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Carlos Gonzalez
"Em alguns casos, o problema não começa pelas mamadas "muito curtas", mas pelo peso
"muito baixo". No mundo há pessoas de todos os tamanhos, e qualquer manhã, quando vamos
comprar pão, cruzamos com pessoas que pesam 50 kg e outras que pesam 100 kg. Você
realmente acha que essas pessoas pesavam o mesmo quando tinham 3 meses? Por que é tão
difícil aceitar as diferenças no peso dos filhos?
'Tenho um bebê de 3 meses que é amamentada. Até agora, ela vinha ganhando peso bem,
200 ou 250 g por semana. Duas semanas atrás, eu a levei ao pediatra e quando ele a pesou só
tinha engordado 80 g. Ela nasceu com 3200 g e agora está com 5820 g. A pediatra
recomendou uma "ajuda", mas quando eu dou a mamadeira, ela recusa. Também comprei
outros bicos, porque ela não aceita a chupeta, ela continua não aceitando, começa a chorar e
passa até quatro ou cinco horas sem mamar no peito; tentei colocar no leite um pouco de
papinha e dar com a colher, mas ela também não quer. Ela só quer saber de mamar. Mas eu
não posso continuar assim, estou preocupada com saúde dela, pois não ganha quase peso e a
pediatra diz que ela está abaixo da curva.'
Outros gráficos não usam percentis, mas médias e desvio padrão. Nesses gráficos aparecem,
da base ao topo, cinco linhas que correspondem aos números -2, -1, média, +1, +2 do desvio
padrão. Nós pediatras falamos com intimidade sobre esses gráficos, como se fossem parte da
nossa família. Então, dizemos coisas como "a altura está em menos um, mas o peso em
menos dois". A propósito, dezesseis por cento das crianças saudáveis estarão abaixo do
"menos 1", enquanto que dois por cento estarão abaixo do "menos dois".
Coloquei no nosso gráfico o peso de três bebês fictícios da mesma idade. Adela está com peso
totalmente normal, embora apenas seis por cento das meninas nessa idade pesem mais. Ester,
apesar de ter 1,5 kg a menos que Adela, também tem peso normal, mas 85 por cento das
meninas da sua idade têm peso maior que o dela. Não há como dizer, de nenhuma forma, que
Ester tem "baixo peso" ou com "a curva ruim"". É um erro comum querer que todas as crianças
estejam acima da média. Metade das crianças, por definição, estará abaixo do percentil 50.
E Laura? Ela está abaixo da última curva e muitas vezes isso se interpreta com "está com
baixo peso". Mas atenção: a última linha é a do percentil 3; 3% das crianças saudáveis está
abaixo. Essa linha não é uma fronteira que separa as crianças saudáveis das crianças doentes,
mas um sinal que diz ao pediatra: "Cuidado, olhe bem a Laura porque provavelmente ela não
tem nada, mas pode ser que esteja doente" Como o pediatra distinguirá esses 3% de crianças
saudáveis que estão abaixo da linha dos que estão com pouco peso por causa de uma
doença? Bem, para isso ele estudou medicina.
Eu tenho insistido muito que vinte e cinco por cento das crianças saudáveis estão abaixo do
percentil 25. Porque o gráfico foi feito pesando muitas centenas ou milhares de crianças
saudáveis.
Naturalmente, se um bebê nasce prematuro, com síndrome de Down, com alguma cardiopatia
grave, ou foi internado durante semanas por causa de uma tremenda diarreia, seu peso já não
se usa para calcular a média dos gráficos de peso normal Pela mesma razão, se o seu bebê
tem algum desses problemas ou outros similares, seu peso provavelmente não irá se encaixar
nesses gráficos. O fato de uma criança com doença crônica (ou que recentemente teve alguma
doença aguda) estar com "baixo peso" não é por não comer, mas porque esteve doente. Forçá-
lo a comer não vai ajudar a curá-lo; vai apenas fazê-lo sofrer e vomitar. Agora, adicionamos ao
gráfico imaginário mais dois pesos de meninas imaginárias.
No topo está a Tâmara; seu peso, como você pode ver, está entre os percentis 90 e 97. Muitos
irão dizer que ela está "seguindo a curva".
A linha mais abaixo mostra o peso de Marta. Vemos que num determinado momento ela
ultrapassou o percentil 50, mas depois ela se aproximou do percentil 10. O que houve com
Marta? Provavelmente nada. Claro que se a curva se modificar muito rápida ou abruptamente
(de forma muito íngreme), o pediatra deveria olhá-la com carinho para ter certeza de que não
há nenhum problema. Mas provavelmente não irá encontrar nada. Simplesmente, porque
gráficos de peso não são caminhos para serem seguidos, mas representações matemáticas de
um complexo sistema de estatísticas. As curvas e os percentis correspondentes não
representam o ganho de peso de uma criança em particular e o ganho de peso de uma criança
não tem que seguir nenhuma dessas linhas. O próximo gráfico ilustrará melhor.
Com o propósito de colocar nossa marquinha na história da pediatria, ao invés de usar um
gráfico americano ou espanhol, decidi usar um gráfico próprio (o primeiro gráfico virtual, uma
vez que foram usados somente pesos de bebês fictícios). Começamos pesando duas meninas
durante o primeiro ano e obtivemos as duas linhas grossas.
Calculamos a média dessas duas meninas e obtivemos a linha mais fina que está no meio.
Uma dessas meninas começou acima da média e depois passou a ficar abaixo, a outra
começou abaixo e depois subiu. Nenhuma delas seguiu a média. Deveríamos dizer que essas
meninas têm problemas nutricionais por não terem "seguido a curva"? Claro que não. A média
é que não segue a "curva" dessas meninas.
Claro que gráficos de peso não são desenvolvidos usando apenas duas meninas, mas
centenas. Pode imaginar como as coisas podem se complicar?
Por que o crescimento de um bebê amamentado é tão diferente de um que toma mamadeira?
Não temos muita certeza, mas em todo caso, não é por falta de alimento. Durante o primeiro
mês, quando só tomam leite, bebês amamentados pesam o mesmo ou mais. Entre seis e doze
meses, quando tomam papinhas além do leite, bebês amamentados pesam um pouco menos.
Se fosse verdade a frase "o peito já não sustenta" (o que é uma grande bobagem uma vez que
o leite materno alimenta mais que a mamadeira e mais que as papinhas), a criança ficaria com
fome e comeria mais papinha e consequentemente ganharia o mesmo peso do bebê de
mamadeira. A diferença é mais profunda; por alguma razão, leites artificiais levam a um padrão
de crescimento que não bate com o padrão de crescimento do bebê amamentado.
Na primeira edição deste livro, eu escrevi: "Nós não sabemos quais consequências pode ter
esse crescimento excessivo". Agora já sabemos. Muitos estudos (4,5) demonstraram que
bebês que foram amamentados por menos de seis meses têm taxas mais altas de obesidade e
têm mais chances de apresentar sobrepeso e obesidade entre os 4 e os 6 anos.
Certamente não é "normal" (no sentido de "comum") que um bebê não ganhe nada de peso
entre 4 e 8 meses. Para descobrir se além de pouco comum é também patológico, é preciso
considerar outros dados, entre eles os exames que prudentemente pediu o pediatra para ter
certeza que o bebê não está doente. Mas se nada for detectado, é melhor esperar
pacientemente "é inapetente e ponto". Especialmente nesse caso em que também não é
comum pesar tanto aos quatro meses; ela estava praticamente no percentil 95. A altura aos
oito é grande, mais que a média.
Todos os exames foram normais e aos 13 meses essa menina estava pesando 8 kg e
continuava sem querer comer. Parece que ao invés de manter um lento e constante ganho de
peso, ela ganhou todo seu peso nos primeiros 4 meses e depois parou de ganhar.
Existe um ritmo de crescimento especial que geralmente leva os pais à loucura, chama-
se "atraso constitucional do crescimento ". É apenas uma variação do normal, não uma
doença. São crianças que não seguem nenhum gráfico; elas têm a sua própria curva de
crescimento. Elas nascem com peso normal e crescer normalmente durante uns meses. Mas
em algum momento entre o terceiro e o sexto mês elas estacionam e começam a crescer
lentamente, tanto em peso como em altura. Mas, isso sim, seu peso é adequado a sua altura.
O pediatra pode pedir exames, mas tudo estará normal. Eles ficam no limite ou fora dos
gráficos por dois anos, mas por volta dos dois ou três anos eles começarão a crescer mais
rápido até atingir uma altura final completamente normal e são adultos de estatura mediana.
Isso é uma característica hereditária e pode ser muito tranquilizante quando as avós finalmente
admitem que o pai ou o tio "também era muito miúdo no início e o pediatra vivia dando
vitaminas", mas no final de tudo ele cresceu. Veja um típico exemplo:
'Minha filha tem dezoito meses e, felizmente, ainda mama no peito apesar dos comentários
negativos de 99% das pessoas. O problema é que desde os 4 meses, quando eu voltei a
trabalhar, ela não come bem. Ela começou a perder peso e agora está com 73,2 cm e 8.690 g.
Ela fez exames e está tudo normal.'
Aos dezoito meses, de acordo com os gráficos americanos antigos, uma menina no percentil 5
deveria ter 8.920g e 76 cm. Entretanto, para uma menina de 73cm, o peso está acima do
percentil 25. Ela foi ao endocrinologista e o hormônio do crescimento está normal. Então, tudo
que se tem a fazer é esperar alguns anos.
Logicamente, uma criança que cresce tão devagar come ainda menos que as outras crianças.
(1) Dewey, K. G. et al. Growth of breast-fed infants deviates from current reference data: a pooled analysis of
US, Canadian, and European data sets.Pediatrics 1995; 96: 495-503.
(2) WHO Working Group on Infant Growth. An Evaluation of Infant Growth. Document WHO/NUT/94.8, OMS,
Geneva, 1994.
(3) Dewey, K. G. Growth patterns os breastfed infants and the current status of growth charts for infants. J Hum
Lact 1998; 14: 89-92.
(4) Von Kries, R. et al. Breast feeding and obesity: cross sectional study. BMJ 1999; 319: 147-50.
(5) Grummer-Strawn, L. M. and Mei, Z. Does breastfeeding protect against pediatric overweight? Analysis of
longitudinal data from the Centers for Disease Control and Prevetion Pediatric Nutrition Surveillance System.
Pediatrics 2004; 113: ee81-86.
FONTE: GVA
Para fins de informação, seguem as novas curvas de crescimento da OMS (2007) para
crianças de 0 a 5 anos: