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Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Escola de Serviço Social

Estado, Classe e Movimentos Sociais


Docente: Carlos Montaño

Discente: Renata Barbosa Gomes

Rio de Janeiro, 19 de outubro


de 2021.
1) Analise e compare as reflexões sobre “Estado” e “Sociedade Civil” em Marx e em
Gramsci

Karl Marx, foi um revolucionário alemão responsável pela doutrina comunista moderna, foi
um economista, filosofo, historiador, teórico político e jornalista. Para ele, o Estado
representa os interesses da classe dominante, ou seja, a burguesia, esse Estado surge das
relações de produção e expressa as relações sociais de produção. O Estado e a Sociedade
Civil estão próximos, em Marx sociedade civil é a produção e a reprodução da vida material,
sendo o Estado um produto da sociedade civil. Já que o Estado expressa os interesses dessa
classe dominante, que tem o controle dos meios de produção.

Assim, o Estado surge das relações de produção e não como algo criado a parte, enquanto a
sociedade civil é moldada por este modo de produção dominante que predomina
determinando os interesses que o Estado vai expressar, através das normas, leis,
autoridades e instituições, representando a classe burguesa e seu meio de produção e
reprodução na sociedade. Portanto, a classe mais poderosa é aquela politicamente
dominante.

A partir das determinações do tempo de Marx, o Estado era um instrumento de dominação,


devido à ausência de políticas públicas, sem o direito de manifestação, que apenas defende
os direitos da burguesia e com suas funções de privatizações, assim ampliando essa
dominação de poder e exploração. Valendo ressaltar, que na atualidade o Estado se amplia
tendo outras funções, mas o Estado não perde está função de garantir os direitos da
burguesia que é classe dominante.

Sendo um dos fundamentos da classe burguesa garantir através do Estado que a mais-valia
seja apropriada pelo capital, assim permanecendo essa manutenção de uma sociedade
capitalista. Marx foca nessa perspectiva materialista, na qual o Estado existe para legitimar
os interesses da burguesia, garantindo os privilégios dessa classe. Para se chegar nesse
pensamento, Marx analisou fenômenos importantes ao longo de sua vida, tal como as
formas de governos e a estrutura econômica, o desenvolvimento do sistema capitalista que
cresce explorando o proletariado levando cada vez mais a ascensão dessa classe burguesa
ao poder que prevalece até hoje.

O Estado tem o objetivo de impedir as guerras de todos contra todos, mas também
contribui para manter a dominação da classe burguesa sobre a classe trabalhadora, através
da opressão dos seus direitos e da exploração da força de trabalho. De modo, que o Estado
reproduz a ordem do capital por meio da ideologia e outras formas de repressão, assim
predominando seu poder e utilizando de suas formas para conter os avanços da classe
trabalhadora.

De modo, que para Marx, para se romper com essa ordem social é necessária uma
emancipação humana, por meio da práxis na qual o proletariado como elemento
fundamental para essa ação irá desenvolver uma nova ordem e romper com esse sistema de
reprodução de relações de poder hierárquico. Que causa ainda mais pauperização e
dominação de poder, refletindo em um sistema que se estabelece para o desenvolvimento
do capital, mas não o desenvolvimento de uma sociedade ao todo.

Já Gramsci, foi um autor que viveu o período do regime fascista de Mussolini e com isso
contribuiu para a compreensão da política, viveu em um cenário de transformações
econômicas e políticas, se tornando na atualidade uma obra atemporal, pois até hoje suas
obras tem grande relevância por evidenciar aspectos políticos e de dominações.
Evidenciando o contexto do séc. 19, escreveu as transformações que estavam ocorrendo de
um Estado ampliado devido ao desenvolvimento da política, enquanto em Marx o Estado
ainda era um mero produto da burguesia.

Gramsci em seus “Cadernos do Cárcere”, que escreveu enquanto estava preso, relatou o
cenário econômico em que vivia de guerra e fome que estava ocorrendo e ressaltava a
necessidade de uma transformação. Escrevendo sobre o cenário em que viveu de forma
cifrada para expressar seu pensamento sobre o regime, a sociedade, sua forma de
organização e a política sob uma ótica comunista e marxista. Além do mais, seu pensamento
era voltado para a necessidade de uma nova organização que fosse voltada para a
reinvindicação dos interesses por meio da consciência, enfatizada na práxis.

Para Gramsci, há duas esferas de sociedade, assim desenvolveu conceitos de sociedade civil
e política. A sociedade civil se caracterizava pela escola, igreja, meios de comunicações que
tinham o poder ideológico e de consentimento, uma esfera responsável pela hegemonia,
direção e consenso. Enquanto a sociedade política era caracterizada pela polícia, forças
armadas e forças de controle legal para o Estado, uma esfera do Estado que se compõe da
coerção e dominação.

De modo, que não é possível separar Estado e sociedade civil, pois ambos estão ligados
assim como a sociedade política e sociedade civil são componentes inseparáveis do Estado.
Assim, Gramsci reconhece que o Estado atua como instrumento essencial para expandir o
poder da classe dominante, tanto por meio da difusão dos valores e da visão de mundo
desta classe quanto por meio da força repressiva.
Nesse contexto, a difusão dos valores e da visão de mundo se dão através “Aparelhos
Privados de Hegemonia”, tendo como objetivo central a propagação de ideários políticos,
para assim conquistar o domínio sobre a sociedade. Sendo assim, como Gramsci destacou
em seu pensamento revolucionário, a discrepância entre os governantes e os governados,
uns detém do poder para governar, enquanto outros vão ser somente governados, dando
surgimento a sociedade de classes sob a hierarquia de uma classe sobre a outra.

Sob esse contexto, o Estado em Gramsci não se restringe apenas a força, mas se baseia em
um equilíbrio entre força e consenso. Dessa maneira, Gramsci desenvolve a Teoria do
Estado Ampliado que significa um Estado de consenso passivo, que não se mantem no
poder apenas pela coerção e a força, como ocorre em uma ditadura. Sendo assim, esse
Estado Ampliado é uma junção entre sociedade política e sociedade civil, na qual a
sociedade civil pode interferir na sociedade política, através do seu poder ideológico.
Entretanto, ambas sociedades evidenciam a existência de um Estado que se predomina pela
dominação de poder, já que através da sociedade política que se garante o domínio da
classe burguesa para se propagar no poder e o seu elemento de coerção.

Ademais, desenvolvendo outras duas teorias sobre o consenso. O consenso ativo é marcado
pela tomada de consciência das classes, o surgimento de um novo bloco e o protagonismo
da classe trabalhadora que irá tomar o poder. E o consenso passivo, que se estabelece pela
conservação produzida pelas relações de classe e dominação, se predominando a
hegemonia.

Todavia, se pode destacar que através da sociedade civil pelo uso dos meios de
comunicação nessa esfera, há a utilização desses meios para a propagação de ideias
conservadoras de consenso passivo e o compartilhamento de seus valores ideológicos,
como denominado os “Aparelhos Privados de Hegemonia”, tendo como objetivo central a
propagação de ideários políticos, para assim conquistar o domínio sobre a sociedade.

Nesse sentido, Gramsci assim como Marx, enfatiza da necessidade de tomada de poder da
classe trabalhadora. Gramsci destaca o dever de a sociedade civil vencer a hegemonia do
Estado, através da sua comunicação no sentimento moral e intelectual de mudar a
organização política enfatizando a necessidade do uso da práxis no consenso ativo. A
sociedade civil tem o poder de expressar sua visão de mundo e é através da práxis que pode
ocorrer transformação. Portanto, ambos os autores evidenciam as formas de poder e as
funções do Estado na sociedade capitalista e destacam a necessidade de transformações
nesse cenário.
2) Analise e compare as concepções de “Classe Social” em Marx e Weber

Segundo Marx, a classe social se funda a partir das relações sociais presentes em uma
sociedade, dependendo se o indivíduo controla os meios de produção ou vende sua força de
trabalho. Assim, a classe social para Marx, se estabelece na esfera produtiva e é definida se
o indivíduo vende sua força de trabalho ou se ele é dono dos meios de produção.

Nesse contexto, se estabelecendo uma sociedade capitalista na qual as classes sociais são
pautadas em propriedades, entre aqueles que controlam os modos básicos de produção
econômica, como a terra ou as fábricas e o acesso diferenciado a recursos a escassos
moldam a relação entre os grupos. Assim gerando as relações sociais e contraditórias de um
sistema capitalista, que se caracteriza como exploração e ambos os indivíduos dependem do
outro.

A partir disso, da dependência de ambos para existir esse sistema, que se funda as relações
entre burguesia e proletariado que se iniciou na sociedade feudal, na qual os camponeses
trabalhavam para os senhores feudais que eram os proprietários daquela terra trabalhando
de acordo com os termos ditados pelos proprietários de terra. Marx focalizou nessas duas
classes que começavam a emergir nesse sistema feudal, a burguesia e o proletariado.

A classe burguesa se caracteriza como uma classe dominante por ser a dona dos meios de
produção, assim levando ao sistema capitalista que temos na atualidade, e que prevalece
nestas mesmas condições de contradição entre burguesia e proletariado ambos
dependendo um do outro para a continuidade. Contudo, vale salientar que o proletariado a
partir do momento que toma a consciência de classe, começa a lutar para a sua libertação
de uma classe oprimida e a superação da exploração, mas o cenário é complexo para a
mudança desse sistema capitalista, o qual requer uma luta diária da classe trabalhadora
para vencer a desigualdade em que estão inseridos.

Assim, devido à está complexidade as lutas são gradativas, mas tem um peso simbólico
como forma de transformação dessa sociedade. Marx destaca que a crise é constitutiva do
capitalismo, desta forma implica nos meios que a classe dominante utiliza para se propagar
no poder, através do exército industrial de reserva que é caracterizado por um contingente
de trabalhadores desempregados, que consequentemente sofrem com a baixa de seus
salários, uma maior exploração, discursos meritocráticos, a precarização do trabalho e as
contrarreformas que diminuem os direitos trabalhistas. Logo, este é o cenário em que se
encontra a classe trabalhadora no século XXI.
Já Weber, destaca pontos opostos em que a riqueza da pessoa não é meramente definida
apenas na situação socioeconômica, mas em consideração as riquezas acumuladas por cada
pessoa. Assim, ele identificou três componentes que definiam a estratificação: classe, status
e poder, na qual as classes sociais são definidas a partir dessas estratificações e a qual grupo
os indivíduos pertencem.

Sendo assim, para Weber pode ser definida como classe rica, média e pobre, a riqueza
acumulada por cada indivíduo e dando-se a ideia que a riqueza dependeria exclusivamente
do indivíduo e o que o mesmo acumulou ao longo de sua vida. Desse modo, o grau de
funcionalidade de Weber retira a necessidade de uma superação da ordem, como também
é hegemônica fortalecendo a ideia de acumulação capitalista nas mãos de poucos. Como se
a riqueza e o status social como mencionado com sua ideia de estratificação social
dependesse de cada um.

A existência dessa classe para Weber, é classificada se o indivíduo tem poder e a habilidade
de uma pessoa exercer sua vontade sobre as outras, o patrimônio se possui algum meio de
produção e o status definido pelos bens que a pessoa tem, assim definindo sua classe social.

Portanto, a partir do ponto de vista desse autor, baseia-se em um pensamento hegemônico


e meritocrático o qual não propõe uma mudança na ordem social e é uma manutenção do
sistema capitalista e suas formas de perpetuar a desigualdade, como se a ascensão social
fosse de responsabilidade do indivíduo e sua posição social não o impossibilitasse de estar
na mesma posição social que outros.

3) Apresente os elementos principais que compõem o novo cenário mundial que


emoldura o Regime de Acumulação Flexível (Harvey), pós-1973.

No século XX, surge duas fases fundamentais do capitalismo: fase de expansão capitalista
produtiva comercial, que se estabelece pela articulação entre fordismo e keynesianismo,
mas que entra em crise em 1973. Este regime de acumulação de expansão do capital é um
modelo liberal, que incide em um conjunto de relações que articulam com o Estado, tais
como as leis trabalhistas que pacificam as relações de capital e trabalho, se caracterizando
por um Estado de bem-estar social.

O Estado de bem-estar social assegura alguns direitos básicos a população, pois é funcional
a expansão produtiva e comercial. Com a crise econômica de 1970, que ocasionou em altas
inflações e assim a crise também do liberalismo, o padrão keynesiano teve seu declínio
surgindo a necessidade da segunda fase do capitalismo: expansão financeira, dando início a
um modelo neoliberal, que é uma estratégia hegemônica do capital levando a um processo
de reorganização. Apresentando como objetivos reestabelecer o regime de acumulação por
meio de cortes nos direitos sociais, atingindo assim as leis e direitos trabalhistas para elevar
as taxas de lucros e o crescimento do capital.

A acumulação flexível, como é caracterizado esta expansão financeira, vem em contraponto


ao modelo anterior de produção de massa, uma vez que é caracterizado por esta
flexibilização da produção, onde desaparecem os grandes estoques e o controle está na
demanda. Assim, para que não haja a defasagem entre produção e consumo, Harvey vê
como solução incentivar o aumento do consumo. Diferente do modelo liberal que
estimulava a produção e o consumo, o modelo neoliberal tem como objetivo meramente o
lucro.

Este modelo neoliberal surge como forma de manter o Estado forte baseado na contenção
dos gastos e a reestruturação do capitalismo. Tendo como suas características fundamentais
a flexibilização, desregulamentação, privatização, ajuste permanente e a aniquilação dos
espaços democráticos, estas são suas formas que mercantilizam as condições de vida. O
neoliberalismo reduz a presença do Estado na economia centrado em um programa de
privatização de empresas estatais, desregulamentação trabalhistas e das políticas públicas.

Sob esse contexto, há a aniquilação dos espaços democráticos a exploração, exclusão e a


conservação dos espaços, assim uma forma que ocorre na qual há o forte apoio do Estado a
ditadura como forma de intervenção no meio social e conter os avanços democráticos que
utilizam dos movimentos sociais como porta voz. Desse modo, este modelo funciona
reduzindo os custos com o social, para maximizar os lucros do capital, por conseguinte,
ocasionando na terceirização, no desemprego, impulsionou o trabalho precário e parcial,
ocasionando na diminuição dos custos de vida desse proletariado que irá diminuir também
a sua demanda por consumo.

Tais aspectos refletem em problemas percebidos na atualidade, pois o projeto neoliberal


aprofunda ainda mais a crise, representando a precarização das condições de vida, sendo
uma crise que o capitalismo não sai mais, já que é autodestrutivo, destruindo as condições
de vida na sociedade e no mundo. Já que o neoliberalismo atende meramente as
necessidades do capital, apresentando como seu tripé o combate ao trabalho, a
reestruturação do trabalho e a contrarreforma. Intensificando cada vez mais a crise em que
estamos inseridos, devido ao baixo consumo e por ser um modelo que utiliza das
privatizações para ganhar mais.

Esse Estado que invés de garantir e responder as políticas sociais e os direitos fundamentais
da sociedade, intervém apenas no capital bancário. Utilizando-se do terceiro setor para
responder as questões sociais, mas que cumpre sua função na implementação de políticas
neoliberais, assim o lugar ocupado pelas políticas sociais hoje é a funcionalidade ao capital.
Assim, ressaltado, cabe criticamente analisar que esse Estado incentiva a população se auto
prover como único responsável pelo seu sucesso, através da ideia do empreendedorismo,
utilizando-se de sua força de vontade para vencer a crise econômica e o desemprego para
sua ascensão na vida, tal abordagem utilizada no contexto atual de pandemia do covid-19.

Nesse contexto, o Estado utiliza-se da propagação dessas ideias meritocráticas para


aniquilar ainda mais os direitos trabalhistas, na qual o trabalhador não é mais o empregado,
é dono do seu comércio e seu próprio patrão, dando-se a ideia que é um parceiro não mais
um empregado. Dessa forma, vale mencionar a propaganda da Rede Globo, VAE de 2021,
que diz: “A crise vem para nós fortalecer, tudo vai passar você vai ver...”, incentivando a
população que através de sua criatividade e força de vontade vai enriquecer, através de sua
mentalidade empreendedora e vai ascender a classe trabalhadora a um novo patamar.
Entretanto, esse discurso empreendedor tem fortalecido o trabalho informal, a
concorrência, a desregulamentação dos direitos trabalhistas, assim o Estado não sendo mais
o responsável que deveria garantir mínimas condições de vida a população. Agora o papel
da população é ascender para vencer a crise e o desemprego, dando a esse exército
industrial de reserva como denominado por Marx, a responsabilidade por seu futuro, já que
o sistema lhe “oferece” oportunidades para o sucesso.

Portanto, o cenário atual é permeado por estes ideais meritocráticos, na qual o objetivo é
apenas o lucro assim intensificando a desigualdade a pauperização, a crise na política
brasileira vai mais além do que a crise econômica, mas também uma crise na democracia,
nas quais com o contexto atual neoliberal intensificam a ausência de direitos e o lugar de
inferioridade da classe mais pobre na sociedade, que aos poucos está sendo reprimida,
devido a degradação da democracia.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

Montaño, Carlos. Terceiro Setor e Questão Social. Crítica ao padrão emergente de


intervenção social. Cortez, São Paulo, 2002.

MONTAÑO, Carlos e DURIGUETTO, Maria Lúcia. Estado, Classe e Movimento Social. Cortez,
São Paulo, 2010.

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