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Anotações sobre Derivadas


Rodrigo Carlos Silva de Lima

rodrigo.uff.math@gmail.com

10 de novembro de 2016
1
Sumário

1 Derivadas 3
1.1 Notações para derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.1 Notação de Leibniz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.2 Notação de Euler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.3 Notação de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.1.4 Notação de Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Algumas equações diferenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Funções convexas e côncavas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.3.1 Ponto de inflexão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3.2 Desigualdade das médias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.4 Aproximações sucessivas e método de Newton. . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.4.1 Método de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

2
Capı́tulo 1

Derivadas

1.1 Notações para derivada

1.1.1 Notação de Leibniz


A notação de Leibniz para derivada de f é
df
,
dx
aplicando a derivada num ponto a temos as notações
df(a) df
= .
dx dx
A notação para n-ésima derivada é
dn f(a)
.
dxn

1.1.2 Notação de Euler


A notação de Euler para derivada é

Df(x)

e para n-ésima derivada


Dn f(x).

Essa notação é usada para enfatizar o fato da derivada ser um operador e tem
aplicação no estudo de equações diferenciais.

3
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 4

1.1.3 Notação de Newton


A notação de Newton para derivada é

f_

e para segunda derivada


f.

Essa notação costuma ser usada apenas para primeira e segunda derivada e usada
em fı́sica.

1.1.4 Notação de Lagrange


A notação de Lagrange usa o apóstrofo para simbolizar a derivada

f0

é uma das notações mais usadas. Até a terceira derivada denotamos como

f 00 , f 000

a partir de n = 4, denotamos
f(n)

não confundir com a notação de n -ésima composição de funções que é fn .

1.2 Algumas equações diferenciais

b Propriedade 1. Seja f : R → R derivável em R, tal que f 0 (x) = af(x) então


vale f(x) = keax para alguma constante k ∈ R.

ê Demonstração.
f(x)
Consideramos a derivada da função de lei g(x) = daı́
eax
f 0 (x)eax − f(x).aeax f(x)aeax − f(x).aeax
g 0 (x) = = =0
e2ax e2ax
logo existe k tal que
f(x) = keax .

A constante k pode ser encontrada por meio de uma condição inicial.


CAPÍTULO 1. DERIVADAS 5

$ Corolário 1. Se for dada a condição inicial f(x0 ) = c então f(x0 ) = keax0 =


c ⇒ k = ce−ax0 ⇒ f(x) = cea(x−x0 ) .

b Propriedade 2. Sejam f e g duas funções de R em R deriváveis, satisfazendo


f(0) = 0 , g(0) = 1 e
f 0 (x) = g(x)

g 0 (x) = −f(x)

então f(x) = sen(x) e g(x) = cos(x)∀ x.

ê Demonstração.
Considere a função definida de R em R com lei

h(x) = (f(x) − sen(x))2 + (g(x) − cos(x))2

vamos mostrar que tal função é identicamente nula. Primeiro, vale que

h(0) = (f(0) − sen(0))2 + (g(0) − cos(0))2 = 0.


| {z } | {z }
0 −0 1−1

Agora derivamos a função

h 0 (x) = 2(f 0 (x) − cos(x))(f(x) − sen(x)) + 2(g 0 (x) + sen(x))(g(x) − cos(x))

substituindo as condições f 0 (x) = g(x) e g 0 (x) = −f(x) segue

h 0 (x) = 2(g(x) − cos(x))(f(x) − sen(x)) + 2(−f(x) + sen(x))(g(x) − cos(x)) = 0


| {z } | {z }
A −A

logo h(x) é constante, devendo ser 0 que implica f(x) = sen(x), g(x) = cos(x).

b Propriedade 3. Seja f : R → R duas vezes derivável, tal que para todo x vale
f 00 (x) = −a2 f(x), para algum a 6= 0 ∈ R, então existem constantes c1 , c2 ∈ R tal que

f(x) = c1 cos(ax) + c2 sen(ax).


CAPÍTULO 1. DERIVADAS 6

ê Demonstração. Vale que

[f 0 (x)sen(ax) − f(x)acos(ax)] 0 = 0

pois

f 00 (x) sen(ax) + f 0 (x).a.cos(ax) − f 0 (x)acos(ax) + f(x).a2 .sen(ax) = 0


| {z }
−a2 f(x)

logo f 0 (x)sen(ax) − f(x)acos(ax) = c onde c é uma constante.


f(x) − c1 .cos(ax)
Vamos mostrar agora que existe uma constante c1 tal que a derivada de
sen(ax)
é nula, para isso vamos demonstrar que a expressão no numerador da derivada se
anula para um certo valor de c1

[f 0 (x) + c1 .a.sen(ax)]sen(ax) − [f(x) − c1 .cos(ax)]a.cos(ax) =

= f 0 (x)sen(ax) + c1 .a.sen2 (ax) − f(x)a.cos(ax) + c1 .a.cos2 (ax) =

= f 0 (x)sen(ax) − f(x)a.cos(ax) +c1 .a.sen2 (ax) + c1 .a.cos2 (ax) = c + c1 .a


| {z }
c
−c
daı́ basta tomar c1 = . Disso concluı́mos que existe uma constante c2 tal que
a
f(x) = c1 cos(ax) + c2 sen(ax).

b Propriedade 4. Seja f : R → R duas vezes derivável, tal que para todo x vale
f 00 (x) = a2 f(x), para algum a 6= 0 ∈ R, então existem constantes c1 , c2 ∈ R tal que

f(x) = c1 eax + c2 e−ax .

ê Demonstração. Vale que eax [f 0 (x) − af(x)] é constante, pois derivando

aeax [f 0 (x) − af(x)] + eax [f 00 (x) − af 0 (x)] = aeax [f 0 (x) − af(x)] + eax a[af(x) − f 0 (x)] = 0

daı́ eax [f 0 (x) − af(x)] = c. Agora vamos mostrar que existe uma constante c2 tal que
f(x) − c2 e−ax
é constante , por isso a derivada de tal expressão deve ser nula, sendo
eax
o numerador nulo

(f 0 (x) + a.c2 e−ax )(eax ) − (f(x) − c2 e−ax )aeax =


CAPÍTULO 1. DERIVADAS 7

[f 0 (x) − af(x)]eax +ac2 + ac2


| {z }
=c
−c
daı́ basta tomar c2 =
2a
o que implica que
f(x) = c1 eax + c2 e−ax

é a solução da equação diferencial f 00 (x) = a2 f(x).

b Propriedade 5. Seja f : R → R k vezes derivável tal que f(tx) = tk f(x)∀ t, x ∈


Dk f(0) k
R. Nessas condições temos f(x) = x = cxk .
k!
Dk
ê Demonstração. Aplicamos na identidade f(tx) = tk f(x) , isto é, derivamos
k!
k vezes em relação à t , aplicando a regra da cadeia.
Dk k
Usamos que Dk f(tx) = xk f(k) (tx) e t f(x) = f(x) logo
k!
xk (k)
f (tx) = f(x)
k!
tomando t = 0 tem-se
xk (k)
f (0) = f(x).
k!
Em especial se k = 1, f(x) = x.f 0 (0) = c.x.

1.3 Funções convexas e côncavas

m Definição 1 (Secante). Sejam uma função f : A → R, a, b ∈ A o segmento


que liga os pontos (a, f(a)) e (b, f(b)) é chamado a secante ab.

m Definição 2 (Função convexa). f : I → R é dita convexa quando

f(b) − f(a)
f(x) ≤ f(a) + (x − a) ∀ x ∈ [a, b] = I.
b−a

Se a função é convexa dizemos que ela tem concavidade voltada para cima.
Em uma função convexa, todos os pontos de um intervalo [a, b] estão abaixo
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 8

das secantes que ligam os pontos (a, f(a)) e (b, f(b)).

$ Corolário 2. Uma função convexa em I = [a, b] é limitada pois


|f(b) − f(a)| |f(b) − f(a)|
|f(x)| ≤ |f(a)|+ (|x−a|) ≤ |f(a)|+ (|b−a|) = |f(a)|+|f(b)−f(a)|.
|b − a| |b − a|

m Definição 3 (Função côncava). f é dita côncava quando −f é convexa. Se a


função é côncava dizemos que ela tem concavidade voltada para baixo.

b Propriedade 6 (Desigualdades fundamentais). f é convexa em I ⇔

f(x) − f(a) f(b) − f(a) f(x) − f(b)


≤ ≤
x−a b−a x−b

com x ∈ [a, b].

f(b) − f(a)
ê Demonstração. ⇒ .) Se f é convexa então vale f(x) ≤ f(a)+ (x−a)
b−a
com x > a tem-se
f(x) − f(a) f(b) − f(a)

x−a b−a
f(b) − f(a)
da mesma forma f(x) ≤ f(b) + (x − b) com x < b daı́ x − b < 0 e
b−a
f(x) − f(b) f(b) − f(a)

x−b b−a

daı́ segue que


f(x) − f(a) f(b) − f(a) f(x) − f(b)
≤ ≤ .
x−a b−a x−b
⇐). Se ambas desigualdades são válidas então vale que a função é convexa, basta
partir da desigualdade de maneira similar a que foi feita acima.

Z Exemplo 1. As função afim, da forma f(x) = ax+b são côncavas e convexas,


f(x) − f(y)
pois = a, logo na desigualdade fundamental ficamos com a ≤ a ≤ a
x−y
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 9

que é uma desigualdade que se verifica, portanto f é convexa, como −f é também


é convexa, concluı́mos que f também é côncava.

Z Exemplo 2. f : R → R com f(x) = ax 2


+ bx + c é convexa se a > 0 e côncava
se a < 0.
Vale que

f(y) − f(x) a(y − x)2 + b(y − x)


= = a(y + x) + b.
y−x y−x

Então dado x ∈ [a1 , a2 ], f é convexa ⇔

f(x) − f(a1 ) f(a2 ) − f(a1 ) f(x) − f(a2 )


≤ ≤
x − a1 a2 − a1 x − a2

no caso para ser convexa deveria valer

a(x + a1 ) + b ≤ a(a2 + a1 ) + b ≤ a(x + a1 ) + b ⇔ a(x + a1 ) ≤ a(a2 + a1 ) ≤ a(x + a2 )

como a1 ≤ x e x ≤ a2 somando a2 na primeira desigualdade e a1 na segunda


desigualdade e multiplicando por a > 0 segue que a(x+a1 ) ≤ a(a2 +a1 ) ≤ a(x+a2 ),
logo a função é convexa. Portanto se a > 0 a função tem concavidade voltada
para cima e se a < 0 a função tem concavidade voltada para baixo.

b Propriedade 7. Um ponto de x ∈ [a, b] arbitrário se exprime de maneira


única como
x = (1 − t) a + |{z}
t b = t1 .a + t2 .b
| {z }
t1 t2

onde 0 ≤ t ≤ 1.

ê Demonstração. f : [0, 1] → R com f(t) = (1 − t)a + tb é contı́nua com f(1) = b


e f(0) = a, daı́ por continuidade para qualquer y ∈ [a, b] existe x ∈ [0, 1] tal que
f(x) = y. Além disso cada y ∈ [a, b] se escreve de maneira única, pois se houvesse
duas maneiras distintas, então

x = (1 − t1 )a + t1 b = (1 − t2 )a + t2 b ⇒ a(t2 − t − 1) = (t2 − t1 )b ⇒ a = b
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 10

logo o intervalo seria degenerado.


Vale ainda que a ≤ (1 − t)a + tb ≤ b, se t = 1 ela se verifica se t < 1 então de
a ≤ b temos
(1 − t)a ≤ (1 − t)b ⇒ (1 − t)a + tb ≤ b

da mesma forma de a ≤ b temos ta ≤ tb portanto 0 ≤ −ta + tb ⇒ a ≤ (1 − t)a + tb.

b Propriedade 8. f : I → R é convexa ⇔ a, b ∈ I, t ∈ [0, 1], tomando t1 = t e


t2 = 1 − t tem-se
f(t1 a + t2 b) ≤ t1 f(a) + t2 f(b).

ê Demonstração. Provamos que qualquer x entre a e b se escreve como


x−a
x = (1 − t)a + tb, daı́ x − a = t(b − a) ⇒ = t usamos agora a definição de
b−a
função convexa
f(b) − f(a)
f(x) ≤ f(a) + (x − a)
b−a
f(b) − f(a)
f(a) + (x − a) = f(a) + [f(b) − f(a)]t = tf(b) + f(a)(1 − t) = t1 f(a) + t2 f(b)
b−a
portanto
f(t1 a + t2 b) ≤ t1 f(a) + t2 f(b).

b Propriedade 9. Se f : I → R é convexa então existem os limites laterais f+0 (c)


e f−0 (c) em c ∈ int(I).

ê Demonstração. Definimos g : J → R onde J = (c, ∞) ∩ I com gc (x) =


f(x) − f(c)
pela desigualdade fundamental vale
x−c
f(x) − f(c) f(y) − f(c)

x−c y−c
isto é gc (x) ≤ gc (y) com c < x < y, portanto gc é não-decrescente em J. Como
c ∈ int(I) então existe a ∈ I com a < c e pela desigualdade fundamental
f(a) − f(c) f(x) − f(c)
≤ = gc (x)
a−c x−c
logo gc é limitada inferiormente, portanto possui o limite à direita

f+0 = lim+ gc (x).


x→c
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 11

Da mesma maneira gc é limitada superiormente portanto existe o limite à esquerda,


sendo b o extremo do intervalo I, tem-se pela desigualdade fundamental

f(x) − f(c) f(b) − f(c)


≤ .
x−c b−c

$ Corolário 3. Como existem as derivadas laterais então uma função convexa


é contı́nua no interior de I.

b Propriedade 10. Seja f : I → R derivável em I. São equivalentes

1. f é convexa.

2. f 0 é não-decrescente.

3. ∀ a, x ∈ I temos
f(x) ≥ f(a) + f 0 (a)(x − a),

isto é, o gráfico de f está situado acima de suas tangentes.

ê Demonstração.

• (1) ⇒ (2). Supondo f convexa valem as desigualdades fundamentais

f(x) − f(a) f(b) − f(a) f(x) − f(b)


≤ ≤
x−a b−a x−b
com a < x < b, tomando x → a+ no termo da extrema esquerda e x → b− no
termo da extrema direita, segue que

f 0 (a) = f+0 (a) ≤ f−0 (b) = f 0 (b)

pois f é derivável, logo a < b ⇒ f 0 (a) ≤ f 0 (b) portanto f 0 é não decrescente.

• (2) ⇒ (3). Supondo a < x, pelo TVM existe z ∈ (a, x) tal que f(x) = f(a) +
f 0 (z)(x − a). Pelo fato de f 0 ser crescente tem-se que f 0 (z) ≥ f 0 (a) daı́

f(x) ≥ f(a) + f 0 (a)(x − a)


CAPÍTULO 1. DERIVADAS 12

Caso x < a, pelo TVM existe z ∈ (x, a) tal que

f(a) = f(x) + f 0 (z)(a − x) ⇒ f(a) + f 0 (z)(x − a) = f(x)

como f 0 é crescente vale f 0 (z) < f 0 (a) portanto

f(a) + f 0 (a)(x − a) ≤ f(x).

Caso x = a vale a igualdade, assim ficam provados todos os casos, a desigual-


dade vale em geral.

• (3) ⇒ (1). Sejam a < c < b. Definimos a(x) = f(c) + f 0 (c)(x − c), H = {(x, y) ∈
R2 | y ≥ a(x)} o semiplano superior determinado por a(x) que é tangente ao
gráfico de f em (c, f(c)).

H é um subconjunto convexo do plano, qualquer segmento de reta que liga


dois pontos de H está contido em H. (a, f(a)) e (b, f(b)) ∈ H e o ponto desse
f(b) − f(a)
segmento que possui abscissa c também, logo f(c) ≤ f(a) + (c − a)
b−a
com a < c < b arbitrários, disso segue que f é convexa.

b Propriedade 11. Se f 00 (x) ≥ 0, ∀ x ∈ R então ∀ a, b ∈ R e t ∈ [0, 1], temos


que
f(at + b(1 − t)) ≤ tf(a) + (1 − t)f(b).

ê Demonstração.
Vamos dividir a demonstração em passos:

1. Passo 1. f 00 (x) ≥ 0 implica que f 0 (x) é crescente. Supondo a < x, pelo TVM
existe z ∈ (a, x) tal que f(x) = f(a) + f 0 (z)(x − a). Pelo fato de f 0 ser crescente
tem-se que f 0 (z) ≥ f 0 (a) daı́

f(x) ≥ f(a) + f 0 (a)(x − a)

Caso x < a, pelo TVM existe z ∈ (x, a) tal que

f(a) = f(x) + f 0 (z)(a − x) ⇒ f(a) + f 0 (z)(x − a) = f(x)


CAPÍTULO 1. DERIVADAS 13

como f 0 é crescente vale f 0 (z) < f 0 (a) portanto

f(a) + f 0 (a)(x − a) ≤ f(x).

Caso x = a vale a igualdade, assim ficam provados todos os casos, a desigual-


dade f(x) ≥ f(a) + f 0 (a)(x − a) vale em geral.

2. Passo 2. Sejam a < c < b. Definimos r(x) = f(c) + f 0 (c)(x − c), H = {(x, y) ∈
R2 | y ≥ r(x)} o semiplano superior determinado por r(x) que é tangente ao
gráfico de f em (c, f(c)).

H é um subconjunto convexo do plano, isto é, qualquer segmento de reta que liga
dois pontos de H está contido em H. (a, f(a)) e (b, f(b)) ∈ H, pois (a, f(a)) ∈ H
e (b, f(b)) ∈ H, pois pelo item anterior

f(a) ≥ f(c) + f 0 (c)(a − c) e f(b) ≥ f(c) + f 0 (c)(b − c),

e o ponto desse segmento que possui abscissa c também é elemento de H, pois


H é convexo, logo tomamos a reta que liga os pontos (a, f(a)) e (b, f(b)) que é
 
f(b) − f(a)
y(x) = (x − a) + f(a),
b−a
pois y(a) = f(a) e y(b) = f(b). Logo por convexidade y(c) ≥ f(c)+f 0 (c)(c−c) =
f(c), mas pela expressão da reta acima,
f(b) − f(a)
y(c) = f(a) + (c − a),
b−a
com isso concluı́mos que
f(b) − f(a)
f(c) ≤ f(a) + (c − a) com a < c < b arbitrários.
b−a
3. Passo 3. Temos que c entre a e b pode ser escrito de uma única forma como

c = (1 − t)a + tb,

logo
c−a
c = a − ta + tb = a + t(b − a) ⇒ = t.
b−a
f(b) − f(a)
Com isso a desigualdade f(c) ≤ f(a) + (c − a) fica como
b−a
f((1 − t)a + tb) ≤ f(a) + [f(b) − f(a)]t = f(a)(1 − t) + f(b)t.

Como querı́amos demonstrar.


CAPÍTULO 1. DERIVADAS 14

$ Corolário 4. Todo ponto crı́tico de uma função convexa é um ponto de mı́nimo


absoluto .
Sendo a o ponto crı́tico tem-se f 0 (a) = 0, usando que f(x) ≥ f(a) + f 0 (a)(x − a)
tem-se f(x) ≥ f(a) ∀ x, logo a é ponto de mı́nimo absoluto.

$ Corolário 5. Uma função f : I → R duas vezes derivável é convexa ⇔ f 00 (x) ≥ 0


pois isso equivale a dizer que f 0 é não-decrescente.

Z Exemplo 3. A função com f(x) = ax , a > 0 é convexa pois f (x) = a > 0.


2 00

Z Exemplo 4. As funções de lei f(x) = ax + b são convexas, pois f (x) = 0. 00

Z Exemplo 5. A função de lei f(x) = e x


é convexa pois f 00 (x) = ex > 0.

b Propriedade 12. f : I → R é convexa ⇔ para quaisquer (ak )n1 e (tk )n1 em


Xn
[0, 1] com tk = 1 então
k=1

X
n X
n
f( tk ak ) ≤ tk f(ak ).
k=1 k=1

ê Demonstração.
Provamos por indução sobre n, se n = 1 já provamos. Suponha a validade para n
, vamos provar para n + 1, escrevemos

X
n+1 X
n+1
t1 a1 + t 2 a2 X n+1
tk ak = t1 a1 + t2 a2 + tk ak = (t1 + t2 )( )+ tk ak
k=1 k=3
t1 + t2 k=3
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 15

t1 a1 + t2 a2
que interpretamos como uma soma com n termos e vale1 ∈ I, aplicamos
t1 + t 2
o resultado válido para n termos

t1 a1 + t2 a2 X
n+1
t1 a1 + t2 a2 X n+1
f((t1 + t2 )( )+ tk ak ) ≤ (t1 + t2 )f( )+ tk f(ak )
t1 + t2 k=3
t1 + t2 k=3

aplicamos novamente desigualdade agora com o primeiro termo

X
n+1 X
n+1
≤ t1 f(α1 ) + t2 f(α2 ) + tk f(ak ) = tk f(ak )
k=3 k=1

logo fica provada a desigualdade (consideramos t1 + t2 6= 0, podemos sempre arranjar


coeficientes com essa propriedade, a menos de mudança de nome, pois se t1 + tk = 0
para todo k 6= 1, então t1 6= 0 e podemos tomar dois ı́ndices distintos com valor −t1
no lugar de t1 + t2 e aplicar o mesmo procedimento).

m Definição 4 (Funções estritamente convexas- côncavas). Sendo V um espaço


convexo, uma função f : V → R é chamada de estritamente convexa se ∀ x1 6= x2 ∈
V, ∀ t ∈ (0, 1) vale que

f(tx1 + (1 − t)x2 ) < tf(x1 ) + (1 − t)f(x2 ).

f é dita ser estritamente côncava se −f é estritamente convexa.

m Definição 5 (Funções fortemente convexas- côncavas). Uma função f : I → R


duas vezes derivável em I é fortemente convexa ⇔ f 00 (x) > 0 ∀ x ∈ I.

1
pois
P
n
X
n X
n X
n tk a k
k=1
a < ak < b ⇒ tk a < tk ak < tk b ⇒ tk a < tk a k < tk b ⇒ a < <b
Pn
k=1 k=1 k=1 tk
k=1
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 16

b Propriedade 13. Sejam g : R → R crescente convexa e f : R → R convexa,


então g ◦ f : R → R é convexa.

ê Demonstração. Temos que mostrar que

g(f(tx + (1 − t)y)) ≤ tg(f(x)) + (1 − t)g(f(y)).

Por convexidade de f temos

f(tx + (1 − t)y) ≤ tf(x) + (1 − t)f(y)

como g é crescente ela preserva a desigualdade, então

g(f(tx + (1 − t)y)) ≤ g(tf(x) + (1 − t)f(y))

agora usamos o fato de g ser convexa

g(tf(x) + (1 − t)f(y)) ≤ tg(f(x)) + (1 − t)g(f(y))

disso segue o que querı́amos demonstrar utilizando as duas desigualdades

g(f(tx + (1 − t)y)) ≤ tg(f(x)) + (1 − t)g(f(y)).

1.3.1 Ponto de inflexão

m Definição 6 (Ponto de inflexão). Seja f : I → R . Um ponto de c é de inflexão


se existe r > 0 tal que uma das condições ocorre

• f é côncava em (c − r, c) e convexa em (c, c + r).

• f é convexa em (c − r, c) e côncava em (c, c + r).

Um ponto de inflexão é um ponto onde a função muda de curvatura, passando


de côncava para convexa ou de convexa para côncava.
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 17

m Definição 7 (Ponto de inflexão forte). Seja f : I → R duas vezes derivável no


intervalo aberto I. Um ponto de c é de inflexão forte se existe r > 0 tal que uma
das condições ocorre

• f é fortemente côncava em (c − r, c) e fortemente convexa em (c, c + r).

• f é fortemente convexa em (c − r, c) e fortemente côncava em (c, c + r).

Um ponto de inflexão é um ponto onde a função muda de curvatura, passando


de côncava para convexa ou de convexa para côncava.

b Propriedade 14. Seja f : (a, b) → R duas vezes derivável, se existe r > 0 tal
que f 00 (x) > 0 (ou f 00 (x) > 0) em (c − r, r) e f 00 (x) < 0 (ou f 00 (x) > 0) em (c, c + r)
então c é ponto de inflexão.

ê Demonstração. f é côncava em (c, c + r) e convexa em (c − r, r), portanto c


é ponto de inflexão.

b Propriedade 15. Seja f : I → R. Se (c, f(c)) é ponto de inflexão de f e f 00


existe em I sendo contı́nua em c então f 00 (c) = 0

ê Demonstração. Se fosse f 0 (c) 6= 0 então por continuidade de f 00 (c) existiria


r tal que em (c − r, c + r) terı́amos f 00 (c) com mesmo sinal de f 00 (c) logo c não seria
ponto de inflexão.

Z Exemplo 6. Pode valer f (c) = 0 porém c não ser ponto de inflexão, como
00

no caso de c = 0 com a função f(x) = x4 .

b Propriedade 16. Seja f : I → R. Se (c, f(c)) é ponto de inflexão forte de f e


f 00 existe em I então f 00 (c) = 0
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 18

ê Demonstração. Suponha sem perda de generalidade que [a, b] ⊂ (c − r, c + r),


a ∈ (c − r, r) , b ∈ (c, c + r), com f 00 (x) > 0 em (c, c + r) e f 00 (x) < 0 em (c − r, c),
portanto vale que f 00 (a) < 0 e f 00 (b) > 0 por Teorema de Darboux para f 0 (x) segue
que existe t ∈ (a, b) tal que f 00 (t) = 0.
t não pode pertencer ao intervalo (c − r, c) nem ao intervalo (c, c + r) como
t ∈ (c − r, c + r) segue obrigatoriamente que t = c.

2
Z Exemplo 7. Estude a concavidade da função real f(x) = 1 +x x . Calculamos 2
2
2x 2 − 6x
a primeira derivada f 0 (x) = e a segunda f 00 (x) = 2 . Os pontos de
(1 + x )2 2
√ (x + 1)3
3
inflexão são as raı́zes de 2 − 6x2 , que são ± , pois na vizinhança de tais pontos
3
a segunda derivada muda de sinal.

b Propriedade 17. Sejam f : I → R três vezes derivável no aberto I, p ∈ I.


Suponha que f 00 (p) = 0 e f 000 (p) 6= 0 então p é ponto de inflexão.

ê Demonstração. Supondo f 000 (p) > 0 então


f 00 (x) − f 00 (p) f 00 (x)
lim = lim = f 000 (p) > 0
x→p x−p x→p x − p

estudamos os limites laterais

f 00 (x)
lim+ = f 000 (p) > 0
x→p x−p
| {z }
+

logo f (x) > 0 em algum intervalo (p, p + r), da mesma forma


00

f 00 (x)
lim− = f 000 (p) > 0
x→p x−p
| {z }

logo f 00 (x) < 0 em algum intervalo (p − r, p) por isso f possui ponto de inflexão em
p.

1.3.2 Desigualdade das médias


CAPÍTULO 1. DERIVADAS 19

1
$ Corolário 6. f(x) = ex é convexa, tomamos tk = , ak = ln(xk ), vale que
n
X
n X
n
f( t k ak ) ≤ tk f(ak )
k=1 k=1

P
1 X ln(xk ) 1 X
n n n
1
n
ln(xk )
e k=1 ≤ e = xk
n k=1
n k=1
P 1
Y Y 1 X
n n n n
ln(xkn ) 1 1
ln(xkn )
ek=1 = e = (xk ) ≤
n
xk .
k=1 k=1
n k=1

Portanto vale a desigualdade das médias

Y
n
1 1 X
n
(xk ) ≤
n
xk .
k=1
n k=1

b Propriedade 18. Sejam f : I → R e g : J → R convexas com f(I) ⊂ J e g


não-decrescente. Nessas condições g ◦ f : I → R é convexa.

ê Demonstração. Sejam t1 , t2 tais que t1 + t2 = 1 como f e g são convexas então


vale
f(t1 .a1 + t2 .a2 ) ≤ t1 f(a1 ) + t2 f(a2 )
e
g(t1 .y1 + t2 .y2 ) ≤ t1 g(y1 ) + t2 g(y2 )
a1 , a2 ∈ I e y1 , y2 ∈ J.
Pelo fato de g ser não-decrescente ela preserva a desigualdade, então

g(f(t1 .a1 + t2 .a2 )) ≤ g(t1 f(a1 ) +t2 f(a2 )) = g(t1 .y1 + t2 .y2 ) ≤ t1 g(y1 ) + t2 g(y2 )
| {z } | {z }
y1 y2
logo
g(f(t1 .a1 + t2 .a2 )) ≤ t1 g(f(a1 )) + t2 g(f(a2 ))
logo g ◦ f é convexa.
ê Demonstração.[2] Supondo f e g duas vezes deriváveis vale g 00 (x) ≥ 0, f 00 (x) ≥
0 e g 0 (y) ≥ 0 as duas primeiras por serem funções convexas e a última desigualdade
por g ser não-decrescente, então

(g ◦ f)(x) 0 = f 0 (x)g 0 (f(x)).


CAPÍTULO 1. DERIVADAS 20

(g ◦ f)(x) 00 = f 00 (x) g 0 (f(x)) + (f 0 (x))2 g 00 (f(x)) ≥ 0


| {z } | {z } | {z } | {z }
≥0 ≥0 ≥0 ≥0

portanto g ◦ f é convexa.

Z Exemplo 8. Se g não é monótona não-decrescente, então g ◦ f pode não


ser convexa, como por exemplo, tomando g(x) = −x que é convexa, f(x) = x2 daı́
g(f(x)) = −x2 que não é convexa.

b Propriedade 19. Se f : I → R possui ponto crı́tico não degenerado c ∈ int(I)


e f 00 é contı́nua, então existe δ > 0 tal que f é convexa ou côncava em (c−δ, c+δ).

ê Demonstração. Se o ponto crı́tico c é não degenerado então f 00 (c) > 0 ou


f 00 (c) < 0 pela continuidade de f 00 existe δ > 0 tal que x ∈ (c−δ, c+δ) implica f 00 (x) > 0
ou f 00 (x) < 0, portanto f é convexa ou côncava em tal intervalo, respectivamente.

b Propriedade 20. A soma de funções convexas é uma função convexa .

ê Demonstração. Temos que mostrar que

(f + g)(t1 a1 + t2 a2 ) ≤ t1 (f + g)(a1 ) + t2 (f + g)(a2 )

onde t1 + t2 = 1.

f(t1 a1 +t2 a2 )+g(t1 a1 +t2 a2 ) ≤ t1 f(a1 )+t2 f(a2 )+t1 g(a1 )+t2 g(a2 ) = t1 (f+g)(a1 )+t2 (f+g)(a2 ) .

Z Exemplo 9. O produto de funções convexas pode não resultar numa função


convexa. Por exemplo f(x) = x2 − 1 e g(x) = x2 de R em R são convexas, porém
seu produto p(x) = x4 − x2 não é convexa, pois p 0 (x) = 4x3 − 2x, p 00 (x) = 12x2 − 2,
em x = 0 o resultado é negativo, se ela fosse convexa deveria resultar um valor
não negativo.
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 21

m Definição 8 (Quase-convexa). f : I → R é dita ser quase convexa quando


∀ c ∈ R, o conjunto {x ∈ I | f(x) ≤ c} é vazio ou é um intervalo.

m Definição 9 (Quase-côncava). f : I → R é dita ser quase côncava quando


∀ c ∈ R, o conjunto {x ∈ I | f(x) ≥ c} é vazio ou é um intervalo.

b Propriedade 21. Toda função convexa é quase-convexa e toda função


côncava é quase côncava.

ê Demonstração. Sejam f convexa e A = {x ∈ I | f(x) ≤ c} dados x, y ∈ A e


z ∈ [x, y] tem-se z = t1 x + t2 y com t1 + t2 = 1 então

f(z) = f(t1 x + t2 y) ≤ t1 f(x) + t2 f(y) ≤ (t1 + t2 )c = c

portanto f(z) ≤ c e A é um intervalo, isso prova que f é quase-convexa.


Sejam f côncava e B = {x ∈ I | f(x) ≥ c} dados x, y ∈ B e z ∈ [x, y] tem-se
z = t1 x + t2 y com t1 + t2 = 1 então

f(z) = f(t1 x + t2 y) ≥ t1 f(x) + t2 f(y) ≥ (t1 + t2 )c = c

portanto f(z) ≥ c e B é um intervalo, isso prova que f é quase-côncava.

b Propriedade 22. Toda função monótona é ao mesmo tempo quase-convexa


e quase côncava.

ê Demonstração. Sejam f monótona não-decrescente e A = {x ∈ I | f(x) ≤ c}


dado x, y ∈ A e z ∈ [x, y] vale f(z) ≤ f(y) ≤ c portanto z ∈ A. A é intervalo portanto
f é quase-convexa.
Da mesma forma, seja B = {x ∈ I | f(x) ≥ c} dados x, y ∈ B e z ∈ [x, y] ,
c ≤ f(x) ≤ f(z) portanto c ≤ f(z) e B é um intervalo, portanto f é quase-côncava.
Sejam f monótona não-crescente e A = {x ∈ I | f(x) ≤ c} dado x, y ∈ A e z ∈ [x, y]
vale f(z) ≤ f(x) ≤ c portanto z ∈ A. A é intervalo portanto f é quase-convexa.
Da mesma forma, seja B = {x ∈ I | f(x) ≥ c} dados x, y ∈ B e z ∈ [x, y] ,
c ≤ f(y) ≤ f(z) portanto c ≤ f(z) e B é um intervalo, portanto f é quase-côncava.
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 22

b Propriedade 23. Seja f : [a, b] → R contı́nua e convexa tal que f(a) < 0 <
f(b). Então existe um único c ∈ (a, b) tal que f(c) = 0.

ê Demonstração. Existe c ∈ (a, b) tal que f(c) = 0 pelo fato de f ser contı́nua.
Suponha a < c1 < c2 < b com f(c1 ) = f(c2 ) = 0. Tomamos o intervalo [a, c2 ] podemos
escrever c1 = t1 a + t2 c2 e usando a propriedade de f ser convexa, segue que

0 = f(c1 ) ≤ t1 f(a) + t2 f(c2 ) = t1 f(a)

daı́ terı́amos f(a) > 0 o que é absurdo, então existe um único c com tal propriedade.

b Propriedade 24. f : I → R é quase-convexa ⇔ x, y ∈ I e t ∈ [0, 1] vale

f(t1 x + t2 y) ≤ max{f(x), f(y)}

onde t1 = 1 − t, t2 = t.

ê Demonstração. ⇒ .) Suponha f quase-convexa, então definimos c = max{f(x), f(y)}


como A = {x ∈ I | f(x) ≤ c} é um intervalo, então para qualquer z entre x e y tem-se
f(z) ≤ c, porém, todo z dessa forma pode ser escrito como z = t1 x + t2 y daı́

f(t1 x + t2 y) ≤ max{f(x), f(y)}.

⇐ .) Sejam x, y ∈ A = {x ∈ I | f(x) ≤ c} então A é intervalo pois dado z entre x e


y tem-se z = t1 x + t2 y e vale

f(t1 x + t2 y) ≤ max{f(x), f(y)} ≤ c

portanto A é um intervalo.

b Propriedade 25. f : I → R é quase-côncava ⇔ x, y ∈ I e t ∈ [0, 1] vale

f(t1 x + t2 y) ≥ max{f(x), f(y)}

onde t1 = 1 − t, t2 = t.

ê Demonstração. ⇒ .) Suponha f quase-côncava , então definimos c =


max{f(x), f(y)} como B = {x ∈ I | f(x) ≥ c} é um intervalo, então para qualquer
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 23

z entre x e y tem-se f(z) ≥ c, porém, todo z dessa forma pode ser escrito como
z = t1 x + t2 y daı́
f(t1 x + t2 y) ≥ max{f(x), f(y)}.

⇐ .) Sejam x, y ∈ B = {x ∈ I | f(x) ≥ c} então A é intervalo pois dado z entre x e


y tem-se z = t1 x + t2 y e vale

f(t1 x + t2 y) ≥ max{f(x), f(y)} ≥ c

portanto B é um intervalo.

b Propriedade 26. Seja f : [a, b] → R contı́nua, quase-convexa, cujo valor


mı́nimo é atingido em c ∈ [a, b].

• Se c = a então f é não-decrescente.

• Se c = b então f é não-crescente.

ê Demonstração.

• Mı́nimo em a. Dados x < y em [a, b] temos x ∈ [a, y] daı́

f(x) ≤ max{f(a), f(y)} = f(y)

logo f é não-decrescente.

• Mı́nimo em b. Dados y < x em [a, b] temos x ∈ [y, b] daı́

f(x) ≤ max{f(b), f(y)} = f(y)

logo f é não-crescente.

$ Corolário 7. Se f é quase-convexa e atinge mı́nimo em c ∈ (a, b) então f é


não-crescente em [a, c] e não-decrescente em [c, b], basta considerar as restrições
a esses conjuntos e aplicar a propriedade anterior.
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 24

b Propriedade 27. Seja f : [a, b] → R contı́nua, quase-côncava, cujo valor


mı́nimo é atingido em c ∈ [a, b].

• Se c = a então f é não-crescente.

• Se c = b então f é não-decrescente.

ê Demonstração.

• Mı́nimo em a. Dados x < y em [a, b] temos x ∈ [a, y] daı́

f(x) ≥ max{f(a), f(y)} = f(y)

logo f é não-crescente.

• Mı́nimo em b. Dados y < x em [a, b] temos x ∈ [y, b] daı́

f(x) ≥ max{f(b), f(y)} = f(y)

logo f é não-decrescente.

$ Corolário 8. Se f é quase-côncava e atinge mı́nimo em c ∈ (a, b) então f é


não-decrescente em [a, c] e não-crescente em [c, b], basta considerar as restrições
a esses conjuntos e aplicar a propriedade anterior.

b Propriedade 28. Seja f : [a, b] → R contı́nua. f é quase-convexa ⇔ existe


c ∈ [a, b] tal que f é não-crescente em [a, c] e não decrescente em [c, b].

ê Demonstração. f é contı́nua num conjunto compacto [a, b] então f assume


máximo e mı́nimo, digamos mı́nimo em c ∈ [a, b].
⇒). f é quase-convexa daı́ f é não-crescente em [a, c] e não decrescente em [c, b]
por resultado já demonstrado.
⇐ .) Seja A = {x ∈ [a, b] |f(x) ≤ l}, vamos mostrar que tal conjunto é um intervalo,
dados x, y ∈ A se x < z < y ∈ [a, c] nesse intervalo a função é não-crescente, logo
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 25

f(y) ≤ f(z) ≤ f(x) ≤ l. Se x < z < y ∈ [c, b], nesse intervalo a função é não-
decrescente portanto
f(x) ≤ f(z) ≤ f(y) ≤ l

No último caso x ∈ [a, c] e y ∈ [c, b], f(c) é mı́nimo então f(c) ≤ f(x) ≤ l e
f(c) ≤ f(y) ≤ l pois c é ponto de mı́nimo, se z = c a propriedade vale, se z 6= c então
z pertence a um dos intervalos (c, b) ou (a, c) daı́ a propriedade recaı́ nos casos já
demonstrados.

b Propriedade 29. Para cada n ∈ N seja fn : I → R uma função convexa tal que
∀ x ∈ I (fn (x)) seja convergente, então f : I → R definida como f(x) = lim fn (x) é
n→∞
convexa. O mesmo vale para funções côncavas, quase-côncavas e quase-convexas.

ê Demonstração.

1. Caso de funções convexas. Para cada n vale a desigualdade

fn (t1 x1 + t2 x2 ) ≤ t1 fn (x1 ) + t2 fn (x2 )

como o limite preserva a desigualdade, na passagem do limites temos

f(t1 x1 + t2 x2 ) ≤ t1 f(x1 ) + t2 f(x2 ).

logo f é convexa.

2. Caso de funções côncavas. Usamos procedimento similar a das funções conve-


xas. Para cada n vale a desigualdade

fn (t1 x1 + t2 x2 ) ≥ t1 fn (x1 ) + t2 fn (x2 )

como o limite preserva a desigualdade, na passagem do limites temos

f(t1 x1 + t2 x2 ) ≥ t1 f(x1 ) + t2 f(x2 )

3. Caso de funções quase-convexas. Para cada n vale a desigualdade


fn (x1 ) + fn (x2 ) + |fn (x1 ) − fn (x2 )|
fn (t1 x1 + t2 x2 ) ≤ max{fn (x1 ), fn (x2 )} =
2
novamente a passagem do limite implica
f(x1 ) + f(x2 ) + |f(x1 ) − f(x2 )|
f(t1 x1 + t2 x2 ) ≤ = max{f(x1 ), f(x2 )}.
2
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 26

4. Finalmente para funções quase-côncavas. Para cada n vale a desigualdade

fn (x1 ) + fn (x2 ) + |fn (x1 ) − fn (x2 )|


fn (t1 x1 + t2 x2 ) ≥ max{fn (x1 ), fn (x2 )} =
2
novamente a passagem do limite implica

f(x1 ) + f(x2 ) + |f(x1 ) − f(x2 )|


f(t1 x1 + t2 x2 ) ≥ = max{f(x1 ), f(x2 )}.
2

b Propriedade 30 (Desigualdade de Jensen). Seja f uma função convexa no


intervalo [a, b], (xk )n1 ∈ [a, b] e (uk )n1 então vale
P
n Pn
uk f(xk )  uk xk 
k=1 1
P
n ≥ f k=Pn
uk uk
k=1 k=1

se a função é côncava vale

P
n Pn
uk f(xk )  u k xk 
k=1 1
P
n ≤ f k=Pn .
uk uk
k=1 k=1

ê Demonstração.

1
$ Corolário 9. Se uk = tem-se se a função é convexa
n
P
n Pn
f(xk )  xk 
k=1
≥ f k=1
n n

Pn

X
n  xk 
f(xk ) ≥ nf k=1
k=1
n
se a função é côncava vale
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 27

Pn

X
n  xk 
f(xk ) ≤ nf k=1
k=1
n

X
n
Z Exemplo 10. Se Ak = π com 0 < Ak < π então
k=1

X
n
π
sen(Ak ) ≤ nsen( ).
k=1
n

π
Tomando f(x) = sen(x) vale que f 00 (x) = −sen(x) ≤ 0 para x ∈ [0, ] logo a
2
função é côncava e vale a desigualdade de Jensen com o corolário anterior

X
n
π
sen(Ak ) ≤ nsen( ).
k=1
n

Z Exemplo 11. Sejam A, B e C ângulos internos de um triângulo, mostre que



3 3
sen(A) + sen(B) + sen(C) ≤ .
2

Usamos o resultado anterior com n = 3 tem-se



π 3 3
sen(A) + sen(B) + sen(C) ≤ 3sen( ) = .
3 2

$ Corolário 10 (Desigualdade das médias). Ainda do corolário anterior tomando


xk = ln ak com a função convexa de lei f(x) = ex tem-se
P Q
X X Y
n n n n n
ln ak 1 ln ak 1 1
ln ak
e = ak ≥ n(e k=1 ) = n(e
n k=1 ) = n(
n ak ) n
k=1 k=1 k=1

logo
P
n
ak Y
n
k=1 1
≥( ak ) n
n k=1
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 28

valendo para a≥ 0, que é a desigualdade das médias aritmética e geométrica.

1
Z Exemplo 12. Vale que cos 2m
(x) + sen2m (x) ≥
2m−1
com m par.
Sejam x1 = cos2 (x), x2 = sen2 (x), f(x) = xm , vale que f 0 (x) = mxm−1 , f 00 (x) =
m(m − 1)xm−2 ≥ 0 pois m − 2 é par, portanto vale a desigualdade de Jensen

x1 + x2
f(x1 ) + f(x2 ) ≥ 2f( )
2
1 1
cos2m (x) + sen2m (x) ≥ 2 = .
2m 2m−1
Com m = 2 temos
1
cos4 (x) + sen4 (x) ≥ ,
2
se m = 4
1
cos8 (x) + sen8 (x) ≥ .
8

b Propriedade 31 (Desigualdade das potências). Sejam m > n e (ak )t1 uma


sequência de números não negativos então

P
t P
t
 (ak )m  m1  (ak )n  n1
k=1 k=1
≥ .
t t

ê Demonstração.

Z Exemplo 13. Determine o menor valor de a 6


+ b6 + c6 + d6 sabendo que
a + b + c + d = 4. Na desigualdade das potências tomamos m = 6, n = 1 e t = 4
chegando no resultado.

b Propriedade 32. Suponha que f, p sejam funções C2 (R) que possuam


CAPÍTULO 1. DERIVADAS 29

mı́nimo, tais que


f(x) = p(x) + g(x)f 0 (x) ∀ x ∈ R.

Se p(x) ≥ M ∀ x ∈ R então f(x) ≥ M ∀ x ∈ R .

ê Demonstração. f Possui mı́nimo, digamos em z0 , então neste ponto vale


f 0 (z0 ) = 0, logo
f(z0 ) = p(z0 ) + g(z0 )f 0 (z0 ) = p(z0 ) ≥ M.
| {z }
=0

Logo f(z0 ) ≥ M.

$ Corolário 11. Seja p um polinômio de grau n tal que p(x) ≥ 0 ∀ x ∈ R. Logo


o grau desse polinômio é par com an > 0, pois polinômio de grau ı́mpar não
possui mı́nimo. Nessas condições,

X
n
f(x) = Dk p(x) ≥ 0 ∀ x ∈ R.
k=0

Vale que
X
n
f 0 (x) = Dk+1 p(x),
k=0
logo
f(x) = p(x) + f 0 (x),

f é de grau par com coeficiente lider an > 0, pela identidade anterior, logo possui
um mı́nimo em z0 , onde f 0 (z0 ) = 0, com isso

f(z0 ) = p(z0 ) + f 0 (z0 ) = p(z0 ) ≥ 0.

Como querı́amos provar.


Algumas observações:
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 30

1. Polinômio de grau ı́mpar não possui minimo em R.


 
X
n  Xn−1 
k n
p(x) = a k x = x a n + ak xk−n 
 
k=0
|k=0 {z }
 
→0

com |x| → ∞ o termo marcado acima tende à zero. Se an > 0, xn .an → −∞


quando x → −∞, se an < 0 de modo similar. Logo polinômio de grau ı́mpar
não possui mı́nimo. Usamos aqui que n é ı́mpar.

2. Polinômio de grau par com an > 0 possui mı́nimo.


 
X
n  Xn−1 
p(x) = k n
a k x = x a n + ak xk−n  → ∞,
 
k=0
|k=0 {z }
 
→0

com x → ∞ ou x → −∞, então f(x) > M fora de um intervalo [−A, A], onde
o polinômio possui minimo por ser uma função contı́nua em um compacto.
É claro que se an < 0 o polinômio pode não ter mı́nimo, como o caso de
−x2 .

1.4 Aproximações sucessivas e método de Newton.

m Definição 10 (Contração). f : A → R é uma contração quando existe c ∈ [0, 1)


tal que
|f(y) − f(x)| ≤ c|y − x| ∀ x, y ∈ A.

$ Corolário 12. Toda contração é lipschitz, logo é uniformemente contı́nua.

Z Exemplo 14. Uma função f derivável com |f 0 (x)| ≤ c < 1 ∀ x é uma


CAPÍTULO 1. DERIVADAS 31

contração pois pelo TVM

|f(y) − f(x)| = |f 0 (t)||x − y| ≤ c|x − y|

para algum c entre y e x.

b Propriedade 33 (Ponto fixo das contrações). Toda contração f : F → F onde


F é fechado possui um único ponto fixo.

ê Demonstração.
Vamos primeiro demonstrar a existência do ponto fixo.
Seja a sequência definida como

x1 = f(x0 ), xn+1 = f(xn )

onde x0 ∈ F é arbitrário, vamos mostrar que sequência (xn ) definida dessa maneira
converge para um ponto a ∈ F tal que a = f(a). ∀ x, y ∈ F vale que

|f(y) − f(x)| ≤ c|y − x|

com c ∈ [0, 1). Tomando y = xn e x = xn−1 tem-se

|xn+1 − xn | ≤ c |xn − xn−1 |


| {z } | {z }
|an+1 | |an |

|an+1 | ≤ c|an |

logo pelo teste de D’Alembert a série

X
∞ X

lim sn = ak = xk − xk−1 = s
k=1 k=1

X
n
é absolutamente convergente. Tem-se que sn = xk − xk−1 = xn − xn1 por soma
k=1
telescópica.
lim sn = s = lim xn − x0 ⇒ lim xn = s + x0 = a

e vale que a ∈ F, pois f é fechado e cada f(xn ) = xn+1 ∈ F. Da identidade xn+1 = f(xn )
tomando o limite tem-se a = f(a) pois f é contı́nua.
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 32

Unicidade do ponto fixo. Suponha dois pontos fixos a e b então

|b − a| ≤ c|b − a| ⇒ (1 − c) |b − a| ≤ 0
| {z } | {z }
>0 ≥0

portanto deve valer |b − a| = 0, b = a e existe um único ponto fixo.

1.4.1 Método de Newton

b Propriedade 34 (Método de Newton). Seja f : I → R C1 com f 0 (x) 6= 0 ∀ x.


Definindo
f(x0 ) f(xn )
x1 = x0 − 0
, xn+1 = xn − 0
f (x0 ) f (xn )
onde x0 é algum valor inicial. Se (xn ) converge então seu limite é uma raı́z da
f(x)
equação f(x) = 0. Definimos N(x) = x − 0 então xn+1 = N(xn ).
f (x)
f(xn )
ê Demonstração. Passando o limite em xn+1 = xn − tem-se
f 0 (xn )
f(a) f(a)
a=a− 0
⇒ 0 = 0 ⇒ f(a) = 0
f (a) f (a)

onde usamos que f é C1 .

b Propriedade 35. Se f : I → R é C2 com f 0 (x) 6= 0 ∀ x, então para cada


ponto a ∈ intI onde f(a) = 0 existe δ > 0 tal que para qualquer ponto inicial
x0 ∈ J = [a − δ, a + δ] a sequência xn+1 = N(xn ) converge para a.
f(x)f 00 (x)
ê Demonstração. Derivando N(x) tem-se N 0 (x) = como vale f(a) = 0
f 0 (x)2
f(a)
então N 0 (a) = 0 e N(a) = a − = a.
f 0 (a)
Por f ser C2 segue que N 0 (x) é contı́nua, portanto dado c ∈ (0, 1) existe δ > 0 tal
que j = [a − δ, a + δ] ⊂ I com |N 0 (x)| ≤ c < 1 ∀ x ∈ J. Se x ∈ J então N(x) ∈ J, pois

|N(x) − N(a) | ≤ c|x − a| ≤ |x − a| ≤ δ


| {z }
=a

pelo TVM, portanto N : J → J é uma contração logo N(xn ) converge para um único
ponto fixo a ∈ J da contração N.
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 33

b Propriedade 36. Sejam f : I → R, I = [a − δ, a + δ] tal que

|f(y) − f(x)| ≤ c|y − x|

com c ∈ [0, 1). Se |f(a) − a| ≤ (1 − c)δ então existe um único x ∈ I com f(x) = x.

ê Demonstração.
f é contração , I é fechado, para que possamos usar o teorema do ponto fixo de
contrações basta mostrar que f(I) ⊂ I, isto é, x ∈ I implica f(x) ∈ I.
Se x ∈ I = [a − δ, a + δ] então |x − a| ≤ δ, o que implica por desigualdade triangular

|f(x) − a| ≤ |f(x) − f(a)| + |f(a) − a| ≤ c|x − a| + (1 − c)δ ≤ cδ + (1 − c)δ = δ

portanto f(x) pertence ao intervalo [a − δ, a + δ] = I e podemos usar o teorema do


ponto fixo das contrações, daı́ f possui um único ponto fixo.

Z Exemplo 15. Seja f : [0, ∞) → [0, ∞) com f(x) = 2 −x


−x
2 . f é uma contração.
− ln(2)2 2
e vale |f 0 (x)| ≤ 1, 20 = 1, 2 2 é
x
Derivando a função temos f 0 (x) =
2
crescente, portanto
ln(2) x ln(2)
< 2 2 ⇒ |f 0 (x)| = x < 1
2 2.2 2
portanto f é contração definida num conjunto fechado e com contradomı́nio igual
ao domı́nio, portanto podemos aplicar o teorema do ponto fixo, que nos garante
que tal função possui apenas um ponto fixo a, valendo

= a ⇒ 2−a = a2
−a
2 2

−a é raiz negativa da equação 2x = x2 . Agora utilizamos o método das aproximações


sucessivas para obter o valor de a com 8 algarismos decimais exatos, tomamos
x0 = 0
0
x1 = 2− 2 = 1
1
x2 = 2− 2 ≈ 0, 70710678
x2
x3 = 2− 2 ≈ 0, 78265402
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 34

x3
x4 = 2− 2 ≈ 0, 76247990
x4
x5 = 2− 2 ≈ 0, 76779123
x5
x6 = 2− 2 ≈ 0, 76636542
x6
x7 = 2− 2 ≈ 0, 76674421
x7
x8 = 2− 2 ≈ 0, 76664356
x8
x9 = 2− 2 ≈ 0, 76667031
x9
x10 = 2− 2 ≈ 0, 76666320
x10
x11 = 2− 2 ≈ 0, 76666509
x11
x12 = 2− 2 ≈ 0, 76666459
x12
x13 = 2− 2 ≈ 0, 76666472
x13
x14 = 2− 2 ≈ 0, 76666469

o valor com 8 algarismos decimais exatos é 0, 76666469, observe que precisa-


mos de bastante iterações para chegar nesse valor, apesar de termos tomado
uma condição inicial próxima. As contas foram feitas no site wolfram alpha
(http://www.wolframalpha.com).

b Propriedade 37. Seja I = [a − δ, a + δ]. Se f : I → R é C2 com

f(x)f 00 (x)
f 0 (x) 6= 0, | |≤c<1∀ x∈I
[f 0 (x)]2

f(a)
e| | ≤ (1 − c)δ então independente do valor inicial x0 ∈ I o método de Newton
f 0 (a)
converge para a única raiz x ∈ I de f(x) = 0.
f(x)
ê Demonstração. Primeiro vamos mostrar que N : I → R com N(x) = x −
f 0 (x)
f(x)f 00 (x)
é contração. Derivando temos N 0 (x) = logo pelo TVM temos que
[f 0 (x)]2
|N(y) − N(x)| ≤ c|y − x| ≤ cδ
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 35

Portanto N é contração, I é fechado , falta mostrar que N(I) ⊂ I. Temos também que
f(a) f(a)
N(a) − a = 0 portanto |N(a) − a| = | 0 | ≤ (1 − c)δ que iremos usar na próxima
f (a) f (a)
desigualdade. Dado x ∈ I, por desigualdade triangular temos

|N(x) − a| ≤ |N(x) − N(a)| + |N(a) − a| ≤ cδ + (1 − c)δ = δ

portanto N(x) ∈ I, assim N satisfaz todas condições necessárias para aplicação do


teorema do ponto fixo, portanto o método de Newton converge para a única raiz de
f, pois se houvesse mais uma N teria mais de um ponto fixo.

1
b Propriedade 38. Seja f : [0, ∞) → R com f(x) =
a+x
, a > 1.
Dado x0 > 0 fixo, a sequência definida como x1 = f(x0 ), xn+1 = f(xn ) converge
para a raı́z positiva da equação x2 + ax − 1 = 0.
−1
ê Demonstração. Usaremos o método de Newton. Vale f 0 (x) = ,
(a + x)2

1 < a ⇒ a < a2 ⇒ a < a2 + |{z} x2 = (a + x)2 ⇒


2ax + |{z}
≥0 ≥0

1 1
|f 0 (x)| = ≤ < 1.
(a + x)2 a
Portanto f é contração. Vale também que [0, ∞) é fechado e f(x) ∈ [0, ∞).
Daı́ podemos aplicar o teorema do ponto fixo. Existe um único valor c tal que
1
c= ⇒ c2 + ac − 1 = 0. Tal valor não pode ser negativo, pois a sequência é de
a+c
valores positivos.

Z Exemplo 16. Mostre que 1, 0754 é um valor aproximado com 4 algarismos


exatos da raı́z positiva da equação x6 + 6x − 8 = 0.
Tomamos f(x) = x6 + 6x − 8, vale f 0 (x) = 6x5 + 6 que possui sua única raiz
real em −1. Observamos que f(1) = −1 e f(2) > 0, logo existe raı́z em [1, 2] por
continuidade de f, aplicamos o método de Newton com x0 = 1.

x6n + 6xn − 8
xn+1 = xn −
6x5n + 6

x1 = 1, 083
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 36

x2 = 1, 07554

x3 = 1, 0754

no terceiro termo, já conseguimos uma aproximação com 4 dı́gitos , o método de


Newton converge "rápido".

b Propriedade 39. Seja f : [a, b] → R convexa, duas vezes derivável. Se


f(a) < 0 < f(b) então para qualquer condição inicial x0 ∈ [a, b] com f(x0 ) > 0
o método de Newton converge sempre para a única raiz x ∈ [a, b] da equação
f(x) = 0.

ê Demonstração. Como f(a) < 0 < f(b) e f é contı́nua então existe c ∈ (a, b)
tal que f(c) = 0, portanto f possui raı́z.
Vamos mostrar que a sequência (xn ) obtida com o método de Newton

f(xn )
xn+1 = xn −
f 0 (xn )

converge para uma raı́z de f, sendo que a condição inicial f(x0 ) > 0. Como f é duas
f(xn )
vezes derivável então f e f 0 são contı́nuas se xn → c então de xn+1 = xn − 0
f (xn )
temos pela passagem do limite e usando a continuidade que

f(c) f(c)
c=c− 0
⇒ 0 = 0 ⇒ f(c) = 0
f (c) f (c)
portanto o limite da sequência é a raiz.
A função f é contı́nua definida num compacto logo ela possui um mı́nimo, esse
mı́nimo é único e global pelo fato de f ser convexa, o mı́nimo é alcançado em
t ∈ [a, b], nesse ponto de mı́nimo a função deve assumir valor negativo pois vale
f(a) < 0, no intervalo [a, t] a função é não-crescente e no intervalo [t, b] a função
é não-decrescente, portanto x0 ∈ [t, b], pois f(x0 ) > 0. Por f ser convexa e duas
vezes derivável vale que f 00 (x) ≥ 0 portanto f 0 (x) é não-decrescente em [t, b] tem-se
f 0 (x) > 0.
Vamos provar por indução que f(xn ) ≥ 0 ∀ n. Para n = 0 o resultado vale, agora
supondo f(xn ) ≥ 0 vamos provar que f(xn+1 ) ≥ 0.
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 37

−f(xn )
Pela recorrência do método de Newton vale que xn+1 − xn = , pela função
f 0 (xn )
ser convexa tem-se que seu gráfico está sempre acima dos pontos da tangente f(x) ≥
f(a) + f 0 (a)(x − a) ∀ x, a disso segue que tomando x = xn+1 e a = xn tem-se

f(xn+1 ) ≥ f(xn ) + f 0 (xn )(xn+1 − xn ) = f(xn ) − f(xn ) = 0

portanto vale que f(xn ) ≥ 0∀ n por indução . Como f(xn ) ≥ 0 segue que f 0 (xn ) ≥ 0
pois os pontos xn pertencem todos ao intervalo [c, b] onde a função é não-decrescente.
−f(xn )
Como vale xn+1 − xn = 0 ≤ 0 então (xn ) é não decrescente, como ela é limitada
f (xn )
inferiormente, então ela converge, e converge para a raiz da função. Notamos que
não precisamos nos preocupar com f 0 (xn ) = 0 pois xn ∈ [c, b] o único ponto em que
a derivada se anula é no mı́nimo global t, que está fora desse intervalo.

Z Exemplo 17 (Cálculo aproximado de a 1


p .). Dados a > 0, p ∈ N consideramos
1
o intervalo I = [a p , ∞) a função f : I → R com f(x) = xp − a. Vale f 0 (x) = pxp−1 a
função de Newton N : I → R satisfaz

1 a
N(x) = ((p − 1)x + p−1 ).
p x
p
z }| {
a
N(x) é a média aritmética dos p números (x, · · , x}, p−1 ). Da desigualdade entre
| ·{z x
p−1
média aritmética e geométrica (M.A ≥ M.G) tem-se

a 1 1
N(x) ≥ (xp−1 )p = ap
xp−1

daı́ x ∈ I ⇒ N(x) ∈ I. Seja (xn ) com xn+1 = N(xn ) vale que

1
1
p−1 a
xn > a p ⇒ xp−
n >a p = 1 ,
ap
onde usamos racionalização, daı́

1 a
ap > 1
,
xp−
n
CAPÍTULO 1. DERIVADAS 38

portanto vale
a 1

1
< a p < xn
xp−
n
p
z }| {
a a
a média aritmética dos números (xn , · · · , xn , p−1 ) deve estar entre xn e p−1 , mas
| {z } xn xn
p−1
tal média é N(xn ) = xn+1 , daı́ segue que xn+1 < xn e a sequência é decrescente,
como a sequência é decrescente e limitada inferiormente ela é convergente.

Z Exemplo 18. No exemplo anterior, caso p = 2, temos que a sequência


1
 
a
definida por xn+1 = xn + , a > 0, converge, pois é limitada inferiormente
2 xn
e decrescente. Aplicando o limite lim xn = L > 0 na expressão anterior, segue que

1 a
L= L+ ,
2 L

multiplicando por 2L, temos


2L2 = L2 + a ⇒ L2 = a ⇒ L = a.

1 √
 
a
Então a sequência definida por xn+1 = xn + , a > 0, converge para a.
2 xn

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