Você está na página 1de 110

Tripura Rahasya

Contact: Traduzido para o português por Eanes T. Pereira


www.cienciacontemplativa.com.br

Email: ciencia.contemplativa.cg@gmail.com
Date: 26 de agosto de 2015

Capítulo 1

Versão 1

1. Saudação ao Aum (o Brahman não diferenciado), a causa Primordial e Bem-aventurada, a

consciência transcendental que brilha como o espelho do universo maravilhoso:

2. Haritayana disse:

- Impertubável você ouviu, Oh Narada! A Mahatmya (A Glória) de Sri Tripura, que ensina o

modo da Transcendência.

3. Agora eu devo discursar sobre o conhecimento, que é único por que aquele que ouvi-lo será

permanentemente libertado da miséria.

4. Este é o extrato concentrado da essência dos conhecimentos Védico, Vaishnava, Saiva, Sakta

e Pasupata obtidos após um profundo estudo de todas eles.

5. Nenhum outro curso irá impressionar a mente tanto quanto este sobre a Sabedoria, que foi

uma vez ensinado pelo ilustre mestre Dattratreya a Parasurama.

6. O ensinamento nasceu de sua própria experiência, lógica em sentido e única em sua natureza.

7. Aquele que não pode compreender a Verdade mesmo após ouvir isto, deve ser dispensado

como um tolo idiota para ser classificado entre os insensíveis e abomináveis de Deus; O

próprio Shiva não pode fazer tal pessoa obter conhecimento.

8. Agora, procedo a relatar aquele conhecimento incomparável. Ouçam! Oh, as vidas dos Sábios

1 of 6
Capítulo 1 2

são mais sagradas!

9. Narada também serviu-me para aprender o mesmo de mim.

10. Pois, o serviço dos Sábios habilita a apreensão de sua bondade inata, assim como o sentido

do olfato ajuda alguém a detectar o odor intrínseco do musk.

11. Quando Parasurama, o filho de Jamadagni, já com a mente purificada e gentil com todos,

estava ouvindo a Boa Nova do Tripura dos lábios de Dattatreya, ele abstraiu-se em devoção e

permaneceu quieto por um tempo, sua mente tornou-se ainda mais pura.

12. Então, como a mente relaxou, seus olhos brilharam em arrebatamento e seu cabelo arrepiou-

se, como se seu êxtase não pudesse ser contido mas tivesse escapado pelos poros de seu

corpo.

13. Ele então caiu aos pés de seu Mestre Datta.

14. Novamente, ele levantou-se e sendo preenchido com êxtase, sua voz chocada com emoção

quando ele disse: sortudo eu sou; abençoado eu sou; por meio de tua graça Oh Senhor!

15. Essa extensão de graça chamada Shiva, aque encarnada como meu Guru, é de fato graciosa

comigo; do qual o prazer mesmo do Senhor da criação parece um pigmeu1 .

16. O Deus da Morte não fundiu-se ao Ser, se apenas o mestre de alguém se satisfaz com al-

guém? Aquele Ser Supremo é de fato gracioso, tanto quanto meu Mestre, por razões por mim

desconhecidas.

17. A graça recebida do Guru, eu recebi todas! Tens agora gentilmente me revelado a glória de

Tripura.

18. Agora eu desejo fervorosamente adorar sua Majestade Transcendental. Gentilmente diga-me,

meu Mestre, como deve ser feito.

19. Tendo sido solicitado, Guru Datta satisfeito com a capacidade de Parasurama, cujo zelo e

devoção à adoração de Tripura era intensa;

20. e ele devidamente o iniciou no método de Sua (dela) adoração.

21. Após a iniciação ao método correto, o qual é mais sagrado do que todos os outros e leva dire-

tamente à Realização, Parasurama aprendeu dos doces lábios do Sri Guru todos os detalhes
1
Original em inglês: gaining whose pleasure even the Lord of creation looks a pigmy

2 of 6
Capítulo 1 3

quanto a recitações, imagens para adoração e diferentes meditações, uma após outra - como

uma abelha coletando mel das flores.

22. Bhargava (i.e., Parasurama) estava radiante.

23. Tendo sido permitido por seu santo mestre, ele estava sedento por praticar o sagrado co-

nhecimento; ele caminhou em torno de seu mestre, o obedeceu e retirou-se para o Monte

Mahendra.

24. Lá, tendo construído uma hermida limpa e confortável, engajou-se por doze anos à adoração

de Tripura.

25. Incessantemente contemplou a figura da Sagrada Mãe Tripura, realizando ao mesmo tempo

suas tarefas diárias, recitações e cerimônias especiais conectado com Ela. Doze anos passaram-

se como um raio. Então, um certo dia enquanto o filho de Jamadagni estava sentado à von-

tade, caiu em devaneio.

26. No passado, eu não entendia nem um pouco do que Samvarta dizia-me quando eu o encon-

trava no caminho.

27. Eu também esqueci o que perguntei a meu Guru. Eu ouvi dele a Boa Nova de Tripura.

28. Mas não está claro para mim o que Samvarta disse-me em resposta à minha pergunta sobre a

criação.

29. Ele mencionou a estória de Kalakrit, mas não foi adiante, sabendo que eu não estava pronto

para ela.

30. Mesmo agora, eu não entendo nada dos trabalhos do universo. De onde ele surgiu, em toda

sua grandeza?

31. Onde ele termina? Como ele existe? Eu acho que ele é totalmente transitório.

32. Mas os acontecimentos mundanos parecem permanentes. Por que deveriam ser? Tais aconte-

cimentos parecem estranhos o bastante para serem desconsiderados.

33. Quão estranhos! Eles são iguais a um homem cego sendo guiado pelo cego!

34. Meu próprio caso fornece um exemplo. Eu nem mesmo relembro o que aconteceu em minha

infância.

35. Eu era diferente em minha juventude, novamente diferente em minha vida adulta, ainda mais

3 of 6
Capítulo 1 4

diferente agora; e deste modo, minha vida está constantemente mudando.

36. Não está claro para mim, quais frutos foram colhidos como resultados dessas mudanças. O

fim justifica o meio como o adotado por indivíduos de acordo com seus temperamentos em

diferentes climas e em diferentes tempos.

37. O que eles ganharam por isso? Eles estão felizes?

38. O ganho é apenas o que é considerado ganho pelo público imprudente. Eu, contudo, não

posso julgar assim, vendo que mesmo após obter o fim desejado, as tentativas são repetidas.

39. Bem, tendo obtido o propósito, por que o homem busca outro? Portanto, o que o homem está

sempre buscando deveria ser o estimado e único propósito - seja ele o ganho do prazer ou a

remoção da dor.

40. Não pode haver, enquanto o incentivo para o esforço perdurar.

41. O sentimento de uma necessidade de trabalhar de modo a obter felicidade (sendo o índice da

miséria) é o mistério das misérias. Como pode haver prazer ou remoção da dor contanto que

ele continue2 .

42. Tal prazer é como unguentos calmantes colocados sobre um membro escaldado,

43. ou como o abraço da amada quando alguém está caído atingido por uma flecha no peito;

44. ou das melodias doces da música ouvida por um tuberculoso avançado!

45. Somente aqueles que necessitam se engajar em ação são felizes; eles são perfeitamente con-

tentes, e autocontidos, e eles experimentam uma felicidade que se extende a todos os poros

do corpo.

46. Deveria haver ainda uns poucos momentos de prazer para os outros, eles são similiares aos

desfrutados por aquele que, enquanto se contorcendo com uma dor abdominal, inala o doce

odor das flores.

47. Quão tolas as pessoas com inumeráveis obrigações, mesmo tão ocupadas para buscar tais

momentos de prazer neste mundo!

48. O que eu deveria dizer das proezas dos homens indiscriminados? Eles propõem a busca por

felicidade após cruzar intermináveis obstáculos de esforços!


2
Nota do tradutor: o sentimento de necessidade

4 of 6
Capítulo 1 5

49. Um mendigo na rua labuta tanto por felicidade quanto um poderoso imperador.

50. Cada um deles ganhou seu fim e sente felicidade e considera a si mesmo abençoado como se

tivesse alcançado o objetivo da vida.

51. Eu também tenho involuntariamente imitado-os como um homem cego seguindo o cego.

Basta desta loucura! Eu irei de uma vez retornar para aquele oceano de misericórdia - meu

Mestre.

52. Aprendendo dele o que deve ser conhecido, eu cruzarei o oceano de dúvidas após embarcar

no bote de seus ensinamentos.

53. Tendo então resolvido, Parasurama de mente pura imediatamente desceu a montanha em

busca de seu Mestre.

54. Rapidamente alcançou a Montanha Gandhmadan, ele encontrou o Guru sentado em padma-

sana como se iluminasse o mundo inteiro.

55. Ele caiu em frente do assento de seu Mestre segurando os pés do Guru com suas mãos,

pressionou-as à sua cabeça.

56. Parasurama o saudou, Dattatreya deu-o suas bençãos, sua face iluminada com amor e disse-

lhe:

57. Criança! Levante-se. Vejo que retornou após longo tempo. Diga-me, como estás? Estás com

boa saúde?

58. Ele levantou-se ao comando de seu Guru e tomou seu assento em frente, próximo a ele, como

ordenado. Juntou suas mãos em saudação, Parasurama falou com prazer.

59. Sri Guru! Oceano de Misericórdia, pode alguém encharcado com Sua bondade ser afligido

por doenças, mesmo se o destino o decretar?

60. Como podem as queimantes dores da doença tocar aquele que está próximo à lua refrescante

de Sua bondade semelhante ao néctar?

61. Eu estou feliz de corpo e mente, sendo refrescado por Tua bondade.

62. Nada me aflige exceto o desejo de permanecer em permanente contato seus santos pés.

63. A própria visão de Seus pés sagrados faz-me perfeitamente feliz, mas ainda restam algumas

dúvidas em minha mente.

5 of 6
Capítulo 1 6

64. Com Tua permissão eu desejo apresentá-las.

65. Ouvindo as palavras de Parasurama, Dattatreya, o Oceano de Bondade, estava satisfeito e

disse-lhe:

66. Pergunte uma vez, O Bhargava, o que você quer tanto saber e que tem pensando tanto. Estou

satisfeito com sua devoção e responderei suas questões com prazer.

Assim chega ao fim o Primeiro Capítulo conhecido como "Interrogação de Bhargava"na Sri

Tripura Rahasya.

###

6 of 6
Tripura Rahasya

Contact: Traduzido para o português por Eanes T. Pereira


www.cienciacontemplativa.com.br

Email: ciencia.contemplativa.cg@gmail.com
Date: 27 de agosto de 2015

Capítulo 2

Versão 1

1. Então ordenado, Parasurama, novamente saudou o filho do Santo Atri com humildade, come-

çou a perguntar:

2. Bhagavan, querido e estimado Mestre! Oh Onisciente! Oceano de Misericórdia! Anterior-

mente, por boa razão, eu estava furioso com a classe dos reis.

3. Vinte e duas vezes andei a passos largos exterminando todos eles, incluindo bebês que ainda

estavam sendo amamentados e aqueles ainda no útero, coletando seu sangue em uma piscina.

4. Meus antepassados estavam satisfeitos com minha devoção a eles; contudo, ordenaram-me

que desistisse de tal carnificina. Minha irá estava finalmente apaziguada.

5. Ouvindo do renomado Rama, a própria encarnação de Hari em Ayodhya, minha ira reacen-

deu. Cego pela fúria e orgulhoso de minhas proezas, o desafiei.

6. Fui derrotado pelo grande Senhor e meu orgulho foi humilhado. Contudo, de sua bondade

inata ele deixou-me ir com minha vida por que eu era um brâmane.

7. Quando eu estava retornando, mortificado pela derrota, percebi a vaidade dos caminhos do

mundo.

8. Inesperadamente conheci Samvarta, o Senhor dos Avadhutas e instintivamente o reconheci

como fogo em cinzas.

1 of 7
Capítulo 2 2

9. Sua grandeza foi como carvão ardente escondido em cinzas. Cada polegada de seu corpo

preenchia alguém de alegria de modo que eu tive um sentimento refrescante com sua mera

proximidade.

10. Eu pedi-lhe para falar-me sobre seu estado. Sua resposta foi clara e expressiva como a essência

do doce néctar da vida eterna.

11. Não pude seguir a conversa e me senti como uma pobre donzela diante de uma rainha.

Contudo eu rezei para ele e ele dirigiu-me a Ti.

12. Portanto, busquei refúgio em teus santos pés, como um homem cego que é inteiramente

dependente de seus amigos.

13. O que Samvarta disse-me não está totalmente claro para mim. Eu estudei bem a Boa Nova

do Tripura. Ela é sem dúvida um incentivo à Sua devoção (dela).

14. Ela está encarnada como Tu e sempre permanece em meu coração. Mas o que eu tenho obtido

afinal?

15. Senhor, bondosamente explique o que Samvarta disse-me antes. Com certeza não posso

realizar o objetivo até que isso se torne conhecido a mim.

16. O que quer que eu faça em ignorância disso parece mera brincadeira de criança.

17. Antigamente eu agradava os Deuses, incluindo Indra, com várias cerimônias, observâncias,

presentes e oferendas de comida.

18. Depois ouvi Samvarta dizer que os frutos de todos esses atos são apenas triviais. Eu considero

aqueles atos de nenhum valor que geram apenas resultados insignificantes.

19. A miséria não é ausência de felicidade, mas felicidade limitada. Pois, quando a felicidade

recua a miséria é derramada.

20. Esta não é o único resultado miserável da ação, mas resta um ainda pior, o medo da morte,

que não pode ser mitigado por quantidade alguma de atividade.

21. Minhas práticas devocionais diante de Tripura são similares. Todas essas concepções mentais

não são nada mais que brincadeiras de crianças.

22. As práticas devem ser de acordo com Tuas instruções, ou diferentes. Novamente, elas devem

ser com disciplina ou sem disciplina, já que os sastras diferem sobre isso.

2 of 7
Capítulo 2 3

23. As meditações podem também diferir, de acordo com os gostos e temperamentos individuais.

Como isso pode ser? A devoção é tão imperfeita quanto o karma.

24. Como podem conceitos mentais transientes de devoção produzirem resultados intransientes

de alta Verdade? Além disso, as práticas são contínuas e parecem não ter fim esses deveres

obrigatórios.

25. Tenho notado que Samvarta, o Senhor, é bastante feliz, estando completamente livre de qual-

quer senso de obrigação para agir e seus desastrosos resultados.

26. Ele parece rir dos modos do mundo, caminhar a passos largos despreocupado nas estradas do

destemor, como um elefante majestoso refrescando-se em um lago de neve derretida quando

a floresta que o circunda está em chamas.

27. Eu o encontrei absolutamente livre de qualquer senso de obrigação e ao mesmo tempo per-

feitamente feliz sua realização do Ser Eterno. Como ele obteve esse estado? E o que ele me

disse?

28. Bondosamente explique esses pontos e, então, resgate-me das garras do monstro do karma.

29. Rezando desta maneira, ele caiu protrado e tomou os pés do Mestre em suas mãos. Vendo

Parasurama fazendo isso o mestre sentiu que ele estava pronto para a Realização.

30. Sri Datta, cujo próprio ser era amor, disse gentilmente: Oh criança Bhargava! Você é sortudo

- sua mente está, então, disposta.

31. Tal como um homem afundando no oceando repentinamente encontra um barco para resgatá-

lo, também suas ações virtuosas do passado te puseram nas mais sagradas alturas da Autore-

alização.

32. Aquele Devi Tripura, que é o cerne da consciência do coração e portanto conhece cada um

intimamente,

33. rapidamente salva seus devotos inabaláveis das garras da morte, após manifetar a Si mesma

em seus corações.

34. Tão logo um homem tenha medo do pesadelo, a obrigação, tão logo ele deve aplacá-lo, de

outro modo ele não encontrará paz.

35. Como pode um homem picado por aquela Víbora, a obrigação, ser feliz? Portanto, algum

3 of 7
Capítulo 2 4

homem tornou-se louco, como se algum veneno tivesse entrado em seu sangue e estivesse

torturando todo seu ser.

36. Enquanto outros estão estupefatos pelo veneno da obrigação e incapazes de discriminar o

bom do mau.

37. Incorretamente ele se engajam em trabalho, sendo deludidos; essa é a situação da humani-

dade estupefata pelo veneno do senso de obrigação.

38. Os homens estão desde tempos imemoriais sendo engolidos pelo terrível oceando de veneno,

como alguns viajantes uma vez nas cercanias de Vindhya.

39. Oprimidos pela fome na floresta, eles tomaram erroneamente as frutas enganosas da Nux

Vomica (vishamushti) por deliciosas laranjas.

40. E em sua fome voraz ele comeram-nas sem nem mesmo identificar seu gosto amargo. Eles,

então, sofreram tormentos dos efeitos do veneno.

41. Tendo originalmente trocado a fruta venenosa por um fruta comestível, sua razão agora cega

pelo veneno, eles avidamente buscaram alívio do veneno.

42. E, em sua agonia, eles pegaram e comeram maçãs-espinhosas (thorn-apples), pensando que

fossem maçãs-rosa.

43. Eles tornaram-se loucos e perdaram seu caminho. Alguns tornando-se cegos, caíram em covas

ou desfiladeiros;

44. Alguns deles tiveram seus membros e corpos cortados por espinhos; alguns ficaram aleijados

das mãos, pés ou outras partes do corpo; outros começaram a brigar, lutar e gritar entre si.

45. Eles bateram uns nos outros com seus punhos, pedras, mísseis, varas, etc., até que completa-

mente exaustos, chegaram a uma cidade.

46. Acontece que chegaram às cercanias da cidade ao cair da noite e foram proibidos de entrar

pelos guardas.

47. Sem noção do tempo e do lugar e incapazes de avaliar as consequências, eles agrediram os

guardas e foram prontamente açoitados e afugentados;

48. alguns caíram em valas; alguns foram apanhados por crocodilos em águas profundas;

49. alguns caíram de cabeça em poços e foram afogados; uns poucos, mais mortos do que vivos,

4 of 7
Capítulo 2 5

foram pegos e jogados na prisão.

50. Similar é o destino daqueles que, deludidos com a busca por felicidade, caíram nas armadilhas

do capataz da ação. Eles estão confusos em seu frenesi e a destruição os aguarda.

51. Você é afortunado, Bhargava, tendo transcendido esse estado distraído.

52. A investigação é a causa-raiz de tudo e é o primeiro passo da suprema recompensa da bem-

aventurança indescritível. Como pode alguém obter segurança sem a investigação apropri-

ada?

53. A falta de juízo é morte certa, mas muitos estão em suas garras. O sucesso atende a delibera-

ção apropriada, até eventualmente o fim ser sem dúvida realizado.

54. Ausência de deliberação é fraqueza sempre presente dos Daityas e Yatudhanas (Asuras e

Rakshasas); a deliberação é característica dos Devas e portanto eles estão sempre felizes.

55. Devido à sua discriminação eles dependem de Vishnu e inevitavelmente conquistam seus

inimigos. A investigação é a semente capaz de brotar e florir a árvore de felicidade gigantesca.

56. Um homem deliberado sempre brilha sobre os outros, Brahma é grande por causa de sua

deliberação; Vishnu é adorado por causa disso.

57. O Grande Senhor Siva é onisciente pela mesma razão. Rama, embora o mais inteligente dos

homens, veio a desastre por falta de juízo, antes de tentar capturar o veado de ouro;

58. depois, com devida deliberação, ele ultrapassou o oceano, cruzou o Lanka, a ilha da ninhada

de Rakshasa e a conquistou.

59. Você deve ter ouvido como Brahma, também estando em certa ocasião apaixonado, agiu

precipitadamente como um tolo e consequentemente pagou a penalidade com uma de suas

cinco cabeças.

60. De modo impensado, Mahadeva concedeu bençãos ao Asura e foi imediatamente obrigado a

fugir em terror de ser reduzido a cinzas.

61. Em certa ocasião, Hari, tendo matado a esposa de Bhrigu, tornou-se vítima de terrível maldi-

ção e sofrei incontáveis misérias.

62. De modo similar, outros Devas, Asuras, Rakshasas, homens e animais tornaram-se miseráveis

por falta de juízo.

5 of 7
Capítulo 2 6

63. Por outro lado, grandes e valorosos são os heróis, O Bhargava, de cujos o juízo é sempre

amigo. Homenagem eterna a eles.

64. As pessoas comuns, tornando-se tolamente envolvidas com respeito ao seu senso de ação,

ficam perplexas à cada instante; se, por outro lado, eles pensarem e depois agirem, eles serão

livres de toda miséria.

65. O mundo tem estado nas bobinas da ignorância desde tempos imemoriais; como pode haver

discernimento contanto que a ignorância dure?

66. Podem as doces águas do orvalho coletadas em desertos arenosos já estarem chamuscadas

pelo calor? De modo similar, pode o toque refrescante de discernimento ser buscado na

fornalha ardente da ignorância?

67. O discernimento é, contudo, obtido pelos métodos apropriados, o mais efetivo dos quais é

também o melhor de todos e esse é a suprema graça da Deusa que é inerente como o Lotus

do Coração em cada um.

68. Quem terá realizado qualquer bom propósito sem Sua graça?

69. A investigação é o Sol para afugentar a densa escuridão da indolência. Ela é gerada pela

adoração de Deus com devoção.

70. Quando a Suprema Devi está bem satisfeita com a adoração do devoto, Ela se transforma em

vichara1 nele e brilha como o Sol ardente na extensão de seu coração.

71. Portanto, aquela Tripura, a Força Suprema, o Ser de todos os seres, a abençoada, a mais

alta, a única consciência de Siva, que permanece como o Self do self, deveria ser adorada

sinceramente, exatamente como ensinado pelo Guru.

72. O precursor de tal adoração é devoção e louvável seriedade.

73. A causa antecedente disso é novamente dita ser a aprendizagem da Mahatmya.

74. Portanto, Oh Rama, a Mahatmya foi primeiro revelada a você; tendo a ouvido, você agora

progrediu bem.

75. Vichara é o único meio de obter a mais alta Bondade (Good).

76. Eu estava, de fato, ansioso até a mente virar-se em direção à vichara da doença avassaladora
1
Vichara: discriminação, investigação, deliberação, juízo.

6 of 7
Capítulo 2 7

da ignorância, assim como alguém está ansioso sobre um paciente que está delirando, até ver

que sua saúde mostra sinais de uma evolução favorável.

77. Uma vez que vichara se enraize, o bem maior terá, para todos os propósitos práticos, sido

atingido nesta vida.

78. Se vichara estiver ausente de um ser humano, a forma mais desejável de nascimento, a árvore

da vida será estéril e portanto inútil. O único fruto útil da vida é vichara.

79. O homem se discriminação é como um sapo num poço;

80. assim como o sapo num poço não sabe nada nem de bom nem de mau e portanto morre na

ignorância no próprio poço,

81. da mesma forma os homens, inutilmente nascidos em Brahmanda2 , não sabem nada nem de

bom nem de mau relativo a si mesmos e nascem somente para morrer em ignorância.

82. Confundem desapego (vairagya) com miséria e os prazeres do mundo com felicidade (sukha),

um homem sofre nos ciclos de nascimentos e mortes, enquanto a poderosa ignorância preva-

lece.

83. Embora aflito pela miséria, ele não cessa a condescendência com as causas antecedentes a ela

(ou seja, a riqueza, etc.);

84. Como um idiota persegue uma jumenta mesmo tendo levado coices dela centenas de vezes,

também ocorre o mesmo com o homem e o mundo. Mas tu, Oh Rama, pela discriminação

transcendestes a miséria.

Assim Termina o Segundo Capítulo da Tripura Rahasya.

###
2
Brahmanda: o ovo de Brahma (i.e., o universo)

7 of 7
www.cienciacontemplativa.com.br

Tripura Rahasya - Capítulo 3


O Poder da Associação com o Sábio

1. Tendo ouvido as palavras de Dattatreya, Parasurama estava encantado e continuou seus


questionamentos com toda humildade:

2. Oh Bhagavan! É precisamente como meu Senhor Guru disse. Realmente, um homem vai se
dirigir para a destruição em sua ignorância.

3. Sua salvação repousa somente na investigação (vichara). As causas remotas e próximas foram
mencionadas por Ti e elas foram traçadas por esta Mahatmya. Estou em grande dúvida neste ponto.

4. Como isso aconteceu e qual é novamente sua causa próxima? Poderia ser natural (como a
coragem para um herói)? Então por que não é compartilhada por todos.

5-6 Por que eu não obtive a disposição para ouvir a doutrina até agora? Por que eles, que se depararam
com tristeza maior que eu e que foram machucados a cada passo, não obtiveram o meio (de ouvir a
doutrina)? Por favor, diga-me isso por sua compaixão. Assim questionado, Dattatreya, o depósito de
compaixão estava deleitado e falou novamente.

7. Rama! Ouça. Eu relatarei a principal causa da maior bondade. A associação com o sábio é a principal
causa da destruição da tristeza.

8-9. A associação com o sábio é dita ser a semente para alcançar o fruto daquela que é a Verdade mais
elevada. Além disso, você, associando-se com esse sábio e nobre Samvarta, atingiu esse estado do
qual surge o fruto da bondade superior. Apenas o sábio, quando encontrado, de verdade aponta (ou
concede) a mais elevada felicidade.

10. Alguém já obteve algo grande sem o contato com o sábio? Em qualquer caso, é a companhia que
determina o futuro do indivíduo.

11. Um homem, indubitavelmente, colhe os frutos da companhia que possui. Eu relatarei a você
uma estória para ilustrar isso:

12. Uma vez, havia um Rei de Dasarna chamado de Muktachuda. Ele tinha dois filhos: Hema-
chuda e Manichuda.

13. Eles eram formosos, bem comportados e estudiosos. Uma vez, eles deram uma festa de
caça, consistindo de um grande séquito de homens e guerreiros, em uma floresta densa nas
montanhas de Sahya, um lugar infestado de tigres, leões e outros animais selvagens.

14. Eles próprios foram armados de arcos e flechas.

15. Lá, eles atingiram vários veados, leões, javalis, bisontes, lobos, etc., tendo matado a todos

1
www.cienciacontemplativa.com.br

com o hábil uso de seus arcos.

16. Quando mais animais selvagens eram caçados pelos caçadores reais, um tornado começou
raivosamente, jogando areia e seixos.

17. O céu estava coberto com poeira e tornou-se como a noite durante a lua nova. Lá, nada era visto,
rochas, árvores ou homens.

18. Como pode alguém ver o terreno alto ou baixo? Então, a montanha foi rodeada por escuridão.
Atingido pelo banho de cascalho, o exército fugiu completamente.

19. Alguns (no exército) foram em direção às árvores (buscando proteção). Alguns foram para cavernas
e, outros, para rochas. Os dois príncipes montados em seus cavalos, também fugiram.

20. Hemachuda chegou no eremitério de um asceta. O eremitério era lindo e cheio de bosques e
bananeiras.

21. Lá, ele viu uma linda donzela brilhando como uma chama de fogo com um corpo com o brilho do
ouro fundido.

22. O príncipe foi enfeitiçado ao ver a garota, que se assemelhava à Deusa da Fortuna, e falou
então para ela: quem é você, séria dama, que vive destemidamente numa floresta tão terrível e solitária?

23. De quem é você? Por que você está aqui? Você está sozinha?

24. Ao ser-lhe dirigida a palavra, a donzela impecável respondeu: Bem vindo príncipe! Por favor,
sente-se.

25. A hospitalidade é o dever sagrado do piedoso. Notei que você foi afligido pelo tornado.

26. Amarre seu cavalo à tamareira. Sente aqui e descanse, então estará apto a ouvir-me
confortavelmente.

27. Ela deu-lhe frutas para comer e sucos para beber.

28. Após ter se refrescado, ele foi tratado com suas palavras charmosas que caíam como doce
néctar de seus lábios.

29. Príncipe! Vyaghrapada, o sábio, que recorreu aos pés do Senhor Shiva e pelo qual a maioria dos
mundos sagrados foram obtidos pela força de sua austeridade, é o conhecedor da Realidade (ou da
Verdade que inclui tudo) e é sempre adorado por sábios distintos.

30-31. Eu sou sua filha adotada por um senso de dever, conhecida como Hemalekha. Uma vez, uma
mulher celestial chamada de Vidyutprabha, de corpo belo, veio tomar banho neste rio Vena. Ao mesmo
tempo, Susena, o reio de Vanga, veio lá de rotina.

2
www.cienciacontemplativa.com.br

32. Ele viu a mulher, bela, tomando banho no rio, com seus grandes seios bem visíveis pelas suas
roupas molhadas.

33. O príncipe, atingido pelas flechas do Cupido, rezou pela companhia dela. E ela, fascinada por sua
beleza, consentiu em suas palavras.

34. Seu amor foi consumado, ele retornou para casa com ela grávida.

35. Com medo de calúnia, ela provocou um aborto. Eu nasci, contudo, viva daquele ventre.

36. Quando Vyagrhapada veio à margem do rio para suas abluções matinais, ele pegou-me devido a seu
grande amor por todos, para criar-me com os cuidados de uma mãe.

37. Aquele que oferece proteção justa é dito ser o pai. Eu sou, portanto, sua filha pela essa virtude e
devota a ele.

38. Não há, certamente, nenhum temor por mim em nenhum lugar da terra devido à sua grandeza.
Sejam eles Deuses ou Asuras, eles não podem entrar em minha ermida com maus
motivos;

39. se eles o fizerem, estarão cortejando sua própria ruína. Contei-lhe minha história. Espere
aqui um pouco. Príncipe.

40. Ele, meu reverenciado pai, chegará. Veja-o, ou escute-o. Tendo saudado-o e tendo obtido seu
desejo, você partirá no fim do dia.

41. Tendo ouvido as palavras de Hemalekha, o príncipe fascinado por sua beleza, e com medo de falar
qualquer coisa com ela, ficou, como se estivesse desconsolado.

42. Então, vendo o príncipe cair sob a influência do amor, aquela sábia donzela disse novamente:
Príncipe! Tenha fortaleza.

43-44. Meu pai chegará rapidamente. Então, receba o que é desejado. Quando ela estava falando,
Vyaghrapada, o grande sábio, chegou da floresta após coletar folhas e flores (para o ritual diário).
45. Vendo a chegada do Sábio, o príncipe levantou-se do seu assento, prostrou-se diante dele,
mencionando seu nome e então tomou seu assento como indicado.

46. O Sábio notou que o homem está ferido de amor; entendendo toda a situação com seus
poderes ocultos, ele ponderou qual seria o melhor curso nas circunstâncias; e terminou por
conceder Hemalekha ao jovem homem como sua companheira.

47. O príncipe foi preenchido de satisfação e retornou com ela para sua capital. Muktachuda, seu pai,
também estava muito satisfeito e ordenou festividades em todo o reino.

48. Ele então realizou a cerimônia de casamento e o amoroso casal passou uma lua-de-mel muito feliz
no palácio, nos retiros nas florestas e nas praias arenosas.

3
www.cienciacontemplativa.com.br

49. Mas o príncipe apaixonado notou que Hemalekha não era tão amorosa quanto ele.

50. Sentindo que ela estava sempre indiferente, perguntou-lhe em privado: Minha querida! Como é isto
que você não é tão prestativa quanto eu sou com você?

51. Tu garota mais bela, radiante de sorrisos! Como é isto que você nunca está interessada em buscar
prazer ou deleitá-lo? Você não gosta de prazeres?

52. Você parece indiferente mesmo durante os maiores prazeres. Como posso ser feliz se o seu
interesse não está desperto?

53. Mesmo quando eu estou fortemente apegado a você, você parece alguém com a mente ausente.
Embora, eu fale com você repetidamente, você simplesmente não ouve nada.

54. Percebendo-me, venha e una-se comigo num abraço por um longo tempo, você pede como se não
soubesse: Senhor! Quando você chegou?

55. Nenhum dos arranjos cuidadosamente planejados parecem interessar-lhe e você não toma
parte deles.

56. Sempre que eu me aproximo de você, separada de mim, naquele instante, eu te vejo permanecer de
olhos fechados.

57. Diga-me como posso obter prazer com nada mais que uma modelo de arte, que é isso que
você é, vendo sua indiferença a todos os prazeres.

58. O que não te satisfaz também não pode me satisfazer. Estou sempre te observando, tentando te
satisfazer como um lírio olhando para a lua.

59. Fale, querida! Por que você é assim? Você me é mais querida que a vida. Eu te imploro! Fale e alivie
minha mente.

Assim termina o Terceiro Capítulo na Seção "O Poder da Associação com o Sábio" no Tripura
Rahasya.

4
www.cienciacontemplativa.com.br
1

Tripura Rahasya - Capítulo 4


Sobre o desenvolvimento do desapego

1. Ela, a inocente, ouvindo então as palavras de seu amado que circundou seu pescoço
num abraço, falou ao príncipe com sua boca expressando um suave sorriso.
2. Desejando ensinar ao príncipe, ela lhe disse isso com raciocínio apropriado: Príncipe!
Ouça minhas palavras. Eu não tenho aversão a você.
3. Minha mente, sempre ocupada com a investigação ( वचारपरमा - vicāraparamā​) sobre
o que há de mais agradável no mundo e o que de fato pode ser o mais desagradável,
não chega a nenhuma conclusão.
4. Eu pondero sobre isso diariamente há um um longo tempo. Devido a minha natureza
feminina, não conheço esse fato. Você pode me dizer esta verdade.
www.cienciacontemplativa.com.br
2

5. Hemachuda disse para sua amada sorrindo: certamente, as mulheres são tolas. Esta é
a verdade. Não há dúvida.
6. Os animais, os pássaros e mesmo os animais rastejantes sabem, de fato, o que é
agradável e o que não é desde que existe a inclinação em direção ao agradável e
aversão em direção ao que é desagradável dentre eles.
7. Por que pensar tanto sobre esse assunto?
8. Aquilo sobre do qual pode haver felicidade é agradável e aquilo de que pode existir
tristeza é desagradável. Por que você pensa constantemente sobre esse assunto tolo,
minha querida!
9. Tendo ouvido as palavras de seu amado, Hemalekha disse novamente ao seu querido
esposo: É verdade que as mulheres são tolas. Elas não têm deliberação. Mesmo assim,
eu deveria ser ensinada por você que tem deliberação apropriada.
10. Bem instruída por você, eu deverei a partir de agora estar constantemente dentre
prazeres, tendo abandonado esse pensamento.
11. Rei! O agradável e o desagradável dos quais a felicidade e a tristeza surgem foram
certamente bem indicadas por ti, que tens deliberação apropriada.
12. A mesma coisa pode produzir felicidade e tristeza por diferença em aparência, lugar e
tempo. Portanto, em tal coisa, como a estabilidade da experiência (de agradável e
desagradável) pode ser possuída com certeza?
13. Como o fogo, devido a uma diferença no tempo, dá resultados bastante diferentes,
então é devido a diferenças em lugar e forma.
14. O fogo é agradável no inverno, mas é desagradável no verão. Também, é agradável ou
desagradável devido a diferença entre um país frio e um país quente.
15. Para os seres vivos que possuem uma disposição natural para o frio, [o fogo] é
agradável; e para os outros, é desagradável. Do mesmo modo, ele é declarado por sua
existência em maior ou menor medida.
16. Portanto, assim são a frieza, a riqueza, a esposa, os filhos, o reino e o resto. Então, o
rei também é, circundado pela esposa, filhos e riqueza, desta maneira.
17. Por qual razão ele sofre todos os dias e por que outros (que não possuem tanta
diversão) não sofrem? Essa diversão que é pelo prazer, mesmo que não possa
possivelmente ser infinita.
18. Esse divertimento [infinito] não foi obtido por ninguém completamente, pelo qual pode
haver felicidade. Mesmo nesse caso onde poderia haver felicidade devido à aquisição
de qualquer pequeno divertimento, ouça (os fatos).
19. Senhor! Isso não pode ser felicidade já que está misturado com tristeza. Diz-se que a
tristeza é de dois tipos, externa e interna.
20. A externa é produzida pelo corpo e surge dos defeitos nos humores (ou ingredientes
essenciais do corpo) e coisas do tipo. Diz-se que a interna é mental e que tem o desejo
como sua origem.
www.cienciacontemplativa.com.br
3

21. A dor mental, pela qual este mundo está agarrado, pode ser maior que a dor física.
Apenas o desejo é a semente da árvore da tristeza, tendo grande poder.
22. Pelo desejo, mesmo deuses como Indra que são residentes do paraíso e que existem
para sempre, tornaram-se servos e certamente trabalham dia e noite.
23. Príncipe! A felicidade que existe mesmo quando ainda há um resto de desejo,
conheça-a apenas como tristeza. Tal felicidade sendo misturada com tristeza é trivial e
está presente mesmo nos vermes.
24. Mas a felicidade dos animais, dos insetos e dos vermes, que é misturada com pouco
desejo é melhor. Diga, que felicidade pode haver para os homens?
25. Se alguém que é dominado por centenas de desejos pode ser feliz aqui após ter obtido
um pouco, então diga, quem de fato não pode ser feliz?
26. Mesmo ele (aquele dotado de centenas de desejos) pode ser feliz se for possível haver
um corpo que foi queimado e foi refrescado por uma pequena gota de sândalo.
27. O homem de fato obtém o prazer do abraço de sua amada. Nessa ocasião, ainda pode
haver dor devido ao aperto rude (ou a postura inadequada) do corpo.
28. A fadiga é certamente produzida em qualquer pessoa após a agitação da relação sexual
assim como há fadiga para um animal carregando uma carga.
29. Senhor! Como você vê isso como felicidade? Declare isso a mim.
30. Assim como há prazer para você na união com o amado surgindo da fricção das N ​ āḍī-s
(नाडी), não há tanto assim para cães (tendo uma união similar)? Diga-me.
31. Se o que é maior do que o prazer mencionado acima é aquele que surge da beleza (da
amada) vista (ou aproveitada) por você, então, isso é produzido por mera presunção (ou
noção fantasiosa), como é na união com uma mulher num sonho.
32. Antigamente, um certo príncipe, mais belo do que o deus da beleza, obteve como sua
esposa uma certa mulher amável que fascinou a todos. Aquele príncipe era
extremamente apegado a ela.
33. Mas a mente dela era apegada a outra pessoa, o servo do príncipe. O servo traiu o
príncipe por meio de um esquema.
34. Dando-lhe licor alcoólico excessivamente para embriagá-lo e então enviar uma certa
empregada feia para ele que estava cego pela intoxicação, ele alegrou a esposa
daquele príncipe que era a mais bela em todo o reino.
35. Logo, o filho do rei, cego pela intoxicação há um longo tempo e tendo relações com a
donzela todos os dias, valorizou a si mesmo em alta estima: eu sou afortunado.
36. Todos os dias eu me aproximo de tal bela mulher que é minha amante tão querida
quanto à vida. Não há ninguém como eu em nenhum lugar.
37. Depois de passado um longo tempo dessa maneira, uma vez, o servo derramou
acidentalmente a bebida distraído por trabalho excessivo.
38. Então, o príncipe não bebeu tanto daquele licor.
www.cienciacontemplativa.com.br
4

39. Por alguma razão aparente, ele foi embora rapidamente, com a mente inquieta pela
diversão, para o seu quarto de dormir adornado com excelentes objetos, como o chefe
dos deus, Indra, fosse para a residência da sua consorte Shachi situada em seu jardim.
40. Ele aproximou-se daquela empregada descansando na mais fina cama e tendo perdido
o controle sobre si mesmo devido a agitação causada pela luxúria, aproveitou-se dela
com o maior deleite.
41. Então, no fim do prazer, encontrando-a como a empregada com uma aparência
repugnante e pensando “O que é isto?”, ele suspeitou e ficou zangado.
42. Ele a questionou: Onde está ela, minha amada esposa?
43. Aquela empregada, questionada por ele e tendo observado-o livre de sua intoxicação,
não disse nada a ele assustada e tremendo. Então -
44. O príncipe, com seus olhos vermelhos de raiva, discernindo a injustiça e truque jogado
contra ele, agarrou a empregada pelo cabelo com a mão esquerda e tomou a espada
pela mão direita.
45. O príncipe falou para ela ameaçando-a:
46. Conte-me os eventos exatamente. De outro modo, sua vida não terá valor. Diga-me
rapidamente.
47. Ouvindo as suas palavras, ela assustada devido ao seu desejo de preservar a vida,
descreveu exatamente todos os eventos que ocorreram por um longo tempo.
48. Ela também mostrou-lhe a princesa junta com o servo.
49. O príncipe viu o servo alto, negro e de olhos vermelhos que era repugnante, de corpo
sujo e face grosseira, em algum lugar numa esteira de palha no chão, abraçando a
princesa, que estava cansada de prazer, com todo o seu corpo e seu amor.
50. O príncipe viu sua esposa, que estava enredada por brotos e flores e a estrela Rohini
eclipsada pelo demônio Rahu, com sua boca parecida com um lótus fixada na boca do
servo cujo pescoço estava circundado por seus braços suaves, apertando seus pés nas
suas coxas e seus largos seios agarrando suas mãos.
51. Tendo visto ela, que estava sem memória devido ao sono, de tal modo e estando com a
mente muito perturbada por um momento e obtendo coragem em seguida, o que o
príncipe disse, deixe isso ser ouvido de mim.
52. Confie em mim que sou indigno, extremamente tolo e iludido pela intoxicação. Confie
nele, o pior dos homens, que são grandemente deleitados nas mulheres. Belas
mulheres não podem pertencer a ninguém assim como pássaros Sarika a uma árvore,
pois tais aves voam das árvores onde não há mais frutos desejáveis disponíveis.
53. O que eu deveria dizer de mim, estúpido como um jovem búfalo, olhando essa mulher
por um longo tempo como a mais amada, mesmo mais que minha vida?
54. Também, as mulheres não podem pertencer a ninguém, de fato, como uma prostituta
não pode pertencer a uma pessoa sensual. Aquele que tem uma mente que confia
numa mulher é apenas um burro selvagem.
www.cienciacontemplativa.com.br
5

55. Mais fraco do que o estado de uma nuvem de outono, que é momentânea e instável, é
o estado da mulher, que é extremamente inconstante.
56. Aliás! Eu não conheço certamente até hoje a natureza da mulher nesse modo, embora,
abandonando-me agarrado a ela de todo coração, ela tem se devotado a um servo.
57. Ela tem se ligado a outro, tendo uma conduta secreta e afeição disfarçada para mim,
mostrando sua devoção como uma cortesã dentre um grupo de pessoas sensuais.
58. Eu não entendi ele mesmo um pouco com minha mente intoxicada pelo licor.
59. Pensando que ela estava ligada a mim como uma sombra, eu tive uma mente confiável.
60. Traído por ela, Eu estive, por um longo tempo, unido com aquela empregada que é feia
de ver.
61. Quem de fato pode ser mais tolo neste mundo do que eu que fui enganado por um
longo tempo por ela (minha esposa) com confiança?
62. Aliás! Este servo miserável tem uma aparência desprezível de corpo inteiro.
63. Que beleza, que é maior do que tudo ao redor, foi percebida nele por ela que por isso
ela uniu-se a ele, abandonando-me que sou amado dela e que atrai a vista das pessoas
por minha própria beleza.
64. Tendo assim lamentado de muitos modos e excessivamente desgostoso com tudo, o
príncipe foi para a floresta sem nenhum apego.
65. Príncipe! Portanto, esta beleza tem surgido por causa da mente. Como você
excessivamente obtém prazer decorrente de ver muita beleza em mim, dessa maneira
ou melhor do que essa, as pessoas obtêm muito deleite mesmo em mulheres
deformadas.
66. Deste modo, eu devo-lhe dizer o conhecimento (que trás convicção). Querido! Ouça
com concentração.
67. Aquela mulher que é olhada está de fato estabelecida fora de quem vê.
68. Aquela que tem uma forma que é da natureza de seu reflexo habitando na mente tem a
característica da imaginação.
69. Repetidamente pintando sua beleza pela mente e caindo em (ou sentindo) desejo em
seguida, o homem com órgãos dos sentidos agitados obtém prazer nela.
70. Quando o órgão dos sentidos não está agitado, não pode haver prazer mesmo numa
bela mulher.
71. A raiz (ou origem) desse desejo é a pintura repetida da beleza na tela mental por meio
da imaginação. Portanto, a agitação não é observada em crianças e também em yogins.
72. Então, do que quer que o homem obtenha prazer em qualquer que seja a mulher, da
beleza ou de outra coisa, lá, ele deve pintar em sua mente ou imaginar sua beleza.
73. As mulheres são vistas tendo corpos com aparências extremamente repugnantes. Elas
também são vistas unidas com homens jovens pela existência de crianças.
74. Se a mente concebe qualquer coisa como repugnante e não prazerosa, não há prazer
em tal.
www.cienciacontemplativa.com.br
6

75. Que vergonha dos seres humanos que avaliam a parte mais tola do corpo como a mais
prazerosa.
76. Se alguém deveria ver beleza naquela parte corporal que é molhada com excreções
impuras, onde alguém não veria beleza? Diga-me.
77. Diga-me Príncipe! A idéia de beleza repousa no próprio desejo inato da mente.
78. Se, por outro lado, a beleza é natural para o objeto de amor, por que não é reconhecida
pelas crianças também, como a doçura em alimentos é reconhecida por elas?
79. A forma, a estatura e compleição das pessoas, diferem em diferentes países e em
diferentes tempos:
80. suas orelhas podem ser longas; suas faces distorcidas. seus dentes grandes; seu nariz
proeminente;
81. corpos cabeludos ou sem pelos; seus cabelos vermelhos, negros ou dourados, finos ou
grossos, lisos ou encaracolados; suas peles claras, escuras, cor de cobre, amarelas ou
cinzas.
82. Todos eles derivam o mesmo tipo de prazer que você, Príncipe!
83. Mesmo o mais realizado dentre os homens já caiu no hábito de buscar prazer da
mulher, pois todos consideram-na o melhor terreno de caça para o deleite.
84. De modo similar, também, um corpo de homem é imaginado pelas mulheres como a
mais alta fonte de prazer. Mas considere bem o assunto, Príncipe!
85. Moldado de gordura e carne, preenchido com sangue, encimado pela cabeça, coberto
por pele, reforçado por ossos, coberto com cabelo, contendo bile e fleuma, um jarro de
fezes e urina,
86. gerado de sêmen e óvulo, e nascido da abertura de onde a urina é ejetada - tal é o
corpo. Apenas pense sobre ele!
87. Encontrando prazer em tal coisa, como são os homens melhores do que vermes que
crescem em carne podre?
88. Meu Rei! Não é este corpo (apontando para si mesma) querido a você? Pense bem
sobre cada parte disso.
89. Analise bem e cuidadosamente o que é que forma seus materiais de comida com seus
diferentes sabores, tipos e consistências?
90. Todos sabem como as comidas consumidas são finalmente ejetadas do corpo.
91. Assim sendo o estado de coisas no mundo, diga-me o que é agradável ou não.
92. Ouvindo tudo isso, Hemachuda desenvolveu desgosto pelos prazeros terrenos.
93. Ele estava maravilhado do estranho discurso que havia ouvido. Ele depois ponderou
sobre tudo que Hemalekha tinha dito.
94. Seu desgosto por prazeres terrenos cresceu em volume e força. Ele novamente e
novamente assuntos com sua amada de modo que entendeu a verdade final.
95. Então entendendo a consciência pura inerente como o Self que é a mesmíssima
Tripurá, ele tornou-se consciente do Único Self sustentando tudo e foi liberado.
www.cienciacontemplativa.com.br
7

96. Ele foi liberado ainda vivo. Seu irmão Manichuda e seu pai Muktachuda foram ambos
guiados por ele e foram também liberados.
97. A rainha foi guiada por sua nora e foi liberada; do mesmo modo os ministros, chefes e
cidadãos obtiveram sabedoria.
98. Não havia ninguém nascido naquela cidade que permanecesse ignorante. A cidade era
como aquela de Brahma, a casa da felicidade, pessoas pacíficas e satisfeitas.
99. Ela foi conhecida como Visala e tornou-se a mais renomada na terra, onde mesmo os
papagaios nas gaiolas costumavam repetir: Medite, Oh Homem, sobre o Self, a
Consciência Absoluta desprovida de objetos!
100. Não há nada mais a conhecer além da consciência pura; ela é como um espelho
auto-luminoso refletindo os objetos dentro.
101. Essa mesma consciência é sujeito e também os objetos e isso é tudo - o móvel e o
imóvel; tudo mais brilha na sua luz refletida; ela brilha por si mesma.
102. Portanto, Oh Homem, jogue fora a delusão! Pense nessa consciência que é única,
iluminando tudo e pervadindo tudo. Seja de visão clara.
103. Aqueles santos sagrados de Vamadeva e outros tendo em uma ocasião ouvido
dessas palavras sagradas dos papagaios,
104. admiravam-se até mesmo da sabedoria dos pássaros daquela cidade e
chamavam-na de "Cidade da Sabedoria".
105. A cidade ainda hoje é chamada por esse nome. Dattatreya continuou: A associação
com os Sábios, Oh Rama, é pois a causa raiz de tudo que é auspicioso e bom.Pela
associação com Hemalekha, todas as pessoas obtiveram jnana (sabedoria). Saiba
então, que satsanga (associação com o sábio) é unicamente a causa raiz da salvação.
www.cienciacontemplativa.com.br
1

Tripura Rahasya - Capítulo 5


Até o verso 101

1. Tendo ouvido a grandeza da associação com o sábio, narrada pelo filho de Atri
(Dattatreya), Parashurama cuja mente estava deleitada, começou a questioná-lo
novamente.
2. Senhor! A causa da felicidade foi explicada por ti. Isto é verdade. Esta característica de
associação com o sábio tem sido experimentada por mim diretamente (desde minha
associação anterior com Samvarta).
3. Quem quer que obtenha associação seja qual for a maneira, obterá a consequência.
Todos os residentes na cidade, mesmo as mulheres, obtiveram a mais elevada
recompensa pela associação com Hemalekha.
4. Eu desejo ouvir novamente como Hemacuda foi instruído por ela. Depósito de
compaixão! Diga-me isso em detalhes.
5. Assim questionado por Rama, Dattatreya disse-lhe: Bhargava! Eu lhe contarei a história
que é a mais purificante. Ouça.
6. Tendo, então, ouvido as palavras de Hemalekha e referindo-se aos objetos dos sentidos
como insípidos, Hemachuda, para quem o desgosto tinha surgido para deles (para os
objetos dos sentidos), tornou-se desconsolado.
7. Pela influência dos desejos (ou impressões mentais), nascidos dos objetos dos
sentidos, existindo por um longo tempo, ele era de fato incapaz de abandoná-los
forçosamente ou agarrar-se a eles (aceitá-los).
www.cienciacontemplativa.com.br
2

8. O príncipe não disse nada à sua amada, estando muito envergonhado. Então, ele
passou alguns dias dominado pela ansiedade.
9. Quando os objetos dos sentidos eram obtidos, lembrando-se do que foi dito por sua
amada e desprezando a si mesmo, ele aproveitava-os sob a influência das impressões
mentais1 (deixadas por experiências passadas).
10. Sujeito ao impulso dos desejos (ou impressões mentais), ele vai em direção aos objetos
dos sentidos. Meramente em ver os objetos, pensando nos defeitos (nos objetos ou no
seu aproveitamento) narrado por sua esposa, ele era desanimado novamente com seu
coração agitado pela tristeza.
11. Então, sua mente tornou-se instável como se estivesse em um balanço em movimento.
12. Comida, vestuário, ornamentos, mulheres, veículos, amigos ou mesmo os entes mais
“chegados” não o faziam nem um pouco feliz.
13. Como alguém que perdeu toda sua riqueza, ele sofria constantemente. Desamparado,
ou devido às impressões mentais adquiridas, ele não era capaz de abandonar2 nada
rapidamente.
14. Assim também, ele não era capaz de desfrutar (os objetos dos sentidos) estando dotado
com a noção dos defeitos (de tais objetos).
15. Depois disso, Hemalekha, que encontrou-se com ele em privado em algum momento,
observando-o, então, com olhos e face pálidos devido à tristeza, disse-lhe: Senhor! Por
que você não é visto com extrema alegria como antes?
16. Eu vejo você como se estivesse sofrendo. De onde vem este seu estado? Está seu
corpo sempre perturbado por doenças?
17. Pessoas de muito conhecimento falam do medo das doenças em alegrias. Quando há o
surgimento do desarranjo entre os três humores3 do corpo, as doenças produzidas pela
desigualdade nos três humores geralmente permeiam os três corpos.
18. O desequilíbrio nascido dos três humores do corpo é de fato completamente
irremediável.
19. Por motivos de comida, habitação (ou vestuário), fala, visão, toque, tempo, lugar e
trabalho, os três humores podem sofrer desequilíbrio.
20. Portanto, a origem desse desequilíbrio tem sido inteiramente não observada no mundo.
Consequentemente, quando há desequilíbrio (ou desordem dos humores), o tratamento
médico é prescrito.
21. O tratamento médico não é indicado por qualquer pessoa quando o desequilíbrio (dos
humores) não surgiu. Portanto, diga-me, querido! Por qual razão sua tristeza surgiu?
22. Tendo ouvido Hemalekha, o príncipe disse: Ouça minha querida! Eu lhe direi a causa da
minha tristeza.

1
वासना vAsanA
2
tyaktum ( य तम ु ् ) infinitvo de raiz tyaj ( यज ् ) . Relacionado com vairagyam ( वैरा यम ् ), ver
Yoga-Sutra I.15 .
3
dosha ( दोष )
www.cienciacontemplativa.com.br
3

23. Por seu discurso, aquilo me dava satisfação antes foi destruído. Agora, não vejo nada
que possa aumentar minha felicidade4.
24. Mesmo os objetos de alegria dados pelo rei, que “dão prazer pra todo lado”, não podem
alegrar alguém sentenciado à morte. Então, não felicidade pra mim devido a tais
objetos.
25. Querida! Pergunto-lhe o que devo fazer para alcançar felicidade, Eu que estou sempre
buscando objetos dos sentidos como alguém obrigado pelo trabalho.
26. Assim questionado por ele, Hemalekha disse-lhe (pensando como segue): Certamente,
esta pessoa chegou à completa indiferença pelos objetos do mundo depois que ouviu
minhas palavras.
27. A fonte da bondade suprema está aqui, já que você está insatisfeito com as diversões
desta maneira.
28. Para aqueles a conquista da bondade suprema é impossível, eles nunca superarão os
outros mesmo um pouco por essa diferença peculiar, em outras palavras, a boa
composição de palavras dessa maneira.
29. Com quem Tripura, a deidade que é o próprio Self permanecendo no Coração5, adorada
por muito tempo, está satisfeita, apenas para tal pessoa, uma situação deste tipo pode
acontecer.
30. A extremamente inteligente Hemalekha, tendo então considerado, desejando ensinar a
seu marido e escondendo seu conhecimento, falou-lhe por meio de outro pretexto6.
31. Príncipe! Ouça essa antiga história. Muito tempo atrás, minha mãe me deu uma amiga
para brincar. Ela, que era naturalmente uma pessoa boa, estava associada com uma
mulher má7.
32. Aquela mulher má foi dotada de poder para criar coisas maravilhosas de vários tipos.
Nunca vista por minha mãe, ela se associou com minha amiga.
33. Aquela minha amiga se tornou muito associada com aquela mulher de má conduta. Ela
(a minha amiga) era muito querida pra mim, mesmo mais que minha vida. Eu estava de
fato sempre sob seu controle.
34. Deixando-a, minha continuação em meu estado não poderia acontecer mesmo por meio
momento. Ela permaneceu me controlando por causa de sua natureza pura. Eu me

4
sukham ( सख ु म्)
5
David Frawley afirma em seu livro Yoga Tântrico Interior, páginas 235 a 236: O hridaya ou coração
espiritual é considerado o local onde habita o Atman ou Eu mais elevado. O coração espiritual (hridaya)
não é a mesma coisa que o chakra do coração (anahata), embora tenha uma ligação próxima com ele. O
coração espiritual é o âmago da consciência, que é tanto a base do corpo causal (o que reencarna)
como o Eu Supremo além de toda manifestação. No Yoga-Sutra III.3, temos: Por meio da meditação no
coração, vem o conhecimento de chitta.
6
A chave para entender a alegoria do texto que segue será dada no capítulo 8.
7
A mãe é a Consciência Pura. A heroína da história é Hemalekha, a alma ou consciência individualizada
chamada de Jiva. A amiga é a Buddhi. A mulher má é Avidya.
www.cienciacontemplativa.com.br
4

tornei verdadeiramente uma tendo sua natureza comigo mesma buscando-a


constantemente.
35. Associada com aquela atriz perversa tendo uma natureza estranha, minha amiga foi
levada em direção a atitudes desconhecidas e se juntou a seu filho8.
36. Seu filho era extremamente tolo e tinha olhos instáveis devido a embriaguez do licor.
Tomando-a (minha amiga Buddhi) ele se aproveitou dela muitas vezes em minha
presença.
37. Ela, com todo seu corpo dominado por ele e sendo aproveitada por ele todo dia, não me
deixava em nenhum momento.
38. Portanto, fui afetada por ele. A partir dali, um filho nasceu daquele homem tolo (e minha
amiga) tendo uma forma similar9.
39. Aquele filho tornou-se jovem rapidamente. Seu estado era extremamente inconstante.
Ele era dotado com a estupidez de seu pai e a qualidade de sua avó10.
40. Ele era abundante com a habilidade de várias criações estranhas.
41. Ele, chamado de Instável, por si mesmo muito esperto, foi ensinado por sua avó paterna
chamada de Shunya (ou Vazio)11 e por seu pai chamado de Tolice e alcançou um curso
rápido sem obstáculos.
42. Portanto, minha amiga, tendo uma natureza pura e virtuosa desde o nascimento, foi a
um estado de grande impureza pela razão da associação com aquela mulher perversa12
.
43. Devido à longa associação com seu amigo (Ignorância), sua amada dotada de
natureza perversa e seu filho (a Mente inconstante), ela foi possuída por firme apego a
eles.
44. Gradualmente, minha amiga desistiu completamente de sua afeição por mim.
45. Eu, sincera por natureza e desamparada em abandono de sua companhia rapidamente,
era devotada a ela apenas e seguia seu curso de conduta todos os dias13.
46. Então, seu amado tolo, sempre se aproveitando dela, tornou-se zelosamente ativo de
todas as formas para se apoderar de mim forçosamente.
47. Eu, pura por natureza, “não cai na dele”.

8
O filho é ilusão (ignorância). “Atitudes desconhecidas” indica desejos por estados como viver no
paraíso.
9
O intelecto dominado pela ignorância dá a luz à Mente. A similaridade das formas refere-se à falsidade
de sua natureza.
10
A Mente, prole da ilusão, é tola. Ela tem a habilidade, como sua avó a Ignorância de trazer à tona as
falsas percepções ou criações.
11
A Ignorância é chamada de Vazio por que não possui substância ou realidade.
12
O Intelecto, embora consistindo de Sattva Guna (ou pureza), devido à sua associação com a
Ignorância, torna-se Rajoguna (ou paixão) e Tamoguna (ou inércia).
13
A consciência individualizada (Jiva) se identifica com o intelecto e considera as funções dele como
suas próprias.
www.cienciacontemplativa.com.br
5

48. Mesmo assim, surgiu um grande estigma no mundo: “Esta é inteiramente aproveitada
pelo Tolo o tempo todo”.
49. Ela, minha amiga, confiando seu filho (Instável) a mim e abraçada por seu amado era
devotada a ele o tempo todo.
50. Então, o Instável foi bem acariciado e nutrido por mim. Depois disso, ele se associou
com uma senhora adulta14 com permissão de sua avó paterna.
51. Essa sua amada chamada (Instável), tomava diferentes formas fascinantes que seu
amado gostava a todo momento, que produziam admiração.
52. Então, ela que era extremamente esperta, trouxe seu amado sob seu controle.
53. O Instável também sempre ia adiante e alcançava centenas de milhas em um momento
e não sofria fadiga.
54. Sempre que o Instável queria ir a algum lugar, a Instável (sua amada) também, se
tornava estabelecida naqueles lugares e tornava sua própria forma agradável a ele.
55. Então, a Instável estando unida ao Instável completamente, deu à luz cinco filhos,
apegados aos seus pais.
56. Eles eram de cinco tipos e eram competentes. Eles foram confiados a mim por minha
amiga15.
57. Eu, que era apegada a minha amiga, tornei-os mais fortes. Então, aqueles filhos da
Instável construíram cada um uma casa16 mais excelente e mais maravilhosa.
58. Bem criados pela mãe, trouxeram o pai sob controle.
59. A todo momento, eles estavam trazendo seu pai à sua casa. Lá, o Instável, tendo
entrado na casa do filho mais velho, ouviu muitos tipos de sons, melodias e outras
coisas.
60. Às vezes, ele ouvia música suave, às vezes sons de instrumentos musicais que eram
agradáveis; cantos de Rk, Yajus e Saman e os mantras do Atharvana; escrituras,
agamas e ithasas e o tilintar de ornamentos; canção de uma multitude de abelhas
negras e a melodiosa quinta nota do gamute produzida pelo cuco.
61. Ouvindo assim os sons dirigidos por seu filho e estando satisfeito, ele tornou-se
submisso a seu filho. Então, o filho o dirigiu de modo diferente.
62. Ele ouviu sons terríveis que eram opostos em qualidade e não traziam satisfação aos
ouvidos.
63. Ele ouviu o rugir de leões e coisas semelhantes, o trovão das nuvens e raios rasgando
o universo, assombrando e capaz de causar abortos.
64. Assim, tendo ouvido e estando muito assustado, ele ouviu outros sons também, como
choro, murmúrios e coisas estranhas como lamentações.
65. Então, levado pelo segundo filho, Asthira foi levado para sua residência.

14
Essa senhora adulta é a Imaginação.
15
Os cinco filhos são os cinco órgãos de percepção. A Mente e Imaginação prosperam sobre os órgãos
dos sentidos.
16
A casa indica o órgão externo do sentido de percepção.
www.cienciacontemplativa.com.br
6

66. Lá, ele viu belos assentos, camas e roupas, que eram suaves ao toque e também
algumas que eram grossas ao toque;
67. objetos que eram frios ao toque e também objetos que eram quentes ao toque; coisas
que eram nem quentes nem frias ao toque.
68. Mas, tendo visto a variedade de coisas, ele estava deleitado em ver as coisas benéficas
e abatido em ver as coisas desvantajosas.
69. Então, esse Asthira, tendo alcançado a residência do terceiro filho, viu objetos de
formas brilhantes de várias cores - vermelho, branco, amarelo, azul, verde e rosa; assim
como, cor de fumaça, amarelo-acastanhado, marrom, preto e variados.
70. Ele viu objetos que eram grandes, pequenos, atômicos, longos, difusos, globulares,
semi-circulares, totalmente circulares, belos, aterrorizantes, repugnantes, brilhantes,
ferozes, negros, que eclipsavam a visão.
71. Novamente, o quarto filho o levou, que via benefício em outro lugar, para sua casa
maravilhosa.
72. Lá, ele encontrou flores, frutas, alimentos em sucessão, bebidas, comidas para lamber,
sugar ou comer, sucos saborosos como néctar e diferentes que tinham sabor azedo,
pungente, amargo e alguns também adstringentes, salgados, doces e ácidos vários
sabores de natureza estranha também, e os saboreou com seu filho.
73. Então, o último filho levou seu pai para sua própria morada que era extremamente
maravilhosa.
74. Lá, ele obteve várias flores e frutas, lâminas de grama, comidas, ervas e outros objetos.
75. Esses eram fragrantes, de cheiros imundos, de cheiros suaves, de cheiros fortes, com
cheiros que induzem ilusão, com cheiros que afinam os sentidos e de outros tipos.
76. Assim, entrando e estando nas residências dos filhos, ele se deleitou algumas vezes em
coisas benéficas e ficou abatido com coisas desvantajosas em outros lugares.
77. Ele sempre permaneceu nas casas de seus filhos completamente engajado, indo e
vindo.
78. Aqueles filhos, devido a sua afeição por seu pai, não tocaram os vários objetos mesmo
um pouco em nenhum momento, sem seu pai.
79. Asthira, por sua vez, tendo aproveitado esses numerosos objetos nas casas dos filhos e
roubado alguns outros objetos escondendo-os, tomou-os para sua casa17.
80. Ele mesmo come muito diariamente com sua esposa Capalá sem seus filhos.
81. Então, outra, a filha de Capalá, chamada de Maháśaná (a Voraz) escolheu aquele
agradável Asthira como seu esposo18.
82. Quando Asthira tornou-se extremamente apegado a ela, então, ele ansiosamente
engajou-se em procurar objetos para a satisfação dela.

17
A casa de Asthira, ou a mente, é o coração ou o núcleo interno da pessoa que origina o pensamento.
Lá, a mente se deleita com os objetos por meio da memória.
18
A filha é Áśá ou Desejo. Seu nome a “Voraz” é bastante apropriado.
www.cienciacontemplativa.com.br
7

83. Tendo comido abundantemente o que era trazido por ele, superada pelo desejo de
comer novamente num instante, ela sempre dirigia seu amor ao propósito de obter mais
objetos de satisfação.
84. Ele também procurava obtê-los sempre.
85. Tendo comido instantaneamente o que era trazido pelos filhos e também o que era
coletado por seu amado e afligida pelo desejo de comer novamente, ela dirigia seu
amor e filhos sempre a buscar objetos de satisfação.
86. Depois disso, em pouco tempo, ela deu à luz um casal de filhos.
87. Jválámukha (Boca Flamejante) era o mais velho dos dois e Nindyavrtta (Má Conduta)
era o outro. Esses dois filhos tornaram-se o mais amados da mãe19.
88. Quando Asthira, apegado a Maháśaná abraçava ela, então, Asthira com seu corpo
inteiro lambido pelas chamas de Jválámukha e extremamente aflito, assim, caía em
profundo desmaio.
89. Às vezes, associado com Nindyavrtta, o querido filho, ele alcançava o estado de ser
censurado por todos e, de fato, se tornava igual a um homem morto.
90. Portanto, quando Asthira se engajou somente em triste sofrimento, então, minha amiga,
que era naturalmente boa, devido à grande afeição para com seu filho Asthira e estando
associada com ele, foi totalmente dominada pela carga da tristeza que surgiu do
sofrimento de seu filho.
91. Assim, associada com Nindyavrtta e também envolvida com seu neto Jválámuka, ela foi
atormentada e culpada pelas pessoas e quase morreu.
92. Querido! Eu que, também a estava sempre seguindo, quase me perdi20.
93. Portanto, por muitos anos, eu estive angustiada pela tristeza de minha amiga.
94. Asthira tornou-se dependente por conta da posse de Maháśaná.
95. Devido a algum Karma, ele chegou a uma cidade com dez portões.
96. Lá, ele viveu unido com Maháśaná e acompanhado por seus filhos, esposa e outros,
desejava a felicidade mas sofria de tristeza dia e noite.
97. Todo o seu corpo era afligido por seus dois filhos e censurado dia após dia, ele era, de
fato, puxado o tempo todo para cá e para lá por suas duas esposas.
98. Entrando nas cinco casas de seus filhos e parando lá, ele obtinha grande fadiga e não
obtinha felicidade em nenhum lugar.
99. Portanto, minha amiga era extremamente atormentada pela tristeza de seu filho.
100. Ela tornou-se quase como alguém que é insensível e vivia naquela cidade.
101. Maháśaná acompanhada por Jválámukha e Nindyavrtta foi nutrida por sua avó
chamada de Śúnyá e seu sogro chamado de Múdha.
102. Também, ela era muito bem criada por sua co-esposa Capalá.

19
O filho mais velho Jválámukha é Krodha (Raiva). O outro, Nindyavrtta, é Lobha (Ganância).
20
Quando as limitações de Buddhi na forma de raiva e ganância lançam sua sombra, a natureza da
consciência não brilha e parece ter se perdido.
www.cienciacontemplativa.com.br
8

103. Ela controlou seu marido Asthira, permanecendo naquela cidade. Devido ao amor
por meu amigo, Eu também vivi lá exclusivamente devotado a ela.
104. Querida! Se eu, que quase me perdi devido à tristeza por minha amiga, não estava
lá nem por um momento a intenção de proteger todos, ninguém poderia estar lá.
105. Tudo foi, de fato, protegido por mim.
106. Eu sofri de desânimo devido à Śúnyá, de tolice devido à Múdha, instabilidade devido
à Asthira, inconstância, unido com Capalá, a natureza queimante de Jválámukha e de
Nindyavrtta, um estado construído de sua natureza.
107. Devido a minha associação com minha amiga, eu, então, me tornei da mesma forma
que todos eles. Se eu deixasse minha amiga, ela pereceria instantaneamente21.
108. Por causa da minha associação com eles, homens tolos me chamaram de adúltera.
Mas, todas as pessoas espertas me consideravam imaculada.
109. Minha mãe, uma mulher muito casta, era pura e tinha forma imaculada. Ela era mais
extensa do que o céu e mais sutil do que um átomo.
110. Embora onisciente, ela não estava sabendo de nada; embora onipotente, ela estava
sem ação; embora fosse o substrato de tudo, ela não tinha suporte; embora fosse o
suporte de tudo, ela não habitava em nada22.
111. Embora tendo a forma de tudo, ela era sem forma; embra associada com tudo ela
era desapegada; embora brilhando em todos os lugares, ela era desconhecida por
todos em todos os lugares.
112. Embora cheia de felicidade, ela era destituída de felicidade. Ela não tinha pai nem
mãe. Há inumeráveis crianças como eu para ela23.
113. Há uma multidão inumerável de irmãs assim como há ondas no oceano. Príncipe!
Todas elas têm a mesma conduta que eu.
114. Eu possui grande “poder-de-mantra”. Portanto, embora associada com e devotada a
todos esses grupos de amigos, eu sou igual a minha mãe em minha real natureza24.
115. Quando o filho de meu amigo Asthira torna-se completamente fatigado nesta cidade,
então, ele dorme profundamente no colo de sua mãe.
116. Quando Asthira dorme, então, seus filhos e outros conseguem dormir. Nenhum
outro não está acordado.

21
É pela presença da Consciência individualizada que todos as entidades mencionadas movem-se,
existem e tornam a ocultar-se da sua real natureza.
22
Tudo brilha pela luz da Consciência Pura, então, ela é o suporte de tudo. Mas, nada fora dela existe,
logo, ela não pode também ser chamada de suporte de qualquer coisa.
23
Destituída de felicidade por que não há nada separado dela do qual possa ser derivada felicidade. A
palavra utilizada no texto sânscrito para felicidade é महान द (mahaananda) grande felicidade. Esta
felicidade que se fala aqui é a absoluta que não depende de nada para existir.
24
Máyá ou o poder que esconde da Consciência Pura é referido aqui como “Poder-de-Mantra”.
www.cienciacontemplativa.com.br
9

117. Naquele tempo, o amado amigo de Asthira, chamado de Prachára, movendo-se


repetidamente nos dois portões em frente, protegia a cidade25.
118. Minha amiga, que também era a mãe de Asthira, quando ela dormiu com o filho,
então sua amiga e sogra (chamada de Śunyá), que era naturalmente uma mulher má,
cobriu a todos juntos com seu filho (chamado de Múdha) os protegendo.
119. Então, quando todos eles estavam dormindo, indo para minha mãe, eu me tornou
feliz de fato, abraçada por um longo tempo por minha mãe.
120. Novamente, eu também segui rapidamente todos os dias aqueles que despertaram
(do sono).26
121. Este amigo de Asthira tendo grande poder, que é chamado de Prachára, nutre a
todos começando por Asthira todos os dias.
122. Ele, o Único, tornando-se vário e pervadindo a cidade e seus residentes, protege
todos e também une-se a eles (com seus respectivos objetos) todos os dias.
123. Sem ele, eles seriam de fato perdidos inteiramente, sendo separados mesmo como
as contas de um rosário caem no chão quando o córdão quebra.
124. Assim, associando-se também comigo, Prachára une-se a mim e com todos
subsenquentemente. Tornando muito vivo por mim, ele é o gerente de palco (que
controla todas as atividades) naquela cidade.27
125. Quando aquela cidade é esgotada, ele (Prachára) leva-os a outra cidade
imediatamente.
126. Então, liderados por Prachára, Asthira realmente torna-se o governante de muitas
cidades estranhas no devido tempo.
127. Esse Assthira, embora seja filho de uma boa mulher e tendo recorrido a Prachára a
possessão de grande poder e também muito querido por mim, estava sofrendo de
tristeza todos os dias.
128. Devido a sua associação íntima com suas duas esposas, Chapalá e Maháśaná e
seus dois filhos chamados de Jválámukha e Nindyavrtta e tambḿe com seus outros
cinco filhos, ele (Asthira) foi forçado em todo lugar.
129. Com seu coração apreendido com grande angústia, privado mesmo de pequena
felicidade, ele foi forçado para cá e para lá por seus cinco filhos.
130. Às vezes, muito perturbado por Capalá, ele alcançou tristeza. Às vezes, devido a
Maháśaná, ele buscava comida (ou diversão).

25
Prachára significa movimento, é o amigo de Asthira, é Prána ou a respiração. Os dois portões são as
duas narinas.
26
Durante o sono, a Consciência individualizada (ou Jíva) é absorvida em Consciência Pura Indivisa,
embora tal absorção aconteça sob o véu da Ignorância. Não é o estado onde a Consciência Pura
Indivisa brilha por si mesma sem obstruções da Ignorância, que é o estado de Bodha ou Jñána.
27
A mente e os sentidos de percepção são imbuídos com consciência somente através da energia vital
cuja manifestação grosseira é a respiração; e esta energia vital, que é um poder da consciência
individualizada, é “vivificada” pela outra.
www.cienciacontemplativa.com.br
10

131. Às vezes dominado por Jválámukha, atormentado dos pés à cabeça, ele ia ao
estado de profundo desmaio sem saber a solução.
132. Às vezes, indo a Nindyavrtta, desprezado e abusado por outros, ele considerava a si
mesmo igual a uma pessoa morta, coberto por tristeza.
133. Acompanhado por suas más esposas e filhos, o deludido (Asthira) nascido de uma
má família, superado pelas esposas e filhos e sempre sendo abandonado por eles,
viveu com eles em cidades estranhas de vários tipos.
134. Às vezes, ele viveu em terras cheias de pessoas comendo carne crua, espalhadas
em florestas; às vezes em lugares que eram extremamente quentes;
135. Às vezes, em lugares frios; às vezes em lugares com substâncias pútridas e às
vezes em escuridão densa.
136. Assim, quando o filho Asthira foi afligido com grande tristeza novamente, minha
amiga tornou-se confundida por tristeza sempre devido a sua má associação.
137. Querido! Embora eu fosse boa por natureza, eu também me tornei extremamente
apegada à sua família em vão como uma tola, junto dela.
138. Quem de fato obtém felicidade, mesmo um pouco, em qualquer lugar de má
companhia é como um homem buscando o alívio de sua sede indo a um lugar deserto.
139. Quando um longo tempo passou deste modo, que a minha amiga foi desnorteada
por extremo desânimo, juntou-se a mim em solidão.28
140. Tendo obtido o meio por sua associação comigo apenas, tendo encontrado um bom
marido, tendo conquistado seu filho, tendo matado ou limitado seus filhos e tendo
unido-se a mim, ela alcançou a cidade de minha mãe rapidamente.29
141. Abraçando minha mãe de novo e de novo, ela tornou-se livre de más ações e foi
logo possuída de um estado natural mergulhado num oceano de
Felicidade/Bem-Aventurança.30
142. Senhor! Você também obtém tal felicidade eterna, tendo restringido aquele com má
conduta nascido de seu amigo e alcançando sua mãe. Senhor! Essa morada de
felicidade experienciada por mim foi narrada por mim pra você.

28
“Em solidão” se refere a ausência de sentidos-percepções, levando a “autoconsciência-sem-objeto”.
29
O “meio” obtido é Vairágya ou liberdade do apego obtido por meio da associação do intelecto com a
Consciência Individualizada apenas, ou a mera Consciência-Eu ou autoconsciência. Este é o método de
auto-investigação que destrói todos os construtos de pensamentos e portanto todos os desejos. O bom
marido é Viveka ou discriminação. O filho conquistado é a Mente. Seus filhos que foram mortos são
Krodha (Raiva) e Lobha (Ganância) e seus filhos que foram limitados são os cinco órgãos de percepção.
“Unida a mim” indica a permanência como a pura autoconsciência ou Eu-consciência livre de construtos
de pensamentos. A cidade da Mãe é o Coração e a Mãe é a Consciência Pura Indivisa que é a
Realidade Última.
30
Isto se refere a Nirvikalpasamadhi ou absorção completa na Consciência Pura Indivisa.
www.cienciacontemplativa.com.br

Tripura Rahasya
Capítulo 6

A Fé
ा ध

1. Hemachuda estava surpreso pelo conto fantástico de sua amada. Sendo


ignorante, ele sorriu zombeteiramente do conto e perguntou-lhe:
2. Minha querida, o que você disse não parece ser mais do que invenção. Suas
palavras não tem relação com os fatos e são todas sem sentido.
3. Você é certamente a filha de um Apsaras (donzela celestial) e foi criada pelo
Rishi Vyagrapada na floresta; você ainda é jovem e não totalmente crescida.
4. Mas você fala como se tivesse várias gerações de idade. Seu discurso de
longo fôlego é como o de uma garota possuída e fora de si.
5. Eu não posso acreditar nessa ladainha. Diga-me onde está sua companheira
e quem é o filho que ela matou.
6. Onde estão as cidades? Qual é o significado de sua estória? Onde está sua
amiga?
7. Eu não sei nada de sua amiga. Você pode perguntar a minha mãe se quiser.
Não há nenhuma outra senhora além de sua sogra no palácio de meu pai.
8. Diga-me rapidamente onde tal senhora deve ser encontrada e onde o filho
de seu filho está. Eu acho que seu conto é um mito como o conto do filho de
uma mulher estéril.
9. Um palhaço uma vez relatou uma estória que um filho de uma mulher estéril
montou numa carruagem refletida em um espelho e decorada com ouro
tomado do brilho da madre-pérola, armou a si mesmo
10. com armas feitas por chifres de humanos, lutou na batalha do céu, matou o
rei do futuro,
11. subjugou a cidade de hostes celestiais e satisfez-se com o sonho de
donzelas nos bancos de águas de uma miragem.
www.cienciacontemplativa.com.br

12. Eu tomo suas palavras como significando algo similar. Elas nunca poderão
ser verdade. Após ouvir as palavras de seu amado, a sábia garota continuou:
13. Senhor, como você pode dizer que minha parábola é sem sentido? As
palavras dos lábios daqueles como eu nunca são sem sentido.
14. A falsidade enfraquece os efeitos da penitência de alguém; então como pode
se suspeitar disso numa pessoa virtuosa? Como pode tal pessoa ser
imaculada e listada entre os Sábios?
15. Além disso, aquele que entretém um buscador sério com palavras ocas ou
falsas, não prosperará neste mundo nem avançará no próximo.
16. Ouça, Príncipe. Um homem obtuso não pode ter sua visão restaurada
meramente por ouvir a leitura da prescrição.
17. Ele é um tolo que julga incorretamente os bons preceitos como falsos. Você
acha, meu querido, que eu, sua esposa, lhe enganaria com um mito quando
você é tão honesto?
18. Raciocine bem e examine cuidadosamente essas minhas inverdades
suspeitas.
19. Não está um homem inteligente acostumado a julgar grandes coisas no
mundo verificando uns poucos detalhes nelas? Agora te darei um insight
sobre esse assunto.
20. Algumas coisas costumavam te apetecer antes. Por que elas cessaram de
fazê-lo após ouvir-me da última vez?
21. Minhas palavras trouxeram desapego; elas estão similarmente obrigadas a
fazer o mesmo ou mais no futuro. Como poderia ser de outro modo? Julgue
suas próprias afirmações desses fatos.
22. Ouça-me, rei, com um intelecto não sofisticado e claro. Desconfiança nas
palavras de uma pessoa confiável é o caminho mais certo para a ruína.
23. A fé é como uma mulher carinhosa que nunca pode falhar em salvar seu
filho confiante das situações difíceis. Não há dúvida sobre isso.
www.cienciacontemplativa.com.br

24. O tolo que não tem fé nas palavras de uma pessoa confiável está
desamparado pela prosperidade, felicidade e fama. Um homem que está
sempre suspeitando nunca pode obter nada que valha a pena.
25. A fé é, de fato, a mãe dos mundos. A fé é a vida de todos. Como pode um
bebê viver se não confiar em sua mãe?
26. Como pode um amante obter prazer se ele não confia em sua amada? De
modo similar, como um pai idoso pode ser feliz se não confia em seus filhos?
27. Por que razão um lavrador lavraria a terra se não tivesse confiança que iria
colher o que plantou? Sem confiança não pode haver nenhuma atividade em
nenhum lugar.
www.cienciacontemplativa.com.br

28. Como a humanidade existiria sem confiança universal? Se você dissesse, por
outro lado, que é a lei de causa e efeito, eu lhe direi; ouça-me.1
29. As pessoas acreditam na lei que tal causa produz tal efeito. Isso não é fé?2
30. Portanto, sem fé, a humanidade certamente pereceria sem respirar.
Portanto, tendo adquirido fé firme, obtenha felicidade duradoura.
31. Príncipe! Se você pensa que a fé não deveria ser depositada numa pessoa
inferior, então, ouça-me. Essa sua conduta também é devido à fé. Então,
como pode haver esta conduta em você?
32. Tendo ouvido a fala de sua amada, Hemachuda disse novamente a sua
esposa que estava dizendo o que era apropriado.
33. Querida! Quando a fé deve ser colocada completamente, certamente ela
deveria ser dirigida em direção aos bons (ou sábios), pelos quais alguém
pode obter o bem superior.
34. Aquele que está inclinado ao mais alto bem não deveria nunca confiar numa
pessoa incompetente. De outro modo, ele ficaria aflito, como um peixe
atraído pela tentação da isca na ponta de uma linha de pescar.
35. Portanto, a fé pode apenas ser posta em pessoas boas e sábias, não em
pessoas más e não sábias.
36. Os homens que se arruinaram de um modo e prosperaram de outro podem
verificar minha afirmação.
37. Eu somente posso acreditar em você após completa certeza de seu valor;
não de outro modo. Por que então você me pergunta se o fim desejado pode
ser alcançado?
38. Após ouvi-lo, Hemalekha respondeu: Ouça, Príncipe, ao que vou dizer agora.
39. Eu responderei seu ponto. Como alguém vai julgar quem é bom ou ruim?
40. É por referência aos padrões aceitos? Qual é a autoridade por trás de tais
padrões? São os próprios autores confiáveis ou não? Deste modo, não há
motivo para argumentar.
41. Além disso, a competência do observador deve ser tomada em
consideração. Pois, a vida se move por fé apenas.
42. Eu explicarei a você o raciocínio de alcançar o Objetivo Supremo por meio
da fé.
43. Esteja atento.
44. As pessoas não obterão nada, seja durante sua vida ou após a morte, por
discussões sem fim ou aceitação cega.
45. Das duas, contudo, há esperança para a última e nenhuma esperança para a
primeira.

1
Um fazendeiro entende a aquisição ou não da colheita pela lavra ou não lavra do campo e por decidir
que lavrar o campo resulta numa boa colheita engaja-se nessa atividade. Ele não faz isso simplesmente
por fé. Esta é a objeção levantada.
2
No exemplo dado no verso anterior, o fazendeiro tem fé que arando a terra obterá boa colheita.
Portanto, a fé é a base de toda atividade neste mundo.
www.cienciacontemplativa.com.br

46. Uma vez havia um santo, chamado Kausika, na Montanha Sahya próximo às
margens do Godavari. Ele era sereno, puro, pio, tinha conhecido da Verdade
Suprema. Vários discípulos iam vê-lo.
47. Uma vez quando o mestre tinha saído, os discípulos começaram a discutir
filosofia, de acordo com seus próprios entendimentos.
48. Apareceu em cena um Brâmane de grande intelecto e amplo conhecimento,
chamado Soonga, que com êxito refutou todos os argumentos deles com seu
conhecimento de lógica.
49. Ele era um homem sem fé e sem convicção, mas um hábil debatedor.
50. Quando eles disseram que a verdade deveria ser alcançada por referência a
algum padrão, ele argumentou com base em uma série sem fim de
parâmetros e os refutou.
51. Oh Brâmanes! Ouçam minhas palavras. A Verdade nunca é estabelecida em
nenhum lugar. Foi afirmado por vocês que o que é conhecido por autoridade
(ou prova) é a Verdade.
52. Pois os padrões errôneos não são bons como testes. Para começar, sua
corretude deve ser estabelecida. Outros padrões são requeridos para
testá-los.
53. Eles são por sua vez infalíveis? Procedendo deste modo, nenhum fim pode
ser alcançado. Portanto, nenhum teste é possível.
54. Portanto, o conhecedor, o conhecido ou a autoridade (ou prova) não
tornam-se válidos. Por esta razão, esse erro multifacetado existe com Vazio
como seu substrato.3
55. A que a decisão chega, então? Que tudo é nada, vazio. Isso também não
pode ser sustentado por fatos confiáveis; portanto, a afirmação de que tudo
é vazio termina no vazio também.
56. Ouvindo esse discurso, alguns deles ficaram impressionados pela força da
lógica de Soonga e tornaram-se comentadores do vazio.
57. Eles se perderam no labirinto de sua filosofia.
58. Os exigentes dentre os ouvintes puseram os argumentos de Soonga diante
de seu mestre e foram esclarecidos por ele.
59. Então, eles ganharam paz e felicidade. Portanto, esteja atento a polêmica
inócua desfilando como lógica. Use-a do modo como os livros sagrados têm
feito.
60. Portanto, tendo abandonado inteiramente aquele raciocínio que é instável
(não tendo finalidade), deixe que a pessoa alcance o mais alto bem com seu
raciocínio dependente das escrituras confiáveis.

3
Nesta parte do texto está ocorrendo uma discussão sobre os meios de conhecimento ( माणं -
pramanam).
www.cienciacontemplativa.com.br

61. Naquele modo reside a salvação. Então, abordado por aquela


eminentemente sábia esposa, Hemachuda ficou enormemente surpreso e
disse: Minha querida, eu não percebi sua sabedoria logo.
62. Abençoada és tu que sois tão sábia! Abençoado sou eu que tenho tua
companhia. Você disse que a fé concede o bem mais elevado. Como isso se
dá?
63. Onde está a fé registrada e onde não está? As escrituras diferem em seus
ensinamentos; os professores diferem entre eles mesmos;
64. Os comentários diferem similarmente de um para o outro; adicione a isso, o
raciocínio de alguém não serve de guia. Qual deles deve ser seguido e qual
deve ser rejeitado?
65. Cada um estampa suas próprias visões com o selo de autoridade e condena
o resto, não apenas como inútil mas como danoso, minha querida!
66. Esse sendo o caso, Eu não posso decidir por mim mesmo. O que você
condena como a escola do vazio se volta aos outros e os ataca.
67. Por que aquela escola deveria ser respeitada?
68. Ela tem seus próprios aderentes e seu próprio sistema de filosofia.
Explique-me, querida, todas essas coisas claramente. Elas devem de fato já
estarem claras para você.
​Tripura Rahasya - Capítulo 7
http://www.cienciacontemplativa.com.br​ 1

Tripura Rahasya - Capítulo 7


(Da impossibilidade de Alcançar a Meta Suprema sem Recorrer a ​ĪŚVARA)

1. A sábia Hemalekha, que conheceu bem o estado da vida mundana, questionada por
seu querido marido, respondeu:
2. Querido, ouça-me atentamente. O que é conhecido como a mente é, afinal de contas,
sempre como um macaco inquieto.
3. Então, o homem comum está sempre afligido com problemas. Todos sabem que uma
mente inquieta é o canal para problemas sem fim; enquanto que alguém é feliz durante
o sono na ausência de tal inquietação.
4. Portanto, mantenha sua mente estável quando ouvir o que tenho a dizer.
5. Ouvir com uma mente distraída é tão bom quanto não ouvir, pois as palavras não
servem a nenhum propósito útil, assemelhando-se a um fruto caído de uma árvore
numa pintura.
6. O homem é rapidamente beneficiado se ele se afasta da lógica seca e ruinosa e se
engaja em discussão significativa.
7. O esforço apropriado deve seguir a discussão correta; pois um homem lucra de acordo
com o zelo que acompanha seus esforços.
8. Querido! Olhe para essa atividade (ou conduta) do mundo, que é frutífera devido à fé,
abandonando aquele raciocínio instável (sem finalidade).
9. Um fazendeiro cultiva o campo no tempo que é propriamente razoável. Então, também,
apenas pela fé as pessoas buscam (ou esforçam-se para) prata, ouro, pedras
preciosas, remédios e coisas parecidas por meio do raciocínio apropriado,
abandonando a condição instável do raciocínio impróprio.
10. Portanto, buscando o mais elevado bem de si mesmo por meio do raciocínio e da fé,
que alguém esforce-se pela realização espiritual.
11. Que não cesse de esforçar-se, como os homens que seguem Soonga, devido a uma
condição instável do raciocínio impróprio.
12. Um homem que é honesto nunca estará perdido; Falharia o esforço sustentado em seu
propósito?
13. O homem obtém sua comida, os deuses seu néctar, os ascetas piedosos a mais
elevada bem-aventurança e os outros seus desejos, somente pelo esforço individual.
14. Algum fruto (ou vantagem) foi obtido por um homem que não tem fé e tem raciocínio
instável (sem finalidade)? Tendo investigado isso, diga-me quando e como.
​Tripura Rahasya - Capítulo 7
http://www.cienciacontemplativa.com.br​ 2

15. Devido ao desapontamento em não obter o fruto em alguns casos, quando há o


abandono da confiança, alguém deveria considerar esse malfadado como seu próprio
inimigo.
16. Guiado pela própria deliberação, com o suporte da fé, acompanhado por zelo e
engajado em esforços individuais, alguém deve seguir seu próprio caminho infalível
para a emancipação.
17. Diz-se que há muitos caminhos para a realização espiritual. Escolha aquele entre eles
que é o mais certo.
18. A escolha é feita por discussão correta e de acordo com a experiência do sábio. Então
comece a prática imediatamente. Agora devo explicá-la em detalhes. Ouça.
19. Esse é o melhor que não te une novamente ao sofrimento.
20. Para um homem discriminativo, a dor é aparente em todos os aspetos da vida.
21. Riqueza, filhos, esposa, soberania, tesouro, força, fama, aprendizagem, inteligência,
aparência, corpo, as riquezas de beleza - tudo isso está situado na boca da serpente do
tempo devido à impermanência.
22. Isso existe na forma da poderosa semente que brota a tristeza.
23. Como isso merece o status de ser o meio para o sem-fim e para o mais elevado bem?
24. Portanto, o bem supremo pode de fato ser este apenas entre todos. Então, o erro da
aceitabilidade nos objetos como riqueza surge apenas da delusão.
25. O Grande Senhor (​Mahādeva​ - महादे व - ou o Ser Supremo), que é o criador do universo
inteiro está, de fato, causando, esta delusão. Portanto, todos estão, de fato, iludidos.
​Tripura Rahasya - Capítulo 7
http://www.cienciacontemplativa.com.br​ 3

26. Aqui, mesmo uma pessoa insignificante (como um mágico) ilude, recorrendo a uma
parte de sua sabedoria, apenas algumas pessoas, não todas, por que a ciência é de
fato limitada.
27. Já que os homens não foram além (ou ultrapassaram) mesmo a pessoa com
conhecimento insignificante e enganador, quem está apto a ultrapassar o Grande Deus
que possui o grande poder de ilusão (महामायं - mahāmāyam​)?
28. Aquele que, de fato, sabe obstruir ou desabilitar a ilusão insignificante (de um mágico)
por uma habilidade mágica oposta, obtém felicidade imperecível, saindo da ilusão e
permanecendo tranquilo.
29. Mas mesmo este tipo de ciência (ou conhecimento mágico) não é alcançável sem
recorrer a este conjurador e apenas sem se assegurar de seu favor todos os dias.
30. Portanto, como poderia o cruzamento da grande delusão acontecer sem a segurança
do favor do maior portador da ilusão? Portanto, permita-se depender dele todos os dias.
31. Quem quer que devidamente se assegure de seu favor, tendo obtido o conhecimento
supremo, certamente sai da delusão por meio de seu favor.
32. Outros métodos também são apresentados como servindo a esse fim supremo, mas
eles são limitados a falhar em seu propósito se a graça do Senhor não for acessível.
33. Portanto, a adoração é a Causa Primeva do universo como o ponto de partida; seja
devoto a Ele; Ele logo te capacitará para ter sucesso em suas tentativas de destruir a
ilusão.
34. Este mundo é diretamente visto como sendo produzido por ação (i.e., é um efeito, o
resultado necessário de uma causa). Embora tendo um início completamente não visto,
a terra e os outros elementos juntos com suas divisões também são resultado de uma
causa.
35. Seja convencido de que eles são o efeito pelo raciocínio confirmado por muitas
escrituras e, sob essas circunstâncias, seu fazedor é aquele que é diferente de todos os
outros fazedores.
36. Afirmações controversas ao contrário tem sido refutadas logicamente por muitos textos
autoritativos das escrituras.
37. Esse sistema que admite apenas a evidência sensória é meramente uma apologia para
a filosofia e leva a lugar nenhum. A salvação não é seu fim mas a danação é seu fruto.
38. A lógica seca também deve ser condenada. Outro sistema declara que o universo é
eterno, sem começo ou fim. Segue que o universo e seus fenômenos são
auto-existentes; assim a matéria insenciente e sem vida é seu próprio agente e
mantenedor, o que é absurdo, por que a ação implica inteligência e nenhum exemplo
pode ser citado ao contrário.
39. As escrituras também dizem que a Causa Primeva é um princípio inteligente e sabemos
que a ação sempre origina-se apenas de uma fonte inteligente.
40. O mundo é assim mapeado até seu Criador que difere inteiramente de qualquer agente
conhecido por nós.
41. Julgando da magnitude da criação, Seu poder deve ser imensurável na mesma
proporção como a vastidão inimaginável da criação.
​Tripura Rahasya - Capítulo 7
http://www.cienciacontemplativa.com.br​ 4

42. Tal ser também deve ser capaz de proteger e elevar suas próprias criaturas. Renda-se,
portanto, sem reservas a ele.
43. Ele, certamente, tem o poder de salvar aqueles que tomam refúgio nele todos os dias.
Portanto, dirija-se a ele sempre para proteção com todo o seu coração.
44. Eu citarei um exemplo como prova disso. Encontramos na vida diária que um chefe, se
45. agradado, mesmo que seus meios sejam limitados, sempre assegura os planos do
homem quelhe é sinceramente devotado. Se o Senhor do mundo for agradado, alguma
coisa será retidado devoto?
46. Diga-me. Ele é o único consolo dos devotos enquanto que os chefes são muitos no
47. mundo e não necessariamente gentis; talvez eles sejam cruéis e ingratos também.
48. Seu amparo também é vacilante e de vida curta. O Senhor Supremo tem piedade
infinita de Seus devotos, é mais grato e tem poderes infinitos. De outro modo, as
pessoas continuariam a adorá-lo desde tempos remotos?
49. Os reinos não bem governados, sabe-se que, se desintegrarão (mas seu universo
continua como sempre). Portanto, seu Senhor de piedade está bem estabelecido e
também firmemente célebre.
50. Renda-se diretamente e sem hesitação a Ele. Ele ordenará o melhor pra você e você
não necessitará pedir nada a ele.
51. Dentre os métodos de se aproximar de Deus, há (1) adoração para superar problemas,
(2) adoração para obter riqueza, etc. e (3) dedicação amorosa de si mesmo.
52. A última é a melhor e mais certa em seus resultados. Na vida prática também, um chefe
suplicado por um homem em dificuldades devidamente proporciona-lhe alívio.
53. O homem não é, contudo, ajudado se ele não tem demonstrado atenção apropriada a
seu patrão.
54. O mesmo também do serviço originado da ambição, carrega frutos indeterminados e
limitados de acordo com sua intensidade.
55. O serviço devotado com nenhum motivo ulterior leva muito tempo para ser reconhecido;
mas ele torna mesmo o chefe mais insignificante amável. Um mestre humano pode
levar muito tempo para reconhecer o trabalho altruísta;
56. mas Deus, o Senhor do Universo, o Habitante de nossos corações, sabe tudo e logo
concede frutos apropriados.
57. No caso de outros tipos de devotos, Deus tem que esperar o curso do destino - esse
sendo sua própria ordenação;
58. enquanto que para o devoto altruísta, Deus, o Senhor e único refúgio, é tudo em tudo e
cuida dele sem referência à predestinação do devoto ou suas próprias leis ordenadas.
59. Ele compensa o devoto rapidamente e isso é por que Ele é supremo e auto-contido sem
depender de mais nada.
60. A predestinação ou vontade divina é impotente diante dele. Todos sabem como Ele põe
de lado a predestinação e as leis divinas no caso de Seu famoso devoto, Markandeya.
61. Eu te explicarei agora a forma disso. Ouça, meu querido!
62. A noção comum de que alguém não pode escapar do próprio destino é aplicável apenas
para os fracos da cabeça e esbanjadores sem sentido.
​Tripura Rahasya - Capítulo 7
http://www.cienciacontemplativa.com.br​ 5

63. Yoguis que praticam o controle do Prána conquistam o destino. Mesmo o destino não
pode impor seus frutos sobre os Yoguis.
64. O destino agarra e segura somente as pessoas disparatadas.
65. Se conforma e segue a natureza, o destino forma parte da natureza. A natureza
novamente é apenas a invenção para fortalecer a vontade Deus.
66. Seu propósito é sempre certo e não pode ser evitado. A sua borda pode ser embotada
pela devoção a Ele e se ela não for tão embotada, a causa de predisposição deve
portanto ser considerada um fator mais poderoso na vida de um homem.
67. Portanto, evite a alta vaidade e tome refúgio nele. Ele, espontaneamente, o levará ao
mais Elevado Estado.
68. Este é o primeiro degrau na escada para o pedestal do Êxtase. Nada mais vale a pena.
69. (Dattatreya continuou) Oh Parasurama, ouvindo este discurso de sua esposa,
Hemachuda estava deleitado e continuou a perguntar-lhe:
70. Diga-me, querida, quem é este Deus, o Criador, o Auto-contido e o Ordenador do
universo a quem eu deveria consagrar minha vida.
71. Alguém diz que é Vishnu, outros Shiva, Ganesha, o Sol, Narasimha ou outros avatares
similares; outros dizem que é Buddha ou Arhat; outros, ainda, Vasudeva, o
princípio-vida, a Lua, o Fogo, o Karma, a Natureza, a Natureza Primordial e o outros.
72. Assim eles declaram de modos variados.
73. Cada segmento dá uma origem diferente para o universo.
74. Eu fortemente acredito que não há nada desconhecido para você por que esse famoso
e onis ciente Sábio Vyaghrapada tem sido gracioso para você e a sabedoria profunda
brilha em você, embora você seja do sexo frágil. Por favor, fale-me de seu amor por
mim. Oh minha justa, falando palavras de vida eterna!
75. Assim questionada, Hemalekha falou com prazer: Senhor, eu lhe falarei da Verdade
final sobre Deus1. Ouça!
76. Deus é Aquele-que-Tudo-Vê que gera, permeia, sustenta e destrói o universo.
77. Ele é Shiva, Ele é Vishnu, Ele é Brahma, o Sol, a Lua, etc. Ele é Aquele que os
diferentes segmentos chamam-no;
78. Ele não é Shiva, não é Vishnu, nem Brahma, nem qualquer outro exclusivamente.
79. Te direi mais. Preste atenção! Para dizer, por exemplo que o Ser Primevo é Shiva com
cinco faces e três olhos, o Criador seria nesse caso como um oleiro fazendo potes,
dotado de um corpo e um cérebro.
80. Verdade, não há arte encontrada no mundo, sem um corpo e algum intelecto. De fato, a
faculdade criativa em homens pertence a algo entre o corpo e a inteligência pura.
81. Portanto, a mente opera separada do corpo grosseiro, nos sonhos; sendo inteligente ela
82. cria um ambiente adequado para seus desejos latentes.
83. Isso claramente indica que o corpo é apenas uma ferramenta para um propósito e o
agente é a inteligência. Os instrumentos são necessários para os agentes humanos por
que suas capacidades são limitadas e eles não são auto-contidos. Enquanto que o

1
Neste capítulo, a palavra Deus é a tradução da palavra ī​ śvara (ई वर)
​Tripura Rahasya - Capítulo 7
http://www.cienciacontemplativa.com.br​ 6

Criador do universo é perfeito em Si mesmo e cria o universo inteiro sem qualquer ajuda
externa. Isso leva a conclusão importante de que Deus não tem corpo.
84. De outro modo, Ele seria reduzido a um ser humano glorificado, requerendo
inumeráveis acessórios para trabalhar e influenciado por estações e ambientes, de
modo algum diferente de uma criatura e não seria o Senhor. Além disso, a
pré-existência de acessórios anularia Sua mestria única e implicaria limites a seus
poderes de criação. Isso é absurdo, como sendo contrário às premissas originais.
85. Portanto, Ele não tem corpo nem outros acessórios, já que Ele cria o mundo. Oh Senhor
da minha vida! Os tolos são tomados pela noção de dar um corpo ao Ser
transcendental.
86. Ainda, se os devotos adoram-no e contemplam-no com um corpo de acordo com suas
próprias inclinações, Ele mostra sua graça, assumindo tal corpo.
87. Pois Ele é único e satisfaz os desejos de seus devotos. Todavia, a conclusão a ser
obtida é que Ele é pura inteligência e Sua consciência é absoluta e transcendental.
88. Tal é a consciência-inteligência em pureza, Ser Absoluto, a Única Rainha, Parameswari
(Deusa Transcendental), irresistível, que domina os três estados e portanto chamada de
Tripura.
89. Embora Ela seja um inteiro indivisível, o universo se manifesta em toda sua variedade
nela, sendo refletida como ela era, num espelho auto-luminoso.
90. A reflexão não pode ser separada do espelho e portanto é una com ela.
91. Tal sendo o caso, não pode haver diferenças em graus (e.g., Shiva ou Vishnu sendo
superior um ao outro).
92. Os corpos são meras concepções na ordem mais baixa dos seres e eles não são a esse
ponto no caso de Deus.
93. Portanto, seja sábio, e adore a única pura, imaculada Transcendência.
94. Se, incapaz de compreender esse estado puro, alguém deveria adorar a Deus na forma
concreta que é mais agradável a ele; deste modo, também, alguém é certo de alcançar
o objetivo,embora gradualmente.
95. Embora alguém tenha tentado em milhões de nascimentos, alguém não avançaria
exceto em um desses caminhos.
Tripura Rahasya - Capítulo 8
http://www.cienciacontemplativa.com.br/
1

Tripura Rahasya - Capítulo 8

1. Tendo aprendido da boca de sua sábia esposa o real significado de Tripura, que é Pura
Inteligência e Deus em Verdade, e também a técnica dos professores competentes de
adoração à Tripura como solicitado por graça divina,
2. Hemachuda obteve paz mental e adorou com intensa devoção.
3. Alguns meses se passaram deste modo.
4. A graça da Mãe Suprema desceu sobre ele e ele tornou-se totalmente indiferente ao
prazer por que sua mente estava inteiramente absorvida na investigação prática da
Verdade.
5. Tal estado é impossível para qualquer um sem a graça de Deus, por que a mente
engajada na busca prática pela verdade é o meio mais certo de emancipação.
6. Parasurama! Ajudas incontáveis não darão emancipação se a busca1 séria da Verdade
não é realizada.
7. Uma vez mais Hemachuda deixou sua esposa sozinha, sua mente absorvida na busca
da Verdade.
8. Ela viu seu marido chegando ao seu apartamento, então foi encontrá-lo, deu-lhe boas
vindas e ofereceu-lhe seu assento.
9. Ela lavou seus pés e prostou-se diante dele, como é devido a alguém de sua posição e
falou palavras doces de amor.
10. Querido! Eu te vejo novamente após um longo tempo. Sua saúde está boa?
11. De fato, o corpo às vezes é propenso à doença. Diga-me você tem me negligenciado
todos esses dias. Nem um dia passou antes sem que você me visse ou conversasse
comigo.
12. Como tem passado seu tempo?
13. Eu nunca poderia ter sonhado que você seria tão indiferente a mim! O que te deixou
assim? Como você passa suas noites?
14. Você costumava dizer-me que um momento sem mim era como uma eternidade para
você e que você não suportaria isso. Dizendo isso, ela o abraçou afetuosamente e
pareceu aflita.
15. Embora abraçado amavelmente por sua querida esposa, ele não moveu-se ao menos e
disse-lhe: Querida, Eu não posso mais te enganar. Eu estou convencido de sua força e
que nada
16. pode afetar sua felicidade inerente.

1
Investigação: ​vicāra (​ वचार )
Tripura Rahasya - Capítulo 8
http://www.cienciacontemplativa.com.br/
2

17. Você é uma Sábia e imperturbável. Você conhece este mundo e além. Como poderia
alguma coisa afetar você como isso? Eu estou aqui para te pedir um conselho. Agora,
por favor, ouça-me. Explique-me aquele conto que você me relatou uma vez como a
estória de sua vida.
18. Quem é sua mãe? Quem é sua amiga? Quem é seu marido? Quem são seus filhos?
Diga-me, que relacionamento todas essas pessoas têm com você?
19. Eu não o entendi claramente. Eu não mais penso que é uma mentira. Eu estou certo de
que você me disse uma parábola que está cheia de significado.
20. Diga-me tudo completamente de modo que eu possa entender claramente. Eu me curvo
a você reverentemente. Gentilmente, esclareça essas dúvidas.
21. Hemalekha com um sorriso e face satisfeitos ouviu seu marido e pensei consigo
mesma: ele agora está com a mente pura e abençoada por Deus.
22. Ele está evidentemente indiferente aos prazeres da vida e está também forte de mente.
Isso deve ser apenas devido à graça de Deus e a suas virtudes anteriores que estão
frutificando agora.
23. O tempo agora está maduro para ele ser iluminado, então eu o iluminarei. Ela disse:
Senhor, a graça de Deus está em você e você está abençoado!
24. O desapego não pode surgir de outro modo. É um critério da graça de Deus que a
mente deveria ser extasiada na busca pela verdade, após tornar-se desconectado dos
prazeres sensuais.
25. Agora resolverei o enigma da minha estória de vida.
26. Minha mãe é a Transcendência - a Consciência pura; minha amiga é o intelecto (a
faculdade de discernimento); a ignorância é a Madame Negra, a amiga indesejada do
intelecto.
27. Os caprichos da ignorância são também bem conhecidos de necessitar de elucidação,
ela pode iludir qualquer pessoa, fazendo uma corda parecer ser uma serpente e causar
terror em quem vê.
Tripura Rahasya - Capítulo 8
http://www.cienciacontemplativa.com.br/
3

28. Seu filho é a maior das ilusões - a mente; sua esposa é o pensamento, a saber,
audição, paladar, visão, tato e olfato, cujas mansões são os respectivos sentidos.
29. O que foi dito que a mente roubaria deles é a satisfação dos objetos sensuais, que
deixam uma impressão na mente para se desenvolver depois nas propensões da
mente.
30. O compartilhamento de objetos roubados com sua esposa é a manifestação das
propensões em sonhos. O sonho é a nora da Delusão (i.e., ignorância).
31. A Madame Voraz é o desejo; seus filhos são a raiva e a cobiça; sua cidade é o corpo. O
que foi dito ser meu potente talismã é a Realização do Eu (Self).
32. O amigo da mente que guarda a cidade é o princípio vital que se mantém movendo
como a respiração-de-vida. As diferentes cidades povoadas por eles são infernos
passados na eterna passagem da alma.
33. A consumação do discernimento é o ​samādhi (समा ध). Minha admissão na câmara da
mãe é a emancipação final.
34. Tal é brevemente o conto de minha vida. O seu é semelhante. Pense bem e seja
absolvido.
Tripura Rahasya - Capítulo 9
http://www.cienciacontemplativa.com.br/
1

Tripura Rahasya
Capítulo 9
O estado de ānanda (आन द)

1. Quando Hemachuda entendeu o significado da parábola de sua esposa ele estava


agradavelmente surpreso. Sua voz estava chocada de alegria quando disse a ela:
2. Minha querida, você é mesmo abençoada e inteligente; como eu descreveria a profunda
sabedoria da sua história de vida, narrada a mim na forma de uma parábola?
3. Até agora eu não sabia de seu progresso. Isso tudo ficou tão claro para mim quanto
groselha na palma da mão.
4. Agora eu entendo que o objetivo da humanidade é entender nossa maravilhosa
natureza. Por favor, diga-me mais.
5. Quem é essa sua mãe? Como ela é sem início? Quem somos nós? Qual nossa real
natureza? Então questionada, Hemalekha disse a seu marido:
6. Senhor, ouça cuidadosamente ao que irei falar, pois é sutil. Investigue a natureza do
ātman1 com o intelecto transparentemente claro.
7. Isso não é um objeto para ser percebido nem descrito; como eu poderia falar dele para
ti? Você conhece a Mãe somente se você conhece o ātman.
8. O ātman não admite especificação e, portanto nenhum professor pode ensiná-lo.
Contudo, entenda o ātman dentro de você, pois ele reside no intelecto imaculado.2
9. Ele permeia tudo, começando do Deus pessoal até a ameba; mas não é reconhecível
pela mente ou sentidos; sendo si mesmo não-iluminado por agentes externos, ele
ilumina todos, em qualquer lugar e sempre. Ele ultrapassa demonstração ou discussão.
10. Como, onde, quando ou por quem ele tem sido especificamente descrito mesmo
incompletamente? O que você me perguntou, querido, equivale a me pedir para te
mostrar teus olhos a você.
11. Mesmo os melhores professores não podem trazer teus olhos a tua visão. Assim como
um professor não é útil nesse exemplo, o mesmo ocorre no outro. Ele pode no máximo
guiar em direção a isso e nada mais.
12. Eu também te explicarei os meios de realização. Ouça atentamente.

1
वचारया मनो = वचारय + आ मनो ; वचारय verbo VICHARA conjugado, significa investigar, contemplar,
analisar. आ मनो substantivo AATMA declinado.
2
O “Intelecto Puro” refere-se ao intelecto livre de objetos. O caminho para o autoconhecimento é
essencialmente a remoção de todos os pensamentos objetivos e a permanência como consciência pura
sem objeto onde há apenas o sentimento “Eu sou”. Essa é a investigação da sua real natureza, que é o
meio para conhecer a Mãe mencionado no verso anterior.
Tripura Rahasya - Capítulo 9
http://www.cienciacontemplativa.com.br/
2

13. Enquanto você estiver contaminado com noções de mim ou meu (e.g., meu lar, meu
corpo, minha mente, meu intelecto), o ātman não será encontrado, pois ele reside além
da cognição e não pode ser realizado como meu ātman.
14. Retire-se em solidão, analise e veja o que essas coisas são que para serem entendidas
como minhas, descarte-as todas e transcende-as, olhe para o ātman Real.
15. Por exemplo, você me conhece como sua esposa e não como seu ātman. Eu sou
apenas relacionada a você e não parte de você, muito menos seu próprio ser.
16. Analise tudo deste modo e descarte tudo. O que permanece, transcendendo tudo, além
da concepção, apropriação ou renúncia - saiba que Aquilo é o ātman. Esse
conhecimento é a emancipação final.
17. Após receber essas instruções de sua esposa, Hemachuda levantou-se
apressadamente de seu assento, montou em seu cavalo e saiu da cidade.
18. Ele entrou no jardim de prazeres real fora da periferia da cidade e entrou num
imponente palácio de cristal.
19. Mandando todos os atendentes para fora, ele ordenou aos guardiões dos portões: Não
deixem ninguém entrar nesse lugar enquanto eu estiver em reflexão solitária.
20. Seja eles ministros, anciões ou mesmo o próprio rei. Eles devem esperar até que vocês
obtenham permissão.
21. Então ele foi para uma câmara luxuosa no nono cômodo que tinha visão para todas as
direções.
22. A sala estava bem mobiliada e ele sentou-se em uma almofada. Ele restringiu sua
mente e começou a contemplar assim:
23. Realmente todas essas pessoas estão iludidas! Nenhuma delas conhece nem mesmo
um pouco do ātman! Mas todas estão ativas por sorte de seus próprios ātman.
24. Algumas recitam as escrituras, umas poucas estudam seus comentários; algumas estão
ocupadas acumulando riquezas; outras estão governando a terra; algumas estão
lutando contra o inimigo; outras estão buscando as luxúrias da vida.
25. Quando engajadas em todas essas atividades egoístas elas nunca questionam o que
exatamente o ātman pode ser; agora por que há toda essa confusão?
26. Oh! Quando o ātman não é conhecido, tudo é em vão e como feito em um sonho.
Então, Eu irei agora investigar o assunto.
27. Meu lar, riqueza, reino, tesouro, mulheres, gado - nenhum desses sou eu, eles são
apenas meus.
28. Eu, certamente, tomo o corpo como sendo ātman mas ele é simplesmente uma
ferramente para mim.
29. Eu sou realmente o filho do rei, com membros saudáveis e uma boa compleição.
30. Essas pessoas, também, são tomadas por esta mesma noção de que seus corpos são
seus egos.
31. Refletindo assim, ele considerou o corpo. Ele não pôde identificar o corpo como o ātman
e então começou a transcendê-lo.
32. Esse corpo é meu, não eu. Ele é construído de sangue e ossos e muda a cada
momento.
33. Como pode isso ser o imutável e contínuo Eu. Ele parece como o sonho, etc.
Tripura Rahasya - Capítulo 9
http://www.cienciacontemplativa.com.br/
3

34. O Eu não pode ser o corpo; nem o Prana nem a força vital podem ser o ātman.
35. A mente e o intelecto são claramente minhas ferramentas, então elas não podem ser
Eu.
36. Eu sou certamente algo diferente de todos eles, começando pelo corpo e finalizando
com o intelecto.
37. Os objetos são conhecidos pelos sentidos, não o contrário; a vida é reconhecida pelo
toque e a mente pelo intelecto. Por quem é o intelecto feito evidente? Eu não sei... Eu
agora vejo que estou sempre ciente.
38. A realização daquela consciência pura é obstruída por outros fatores (pertencentes ao
não-ātman). Agora não os imaginarei. Eles não podem aparecer sem minha imagens
mentais deles e eles não podem obstruir minha glória do ātman, sem aparecer.
39. Pensando assim, ele forçadamente restringiu seus pensamentos.
40. Instantaneamente, ele entrou em contato com escuridão densa. Ele, ao mesmo tempo,
decidiu que era o ātman, então tornou-se feliz e novamente começou a meditar.
41. Farei isso novamente, ele disse mergulhando em si mesmo.
42. Então, ele parou sua mente instável por meio do método de Hathayoga3. Tendo a mente
sido restringida ou parada, ele percebeu instantaneamente uma massa de luz brilhante
sem começo nem fim.
43. Recuperando a consciência humana, ele começou a imaginar como isso poderia
acontecer: Não há constância na experiência.
44. O ātman não pode ser mais do que um. Eu repetirei e verei.
45. Desta vez ele caiu num longo sono e teve sonhos maravilhosos. Quando acordou, ele
sofreu de muita ansiedade.
46. Como é que eu fui dominado pelo sono e comecei a sonhar? A escuridão e luz que eu
vi antes devem estar também na natureza dos sonhos.
47. Os sonhos são imagens mentais, então como eu os ultrapassaria? Eu devo, novamente,
reprimir meus pensamentos e ver. Sua mente estava estável por um tempo.
48. Ele estava mergulhado, como se fosse num oceano de bem-aventurança.

3
हठयोगेन : palavra declinada no terceiro caso (instrumental), literalmente: por meio do Hatha Yoga.
Tripura Rahasya - Capítulo 9
http://www.cienciacontemplativa.com.br/
4

49. Pouco tempo depois, ele recobrou seu estado original, a mente voltando novamente ao
funcionamento normal.
50. Ele refletiu: O que é isso tudo? É um sonho ou uma alucinação da mente? Minha
experiência é um fato mas ele ultrapassa minha imaginação. Por que é a
bem-aventurança tão única e diferente de qualquer coisa que eu tenha experimentado
antes?
51. A mais elevada de minhas experiências não pode se comparar com mesmo uma letra
do estado de bem-aventurança em que estive agora. Foi como um sono, mesmo eu não
estando externamente ciente. Mas havia um prazer peculiar ao mesmo tempo.
52. A razão não é clara para mim por que não havia nada para me dar prazer. Embora eu
tente conhecer o ātman, eu não o faço. Eu vejo o ātman diferentemente agora e
novamente. O que isso pode ser? Ele é escuridão, luz ou prazer, etc.
53. Ou é possível que esses sejam sucessivas formas de ātman?
54. Eu não entendo. Deixe-me perguntar a minha sábia esposa.
55. Tendo então decidido, o príncipe ordenou aos guardiões da porta que pedissem a
Hemalekha que viesse até ele.
56. Dentro de uma hora e meia, ela estava subindo os degraus da mansão como a Rainha
da Noite se movendo pelo céu.
57. Ela descobriu o príncipe, seu consorte, em perfeita paz mental, calmo, comedido e feliz.
58. Ela rapidamente foi até seu lado e sentou-se. Quando ela se recolheu próximo dele ele
abriu os olhos e a encontrou sentada próximo.
59. Ela rapidamente e carinhosamente o abraçou e gentilmente disse-lhe palavras doces de
amor: Senhor, o que eu poderia fazer por Sua Alteza?
60. Eu espero que esteja bem. Por favor, diga-me por que você me chamou ao seu
palácio?
61. Então questionado, ele falou a sua esposa:
Tripura Rahasya - Capítulo 9
http://www.cienciacontemplativa.com.br/
5

62. Minha querida! Eu tenho, como aconselhado por ti, me retirado para um lugar solitário
onde eu estou engajado na investigação do ātman.
63. Mesmo assim, eu tenho diversas visões e experiências. Pensando que a constante
auto-consciência é afetada pela intrusa interferência de atividades mentais, eu
forçosamente reprimo meus pensamentos e permaneço calmo.
64. A escuridão preenche, a luz aparece, o sono sobrevém e finalmente um prazer único
me domina por um pequeno intervalo.
65. É isto o ātman ou algo diferente?
66. Por favor analise essas minhas experiências e diga-me, minha querida, então eu
poderei calmamente entendê-las.
67. Após ouvi-lo cuidadosamente, Hemalekha, a conhecedora de seu mundo e além, falou
docemente:
68. Ouça-me, meu querido, atentamente.
69. O que você tem feito agora para restringir seus pensamentos com a mente direcionada
para dentro (vichara) é um bom começo e louvado como o valioso e melhor caminho.
Sem ele ninguém obteve sucesso em nenhum lugar. Contudo, ele não produz
autorrealização, pois o ātman permanece realizado a todo tempo.
70. Se é um produto, não pode ser o ātman. Pois, como poderia o ātman ser obtido agora?
Então, o ātman nunca é obtido.
71. A obtenção é de algo que não é possuído. Há algum momento em que o ātman não é o
ātman? Nem é o controle da mente usado para obtê-lo. Eu te darei alguns exemplos:
72. Assim como algo que está coberto por escuridão é encontrado neste mundo por meio
de uma lâmpada ou algo do tipo, como se tivesse sido obtido, devido à supressão (ou
aniquilação) daquela escuridão, então, o ātman é descoberto pela restrição ou parando
a mente.
73. Assim como um homem confuso pode esquecer sua bolsa, mas lembrar-se e localizá-la
mantendo sua mente tranquila e estável, ainda diz-se que ele ganhou sua bolsa
perdida, embora a estabilização de sua mente não produza a bolsa.
74. Assim também o controle de sua mente não é a causa de sua Auto-realização.
75. Embora o ātman esteja sempre lá, ele não é reconhecido por você mesmo com uma
mente controlada por que você não está familiarizado com ele.
76. Assim como um caipira ignorante do sistema não pode entender as luzes
deslumbrantes da câmera de audiência real à noite e ignora sua magnificência à
primeira vista, você ignora o ātman.
77. Preste atenção, querido! A escuridão branca estava visível após você controlar seus
pensamentos. No curto intervalo antes de sua aparição e após o controle da mente,
resta um estado livre de esforço para controlar e a percepção da escuridão.
78. Sempre lembre-se desse estado como o único de felicidade perfeita e transcendental.
Todos são enganados nesse estado por que suas mentes estão acostumadas a
estarem voltadas para fora.
79. Embora as pessoas possam ser inteligentes, cheias de conhecimento e perspicazes,
mesmo assim elas buscam e buscam, apenas para serem frustradas e não
permanecerem nesse estado.
Tripura Rahasya - Capítulo 9
http://www.cienciacontemplativa.com.br/
6

80. Elas lamentam dia e noite, sem conhecer seu estado. O mero conhecimento teórico da
escultura nunca poderá tornar um homem um escultor.
81. Embora ele seja um pandit bem fundamentado na teoria e na discussão da filosofia do
ātman, ele não pode realizar o ātman por que ele não é realizável mas já é realizado.
82. A realização não é alcançada indo longe, mas apenas estando quieto; não é alcançada
por pensamento, mas por cessação do pensamento.
83. O esforço em direção à Realização é como a tentativa de pisar a sombra emitida pela
cabeça de alguém. O esforço sempre o fará recuar.
84. Assim como uma criança tenta controlar seu próprio reflexo estando não ciente do
espelho, assim também as pessoas comuns são tomadas por suas reflexões mentais no
espelho do ātman puro, luminoso, e não estão cientes do espelho por que não tem
familiaridade com o ātman.
85. Embora as pessoas entendam o espaço, elas não estão cientes dele por que elas são
tomadas pelos objetos no espaço.
86. Elas entendem o universo no espaço mas não tem noção do próprio espaço. De modo
similar, ocorre em relação ao ātman.
87. Meu Senhor, considere bem. O mundo consiste de conhecimento e de objetos
conhecidos. Desses, os objetos são não-ātman e percebidos pelos sentidos; o
conhecimento é auto-evidente; não há mundo na ausência de conhecimento. O
conhecimento é a prova direta da existência dos objetos que são portanto dependentes
do conhecimento. O conhecimento é dependente do conhecedor para sua existência. O
conhecedor não requer quaisquer testes para conhecer sua existência.
88. O conhecedor, portanto, é a única realidade por trás do conhecimento e dos objetos.
Isso que é autoevidente sem a necessidade de ser provado, é apenas real; não é o
mesmo para as outras coisas.
89. Aquele que nega o conhecimento não tem base para se fixar e então nenhuma
discussão é possível. Estando o sujeito do conhecimento estabelecido, a questão surge
em relação à existência dos objetos na ausência de seu conhecimento. Os objetos e
seu conhecimento são apenas reflexões na Consciência eterna, auto-luminosa,
suprema, que é o mesmo que o conhecedor e que sozinha é real.
90. A dúvida de que a reflexão deveria ser de todos os objetos simultaneamente sem
referência ao tempo e ao lugar (contrário à nossa experiência), não necessita surgir por
que o tempo e o espaço são por si mesmos conceitos conhecidos e são igualmente
reflexões.
91. A natureza específica das reflexões é o contrário dos objetos encontrados no espaço.
92. Portanto, Príncipe, entenda com uma mente estável sua própria natureza que é pura,
Consciência indivisa, subjazendo a mente inquieta que é composta de todo o universo
em toda a sua diversidade.
93. Se alguém está fixado naquela base fundamental do universo (i.e., o ātman), alguém
torna-se Todo-fazedor. Eu te direi como ser inseparável. Eu te asseguro - você será
Aquilo.
94. Entenda com uma mente estável o estado entre o sono e a vigília, o intervalo entre o
reconhecimento de um objeto após o outro ou o intervalo entre as duas percepções.
Tripura Rahasya - Capítulo 9
http://www.cienciacontemplativa.com.br/
7

95. Esse é o ātman real, pertencente a quem não é mais iludido. Não ciente dessa
Verdade, as pessoas tem se tornado herdeiras da tristeza.
96. Forma, sabor, cheiro, toque, som, tristeza, prazer, o ato de obtenção, ou o objeto obtido
- nenhum desses encontra lugar naquela Transcendência que é o suporte de tudo que
há e que é o ser em tudo, mas é desprovido de tudo (não contém nada).
97. Esse é o Supremo Senhor, o Criador, o Sustentador e o Destruidor do universo o Eterno
Ser.
98. Agora, não deixe sua mente ser extrovertida; volte-a para dentro; controle-a apenas um
pouco e observe o ātman, sempre lembrando-se que o próprio investigador é a
essência do ser e do ātman.
99. Seja também livre do pensamento Eu vejo; permaneça estável como um homem cego
vendo. O que transcende a visão e não visão, Isso é você. Veja rápido e seja Aquilo.
100. Hemachuda fez de acordo e, tendo obtido esse estado referido por sua esposa,
permaneceu em paz por um longo tempo, não ciente de nada além do ātman.
www.cienciacontemplativa.com.br
1

Tripura Rahasya - Capítulo 10


Hemachuda Alcança o Estado de Jivanmukta

1. Hemalekha notou que seu marido tinha alcançado o estado mais elevado (ou ), então
não lhe causou distúrbio.
2. Ele acordou depois de um ​muhūrta (​ मह
ु ू त - trigésima parte de um dia: 48 minutos), abriu
seus olhos e viu a sua esposa que estava próxima.
3. Ansioso para cair naquele estado novamente, ele fechou seus olhos; imediatamente,
Hemalekha segurou suas mãos e perguntou-lhe docemente:
4. Meu senhor, diga-me o que você ganha abrindo ou fechando os olhos?
5. Diga-me o que você obtem com os olhos fechados que não pode ser obtido com os
olhos abertos?
6. Sendo pressionado por uma resposta, ele olhou-a como se estivesse bêbado e replicou
relutantemente e languidamente, como segue.
7. Minha querida, eu encontrei muito repouso. Eu não posso encontrar a menor satisfação
nas atividades do mundo, assim como a tristeza aumenta quando elas acabam.
www.cienciacontemplativa.com.br
2

8. Basta delas! Elas são insípidas para mim como um pedaço de cana-de-açúcar chupada,
ou mastigada por um animal. Cego pelo infortúnio, eu não conhecia até hoje a
verdadeira felicidade.
9. Que pena que tais pessoas estariam nos dias de hoje não cientes desse prazer de seu
próprio Self!
10. Assim como um homem mendiga enquanto ignorante do tesouro escondido sob seu
piso, eu busquei prazeres não ciente do ilimitado oceano de êxtase dentro de mim.
11. Eu estava tão apaixonado que os tratei incorretamente como prazeres duráveis, estava
frequentemente triste, mesmo que não cessasse de persegui-los sempre e sempre. Que
pena: os homens são tolos, incapazes de discriminar o prazer da dor.
12. Pessoas que não distinguem o sofrimento da felicidade (दःु खसख ु ववेक =
duḥkha-sukha-viveka), buscam prazeres mas obtém tristeza. Basta dessas atividades
que aumentam meu sofrimento.
13. Minha querida, eu te imploro com as mãos juntas. Deixe-me cair novamente na paz de
meu prazeroso Self.
14. Eu tenho pena de ti que embora sabendo desse estado, você não está nele mas está
mesmo engajada em sofrimento vão.
15. A sábia garota gentilmente sorriu de tudo isso e disse a ele: meu senhor, você ainda
não conhece o mais elevado estado de santidade.
16. Esse estado está tão longe de ti quanto o céu está da terra.
17. Sua pequena medida de sabedoria é tão boa quanto nenhuma sabedoria, por que não é
incondicional, mas permanece condicionada por fechar os olhos ou abrir os olhos. A
perfeição não pode depender de atividades ou do reverso, de esforço ou de não
esforço.
18. Aquele estado não pode ser alcançado fazendo ou deixando de fazer, nem indo para
um lugar nem vindo de algum lugar.
19. Como pode algo ser obtido fechando os olhos? Como pode ser completo fazendo algo
ou indo a algum lugar?
20. O que eu deveria dizer da imensidão dessa ilusão?
21. Quão ridículo pensar que sua pálpebra, uma polegada de comprimento, pode fechar a
extensão na qual milhões de palavras revolvem em apenas um canto! Ouça príncipe! Te
direi mais.
22. Príncipa! Enquanto os nós não forem desatados, a pessoa não alcança a felicidade.
23. Há milhões de nós aparentes na corda de ilusão. O não-reconhecimento da sua real
natureza é chamado de corda da ilusão.
24. Esses nós dão surgimento a ideias incorretas, das quais a principal é a identificação do
corpo com o Self, que por seu turno dá surgimento ao fluxo perene de felicidade e
miséria na forma dos ciclos de nascimentos e mortes.
25. O segundo nó é a crença na não-individualidade do mundo que se estabelece na
aparência.
www.cienciacontemplativa.com.br
3

26. Similarmente, com os outros nós incluindo a diferenciação dos seres entre eles mesmos
e do Self universal. Eles se originaram desde tempo imemorial e se repetem com
ignorância intacta.
27. O homem não está finalmente redimido até ter se desenredado desses inúmeros nós de
ignorância. O estado que é o resultado de seu fechar de olhos não pode ser o bastante,
pois ele é Pura Consciência (शु धसं वद - śuddha-samvid) e verdade eterna
transcendendo alguma outra coisa mas ainda servindo como o espelho magnificente
para refletir os fenômenos que surgem nele mesmo.
28. Prove, se puder, que tudo não está contigo nele. O que quer que você admita como
conhecido para você, está no conhecimento transportado por essa consciência. Mesmo
o que pode ser suposto de estar em outro lugar e num momento diferente, também está
dentro de sua consciência.
29. Além disso, o que não é aparente e desconhecido para essa inteligência é uma ficção
da imaginação, como o filho de uma mulher estéril. Não pode haver nada que não seja
tomado pela consciência, assim como não pode haver nada que não seja reflexo sem
uma superfície refletora.
30. Portanto, eu te digo que sua convicção, eu perderia abrindo os olhos ou eu sei, é o nó
esperando para ser cortado e, assim, não haverá nada a ser alcançado.
31. Lembre-se, não pode ser o estado perfeito se puder ser alcançado.
32. O que você considera o estado de felicidade como alcançado por movimentos de suas
pálpebras, não pode mesmo ser perfeito por que é certamente intermitente e não
incondicional.
33. É algum lugar encontrado onde o esplendor não esteja, meu senhor, do fogo flamejante
na dissolução do universo? Tudo se resumirá àquele fogo e nenhum resíduo restará.
34. Senhor! Onde a grande Consciência Indivisa tendo o esplendor do fogo do tempo não
existe, o fogo que queima completamente em si mesmo a pilha de combustível na forma
de numerosos pensamentos?
35. Seja forte, arranque seus pensamentos pela raiz e corte fora os nós enraizados do seu
coração, a saber, eu verei, eu não sou isto. Este é não-Self e os semelhantes. Não há
nenhum resto de coisas a serem feitas uma vez que você tenha alcançado o estado
mais elevado (Consciência Indivisa). Abandone o nó estabelecido em seu coração ( द
ि थतम ् - hṛdi sthitam) como “Eu deveria perceber tendo restringido todos os
pensamentos”. Erradique, também, o outro nó forte, a saber, “Eu não sou isso”.
36. Encontre para onde quer que se volte o único, indiviso, eterno, prazeroso Self; também
assista o universo inteiro refletido, como num espelho no Self, como ele surge e
retrocede.
37. Para de contemplar: eu vejo o Self em todo lugar e em tudo (dentro e fora).
38. Alcance a Realidade residual (Consciência Indivisa) no centro do seu ser e permaneça
com o Self, com seu próprio estado natural.
www.cienciacontemplativa.com.br
4

39. Ao fim do discurso, a confusão de Hemachuda foi esclarecido, tanto que ele
gradualmente tornou-se bem estabelecido no perfeito Self desprovido de qualquer
distinção de dentro ou fora.
40. Tendo meditação firme (no Self como Consciência Indivisa) devido a ter alcançado a
pervasividade completa pela Consciência Pura. Sendo sempre uniforme, ele levou uma
vida muito feliz com Hemalekha e os outros.
41. Reinou sobre seu reino e o tornou próspero, engajou-se com seus inimigos em guerra e
os conquistou, estudou as escrituras e as ensinou aos outros, encheu seu tesouro,
realizou os sacrifícios devidos à realeza (como Aśvamedha e Rājasūya)1.
42. Viveu vinte mil anos2, emancipado enquanto ainda vivo (​Jivanmukta)​ .
43. O Rei Muktachuda, tendo ouvido que seu filho Hemachuda tinha se tornado um
Jivanmukta, consultou seu outro filho Manichuda.
44. Ambos concordoram que Hemachuda não era como antes, mas que ele havia mudado
tanto que ele não era mais afetado pelos maiores prazeres ou piores tristezas;
45. que ele tratava amigos e inimigos do mesmo modo; que ele era indiferente a perda ou
ganho; que ele se engajava em atividades reais como um ator numa peça; que ele
parecia com um homem sempre embriagado com vinho; e que ele fazia seu trabalho
bem, apesar de sua mente ausente ou outras aparências mundanas.
46. Eles ponderaram sobre o assunto e se questionaram.
47. Então, eles o procuraram em privado e perguntaram-lhe a razão dessa mudança.
48. Quando eles o ouviram falar desse estado, eles também desejaram ser instruídos por
ele e, alcançando a Consciência Indivisa Transcendental se tornaram Jivanmuktas
como Hemachuda.
49. Os ministros estavam por seu turno desejosos de alcançar esse estado e
eventualmente alcançaram-no após receber as instruções adequadas do rei.
50. Então foram os cidadãos, os artesãos e todas as classes de pessoas na cidade de
Viśāla.
51. Todos eles conheceram a Realidade Suprema.
52. Mesmo as crianças e as pessoas muito velhas não eram mais movidas por paixões.
53. Havia ainda transações mundanas nesse estado ideal, por que as pessoas
conscientemente atuam em seus papéis como atores num drama, de acordo com o
resto da criação.
54. Uma mãe balançaria o berço com canções de ninar expressivas da mais elevada
Verdade;
55. um mestre e seus servidores lidavam uns com os outros à luz dessa Verdade;
56. os atores entretinham a audiência com peças ilustrando a Verdade;

1
​Aśvamedha​ um ritual védico bastante elaborado que culmina com o sacrifício de um cavalo.
Em uma as histórias que serão contadas por Dattatreya nos próximos capítulos, haverá
menção aos procedimentos para um ritual deste tipo. ​Rājasūya​ é um ritual Védico para
consagração de um rei.
2
Pode-se interpretar mil anos como 4, portanto, ele viveu oitenta anos.
www.cienciacontemplativa.com.br
5

57. os cantores cantavam apenas músicas sobre a Verdade;


58. os palhaços da corte caricaturizavam a ignorância como ridícula; a academia apenas
ensinava lições sobre Deus-conhecimento.
59. O estado inteiro era pois composto apenas de sábios e filósofos, sejam eles homens ou
mulheres; garotos servidores ou garotas servidoras; atores dramáticos ou pessoas
elegantes; artesãos ou trabalhadores; ministros ou prostitutas.
60. Eles mesmo assim agiam em suas profissões em harmonia com a criação.
61. Eles nunca se detinham em recapitular o passado ou especular sobre o futuro com uma
visão de ganhar prazer ou evitar dor, mas agiam por enquanto, sorrindo, alegrando-se,
chorando ou gritando como bêbados, assim dissipando todas as suas tendências
latentes.
62. Os Rishis, Sanaka e outros, chamavam-na a Renomada Cidade da Sabedoria quando a
visitavam.
63. Mesmo os papagaios e cacatuas em suas gaiolas falavam palavras de sabedoria.
64. Por exemplo, considere o Self como inteligência pura desprovida de conhecimento
objetivo.
65. O que é conhecido não é diferente daquela inteligência, é como uma série de imagens
refletidas num espelho. A Consciência Pura é o universo; ela sou Eu, é tudo, senciente
e insenciente, móvel e imóvel.
66. Tudo o mais é iluminado por ela embora ela seja sozinha e Auto-luminosa.
67. Portanto, deixe aquelas pessoas sensíveis que estão desejosas de chit (Consciência
Pura) voltarem-se do conhecimento ilusório e contemplar seu próprio Self - a
consciência absoluta - que ilumina todo o resto e que também é seu próprio ser.
68. A cidade onde mesmo os animais inferiores levavam tal sabedoria suprema é famosa
até nos dias de hoje como a Cidade da Sabedoria na Terra, cuja reputação ela deve
àquela sabia princesa Hemalekha, por meio de seus conselhos Hemachuda tornou-se
um Jivanmukta, todo o resto segue em sua vigília.
69. Dattatreya continuou: Assim, você vê, Parasurama, a causa primária de emancipação é
associação com o sábio. Portanto, siga esse conselho em primeiro lugar e
primeiramente.
Tripura Rahasya - Capítulo 11

https://www.cienciacontemplativa.com.br

Capítulo 11
Tudo é Consciência

1. Após ter ouvido essa história sublime de Hemachuda, Parashurama estava confuso e
perguntou a Dattatreya:
2. Senhor e Guru! Esse conhecimento maravilhoso explicado por ti parece difícil de
entender. Também não é possível apreendê-lo completamente.
3. Como pode o magnífico universo objetivo não ser outro que a consciência1 que não é
vista mas apenas inferida? Pois, isso é absolutamente não-visto e deveria ser abordado
por fé e não de outro modo.

1
च तमा व पकम ् ( citimātrasvarūpakam )
च त (citi) = consciência
मा (mātra) = elementar
व पकम ् (svarūpakam) = peculiaridade, natureza
Significado da composição: natureza elementar da consciência
Tripura Rahasya - Capítulo 11

https://www.cienciacontemplativa.com.br

4. A Consciência livre2 de objetos conhecidos não pode ser imaginada e, portanto, não
pode ser postulada. Assim, o tema inteiro baseado nisso não está nem um pouco claro
para mim. Peço-vos gentilmente que elucide o assunto para que possa entendê-lo.
5. Assim questionado, Dattatreya falou para Parashurama.
6. Eu agora te direi a verdade do mundo objetivo, como ele é. O que é visto é
absolutamente nada mais do que percepção.
7. Agora te darei a prova dessa afirmação. Ouça com atenção. Tudo o que é visto tem
uma origem e deve haver portanto uma causa antecedente para isso, devido à
percepção direta de sua produção.
8. O mundo está mudando a todo momento e sua aparência é nova a todo momento e
então ele nasce a todo momento. Alguém diz que o nascimento do universo é infinito e
eterno a cada momento. Alguém pode contestar esse ponto dizendo que essa
afirmação é verdade para um objeto específico ou para objetos mas não seria verdade
para o mundo que é o agregado de tudo que é visto.
9. Os comentadores de vijnana3 respondem assim: os fenômenos externos são apenas
projeções momentâneas da anamnese da ligação contínua, a saber, o sujeito e as
ações mundanas são baseadas nelas. Mas o intelecto que compara tempo, espaço e
fenômenos é infinito e eterno a cada momento de sua aparência e é chamado vijnana
por eles. Outros dizem que o universo é o agregado da matéria - móvel e imóvel. (Os
atomistas sustentam que o universo é feito de cinco elementos, terra, ar, fogo, água e
éter que são permanentes e de coisas como um pote, uma roupa, etc., que são
transientes. Eles ainda são incapazes de provar a existência eterna do mundo, por que
eles admitem que os acontecimentos da vida implicam sua natureza conceitual. Segue
que os objetos não tão envolvidos são inúteis.)
10. Mas todos estão de acordo de que o universo tem uma origem. Neste caso, a teoria da
ocorrência natural não é correta devido a uma conclusão inapropriada.
11. Dizer, contudo, que a criação é devido à natureza acidental é exagerar a imaginação e
portanto injustificável.
12. Se uma coisa pudesse aparecer sem uma causa não haveria relação entre causa e
efeito e não poderia haver harmonia no mundo.
13. Cada ocorrência deve ter uma causa; essa é a regra. Mesmo se a causa não é óbvia,
ela deve ser inferida; de outro modo, as atividades do mundo seriam em vão - o que é
um absurdo.
14. A conclusão é então alcançada que todo evento é um produto de uma certa condição
ou condições; e esse fato habilita as pessoas a se engajarem em trabalho significativo.
Assim é no mundo prático. Portanto, a teoria da criação acidental não é admissível.

2
च त चे य व नमु ता (citiścetyavinirmuktā) = a consciência livre
3
O autor está se referindo aos vijñanavadin-s (buddhistas) e aos vaiśeṣika-s posteriores.
Tripura Rahasya - Capítulo 11

https://www.cienciacontemplativa.com.br

15. Os atomistas4 pressupõem uma causa material para a criação e a chamam de átomos
imponderáveis . De acordo com eles, os átomos imponderáveis produzem o mundo
tangível, que não existia antes da criação e não permanecerá após a dissolução. (A
existência do mundo antes ou após é apenas imaginária e falsa, como um chifre
humano - eles dizem.)
16. Como pode a mesma coisa ser verdadeira num instante e falsa no outro? Novamente,
os átomos primários são imponderáveis, sem magnitude e ainda são permanentes,
como podem dar surgimento a produtos materiais e transientes dotados de magnitude?
17. Como pode a mesma coisa ser amarela e não amarela - brilhante e escura - ao mesmo
tempo? Essas qualidades não estão em harmonia; a teoria inteira é confusa, é como se
alguém estivesse tentando misturar coisas não-misturáveis.
18. Mesmo devido à vontade de Deus ou de algo parecido, como pode haver a geração da
primeira atividade? A natureza que é o estado de equilíbrio dos três Gunas é o mundo. 5
19. Mesmo isso não pode ser possível, já que a causa do desequilíbrio deve ser procurada,
devido à falta de uma causa para o equilíbrio e por não ser dirigida por um ser senciente
e pela ausência de qualquer tipo de não-percepção.
20. Portanto, a causa do efeito na forma do mundo não é percebida diretamente. Mas, em
termos de coisas invisíveis, a escritura revelada é a fonte. Não há lugar para nenhum
outro tipo de prova.
21. O universo deve ter um criador e ele deve ser um princípio consciente, mas ele não
pode ser de qualquer tipo conhecido por causa da vastidão da criação.
22. Seu poder foi entendido e é tratado nos Vedas, cuja autoridade não tem controvérsias.
23. Os Vedas falam do Criador único, do Senhor que era antes da criação, sendo
auto-contido. Ele criou o universo por seu próprio poder e liberdade de vontade.
24. Por sua liberdade de vontade ele se manifestou a figura do mundo na tela de seu
próprio Self para brincar.
25. Como alguém, num reino de fantasia durante um sonho, reconhece o corpo apenas
imaginado por ele com “Eu-sou”, assim é este mundo.6
26. Assim como o corpo imaginado por você num sonho não é sua forma real devido a ele
não pode ser encontrado após o sonho, assim o mundo não é o corpo de Deus (embora
reconhecido como “Eu”) devido a sua ausência durante a dissolução do mundo (no fim
do ciclo universal).
27. Assim como resta mesmo a consciência pura separada do corpo, etc, é o Senhor,
consciência ilimitada separada do universo, etc. Não é sobretudo apenas uma figura
desenhada por Ele em seu próprio Self?
28. Como pode essa criação única estar separada Dele? Não deve realmente haver nada
além de consciência.

4
O autor está se referindo aos vaiśeṣika-s um dos seis sistemas de filosofia Indiana.
5
Os versos 18 e 19 criticam o Samkhya
6
Deus reconhece o mundo imaginado por ele como “Eu”
Tripura Rahasya - Capítulo 11

https://www.cienciacontemplativa.com.br

29. Diga-me de algum lugar onde não há consciência; não há nenhum lugar além da
consciência. Ou pode haver alguém que prove de qualquer maneira alguma coisa fora
da consciência? A consciência é inescapável.
30. Aquele lugar onde a ausência de Consciência pode ser declarada não pode ser
alcançado. Como a ausência de Consciência pode ser provada? Portanto, a
Consciência Pura é o Princípio Supremo.7
31. O Ser Supremo (ou Consciência Pura Indivisa) saciando-se em engolir o mundo brilha
como o Todo.
32. Assim como as ondas sem oceano e o raios de luz sem o sol não existem, também o
mundo não existe sem a essência que é a Consciência.
33. Este universo inteiro consistindo dos móveis e imóveis, surge de, permanece em e
resolve Nele.
34. Essa é a conclusão final e bem-conhecida das escrituras; e as escrituras nunca erram O
guia pelo qual alguém pode apreender os assuntos materiais e transcendentais é
apenas a escritura (leia-se: os Vedas).
35. Os poderes miraculosos possuídos por gemas e encantamentos não podem negar, nem
podem ser sondados por um homem de conhecimento limitado.
36. Por que as escrituras procedem de um Senhor todo-conhecedor, elas compartilham Sua
qualidade onisciente. O Ser mencionado nelas é eternamente existente mesmo antes
do nascimento do universo.
37. Sua criação foi sem qualquer ajuda material. Portanto, Deus é supremo, perfeito, puro e
auto-contido.
38. A criação não é um objeto separado; é a figura desenhada no canvas da suprema
consciência, pois não pode haver possibilidade de nada além da consciência.
39. O universo tem apenas se originado como uma imagem na superfície do espelho do
Absoluto. Essa conclusão está em harmonia com todos os fatos.
40. Ele é completo por todos os lados devido a ser sem divisões e sem limitações.
41. A execução do mundo por Deus que á causa primordial do mundo é como um Yogi, que
pode criar e fazer desaparecer mundos quando deseja pelo poder Yogi. A criação de
Deus é considerada semelhante a uma cidade de fantasia.
42. Oh Parasurama, você está ciente das criações mentais daqueles que sonham
acordados que estão cheio de pessoas, vida e trabalho, similares a isso.
43. Também há dúvidas, testes, discussões e conclusões - todas imaginários surgindo na
mente e retrocedendo lá.
44. Assim como castelos no ar são ficções mentais dos homens, também é a criação uma
ficção de Shiva. Shiva é Consciência absoluta, sem qualquer forma.
45. Sri Tripura é Sakti (poder) e Testemunha do todo. Esse Ser é todo perfeito e permanece
indiviso.

7
Sem a consciência, como alguém poderia mesmo tentar provar a ausência de consciência? Portanto,
essa negação nunca pode ocorrer.
Tripura Rahasya - Capítulo 11

https://www.cienciacontemplativa.com.br

46. O tempo e espaço são os fatores da divisão no mundo; desses, o espaço se refere às
localizações dos objetos e o tempo à sequência dos eventos.
47. O tempo e espaço são por si mesmos projetados na consciência. Como então eles
dividiriam ou destruiriam sua própria base e ainda continuariam a ser o que são?
48. Você pode me mostrar o tempo ou lugar não permeado pela consciência? Ela não está
dentro de sua mente quando você fala dela?8
49. De fato, a existência das coisas é apenas a iluminação delas e nada mais. Tal
iluminação pertence apenas à consciência. Isso apenas conta que é auto-brilhante. Os
objetos não são assim, pois sua existência depende da percepção deles pela
consciência dos seres. Mas a consciência é auto-efulgente - não é assim para os
objetos, que dependem dos seres conscientes para serem conhecidos.
50. Se, por outro lado, você discutir que esses objetos existem mesmo se não são
percebidos por nós, eu te digo - ouça!
51. Apenas a Consciência brilha sem a necessidade de outra coisa. Objetos inertes
dependem da Consciência; não o contrário.
52. Assim como reflexões não têm substância nelas, fora do espelho, também as coisas do
mundo não têm substância nelas fora do fator conhecedor, viz., Consciência.
53. O detalhe e tangibilidade das coisas não são argumentos contra elas serem nada além
de imagens.
54. Portanto, tudo deve ser Consciência. 9
55. Essas qualidades de imagens refletidas dependem da excelência da superfície refletora,
como podemos ver no caso da água de superfícies polidas. Os espelhos são
insencientes e não são auto-contidos. Enquanto que, a consciência é sempre pura e
auto-contida; ela não requer um objeto externo para criar a imagem.
56. Os espelhos ordinários podem ser sujados por poeira estranha, enquanto que a
consciência não tem nada estranho a ela, sendo sempre única e indivisa e portanto
suas reflexões são únicas.
57. As coisas criadas não são auto-luminosas e são iluminadas pela faculdade cognitiva de
outro.
58. A cognição das coisas implica sua imagens sobre nossa consciência. Elas são apenas
imagens.
59. A criação portanto é uma imagem, não é auto-brilhante e portanto não é
auto-consciente, mas torna-se um fato sobre nossa percepção dela.
60. Portanto, eu digo que esse universo não é nada mais que uma imagem sobre nossa
consciência.

8
Tempo e espaço são entidades conhecíveis que dependem da Consciência para serem reveladas.
9
Não há lugar nem objeto sem Consciência. Objetos inconscientes parecem assim por que a
Consciência não revelou a si mesmo a um grau apreciável neles devido à sua “impureza” ou inércia.
Como foi dito em algum lugar: “A consciência dorme nas pedras, respira nas plantas, pensa nos animais,
discrimina no humanos e alcança a perfeição nos conhecedores da Realidade Última”.
Tripura Rahasya - Capítulo 11

https://www.cienciacontemplativa.com.br

61. A consciência brilha apesar da formação de imagens sobre ela; embora impalpável, ela
está estavelmente fixada e não vacila.
62. Assim como as imagens num espelho não são separadas do espelho, também as
criações da consciência não estão separadas dela.
63. Como não há diferença entre o espelho para as reflexões nele, assim também não
diferença da Consciência que é o Atma para as reflexões na Consciência que o Atma.10
64. Os objetos são necessários para produzir as imagens num espelho; eles não são,
contudo, necessários para a consciência, por que ela é auto-contida.
65. O Parasurama! Note como sonhos acordados e alucinações são claramente figurados
na mente mesmo na ausência de qualquer realidade por trás deles.
66. Como isso acontece? O lugar dos objetos é tomado pela qualidade imaginativa da
mente. Quando tal imaginação é profunda,ela toma forma como criação; a consciência é
pura e imaculada na ausência de imaginação.
67. Assim você vê como a consciência era absoluta e pura antes da criação e como sua
qualidade peculiar ou vontade trouxe essa imagem para o mundo.
68. Assim, o mundo não nada mais que uma imagem desenhada na tela da consciência,
ele difere apenas de uma figura mental em sua longa duração; que é novamente devido
a força de vontade produzindo o fenômeno.
69. O universo parece prático, material e perfeito por que a vontade determinando sua
criação é perfeita e independente; enquanto que as concepções humanas são mais ou
menos transitórias de acordo com a força ou fraqueza da vontade por trás delas.11
70. As dificuldades das limitações são, de certo modo, ultrapassada pelo uso de
encantamentos, gemas e ervas e uma corrente inquebrável de Eu é estabelecida.12
71. O Rama, observe a criação manifestada pela vontade de alguém como as alucinações
trazidas por um mágico.
72. Os objetos no mundo podem ser manipulados e usados, enquanto criações mentais
(e.g., sonhos) apresentam o mesmo fenômeno.
73. As criações de um mágico são apenas transitórias; as criações de um yogui podem ser
permanentes; ambas são externas ao criador, enquanto que a criação divina não pode
estar separada do Senhor onipresente.
74. Por que o Senhor da consciência é infinito, a criação pode permanecer apenas dentro
dele e o contrário é pura fantasia.

10
Não há imagem sem o espelho. Não há mundo sem Consciência. A Consciência é a Realidade. O
mundo é uma aparência sobreposta sobre a Realidade e não é diferente dela.
11
A vontade (ou imaginação) da consciência individualizada (ou Jiva) não cria objetos ou pensamentos
que são compartilhados comumente por todos. Mas o mundo criado pela Vontade de Deus tendo
liberdade completa é comumente experienciado por todas as consciências individualizadas.
12
A ideia é que a vontade de um praticante de disciplinas espirituais pode adquirir liberdade suficiente
para ser capaz de manifestar os objetos nas outras mentes também.
Tripura Rahasya - Capítulo 11

https://www.cienciacontemplativa.com.br

75. Já que o universo é apenas uma projeção do e no espelho da consciência, sua natureza
irreal pode se tornar clara apenas em investigação e não de outro modo.13
76. A verdade não pode nunca mudar sua natureza, enquanto que a falsidade está sempre
mudando. Veja como a natureza do mundo é mutável!
77. Distinga entre a verdade imutável e a falsidade mutável e escrutine o mundo composto
desses dois fatores, fenômenos mutáveis e consciência subjetiva sem mudanças, como
a luz imutável do espelho e as imagens mudando nele.14
78. O mundo não pode suportar a investigação devido à sua natureza irreal mutável.
79. Assim como a coruja é deslumbrada e cega pela luz brilhante do sol, o mundo desfila
em glória diante da ignorância e desaparece diante da análise correta.
80. O que é comida para um é veneno para outro (e.g., comida em decomposição para os
vermes e seres humanos).
81. O que é uma coisa para yoguis e seres celestiais, é outra para os outros. Uma longa
distância por um veículo é curta para outro.
82. Longos intervalos de espaço refletidos no espelho estão eles próprios nele e ainda são
irreais.
83. Mesmo a natureza deste mundo não pode ser fixada pela investigação.
84. A investigação e o objeto investigado são ambos indeterminados e o único fator
constante subjacente a ambos é a Consciência. Nada mais pode suportar além dela.
85. Isso que brilha como Eu, é Sua Majestade a Consciência Absoluta. Assim o universo é
apenas o Self - o Único e apenas um.

13
O mundo é tão real quanto uma reflexão num espelho e essa reflexão não pode existir separada do
espelho.
14
Um espelho é imutável enquanto que a imagem refletida é mutável. O primeiro corresponde à
realidade e o último à irrealidade.
Ciência Contemplativa
https://www.cienciacontemplativa.com.br

Capítulo 12

1. Mesmo após ouvir Dattatreya pacientemente, Parasurama ainda estava perplexo


e perguntou:
2. Oh Senhor, o que disse até agora sobre o universo é a verdade.
3. Mesmo assim, como é que ele parece ser real para mim e para os outros que
somos inteligentes e sagazes?
4. Por que ele continua parecendo ser real para mim embora eu tenha ouvido você
dizer o contrário? Por favor, prove para mim sua irrealidade e remova minha
presente ilusão.
5. Assim questionado, Dattatreya, o grande Sábio, começou a explicar a causa da
ilusão que faz alguém acreditar que o mundo é real:
6. Ouça, Rama! Esta ilusão é muito antiga, não sendo outra senão a ignorância
profundamente enraizada que troca uma coisa por outra.
7. Veja como a verdade do atman tem sido ignorada e o corpo tem se tornado
identificado como o atman. Considere este corpo tolo composto de sangue e
ossos além da imaculada Consciência pura!
8. Pela firmeza da imaginação apenas, o atman que é consciência se torna o
corpo. Mesmo quando o atman tendo uma natureza de consciência é conhecido,
há novamente a ilusão do atman no corpo devido a essa imaginação firme.
9. Assim também o universo tem repetidamente sido tomado por ser real de modo
que ele agora parece como se fosse realmente real. O remédio reside na
mudança de perspectiva.
10. O mundo torna-se para alguém o que quer que alguém esteja acostumado a
pensar dele. Isso nasce pelo entendimento dos Yoguis e dos objetos de sua
longa contemplação.
11. Eu ilustrarei este ponto por um antigo e maravilhoso incidente.
12. Havia uma cidade muito sagrada, Sundara, no país de Vanga. Lá uma vez vivia
um rei sábio e famoso, Susena. Seu jovem irmão, Mahasena, era seu servo leal
e dedicado.
13. O rei governava seu reino tão bem que todos os servos o amavam. Em uma
ocasião ele realizou o sacrifício do cavalo.
14. Todos os mais valentes príncipes seguiram o cavalo com um grande exército.
15. Seu curso foi vitorioso até que eles alcançaram as margens do Irrawaddy.
16. Eles foram exaltados e passaram pelo pacífico Sábio real Gana, sem saudá-lo.
17. O filho de Gana notou o insulto a seu pai e ficou exasperado. Ele pegou o cavalo
sacrificial e lutou com os heróis que o guardavam.
Ciência Contemplativa
https://www.cienciacontemplativa.com.br

18. Eles o rodearam de todos os lados mas ele junto com o cavalo entraram na
colina Ganda, diante de seus olhos.
19. Notando seu desaparecimento na colina, os invasores atacaram a colina.
20. O filho do sábio reapareceu com um enorme exército, lutou com o inimigo,
derrotou-o e destruiu o exército de Susena.
21. Ele tomou prisioneiros de guerra, incluindo todos os príncipes e então entrou
novamente na colina.
22. Uns poucos seguidores que escaparam fugiram para Susena e disseram-lhe
tudo.
23. Susena estava surpreso e disse a seu irmão:
24. Irmão! Vá ao palácio do sábio Gana. Lembre-se que ascetas são
maravilhosamente poderosos e não podem ser conquistados mesmo por
deuses.
25. Portanto, tome cuidado para agradá-lo, de modo que você possa ser permitido
de trazer os príncipes e o cavalo a tempo para o sacrifício que está rapidamente
se aproximando.
26. O orgulho diante de sábios sempre será humilhado. Se enraivecidos, eles
podem reduzir o mundo a cinzas. Aborde-o com respeito de modo que nosso
objetivo possa ser alcançado.
27. Mahasena obedeceu e começou imediatamente sua incumbência.
28. Ele chegou à ermida de Gana e encontrou o Sábio sentando pacificamente
como uma rocha, com seus sentidos, mente e intelecto sob perfeito controle.
29. O sábio, que estava imerso no atman, olhou-o como um oceano de calma cujas
ondas de pensamento estavam quietas.
30. Mahasena espontaneamente prostrou-se diante do sábio e começou a cantar
seus louvores e lá permaneceu por três dias em atitude de reverência.
31. O filho do sábio que estava olhando o novo visitante estava satisfeito e vindo até
ele disse:
32. Eu estou satisfeito com o respeito que você mostrou a meu pai. Diga-me o que
eu posso fazer por você e eu o farei de uma vez. Eu sou o filho do grande Gana,
o único eremita.
33. Príncipe, ouça-me. Esta não é a hora do meu pai falar. Ele agora está em kevala
nirvikalpa samadhi e sairá dele apenas após doze anos, dos quais cinco já se
passaram e ainda restam sete.
34. Diga-me agora o que você deseja dele e eu farei por você. Não me subestime e
não pense que eu sou apenas um jovem cabeça dura inútil sem meu pai.
35. Não há nada impossível para yoguis engajados em ascetismo.
36. Após ouvi-lo, Mahasena, sendo sábio, o saudou com as mãos juntas e disse:
Ciência Contemplativa
https://www.cienciacontemplativa.com.br

37. Oh filho do sábio! Se você quer dizer que satisfaz meu desejo, eu quero fazer
um simples pedido para seu sábio pai quando ele voltar de seu samadhi.
38. Gentilmente, ajude-me com isso se puder.
39. Após ele ter pedido, o filho do sábio respondeu:
40. Rei, seu pedido é difícil de conceder.
41. Tendo prometido satisfazer seu desejo, não posso voltar atrás em minha
palavra.
42. Eu devo agora te pedir para esperar uma hora e meia e assistir meu poder
yôguico.
43. Este, meu pai, está agora em paz transcendental. Quem pode acordá-lo por
esforços externos?
44. Espere! Eu posso fazer isso imediatamente por meio de yoga sutil.
45. Dizendo isso, ele sentou, absteve os sentidos, uniu a expiração e inspiração,
exalou ar e parou imóvel por um curto período; desse modo ele entrou na mente
do Sábio e após agitá-la, voltou a seu próprio corpo.
46. Imediatamente, o Sábio voltou a seus sentidos e encontrou Mahasena em sua
frente, prostrando-se e louvando-o.
47. Perfeitamente pacífico e de mente alegre, ele acenou para seu filho e disse-lhe:
garoto, não repita esta falha.
48. A ira destrói a penitência. A penitência é apenas possível e pode progredir sem
obstrução por que o rei protege os yoguis. Interferir com um sacrifício é sempre
repreensível e nunca é admitido para o bem.
49. Seja um bom garoto e devolva os cavalos para os príncipes imediatamente.
Faça-o de uma vez de modo que o sacrifício possa ser realizado no tempo
indicado.
50. Assim dirigido, o filho do sábio foi imediatamente apaziguado. Ele entrou na
colina, retornou com o cavalo e os príncipes e os libertou com prazer.
51. Mahasena enviou os príncipes com o cavalo para a cidade.
52. Ele estava surpreso com o que tinha visto e saudou o Sábio perguntando-lhe
respeitosamente:
53. Senhor, por favor, diga-me como o cavalo e os príncipes foram escondidos na
colina. Então, o sábio respondeu:
54. Ouça, Oh Rei, antes eu era um imperador que governava o império circundado
pelos mares.
55. Após um longo período, a graça de Deus desceu sobre mim e eu me tornei
desanimado com o mundo como sendo apenas lixo na luz da consciência
interna.
56. Eu abdiquei o reino em favor de meus filhos e retirei-me para esta floresta.
Ciência Contemplativa
https://www.cienciacontemplativa.com.br

57. Minha esposa, sendo atenciosa, acompanhou-me até aqui. Muitos anos
passaram em nossa penitência e austeridades.
58. Uma vez, minha esposa abraçou-me e esse filho nasceu quando eu estava em
samadhi.
59. Ela trouxe-me a meus sentidos, deixou o bebê comigo e morreu.
60. Este garoto cresceu comigo com amor e cuidado.
61. Quando ele cresceu, ele ouviu que eu tinha sido um rei.
62. Ele desejou ser um também e suplicou-me para conceder-lhe essa graça.
63. Eu o iniciei no yoga, que ele praticou com tal sucesso que era capaz por sua
força de vontade de criar um mundo seu nesta colina que ele está agora
reinando.
64. O cavalo e os príncipes foram mantidos lá.
65. Agora, te disse o segredo daquela colina.
66. Após ouvi-lo, Mahasena perguntou novamente:
67. Eu tenho, com grande interesse, ouvido sua história maravilhosa da colina. Eu a
quero ver. Você pode me conceder esse pedido?
68. Sendo assim solicitado, o Sábio ordenou seu filho dizendo: Garoto! Mostre-lhe o
lugar e o satisfaça.
69. Tendo dito isso, o Sábio entrou novamente em samadhi; e seu filho saiu com o
rei.
70. O filho do sábio entrou na colina sem problemas e desapareceu, mas Mahasena
não foi capaz de entrar. Então ele chamou o filho do sábio.
71. Ele também chamou o rei, do interior da colina. Então ele veio e disse ao rei:
72. Oh Rei, esta colina não pode ser penetrada com os pequenos poderes yôguicos
que você possui. Você deve achá-la muito densa. Mesmo assim, você deve ser
levado para dentro dela como meu pai ordenou. Agora, deixe seu corpo
grosseiro neste buraco coberto por arbustos;
73. entre na coluna com sua casca mental comigo. O rei não conseguiu fazer isso e
perguntou:
74. Diga-me, santo, como eu jogarei fora meu corpo.
75. Se eu fizer isso forçosamente, morrerei.
76. O santo riu disso e disse: parece que você não sabe yoga. Bem, feche seus
olhos.
77. O rei fechou os olhos; o santo imediatamente entrou nele, tomou o corpo sutil do
outro e deixou o corpo grosseiro no buraco.
78. Então, por seu poder yôguico, o santo entrou na colina com o corpo sutil
arrebatado do outro que estava preenchido com o desejo de ver o império dentro
das entranhas da colina.
Ciência Contemplativa
https://www.cienciacontemplativa.com.br

79. Uma vez dentro, ele despertou o indivíduo que estava dormindo para sonhar. O
outro agora encontrou-se protegido pelo santo na ampla expansão do éter.
80. Ele estava alarmado em ver em todas direções e pediu ao santo: não me
desampare, eu pereceria neste espaço ilimitado.
81. O santo riu do seu terror e disse: eu não te desampararei. Esteja certo disso.
82. Agora, olhe em volta e não tenha medo.
83. O rei tomou coragem e olhou em volta.
84. Ele viu o céu acima, envolto na escuridão da noite e no brilho das estrelas.
85. Ele subiu até lá e olhou para baixo; ele veio para a região da lua e foi
entorpecido com frio.
86. Protegido pelo santo, ele foi para o sol e foi chamuscado por ele.
87. Novamente, levado pelo santo, ele foi refrescado e viu uma região inteira, uma
contraparte do paraíso.
88. Ele foi para o cume dos Himalayas com o santo e foi-lhe mostrada a região
inteira e também a terra.
89. Novamente, dotado com poderosa visão, ele foi capaz de ver terras longínquas
e descobriu outros mundos além deste.
90. Nos mundos distantes, havia escuridão prevalecendo em alguns lugares; a terra
era dourada em alguns;
91. havia oceanos, continentes e ilhas atravessados por rios e montanhas; havia os
paraísos populados por Indra e os Deuses, os asuras, seres humanos, os
rakshasas e outras raças celestiais.
92. Ele também viu que o santo tinha se dividido como Brahma em Satyaloka, como
Vishnu em Vaikunta e como Shiva em Kailasa, enquanto todo o tempo ele
permanecia como seu self original, o rei governando no mundo presente.
93. O rei estava maravilhado em ver o poder yôguico do santo.
94. O filho do sábio disse-lhe: esse passeio turístico levou apenas um dia de acordo
com os padrões que prevalecem aqui, mas levou 12 mil anos no mundo que
você estava acostumado.
95. Então, vamos voltar a meu pai.
96. Dizendo isso, ele ajudou o outro a voltar da colina para o mundo exterior.

Assim termina o Capítulo XII ou Passeio na Colina de Ganda no Tripura Rahasya


Ciência Contemplativa
https://www.cienciacontemplativa.com.br

Capítulo 13

1. O filho do sábio fez o rei dormir, uniu seu corpo sutil com o corpo grosseiro que
havia sido deixado em um buraco e, então, o acordou.
2. Ao recuperar seus sentidos, Mahasena achou o mundo inteiro mudado. As
pessoas, os cursos dos rios, as árvores, os reservatórios, etc, estavam todos
diferentes.
3. Ele estava desnorteado e perguntou ao santo: Oh Grande! Quanto tempo
passamos vendo seu mundo? Este mundo parece diferente do que eu estou
acostumado!
4. Assim questionado, o filho do sábio disse a Mahasena:
5. Ouça, Rei, este é o mundo em que estávamos e deixamos para ver o que estava
dentro da colina.
6. O mesmo passou por enormes mudanças devido ao longo intervalo de tempo.
7. Gastamos apenas um dia olhando a região da colina; o mesmo intervalo
equivale a 12 mil anos nesta terra; e ela mudou enormemente.
8. Olhe a diferença entre os modos das pessoas e suas linguagens. Tais mudanças
são naturais.
9. Eu tinha notado mudanças similares antes.
10. Olhe aqui! Este é o senhor, meu pai em samadhi. Aqui você esteve antes,
louvando meu pai e rezando pra ele. Ali você vê a colina na sua frente.
11. Por esse tempo, a descendência de seu irmão aumentou aos milhares.
12. O que era Vanga, seu país, com Sundara, sua capital, agora é uma floresta
infestada com chacais e animais selvagens.
13. Agora há um Virabahu na linhagem de seu irmão que tem sua capital, Visala,
nas margens do Kshipra no país de Malwa; em sua linhagem, há Susarma cuja
capital é Vardhana no país dos Drávidas, nas margens do Tambrabharani.
14. Tal é o curso do mundo que não pode permanecer o mesmo, mesmo por um
curto período de tempo.
15. Pois neste período, os vales, os rios, os lagos e o contorno da terra foi alterado.
16. As montanhas retrocedem; os planos se elevam; os desertos se tornam férteis;
os platôs mudam para terrenos arenosos; as rochas se decompõem e tornam-se
lodo; o barro, às vezes, endurece; as fazendas cultivadas tornam-se estéreis e
as terras estéreis tornam-se boas para lavoura;
17. as pedras preciosas tornam-se sem valor e bugigangas tornam-se inestimáveis;
águas salgadas tornam-se doces e água potável torna-se salobra; algumas
terras contém mais pessoas do que gado, outras são infestadas por bestas
selvagens; a, ainda, outras são invadidas por réptéis peçonhetos, insetos e
vermes.
Ciência Contemplativa
https://www.cienciacontemplativa.com.br

18. Tais são algumas das mudanças que acontecem na terra no curso do tempo.
19. Mas não há dúvida que esta é a mesma terra que estivemos antes.
20. Mahasena ouviu tudo que o filho do sábio havia dito e desmaiou do choque.
21. Então, sendo trazido por seu companheiro, ele foi dominado por aflição e
pranteou a perda de seu irmão real e do filho de seu irmão e de sua esposa e
filhos.
22. Após um curto tempo, o filho do sábio amenizou sua aflição com palavras
sábias:
23. Sendo um homem sensível, por que você pranteia e de quem é a perda?
24. Um homem sensível nunca faz nada sem um propósito; agir sem discernimento
é infantil.
25. Pense agora e diga-me de qual perda você se aflige e a qual propósito sua
aflição servirá.
26. Assim questionado, Mahasena, que ainda estava inconsolável, retorquiu:
27. Grande sábio que você é, você não pode entender a causa de minha tristeza?
28. Como é que você busca a razão da minha aflição quando eu perdi tudo que era
meu?
29. Um homem fica geralmente triste quando apenas um de sua família morre.
30. Eu perdi todos os meus amigos e parentes e você ainda me pergunta por que eu
estou triste.
31. O filho do sábio continuou zombeteiramente.
32. Rei! Diga-me agora. Este lapso em tristeza é uma virtude hereditária?
33. Ela resultará em pecado se você não a satisfizer nesta ocasião?
34. Ou você espera recuperar sua perda por tal aflição?
35. Rei! Pense bem e diga-me o que você ganha com sua tristeza. Se você a
considera irresistível, ouça o que vou dizer.
36. Tal perda não é recente. Seus antepassados morreram antes. Você pranteou a
perda deles?
37. Se você disser que é por causa do sangue do relacionamento que agora causa
sua aflição, não havia vermes nos corpos de seus pais, vivendo de sua nutrição?
38. Por que eles não são seus parentes e por que a perda deles não te causa
tristeza?
39. Rei, pense! Quem é você? As mortes de quem são a causa de sua aflição atual?
Você é seu corpo, ou outra coisa? O corpo é simplesmente um conglomerado de
substâncias diferentes.
40. Dano a qualquer um de seus constituintes é dano ao todo. Não há um momento
no qual cada um dos componentes não está mudando. Mas as excreções não
constituem um perda para o corpo.
Ciência Contemplativa
https://www.cienciacontemplativa.com.br

41. Aqueles a quem você chamou de seu irmão e etc são apenas corpos; os corpos
são compostos de terra; quando perdidos, eles retornam à terra; e a terra se
resume a energia.
42. Onde está então a perda? De fato, você não é o corpo. Você é dono do corpo e
o chama de seu, apenas com o você faz a uma roupa que você possui.
43. Onde reside a diferença entre seu corpo e sua roupa? Você tem quaisquer
dúvidas em relação a essa conclusão? Sendo outro coisa senão seu próprio
corpo, que relação há entre você e outro corpo?
44. Você já reivindicou relacionamento similar, digamos, com as roupas de seu
irmão? Por que, então, prantear sobre a perda de corpos, que não são
diferentes de roupas? Você fala de "meu corpo", "meus olhos", "minha vida",
"minha"mente e assim por diante, eu pergunto a você agora, diga-me o que
exatamente você é?
45. Sendo assim confrontado, Mahasena começou a pensar sobre o assunto e
incapaz de solucionar o problema ele pediu licença para considerar o assunto
cuidadosamente.
46. Então, ele retornou e disse com toda a humildade: Senhor, eu não sei quem sou.
Eu considerei o assunto e ainda não entendi. Minha aflição é apenas natural;
não posso explicá-la.
47. Mestre, eu busco sua proteção. Bondosamente, diga-me o que é. Todos são
dominados pela aflição quando um parente morre. Ninguém parece conhecer
seu próprio eu; pranteam todas as perdas.
48. Eu me submeto como seu discípulo. Por favor, elucide esse assunto para mim.
Sendo assim questionado, o filho do sábio falou para Mahasena:
49. Rei, ouça! As pessoas estão deludidas pela ilusão projetada por Sua Divinha
Majestade. Eles compartilham de miséria que é devido à ignorância de seu
atman. Sua miséria é insignificante.
50. Tanto quanto a ignorância de seu atman dure, tão longo haverá miséria.
51. Assim como um sonhador é tolamente alarmado em seus próprios sonhos ou
como um tolo é iludido pelas serpentes criadas em uma performance de mágica,
assim também o homem ignorante do atman é aterrorizado.
52. Assim como o sonhador acordado do seu sonho cheio de medo ou o homem
que assiste a performance de mágica informado da natureza irreal das criações
de mágicas, não mais teme-as, mas ridiculariza outro que teme, assim também
alguém ciente do atman não apenas não se aflige mas também ri da aflição de
outro.
53. Portanto, Oh herói valente, destrua essa fortaleza impenetrável da ilusão e
conquiste sua miséria pela realização do atman. No intervalo, seja discriminativo
e não seja tão tolo.
Ciência Contemplativa
https://www.cienciacontemplativa.com.br

54. Após ouvir o filho do sábio, Mahasena disse:


55. Mestre, sua ilustração não foi até o ponto.
56. O sonho ou a mágica é depois entendido como ilusório, enquanto que este
universo concreto é sempre real e cheio de propósito.
57. Isto é inatingível e persistente. Como pode ser comparado a um sonho
evanescente? Então, o filho do sábio respondeu:
58. Ouça ao que vou dizer.
59. Sua opinião de que a ilustração não foi ao ponto é uma dupla ilusão, como um
sonho em um sonho.
60. Considere o sonho como um sonhador consideraria e diga-me se as árvores não
fornecem sombra aos pedestres e não dão frutos para o uso dos outros.
61. O sonho é entendido como sendo irreal e evanescente dentro do próprio sonho?
62. Você quer dizer que o sonho é tomado como falso após acordar dele? Não é o
mundo acordado similarmente tomado como falso em seu sonho ou em sono
profundo?
63. Você discorda que o estado acordado não é assim por que há continuidade nele
após você acordar?
64. Não há continuidade em seus sonhos dia a dia?
65. Se você disser que não é evidente, diga-me se a continuidade do mundo em
estado acordado não é quebrada à cada momento de sua vida. Você sugere que
os vales, os mares e a própria terra são realmente fenômenos permanentes, a
despeito do fato de sua aparência estar constantemente mudando?
66. Não é o sonho-mundo também similarmente contínuo com sua terra,
montanhas, rios, amigos e parentes?
67. Você ainda duvida de sua natureza permanente?
68. Então estenda o mesmo raciocínio à natureza do mundo acordado e conheça-o
como igualmente evanescente. Os objetos sempre-mudando como o corpo, as
árvores, os rios e as ilhas são facilmente entendidas como transitórias.
69. Mesmo as montanhas não são imutáveis, pois seus contornos mudam devido a
erosão das cachoeiras e das torrentes das montanhas, devastações dos
homens, javalis e animais selvagens, insetos, trovões, raios, tempestades e
assim por diante. Você observará mudanças similares nos mares e na terra.
70. Portanto, eu te digo que você deveria investigar o assunto atentamente. (Você
provavelmente argumentará como segue:)
71. O sonho e o estado acordado se assemelham cada um em sua harmonia
descontínua (como uma cadeia feita de ligações). Não há continuidade
quebrada em qualquer objeto por que toda nova aparência implica um
desaparecimento posterior.
Ciência Contemplativa
https://www.cienciacontemplativa.com.br

72. Mas a continuidade não pode ser negada em seus fundamentos subjacentes
aos objetos! Por que uma criação de sonho é obliterada e tida como falsa pela
experiência presente - qual distinção você tomaria entre os fundamentos dos
objetos de sonho e dos objetos presentes?
73. Se você disser que o sonho é uma ilusão e que seus fundamentos são
igualmente ilusão, então a criação presente não é tão obliterada e seus
fundamentos devem portanto ser verdade, eu te pergunto o que é ilusão?
74. É determinada pela natureza transitória, que é nada além de aparecimento e
desaparecimento para nossos sentidos. Não estaria tudo obliterado no sono
profundo?
75. Se você mantiver, contudo, que a contradição mútua é irreal como evidência e
então não prova nada, equivale a dizer que a visão auto-evidente apenas
fornece a melhor prova.
76. Realmente, as pessoas como você não têm um verdadeiro insight na natureza
das coisas.
77. Portanto, tome minha palavra, o mundo presente é apenas similar ao mundo de
sonho. Longos períodos passam também em sonhos.
78. Portanto, propósito e natureza duradoura são em todos os modos similares a
ambos os estados. Apenas como você obviamente é ciente de seu estado
acordado, então, também, você está ciente em seu estado de sono.
79. Portanto, a natureza proposital e a duradoura são de todo modo similares nos
dois estados. Assim como você está obviamente ciente em seu estado
acordado, você também está ciente em seu estado de sono.
80. Sendo esses dois estados tão similares por que você não lamenta a perda de
suas relações no seu sonho?
81. O universo desperto aparece tão real para todos pela força do hábito. Se o
mesmo for imaginado como vazio ele desaparecerá no vazio.
82. Alguém começa a imaginar alguma coisa; então a contempla; e por associação
contínua e repetida resolve que a coisa é verdade, a menos que seja contradito.
83. Desse modo, o mundo parece real no modo que alguém está acostumado a ele.
84. Meu mundo que você visitou fornece a prova disso; agora venha, vamos dar
uma volta na colina e ver.
85. Dizendo isso, o filho do sábio tomou o rei, e foi dar uma volta pela colina e
retornou ao ponto anterior.
86. Então, ele continuou: Veja, Oh Rei! O circuito da colina tem em torno de duas
milhas e meia e mesmo assim você viu um universo nele. Ele é real ou falso?
87. É um sonho ou outra coisa? O que passou como um dia naquela terra, foi
contado por do ze mil anos aqui. O que está correto? Pense e diga-me.
Ciência Contemplativa
https://www.cienciacontemplativa.com.br

88. Obviamente você não pode distinguir isto de um sonho e não se pode deixar de
concluir que o mundo não é nada mais que imaginação.
89. Meu mundo desaparecerá se eu parar de contemplá-lo. Portanto, convença-se
da natureza onírica do mundo e não ceda à tristeza da morte de seus irmãos.
90. Assim como as criações de sonhos são figuras movendo-se nas telas da mente,
assim também este mundo, incluindo você mesmo, é o obverso da figura
desenhada pela inteligência pura e não nada mais que uma imagem num
espelho. Veja como você se sentirá após essa convicção. Você ficará exultante
pela admissão de um domínio ou deprimido pela morte de um parente em um
sonho?
91. Entenda que o atman é o espelho autocontido projetando e manifestando este
mundo. O atman é a consciência pura imaculada. Seja rápido! Entenda-o
rapidamente e obtenha a felicidade transcendental.

Assim termina o Capítulo sobre "A visão da cidade da colina" na Tripura Rahasya.
Tripura Rahasya - Capítulo 14

https://www.cienciacontemplativa.com.br

Capítulo 14
O mundo é imaginação
1. Tendo ouvindo o filho do sábio, Mahasena começou a pensar claramente e
seriamente; ele concluiu que o mundo seria como um sonho e superou sua
tristeza.
2. Com sua mente se tornando forte, ele não era perturbado. Então, ele perguntou
a seu companheiro: Grande e Sábio Santo! Você conhece esse mundo e além.
3. Não acredito que exista algo que não saiba. Por favor, me responda agora:
4. Como você pode dizer que o mundo inteiro é pura imaginação? Contudo, quanto
mais eu imagino, minha imaginação não se materializa.
5. Mas você criou um universo pela força de sua vontade. E, ainda, como tempo e
espaço diferem nessas criações?
6. Por favor, diga-me. Sendo assim questionado, o sábio respondeu:
7. É o sankalpa1 que aqui é chamado de bhavana2. Ele é de dois tipos, realizado e
não realizado. O realizado é aquele que não possui nenhuma mistura de vikalpa3
. A não-ideação4 é obtida por fixar-se a uma ideia.
8. Você não sabe que este mundo é o resultado do desejo de Brahma? I​sso
parece real e parmanente por causa de que o desejo original é tão
poderoso.
9. Ao contrário, o mundo de sua criação ninguém leva a sério e sua próp​ria
desconfiança o torna inútil.
10. A imaginação se materializa por várias razões como segue: ​pela virtude do
nascimento, assim como Brahma, o Criador;
11. pela posse de gemas, assim como os yakshas e rakshasas (classes de
seres celestiais);
12. pelo uso de ervas, assim como os Deuses; pela prática de yoga, assim
como os yoguis;

1
Resolução ou a atividade sintetizadora do pensamento.
2
Contemplação criativa ou o emprego poderoso da imaginação.
3
Construções mentais, pensamentos.
4
Ausência de construções mentais.

1
Tripura Rahasya - Capítulo 14

https://www.cienciacontemplativa.com.br
13. pelo poder miraculoso de encantamentos, assim como os siddhas; pela
força da penitência (tapas), assim como os Sábios; e pela virtude das
bênçãos, assim como o Arquiteto do Universo (Viswakarma).
14. Uma pessoa deveria esquecer as associações antigas de modo a
tornar uma nova concepção efetiva e essa dura apenas até não ser
obstruída pela antiga.
15. Uma concepção é forte a menos que seja obstruída por outra e então
destruída. É efetiva apenas quando forte; deste modo mesmo coisas
grandes podem ser alcançadas.
16. Suas concepções não se materializam pelas razões anteriormente
mencionadas. Portanto, você deve praticar o foco do pensamento se
você deseja que suas próprias criações durem.
17. O que é decidido, deveria ser contemplado de tal forma que, quando
não houver o completo não-reconhecimento dos pensamentos
anteriores ele se torna firme. Ele certamente se torna firme tanto quanto
alguém não puder se lembrar do pensamento anterior. Mesmo assim,
se a contemplação sem construções mentais se torna muito firme, tanto
quanto não há mistura de construções mentais devido à ausência do
desejo, então a contemplação é alcançada e pode, de fato, trazer
grande resultado. Mas devido à mistura com construções mentais a sua
imaginação é realizada. Realize a sua imaginação imediatamente se
você quer criar.
18. Agora devo lhe falar sobre a diferença entre espaço e tempo. Você
não é proficiente nas atividades do mundo e, portanto, isso parece
estranho pra você.
19. Agora eu devo deixar claro como essas diferenças aparecem.
20. O Sol ajuda a todos verem, mas cega as corujas; a água é a estadia
dos peixes, mas afoga homens;
21. o fogo queima um homem, mas é comida para o tittiri (uma espécie
de perdiz); o fogo é ordinariamente apagado pela água, mas ele
floresce no meio do oceano em tempo de dissolução.

2
Tripura Rahasya - Capítulo 14

https://www.cienciacontemplativa.com.br
22. Discrepâncias similares são evidentes em outros lugares. Os
homens e animais se engajam em atividades com seus membros e
sentidos, enquanto que os espíritos o fazem com os corpos de outros.
23. Instâncias como essas são inumeráveis. Suas explicações seguem:
24. A visão é do olho e não pode ser sem ele.
25. Um olho atacado por icterícia vê tudo amarelo e a diplopia produz
uma imagem duplicada de um único objeto.
26. Visões anormais são então o resultado direto de olhos anormais.
27. Os Karandakas, numa ilha oriental, são conhecido por verem tudo
vermelho.
28. Assim também os habitantes da Ilha Ramanaka vêm tudo de cabeça
para baixo.
29. Alguém ouve muitas histórias estranhas do tipo, todas são baseadas
em anormalidades da visão.
30. Elas podem todas ser remediadas por tratamento adequado.
31. O mesmo se aplica aos outros sentidos, incluindo a mente.
32. A relação entre espaço e objetos e entre tempo e eventos está de
acordo com sua estimativa deles; não há relacionamento intrínseco
entre eles.
33. O que é designado como exterior pelas pessoas é simplesmente a
origem e sustentáculo do universo, como a tela e sua relação com a
imagem nela.
34. Não poderia haver nada externo ao "exterior" exceto seu próprio
corpo.
35. Como isso pode ser externalizado do "exterior"? Por exemplo,
quando você diz "fora da colina" a colina é retirada do espaço; ela não
é incluída nele.
36. Mas o corpo é visto no espaço assim como um vaso é visto. O corpo
deve portanto ser externo àquele que vê.
37. O que é visível reside dentro da faixa de iluminação: senão, não
pode ser visto. Portanto, os objetos iluminados devem estar dentro da
visão do iluminante.

3
Tripura Rahasya - Capítulo 14

https://www.cienciacontemplativa.com.br
38. O corpo, etc, são os iluminados, por que estão eles mesmos
objetificados. O iluminado e o iluminante não podem ser idênticos.
39. Novamente, o iluminante não pode ser objetificado; pois quem é que
vê além dele? E como pode a iluminação pelo que vê estar separada
dele?
40. Que o iluminante origina a luz e serve com um objeto que está além
de quem vê, é impossível de ser mantido. Portanto, o iluminante não
pode admitir qualquer mistura e ele é a iluminação em perfeição -
apenas um e o ser de tudo.
41. Ele se estende como tempo e espaço; eles são infinitos e perfeitos,
estando envolvidos como o iluminante, a iluminação e o iluminado.
42. O que quer que exista dentro ou fora está situado no interior aquilo
que é da natureza da Luz. Portanto, aquela Luz não pode ser uma
coisa da qual as coisas podem ser removidas, assim como uma
montanha não pode ser uma coisa da qual o pico pode ser removido.
43. A natureza da Luz é, de fato, deste tipo, o mundo inteiro tendo sido
devorado por ela. Ela brilha a partir de sua própria liberdade5 em si
mesma e também em todo lugar e sempre.
44. Essa Luz é Sua Majestade Transcedental Tripura, a Suprema.
45. Ela é chamada de Brahma nos Vedas, Vishnu pelos Vaishnavas,
Shiva pelos Shaivas e Shakti pelos Shaktas. Não há nada, portanto,
mas Ela.
46. Ela mantém tudo por Sua mestria como um espelho faz suas
imagens. Ela é o iluminante em relação ao iluminado.
47. O objeto é afundado na iluminação como a imagem de uma cidade
num espelho.
48. Assim como a cidade não está separada do espelho, assim também
o universo não está separado da consciência.
49. Apenas como a imagem é parte e parcela do claro, suave,
compacto, espelho, também o universo é parte e parcela da perfeita,
sólida e consciência unitária, chamada de Atman.
5
वत ः (svatantrah) livre, independente, não-controlada.

4
Tripura Rahasya - Capítulo 14

https://www.cienciacontemplativa.com.br
50. O mundo não pode ser comprovadamente apurado. O espaço é
simplesmente vazio, servindo para a locação de materiais.
51. Como pode a Consciência Pura que é Pura Existência, da qual a
natureza essencial não é vazia e a qual é de uma essência,
verdadeiramente suportar mesmo uma partícula de uma segunda
entidade, similar a natureza de uma espelho?
52. Assim como um espelho, embora denso e impenetrável, contém a
imagem, então a consciência pura é densa e impenetrável e ainda
exibe o universo por virtude de sua auto-suficiência.
53. Embora a consciência seja pervasiva, densa e única, ela aind
54. a detém a criação móvel e imóvel dentro de si, maravilhosa em sua
variedade, com nenhuma causa imediata ou última para si.
55. Assim como um espelho permanece inafetado pela passagem de
diferentes imagens e ainda continua a refletir tão claramente como
antes, assim também a consciência única ilumina os estados acordado
e de sonho que podem ser verificados pela meditação apropriada.
56. Oh Rei! Examine novamente6 seus sonhos, estados acordados e
imagens mentais. Embora eles sejam perfeitos em detalhes, ainda não
menos que mentais.
57. A consciência que os permeia, obviamente, permanece imaculada
diante da criação ou após a dissolução do mundo; mesmo durante a
existência do mundo, permanece inafetada como o espelho pelas
imagens.
58. Embora não perturbada, imaculada, densa e única, a consciência
absoluta sendo auto-suficiente se manifesta dentro de si mesma como
aparece "exteriormente", assim como um espelho refletindo o espaço
como externo a si mesmo.
59. Esse é o primeiro passo na criação; ele é chamado de ignorância ou
escuridão. Começando como uma fração infinitesimal do todo, ele se
manifesta como se externo à sua origem e é uma propriedade do

6
A investigação revelará que todas as experiências variadas devido aos três estados são testemunhados
por uma única entidade que não é afetada por tais estados e experiências.

5
Tripura Rahasya - Capítulo 14

https://www.cienciacontemplativa.com.br
sentido-de-ego. A alienação está sob conta das tendências latentes a
serem manifestadas posteriormente. Por causa de sua não-identidade
com a consciência original, ela é agora simples, energia inscenciente.
60. Quando há a cessação do estado de Ser como “Eu” na sua
Integridade na Consciência Transcendental, a natureza da Realidade
“sem-Eu” ocorre. Apenas isso é chamado de “Avykta” ou o
não-manifesto e é também descrito como “Jadaśakti” ou energia inerte.
61. Essa Consciência que ilumina o "exterior" é chamada de Sivatattva,
em que o sentido individual de "Eu" é Saktitattva.
62. Quando a ciência do "exterior", combinada com o "Eu", engloba o
espaço imaginado inteiro como "Eu" isso é chamado de
Sada-Siva-tattva7.
63. Quando, posteriormente, descartando a abstração do Self e o
exterior, a identificação clara com o espaço não senciente toma lugar,
isso é chamado de Iśvara-tattva (Eu sou isto).
64. A investigação dos últimos dois passos é puro vidya (conhecimento).
65. Todos esses cinco tattvas são puros por que eles se relacionam com
uma condição de ainda-como-indiferenciada, como potencialidades em
uma semente.
66. Após a diferenciação se tornar manifesta pel força de vontade, a
parte não-senciente predomina sobre a outra, como oposta à condição
contrária anterior.
67. Essa predominância não-senciente é chamada de Maya Śakti, após
a diferenciação ser claramente estabelecida, como a germinação de
uma semente.
68. A fase senciente agora se contrai, sendo relegada a uma posição
menor e toma o nome de Purusha, sendo coberta por cinco camadas.

7
Nas percepções “Isto sou Eu” ou “Eu sou Isto”, o “Eu” é da natureza da Consciência e o “Isto” é o
grande vazio ou o princípio de inércia. Quando há a predominância de “Eu”, ele é o princípio de Sadaśiva
e quando “Isto” é predominante ele é o princípio de Iśvara. Do ponto de vista absoluto, não há diferença
entre “Eu” e “Isto”. Portanto, as percepções anteriores são denominadas de conhecimento da
não-diferença na diferença.

6
Tripura Rahasya - Capítulo 14

https://www.cienciacontemplativa.com.br
69. Essas camadas são chamadas de kála [primeiro a longo]
(capacidade limitada de fazer), vidyá (conhecimento limitad), rága
(desejo), kalá [segundo a longo] (limitação pela duração da existência)
e niyati (dependência de outro).
70. A massa de impressões mentais devido a ações passadas das
pessoas tendo vários karmas (ou ações) desde o tempo sem início, que
existe residindo no poder da Consciência é chamada de Prakrti (ou
Natureza).
71. Essa Prakrti é tripartite8 por que os frutos de suas ações são de três
tipos: ela se manifesta como três estados de vida, acordado, sonhando
e sono profundo. Ela então assume o nome, chitta (mente).
72. No sono, ela é chamada de Prakrti e quando o sono termina ela é
chamada de Chitta. A consciência acompanhada pelas impressões
mentais9 é chamada de Chitta.
73. Quando as propensões ainda permanecem em inatividade
temporária sem serem usadas, sua totalidade é chamada de avyakta
(não manifestada); as diferenças surgem apenas em Chitta. Não há
diferença entre os indivíduos no sono e então isso é Prakriti, o mesmo
assumindo o nome de Chitta quando a diferença se manifesta.
74. Devido à predominância de Consciência a mente (Chitta) é chamada
de Purusha.
75. Mas, devido à predominância de Avyatka, ela vai ao estado de
natureza Chitta.
76. Aquela Chitta é tripartite de acordo com suas funções, a saber, ego,
intelecto e mente.
77. Quando influenciada pelas três qualidades, ela se manifesta em
grandes detalhes como segue: por sattva (brilho), ela se torna os cinco
sentidos, audição, visão, tato , paladar e olfato; por rajas (atividade)

8
O resultado das ações é de três tipos: felicidade, tristeza e ilusão. Os três aspectos da Prakrti que os
causam são Sattva, Rajas e Tamas.
9
Impressões mentais é a tradução de vásaná ( वासना )

7
Tripura Rahasya - Capítulo 14

https://www.cienciacontemplativa.com.br
fala, mãos, pés, orgãos de excreção e de procriação; por tamas
(escuridão) terra, ar, fogo, água e éter.
78. A inteligência suprema flerta com o universo dessa maneira,
permanecendo o tempo todo não afetada, uma testemunha de sua
criação.
79. A criação presente é o produto mental de Brahma ou
Hiranayagarbha, nomeado como criador da força de vontade do Ser
Primal, Sri Tripura.
80. As cognições "você" e "eu" são a essência da qualquer tipo de
criação; tal cognição é a manifestação da consciência transcendental;
não pode ser qualquer diferença (tal como não há diferença em espaço,
limitado por um pote ou não limitado por ele).
81. As diversidades em criação são apenas devido a qualificações
limitando a consciência; essas qualificações (e.g., corpo, limitações de
idade) são as imagens mentais do criador (consistente com os méritos
passados do indivíduo). Quando a força de vontade criativa se
desgasta há dissolução e indiferenciação completa de resultados.
82. Assim como para sua força de vontade, ele é potencializado pelo
Criador; quando esse impedimento (véu de Maya) é vencido pelos
métodos já mencionados, sua força de vontade também se torna
efetiva.
83. Tempo, espaço, criações grosseiras, etc, aparecem nele de acordo
com as imagens do agente.
84. Um certo período é apenas um dia de acordo com meus cálculos,
enquanto que é doze anos de acordo com Brahma.
85. O espaço coberto por cerca de duas milhas e meia de Brahma é
infinito para mim e cobre o universo inteiro.
86. Deste modo, ambos são verdadeiros e irreais ao mesmo tempo.
87. De modo similar, imagine uma colina dentro de você e também o
tempo é um sentido sutil. Então contemple uma criação inteira neles;
eles durarão tanto quanto sua concentração durar - mesmo para a

8
Tripura Rahasya - Capítulo 14

https://www.cienciacontemplativa.com.br
eternidade para todos os propósitos, se seu poder de vontade for forte
o suficiente.
88. Portanto, eu digo que este mundo é um mera invenção da
imaginação.
89. Oh Rei! Ela brilha na consciência manifesta dentro do Self. Portanto,
o que parece o mundo exterior é apenas uma imagem na tela da
mente.
90. Portanto, o mundo é de natureza semelhante a uma pintura numa
tela do Não-Manifesto tendo a característica do externo pode apenas
ser a tela do Não-Manifesto. Isso é da natureza da Consciência em sua
própria tela que é a Consciência.10
91. Os yogis podem atravessar toda a distância num momento e podem
perceber tudo tão rápido quanto uma groselha na palma da mão.
92. Portanto, reconheça o fato de que o mundo é simplesmente uma
imagem no espelho da Consciência e cultive a contemplação de "Eu
sou", permaneça como ser puro e então desista dessa delusão da
realidade do mundo.
93. Então, você se tornará como eu, um em ser, autosuficiente.
Dattatreya continuou: ouvindo esse discurso do filho do sábio, o rei
venceu sua ilusão; seu intelecto se tornou purificado e ele entendeu o
objetivo final. Então, ele praticou samadhi e tornou-se autocontido, sem
depender de nenhum agente externo e levou uma vida longa e feliz. Ele
parou de se identificar com o corpo e tornou-se absoluto como o
espaço transcendental até finalmente ser liberado. Então, ele viu,
Bhargava, que o universo é apenas uma imagem mental, apenas como
um poder de vontade firme de alguém e nada mais. Ele não é
independente do Atman. Investigue o assunto você mesmo e sua ilusão
gradualmente se soltará de você e passará.

10
O Não-manifesto é apenas a reflexão no espelho da Consciência. O mundo, que é novamente como
uma pintura na tela do Não-manifesto não é diferente da Consciência.

9
Tripura Rahasya - Capítulo 14

https://www.cienciacontemplativa.com.br

Imagem obtida em: ​https://en.wikipedia.org/wiki/Tattva_(Shaivism)

10
Tripura Rahasya

Contact: Traduzido para o português por Eanes T. Pereira


www.cienciacontemplativa.com.br
Date: 21 de dezembro de 2015

Capítulo 15

Versão 1

1 Ouvindo Dattatreya relatar a maravilhosa história da Cidade da Colina, Parasurama maravilhou-

se ainda mais.

2 Ele, com uma mente clara, pensou sobre os ensinamentos de seu mestre e então voltou-se a

ele e perguntou-lhe novamente:

3 Senhor, eu tenho considerado a intenção de teus ensinamentos na forma de histórias magní-

ficas que você me contou.

4 Eu entendo que a inteligência apenas é real e única e os outros objetos são apenas imagens

irreais como uma cidade refletida num espelho.

5 Sua majestade transcendental, a Mahesvari, é essa Consciência manifesta como Inteligência

cognoscente de toda a faixa de fenômenos, começando do estado não manifesto de sono e

terminando neste mundo, passando em rápida sucessão dentro de si mesma.

6 Todos esses são aparentemente devido a auto-suficiência dessa consciência e eles vêm a exis-

tência sem qualquer causa imediata. Isso é o que tenho entendido após profunda considera-

ção.

7 Mas essa inteligência é dita estar além da cognição por que permanece como o próprio co-

nhecimento puro.

8 Eu não vejo como ela pode ser entendida se ela ultrapassa o conhecimento. O objetivo não é

alcançado sem entendê-la.

9 O objetivo é a liberação. Qual é sua natureza? Se alguém pode ser liberado enquanto vivo,

1 of 7
como é regulado o curso de sua vida emancipada, se tudo isso é possível?

10 Há sábios que são ativos. Qual é a relação entre o mundo de ação e seu ser de consciência

pura?

11 Como eles podem se engajar em ação enquanto o tempo todo eles pertencem à consciência

absoluta? Tal consciência pode ser apenas de um tipo e a liberação também pode ser apenas

uma de modo a ser efetiva.

12-17 Como, então, essas diferenças são notadas nas vidas dos Jnanis? Alguns deles são ativos;

alguns ensinam as escrituras; alguns adoram deidades; alguns abstraem-se em samadhi; al-

guns levam uma vida austera e definham-se; alguns dão instruções claras a seus discípulos;

alguns governam reinos muito justamente; alguns disputam abertamente com outras escolas

de pensamento; alguns escrevem seus ensinamentos e experiências; outros simulam ignorân-

cia; uns poucos até praticam ações repreensíveis e repugnantes; mas todos eles são famosos

como homens sábios no mundo.

18 Como pode haver tais diferenças em suas vidas quando pode haver nenhuma diferença de

liberação comum a todos? Ou há níveis no conhecimento e liberação?

19 Gentilmente, ilumine-me nesses pontos, por que eu estou ansioso para aprender a verdade e

submeter-me a você como meu único professor.

20 Assim questionado, Dattatreya pareceu satisfeito com as questões e respondeu ao digno dis-

cípulo como segue:

21 Digno Rama! Você está de fato pronto para alcançar o objetivo por que você se voltou para a

direção correta de investigação.

22 Isso é devido a graça de Deus que pôs você no caminho correto de investigação. Quem pode

alcançar qualquer coisa digna, sem a graça de Deus?

23 O trabalho beneficente da auto-inerente graça divina é finalizado quando a mente capacidade

da mente de alguém se voltar para dentro aumenta dia a dia.

24-25 O que você disse até agora é verdade; você entendeu corretamente a natureza da consciência

mas não a realizou. Um conhecimento da propriedade de uma coisa sem a experiência real

da coisa por si mesma é tão inútil quanto nenhum conhecimento.

26 A experiência verdadeira do Self é a inconsciência de até mesmo "Eu sou". Pode o mundo

persistir após tal insconsciência? O conhecimento de segunda-mão não é melhor do que a

2 of 7
lembrança de um sonho.

27 Apenas como a posse de um tesouro em um sonho é inútil, também o é o conhecimento de

segunda-mão.

28 Eu ilustrarei o ilustrarei com uma história muito antiga. Havia um rei extremamente virtuoso

governando Videha.

29 Ela era chamado de Janaka, muito sábio e familiarizado tanto com este mundo quanto com

ou além. Uma vez ele adorou com ritos sacrificiais a Deusa, inerindo-se como o Self.

30 Vieram, por essa ocasião, todos os Brahmins, pandits, heremitas, críticos, aqueles verados nos

Vedas, aqueles acostumados a compartilhar em ritos sacrificiais e sacrifícios, etc.

31 Naquele tempo, Varuna, o Deus das águas, queria realizar uma sacrifício similar, mas os

homens dignos não aceitaram o convite.

32-37 Pois eles estavam satisfeitos com Janaka que os respeitava devidamente. Então, o filho de

Varuna, que era um grande dialético, veio até eles. Ele se disfarçou de Brahmin, de modo

a atrair os convidados Brahmins. Entrando na câmara real ele devidamente abençou o rei e

se dirigiu a ele diante de toda a assembléia: Oh Rei, sua assembléia não é tão boa quanto

deveria ser. Ela parece um amável lago de lótus devastado por corvos, gralhas e garças; seria

melhor sem essa mistura de incompetentes. Eu não encontrei um único indivíduo aqui que

seria um ornamento par auma grande assembléia como um cisne para um amável lago de

lótus. Possa Deus te abençoar! Eu não tenho nada a ver com essa multidão de tolos.

38-41 Sendo assim insultado pelo filho de Varuna, a assembléia inteira se levantou para o homem

e disse-lhe com raiva: seu Brâmane charlatão! Como ousa insultar todo mundo aqui? O

que conhecimento você tem que que está querendo de nós? Você é um homem perverso,

você é apenas um blefador! Você não deve sair deste lugar antes de provar sua superiodade

sobre nós. Há grandes pandits reunidos aqui de todo o mundo. Você espera subjulgar todos

eles com seu conhecimento? Diga-nos seu assunto especial no qual você imagina ser mais

proficiente que nos! Assim desafiado, Varuni respondeu:

42-43 Em um minuto, eu irei sobrepujar todos vocês em debate; mas isso ocorrerá apenas na condi-

ção de que seu eu for derrotado, vocês me jogarão no oceano; e se vocês forem derrotados, eu

vou enviar vocês ao mar, um por um. Se concordarem com essas condições, vamos começar

o debate.

44-45 Eles consentiram e o debate começou com seriedade. Os pandits foram rapidamente derrota-
3 of 7
dos pela lógica falaciosa do oponente e foram mergulhados ao mar às centenas.

46 Os seguidores de Varuna então tomaram os pandits afogados para seu sacrifício onde foram

recebidos com respeito, que muito os agradou.

47 Havia um chamado de Kahoela, dentre aqueles que foram afogados. Seu nome era Ashtava-

kra, tendo ouvido do destino de seu pai, precipitou-se para a corte de Janaka e desafiou o

debatedor habilidoso em falácia. O mascarador foi então derrotado em diretamente conde-

nado ao mar por seu jovem desafiante. Então, Varuni jogou sua máscara na corte e recobrou

restabeleceu todos os homens de previamente afogados do mar. O filho de Kahoela ficou in-

flado de orgulho e comportou-se ofensivamente diante da assembléia. Os pandits sentiram-se

mortificados diante do jovem.

51-52 Logo depois, uma asceta apareceu em seu meio, a quem a assembléia ofendida pediu ajuda.

Encorajando-os em suas esperanças, a charmosa donzela com cabelos emaranhados e roupas

de eremita foi altamente honrada pelo rei e falou docemente e em tom firme:

53 Oh criança! Filho de Kahoela! Você, de fato, é muito realizado, pois esses brâmanes foram

resgatados por você após você derrotar Varuni em debate.

54-56 Eu quero te fazer uma breve questão, para a qual, por favor, dê uma resposta direta, explícita

e sem reservas. Qual é a condição alcançada que estará em torno da imortalidade; sabendo

que todas as dúvidas e incertezas desaparecerão; e estabelecido em que todos os desejos

desaparecerão? Se você tiver realizado esse estado ilimitado, por favr diga-me diretamente.

Sendo abordado pela asceta, o filho de Kahoela replicou com confiança:

57-58 Eu sei. Ouça o que eu digo. Não há nada no mundo que não seja conhecido por mim. Eu

estudei toda a literatura sagrada com grande cuidado. Portanto, ouça minha resposta.

59-63 O que você pergunta é a causa primeira e eficiente do universo, sendo por si mesma sem co-

meço, mei ou fim, e não afetada pelo tempo e espaço. É pura, inquebrável, Consciência única.

O mundo inteiro é manifestado nela como uma cidade num espelho. Tal é o estado transcen-

dental. Realizando-o, alguém torna-se imortal; não há lugar para dúvidas e incertezas, como

não há nenhuma na visão de uma reflexão em um espelho; não há mais nenhuma razão para

ignorância à vista de inumeráveis imagens refletidas; e não haverá lugar para desejo, por que

a transcendência é então experimentada. Também é inquebrável por que não ninguém para

saber, além de si mesma. Asceta! Eu agora te disse a verdade como contida nas escrituras.

64-71 Após Ashtavakra terminar, a eremita falou novamente: jovem Sábio! O que você disse, é

4 of 7
certamente dito e aceito por todos. Mas eu tomo sua atenção para aquela parte da resposta

em que você admitiu seu desconhecimento pelo querer de um conhecedor externo fora da

consciência; e também que seu conhecimento confere imortalidade e perfeição. Como essas

duas afirmações são conciliadas? Admita que a consciência é impossível de ser conhecida,

não é conhecida por você e portanto conclua sua inexistência; ou diga que ela é e que você a

conhece - e portanto ela não é icognoscível (que não pode ser conhecida). Certamente, você

fala de um conhecimento de segunda-mão, juntado das escrituras. Claramente, você não o

realizou e portanto seu conhecimento não é pessoal. Pense agora - suas palavras contam

para isso: você tem um conhecimento pessoal das imagens mas não do espelho. Como pode

ser? Diga-me agora se você não está envergonhado de sua prevaricação diante do rei Janaka

e de sua assembléia. Sendo assim repreendido pela asceta, ele não pode falar por algum

tempo por que sentiu-se mortificado e envergonhado; então, ele permaneceu com cabeça

baixa pensando.

72-73 Contudo, o jovem brâmane não pode encontrar nenhuma resposta satisfatória para sua ques-

tão, assim ele submeteu-se a ela em grande humildade: Oh asceta! Certamente, eu não posso

encontrar uma resposta para sua questão. Eu me submeto a você como seu díscipulo. Rogo,

diga-me como as duas afirmações escriturais podem ser reconciliadas. Mas eu te asseguro

que não disse uma mentira deliberada, pois eu sei que quaisquer méritos que um mentiroso

pode ter são neutralizados por suas mentiras de modo que ele é condenado como indigno.

74 Assim questionada, a asceta estava satisfeita com a sinceridade de Ashtavakra e disse-lhe, em

um tom ouvido pela assembléia:

75-84 Criança, há muitos que sendo ignorantes dessa verdade sublime, vivem em ume estado de de-

lusão. Polêmica vazia não os ajudará com a Realidade, pois ela está bem guardada de todos

os lados. De todas as pessoas agora nesta assembléia, nenhuma experimentou a Realidade,

exceto o rei e eu. Não é um assunto para discussão. A lógica mais brilhante pode apenas

abordá-lo mas nunca alcançá-lo. Embora não afetado pela lógica acoplada com um intelecto

afiado, ela pode contudo ser realizada pelo serviço ao Guru e a graça de Deus. Oh, tu que és

mesmo o filho de um Sábio, ouça-me cuidadosamente, pois isto é difícil de entender memo

quando ouvido e explicado. Ouvi-lo milhares de vezes será inútil a menos que alguém veri-

fique os ensinamentos por meio de investigação no Self com uma mente concentrada. Assim

como um príncipe trabalha sob um equívoco de que o colar de pérolas ainda pendurado em

seu pescoço foi roubado por outro e ele não é persuadido do contrário por meras palavras mas

5 of 7
apenas acredita quando ele o encontra em torno do pescoço pelo seu próprio esforço, assim

também, oh jovem, contudo inteligente como um homem deve ser, ele nunca conhecerá seu

próprio self pelo mero ensinamento de outros a menos que ele o realize por si mesmo. De

outro modo, ele nunca poderá realizar o Self se sua mente está voltada para fora.

85 Uma lâmpada ilumina tudo à volta mas não ilumina a si mesma ou a outra lâmpada. Ela

brilha de si mesma sem outras fontes de luz. As coisas brilham à luz do sol sem a necessidade

de qualquer outro tipo de iluminação. Por que as luzes não requerem ser iluminadas, dize-

mos que não são conhecidas ou que não existem? Portanto, como é com as lâmpadas, assim

são as coisas feitas cientes pela própria consciência. Que dúvida você pode ter em relação

à consciência abstrata, a saber, o Self? As luzes e as coisas sendo insencientes, não podem

ser autocientes. Ainda, sua existência ou manifestação não está sob dúvida. Isso significa

que são autoluminosas. Você não poderia similarmente investigar com uma mente dirigida

para dentro de modo a encontrar se todo o Self auto-abrangente é consciente ou não cons-

ciente? Essa Consciência é absoluta e transcende os três estados (acordado, sonho e sono

profundo) e abrange todo o universo tornando-o manifesto. Nada pode ser compreendido

se essa luz. Alguma coisa seria aparente a você, se não houvesse consciência? Mesmo para

dizer que nada é aparente a você (como em sono) requer a luz da consciência. Não é sua

ciência de sua inciência (no sono) devido à consciência? Se você infere sua luz eterna, então

cuidadosamente investigue se a luz é própria ou não. Todo mundo falha nessa investigação,

mesmo tendo estudado e sendo proficiente, por que sua mente não está dobrada na direção

interna mas inquietamente move-se para fora. Enquanto os pensamentos brotam, o voltar-se

para dentro da mente não foi realizado. Enquanto a mente não estiver na direção interior, o

Self não poderá ser realizado. Dirigindo a mente para o interior significa ausência de desejo.

Como pode a mente ser fixada dentro se os desejos não são deixados de lado? Portanto,

torne-se desapaixonado e se torne inseparável do Self. Tal inseparabilidade é expontânea

(nenhum esforço é necessário para inerir o Self). Ele é realizado após os pensamentos serem

eliminados e a investigação cessar. Recapitule seu estado após você se separar dele e então

você conhecerá tudo e a significância de seu ser conhecível e inconhecível ao mesmo tempo.

Assim, realizando o inconhecível, alguém permanece na imortalidade para sempre e sempre.

Agora terminei. Saudações a você! Adeus! Mas você ainda não entendeu minhas palavras por

que esta é a primeira vez que ouviu a verdade. Este rei, o mais sábio dentre os homens, pode

fazer você entender. Então, pergunte-lhe novamente e ele esclarecerá suas dúvidas. Quando

6 of 7
ela terminou, ela foi honrada pelo rei e a assembléia inteira, e então ela instantaneamente

dissolveu-se no ar e desapareceu da vista humana. Agora te relatou, Oh Rama, o método de

Auto-realização.

Assim termina o Capítulo XV sobre "A Seção de Ashtavakra"no Tripura Rahasya.

###

7 of 7
Tripura Rahasya
Capítulo 16
O Discurso de Janaka a Ashtavakra

1. Quando Parasurama ouviu a estória, ele se maravilhou enormemente e pediu que seu
Mestre continuasse:
2. Senhor, essa lenda antiga é maravilhosa.
3. Por favor, diga-me o que Ashtavakra perguntou em seguida ao Rei e as instruções que
ele recebeu.
4. Eu não tinha até então ouvido essa estória, repleta de verdades sublimes. Por favor,
continue. Mestre, estou ansioso para ouvi-la completamente.
5. Sendo assim solicitado, Dattatreya, o grande Sábio e Mestre, continuou sua sagrada
narrativa: ouça, O Bhargava, o discurso com Janaka.
6. Na saída do santo asceta de sua visão, Ashtavakra, o filho de um Sábio, perguntou
Janaka que estava rodeado por um grupo inteiro de pandits, a explicação completa do
discurso breve mas misterioso.
7. Agora lhe direi a resposta de Janaka, a qual deve ouvir atentamente.
8. Ashtavakra perguntou: Oh Rei de Videha, eu não entendi claramente o ensinamento do
asceta devido à sua brevidade.
9. Por favor, explique-me Senhor de misericórdia, como eu deveria conhecer o
incognoscível. Sendo, então, questionado, Janaka, como se surpreso, respondeu:
10. Oh tu, filho de um Sábio, ouça-me! Não é incognoscível, nem permanece desconhecido
em nenhum momento.
11. Diga-me como mesmo os Mestres mais hábeis podem guiar alguém para àquilo que
permanece desconhecido. Se um Guru pode ensinar, significa que ele conhece o que
ele fala.
12. Esse estado transcendental é bastante fácil ou pode ser quase impossível dependendo
se a mente está pacificamente voltada para o interior ou inquietamente voltada para
fora.
13. Isso não pode ser ensinado se permanece sempre desconhecido.
14. O fato de os Vedas apontarem para isso apenas indiretamente como "não isto - não
isto" mostra que o conhecimento pode ser transmitido a outros. O que quer que você
veja torna-se conhecido pela própria Inteligência Abstrata.
15. Agora, cuidadosamente, analise a consciência subjacente que, embora abstrata e
afastada de objetos materiais, ainda ilumina a todos eles.
16. Saiba que isso é a verdade. Oh Sábio! O que não é auto-luminoso pode apenas cair na
órbita da inteligência e não pode ser a própria Inteligência.
17. A inteligência é aquela pela qual os objetos são conhecidos; ela não pode ser o que ela
é se ela tornar-se o objeto de conhecimento.
18. O que é inteligível deve sempre ser diferente da própria Inteligência ou, de outro modo,
não seria possível fazer-se conhecido por ela. A Inteligência, em termos abstratos, não
pode admitir partes, que é a característica dos objetos.
19. Portanto, os objetos assumem formas. Cuidadosamente, assista a inteligência absoluta
após eliminar dela todas as outras coisas.
20. Assim como um espelho assume os tons de imagens, assim também a Inteligência
abstrata assume as diferentes formas dos objetos, pela virtude de mantê-los dentro de
si.
21. A Inteligência Abstrata pode então tornar-se manifesta pela eliminação de tudo que
pode ser conhecido. Ela não pode ser conhecida como tal e tal, pois ela dá suporte à
tudo.
22. Isto, sendo o Self do buscador, não é cognoscível. Investigue seu verdadeiro Self do
modo anteriormente mencionado.
23. Você não é o corpo, nem os sentidos, nem a mente, pois todos são transitórios. O corpo
é composto de alimento, então como você pode ser o corpo?
24. Pois o senso de "Eu" (ego) ultrapassa o corpo, os sentidos e a mente, no instante de
cognição dos objetos. Pode-se afirmar que a eterna luminosidade de Self como "Eu"
não é aparente no instante da percepção dos objetos. Se o "Eu" não brilhasse naquele
instante, os objetos não seriam percebidos, assim como eles são invisíveis na ausência
de luz. Por que essa luminosidade não é aparente? A percepção está sempre
associada com a matéria insenciente. Quem mais poderia ver a autoluminosidade do
Self? Ela não pode brilhar em absoluta unidade e pureza. Contudo está lá como "Eu".
Além disso, todas as pessoas sentem "Eu vejo os objetos". Se não fosse para o eterno
ser de "Eu", sempre surgiria a dúvida se “se eu sou” ou “se eu não sou”, que é absurda.
Nem se deveria supor que "Eu" é do corpo, no instante da percepção de objetos. Pois, a
percepção implica a suposição daquela forma pelo intelecto, como é evidente quando
identificamos o corpo com o Self. Nem, novamente, se deveria dizer que naquele
instante de percepção "Eu sou tal e tal, Chaitra" - o sentido de Chaitra excede o sentido
de "Eu", mas o sentido de "Eu" nunca é perdido pelo sentido de Chaitra. Há a
continuidade de "Eu" no sono profundo e em samadhi. De outro modo, após o sono um
homem acordaria como outra pessoa. É possível afirmar que em sono profundo e
samadhi, o Self permanece sem qualidades e portanto não é idêntico à consciência
limitada do ego "Eu" no estado desperto. A resposta é a seguinte: o "Eu", é de duas
formas - qualificado e não qualificado. A qualificação implica limitações enquanto que
sua ausência implica natureza ilimitada. O "Eu" está associado com limitações nos
estados de sonho e desperto e é livre delas nos estados de sono profundo e samadhi.
Nesse caso, está o "Eu" do samadhi ou do sono associado com a divisão tripla do
sujeito, objeto e suas relações? Não! Sendo puro e simples, é imaculado e persiste
como "Eu-Eu" e nada mais. O mesmo é a Perfeição.
25. Enquanto que Sua Majestade a Inteligência Absoluta é sempre resplandecente como
"Eu", portanto Ela é tudo e sempre-conhecimento. Você é Ela, em abstrato.
26. Entenda-o por si mesmo voltando sua visão internamente. Você é apenas Consciência
abstrata. Entenda-o neste instante, pois a procrastinação não é digna de um bom
discípulo. Ele deveria realizar o Self no momento da instrução.
27. Os seus olhos não significam a palavra chamada anteriormente de visão. O olho mental
é o que foi dito, pois ele é olho do olho, como é claro em sonhos.
28. Dizer que a visão volta-se para o interior é apropriado pois a percepção é possível
somente quando a visão volta-se para um objeto.
29. A visão deve voltar-se para longe de outros objetos e fixar-se em um objeto particular de
modo a vê-lo.
30. De outro modo, aquele objeto não será percebido inteiramente.
31. O fato de a visão não estar fixada sobre ele ser o mesmo que não vê-lo. De modo
similar à audição, ao toque, etc.
32. O mesmo aplica-se à mente e suas sensações de dor e prazer, que não são sentidas se
a mente não estiver engajada.
33. As outras percepções requerem as duas condições, a saber, eliminação de outros
objetos e concentração em um. Mas a Auto-Realização difere das outras percepções
pelo modo que requer apenas uma condição: a eliminação de todas as percepções.
34. Te direi a razão disso. Embora a consciência seja incognoscível, ela ainda é realizável
por mente pura.
35. Mesmo os estudiosos são perplexos neste ponto.
36. As percepções externas da mente são dependentes de duas condições.
37. A primeira é a eliminação de outras percepções e a segunda é a fixação em um item
particular de percepção.
38. Se a mente for simplesmente afastada de outras percepções, a mente está em um
estado indiferente, em que há ausência de qualquer tipo de percepção.
39. Portanto, a concentração em um objeto particular é necessária para a percepção de
coisas externas. Mas desde que a consciência é o Self e não separada da mente, a
concentração sobre ela não é necessária para a sua realização.
40. É suficiente que outras percepções (a saber, pensamentos) fossem eliminados da
mente então o Self poderia ser realizado1.
41. Se um homem quer escolher uma imagem particular dentre uma série de imagens que
passam em sua frente, como reflexões em um espelho, ele deve afastar sua atenção do
resto das imagens e fixá-la em uma imagem específica.
42. Se, por outro lado, ele deseja ver o espaço refletido, é suficiente que afaste sua atenção
das imagens e o espaço manifesta-se sem nenhuma atenção de sua parte, pois, o
espaço é imanente em todo lugar e já está refletido lá.
43. Contudo, ele permanece despercebido por causa que suas imagens interespaciais
dominam a cena.
44. Sendo o espaço o que dá suporte a tudo e imanente em tudo, torna-se manifesto
somente se a atenção desviar-se do panorama.
45. Do mesmo modo, a consciência é o que dá suporte à tudo e é imanente em tudo e
sempre permanece perfeita como o espaço, permeando a mente também. O desvio da
atenção de todos os itens é tudo que é necessário para a Autorrealização. Ou você diz
que o Autoiluminante pode sempre estar ausente de qualquer canto ou recanto?

1
Neste trecho, estou traduzindo \textit{realised} como realizado e não como entendido, pois o
contexto indica que o conceito a ser apreendido não é cognoscível da maneira usual.
46. Não pode, de fato, haver nenhum momento ou ponto em que a consciência esteja
ausente. Sua ausência significa a ausência deles também. Portanto, a consciência do
Self torna-se manifesta pelo mero desvio da atenção das coisas e pensamentos.
47. A realização do Self requer pureza absoluta somente e nenhuma concentração mental.
Por essa razão, o Self é chamado de incognoscível.
48. Portanto, também foi dito que a única necessidade para Autorrealização é pureza
mental. A única impureza da mente é o pensamento. Torná-la livre de pensamentos é
mantê-la pura.
49. Deve estar claro agora para você por que se insiste em pureza mental para a
Realização do Self. Como pode o Self ser realizado em sua ausência?
50. Ou, como é possível para o Self não ser encontrado reluzente na mente pura? Todas as
injunções nas escrituras são dirigidas em direção a apenas esse fim.
51. Por exemplo, a ação desinteressada, a devoção e desapego não tem nenhum outro
propósito em vista.
52. Por que a consciência transcendental, em outras palavras, o Self, é manifestada apenas
na mente livre de mácula.
53. Após Janaka ter então falado, Ashtavakra continuou a perguntar:
54. Oh Rei, se é como dizes que a mente pacificada pela eliminação de pensamentos é
quieta e pura e capaz de manifestar a Consciência Suprema, então o sono fará isso por
si mesmo, desde que ele satisfaça sua condição e não necessidade de nenhum tipo de
esforço.
55. Então questionado pelo jovem Brâmane, o rei replicou: satisfarei você nesse ponto.
Ouça cuidadosamente.
56. A mente é verdadeiramente abstraída durante o sono. Mas sua luz é escondida pela
escuridão, então como pode ela manifestar sua verdadeira natureza?
57. Um espelho coberto com breu não reflete imagens, mas pode refletir o espaço também?
58. É suficiente, nesse caso, que as imagens sejam eliminadas de modo a revelar o espaço
refletido no espelho?
59. Da mesma maneira, a mente é velada pela escuridão do sono e tornada imprópria para
iluminar os pensamentos.
60. Tal eclipse da mente revelaria o brilho da consciência?
61. Uma lasca de madeira deixada na frente de um único objeto para a exclusão de todos
os outros refletiria o objeto simplesmente por que todos os outros estão excluídos?
62. A reflexão pode ser apenas sobre uma superfície reflexiva e não sobre todas as
superfícies. Similarmente também, a realização do Self pode apenas ser com uma
mente alerta e não com uma estupefata. Bebês recém-nascidos não possuem a
realização do Self por falta de estado de alerta.
63. Além disso, busque a analogia do espelho coberto de breu. O breu pode evitar que as
imagens sejam vistas, mas a qualidade do espelho não é afetada, pois a camada
externa de breu deve ser refletida no interior do espelho. Assim também a mente,
embora desviada de sonhos e vigília, ainda está nas garras do sono escuro e não livre
das qualidades. Isto é evidente pela recordação da ignorância escura quando alguém
acorda.
64. Eu irei lhe dizer agora a distinção entre sono e samadhi. Ouça atentamente.
65. Há dois tipos de estados mentais: (1) iluminação e (2) consideração.
66. O primeiro deles é associação da mente com os objetos externos e o segundo é a
deliberação da mente sobre o objeto visto.
67. A iluminação é não-qualificada pelas limitações dos objetos: a deliberação é qualificada
pelas limitações dos objetos vistos e é o precursor de sua clara definição.2
68. Não há nenhuma distinção notada no primeiro estágio da iluminação simples. A coisa
por si mesma não está ainda definida, então a iluminação é dita ser inapropriada.
69. A coisa torna-se definida depois e é chamada de tal e tal. Isso é a percepção da coisa
após deliberação.
70. A deliberação é novamente de duas formas: a primeira é a experiência atual e é
chamada de fresca, enquanto que a outra é cogitação sobre a primeira e é chamada de
memória.
71. A mente sempre funciona dessas duas formas.
72. O sono sem sonhos é caracterizado pela iluminação do sono somente e a experiência
continua ininterrupta por um tempo, enquanto que o estado desperto é caracterizado
pela deliberação repetidamente interrompida pelos pensamentos e portanto é chamada
de ignorância.
73. O sono é um estado de ignorância, embora consista apenas de iluminação, mesmo
assim é chamado de ignorância pela mesma razão que a luz mesmo luminosa é
chamada de insenciente.
74. Essa conclusão é admitida também pelo sábio. O sono é o primeiro filho da
Transcendência e também é chamado de não-manifesto, o exterior, ou o grande vazio
75. O estado que prevalece no sono é o sentimento de "Não há nada". Isto também
prevalece no estado desperto, embora as coisas sejam visíveis.
76. Mas essa ignorância é destruída pelo brotamento repetido de pensamentos. O sábio diz
que a mente está submergida em sono por que ela está iluminando a condição não
manifesta.
77. A submersão da mente não é, contudo, peculiar ao sono pois ela acontece também no
instante de cognição das coisas.
78. Agora falarei para você de minha própria experiência. Este assunto deixa perplexa a
maioria das pessoas realizadas.
79. Todos os três estados, a saber, samadhi, sono e o instante de cognição dos objetos,
são caracterizados pela ausência de perturbação.
80. Sua diferença está na última recapitulação dos respectivos estados que iluminam
diferentes percepções.
81. A Realidade Absoluta é manifesta no samadhi. Um vazio ou condição não manifesta
distingue o sono e a diversidade é característica da cognição e estado desperto.

2
A mente primeiro nota uma coisa em sua visão extendida. A impressão é recebida somente
após notar a coisa em sua natureza não-extensiva e torna-se mais profunda ao refletir sobre a
primeira impressão.
82. O iluminante é contudo o mesmo sempre e é sempre imaculado. Portanto, é chamado
de Inteligência Abstrata.
83. O samadhi e o sono são óbvios por que sua experiência permanece ininterrupta por
algum período apreciável e podem ser recapitulados após acordar.
84. A cognição permanece irreconhecível por causa de sua natureza fugaz. Mas o samadhi
e o sono não podem ser reconhecidos quando são apenas fugazes.
85. O estado desperto é iridescente com o samadhi flutuante e o sono. Os homens quando
estão acordados podem detectar o sono por que eles já estão familiarizados com sua
natureza.
86. Mas o samadhi fugaz é indetectável por que as pessoas não estão tão familiarizadas
com ele. Oh Brâmane! O samadhi fugaz é de fato experimentado por todos, mesmo em
seus momentos ocupados;
87. Mas ele passa despercebido por eles, por falta de conhecimento dele. Todo instante
livre de pensamentos e reflexões no estado desperto é a condição de samadhi.
88. O samadhi é simplesmente a ausência de pensamentos. Tal estado prevalece no sono
e em alguns momentos do estado desperto.
89. Contudo, ele não é chamado propriamente samadhi, por que todas as propensões da
mente ainda estão latentes lá, prontas para se manifestar no próximo instante.
90. O momento infinitesimal de ver um objeto não é estragado pela deliberação sobre suas
qualidades e é exatamente como o samadhi. Eu te direi mais, ouça!
91. O estado não manifesto, o primogênito da Inteligência Abstrata que revela "Não há
nada", é o estado de abstração cheio de luz; ele é, contudo chamado de sono por que é
a fase insensciente da consciência.
92. Nada é revelado por que não há nada para ser revelado. O sono é portanto a
manifestação do estado insensciente.
93. Mas em samadhi, Brahman, a Suprema Consciência, está continuamente brilhando.
94. Ela é o englobante do tempo e do espaço, o destruidor do vazio e o puro ser. Como
pode Ela ser a ignorância do sono?
95. Portanto o sono não é fim-de-tudo e ser-tudo.
1

Tripura Rahasya - Capítulo 17


www.cienciacontemplativa.com.br

1. Oh Bhargava! Agora, eu devo dizer-lhe que conversa ocorreu posteriormente


entre Janaka e Ashtavakra.
2. Ashtavakra perguntou: Rei! Por favor, diga-me detalhadamente o que você
chama de samadhi fugaz no estado de vigília, de modo que eu possa segui-lo
para alcançar o samadhi duradouro.
3. Assim questionado, Janaka replicou:
4. Ouça, Oh Brâmane! As seguintes são instâncias desse estado:
5. Quando um homem permanece inconsciente do "dentro e fora" por um curto
intervalo e não é dominado pela ignorância do sono;
6. O tempo ínfimo quando alguém está fora de si com alegria;
7. Quando abraçado pela amada ou amado em toda a pureza;
8. Quando algo é obtido após ter sido desejado mas do qual havia-se desistido por
desespero;
9. Quando um viajante solitário movendo-se com confiança é repentinamento
confrontado com perigo máximo;
10. Quando alguém ouve sobre a morte repentina de seu filho único que estava
saudável.
11. No apogeu da vida, no ápice de sua glória;
12. Também há intervalos de samadhi, a saber o período entre a vigília, o sonho e
os estados de sono; no momento de enxergar um objeto distante, a mente
segurando o corpo de um lado projeta-se no espaço até sustentar o objeto do
outro lado.
13. Assim como uma lagarta se prolonga no tempo deixando um casulo para entrar
em outro.
14. Cuidadosamente observe o estado da mente no intervalo.
15. Por que dilatar esses intervalos? Todos os acontecimentos serão trazidos a uma
imobilização se a inteligência for homogênea.
16. Eles tornam-se possíveis quando uma certa harmonia reina na inteligência que
ordinariamente é repetidamente quebrada.
17. Portanto, os grandes fundadores dos diferentes sistemas de filosofia dizem que
a diferença entre o Self (atman) e o intelecto reside apenas em sua
continuidade. Sugata (i.e. Buddha) considera o Self como um fluxo de
inteligência quebrado, do curso, a intervalos curtos; Kanada diz que é o intelecto
que é a característica do Self.
18. Contudo, uma vez que as interrupções no fluxo da Inteligência são admitidas,
segue-se que esses intervalos entre as várias modificações do intelecto em
objetos, representariam seu estado original não-modificado. Oh filho de Kahoela,
saiba que se alguém pode estar consciente desses samadhis quebrados,
nenhum outro samadhi precisa atrair alguém
2

Tripura Rahasya - Capítulo 17


www.cienciacontemplativa.com.br

19. O jovem Brâmane perguntou em seguida:


20. Oh rei, por que todos não estão liberados se suas vidas são tão brilhantes com
samadhis momentâneos, se eles são os iluminadores do vazio do sono?
21. A libertação é o resultado direto do samadhi não-qualificado
22. O Self sendo inteligência pura, por que ele não reconhece a si mesmo e torna-se
sempre liberto?
23. A ignorância é afastada pela inteligência pura, que é o samadhi e essa é a
causa da salvação. Por favor, diga-me, pois assim todas as minhas dúvidas
serão removidas.
24. Eu te direi o segredo.
25. O ciclo de nascimentos e mortes ocorre desde tempos imemoriais causado por
ignorância, que exibe-se como prazer e dor, mesmo sendo apenas um sonho e
irreal.
26. Assim sendo, o sábio diz que ele pode ser acabado por conhecimento. Por qual
tipo de conhecimento? O conhecimento nascido da realização.
27. A ignorância não pode ser expulsa por meio do conhecimento destituído de
pensamentos, pois tal conhecimento não é oposto a nada seja o que for
(incluindo a ignorância).
28. O conhecimento destituído de pensamentos é como o canvas usado em uma
pintura; o canvas permanece o mesmo qualquer que seja a imagem pintada
sobre ele.
29. O conhecimento não qualificado é apenas luz; os objetos são manifestados por
ele e nele.
30. A ignorância é apenas este conhecimento que é chamado savikalpa (com
pensamento) e nada mais. Essa ignorância existe de muitos modos na forma de
causa e efeito.
31. A ignorância causal é chamada de natureza da ausência de conhecimento de
completude do próprio Self de alguém.
32. O Self que é a Consciência deveria apenas ser inteiro por conta da exclusão da
limitação. Pois,é isso que traz o tempo e o resto que são as causas da limitação.
33. Esse tipo de conhecimento do Self que existe como não-inteiro pode apenas ser
a ignorância causal da natureza de "Eu existo aqui neste instante".
34. Essa é a semente embrionária da qual brotam os rebentos do corpo como um
self individualizado (crescendo na gigantesca árvore de ciclos de nascimentos e
mortes). Os ciclos de nascimentos e mortes não cessam a menos que a
ignorância seja eliminada. Isso pode acontecer apenas por um conhecimento
perfeito do Self e não de outra forma.
35. Tal sabedoria que pode destruir a ignorância é claramente de dois tipos; indireta
e direta.
3

Tripura Rahasya - Capítulo 17


www.cienciacontemplativa.com.br

36. O conhecimento é primeiro obtido de um Mestre e através dele das escrituras.


37. Tal conhecimento indireto não pode preencher o objeto em vista. Por que o
conhecimento teórico apenas não dá frutos; o conhecimento prático, que vêm do
samadhi apenas é necessário.
38. O conhecimento nascido do nirvikalpa samadhi gera sabedoria pela erradicação
da ignorância e pelo conhecimento objetivo.
39. De modo similar, a experiência de samadhi casual na ausência de conhecimento
teórico também não serve ao propósito.
40. Assim como uma pessoa, ignorante das qualidades de uma esmeralda, não
pode reconhecê-la pela mera visão dela num tesouro, não pode uma pessoa
reconhecer se não a viu antes.
41. Embora ela esteja cheia de conhecimento teórico sobre o assunto, do mesmo
modo a teoria deve ser suplementada com a prática de modo que uma pessoa
deve se tornar uma especialista.
42. A ignorância não pode ser erradicada pela mera teoria ou pelo mero samadhi
casual de um homem ignorante.
43. Novamente, falta de atenção é um sério obstáculo; pois uma pessoa olhando
para o céu não pode identificar constelações individuais.
44. Mesmo um acadêmico treinado não é melhor do que um tolo, se ele não presta
atenção quando uma coisa lhe é explicada.
45. Por outro lado, uma pessoa embora não seja um acadêmico mas tendo atenção
ouvindo tudo sobre o planeta Vênus, sai com confiança para procurar por ele,
sabendo como identifica-lo e, finalmente, o descobre e, então, é capaz de
reconhecê-lo a qualquer momento que o ver.
46. As pessoas desatentas são simplesmente tolas que não podem entender os
samadhis recorrentes em suas vidas.
47. Elas são como uma pessoa, ignorante do tesouro embaixo de sua casa, que
pede esmola para sua alimentação diária.
48. Então, você pode ver que o samadhi é inútil para tais pessoas. O intelecto de
bebês é sempre não modificado e mesmo assim eles não realizam o Self.
49. O Nirvikalpa samadhi claramente nunca erradicará a ignorância. Portanto, para
destrui-la o savikalpa samadhi deve ser buscado.
50. Apenas ele pode realizar isso.
51. Deus inerente como o Self é satisfeito por ações meritórias que são continuadas
por vários nascimentos, após os quais o desejo de liberação desponta e não de
outro modo, mesmo que milhões de nascimentos sejam experienciados.
52. De todas as coisas na criação, nascer como um ser senciente requer boa sorte;
mesmo que, para adquirir um corpo humano seja necessário um mérito
4

Tripura Rahasya - Capítulo 17


www.cienciacontemplativa.com.br

considerável; enquanto que isso está fora do ordinário para os seres humanos
serem dotados de tendências virtuosas e intelect oafiado.
53. Observe, Oh Brâmane, que a criação móvel é uma fração muito pequena do
imóvel e que os seres humanos formam apenas uma pequena fração do móvel,
enquanto a maioria dos seres humanos são um pouco mais que animais, sendo
ignorantes de bem e mal e do certo e errado.
54. Das pessoas sensíveis, a maior parte corre atrás dos prazeres da vida,
procurando satisfazê-los.
55. Umas poucas pessoas instruídas tingidas pelo desejo do céu após a morte.
56. Do pouco restante, a maioria tem seu intelecto ofuscado por Maya e não podem
compreender a unicidade de tudo (do Criador e da criação)
57. Como podem essas pobres pessoas, mantidas sob o controle de Maya,
estenderem sua fraca visão para a Verdade sublime da Unicidade?
58. As pessoas cegas por Maya não podem ver essa verdade. Mesmo algumas
pessoas que sobem tão alto na escala do entendimento da teoria, a má-sorte às
previne de serem convencidas dela (pois seus desejos as balançam para um
lado e para o outro com uma força maior do que o fraco conhecimento teórico
adquirido.
59. O conhecimento, se estritamente seguido, deveria por um fim em tais desejos,
que florescem na negação da unicidade). Elas tentam justificar suas ações
práticas com argumentos falaciosos que são simplesmente uma perda de
tempo.
60. Impenetráveis são os caminhos de Maya, que velam a mais alta Realização. É
como se eles jogassem fora a verdadeira pedra preciosa, pensando que ela
fosse um mero seixo.
61. Apenas aqueles que com devoção transcendem Maya satisfazem a Deusa que é
o próprio Self; tais podem discernir bem e felizmente.
62. Sendo dotados, pela graça de Deus, com discernimento apropriado e seriedade
correta, eles se estabelecem na Unicidade transcendental e tornam-se absortos.
Agora, devo falhar-le do esquema da liberação.
63. Uma pessoa aprende a verdadeira devoção a Deus após uma vida meritória
continuada por vários nascimentos e então adora-o por um longo tempo com
intensa devoção
64. O desprazer por prazeres da vida surge num devoto que começa gradualmente
a desejar o conhecimento da verdade e torna-se absorto na busca por ele.
65. Ele então encontra seu Mestre gracioso e aprende dele tudo sobre o estado
transcendental. Assim, ele obtém o conhecimento teórico. [Sravasana]
66. Em seguida, ele é impelido a revolver toda a matéria em sua mente até que
esteja satisfeito de seu próprio conhecimento com a harmonia das injunções
5

Tripura Rahasya - Capítulo 17


www.cienciacontemplativa.com.br

escriturais e dos ensinamentos de seu Mestre. Ele é capaz de certificar-se da


verdade mais elevada com clareza e confiança.[Manana]
67. O conhecimento certificado da Unicidade do Self deve, em seguida, ser trazido à
prática, mesmo forçosamente se necessário, até que a experiência da verdade
ocorra pra ele. [Nidhidhyasana]
68. Após experienciar o Self Interior, ele será capaz de identificar o Self com o
Supremo e então destruir a raiz da ignorância. Não há dúvida sobre isso.
69. O Self interior é realizado em contemplação avançada e esse estado de
realização é chamado nirvikalpa samadhi. A memória da realização habilita uma
pessoa a identificar o Self Interior com o Self Universal (como "Eu sou Isso").
[Pratyabhijna jnana].
70. Essa é a Unicidade do Self, o mesmo que a identificação da transcendência da
pessoa com a mesma pessoa em todas as diversidades do mundo aparente
para cada indivíduo. Isso destrói a raiz da ignorância, instantaneamente e
completamente.
71. Fala-se que o estado de dhyana desenvolve-se em nirvikalpa samadhi.
Enquanto que as modificações significam as várias facetas da consciência,
nirvikalpa significa sua natureza unitária.
72. Quando a mente não cria novas imagens devido aos pensamentos, ela está no
estado não-modificado, que é sua condição primária e pura.
73. Quando as imagens numa parede são apagadas, a parede original permanece.
Nenhum outro trabalho é necessário para restaurar sua condição original.
74. De modo similar, a mente permanece pura quando os pensamentos são
eliminados. Portanto,o estado não qualificado é restaurado se o distúrbio
presente é finalizado.
75. Não há, de fato, nada mais a ser feito para a mais sagrada condição ser
mantida. Apesar disso, mesmo os pandits são iludidos nesse assunto, devido à
desgraça de Maya.
76. O inteligente perspicaz pode alcançar o propósito num instante. Os aspirantes
podem ser divididos em três grupos: (1) o melhor, (2) o de classe intermediária,
e (3) o inferior.
77. Desses, o melhor entende assim que houve a verdade. Sua averiguação da
verdade e contemplação disso são simultâneas com sua aprendizagem.
78. A realização da verdade não requer nenhum esforço de sua parte.
79. Em uma noite de verão enluarada, eu estava deitado bêbado em uma cama no
meu jardim de prazeres no abraço amoroso da minha amada.
80. Repentinamente, ouvi as canções doces como o néctar dos seres invisíveis
celestiais que ensinaram-me a unicidade do Self, da qual eu estava inconsciente
até aquele momento.
6

Tripura Rahasya - Capítulo 17


www.cienciacontemplativa.com.br

81. Instantaneamente, pensei sobre isso, meditei sobre isso,e o entendi em menos
de uma hora.
82. Por cerca de uma hora e meia eu permaneci em samadhi, o estado de êxtase
supremo.
83. Recobrei a consciência e comecei a meditar sobre a minha experiência: Oh
maravilhosa! Quão cheio de êxtase eu estive!
84. Foi extraordinário. Deixe-me retornar a isso.
85. A felicidade do rei dos deuses não poderia ser igual mesmo a uma fração do
meu êxtase.
86. Nem mesmo o criador, Brahma, poderia ter aquele êxtase; minha vida tinha sido
desperdiçada em outras buscas.
87. Assim como um homem ignora o fato de que ele mantém Chintamani (a jóia
celestial capaz de satisfazer os desejos de uma pessoa) em suas mãos, e pede
comida, assim também as pessoas são ignorantes de sua fonte de êxtase dentro
de si mesmas, desperdiçam suas vidas buscando prazeres externos!
88. Para mim, tais anseios estão no fim! Deixe-me sempre permanecer no eterno,
na fonte infinita de êxtase dentro de mim!
89. Basta de tais atividades tolas! Elas são sombras de escuridão e repetições vãs
de labor inútil.
90. Sejam seus pratos deliciosos, guirlandas perfumadas, camas fofas, ornamentos
ricos ou donzelas vivazes - eles são meras repetições, sem novidade ou
originalidade.
91. O desgosto por eles não tinha surgido em mim antes, por que eu tinha sido tolo
seguindo o caminho do mundo.
92. Assim que eu decidi e tentei levar minha mente para introspecção, outra ideia
me impressionou:
93. Em que confusão eu estou! Embora eu esteja sempre na perfeição do êxtase, o
que é isso que eu quero fazer?
94. O que mais posso obter? O que estou perdendo? Quando e de onde eu posso
obter alguma coisa? Mesmo se houvesse alguma coisa nova para ser obtida, ela
duraria?
95. Como posso eu, que sou uma Consciência-Êxtase Infinita, conhecer o esforço?
96. Corpos individuais, seus sentidos, mentes, etc., são similares a visões num
sonho; eles são projetados de mim. O controle de uma mente leva a todas as
outras mentes como elas são.
97. Então, qual é a utilidade de controlar a minha mente?
98. As mentes, controladas ou não-controladas, aparecem apenas para meu olho
mental.
7

Tripura Rahasya - Capítulo 17


www.cienciacontemplativa.com.br

99. Novamente, mesmo se todas as mentes estiverem controladas, a minha


permanece livre. Pois a minha mente é como um espaço infinito, o receptáculo
de todas as mentes. Quem a controlará e como?
100. Como pode o samadhi ser obtido quando eu já estou no êxtase perfeito, pois
o Self é Êxtase-Consciência, mesmo mais perfeito do que o espaço infinito?
101. Minha própria luz manifesta as atividades diversas de tudo sobre o mundo
que é novamente minha própria manifestação.
102. O que importa se alguém deveria se manisfestar como ação ou inação?
Onde está o ganho ou a perda em tal manifestação?
103. De modo similar, de que importa para o Self de êxtase perfeito se ele se
enquadra em nirvikalpa samadhi? Samadhi ou não-samadhi, eu sou a mesma
Perfeição e Paz eterna.
104. Deixe o corpo fazer o que ele quer. Pensando assim, eu sempre permaneci
em meu próprio Self como um fio de Êxtase e consciência pura ininterrupta.
105. Eu estou, portanto, no estado de perfeição e permaneço sem mácula. Minha
experiência é típica dos melhores aspirantes.
106. A sabedoria é alcançada no curso de meus muitos nascimentos pelos
aspirantes mais inferiores.
107. Assim como para os de classe média, a sabedoria é obtida no mesmo
nascimento, mas mais devagar e gradualmente de acordo com o mencionado
anteriormente de (1) aprender a verdade, (2) ter convicção dela, (3) meditação -
samadhi qualificado e samadhi não qualificado - e (4) finalmente sahaja samadhi
(estar não apegado mesmo enquanto engajado nas atividades do mundo). Esse
último é muito raramente encontrado.
108. Por que cair em nirvikalpa samadhi, sem obter o fruto de sua sabedoria!
Mesmo se ele pudesse ser experimentado milhares de vezes, ele não libertaria o
indivíduo. Portanto, eu te digo que samadhis momentâneos no estado de vigília
são infrutíferos.
109. A menos que um homem viva a vida ordinária e cheque cada incidente como
a projeção do Self, não se desviando do Self em qualquer circunstância, ele não
poderia ser chamado de livre da dificuldade da ignorância.
110. O nirvikalpa samadhi é caracterizado apenas pela experiência do Self
verdadeiro, a saber, a Inteligência Pura. Embora eterna e resplandecente
mesmo ordinariamente, essa Inteligência Abstrata é como se não existisse.
111. A Inteligência Abstrata é o plano de fundo sobre o qual os fenômenos são
exibidos e ele deve certamente se manifestar em toda a sua pureza, em sua
ausência, embora sua aparência possa parecer nova à primeira vista.
8

Tripura Rahasya - Capítulo 17


www.cienciacontemplativa.com.br

112. Ela permanece irreconhecível por que não distinta do fenômeno exibido por
ela. Sendo eliminada, torna-se aparente. Em resumo, esse é o método de
autorrealização.
113. Oh Brâmane! Pense sobre o que você aprendeu agora e você entenderá.
Com a sabedoria nascida de sua realização, você se tornará um com o Self e
será eternamente livre.
114. Dattatreya disse:
115. Após dar essas instruções a Ashtavakra, Janaka o mandou embora.
Ashtavakra alcançou seu próprio lugar e pôs as lições em prática. Logo cedo ele
tornou-se um Jivanmukta (liberto enquanto vivo). Assim termina o décimo sétimo
capítulo doTripura Rahasya.

Você também pode gostar