEUROPSIQUIÁTRICA ......................................... 39
3.1 SEMIOLOGIA CONCEITOS INTRODUTÓRIOS ......................................... 39
3.2 DIVISÕES DA SEMIOLOGIA ....................................................................... 43
3.3 EPIDEMIOLOGIA DOS TRANSTORNOS .................................................... 46
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 54
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 56

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APRESENTAÇÃO DO MÓDULO

Nesse trabalho, será realizada a apresentação de questões relevantes para


que o profissional da neuropsicopedagogia possa adquirir habilidades específicas
dessa área, refinar seu olhar clínico e ter um maior embasamento teórico para
propor suas intervenções e desenvolver competências de entendimento dos
processos cognitivos que englobam o raciocínio e a transmissão de informações via
corticais.
Inicialmente são apresentados alguns aspectos básicos de neurologia geral,
com destaque para o funcionamento do sistema nervoso, das partes constitutivas
desse sistema e das funções mais nobres de algumas reais mais relevantes para o
bom funcionamento cognitivo.
Na segunda parte são apontadas as estruturas da anatomia geral do sistema
nervoso. Demonstrando como se dá divisão e subdivisões do sistema nervoso, bem
como as suas correlações com partes cerebrais responsáveis pelas funções nobres
do raciocínio humano. São mostrados os aspectos filogenéticos do sistema nervoso
e explicitadas as formas com que o organismo orquestra os estímulos externos e
internos para promover conhecimento. Nessa parte, os nervos cranianos têm um
destaque mais relevante, pois, são por meio deles que o corpo faz o processamento
das informações advindas dos mundos externo e interno.
Finalmente abordamos a semiologia neuropsicológica e seu papel na coleta de
dados relevantes à promoção do entendimento mais abrangente, dos sinais e
sintomas presentes nos mais variados transtornos neuropsicológicos. De forma bem
sucinta são apresentados alguns tópicos da epidemiologia clínica e suas
particularidades.

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CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO A NEUROLOGIA BÉSICA

1.1 NEUROLOGIA GERAL

Vivemos em um mundo de constantes transformações e marcado por avanços


nas mais variadas áreas do conhecimento humano. Atualmente somos capazes de
realizar façanhas que há 50 anos atrás eram apenas especulações, ou da
criatividade exposta nos filmes de ficção. Isso pode, no mínimo, nos levantar
algumas inquietações: O que nos aguarda em desenvolvimentos daqui há mais 50
anos, tendo como base as grandes descobertas do homem? Todavia, alguns outros
questionamentos, até mais relevantes, deveriam ser outra natureza: como
conseguimos chegar a este avanço tecnológico e de conhecimento?
A biologia, a neurologia, a pedagogia, a psicologia vêm produzindo um vasto
número de publicações científicas que, de certa forma, se inter-relacionam e
respondem a alguns dos questionamentos anteriores. Produzimos muita informação
que nos permitiu avançar tecnologicamente. Entretanto, a produção dessas
informações, na verdade, abriram ainda mais o leque para o conhecimento, mas ao
mesmo tempo, nos tornaram cientes de que muito desconhecemos do que
deveríamos conhecer, sobre como conseguimos realizar nossos feitos mais
grandiosos.
Inicialmente vamos refletir: como nós sabemos o que sabemos? Onde estão
localizados nossos conhecimentos? Conhecemos algum ser vivo sem sistema
nervoso que é capaz de aprender?
Sternberg (2008) conta que uma antiga lenda indiana apresenta a figura
mitológica de “Sita”. Ela era casada com um homem, mas que nutria afeição por
outro. Os dois homens se enfrentaram e, com um golpe de espada sincronizado,
ambos se decapitaram. Sita muito entristecida pela dupla perda, reza a Kali (Deus
da vida), para que os traga de novo à vida. Seu pedido foi atendido, porém, com
pressa para que retornassem a vida, Sita troca as cabeças dos seus dois amores. E
a partir daí vive com uma constante dúvida, quem era quem? Um possuindo a
cabeça do outro, ou seja, um corpo com outra mente. Ela nunca mais teve como
saber com quem estava.

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Assim sendo, questões que envolvem a mente e o corpo já há muito tempo


instigam as ciências e a filosofia. Levantando questionamentos sobre: como se dá a
interação entre corpo e à mente? Como somos capazes de pensar, falar, lembrar
que falamos, o que pensamos? Quais são as bases físicas de nossas capacidades
cognitivas1? O grande número de questionamentos apresentado anteriormente
evidencia que muitas respostas estão sendo buscadas por muitos pesquisadores
para entender o desenvolvimento humano. E você agora é convidado a se debruçar
sobre estas dúvidas e ser mais um agente pesquisador e produtor de material
científico, sobre como a mente funciona e quais são as suas bases biológicas.
Segundo Eysenk (2017), estamos no terceiro milênio, e cada vez mais se
multiplica a produção científica sobre os mistérios do cérebro e da mente humana. É
impressionante a quantidade de dados que já se tem acesso sobre o cérebro
humano, porém, ainda há muito a se descobrir. Portanto, o ponto de partida será
apresentar uma introdução sobre informações básicas sobre o cérebro.
O cérebro, de acordo com Sternberg (2008, pg.,29), é:

o órgão que controla mais diretamente os pensamentos, as emoções e


motivações[...] está no topo da hierarquia do corpo, como um chefe, com
vários outros órgãos respondendo a ele. Contudo, como qualquer bom
chefe; escuta seus subordinados e é influenciado por ele, que são os
órgãos do corpo. Dessa forma cérebro é tanto diretivo como reativo.

O veio condutor dessa comunicação entre corpo e cérebro e vice versa se dá


pelo Sistema Nervoso (SN). Ele é a base da aptidão para perceber, adaptar e
interagir com o mundo. A base estrutural do SN está sustentada nos – Neurônios-
que são células neurais individuais, que transmitem sinais elétricos de um local para
outro do SN. A maior concentração de neurônios está no Neocórtex do cérebro. O
córtex é a parte associada às cognições mais complexas (responsável pela
capacidade para aprender conceitos, símbolos e concatenar ideias novas com
outras já aprendidas). Sabe-se hoje que o homem possui em torno de cem bilhões
de neurônios. Sua organização tende a ser similar a uma rede interligada, trocando
informações e promovendo uma diferenciada gama de processamento de
informações (Sternberg, 2008).

1
processos internos envolvidos em extrair sentido do ambiente e tomada de decisão de forma
apropriada.

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SAIBA MAIS!
LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de
neurociência. In: Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de
neurociência. 2° Ed Atheneu, RJ. 2004.

1.2 FUNÇÕES E ESTRUTURAS NEURONAIS

Os neurônios possuem variações em sua estrutura, mas basicamente possuem


quatro partes, como ilustrado na figura 1:

Figura 1 – Diagrama representativo de um neurônio. As setas vermelhas representam a


propagação do impulso nervoso pela célula neural

Fonte: Bonfim, (s/d)

Neste diagrama do neurônio é demonstrada a forma de condução das


informações, do ponto de vista neuronal. Quanto as suas partes e funções, observe
abaixo:
- Núcleo celular neurônio (chamado também por soma), é composto pelo
núcleo e citoplasma (membrana que envolve a célula). Ele realiza as funções
metabólicas, promove a síntese proteica e reprodutiva da célula. O núcleo mantém a
vida do neurônio e faz a ligação entre os dendritos e as terminações axonais.

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O citoplasma do corpo celular recebe também o nome de pericário. O corpo


celular é o centro metabólico do neurônio, responsável pela síntese de todas as
proteínas neuronais, assim como pelos processos de degeneração e renovação das
partes das células. A forma e o tamanho do corpo celular são extremamente
variáveis conforme o tipo do neurônio (Machado, 2014).

IMPORTANTE!
O veio condutor da comunicação entre corpo e cérebro e vice versa se dá pelo
Sistema Nervoso (SN). Ele é a base de nossa aptidão para perceber, adaptar e
interagir com o mundo a nossa volta. A base estrutural do SN está sustentada nos –
Neurônios- que são células neurais individuais que transmitem sinais elétricos de
um local para outro do SN.

Do corpo celular partem os prolongamentos neuronais (dendritos e axônio,


vistos a seguir) e são os locais de recepção de estímulos através de contatos
sinápticos, conforme será discutido no item 1.1.3 (ver abaixo).
- Dendritos:
De acordo com Machado e Haertel (2014) os dendritos ramificam-se
abundantemente semelhante a uma raiz de uma árvore. Todavia são bem mais
curtos que o axônio. Dendritos tem a especialização de receber estímulos e os
propagar ao corpo do neurônio. Na estrutura do dendrito destacamos as espinhas
dendríticas, elas correspondem a uma expansão da membrana plasmática do
neurônio. Pesquisas evidenciaram que o número das espinhas dendríticas em
algumas áreas do cérebro aumentam em relação a estímulos do ambiente; em
modelo animais mostraram que ambientes com riqueza de cores e estímulos
causavam alteração na morfologia dos dendritos, o que ocasionava uma maior
capacidade do neurônio de fazer conexões e realizar aprendizado. Dados em
microscopia do neurônio mostraram o desaparecimento e o aparecimento de
espinhas dendríticas no neurônio refletindo sobre as sinapses em algumas regiões
do cérebro. Tais evidências apontam que “o ambiente pode modificar sinapses do
SNC, demonstrando sua plasticidade, que pode estar relacionada a memória e ao
aprendizado” (Machado & Haertel, 2014). Estudos têm mostrado que em crianças

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com déficits intelectuais como na Síndrome de Down existe uma redução no número
das espinhas dendríticas, daí a importância da estimulação precoce para aumentar a
reserva cognitiva dessas crianças (Machado & Haertel, 2014).
- Axônio
De acordo com Machado e Haertel (2014), a maioria dos neurônios possui um
prolongamento longo e fino, que emerge do corpo do neurônio. Os axônios
apresentam uma grande variedade de tamanhos, que pode variar de milímetros a
metros de comprimento – basta pensar que, para sentirmos dor no dedo do pé
existem fibras de axônios que partem do cérebro a chegam ao pé, e mandam
informações do pé ao cérebro para executar algum comportamento-. O axônio após
emitir seus colaterais, geralmente sofre uma arborização nos terminais axonais,
ampliando sua capacidade de emitir informações para vários neurônios.

FIQUE ATENTO!
Organelas celulares
- Pericário comumente chamado de corpo celular ou soma é a parte mais abundante
do córtex cerebral. Nele se encontra o núcleo e demais organelas celulares como os
- Ribossomas envolvidos na síntese enzimática e responsável pela síntese das
proteínas da célula.
- Mitocondrias realizam a respiração celular (entrada de O² e saída de CO²), utilizam
o oxigênio e a glicose transformando em energia em forma de ATP (trifosfato de
adenosina) que é devolvido para a célula.
Para saber mais sobre esse assunto, acesse: MOREIRA, Catarina. Modelo
Endossimbiótico. Revista de Ciência Elementar, v. 3, n. 3, 2015.

1.2.1 Atividade elétrica dos neurônios


A membrana celular faz a distinção entre dois ambientes celulares (interno e
externo) e apresenta composições de íons próprios: no ambiente intracelular
(citoplasma) existe uma predominância de íons com carga negativas; já o ambiente
extracelular as cargas são positivas. Cargas intra e extracelular da membrana são
responsáveis pelo estabelecimento do potencial elétrico neuronal. O movimento dos
íons, para dentro e fora da membrana celular permitem a ativação neuronal. Ou

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seja, a entrada de íon positivo dentro da célula e saída de íons negativos para fora
e, posteriormente, sua reversão, fazendo como um movimento de onda pelo corpo
do neurônio e o axônio. Essas alterações são denominadas fenômenos de
despolarização e hiperpolarização celular. A despolarização é sempre excitatória e
em termos gerais, significa o aumento de carga negativa no citoplasma da
membrana celular. Já a hiperpolarização é fruto de uma ação inibitória, e significa
um aumento da carga negativa no lado de dentro da célula, ou o aumento da carga
positiva do lado de fora da célula (Machado & Haertel, 2014).

SAIBA MAIS!
De acordo com Moreira (2013), o potencial de ação neuronal é caracterizado por
uma rápida alteração do potencial elétrico do neurônio. De forma mais significativa
a mudança na concentração de íons de Na (Sódio) e K (potássio) dentro e fora da
membrana celular.
Ver na íntegra: MOREIRA, Catarina. Neurónio. Revista de Ciência Elementar, v. 1,
n. 1, 2013.

O axônio é portanto especializado em conduzir o potencial de ação na célula.


Cabe ressaltar ainda que no SNC existem canais iônicos sensíveis a: potencial
elétrico no neurônio, a neurotransmissores ou estímulos mecânicos, assim como de
distensão e pressão, dentre outros (Machado & Haretel, 2014).

1.2.2 Sinapses
Os neurônios entram em contato com outros neurônios, passando-lhes e
recebendo informações, principalmente pelos terminais axonais, sem que haja um
contato direto entre eles. Os locais de troca dessas informações é denominado de
sinapseinterneural. No sistema nervoso periférico, os terminais axonais podem
também relacionar-se com células não neurais, com células musculares controlando
suas funções. Quanto à tipificação, as sinapses podem ser elétricas ou químicas
(Machado & Haertel, 2014).

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FIQUE ATENTO!
Nas sinapses elétricas existe a comunicação iônica, através do canais iônicos
concentrados em cada uma das membranas em contato. Esses canais são
projetados no espeço intercelular, de modo a estabelecer comunicações
intercelulares, que permitem a passagem direta de moléculas pequenas, como os
íons do citoplasma de uma célula para outras. Elas acontecem por exemplo, no
centro respiratório situado no bulbo, e permitem o disparo de forma sincronizada
dos neurônios desse local, responsáveis pela respiração ritmada.
Já as sinapses químicas são a maioria em vertebradas, a comunicação intercelular
depende da liberação de substâncias químicas chamadas de neurotransmissores.

1.2.3 Neurotransmissores

Acreditava-se até pouco tempo atrás que cada neurônio sintetizasse apenas
um tipo específico de neurotransmissor. Atualmente já se sabe que não ocorre
especialização de neurotransmissores, ou seja, um único neurônio é capaz de
sintetizar vários tipos de neurotransmissores. Os neurotransmissores são os
responsáveis pelas sinapses químicas. A sinapse química ocorre via polarização
celular, ou seja, possui neurotransmissores apenas em um dos lados da
comunicação, nos terminais axonais entre os neurônios que são ativados, nesse
caso, ele é chamado de elemento pré-sináptico. O neurotransmissor é sintetizado no
neurônio e fica armazenado nas vesículas sinápticas e liberado na fenda sináptica
de acordo com o tipo de informação a ser efetuada (Machado & Haretel, 2014).

IMPORTANTE!
Por muito tempo, a ciência tinha o entendimento que as vesículas sinápticas eram
produzidas apenas no pericárdio, sendo posteriormente levadas até as terminações
axonais, por meio do fluxo axoplasmático. Porém, na atualidade já se tem ciência de
que em algumas situações, elas podem ser produzidas na própria terminação
axônica a partir do reticulo endoplasmático (Machado & Haertel, 2014).

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Para que haja uma perfeita comunicação neuronal via sinapses, é necessário
que o neurotransmissor seja rapidamente retirado da fenda sináptica. Do contrário,
aconteceria a excitação ou inibição da membrana por um tempo mais que o
necessário, podendo gerar impactos negativos no processo de adaptação a
demandas variadas. A degradação do neurotransmissor excedente na sinapse, pode
ser feita por ação de enzimas, como por exemplo a monoamina-oxidase -MAO-
(utilizada em alguns medicamente antidepressivos para o tratamento de alguns tipos
de depressão) no passado eram prescritas medicações que realizavam a inibição da
MAO, permitindo que o neurotransmissor ficasse mais tempo na fenda sináptica e
pudesse ser assimilado pelo canal pós-sináptico, o que gerava a melhoria do humor.
Todavia, tais medicações inibidoras da monoamino-oxidase IMAO causavam muitos
efeitos colaterais, atualmente, é raramente prescrito IMAO para tratamento da
depressão, pois, existem vários outros tipos de medicações que agem de outras
formas e com menor intensidade de efeitos colaterais (Machado & Haertel, 2014).

FIQUE ATENTO!
Para que haja uma perfeita comunicação neuronal via sinapses, é necessário que
o neurotransmissor seja rapidamente retirado da fenda sináptica. Do contrário,
aconteceria a excitação ou inibição da membrana por um tempo mais que o
necessário podendo gerar impactos negativos no processo de adaptação a
demandas variadas.

1.3 FORMAS DE ABORDAGEM DA COGNIÇÃO HUMANA

É admirável que a abordagem cognitiva esteja sendo cada vez mais relevante
no campo das ciências. Nessa área, é reconhecido que os processos cognitivos
exercem um papel relevante para a compreensão do desenvolvimento e na
abordagem de transtornos, das mais variadas áreas do saber, ligados à
comunicação social. Os processos cognitivos são mecanismos internos existentes
para extrair significado do ambiente e determinar qual ação é a mais apropriada para
um determinado contexto, dentre esses processos destacamos a atenção, a
percepção, a aprendizagem, a memória, a tomada de decisão, o raciocínio e o

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pensamento. Um ponto relevante sobre o psiquismo relacionado à cognição diz


respeito às neurociências. Ela é uma ciência que busca analisar o comportamento
das pessoas enquanto executam tarefas cognitivas. Nessa perspectiva, o termo
cognição passa a ser entendido de forma bem abrangente, incluindo a atividade, a
estrutura cerebral que entra em atividade, na tentativa de compreender a cognição
humana (Eysenck & Keane, 2017).
É relevante frisar que os objetivos dos neurocientistas são bem próximos aos
dos psicólogos cognitivos. Dessa forma, como apontam Eysenck e Keane (2017):

Os neurocientistas cognitivos defendem de forma convincente que


precisamos estudar o cérebro, bem como o comportamento, enquanto as
pessoas estão envolvidas em tarefas cognitivas. Afinal de contas, os
processos internos envolvidos na cognição humana ocorrem no cérebro.

Assim sendo, os neurocientistas cognitivos utilizam vários recursos


tecnológicos, de diferentes formas, para entender a cognição humana, que pode ser
pela: Ressonância Magnética Funcional RNMf, a Eletroencefalografia EEG ou o
estudo das lesões cerebrais na cognição humana. Acredita-se que os padrões de
prejuízos demonstrados por pacientes com lesões em áreas cerebrais podem ajudar
a entender o funcionamento cerebral normal. Existem hoje, predominantemente,
quatro grandes abordagens principais no estudos da cognição, que são a psicologia
cognitiva; a neuropsicologia cognitiva; a neurociência cognitiva e a ciência cognitiva
computacional (ver próximo capítulo) (Eysenck & Keane, 2017).

1.3.1 Psicologia cognitiva


Segundo Eysenck e Keane (2017), no ano de 1956 no Massachusetts Institute
of Tecnology – MIT-, grandes expoentes da ciência cognitiva fizeram exposição
muito importante sobre a cognição e deram start para o entendimento da mente
humana correlacionada com o modelo computacional. George Miller, falando sobre o
extraordinário número sete (ligado a memória operacional), bem como, Newell e
Simon (ver Newellet al, 1958) apresentando o General Problem Solver (solucionador
geral de problemas). Nesse encontro, deu início a tentativa sistemática de
compreender o processo de formação de conceitos, partindo de uma perspectiva
cognitiva.

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Eysenk e Keane (2017) ressaltam que um grande efetivo de psicólogos


cognitivos adotou o entendimento do processamento de informação, a partir de uma
analogia entre: mente e computador. A mente funcionando de forma similar ao
software e o corpo o hardware. Nessa visão, um estímulo que poderia ser um evento
ambiental, um problema ou uma tarefa, é apresentado ao cérebro; isso
desencadearia determinados processos cognitivos na busca pela tradução ou
percepção acurada do estímulo e, consequentemente, o processamento de ideias e
a tomada de decisão. Veja abaixo uma versão inicial da abordagem do
processamento de informação:

Figura 02 – Processamento de informação

Estímulo Resposta ou ação

processamen
Atenção Percepção to de decisão
pensamentos

Fonte: Eysenck e Keane, (2017 pg. 02)

Um estímulo ativa fenômenos atencionais, que carecem de ser interpretados


via percepção e processamento de pensamentos, emoções ou modelos mentais, e
promove a tomada de decisão, sobre qual a resposta ou ação é a mais adequada
àqueles determinados estímulos.
Sternberg (2008) ressalta que “a atenção é o meio no qual processamos
ativamente uma quantidade limitada de informação, a partir da enorme quantidade
disponível”. Sternberg (2008), por meio dos nossos órgãos do sentido, bem como
das memórias armazenadas que nos permitem decodificar o que são os objetos ou
pensamentos que povoam as mentes. A atenção também sofre impacto dos nossos
processos cognitivos, tanto básicos quanto superiores. Nossa capacidade de manter
atenção focada, determina o grau de competência com que realizamos tarefas
como: é feito a compreensão de ideias, símbolos e metáforas, o que tem forte
impacto sobre nosso aprendizado, bem como no aprimoramento da memória. Ela
permite a percepção das emoções e o porquê das mesmas estarem como estão, e

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não de outra forma; por exemplo, ao ficar com raiva de alguém, podemos perceber a
emoção raiva e dar um significado ou razão para sentir essa emoção negativa.
Para Eysenck e Keane (2017) seguindo o esquema apresentado
anteriormente, o processamento cognitivo pode se dar de diferentes formas com
algumas peculiaridades muito relevantes:
- Processamento Botton-up (baixo para cima), um tipo de processamento
acionado diretamente pela emissão de estímulos. Possui uma dimensão mais pré-
consciente, pois, os seus conteúdos codificados são considerados automáticos ou
melhor dizendo, proceduralizados (estado que muda de um estado de consciência
para o automático, poupando energia no processamento de informações). Algumas
de suas características são: opera em milissegundos, de forma muito veloz, pois, o
sujeito já tem “modelo mental” esquematizado e, portanto, não precisa perder tempo
com o que já é conhecido (ainda que de forma não assertiva). Alguns teóricos
apontam que existe uma certa conotação intuitiva sobre as coisas, o que contribui
para fazer nossas rotinas habituais, com pouco desgaste de energia e, de certa
forma, guia nossas ações.
- Processamento serial: A literatura sugere que ele ocorra somente um
processo por vez em determinado momento, ou seja, é um processo serial. Nosso
cérebro apenas dá conta de uma ideia por vez, ao contrário do que muitos pensam
que conseguem fazer muitas coisas ao mesmo tempo.
- Processamento Top-down (cima para baixo) é um tipo de processamento
mais complexo, que sofre interferência de vários processos como: das expectativas,
do conhecimento prévio do sujeito e do histórico de tomada de decisões arquivadas
na memória. Ele ocorre de forma mais lentificada, pois, exige que o sujeito acesse a
memória, a atenção e verificar se já existe uma informação válida para ser utilizada
no instante da apresentação de determinado estímulo. Portanto, ele tem um caráter
mais voluntário, portanto, exige um esforço para que a informação possa ser
processada e compreendida corretamente, ou não. Com isso,o homem é capaz de
aprender novos modelos, fazer novas estratégias de ação, para que posteriormente
sejam proceduralizadas ou automatizadas, poupando energia.

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1.3.2 Neuropsicologia cognitiva


Essa corrente teórica possui como objeto de estudo os padrões do
desempenho cognitivo que se mantém preservado ou deficitário nos sujeitos. Os
pacientes que buscam esse profissional, normalmente sofreram lesões, ou existe a
suspeita de alguma disfunção, devido a danos nas estruturas cerebrais (Eysenk &
Keane, 2017).
A princípio pode-se achar que o neuspsicólogo tem como objeto de estudo o
cérebro, todavia esse não é o principal foco, mas sim, de acordo com Collherat
como citado por Eysenk e Keane,( 2017), “o objetivo principal da neuropsicologia
cognitiva não é aprender sobre o cérebro. Em vez disso, seu objetivo principal é
aprender sobre a mente, elucidar a arquitetura funcional da cognição”.
Vejamos a seguir algumas suposições básicas da neuropsicologia que
propiciam o entendimento de como se estrutura a mente humana. Para Eysenk e
Keane (2017), existem alguns aspectos constitutivos da mente que são:
(I) Modularidade: o sistema cognitivo consiste de vários módulos ou estratégias
de processamento, que operam de forma mais ou menos independente. Acredita-se
que exista uma especificidade de domínio, ou seja, estímulos precipitam respostas
apenas sob determinados domínios, que possuam ligação com alguns esquemas
cognitivos de reconhecimento; por exemplo, o modo reconhecimento de face é
acionado apenas quando o estímulo é apresentado, no caso ao estar frente a faces
conhecidas ou não.
(II) Modularidade anatômica: cada módulo apresenta uma correlação direta
com alguma área específica do cérebro; essa ideia encontra alguns opositores, pois,
alguns pacientes apresentavam a mesma ativação do cérebro ao realizar tarefas
bem distintas.
(III) Uniformidade da arquitetura funcional entre as pessoas: por esse conceito
é possível relacionar áreas e funções, seguindo modelos de entendimento das
funções corticais; por exemplo, aspecto de reconhecimento de faces está
relacionado no córtex cerebral, mais precisamente no giro fusiforme em todas as
pessoas.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
17

1.3.3 Neurociência cognitiva


Bullmore e Sporns como citado por Eysenk e Keane (2017) defendem dois
princípios importantes sobre como se dá a organização cerebral. Para os autores, a
organização se dá por meio do controle de custos e pelo princípio da eficiência. O
cérebro busca sempre a redução do gasto de energia para compreender o mundo,
para tal, ele cria rotas cognitivas, e consolida modelos de entendimento dos
estímulos que, posteriormente são evocados e, seguindo o princípio da eficiência;
caso o modelo mostre “resultado satisfatório”, ele será sempre acionado ao menor
sinal de percepção entre os estímulos semelhantes ao modelo, poupando assim
energia.

1.4 INTRODUÇÃO PARA AS TÉCNICAS PARA O ESTUDO DO CÉREBRO

Os constantes avanços tecnológicos estão possibilitando cada vez mais a


compreensão do funcionamento e da estrutura cerebral em sujeitos ainda com vida.
De acordo com Eysenk e Keane (2017):

Em princípio, podemos descobrir onde e quando ocorrem processos


cognitivos específicos. Isso nos permite determinar a ordem em que
diferentes áreas cerebrais se tornam ativas quando alguém realiza uma
tarefa. Também nos permite descobrir se duas tarefas envolvem as mesmas
áreas cerebrais da mesma maneira ou se existem diferenças importantes.

Vejamos a seguir algumas das principais técnicas empregadas para o estudo


do cérebro:
- Registro de Unidade Isolada: consiste na instalação de um microelétrodo para
estudar a atividade típica de um neurônio específico. Ela é uma técnica das mais
minuciosas para estudo neuronal. Todavia é também uma técnica muito invasiva,
sendo raramente usada em humanos. Utiliza-se esse modelo mais para estudar a
cognição com modelos animais.
- Potenciais Relacionados a Eventos (ERPs): nesse experimento existe a
apresentação de um ou mais estímulos para que o paciente faça alguma
“correlação” pessoal entre os estímulos. Eletrodos são colocados no couro cabeludo
para medir a atividade elétrica cerebral acionada, quando estímulos são
apresentados. Essa técnica permite investigar vários processos cognitivos com uma

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precisão temporal excelente, apresenta-se o estímulo e a atividade é coletada


instantaneamente. Todavia esse processo peca em relação à identificação espacial
da área ativada (qual região cortical realmente foi acionada ao apresentar o
estímulo). Nessa técnica é avaliado o tempo de reação em média no
eletroencefalograma EEG que pode ter picos positivos chamados de P300 ou picos
negativos N400.
- Tomografia por Emissão de Pósitrons (TEP) Técnica que avalia quais áreas
realizaram maior gasto de o² frente a algum estímulo. Essa técnica tem uma grande
vantagem por mostrar o evento com muita precisão temporal e espacial. Ela consiste
na emissão de um pulso magnético que causa um alinhamento dos prótons, e,
posteriormente, retornam a sua posição original. Assim, as regiões mais brilhantes
no cérebro após o pulso, marcam o local de maior gasto de energia. Essa técnica é
apta a informar apenas sobre a estrutura cerebral e não sobre as funções cerebrais.

IMPORTANTE!
Ao estudar a relação entre estrutura e função cerebral podemos descobrir onde e
quando ocorrem processos cognitivos específicos. Isso nos permite determinar a
ordem em que diferentes áreas cerebrais se tornam ativas quando alguém realiza
uma tarefa. Também nos permite descobrir se duas tarefas envolvem as mesmas
áreas cerebrais da mesma maneira ou se existem diferenças importantes.

- Magnetoencefalografia (MEG): técnica utilizada na mensuração dos campos


magnéticos produzidos pela atividade elétrica cerebral. Fornece informações
minuciosas em milissegundos sobre o curso temporal dos processos cognitivos,
porém, sua resolução espacial é parcialmente boa.
- Estimulação Magnética Transcraniana (TMS): técnica não invasiva que
consiste em posicionar uma bobina próxima ao crânio do paciente e faz-se a
emissão de um pulso magnético que inibe o processamento cognitivo na região
cerebral. Vários estudos têm utilizado essa técnica para tratamento de depressão
refratária, pois, acredita-se que esse transtorno afete o córtex dorsolateral frontal; os
resultados, apesar de promissores, ainda não são conclusivos, carecendo de mais
pesquisa.

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IMPORTANTE!
Potencial relacionado a estímulos P300 e N400 de acordo com TSOLAKI, A. et al
(2015) é uma medida de tempo da atividade elétrica na superfície cerebral
representando a ativação de uma fase distinta do processamento cognitivo. Eles
são uma importante ferramenta para estudo dos processos cognitivos, tais como
recepção e processamento de informações sensoriais.
P300
Ele é o mais estudado dos EPRs utilizando o paradigma odball, que consiste em
um processo de ativação de memória operacional no córtex frontal, que produz um
pico positivo por um tempo de 300milisegundos.
N400
De maneira geral o N400 representa um índice de dificuldade para acionar
padrões de reconhecimento de relações entre estímulos, imagens ou palavras.
Portanto, no EEG ao apresentar o estímulo não reconhecido, existe uma demora
em processar a informação e gera um pico negativo por aproximadamente 400
milissegundos.
Para saber mais acesse em: TSOLAKI, A. et al. Brain source localization of MMN,
P300 and N400: Envelhecimento e diferença de gênero. Brain research, v. 1603,
p. 32-49, 2015. Acesso em: 02/19

Eysenk e Keane (2017), ao apresentar a TMS ressaltam que:

Essa técnica foi (jocosamente) comparada a bater no cérebro de alguém


com um martelo. Os efeitos da TMS são frequentemente mais complexos do
que o sugerido até o momento. De fato, ocorre muitas vezes uma
interferência porque a área cerebral na qual a TMS é aplicada é envolvida
no processamento da tarefa, assim como na atividade resultante da
estimulação da TMS.

A neurociência cognitiva é muito útil quando combinada com outras


abordagens, pois, fica evidente que existe uma integração e correlação entre as
atividades cognitivas, em diferentes áreas do cérebro, o que abre espaço para que
várias ciências possam contribuir para o entendimento do funcionamento cognitivo,
saberes como da neurologia, da psiquiatria, da psicologia, da pedagogia dentre
outros (Eysenk & Keane, 2017).

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1.5 CIÊNCIA COMPUTACIONAL COGNITIVA

Cabe aqui esclarecer a distinção entre inteligência artificial IA e a modelagem


computacional. A IA de acordo com Eysenk e Keane (2017) “envolve a construção
de sistemas de computador que produzem resultados inteligentes, mas os
processos envolvidos podem ter pouca semelhança com os usados pelos seres
humanos”. Já a modelagem computacional, ainda segundo os autores, diz respeito
“a programação de computadores para simularem ou imitarem aspectos do
funcionamento cognitivo humano".
A maior parte dos modelos computacionais tem como intenção avaliar aspectos
comportamentais, a partir de experimentos em psicologia cognitiva. Atualmente os
modelos estão sendo correlacionados com os dados neuropsicológicos. O ponto de
partida desse modelo é conseguir explicar o desempenho cognitivo em sujeitos
sadios, ao realizar algumas tarefas específicas. Posteriormente, será possível criar
modelos computadorizados com “lesões” e permitir investigar quais as alterações
hipoteticamente iram afetar o processamento cognitivo, e depois realizar a
comparação com os comportamentos de sujeitos com lesão cerebral (Eysenk &
Keane, 2017).
A ciência cognitiva computacional, portanto, apresenta muitas vantagens
dentre as quais destacamos, conforme aponta Eysenk e Keane (2017):
(I) Fornece a perspectiva abrangente que possibilita compreender processos
complexos da cognição.
(II) Amplificação da possibilidade de fazer correlação entre dados
comportamentais e de neuroimagem funcional. Neurocientista elaboram um modelo
específico no computador para estudar o impacto das lesões corticais sobre o
processamento cognitivo e fazer uma analogia quanto a possíveis alterações
cognitivas em seres humanos.
(III) Exige do pesquisador uma maior precisão e adoção de critérios mais
rigorosos na construção dos modelos para que sejam aplicáveis ao estudo em
humanos.
(IV) A possibilidade de fazer uma imagem incremental animada dos processos
cognitivos.

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Fica assim evidente a importância da necessidade por aprofundar os estudos


sobre as tecnologias existentes, que já estão à disposição para o entendimento das
funções cognitivas. Cabe agora aos profissionais envolvidos na ciência do
entendimento do funcionamento cerebral, refletir sobre como pode ser mais um
parceiro na produção de material que traga luz para o entendimento dos impactos
das alterações cognitivas sobre as crianças, e avaliar a eficiência/eficácia dos
estímulos expostos em sala de aula e analisaras metodologias de ensino-
aprendizagem atuais. Pois, as crianças serão os novos cientistas que irão se
desenvolver e trazer mais perguntas e respostas a questões ainda obscuras sobre
como se dá o processamento de informações corticais.

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
BOMFIM, C. Diferença entre neurônio e nervo. Rev. Original e exclusivo, (s/d).
Disponível em: https://originaleexclusivo.com.br/diferenca-entre-neuronio-e-nervo/
Acesso em: 03/19

EYSENCK, M. W.; KEANE, M T. Abordagens da Cognição humana; in: Manual


de Psicologia Cognitiva-7. Editora Artmed, Porto Alegre, 2017.

MACHADO, A. BM. Tecido nervoso. In: Neuroanatomia funcional. Ed. Atheneu,


São Paulo,2014.

MOREIRA, Catarina. Neurónio. Revista de Ciência Elementar, v. 1, n. 1, 2013.

STERNBERG, Robert J.; OSÓRIO, Maria Regina Borges. Neurociência cognitiva;


in: Psicologia cognitiva. Ed. Artmed Porto Alegre, 2008

TSOLAKI, A. et al. Brain source localization of MMN, P300 and N400: aging and
gender differences. Brainresearch, v. 1603, p. 32-49, 2015.

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CAPITULO 02 - ANATOMIA CEREBRAL

O cérebro humano, sem sombra de dúvida, é o órgão mais extraordinário do


universo. Pois, o próprio universo é estruturado e compreendido somente por
intermédio desse órgão. Estudar então o cérebro é embarcar em uma viajem com
muita informação sobre suas partes e sua organização. Sabemos que ainda há
muito a se descobrir sobre ele, então vamos em frente.

2.1 DIVISÃO DO SISTEMA NERVOSO

A apresentação do sistema nervoso aqui será realizada levando em conta


critérios anatômicos, embriológicos e funcionais. A divisão apresentada por
Machado e Haertel (2014) é bastante didática e clara:

Figura 03: Divisão do sistema nervoso por critérios anatômicos.

Fonte: Machado e Haertel (2014, pg. 13)

- Sistema nervoso central: está localizado dentro do esqueleto na cavidade


craniana e no canal vertebral. O cérebro é constituído pelo telencéfalo (que constitui
os hemisférios cerebrais) e diencéfalo (constitui o tálamo, hipotálamo, epitátalo e
subtálamo), constitui a porção mais desenvolvida e de maior importância do
encéfalo.

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2.2 ANATOMIA FUNCIONAL DO CÓRTEX CEREBRAL

A possibilidade de estudar o funcionamento cortical com o sujeito vivo, sem


anestesia ou qualquer outro procedimento invasivo é relativamente recente, por
meio da imagiologia. Isso causou um forte impacto na neuroanatomia funcional,
pois, processos completamente desconhecidos e que ocorrem o tempo todo na
mente humana, hoje já se começa a entender. Isso possibilita desenvolver
estratégias intervencionais mais eficientes em casos que se fizerem necessários.

2.2.1 Aspectos filogenéticos do sistema nervoso


De acordo com Schimidek e Cantos (2008) o cérebro humano é
proporcionalmente o mais pesado e o maior entre os animais. Sua formação vai
desde a terceira semana de gestação, e vai atingir o seu mais alto grau de
maturação próximo aos cinco anos de idade. A zona mais externa do cérebro é
chamada de córtex, e ela é muito desenvolvida no homem, quando comparado aos
outros animais. A evolução filogenética do sistema nervoso possui três etapas
básicas: (I) encéfalo reptiliano, responsável pela manutenção da vida, pela vida
vegetativa, controlando a respiração, frequência cardíaca e etc., consiste nas áreas
da medula, tronco encefálico, amigdala (ligado às respostas de medo) e hipocampo
(forte ligação à memória; (II) encéfalo límbico (ligado aos aspectos emocionais) e (III)
encéfalo humano (responsáveis pelas nossas funções cognitivas superiores como
linguagem, funções executivas, planejamento, raciocínio, controle inibitório dentre
outros).
Com o desenvolvimento do encéfalo humano, houve o desenvolvimento de
dois hemisférios cerebrais idênticos (esquerdo e direito). Do ponto de vista funcional,
o hemisfério esquerdo especializou em processar e criar relações lógicas, analíticas
e de controle da linguagem, dentre outros. Já o hemisfério direito é mais
especializado em aspectos não verbais, afetivos, criativos, intuitivos e emocionais.

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Quadro 01: Funções dos hemisférios cerebrais


Funções Hemisfério esquerdo Funções Hemisfério direito
2
Léxico verbal Não verbal (mas ligado à prosódia )
Raciocínio Intuitivo
Analítico Afetivo
Matemático Artístico
Temporal
Fonte: Elaborado pelo autor, 2019

Schimidek e Cantos (2008) apresentam que os dois hemisférios cerebrais são


ligados por um feixe de nervos chamado de corpo caloso. É nessa região que um
hemisfério passa a interagir com o outro, compondo a arquitetura do pensamento,
do raciocínio e da percepção. Os autores ressaltam, porém, que alterações na
estrutura cerebral estão ligados a disfunções no processo de tomada de decisão e
resolver problemas complexos. Entretanto, os pesquisadores salientam que:

Embora os dois “cérebros” estejam altamente conectados e dependam


constantemente um do outro, visando um funcionamento integrado, cada
um contribui de modo diverso para nossa experiência de vida e para nosso
comportamento. O resultado da interação determina o que sentimos, a
nossa relação com o mundo e os nossos relacionamentos com os outros.
Quando há cooperação ocorre uma harmonia interna (Schimidek& Cantos,
2008).

De acordo com Schimidek e Cantos (2008), para que haja uma boa
comunicação entre os hemisférios cerebrais existem ainda várias substâncias que
permitem o circular das informações, nos meios interno externo, que são:
- Neurotransmissores: substâncias produzidas pelos neurônios, também
chamadas de moléculas mensageiras. Elas agem nas sinapses (espaço entre os
neurônios). Elas atuam no encéfalo, na medula espinhal, nos nervos e músculos.
- Neuromoduladores: são produzidos pelos neurônios e liberados nas
terminações do axônio e causam modificação no estado funcional das células que
estão conectadas. Geralmente têm uma ação mais prolongada que os
neurotransmissores.
- Hormônios: São substâncias químicas produzidas por órgãos do sistema
endócrino, transmitidas diretamente pelo sangue. Sua função é mais reguladora do
funcionamento de órgãos e regiões do corpo, podendo ser inibitória ou excitatória.

2
Voltado a percepção das características dos sons da fala, como perceber a entonação a
acentuação, o ritmo da fala.

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Normalmente essas substâncias interagem de forma integrada, sendo


liberadas em situações específicas.

2.3 ANATOMIA DO TELENCÉFALO

Todos os vertebrados têm um sistema nervoso central -SNC- que é composto


pelo encéfalo e a medula espinhal. O encéfalo é constituído por três partes
estruturais: cérebro, cerebelo e o tronco encefálico. O tronco encefálico é
subdividido por três porções: mesencéfalo, ponte e bulbo. O bulbo está ligado na
medula espinhal; a demarcação entre o fim do buldo e início da medula se dá muito
mais por uma demarcação convencional, o chamado forame magno no crânio
humano (Cosenza, 2005; Machado & Haertel, 2014).
O telencéfalo é constituído por dois hemisférios e separados por um grupo de
feixes neuronais, chamado de corpo caloso, - pacientes que possuem agenesia de
corpo caloso manifestam um obscura classe de sintomas por apresentarem o
cérebro dividido; nesses sujeitos as informações não convergem entre si -. Cada
hemisfério cerebral é dividido em lobos denominados: frontal, parietal, temporal e
occipital delimitados por sulcos (depressões no córtex) e giros (abaulações no
córtex) (Figura 01) (Machado & Haertel, 2014).

Figura 04: Cérebro vista superior

Giros Sulcos

Fonte: Nether, 2000

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A existência de sulcos no encéfalo acontece por causa do grande


desenvolvimento do córtex cerebral que, para caber no crânio, precisa se espremer,
e essa capacidade possibilita um aumento no volume do cérebro. Observa-se que
dois terços da porção ocupada pelo córtex cerebral, estão ocultas por sulcos. Alguns
sulcos são mais constantes no cérebro e recebem nomeações e contribuem para a
delimitação dos lobos cerebrais. Os mais relevantes são os sulcos lateral e sulco
central (Fig 02) (Machado & Haertel, 2014).

IMPORTANTE!
Do telencéfalo é constituído por dois hemisférios e separados por um grupo
de feixes neuronais chamado de corpo caloso – pacientes que possuem
agenesia de corpo caloso manifestam um obscura classe de sintomas por
terem o cérebro dividido, as informações não convergem entre si -. Cada
hemisfério é dividido em lobos denominados: frontal, parietal, temporal e
occipital delimitados por sulcos (depressões no córtex) e giros (abaulações
no córtex).

Figura 05 Vista lateral cérebro

Sulco central

Sulco lateral

Fonte: Nether, 2000

 Sulco Central: É um sulco que separa os lobos frontal e parietal. Ele


separa duas áreas muito importantes na função cerebral. Ele divide o

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cérebro entre as áreas motoras (anterior ao sulco central) das áreas


sensitivas (posterior sulco central); chamados respectivamente de giro
pré-central motor e pós central sensitivo.
 Sulco lateral: Separa o lobo temporal do frontal.

Os ossos do crânio são utilizados como referência para denominar as áreas


com as quais se relacionam. Portanto, existem o lobo frontal, temporal, parietal e
occipital. Para além desses ainda existe a região da ínsula.
De acordo com Machado e Haertel (2014) a suas partes funcionais são:
(I) Lobo frontal: Na parte inferior do lobo frontal apresenta um importante sulco,
chamado olfatório profundo a de direção anteroposterior. O sulco olfatório abriga o
bulbo olfatório.
De acordo com Machado e Haertel (2014) o tronco encefálico fica entre a
medula e o diencéfalo. A sua constituição é composta por núcleos e fibras nervosas
-os núcleos do tronco encefálico são um agrupamento de corpos de neurônio fora do
neo-córtex-, que se agrupam novamente formando os tratos, fascículos ou
lemniscos – essas estruturas são demarcadas por relevos ou depressões na
superfície do cérebro. Grande parte dos núcleos do tronco encefálico recebem e
emitem fibras que, posteriormente, irão formar os doze nervos cranianos. Dos 12
pares de nervos cranianos, dez partem do tronco encefálico (Fig. 01) (Cosenza,
2005; Machado &Haertel, 2014).

2.3.1 Bulbo
Como foi dito anteriormente, não é tão fácil a demarcação do término do bulbo
e início da medula. Mas seu limite superior é identificável, por meio da localização de
um sulco horizontal visível no córtex, chamado de sulco bulbo-pontino, por questões
óbvias. Na porção mais anterior do bulbo é possível observar a fissura mediana.
Entre a fissura e os sulcos laterais, fica localizada uma região chamada de pirâmide.
Nessa região, ocorre a ligação das áreas motoras do cérebro com os neurônios
motores da medula (Cosenza, 2005).

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2.3.2 Ponte
A ponte é uma parte que fica entre o mesencéfalo e o bulbo, fica na parte
anterior do cerebelo e repousa sobre a base da região occipital. No limite entre a
ponte e o pé do cerebelo emerge dali o nervo trigêmeo. Na região do chamado sulco
bulbo-pontino emergem os nervos cranianos: nervo abducente; nervo vestíbulo-
coclear; nervo facial. O grande número de raízes dos nervos cranianos em uma
pequena área cerebral, explica a manifestação de vários sintomas observados nos
casos de tumores, por exemplo. (Ver Síndrome do ângulo ponto cerebelar3)
(Cosenza, 2005; Machado &Haertel, 2014).
Na região da ponte emerge o trigêmeo V par de nervo craniano, que apresenta
duas raízes, uma mais volumosa sensitiva que inerva grande parte da sensibilidade
da face e outra raiz mais delgada que é motora (Cosenza, 2005).

Figura 06: Vista anterior do tronco encefálico

Fonte: Machado e Haertel (2014)

3
Ver: http://portalsbn.org/manualsbn/2016/09/07/6-4-tumores-do-angulo-ponto-cerebelar-apc/ acesso
em 02/19

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2.3.3 Mesencéfalo
Área localizada entre a ponte e o diencéfalo. É a menor parte do tronco
encefálico. De acordo com Cosenza (2005), nessa região emergem quatro
eminências arredondadas: denominadas de colículo superior e inferior. Logo abaixo
desses colículos inferiores emerge o nervo troclear o quarto nervo craniano.
Os colículos formam o teto do mesencéfalo. Nesta região está localizado um
importante grupo de neurônios do mesencéfalo, a chamada sustância negra,
formada por neurônios que contêm a melanina. Ele é atravessado por um estreito
canal denominado aqueduto cerebral; um canal que liga os terceiro e quarto
ventrículos, e permite a passagem do líquido cefalorraquidiano a medula aos
ventrículos cerebrais (Cosenza, 2005; Machado & Hartel, 2014).

Figura 07: Vista posterior tronco encefálico

Fonte: Machado e Haertel (2014)

2.3.4 Cerebelo
Cerebelo (deriva do latim, cérebro pequeno) está localizado atrás da ponte e do
bulbo, ele contribui para formar o assoalho de quarto ventrículo (espaço onde circula

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o cérebro espinhal). Ele está ligado a medula e ao bulbo pelo pedúnculo cerebelar
inferior; e no pedúnculo cerebelar superior, faz conexão com o pedúnculo cerebelar
médio e superior.
De acordo com Machado e Haertel (2014) o cerebelo é um órgão muito
importante para a manifestação de comportamentos controlados, que envolvem:
- Equilíbrio e manutenção da postura: ele possibilita a contração organizada
entre os músculos, de modo a manter o equilíbrio e a postura normal, mesmo
quando o corpo está em deslocamento.
- Controle do tônus muscular: sabe-se que o cerebelo apresenta esta função
pois, os pacientes que apresentam a descerebelização, acontece a perda no tônus
dos músculos.
- Aprendizagem de habilidades motoras: à medida que existe uma repetição de
determinados movimentos, por várias vezes, o comportamento passa a ser
executado com mais facilidade, velocidade e com menos erros. Isso mostra que o
SN aprende a realizar tarefas motoras.
- Coordenação dos movimentos voluntários: Graças as manifestações de
incoordenação motora -ataxia- apresentadas por pacientes com lesões no cerebelo,
nos permite atribuir a ele, a função de orquestrar nossos movimentos voluntários.
Esse mecanismo de controle acontece de duas etapas: (I) Planejamento do
movimento (elaborado pelas vias cérebro-cerebelo, a partir de dados conduzidos
pela via córtico-ponto-cerebelar, de áreas do córtex envolvidos nas funções
psíquicas superiores, também conhecida como áreas de associação e que
expressam a deliberação do movimento). (II) Correção dos movimentos planejados:
ao iniciar um movimento entra em ação, as vias espino-cerebelar, promovendo
correções e realizando os ajustes necessários para que o comportamento seja
executado da forma mais adequada.

FIQUE ATENTO!
O cerebelo é um órgão muito importante para a manifestação de
comportamentos controlados, que envolvem: equilíbrio e a manutenção da
postura, controle do tônus muscular, aprendizagem de habilidades motoras,
coordenação dos movimentos voluntários.

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Mesmo com sua evidente ligação com os aspectos do comportamento, novos


estudos em neuroimagem funcional têm mostrado que existe relação entre o
cerebelo e questões cognitivas pela via cérebro-cerebelo. Cerebelo possui vias de
conexão com o córtex pré-frontal que ajudam a realizar várias funções não motoras
como:
- resolver quebra-cabeça;
- associar palavras e verbos;
- resolver mentalmente operações complexas de aritméticas e
- reconhecer figuras complexas.

2.3.4.1 Síndromes cerebelares


Machado e Hartel (2014) destacam três síndromes cerebelares que são mais
comuns e seus impactos sobre a organização da vida.
a) Síndrome vestibulocerebelo
Lesões nessa região causam perda da capacidade de usar informações
adequadas para o movimento do corpo enquanto executa uma marcha ou ficar na
postura ereta. As lesões causam movimentos irregulares das pernas, tanto com
olhos aberto, quanto fechados. Não existe comprometimento dos braços e pernas
para realizar movimentos ordenados, se estiver deitado ou apoiado. Apresenta ainda
nistagno (movimentos dos olhos para os lados, constantemente, limitando a
capacidade para focar).
Ela manifesta com certa frequência em crianças de menos de dez anos de
idade, em geral está ligada a tumores no teto do quarto ventrículo cerebral.
b) Síndrome espino-cerebelar
Lesões nesse local levam a erro na execução dos movimentos, pois, essa
região para de processar informações de posição do corpo. O mecanismo de
funcionamento na região espino-cerebelar se dá por meio de programação das
ações antecipatórias, para que não haja erro na execução do comportamento. A
perda desse controle faz com que, por exemplo, um movimento de pinça para pegar
um grampo só aconteça depois que a mão já ultrapassou o limite no espaço para
efetivar a pega da pinça; como resposta, existe uma tentativa de correção, que na

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verdade causa ainda mais comprometimento, ocasionando um tremor terminal. Pode


ocasionar também nistagno, alteração da fala, ficando mais arrastada.
c) Síndrome cérebro-cerebelo
Lesões nessa região causam:
- atraso no início do movimento
- decomposição do movimento multiarticular: movimentos que são realizados
simultaneamente agora são realizados em uma sequência de início e término de um
movimento, para só depois realizar outro.
- Disdiadocinesia: comprometimento para efetuar movimentos com rapidez e
alternados; esses pacientes têm limitação, por exemplo, para atender o comando de
tocar o nariz com o indicador da mão direita e esquerda em sequência.
- Rechaço: o paciente perde a capacidade de fazer a paralização de um
movimento ao receber um comando. Por exemplo, pede-se ao paciente para
estender os braços para frente e solicita que façam força para erguer os braços, o
profissional por sua vez, força os braços para baixo, enquanto o paciente tenta
elevar o braço. Um paciente com essa região preservada, ao final da força exercida
pelo profissional, automaticamente interrompe a força de elevação dos braços. O
paciente com lesões nessa região vai elevar os braços como se a força ainda
estivesse em ação.
- Tremor: tremor causado quando o paciente voluntariamente tenta pegar algo
ou realizar algum movimento mais fino, como passar um folha, pentear cabelo e etc.
- Dismetria: o paciente perde a capacidade de dosar os movimentos
necessários para uma determinada ação. Testa-se essa habilidade solicitando ao
paciente para tocar a ponta do nariz com o dedo indicador. O paciente terá
dificuldade para acertar os movimentos para realizar a tarefa.
Ainda de acordo com Machado e Haertel (2014), o distúrbios cerebelares
podem estar ligados a várias outras condições como: malformação congênita,
questões de hereditariedade, tumores dentre outros.
Segundo Machado e Haertel (2014), quanto à fisiologia das células
cerebelares, elas guardam características interessante:

O cerebelo tem uma notável capacidade de recuperação funcional quando


há lesões de seu córtex, particularmente em crianças, ou quando as lesões
aparecem gradualmente. Para isso, concorre o fato de que o seu córtex ter

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uma estrutura uniforme, permitindo que as áreas intactas assumam pouco a


pouco as funções das áreas lesadas; entretanto essas recuperações não
ocorrem quando as lesões atingem os núcleos centrais.

2.4 NERVOS CRANIANOS

A conexão entre encéfalo é realizada pelos doze pares de nervos cranianos. A


maior parte desses nervos está ligada ao tronco encefálico, a exceção do nervo
óptico e olfatório. Conhecer sobre os nervos e suas questões funcionais precisa ser
entendido pelos profissionais que lidam com o processo de ensino e aprendizagem
(Machado &Haertel, 2014).
- Nervo Olfatório I par
Tem sua origem na região olfatória partindo das fossas nasais. Ele é um nervo
exclusivamente sensitivo, suas fibras conduzem os impulsos olfatórios. Segundo
Neto (2011), o declínio da aptidão para captar odores pode ser resultante da
degeneração de células centrais e pode não ter relação com alteração do aparelho
olfativo. O olfato pode ser um indício importante para o diagnóstico precoce de
algumas doenças neurodegenerativas como o Parkinson.
- Nervo óptico II par
É formado por um grosso feixe de fibras nervosas que partem da retina. Cada
nervo óptico se une com o do lado oposto, formando o chamado quiasma óptico. É
um nervo exclusivamente sensitivo.
- Nervo oculomotor III par
Este nervo surge a partir do sulco do pedúnculo cerebral, por meio da fissura
orbital. De acordo com Pereira et al. (2012), esse nervo é ligado às funções de
elevação do músculo da pálpebra, e vários outros músculos ligados ao movimento
ocular, exceto o músculo oblíquo superior e do músculo reto lateral. Lesões nesse
nervo podem ter como resposta dificuldade na elevação dos olhos.
Esse nervo também é importante para o reflexo pupilar à luz. O sistema
nervoso autônomo, por meio de ação de moderação da ação simpática e
parassimpática, que vai dilatar e comprimir o esfíncter pupilar; um dos testes mais
conhecidos para avaliar atividade cortical preservada ou comprometida.

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- Troclear IV par
Esse nervo é o que inerva o músculo oblíquo superior do olho. Sua partida
aparentemente surge abaixo dos colículos inferiores no mesencéfalo, e juntamente
com os nervos óculo motor e abducente causam a habilidade para controlar o
movimento dos olhos de forma intencional.
- Abducente VI par
Nervo ligado ao movimento ocular, ele permite os movimentos laterais dos
olhos. Ele inerva exclusivamente o músculo reto lateral do olho.
São nervos motores que entram na órbita pela fissura orbital superior.
Esses últimos nervos compõe um grupo de nervos voltados à inervação e
movimentação ocular.
- Nervo trigêmeo V
É um nervo misto, ou seja, ele tem raízes sensitivas e motoras.Tem sua origem
entre a ponte e o pedúnculo cerebral médio e se divide em 3 ramos: oftálmico,
maxilar e mandibular. O oftálmico é responsável pela inervação sensitiva dos olhos e
passa pela fissura orbital superior. O maxilar é responsável pela inervação sensitiva
do nariz até o lábio superior e passa pelo forame redondo. O mandibular é
responsável pela inervação sensitiva da mandíbula, e a sensibilidade de 2/3
anteriores da língua e movimentação dos músculos mastigatórios (Luna, 2010;
Machado & Haertel, 2014).
A patologia mais conhecida envolvendo o trigêmeo é a neuralgia do trigêmeo
(para alguns autores quando afetada ou inflamada, causa a dor mais intensa que um
ser humano pode sofrer), ele é descrita como a presença de choques na face,
cefaleia, vertigem, dificuldade para manter-se ereto e presença de espasmos faciais;
algumas vezes os sintomas são deflagrados abruptamente por mastigação,
escovação dos dentes, dentre outros. Ela ocorre mais frequente em mulheres e tem
maior incidência na terceira idade. A causa da neuralgia ainda permanece uma
incógnita (Luna et al., 2010).
- Nervo facial VII
É um nervo misto (motor e sensitivo), que se origina no sulco bulbo-pontino na
base do crânio. É responsável pelo sentido do paladar de 2/3 anteriores da língua e
motricidade dos músculos da mimica facial (Dib, Kosugi, Antunes, 2004).

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Uma das mais conhecidas patologias que envolvem esse nervo é a paralisia de
Bell ou paralisia facial. Essa doença pode acometer pessoas em todas as idades
causando paralisação temporária ou não, causando salivação constante e liberação
lacrimal e assimetria facial. O paciente não consegue encher balões, manter o ar
dentro da boca, dentre outros. Essa paralisação tem um início abrupto e mostra
evolução favorável, a recuperação total das funções desse nervo pode chegar a
mais de 80% dos casos (Dib, Kosugi, Antunes, 2004).
- Nervo vestíbulo-coclear VIII par
É um nervo sensitivo, tem sua origem no sulco bulbo-pontino. Esse nervo na
verdade é a junção do nervo vestibular – responsável pelo equilíbrio – e do nervo
coclear – responsável pela audição. Uma lesão nesse nervo pode causar perda
parcial da audição e vertigens.
- Nervo glossofaríngeo IX par
É um nervo misto, que se origina no sulco lateral posterior e passa pelo forame
jugular. É responsável pelo paladar e sensibilidade de 1/3 posterior da língua,
sensível para seios e corpos carotídeos, além de ter função motora para os
músculos da faringe, favorecendo a deglutição.
- Nervo vago X par
É o maior dos nervos cranianos. É um nervo misto, tem origem no sulco lateral
posterior e passa pelo forame jugular. É motor para vísceras do tórax e abdômen,
faringe e laringe, e a porção parassimpática das vísceras abdominais e torácicas.
- Nervo acessório XI:
É um nervo exclusivamente motor, tem sua origem no sulco lateral posterior e
passa pelo forame jugular. É responsável pela motricidade dos músculos trapézio e
esternocleidomastoide.
- Nervo hipoglosso XII:
É um nervo exclusivamente motor, sua origem é no sulco lateral anterior e
passa pelo canal do hipoglosso. É responsável pela motricidade da língua (inerva os
músculos intrínsecos), faringe e laringe – fonação e deglutição. Uma lesão nesse
nervo causa paralisia da musculatura de uma das metades da língua, a pessoa
afetada quando faz a profusão da língua ela se desvia para o lado lesado.

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SAIBA MAIS!
Neuralgia dos nervos trigêmeo, glossofaríngeo e vago aspectos dos nervos
sobre a vida e desenvolvimento humano.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/anp/v13n4/07.pdf
Acesso em: 02/19

2.5 ÁREAS FUNCIONAIS DO CÓRTEX CEREBRAL

As áreas sensitivas do corpo humano estão distribuídas nos lobos frontal,


temporal, occipital. As áreas sensitivas são divididas em primárias (de projeção) e
secundárias (de associação) e terciária (funções psíquicas) que consistem em fazer
a captação e a resposta adequada para cada estímulo captado (Machado & Haertel,
2014).
- Área somestésica primária: localizada no giro pós-central e as áreas 3,1 e 2
das áreas de Broadman. Essa área é representada pelo denominado homúnculo de
Penfild ou homúnculo sensitivo.

SAIBA MAIS!
Homúnculo de Penfild e suas ligações com o córtex cerebral e a
somatotopia.
Disponível em: SCHOTT, G. D. Penfield's homunculus: a note on cerebral
cartography. Journal of neurology, neurosurgery, and psychiatry, v. 56, n. 4,
p. 329, 1993.

- Visão: córtex occipital, na maioria dos mamíferos a visão não está


completamente corticalizada. Estudos mostram que podem persistir algumas
sensações luminosas, que nos permitem desviar de objetos no caminho, mesmo
com os olhos vendados.
- Audição: área localizada no giro temporal transverso anterior. Lesões nos dois
lados do córtex temporal causam surdez completa. Lesão em apenas um lado causa
surdez parcial.

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- Olfatória: localizada no giro do uncus. Alguns casos de epilepsia com a


presença de descargas na região douncus, faz com que o paciente queixe de sentir
cheiro de carne podre.
- Gustação: apenas no mamífero homem é localizado no córtex da insula.

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
BUENO, OFA Neuropsicologia hoje. São Paulo: Artes Médicas, p. 125-134,
2004.

COSENZA, R. M. Morfologia externa do sistema nervoso central; in:


Fundamentos de neuroanatomia 3°Ed. Rio de Janeiro: Koogan, 2005

DIB, G. C.; KOSUGI, E. M.; ANTUNES, Marcos Luiz. Paralisia facial


periférica. RevBrasMed, v. 61, n. 3, p. 110-7, 2004.

DOS SANTOS, F. H. Funções executivas. ANDRADE, VM; SANTOS, FH;


BUENO, OFA Neuropsicologia hoje. São Paulo: Artes Médicas, p. 125-134,
2004.

LUNA, E. B. et al. Aspectos anatômicos e patológicos da neuralgia do


trigêmeo: uma revisão da literatura para estudantes e profissionais da
saúde. BioscienceJournal, v. 26, n. 4, pg. 661-674. 2010

MACHADO, A. B. M; HARTEL, L. M. Nervos cranianos; in Neuroanatomia


funcional. São Paulo: Ateneu,2014

____________________. Anatomia macroscópica do tronco encefálico e


do cerebelo; in Neuroanatomia funcional. São Paulo: Ateneu,2014

____________________. Embriologia, divisões e organização geral do


sistema nervoso; in Neuroanatomia funcional. São Paulo: Ateneu,2014

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parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
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38

NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed,
2000

NETO, F. P. et al. Anormalidades sensoriais: olfato e paladar. Int Arch


Otorhinolaryngol, v. 15, p. 350-8, 2011.
SCHMIDEK, W. R.; CANTOS, G. A. Evolução do sistema nervoso,
especialização hemisférica e plasticidade cerebral: um caminho ainda a
ser percorrido. Revista Pensamento Biocêntrico, Pelotas, n. 10, p. 181-204,
2008.

PEREIRA, C. U et al. Nervo oculomotor: anatomia, fisiologia e clínica.


2012.

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CAPÍTULO 03 - SEMIOLOGIA NEUROPSIQUIÁTRICA

3.1 SEMIOLOGIA CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

O termo semiologia é uma palavra derivada do grego Semion “signo”; sendo


assim, ela diz respeito ao estudo dos signos. É um termo amplamente utilizado no
meio científico quando os assuntos são os sinais e sintomas dos transtornos
mentais, das mais variadas etiologias. Enquanto um conceito, a semiologia fala
sobre a aptidão na compreensão do sentido dos fenômenos apresentados pelos
pacientes de forma ampla, não tendo o seu uso restrito às áreas como: medicina,
psiquiatria, neurologia e outras áreas da saúde. Ela se refere ao estudo das
atividades humanas, que envolve interação entre dois interlocutores (Dalgalarondo,
2008).

FIQUE ATENTO!
- Sinais: apresentam aspectos perceptíveis em sua configuração, possuem
conotação mais empírica (observável); de certo modo mais identificáveis que
os sintomas. Por exemplo de sinais: febre, tosse, comportamento repetitivos e
etc.
- Sintomas - são de certa maneira inacessíveis ao interlocutor, possuem
características mais subjetivas. Só é possível ter acesso aos sintomas, se o
paciente de alguma forma verbalizar. Por exemplo: dor de cabeça, angustia,
ciúmes e etc.
Vale ressaltar que a um observador atento, os sinais e sintomas podem se
tornar mais perceptíveis. Ao imaginar, por um instante, a dificuldade de um
pediatra para identificar o que um bebê está sentindo. Pensar sobre o quão
complexo é para a criança expressar algo que para ela, por vezes, sequer
sabe o que significa, tais aspectos evidenciam a complexidade implícita à
pediatria, psiquiatria, dentre outras. Assim, um psiquiatra infantil terá que
aguçar sua percepção com muita precisão, para que quadros do
neurodesenvolvimento possam ter a devida intervenção, antes que processos
cognitivos cristalizem e diminua a possibilidade de intervir e promover

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adaptações adequadas aos casos. É imprescindível, portanto, que mesmo


com essas limitações na identificação de sintomas nas crianças, os pais ou
professores possam ficam mais atentos para captarem aspectos empíricos
sutis manifestos pela criança.

Neste trabalho o foco é dirigido mais profundamente sobre a semiologia voltada


às doenças mentais. De acordo com Dalgalarondo (2008), “semiologia médica é o
estudo dos sintomas e sinais das doenças”. Tal estudo possibilita ao profissional da
saúde identificar:
- Alterações físicas e mentais que interfiram na adaptação do sujeito ao seu
meio, ou encontrar disfunções que comprometam o desenvolvimento normal.
- Ordenar os fenômenos observados durante o comportamento do sujeito, bem
como, identificar de forma precisa a frequência, a intensidade de sofrimento e a
duração desses fenômenos.
- Formular diagnósticos mais precisos e o mesmo levantar hipóteses
diagnósticas -HD- para os casos. Pois HDs tem grande importância no cenário da
identificação e tratamento de doenças mentais e do desenvolvimento. Alguns casos
de transtornos mentais e do desenvolvimento apresentam uma miríade de aspectos
sintomáticos relevantes para o profissional, mas que não são possíveis de identificar
precisamente o que o profissional ou profissionais estão lidando. Vale ressaltar
ainda, não ser interessante que ocorra uma precipitação de fechamento de HDs ou a
taxação de diagnósticos para alguns comportamentos desviantes da norma.
Entretanto, não é possível desconsiderá-los no processo (Dalgalarondo 2008).
A semiologia psicopatológica é definida como o estudo dos sinais e sintomas
dos transtornos mentais, que já possuam estudos científicos, classificações e
protocolos de intervenção determinados. É importante salientar que a semiologia
não se trata apenas da observação da esfera da linguagem do paciente, pois
existem muitos outros signos que carregam significados muito relevantes para o
entendimento do caso, como gestos, tom de voz, inquietação, rubor facial, dentre
outros (Dalgalarondo, 2008).

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Charles Morris (1946) como citado por Dalgalarondo (2008) apresenta uma
distinção referente às áreas que tratam da semiologia, que são nas áreas:
semântica, de sintaxe e pragmática. Vejamos cada um em destaque.
- Semântica: ligada ao estudo das relações entre os objetos e os signos
referidos.
- Sintaxe: diz respeito a dois componentes “o significante (sigmans) que
fornece o suporte material, o veículo do signo; e o significado (signatum) aquilo que
é designado mas que está ausente no momento. Todo signo é constituído dessas
duas partes. Por exemplo, o Ebook, possui um significante material dependente de
alguma ferramenta tecnológica e tem um significado próprio, reconhece-se o que é
quando alguém se refere a ele.
Charles S. Pierce como citado por Dalgalarondo (2008, pg.24), aponta as
relações entre significado e significante, existe três relações entre os signos:
a) Ícone - é um tipo de signo no qual o elemento significante evoca
imediatamente o significado, isso graças a uma grande semelhança entre eles,
como se o significante fosse uma “fotografia” do significado. O desenho esquemático
de uma mesa é considerado um ícone do objeto mesa; o significante é o índice, algo
que aponta para o significado.
b) Índice ou indicador - a relação entre significante e significado é baseada em
contiguidade; o significante é um índice, algo que aponta para o objeto significado.
Exemplo, trovão e relâmpago são um indicador de chuva, tempestade e etc.
c) Símbolo - é bem distinto do ícone; no símbolo, o elemento significante e o
objeto ausente (significado) são distintos em aparência e não apresentam relação de
contiguidade; não existe uma relação direta entre eles, trata-se de um aspecto
socialmente convencional e arbitrário. Por exemplo: o conjunto de letras agrupadas
m-e-s-a, t-a-b-l-e e o objeto “mesa” não existe qualquer semelhança; segundo o
autor:
o sentido e o valor de um símbolo dependem necessariamente das relações
que este mantém com os outros símbolos do sistema simbólico total;
depende, por exemplo, da ausência ou presença de outros símbolos que
expressam significados próximos ou antagônicos a ele.

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IMPORTANTE!
Semiologia psicopatológica é o estudo dos sinais e sintomas dos transtornos
mentais. Ela portanto, cuida especificamente do estudo dos sinais e sintomas
produzidos pelos transtornos mentais, signos que sempre contêm essa dupla
dimensão.

- Sintoma psicopatológico uma dimensão dupla, indicador e símbolo ao


mesmo tempo
Os sintomas são possíveis de serem acessados apenas e por meio do padrão
de respostas do paciente. Dalgalarondo (2008) destaca que, sintomas médicos e
psicopatológicos são ao mesmo tempo índices e símbolo.
- Sintoma como índice, indica que existe uma disfunção instaurada em algum
outro ponto do organismo, mas que mantém uma relação direta ente eles, como por
exemplo: casos de febre, na verdade são informações de que existe alguma
disfunção orgânica, nas palavras de Dalgalarrondo (2008):

relação do sintoma com a disfunção de base é, em certo sentido, de


contiguidade. A febre pode corresponder a uma infecção que induz os
leucócitos a liberarem certas ocitocinas que, por sua ação no hipotálamo,
produzem o aumento da temperatura. Assim, o sintoma febre tem
determinada relação de contiguidade com o processo infeccioso de base.

Os sintomas psicopatológicos ao serem nomeados pelo paciente obedecem


regras convencionadas em seu meio cultural, que devem perpassar pelo olhar do
médico, que possui outra vivência sócio histórica. Os sintomas relatados pelo
paciente carecem da tradução para a linguagem médica. Só então, o caráter
símbolo linguístico se relaciona dentro de uma linguagem com significado. Para
Dalgalarondo (2008):
No momento em que o sintoma (nosso) recebe um nome, o sintoma adquire
o status de símbolo, de signo linguístico arbitrário, que só pode ser
compreendido dentro de um sistema simbólico dado, em determinado
universo cultural. Dessa forma, a angústia manifesta-se (e realiza-se) ao
mesmo tempo como mãos geladas, tremores e aperto na garganta (que
indicam, p. ex., uma disfunção no sistema nervoso autônomo), e, ao ser tal
estado designado como nervosismo, neurose, ansiedade ou gastura, passa
a receber certo significado simbólico e cultural (por isso, convencional e
arbitrário), que só pode ser adequadamente compreendido e interpretado
tendo-se como referência um universo cultural específico, um sistema de
símbolos determinado.

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3.2 DIVISÕES DA SEMIOLOGIA

Segundo Dalgalarrondo (2008) a semiologia enquanto uma área de estudo,


pode ser dividida em duas grandes subáreas: semiogênese e semiotécnica.
a) Semiogênese
É um campo da investigação dos mecanismos, origens do significado e do
valor diagnóstico clínico dos sinais e sintomas. Ele descreve os conhecimentos
preliminares necessários para o entendimento ou início de uma ciência, alguns
autores a denominam de propedêutica. De acordo com esse conceito, a semiologia
psicopatológica é então necessária para os estudos de psicopatologias.
b) Semiotécnica
Diz respeito às técnicas e procedimentos específicos de coleta e observação
de sinais e sintomas. Em quadros de psicopatologia a semiotécnica coloca foco
sobre os instrumentos de rastreio de dados, como entrevista direta com o paciente
ou com os familiares. Nessa perspectiva, Dalgalarondo (2008) salienta que:

A coleta de sinais e sintomas requer a habilidade sutil em formular as


perguntas mais adequadas para o estabelecimento de uma relação
produtiva e a consequente identificação dos signos dos transtornos mentais.
Aqui são fundamentais o “como” e o “quando” fazer as perguntas, assim
como o modo de interpretar as respostas e a decorrente formulação de
novas perguntas. Fundamental, sobretudo para a semiotécnica em
psicopatologia, é a observação minuciosa, atenta e perspicaz do
comportamento do paciente, do conteúdo de seu discurso e do seu modo
de falar, da sua mímica, da postura, da vestimenta, da forma como reage e
do seu estilo de relacionamento com o entrevistador, com outros pacientes
e com seus familiares.

Um ponto muito relevante nessa explanação sobre a semiotécnica recai sobre


a necessidade dos profissionais envolvidos nas questões “Psi” se empenharem na
aquisição de competências e no desenvolvimento de habilidades adequadas, para
estarem aptos e atentos às manifestações que os pacientes trazem para o encontro.
O que irá permitir a identificação de comportamentos sutis, que sejam indicativos ou
sugestivos de alguma disfuncionalidade. Mantendo tal comportamento, mesmo que
a percepção esteja equivocada, o profissional terá possibilidade de refutar sua HD e
continuar o processo de avaliação dos sinais e sintomas.
Zuarde e Loureiro (1996) apontam que os dados da história clínica e o exame
do estado mental de um paciente são basicamente obtidos por meio de entrevista,

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mas por certo, sofrem a interferência de várias influências comportamentais


tendenciosas de caráter positivo, negativo e neutro. Entre as variáveis, pode-se
destacar o relacionamento com o entrevistador, ao entrevistado, a interação entre
eles e ao ambiente onde é realizado o exame.
Quanto ao entrevistador, características pessoais como: crenças, sensibilidade,
valores, estado emocional no instante da entrevista, podem ter impacto nos
fenômenos observados. É notório que a forma como uma pergunta é formulada, o
tempo de espera ofertado ao entrevistado para elaborar sua resposta, o tom de voz
do entrevistador, o olhar, gestos, podem trazer grande impacto na coleta de
informações. No contexto escolar, tais aspectos são ainda mais relevantes de se
observar. Portanto, pode-se refletir: qual o impacto promovido pela presença dos
profissionais e dos questionamentos realizados, tem caráter “(des)orientador” para
que as crianças possam lidar com suas potencialidades e limitações? (Zuarde &
Loureiro, 1996).
No entanto, cabe ressaltar que variáveis do próprio paciente, aluno, sujeito,
familiar e etc., interferem na coleta de dados. O estado emocional, a motivação para
fornecer informações e etc. O grau de liberdade para expor o que está sentindo ou
pensando. É um ponto consensual que obter informações de quem procurou ajuda
de livre e espontânea vontade, é muito diverso daquele que está ali por obrigação ou
força. Aqueles que foram levados contra sua vontade, tem comportamentos e falas
bem diferentes de quem percebe que existe a necessidade de ser ajudado. O
interesse em ajudar pode contribuir para o recebedor ter interesse em ser ajudado
(Zuarde & Loureiro, 1996).
Talvez o aspecto mais relevante destacado até aqui seja a interação assertiva,
Zuarde e Loureiro (1996) fazem um interessante apontamento:

A interação entre o entrevistador e o paciente, não se constitui,


necessariamente, numa distorção das condições “naturais” de observação,
se considerarmos que a conduta humana ocorre sempre “num contexto de
vínculos e relações humanas” e não isoladamente. Assim, a situação de
entrevista [...] constitui-se numa forma particular de interação, que ocorre
dentro de um campo delimitado pelos seus objetivos, adquirindo
características próprias. Um dos integrantes deste relacionamento é um
profissional, que deve usar seus conhecimentos para entender o que está
acontecendo com o outro e que deverá interagir de acordo com esta
compreensão. O paciente, por outro lado, necessita e, em geral, espera
obter auxílio do profissional, o que deve estimulá-lo a falar e refletir sobre si
mesmo, ainda que, o paciente [...] ao mesmo tempo que está motivado para

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revelar-se, pode ocultar sentimentos íntimos, por conta de suas defesas


psíquicas. De qualquer forma, a interação é uma das variáveis que
influencia a observação, por exemplo, a eclosão de sentimentos de simpatia
ou antipatia, pode influir no resultado do exame.

O conhecimento dessas variáveis e a preparação técnica do entrevistador,


estimulam a contribuição, a comunicação do entrevistado, minimizando ao máximo
variáveis, de certa forma, preditivas, como as apresentadas anteriormente,
permitindo que a entrevista seja mais rica, em termos de possibilidades de se obter
os sinais e sintomas em profundidade, para que o paciente seja compreendido
(Zuarde & Loureiro, 1996).
E. Tulle citado por Jeon (2014) certa vez disse: o desejo mais profundo da alma
humana é ser compreendida, o desejo mais profundo do ser humano é por ar (grifo
nosso); então... se você escuta alguém, em profundidade, de tal forma que essa
pessoa se sinta compreendida, é o mesmo que lhe dar ar (grifo nosso). O
profissional comprometido com seu fazer profissional irá contribuir para que o
paciente possa realmente ter ar e condições de arejar os pensamentos, os
sentimentos e as emoções. Ainda que não lhe seja possível ficar livre de algum
transtorno que gere limitações nas mais diversas esferas.
Existem diferentes tipificações de entrevistas que, de forma geral, podem ser
divididas em: aberta, estruturada e semi-estruturada.
Vejamos cada tipo de entrevista (Zuarde & Loureiro, 1996)
- Entrevista Aberta:
Não existe um scirpt pré-determinado ou rígido para as perguntas. Nela o
entrevistado fala o mais livremente possível, de forma que o curso da entrevista seja
menos diretivo. Esse tipo de entrevista permite uma maior liberdade para ambos,
entrevistado e entrevistador podem explorar mais aprofundada uma temática.
Suas desvantagens são: a pequena possibilidade de concordância e
determinar comparações entre entrevistados, bem como, entre diferentes
entrevistadores; a dificuldade para formulação de diagnósticos consistentes, em
razão da investigação assistemática dos sintomas; o tempo imprevisível e, muitas
vezes, pode ser gasto muito tempo com temáticas de pouca relevância e ter que
interromper as falas relevantes, em razão do tempo.

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- Entrevista Estruturadas
Existe um script definido a ser seguido, em relação a ordem de obtenção de
informações, a sequência das perguntas e registros dos resultados são melhor
comparáveis dentro de uma amostra grande de entrevistas.
Vantagens: possibilita uma maior confiabilidade de hipóteses diagnósticas.
Pois, as perguntas seguem o chamado padrão ouro de rastreio e de grande
importância para epidemiologia clínica. Esses roteiros são muito comuns com testes
ou inventários de psicólogos, psiquiatras e pedagogos.
Desvantagens: a pouca flexibilidade das perguntas e determinadas condições
circunstanciais que o roteiro não abarca, mas que é relevante para o caso do
paciente.
- Entrevista Semiestruturada
Nesse formato existe um nível de estruturação, bem como a possibilidade de
inserir no protocolo, questões ou apontamentos relevantes, que não se encontram
na entrevista. Elas também permitem uma certa flexibilidade na sequência e/ou
forma de formular as perguntas, deixando o entrevistador mais à vontade para
perceber as reações do paciente frente a perguntas que trazem impactos nas
crenças e valores dos pacientes.
Um grande efetivo de entrevistas semiestruturadas são padronizadas,
estabelecendo também os limites dessa flexibilidade. Estas entrevistas, em geral,
mantêm níveis consideráveis de confiabilidade.

3.3 EPIDEMIOLOGIA DOS TRANSTORNOS

De acordo com Araújo (2012), os avanços ocorridos no mundo, devido à


melhoria dos indicadores de saúde se deu com o advento da revolução industrial.
Essa revolução otimizou a disponibilização de alimentos, condições de moradia e
políticas de saneamento básico. Para o autor, a modificação mais significativa da
história foi denominada por Omramcomo citado por Araújo (2012) de “transição
epidemiológica”. Por essa teoria, a humanidade atravessou três grandes etapas
epidemiológicas na história, que foram as eras da:

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 Fomes e pestilências: que perdurou até a Idade Média e foi marcada


como uma fase de elevados índices de natalidade, e também de
mortalidade, por doenças infecciosas endêmicas, epidemias e devastou
as populações. Nesse período a expectativa de vida era de 20 anos.
 Declínio das pandemias: foi caracterizado pelo desaparecimento das
grandes pandemias, muito embora muitas mortes se davam por
adoecimento por infecções. Nessa era houve um aumento da expectativa
de vida para 40 anos.
 Doenças degenerativas e causadas pelo homem: marcada por uma
grande melhoria do padrão de vida (moradia, saneamento, alimentação e
educação). As principais causas de mortalidade passaram a ser por
aumento do risco de doenças cardiovasculares e neoplasias malignas.
Fase que teve uma redução no índice de crescimento demográfico.

Os fatores causadores de doenças em humanos podem ser diagnosticados por


meio do estudo sistemático de diferentes populações, essa ciência é denominada de
Epidemiologia. Para Malaspina, Concoran, Schobel, Hamilton (2013) os estudos
dessa área é percebido como uma série de questionamentos que avaliam: qual a
frequência do transtorno? Existe maior frequência em algum subgrupo? Quais os
fatores de risco estão relacionados ao transtorno?
Para Malaspinaet al. (2013), as duas medidas que avaliam a frequência de
uma doença mais utilizadas nas ciências neuropsiquiátricas são a incidência e a
prevalência. Veremos suas características:
A Incidência diz respeito ao número de casos de uma doença, mediante a uma
referência temporal específica, segundo a proporção da população total. A
incidência de uma doença pode ser determinada por várias formas:
(I) Risco: ligado à probabilidade de uma pessoa ser acometida de uma doença,
em um período específico do tempo, normalmente definido por zero (sem risco) ou
um (irá desenvolver da doença). Um grande impedimento para o prosseguimento
desses estudos de risco é que muitos dos sujeitos de pesquisa são perdidos,
morrem por outras causas, o que pode distorcer os dados.

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(II) Taxa: é uma medida alternativa para sanar os problemas com os sujeitos de
pesquisa da análise do risco. A taxa é mensurada instantaneamente em sujeitos que
desenvolveram uma determinada doença, daqueles que permanecem em risco de
desenvolver.
Já a prevalência está relacionada com o índice de novos casos, de uma
doença durante um período determinado, como uma proporção da população total
em risco. Malaspinaet al. (2013) ressaltam que:

As duas medidas estão correlacionadas: a prevalência de uma doença


depende tanto de sua incidência quanto de sua duração. É possível
comparar duas populações com e sem um fator suspeito ou predisponente
ao desenvolvimento da doença por meio do cálculo da razão da frequência
da doença nas duas populações; isso é conhecido como risco relativo.

Para Wagner e Callergari-Jackes (1998) o risco relativo apresenta uma


estimativa da associação, entre a exposição do sujeito ao fator de risco e o desfecho
(o evento de interesse da pesquisa). O risco relativo “é definido como sendo a razão
entre a incidência do desfecho nos pacientes expostos e a incidência do desfecho
nos pacientes não expostos” (Wagner &Callergari-Jackes, 1998).
De acordo com Chaves (2008), a boa utilização do método clínico para
avaliação das doenças que acometem o sistema nervoso, bem como de outros
campos do saber e as diretrizes diagnósticas, todos possuem aplicabilidade
universal para entendimento de patologias que visam: (I) A solução do problemas
clínicos, que são alcançados por várias incidências e deduções lógicas, obtidos por
meio do levantamento de hipóteses, explicativas para os aspectos históricos de uma
doença; (II) O diagnóstico que parte de uma atividade mental de integração dos
dados relevantes, elementos fornecedores para possíveis explicações mais
compatíveis com os fatos obtidos na observação clínica, durante o relato e dos
sinais do paciente, entendido como um tipo de raciocínio clínico.
O raciocínio clínico tem como foco o desenvolvimento de uma lista de
problemas e hipóteses diagnósticas diferenciais para cada sujeito. Nessa lista de
problemas tem se relacionado a história médica pregressa, a história familiar,
observar aspectos psicossociais e do próprio sujeito, em relação ao auto cuidado
(Chaves, 2008).

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Por certo, as hipóteses diagnósticas de transtornos precisam ter como base


achados de estudos controlados randomizados. Todavia é preciso ter em mente que
a quantidade de informação médica duplica em tamanho, e existe uma diminuição
do tempo gasto para se fechar uma hipótese diagnóstica; portanto, é preciso utilizar
informações médicas baseadas em evidências -MBE- (Chaves, 2008).

SAIBA MAIS!
Estudo controlado randomizado como ferramenta de comprovação de dados
com base em evidências. É baseada na comparação duas ou mais
intervenções, controladas pelos pesquisadores e aplicadas aleatoriamente
em grupos de participantes.
Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/199 acesso em
02/19

Conforme destaca Chaves (2008) a MBE diz respeito ao uso consciencioso,


aberto e prudente das evidências explícitas no momento da investigação para
contribuir com a tomada de decisão, sobre qual a melhor forma de intervir os
problemas do sujeito. Para o autor a MBE:

Constitui-se na integração da expertise clínica individual com a melhor


evidência clinica externa disponível de pesquisa sistemática. Expertise
clínica individual quer dizer a proficiência e a capacidade de julgamento que
cada clínico individualmente adquire por meio de experiência e prática
clínicas. Expertise aumentada é refletida de muitas formas, principalmente
em mais diagnósticos efetivos e eficientes, em mais identificações
responsáveis e no uso humano de dilemas individuais dos pacientes,
direitos e preferências nas tomadas de decisão clínicas sobre seus
cuidados.

Dentre as habilidades para a prática de diagnósticos baseados em evidências


destacamos, de acordo com Chaves (2008) algumas características:
- Capacidade para definir o problema com precisão;
- estabelecer as informações são essenciais para resolver os problemas;
- realizar um busca refinada em bases de dados, preferencialmente em revistas
indexadas;
- selecionar os estudos de maior fator de impacto;

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- desenvolver habilidade para envolver o paciente no processo de tomada de


decisão sobre a melhor abordagem dos problemas.

IMPORTANTE!
Expertise clínica individual quer dizer a proficiência e a capacidade de
julgamento que cada clínico, individualmente, adquire por meio de
experiência e prática clínicas. Expertise aumentada é refletida de muitas
formas, principalmente em mais diagnósticos efetivos e eficientes, em mais
identificações responsáveis e no uso humano de dilemas individuais dos
pacientes, direitos e preferências nas tomadas de decisão clínicas sobre
seus cuidados.

De acordo com Chaves (2008) a melhor combinação entre as ferramentas de


BEM e o método clínico de condução de entrevistas “constitui o processo
diagnóstico mais abrangente e atualizado em qualquer especialidade médica”.

Quadro 02 – passos da medicina baseada em evidência


Questão clínica
- Anotar o problema clínico mais recente.
- Quais os pontos mais críticos do caso?
- É possível responder as questões anteriores? De que forma?
Busca pela informação relevante
- Elaborar alguma questão passível de resposta clínica justificável.
- Quais as evidências mais relevantes apresentadas na literatura?
- Analisar criticamente todas as bases de dados.
- Integrar os dados relevantes mediante a experiência profissional e o
envolvimento do paciente no processo de tomada de decisão.
As melhores evidências dependem do tipo de questão
- Da observação (quais os fenômenos/problemas?)
- Da frequência (qual a frequência do problema?)
- Amostra do caso com padrão ouro (que mostra uma boa comprovação de
resolutividade)
- Prognóstico
- Estratégias sobre como aliviar o problema?
- Ensaios clínicos randomizados.
Fonte: Chaves (2008, pg. 25)

SAIBA MAIS!
Fator de impacto de periódicos e bancos de dados para pesquisa
O fator de impacto é o principal balizador para analisar as revistas científicas

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em todo o mundo. Esse fator é calculado somente entre revistas


disponibilizadas na Web of Science. O cálculo do fator leva em consideração
a soma de todas as citações que a revista recebeu em dois anos, dividido
pelo total de artigos publicados.
Ao fazer uma pesquisa ou análise de artigos sobre algum caso ou problema,
é relevante verificar qual o Qualis a revista possui. Qualis com altos fatores
de impacto, quer dizer que a revista publica artigos de ponta e com excelente
validade dos dados apresentados.
Disponível em: https://galoa.com.br/blog/o-que-e-fator-de-impacto-das-
revistas-cientificas Acesso em: 02/19

Segundo Ramos (2007) o exame psíquico do paciente inicia com a análise do


estado mental realizada no contato pessoal, podendo ser em forma de entrevista ou
exames. Nessa avaliação busca-se obter detalhadamente uma descrição dos
conteúdos mentais expressos pelo paciente. Dentre os atributos do processamento
cognitivo a serem avaliados, o autor apresenta um esquema de constructos a serem
verificados nas entrevistas com os clientes.
- Aparência e comportamento:
O contato inicial com o paciente é preciso estar bem atento a questões como: o
estado geral do paciente, avaliando aspectos como aparência física, comportamento
mais destacado (inquietação, calma, agressividade), expressões não verbais
(postura corporal, gestos).
- Consciência:
Analisar o quanto o paciente se mostra acordado, alerta ou vigilante, ou seja, o
quanto ele tem aptidão para lidar, satisfatoriamente, em uma entrevista. Esse nível
pode variar de: totalmente alerta ou coma. Avaliações da consciência são melhores
aprendidas levando em consideração aspectos como: (I) atenção (aptidão para
coletar, reter e processar informações disponíveis no ambiente; (II) orientação
(orientação espacial é a aptidão para identificar em que local está; orientação
temporal é capacidade de entender tempo, o ano, mês e dia e hora que está no
momento da entrevista).

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parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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- Senso percepção:
Está ligado aos órgãos do sentido: visão, tato, paladar, olfato. Uma percepção
normal é aquela que acontece de forma organizada e proporcional ao estímulo
externo que provoca. Anormalidades na senso percepção acontecem quando o
sujeito percebe o ambiente de maneira distorcida. A percepção quando não existe
algum estímulo é denominada alucinação.
- Pensamento:
O pensamento é entendido levando em conta alguns aspectos como: (I) Forma
do pensamento: avaliada mediante a observação do discurso associado a
velocidade e o encadeamento das ideias; (II) conteúdo do pensamento: leva em
consideração o significado das ideias expressas pelo paciente, em especial quanto a
compreensão da fala. Uma das alterações mais características de conteúdo são os
delírios.
- Juízo:
Aptidão para julgar eventos que acontecem de forma adequada.
- Crítica:
Ligado à capacidade do paciente fazer auto julgamento, considerando
adequadamente as suas apresentações de ideias.
- Memória:
Diz respeito à capacidade de reter dados acerca dos acontecimentos vividos e
evocá-los quando necessário.
- Afetividade:
Analisando a capacidade do paciente de fazer contato afetivo com o
examinador. Espera-se que o paciente esteja apto a sentir e relatar sobre suas
emoções de forma adequada. A oscilação muito rápida do humor é conhecida como
labilidade afetiva.
- Pragmatismo:
Aptidão do sujeito em realizar tarefas e atividades práticas, como auto cuidado
com sua aparência e saúde. Um pragmatismo adequado é dependente da volição ou
manter à vontade preservada para a execução dos atos.
Por certo são peculiaridades que demandam que o examinador esteja atento e
envolvido com a entrevista, e com os sinais e sintomas que são apresentados.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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Observando esses aspectos é possível ter um entendimento mais profundo dos


problemas, mas também de ter pistas sobre por onde iniciar as intervenções e
proporcionar melhorias no afeto e no comportamento dos pacientes (Ramos, 2007).

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
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entrevista para profissionais de saúde mental. Porto Alegre: Artmed, 2007.
ZUARDE, A. W.; LOUREIRO, S. R. Semiologia psiquiátrica. Medicina,
Ribeirão Preto, 29: 44-53, jan./mar. 1996
WAGNER, M. B.; CALLEGARI-JACQUES, S. M. Medidas de associação
em estudos epidemiológicos: risco relativo e oddsratio. Jornal de
pediatria. Rio de Janeiro. Vol. 74, no. 3 (1998), p. 247-251., 1998.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho é realizada a apresentação de elementos introdutórios


relevantes sobre a neurologia geral. Por certo, o sistema nervoso central SNC, tem
uma importância singular para o entendimento do funcionamento neuronal normal e
das disfunções que podem acometer o ser humano. Mesmo o SNC sendo cheio de
mistérios, alguns pontos já são, em partes, bem conhecidos como: funções,
estruturas neuronais e sua organização, o papel das sinapses e dos
neurotransmissores na formatação das funções cognitivas complexas do ser
humano.
Vale lembrar que os pontos já desvendados sobre a neurologia tem como
ponto de partida o desenvolvimento de novas tecnologias e da imagiologia. Técnicas
como a ressonância magnética funcional, a tomografia por emissão de pósitrons e a
estimulação trasncraniana têm possibilitado que novas descobertas sejam
alcançadas e metodologias de abordagem no SNC tenham melhor eficácia.
Essas metodologias trazem mais esclarecimento sobre a anatomia geral e
funcional do córtex cerebral. E evidenciam pontos relevantes do desenvolvimento
filogenético do sistema nervoso. Nesse desenvolvimento, uma das partes mais
relevantes do SNC, que promovem a (des)harmonia com o mundo externo, tem
como fundamento os nervos cranianos. Conhecer cada um deles e suas respectivas
áreas de inervação e funções, permite o entendimento de algumas manifestações
sintomatológicas e a identificação de anomalias, mesmo em estágios iniciais do
desenvolvimento.
A possibilidade de identificar pontos, que merecem destaque mais intenso
sobre as manifestações clínicas neurológicas, perpassam pelo entendimento da
semiologia, em suas mais variadas áreas do conhecimento. E com essa visão
holística, ser possível captar dados relevantes, que vão descrever entidades
disfuncionais ou não e, assim, compreender melhor a epidemiologia clínica dos
transtornos.
Essas noções de neurologia permitem que profissionais, ao entrarem em
contato com pacientes, nas mais variadas demandas, enxergarem de forma mais
aprofundada os sinais e sintomas presentes nos diagnósticos estabelecidos. E mais

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ainda, poder se tornar um agente de identificação da presença de sinais, mesmo


que sutis, de identificar alterações no sistema nervoso, e encaminhar aos
profissionais mais qualificados, para confirmar ou refutar as suspeitas identificadas.
Com isso, há ganho aos pacientes, aos familiares, à sociedade de forma geral. Se
abster de observar o SNC é deixar desprotegida uma parcela da população, que
pode estar lutando contra alguns quadros neurológicos disfuncionais, mas pode
fazer de forma equivocada, ou que possa causar ainda mais prejuízo no sistema
nervoso e, consequentemente, na estruturação de um ser humano pleno de
possibilidades e de chances de se desenvolver.

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