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COMPORTAMENTO SUICIDA

I CURSO DE EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTICAS

Atualmente, registram-se mais de


SUMÁ R I O
870.000 óbitos por suicídio no
Epidemiologia  1
Conceitos 2 mundo, o que representa 49% de
Conduta 3
Casos Clínicos 6 todas as mortes por causas
Exercícios de Fixação 1,2
10
Conteúdo extra recomendado 13
externas . Apesar de não
Referências 14
existirem pesquisas mundiais que
indiquem equivalência para as
EDITO R E S 1,2 tentativas de suicídio, diversos
Liga Acadêmica de Saúde Mental - Faculdade de Medicina
UFMT
estudos demonstram que taxas
Dara de Paula Rodrigues de tentativas de suicídio podem
Guilherme Affini
Lucas Figueira ser mais elevadas que as do
Luís Eduardo Araújo 1,2
Mariana Cardoso próprio suicídio . Esses dados
Marriethy Lima
acabam por implicar em um risco
CONT A T O considerável para o indivíduo e,
Instagram: @lasmufmt em caso de suicídio, tanto para
Email: lasmfmufmt2018@gmail.com
pessoas próximas, como
familiares e amigos, quanto para
ORIEN T A D O R A
uma parcela maior da sociedade,
Profª Aline Quintal
quando envolve casos de suicídio
PROJ E T O S I E X UFMT em locais públicos, como escolas
010720201402421987 e trabalho².
EP I DEM IO LOG IA
O suicídio é mais frequente no
sexo masculino, com tentativas
caracterizadas por alto grau de
letalidade. Os métodos de
suicídio mais frequentes 1
registrados entre estes incluem C ON C EI T OS
enforcamento, uso de arma de QUEVEDO, 2014
fogo e salto de lugares altos. Em Intenção suicida: expectativa
relação ao sexo feminino, a subjetiva e desejo que um ato
bibliografia indica maior auto lesivo resulte em morte.
frequência de registros de Ideação suicida: pensamentos de
tentativas de suicídio e os servir como agente de sua
principais métodos envolvem própria morte. Varia em
intoxicação auto infligida, como gravidade, dependendo da
envenenamento e ingesta de especificidade de planos de
medicamentos, o que acaba por 1,2
suicídio e do grau de intenção
implicar em uma maior suicida.
probabilidade da vítima ser salva. Tentativa de suicídio:
Em relação à idade, estudos comportamento auto lesivo com
indicam que as maiores taxas de resultados não fatais,
suicídio são encontradas entre acompanhado de evidências
pessoas idosas (acima de 75 anos (explícitas ou implícitas) de que a
de idade). Entretanto, as taxas de pessoa pretendia morrer.
casos de pessoas mais jovens têm Tentativa abortada de suicídio:
aumentado nos últimos anos, já comportamento potencialmente
sendo expressiva em alguns auto lesivo com evidências
países, como na Nova Zelândia¹. (explícitas ou implícitas) de que a
No Brasil, a taxa de suicídio pessoa pretendia morrer, mas a
também mostra um aumento tentativa foi interrompida. 
progressivo, chegando a 21% em Letalidade do comportamento
uma janela temporal de duas suicida: ameaça objetiva para a
décadas, o que mostra a vida relacionada a um método ou
necessidade de estratégias de ação suicida. 
prevenção, com o objetivo de Suicídio: morte autoprovocada
1,2
reduzir tais estatísticas . com evidências (explícitas ou
implícitas) de que a pessoa
pretendia morrer.

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CON D U T A de cada paciente. Existem
“Pelo fato da tentativa de suicídio diversas estratégias para se
ser uma condição extremamente avaliar o risco de suicídio, porém
grave, necessita-se de uma nenhum se mostrou mais eficaz
abordagem multidisciplinar, para do que uma entrevista bem feita
o paciente e para a família” e acolhedora, na qual deve ser
QUEVEDO, 2014 abordado os aspectos
predisponentes, ou seja, os que
O atendimento clínico a fim de indicam maior risco, e aspectos
avaliar um possível protetivos relacionados a cada
comportamento suicida deve ser paciente. Desta forma, fica
feito de forma direta e empática, evidente que é de suma
sempre respeitando e importância um diálogo aberto e
considerando a individualidade baseado em um vínculo de
confiança entre cada profissional 
Figura 1: Conduta comportamento suicida.

Fontes: Adaptado de Bertolote et al., 2010; ABP, 2014.

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Figura 2: Identificação e entrevista clínica

Fontes: Adaptado de Bertolote et al., 2010; ABP, 2014.

e paciente1,2,3,4. A Figura 2 mostra Deve-se avaliar o estado mental


os principais fatores aos quais um atual do paciente, investigar se
profissional de saúde deve se existe intenção, ideação ou plano
atentar durante o atendimento de suicida, e se ele possui algum tipo
pacientes com comportamento de apoio ou conflito social e/ou
suicida. familiar. Ademais, é importante
Sendo assim, para se estabelecer que o médico não demonstre
uma relação de confiança entre desinteresse ou choque, não
médico e paciente, é necessário julgue o paciente ou faça
que haja um diálogo aberto, perguntas indiscretas, não
baseado na empatia e no interrompa o paciente com
respeito, com foco nos frequência e não faça com que o
sentimentos do paciente, para problema pareça banal ou de fácil
2,4
assim se entender o contexto no resolução . O primeiro
qual o mesmo está inserido. contato médico-paciente é

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determinante para a tomada de Pacientes de baixo e médio risco,
decisão sobre o tratamento que em sua maioria, poderão ser
deve ser seguido. A partir da encaminhados para um
avaliação clínica do paciente, o profissional de saúde mental,
médico deve classificá-lo, de com retorno agendado; já o
acordo com a estratificação de paciente de alto risco deve ser
risco da Organização Mundial da encaminhado para a internação
Saúde (OMS), em baixo, médio ou imediata. Além disso, a presença
alto risco de suicídio (Figura 3). de uma rede de apoio, tanto intra
Neste ponto, é importante como extra hospitalar, é de
lembrar que esses pacientes grande importância para o
alteram sua percepção de forma tratamento desses pacientes². A
muito rápida, podendo o risco rede de apoio especializada,
alterar com a mesma rapidez. muitas vezes, traduz-se em
Após essa classificação, internação hospitalar. Caso um
determina-se o local de paciente necessite de tal
tratamento, que pode ser assistência, há diferentes tipos de
2,3
ambulatorial ou hospitalar . leitos para as mais diversas 
Figura 3: Avaliação de risco.

Fontes: Adaptado de Bertolote et al., 2010; ABP, 2014.

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situações. Os leitos nas Unidades fundamental conhecer a rede de
7
de Emergência Psiquiátrica em atenção psicossocial local .
Prontos-Socorros Gerais são
C ASOS CLÍN IC OS
utilizados para acolher pacientes
em crise, num tempo máximo de A.C.J., sexo feminino, 62 anos,
permanência de 24 horas. Em casada, do lar, um filho de 35
casos agudos e de curta anos, é atendida no Pronto
permanência, em pacientes sem atendimento de seu município
intercorrências ou com devido a tentativa de suicídio. 
intercorrências clínicas e O atendimento de urgência se dá
cirúrgicas que demandem maior após ingestão de diversos
atenção, costumam ser utilizadas medicamentos e é procedida
as Unidades Psiquiátricas em lavagem gástrica e carvão
Hospitais Gerais. Quando o ativado. O marido conta que
tratamento do paciente não pode chegou em casa e a encontrou
ser realizado em serviços de agitada e observou diversas
menor complexidade, a cartelas de medicamentos
internação pode ser realizada em diversos esvaziados. Ele acionou
leitos de Hospitais Psiquiátricos o SAMU, que a levou à UPA mais
Especializados. Por fim, há próxima de sua residência.
também os Leitos de Longa Após a estabilização clínica, foi
Permanência, destinados a realizada uma entrevista, quando
pacientes com comprometimento ela relatou que não quer mais
para manutenção de atividades viver e que está arrependida de
básicas e que não apresentam não ter conseguido tirar sua vida.
suporte familiar; este Diz que se sente um peso para
atendimento recebe suporte sua família e que não tem mais
financeiro da assistência social. A solução. Conta que tem ouvido
escolha do dispositivo de atenção vozes que dizem que não tem
que receberá o paciente também valor e que é melhor que esteja
depende da disponibilidade a morta. O clínico do plantão
depender do município onde se procede internação hospitalar
dá a intervenção, sendo  para observação e pede 

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interconsulta do médico sem resposta satisfatória. Na
psiquiatra.  investigação foi esclarecido que já
Na avaliação psiquiátrica, é tinha feito uso de sertralina,
observado que a paciente tem escitalopram, imipramina,
história de transtorno depressivo amitriptilina, com períodos de
de longa data, há mais de 20 anos estabilidade mas com diversas
e diversas tentativas de suicídio interrupções do tratamento.Foi
prévias. O marido está sozinho iniciada mirtazapina 15mg (dose
em casa, precisa trabalhar pois é inicial), carbonato de lítio 300mg,
horista em serviços de vigilância e quetiapina 25mg à noite. Foram
trabalha à noite. O filho trabalha indicados cuidados gerais,
viajando, está fora da cidade e aferição de dados vitais e
não tem data para chegar. Frente “observação rigorosa por risco de
à fragilidade da rede sócio- suicídio”. Na primeira noite de
familiar, o psiquiatra a considera internação, a paciente foi
1,3
de alto risco para nova tentativa e encontrada vagando pelo
a Sra A.C.J. foi transferida para corredor, referindo que buscava
internação em hospital algum calmante para as vozes. A
psiquiátrico. dose de quetiapina foi ajustada
O psiquiatra responsável pela para 50mg ao dia. Após 21 dias
internação e acompanhamento de internação, a paciente teve
avaliou o quadro como grave e alta melhorada, sem ideação
levantou a hipótese de transtorno suicida já havia uma semana, em
depressivo recorrente, episódio uso de Mirtazapina 45mg ao dia,
atual depressivo grave com carbolitium 900mg ao dia para
sintomas psicóticos. Classificação acompanhamento intensivo em
Internacional de Doenças (CID) CAPS e supervisão de seus
F32.3. Piora importante nos familiares que já tinham
últimos dias, com risco de organizado uma rede de cuidados
suicídio, sem esperança de a fim de não deixa-la sozinha.
melhorar. Já vinha em uso
DIS CU SSÃ O
irregular de fluoxetina 40mg ao
Os dois principais fatores de  
dia e clonazepam 3mg ao dia, 

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risco de suicídio são a presença atendimento por outras
de tentativas anteriores e o sintomatologias, o que ressalta a
diagnóstico de uma doença importância do atendimento
mental. Ambos citados no caso global do paciente, com
clínico. Nas figuras anteriores, prioridade do atendimento clínico
contidas nesse documento, quando necessário. Ao detectar
demonstram o que se deve alguma ideação ou
constar em um atendimento à comportamento de risco é preciso
pessoa em risco de suicídio. ficar ainda mais atento. Pacientes
Agora iremos debater a forma que falam sobre suicídio possuem
como esse atendimento deve ser um risco potencial de conclusão
prestado com fins à máxima do ato. O profissional, depois de
busca pelo resguardo da vida do uma acolhida aberta e empática,
paciente. Apesar das estratégias não deve ter receio de investigar
para detecção e manejo do os riscos que aquele paciente
1,3
comportamento suicida, lembra- está exposto. Existe uma
se que mesmo existindo um sequência de perguntas a serem
plano para execução do seu ato, o aplicadas nesse momento.
momento exato da tentativa de Primeiro pergunta-se sobre a
suicídio não é claramente existência de planos para o
previsível e os primeiros dias futuro, se ele julga valer a pena
após internação hospitalar são de viver e se a morte seria algo
maior risco, sendo fundamental a aceitável naquele momento. Caso
supervisão intensiva. Para as respostas sejam negativas nas
entender os riscos envolvidos, 2 primeiras e afirmativa na
classificar e manejar o paciente, última, então questiona-se a
primeiro precisa existir uma existência da ideia de se
fortificada relação médico- machucar, sobre possuir algum
paciente. Uma primeira planejamento para isso e se já
observação é que pessoas com houve alguma tentativa nesse
comportamento suicida nem sentido. A partir de então o
sempre aparecem diretamente ao raciocínio clínico precisa ser
profissional psiquiatra. Buscam muito criterioso no sentido de  

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afastar objetos ou situações que deixar-se ceder por reflexão do ato
causem uma exposição imediata, suicida e dos fatores protetores
mesmo que ainda dentro do individuais. Depois da entrevista o
consultório. E através da profissional está abastecido de
entrevista colher maiores informações para assim definir o
informações sobre os fatores paciente como de Risco Baixo, Risco
predisponentes, precipitantes e Médio ou Risco Alto. Para cada um
os fatores protetivos. Importante
desses escopos existe uma
orientação de manejo, como
destacar os sentimentos
demonstrado na Figura 3. É
envolvidos no momento da
importante atentar às pessoas do
ideação ou tentativa de suicídio.
seu ciclo social, pois sabe-se que
Apesar de existir esse âmago por
também elas sofrem o efeito do
dar fim ao sofrimento por meio
comportamento suicida. A
da morte, existem aspectos abordagem precisa englobar os
positivos a tomar sobre a própria vínculos mais próximos para assim
vida. Esse é chamado caráter da haver de fato melhora global na
Ambivalência, presente na qualidade de vida e uma sólida
maioria dos suicidas e provado prevenção ao suicídio. Contudo,
por pesquisas que revelaram ser apesar de por vezes ocorrerem
apenas em 25% dos casos o intervenções, muitos casos ainda
desejo de morte sendo correm para a consumação do ato. A
essencialmente o fim esperado. pósvenção então figura como uma
No restante o anseio é de forma de atender as pessoas
afastamento dos problemas, afetadas diretamente por um
entrar em sono profundo. Além suicídio, chamados “sobreviventes”.
da Ambivalência, a OMS elenca a Estudos apontam a maior ocorrência
Impulsividade e a Rigidez como de comportamento suicida em
famílias sobreviventes, citando
características psicopatológicas
inclusive uma tendência à
da mente suicida. Aquela tem
similaridade da forma adotada para
aspecto temporário e despertado
tirar a vida. Portanto, a posvenção é
por fatores precipitantes
uma importante ferramenta de
importantes para o indivíduo,
prevenção ao suicídio, além de uma
essa tem o caráter de não

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forma de detectar e tratar outras econômico, político, familiar, pessoal,
patologias que podem ter seu profissional, racial entre outros,
gatilho no suicídio alheio. O trabalha para a construção da
tratamento medicamentoso percepção do indivíduo no mundo.
utilizando carbonato de lítio é um Cientes disso, sabemos que essa
importante fator de proteção temática vai bem além de uma
quanto ao suicídio. Estudos particular questão de saúde. É
revelam que além de ser 1ª opção
preciso uma construção de boas
redes de apoio, sejam elas nas
de escolha para casos de
famílias, igrejas, ONG’s, associações,
Transtorno Afetivo Bipolar (TAB),
escolas e todos os movimentos mais
o carbonato de lítio chega a
que possibilitem um reforço ao
reduzir em 4 vezes a ocorrência
acompanhamento psiquiátrico
de tentativas e suicídios se
incluindo intervenção
comparado a população que medicamentosa e ao trabalho feito
utiliza um tratamento base com pelas equipes multiprofissionais. O
outros estabilizadores de humor. acompanhamento pós-alta deve ser
Esses números mostram-se fornecido para o indivíduo e também
próximos ao avaliar pacientes de sua família. A intervenção para
com Transtorno Depressivo restabelecimento e manutenção da
Recorrente e Bipolares. O uso de saúde mental deve ser vista além da
Mirtazapina é apreciado para o atenção especializada, como é o
público idoso por não manifestar exemplo dos ambulatórios
efeitos cardiovasculares e é bem especializados e dos Centros de
indicada para aqueles que além Atenção Psicossocial (CAPS). As
do Transtorno de Humor equipes de saúde da família também
apresentam conjuntamente perda são  um importante recurso de
de apetite e insônia, detecção, prevenção e promoção de
1,3,5,6,8,9,10
saúde e qualidade de vida .
medicamento muito eficaz e bem
tolerado. Ressalta-se por fim, a EX ER CÍ CI OS
relevância de enxergar o 1 – R.A.B, 24 anos, sexo masculino, é
comportamento suicida como um levado à Unidade de Pronto
ato calcado em diversos fatores. Atendimento desacordado. O jovem
Todo o contexto social,

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procurou seus vizinhos alegando é ineficiente e inútil para o
ter tomado diversas cartelas de acompanhamento desses casos.
medicamentos, sendo
prontamente encaminhado ao 2 - M.G.S., 19 anos, sexo feminino,
Pronto Atendimento. O mesmo se em consulta com psiquiatra, afirma
encontrava em tratamento para ter recorrentes pensamentos
transtorno de ansiedade, fazendo suicidas, já tendo planejado e
uso de benzodiazepínicos. Diante
executado tais atos e, devido a isso,
ter sido encaminhada para consulta
do exposto, a Unidade de Pronto
com especialista. A paciente é
Atendimento solicita seu parecer
portadora de insuficiência cardíaca,
para avaliação do paciente. Você
diagnosticada aos 15 anos, e está
deve avaliar se o manejo deve ser
passando pelo processo de divórcio
ambulatorial ou hospitalar.
de seus pais, vivendo em um período
Em relação a isso, assinale a tumultuado, enquanto tenta
alternativa correta. resguardar seu irmão mais novo do
caos familiar. Ademais, acabou de
a) O manejo ambulatorial é ingressar na faculdade de medicina,
sempre uma alternativa viável sendo, segundo ela, um dos poucos
para o acompanhamento de motivos de satisfação atual. Afirma
pacientes que cometeram sentir frequente desesperança e
tentativa de suicídio, desanimo para realizar suas
independentemente das causas atividades cotidianas, tendo chegado
de base associadas. à tentativa de suicídio por duas
b) Desde que haja uma rede de vezes, quando julgou não aguentar
suporte social adequada, mais.
supervisão das medicações e Sobre o manejo de pacientes com
retornos ambulatoriais risco de suicídio, assinale a
alternativa CORRETA.
frequentes, a medida de cuidado
ambulatorial é viável.
a) Em pacientes com transtornos
c) A vontade do indivíduo nunca
psiquiátricos, a ameaça de suicídio
deve ser levada em consideração.
não deve ser considerada como um
d) A orientação dos familiares
fator de risco, pois frequentemente é
sobre cuidados e sinais de alarme

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utilizada como forma de atrair a mãe possui transtorno depressivo
atenção dos demais. maior e que sua irmã já tentou
b) Nem todos os indivíduos que suicídio. Segundo ele, os
cometem suicídio possuem sintomas depressivos começaram
diagnostico de transtorno após a falência de sua empresa,
psiquiátrico, porém a presença deste
mas que nunca havia passado por
é considerado um importante fatos
período semelhante. Ao ser
de risco.
questionado sobre a ocorrência
c) Estatisticamente, a tentativa de
de intenção, ideação ou plano
suicídio é mais frequente em homens
do que em mulheres. Além disso, suicida, o mesmo negou.
quanto maior o número de tentativas Associada à menor estratificação
suicídio, menor é a chance de que o de risco de suicídio
paciente venha a morrer.
d) Os indivíduos só atentam contra a a) História familiar de transtornos
própria vida quando possuem a mentais como, por exemplo,
certeza de que querem morrer, depressão, ansiedade e
sendo que a ambivalência quanto a transtornos relacionados ao uso
esse desejo é considerado um fator de álcool e outras substâncias.
protetivo ao suicídio. b) A história pessoal de eventos
adversos na infância como
3 – S.A.C., 36 anos, sexo masculino,
situações de violência, morte de
casado, se apresenta para consulta
um dos pais, divórcio dos pais e
na Unidade Básica de Saúde com
modelo parental adotado pelos
queixa de constante desanimo e
pais.
desesperança, se sentido casado e
ansioso. Refere estar passando por c) O enfrentamento de situações
problemas financeiros e ter adversas atuais como, por
aumentado o uso de bebida alcoólica exemplo, , gestação indesejada,
nos últimos 2 meses. Tem dois filhos solidão, problemas familiares,
pequenos e um casamento estável, crises financeiras, dívidas, perda
sendo que seus momentos de prazer recente do lar e cometimento
e tranquilidade os que são passados recente de crime.
juntos à sua família. Relata que sua d) Laços familiares estáveis, ser o

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mantenedor da família, traços de intenção, ideação e plano suicida.
personalidade marcados por
curiosidade e alta libido. 3 - LETRA D
G A BA R IT OS E C OM EN T Á R IO S Se considera fatores protetores
1 - LETRA B ao suicídio a existência de
O manejo do paciente depende de suporte familiar e social, gestação
vários fatores, devendo ser e maternidade, religiosidade,
individualizado. Deve-se classificar o estilo de vida saudável, com
paciente em baixo, médio ou alto pratica de exercícios físicos e
risco para assim determinar a forma habilidades em resolver conflitos.
de tratamento, considerando a Ainda assim, é importante
existência de transtornos lembrar que cada caso deve ser
psiquiátricos, doenças físicas, avaliado individualmente, de
sintomas específicos e sua
forma cuidadosa, criteriosa e
severidade, o nível de
empática.
funcionamento, a rede de apoio
disponível e as motivações que LEI T U R A R EC OM EN DADA
levaram o paciente à tentativa de "O Centro de Valorização da
suicídio. Vida-CVV" conta com voluntários
treinados para conversar
2 - LETRA B
prestando apoio emocional com
Se configura como fatores
respeito e sigilo. São modalidades
predisponentes para a tentativa de
de atendimento o telefônico (24h
suicídio a ocorrência de tentativas
previas, histórico familiar, presença por dia) e virtual (email e chat).
de transtornos psiquiátricos, Através do site também é possível
gênero,estado civil, ocupação, consultar posto físico presenteem
doenças físicas e traumas. Contudo, algumas cidades, ter acesso a
o paciente pode não apresentar matérias e links úteis sobre
todos esses sintomas, sendo suicídio e caso seja do seu
necessária uma avaliação cuidadosa, interesse, tornar-se um
criteriosa e empática de cada voluntário.
paciente, questionando-se https://www.cvv.org.br/ "
diretamente o paciente sobre sua

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Suicídio – Informando para Cartilha Suicídio: informando para
prevenir. Brasília(DF): CFM; 2014.
prevenir: Cartilha de 2014 feita 4. Brasil. Ministério da Saúde. Prevenção do
da parceria entre Conselho Suicídio: Manual dirigido a profissionais
das equipes de saúde mental. Brasília (DF);
Federal de Medicina (CFM) e 2006.
Associação Brasileira de 5. Nunes F, Pinto J, Lopes M, Enes C, Botti NCL.
O fenômeno do suicídio entre os familiares
Psiquiatria (ABP). Atentos às
sobreviventes: revisão integrativa. Rev.
crescentes estatísticas do Port. Enferm. Saúde Mental. 2016; 15:17-
suicídio, tais entidades reuniram 22.
6 . Barnhill JW. Casos clínicos do DSM-5. 1. ed.
informações que abordam: Porto Alegre: Artmed; 2015.
definições, desmistificações, 7. Silva AG, Tamai S, Marques ACPR, Silva
Filho HC, et al. Diretrizes para um modelo
fatores de risco, avaliação, de atenção integral em saúde mental no
manejo e posvenção. Disponível Brasil. Associação Brasileira de Psiquiatria.
Associação Médica Brasileira. Conselho
em:
Federal de Medicina. Federação Nacional
https://www.abp.org.br/cartilha- de Médicos. Sociedade Brasileira de
combate-suicidio.  Neuropsicologia. Rio de Janeiro, 2014.
8. Passos AF, Rocha FL, Hara C, Paulino N.
R EFER ÊN CI AS Erro médico em psiquiatria – caso clínico. J.
Bras. Psiquiatr. 2009; 58 supl 1: 49-51.
1. Bertolote JM, Melo-Santos C, Botega NJ. 9. Scalco MZ. Tratamento de idosos com
Detecção do risco de suicídio nos serviços depressão utilizando tricíclicos, IMAO, ISRS
de emergência. Rev. Bras. de Psiquiatr. e outros antidepressivos. Rev. Bras.
2010; 32 supl 2: 87-95. Psiquiatr. 2002; 24 supl 1: 55-63.
2. Quevedo J, Carvalho AF. Emergências 10. Zung S, Michelon L, Cordeiro Q. O uso do
psiquiátricas. 3. ed. Porto Alegre: Artmed; lítio no transtorno afetivo bipolar. Arq.
2014. Med. Hosp. Fac. Cienc. Med. Santa Casa
3. Associação Brasileira de Psiquiatria. São Paulo. 2010; 55 supl 1: 30-37.

Figura 4: Informações CVV

Fonte: https://www.cvv.org.br/

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