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LEVI CARNEIRO
•
DO
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POR
M. A. MACAREL.
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Professor da Cadeira de Direito
Administrativo de Paris.
TRADUZIDOS EM VULGAR
PET.O
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KA. JTfp, IMPARCIAL DE ï,. U
1842. |
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VI
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DE
DIREITO POLITICO.
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TITU.L
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C A P I T U L O 2°
D o ESTABEIXECIMENTO BAS S0CIEDADE5 CIVIS.
33@$&©e> 33»
DA CONSTITUIÇÃO POLÍTICA
Do PODER LEGISLATIVO.
§ I ° DlFINIÇAÕ DE LEI.
5 4 ° E F F E I T O DA S LEIS
Do P O D E R EXECUTIVO E M G E R A L .
TITULO 2*
Da Soberania.
Do que precede fácil he concluir que a soberania he a reu-
nião de todos os poderes sociaes : he a omnipotencia humana ;
ou em outros termos hï o direito exlusivo de mandar na socieda-
de civil, a fim de conseguir o fim social , que he a salvação do
estado , e a felicidade commum dos seos membros.
O Soberano he a pessoa publica , à quem está confiado o
exercício deste direito.
Existe porem outra soberania , que he a de Deos.
De data anterior às convenções são os direitos e deveres ,
o mal, e o bem, o vicio, e a virtude.
Estes direitos , e deveres sào prescriptos pela iei natural,
obra do mesmo Deos, lei reconhecida por todos os homens ,
proclamada por todos os sábios como o typo necessário de todas
as iri5tituiçoens humanas , lei que não se pode modificar , e nem
mudar, sem mudar ao mesmo tempo o destino moral do ho-
mem»
Por tanto os verdadeiros alicerces da ordem moral » e so-
c i a r v - ^ 6 f Deos fordo lançados ; logo só elle he o verdadeiro
soberano.
Mas dotando Deos ao homem da razão , e do sentimento
do justo , deu-lhe o poder necessário para estabellecer os meios
conservadores dos seus direitos naturaes , e este poder he que
os homens chaniaõ soberania.
Por tanto ha duas soberanias huma Divina, que só a Deos
pertence , e cuja vontade he revelada pelas leis naturaes : e ou«
tra humana , que reside nas sociedades politicas , e cuja vonta-
de se manifesta pelas leis que estas taes sociedades dedusem do
direito natural, a fim de legislarem o que deve manter a ordem
moral e social estabellecida por Deos mesmo.
A difiniçaõ que dei da soberania humana demonstra assaz
o que a constitue : indaguemos agora qual he a sua fonte immé-
diat» , e ao depois veremos si elli he aliecaVel , edivizivel.
-&&®&&G
CAPITULO i °
DA. FONTE WMEDIATA DA SOBERANIA.
C A P I T U L O 2°
DA INALIENABILIDADE DA SOBERANIAI
CAPITULO 3 e
DA DIVIZIBILIDADE DA SOBERANIA.
Do Governo,
Entende-se algumas vezes por governo , o corpo , ou o in-
divíduo , à quem em hum estado se confia o poder executivo : e
lie neste sentido que se toma esta palavra , quando se falia do
governo em contraposição dos outros corpos da nação.
Mas também muitas vezes estas palavras, constituição ,
governo , se empregão para exprimir a mesma idéia , isto he a
maneira porque- a soberania he exercida em cada estado ; e n'es-
te sentido he que nôs servimos d'ella agora.
Governar, segundo a intelligencia que dou aqui à esta
palavra he exercer a autoridade suprema.
Ora em todo o governo existe hum principe, como chefe
vizivel da sociedade ; este principe he a pessoa, ou pessoas, que
estão encarregadas do poder executivo. Assim que he fácil de
eomprehender a differença que ha entre sobei'ano, e principe : o
primeiro faz as leis , e o outro as executa.
Povo h e , depois do príncipe, todo o resto da nação.
O governo foi instituído para garantir a felicidade da nação;
e os homens revestidos da autoridede devem sempre usar d'ella
em pró da mesma nação, e nunca dos seos interesses particulares.
Aristóteles dà por base de todos os governos regulares a
moral, a qual he , segundo entendo , a justiça, a liberdade, e
a igualdade politica. Elle quer que todo o governo seja estabel*
lecido para utilidade não dos governantes , mas dos governados.
Conforme Cicero he falso que a republica não possa ser gover<
nada sem os soccorros da injustiça , mas ao contrario he de eter-
na verdade que ella não pode ser governada sem a mais rigoroza
justiça.
Taes saõ pois os deveres geraes de todo o governo para
cora o povo que rege.
Nas ultimas classes do povo da sociedade civil acha-se tam-
bém a plebe.
Entende-se por esta palavra , os indivíduos que naõ exer-
cendo industria regular, e só tendo hábitos viciosos, e custu-
mes grosseiros , estaõ privados dos benefícios da educação pri-
5. »
<#»a8<^
maria. O devei do bom governo he esforçar-se a fim de dimi-
nuir-lhe o numero favorecendo o derramamento das luzes, e
propondo leis justas que animem o desenvolvimento de todas as
faculdades humanas. Estes indivíduos merecem com mais ra-
zão o nome de plebe, quando se reúnem tumultuariamente a
fim de perturbarem a ordem publica , e offenderem as leis.
Entre o povo em massa , e a plebe que se distingue pelos
caracteres que acabei de referir, achão-se os cidadãos , os quaes
sao aquelles membros do estado que gozaõ dos direitos politieos ,
isto he que tomaõ parte seja por que modo fôr no governo do
paiz.
Debaixo d'esté ponto de vista , o resto do povo se com-
põem de particulares , de indivíduos , que contem em si o ger-
men da qualidade de cidadão , mas que naõ saõ admittido? a ex-
ercerem os seos direitos.
Só as leis constitucionaes he que crião os cidadãos : ellas
os formão, concedendo-lhes o direito de votar sobre os negócios
políticos , quer se tracte de concorrer para a nomeação das au-
toridades , quer os chame a lei para exercer qualquer parte dos
poderes sociaes.
Interesse, e capacidade : taes sao aqui as condiçoens que
exigem a. T^at^yej.a das cousas , e a experiência dos séculos.
Quem naõ tem interesse ha republica naõ deve ser admittido a
deliberar sobre ella : d'aqual também devem ser arredados aquel-
les a quem o vicio ou a fraqueza natural, ou a falta de luzes inca-
pacitao de appreciar as necessidades do estado social.
Todo o governo deve disvelar-se por conhecer a necessi-
dade de augmentar o numero dos cidadãos. A equidade lhe im-
põem este dever : mas a salvação publica exige que elle empre-
gue n'isto a maior prudência , e proceda gradualmente : este he
hum. dos problemas mais difficeis da arte social. Cada passo
nesta estrada modifica o principio da constituição do estado.
—v. ^-&^s^)WB^^$-
CAPITULO io
Divizaõ DOS GOVERNOS.
§. i ° DA DEMOCRACIA.
(x) Em sentido próprio , republica quer dizer cousa publica e entaõ ton<
Tem à todos os estados , qual quer que seja a forma do seu governo.
se possa reunir com facilidade , e onde cada cidadão possa co-
nhecer facilmenta todos os mais.
He de mister grandíssima simplicidade de costumes que
previna a muítidco dos negócios, e a:> discussões espinhosas.
Alem disto , he necessária muita igualdade nas classes , e
nos haveres; sem o que a igualdade nosdireiíos, e na autori-
dade não poderia subsistir por muito tempo.
Emfim he mister que nao haja luxo , ou que este seja mui
diminuto ; por que o luso ou he o effeito das riquezas , ou as
torna necessárias : o luxo corrompe ao mesmo tempo o rico , e o
pobre , a hum pela posse , a oulro pelo desejo : o luxo vende a
pátria àmolleza , e á vaidade ; tira do estado todos os seus cida-
dãos , e os sugeita huns aos outros-
Devo acrescentar que não ha governo que esteja tam su-
jeito à guerras civis , e a commoçoens intestinas : que não ha
nenhum outro que tenda tanto , e tam conlinuadamente a mu-
dar de forma , e nem que requeira mais vigilância , e coragem
para manter-se.
Emfim esta forma de governo suppoem nos homens tanta
virtude, tanta força, e tanta constância, que com toda a ra-
são se duvida si pode convir-lhes.
O abuso deste governo chama-se ochlocracia, ou dema-
gogia , a qut>V apprrrece tjuanrio todo o mundo quer governar , e
ninguém obedecer.
§ 2Ô DA ARISTOCRACIA.
3â@§&©9 33»
Dos GOVERNOS MONARCHICOS,
§ 1 ° DA MONARCHIA SIMPLES.
3
§. 3 Do DESPOTISMO.
5 5 ° DA MONARCHIA ELECTIVA.
Do GOVERNO REPREZENTATIVO.
•
Dos GOVERXOS FEDERATIVO;.
S-r
C A P I T U L O 2°
#
Entende-se aqui por garantia a segurança estabellecida
para cumprimento do dever de fazer , ou de deixar gozara al-
guém de hum direito determinado.
Assim que este dever suppoem necessariemente hum di-
reito correspondente.
Vou por tanto indagar quaes são os direitos ou interesses
privados para os quaes os homens podem legitimamente pedii
«#>49^
garantia , á sociedade , e à aquelles que a regem , e indagarei
depois qual he a distribuição dos poderes sociaes mais azada
para dar-lhes estas garantias.
Ora como o poder publico impede que estejamos conti-
nuamente expostos ás aggressões, e ás violências de outrem ;
como elle tende a preservar de todo e qualquer attentado particu-
lar , as nossas pessoas, os nossos bens, a nossa industria, e o
exercício razoável das nossas faculdades , em summa, como o
poder publico he nosso protector , e sem que elle tãobeni esti-
vesse seguro , não poderia cumprir este dever , indagarei junta-
mente como se poderá assegurar esta peifeita obediência , e
este íespeito inviolável, que são os penhores da tranquiilidade ,
e da felicidade do estado social.
Fallarei por tanto das garantias individuaes , ou privadas,
e das garantias publicas : a reunião de humas ; e outras forma
as garantias sociaes,
§ i ° DAS GARANTIAS PRIVADAS.
N° í ° DA SEGURANÇA PESSOAL.
,»
<#53<§>
da natureza. Elle os consome para manter ou melhorar a sua ex-
istência ; e si ha sido taõ hboriozo ou hábil, taõ feliz ou eco-
nômico , que ten In produzido alem do que pode ou deve con-
sumir , guarda o excedente.
Em huma sociedade que vai medrando , os producios
assim accumulados, tomão différentes formas : alguns ficão taes
quaes o trabalho os obteve ou modificou , e segundo os seus di-
versos U20S , elles sechamão, victualkas, combustíveis , vestuá-
rios , moveis, utencilios , machinas. &
Por trocas destes productos, cada productor adquire os
que não erãoimmediatamente seus, e nem lhe pertencião. Bem
de pressa se estabellece huma espécie que serve de medida com-
muai a todas as mais , e cuja troca e accumulaçaõ são mais com-
modas. Alguns ate se dispensa de accumular , por que cedem
vantajozamente o seu uzo o aquelles que a empregão em repro-
duzir , e rezervaÕ partes periódicas nesses productos fu-
turos.
Em fira, tractos de terra , ja productivas , ou susceptíveis
de cultura, cobertas ou por cubrir de habitaçoens , entrão n'es-
te systema geral de permutas.
Fundos territoriaes , rendas, e lucros pecuniários, som-
mas de dinheiro, productos manufacturados , ou naturaes , taes
são as principaes formas debaixo das quaes hum homem possue
aquelies dos fructos do seo trabalho , que não consome, e
accumula.
Todos estes productos seja qual fôr a forma que haja o to»
rnado na accumulaçaõ, são riquezas, berus, capitães, pro-
priedades.
Rezervar este ultimo nome só aos domínios territoriaes
he empregar huma linguagem perigoza , e inexacta ; todos os
gêneros de propriedade tem a mesma origem : todos são igual-
mente invioláveis.
Para garantir , e dar a ultima de mão ao systema geral
das propriedades, as leis determinarão o modo , e as condiçoens
das permutas, das acquiziçoens, das transmissoens , e suc-
cessões ; de sorte que quazi que não existe couza alguma mo-
vei ou immovel, e d'algum valor, cujo proprietário se não pos-
sa assignar
Este systema pelo qual a ordem social se tem des-
envolvido , e apperfeiçoado he hoje o mais estreito dos laços que
unem ântro si os habita nées de hum mesmo paiz , e au-
de diversos.
A propriedade funda a independência , por que o medida
que oboinem accumula efecunda os fiuctos do seu trabalho ,
mais dispõem das suas faculdades pessoaes, íizicas , e moraes ,
desprende-se do jugo das vontades particulares dos outros ho-
mens , e si poem em estado de obedecer somente a? leis geraes
da sociedade. Por instinctu, ou reflexão , todos aspiramos
chegar ã esta meta , e posto que seja impossível que o maior
numero a alcance , mais sabia , e mais prospera he aquella socie-
dade em que se daõ mais passos para isso.
Por tanto he natural que aquelles que se teem tornado pro-
prietários dezejem que os seus bens estejão seguros.
Naõ ha pessoa alguma â excepçaõ dos ladroens de profis-
são que não peça a repressão dos roubns particulares, e áisso
se inderessão innumeraveis leis.
Ora não he de crer que ao passo que se tomavão medidas
tam vigorozas , e justas contra estes attentados se tivesse queiido
conferir á autoridade publica o direito de coromettel-GS impu-
nemente.
As palavra propriedades particulares dizem assaz _me as
couzas por ellas indicadas nao estão á disposição dos poderes
públicos. •*►
Por tanto á este respeito o princpio primordial he que a
propriedade he inviolável , e que si ella he util ao estado , o
estado não pode exigir o seu sacrifício sinão quando este interes
se fôr ligitimamente provado , e o proprietário plenamente in
demnizado.
O moíivo que reprova esta espécie de espoliação se appl*
ca a todas as mais que igualmente respeitão a propriedade , por
exemplo . as bancarotas publicas, as alteraçoens de moeda ,
os impostos excessivos . ou mal repartidos , e os empréstimos
públicos.
I o Quanto as bancarotas , si o poder supremo centrahe
dividas para com os particulares, como se julgará dispensado
de as pagar , elle , á quem corre obrigação de empenhar todos
os seus esforces em fazer cumprir todas as mais obrigaçoens ?
Esta necessidade rezulta não só das maissimplices nocoens da
equidade natural , sinão lambem dos perigos inhérentes á todí>
a deslealdade.
#>55#>
Oatfá fraude não menos perigoza fora alterar o valor da
moeda , ou o que vem a ser o mesmo , dar curso forcado a hum
■■signal, que não tenha vaiar intrínseco. O papel seja qual fôr
o seu abonador, nunca será huma moeda, e no monento em
que por qual quer que seja a razão elle se não pode trocar á
vontade, e sem prejuízo pela moeda } cuja he reprezentante, a
força empregada para obrigar o povo a acceitala em troca de
valores reaes , he hum roubo de mio armada , tanto mais odio
so , quanto a arma, que o protege , he huma lei.
3 c Toda a associação suppoem despezas communs , para as
quaes devem de contribuir todos os associados Por tanto a ne
cessidade dos impostos he incontestável. Mas he assaz diffioil
assign ir os limites alem dos quaes não devem passar. Todavia
a razão publica condemna naÕ só as despezas super/luas, que
não correspondem á serviços públicos , rigorozamente indispen
sáveis j ou pelo menos de summa utilidade , mas também as re
ceitas pre/udiciaes , que produzem hum d'estes dous effeitos ,
ou não deixarem á huma parte dos contribuintes os meios de fa
zerem as despezas strictamente requeridas pelas suas necessida
des fizicas ou diminuírem progressivamente o excedente das pro
duecoens sobre o consumo , impedindo por conseguinte toda a
accumulação.
O único meio de garantir que o imposto não ultrapasse os
seus verdadeiros limites he estabellecer que seja votado annual
mentepor huma assemblea de reprezentantes dos contribuintes ,
cujas necessidades, e faculdades pecuniárias lhe são conhecidas.
Alem disto convém acrescentar que quaes quer que sejão os tribu
tos, devem ^ser sempre proporcionaes ás propriedades e aos go
zos , e exemptar d'elles em todo ou em parte certos proprie
tários ou certos consumidores, he fazer com que huns paguem
as dividas dos outros : verdadeiro roubo , que assim como qual
quer outra injustiça tende a dissolução das sociedades.
4 ° Em fim he obvio , que nem os credores do estado ,
e nem os contribuintes lerião garantias , si os empréstimos , que
augmentão a divida publica , e que ou mais cedo ou mais tarde
augmentarão os impostos, se podessem contrahir sem o consenti
mento de huma assomhSea de reprezentantes tão interessados na
boa ordem da receita , como da despeza.
Os embaraços financeiros soem disparar nos mais calami
tozos multados.
<|>56€>
Ora estes embaraces nascem ou do augmento progressivo
da divida publica , ou das banca-rotas feitas pelo estado , ou da
alteração das moedas metálicas, ou das lezoens eauzadas á pro-
priedade , sem justa indemnização , ou em fim das despezas des-
arrazoadas , edos impostos excessivos, ou mal repartidos , que
ellas oceazionão.
A propriedade nunca lie plenamente garantida sinão pela
auzencia ou pela repressão effieaz de todas estas desordens.
C
N ° 3 D A LIBERDADE DA INDUSTRIA.
N ° 5 DA LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA.
REZUMO DO P À R A G J R Á P H O .
ARTIGO 3 ° DA POLICIA.
I
D'esta breve nomenclatura ja se vê que também a policia
lie hum meio de conservação para a sociedade.
A seiencia administrativa cabe mostrar-lhe as particu-
laridades.
A policia quando he feita com exaclidão tranquilliza não
só os bons cidadãos contra os roubos e assassinatos , mas tam-
bém ao estado á cerca das perturbaçoens e conspirações.
Quando he negligenciada não se vê sinão immundice ,
desordens , scandalos , embaraços, roubos , assasinalos , fo-
m e , e sediçoens.
Quando he inquieta , cavilloza , suspeitoza , arbitraria ,
e3€m escrúpulos, offende as leis., e a liberdade : á pretexto
da segurança publica , atormenta , e expulsa os cidadãos como
estrangeiros. Em summa nas mãos de hum governo tenebro-
zo he hum instrumento secreto, e pérfido de delaçoens, de
perseguiçoens , e de tyrania.
A policia porem sob hum governo sábio, moderado , ami-
go das leis , he huma mola profícua , e o melhor meio de pro-
tecção activa.
As regras que a policia prescreve nunca devem ser minu-
ciosas ; cumpre que nôs abstenhamos de assustar-nôs facilmen-
te da sua actividade, a qual quando he exercida contra os dis-
culos cot» tan.to qu« os pcezos sejão immedialamente remettidos
aos tribunaes, não pode ser perigoza , principalmente si as
autoridades supremas do estado saõ bem constituídas : com estes
prezervativos não ha inconveniente em deixar-lhe ampla liber-
dade de prender. Eu antes a quero incommoda , do que pa-
ralitica : por que mima das bazes da moral , certo he difficul-
tar quanto fôr possível, o bom successo da malvadeza e do crime.
O
NUMERO 2 DO APERFEIÇOAMENTO DA SOCIEDADE.
•
<^>79^
á formar homens iliustrados , e bons cidadãos.
De dous meios com effeito pode o governo dispor.
I o A Religião.
2 ° A educação publica.
Huma , e outra couza produzem o patriotismo.
ART. I ° DA RELIGIÃO.
J
<^>8o<§>
tereiieiozas . 0 legislador , e o magistrado mio teem direito al-
e m p a r a punir a auzencia , ou manifestação d'ellas salvo s
P
Prova r qu'e esta manifestação foi feita com « g ~ « ^
constituem hum delicto , ou hum crime , isto h e , hum
deiro attentado contra a ordem e a paz da sociedade
Mas d'isto mesmo rezulta , que apenas a religião pracüca
qualquer huma accão , fica sugeita á autoridadeÎ publica.
9 4
E por esta razão he que todo o governo deve ter a inspec
cão dos hvros dogmáticos, e do culto exterior c I B . j m e n c » a
dos seus ministros: a historia das guerras provoeadas em nome
epor abuzo da religião , isto he pelo fanatismo , e pela hypo
crizia , demonstrai a necessidade , e importância d re igwo.
O culto consiste na homenagem exterior rendida a di
vindade.
O culto ou he publico , ou prwado.
O culto privado deve ser tão livre como a mesma crença ,
CUJa e S S
r t od0osheo's paizes , e em todos os tempos ta sempre
^ t ± f S S ; VüSSSí ^ ^ ( c o n i o
í^ri^xsLS
onde a tranquillidade publica corre perigo.
o^urLtrp^ro
_
O culto exige ministros : as suas funeçoens sao tanto mais
importantes, quanto o ensino tem sempre feito parte essencial
d'ellas.
o eilas. : . *-, i,«
No systema de plena liberdade de consciência , n.iolus
mister que os ministros aejão da escolha do poder publico, e s -
taque esteilo debaixo da sua inspecção. #
No systema porem de huma religião excluziva , e privai-
giada , he precizo de mais a mais , que os ministros sejao esco-
lhidos pela autoridade. . ,
A instituição dos ministros da regilião traz comsigo o de
hum salário , o qual lhes deve ser garantido. .
Onde quer que as religioens são admittidas indistintamen-
te , este salário naõ deve ser supprido sinaõ pela comunhão
que o ministro prezide. Entaõ ja naõ he hum encargo publico ,
e sim hum encargo commun. . „oran
Nos outros dous cazos, este salário nao poderia ser garan
üdo, sinaõ tanto quanto for considerado como hum encargo pu-
»
-#>8i<#
Mico : seria mui precário se dependesse de cada huma vontade
individual. Alli era de assencia huma despezi geral, como
todas as que exigem a manutenção da ordem social .• pelo que
deve ser supportada por todos os cidadãos, pertençaõ a que
seita pertencerem.
Mas em quazi todas as partes, os ministros da religião, e
os estabelecimentos , que elles formaõ , alem dos salários , e de
certos direitos cazuaes , taõ bem teem bens de raiz, doados
pela piedade dos fieis , ou pelos mesmos governos. Estas doa-
çaões de bens de raiz teem grandes inconvenientes; e sobre have-
rem occazionado numerozos abuzos, naõ apprezentaõ utilidade
alguma verdadeira para a sociedade.
Podemos ate consideral-as como nocivas, so por que ti-
rao do commercio as propriedades territoriaes, em que ellas
consistem , e que se denominão bens de mão morta. Ora he
evidente ao menos para os homens versados na economia politi-
co , que a circulação dos bens de raiz he de summa importância ,
tanto para o estado , como para os particulares.
Por tanto cumpre ao poder publico obstar a grande
accumulação destes bens, ou si necessário, for, inhibil-a intei-.
ra mente*
ART. 2 ° D A EDUCAÇÃO PUBLICA.
\
<$>83<%
Depois deve velar era que se não eüsme couza que seja
contraria á moral, ao pacto fundamental do estado , e ás leis
do paiz.
Para que o governo n'hura estado de civilização bem orde-
nada satisfaça o primeiro destes deveres basta que favoreça
a indagação e o emprego dos melhores methodos de ensino ,
a compozição , e a propagação de bons livros elementares para
as escolas de diversas ordens , installadas por associações parti-
culares , ou pelas câmaras municipaes. Depois d'isto deve
criar, e pôr á dispozição do publico esses estabelecimen-
tos , que posto não offereção como as escolas, hum ensi-
no propriamente dicto , todavia não contribuem menos eficaz-
mente para a instrucção do povo. Taes são as academias, e as
sociedades scientificas , as bibliotecas , os muzeos, os jardins
botânicos, e as colleccões scientificas.
Para satisfazer ao segundo dos seus deveres, o governo
deveria exigir dos professores garantias de moralidade e ca-
pacidade , alem de superintender o ensino das escolas.
Desgraçadamente, a civilização da mor parte dos povos
modernos ainda não chegou a hum ponto em que o governo se
possa limitar a reprezentar o papel de que acabamos de fallar.
O governo he por exemplo obrigado a criar, e a organizar
escolas para os différentes graus de instrucção , as quaes não se
supponha , que são alguns modelos de estabelleeimento que o
estado funda para dar allôV aos estabellecimentos privados: não ,
elle he obrigado a manter todo ou quazi todo o systema de ins-
trucção publica. Este estado de couzas argue a imperfeição da
civilização actual '. por que he próprio da verdadeira civilização,
simplificar a acção do governo. A sua perfeição fora mostrar
os cidadãos provendo ás diversas necessidades sociaes , debaixo
somente da protecção, e vigilância da autoridade publica. O
I- páe mal seu filho chega a virilidade não cessa de velar em sua
sorte, deix-ando-lhe com tudo plena liberdade para obrar.
Seja conio for, vejamos quaes são no estado da civilização
moderna , os deveres do governo quanto as escolas publicas.
Devem haver escolas para cada hum dos graus de instruc-
ção. Era geral ha trez :
O ensino elementar ou primário.
O ensino secundário,
£ o ensino superior.
V
V
Ǥ>84<i>
O ensino elementar deve abranger os conhecimentos que
são indispensáveis á todo o homem para o pôr em estado de de-
zenvoiver as faculdades , cujos germens n'elle plantou o Creadôr,
Nenhum membro da sociedade por conseqüência deve ser balde»
destes conhecimentos , ao menos por culpa da sociedade. He
por esta razão que os pobres teem ingresso gratuito nas
escolas. O estado proporcionando-lhes este ensino não só pre-
enche os dizignios da Providencia , mas tão bem trabalha á prol
da paz e da prosperidade publica.
O ensino secundário deve-se dividir em dous ramos r
hum deve ser destinado ás pessoas que se quizerem exercitar na-s
artes mecânicas, e nas profissões industriaes : ihe mister que a '
outrase dirija áaquelles que se destinão ás lettras.
A industria que nos nossos esfcados modernos se tem com-
plicado com mil relações, a industria, cujas correspondências, tra-
balhos, e especulações abração ambos os mundos , exige d'aquel-
les que as quizerem exercer com honra, e proveito, conhecimen-
tos pozitivos e variados. Por conseguinte he necessário hum en-
sino especial, não só para que a industria nacional possa rivalizar
cora a estrangeira, sinão tão bem para que as classes arremedia-
das não se dediquem inconsideradamente aos estudos clássicos ,
com provável detrimento da ordem social, por que certa pertur-
bação he inevitável no estado , quando elle encerra em si huma
massa de cidadãos preparados para profissoens que não teem ao
depois occaziao de exercel-as, •
Alem d'isto he necessário que as fontes do ensino clássico
sejaõ liberalmente abertas : as profissoens litteratas contribuem
para a prosperidade, e gloria do paiz, esobretudo influem mais
do que as outras sobre a sorte, dos estados , pois que fornecem
quazi excluzivamente os instrumentos dos poderes sociaes.
O ensino superior, dezenvolve , e amadurece os conheci-
mentos distribuídos- no ensino secundário , do qual he cumpri-
mento obrigado. Elle se dirige aos espiritos mais avançados ,
aos cidadãos que teem precizaõ de huma instrucçaã mais substan.
ciai para profissoens especiaes. Este ensino se justifica pelos
motivos que expuz sobre o ensino secundário.
As medidas que se devem tomar sobre o estabellecimento
das escolas , sobre a preparação cios mestres , sobre a extençaÕ
da instrução em cada gráo de ensino , sobre a escolha dos me-
thodos, sobre a policia das escolas, saõ da alçada dos regula-
)
^So^
men tos administractivos. Direi aqui somente que a vereaçaó
tal qual a expliquei , he direito ,- ou antes dever do governo ,
tanto para as escolas privadas, como para as publicas:
por que quando se instala hum estabellecimento que se di-
rige ao publico , he de mister que o governo , mandatário da so-
ciedade , a prol dos seus interesses, e mormente dos seus
interesses moraes, intervenha a fim de obstar que ahi se faça
couza que seja contraria á estes interesses.
Os governos que mais se teera disvelado pela educação pu-
blica , muitissimas vezes teem negligenciado huma parte essencial
d'ella . a educação das mulheres, a qual todavia merece disve-
lada solicitude. As mulheres são importantíssima ametade do gê-
nero humano , e esta ametade influe considerável e continua--
mente sobre as determinações da outra. A máe he quem dá fei-
ção ao tenro cérebro do filho ; elle lhe deve as primeiras
idéias . cujo sello conservará toda a sua vida. Mais tarde , como
irmans j como espozas , e por outros muitos titulos, as mu-
lheres exercem sobre as nossas vontades hum império sempre
poderozo , e algumas vezes absoluto. Por tanto he necessário
que eilas tenhão idéias exactas sobre os deveres públicos e priva-
dos do homem. He necessário que conheção pelo menos , a fi-
zionomia geral do governo, e as obrigaçoens, que elle impõem
aos cidadãos para que nunca desviem por meio de supplicas, la-
grimas e caricias nem aos seus filhos , nem aos seus maridos ,
e nem aos seus amantes do cumprimento d'estas obrigaçoens , e
para que em cazo de necessidade lh'os saibão lembrar. Todavia,
devo concordar , que as mulheres por nossos hábitos sociaes , e
talvez por sua organização , sendo destinadas aos cuidados do in»
terior da caza, e á practica das virtudes familiares , os deveres
do governo no tocante a sua educação são muito menos compli-
cados , do que à respeito da educação do outro sexo.
Demais , os legisladores , e os governantes são os verda-
deiros preceptores da massa do gênero humano , os únicos cujas
licçoens teem verdadeira efficacia, A instrucção moral princi-
palmente , nunca será sobejidão repetir , pertence toda aos lev
gisladores e administradores.
ART. 3 ° Do PATRIOTISMO.
NDMERO 1c Do Povo.
/
NDMERO 3 ° Do MOKARCHA
§ 2© Do PODER EXECUTIVO
t
os traclados de paz3 d'alliança, e de eommercio , nomear Io-
dos os empregados, fazer regulamentos , e expedir as ordens
necessárias para a boa execução das leis , e segurança do estado.
Digo que ao chefe do estado he que pertence nomear todos
os empregados d'administraçao publica por que os agentes en-
carregados em cada lugar da execução das leis, saõ indubita-
velmente instrumentos do poder executivo , e não reprezeatan-
tes dos governados. Dispor que estes agentes sejão escolhidos
pelo povo , he ideia que nãu poderá ter cabida sinão em huma
constituição federativa , salvo si se tractar de enfraquecer , ou de
abolir algum antigo system a federal. N'huai estado que con-
serva , ou recobra perfeita unidade , os agentes de que tracto
são sempre, seja qual fór o nome que tenhão., as mãos. e
os braços da autoridade central, e suprema ; á esta pois deve
pertencei escolhel-os.
«
suas sentenças, e nem die rruerern estar em coutradicção
:ooisigo.
Acresce que isto confundiria Iodas as idéias , poU naõ se
poderia saber si hum homem seria absolvido , ou condemnado.
Os julgamentos proferidos pelo principe seriaõ huma fon-
te perene de injustiças , e abuzos : os cprtezãos á força de im-
portunaçoens Jhe extorquiraõ as sentenças. Os reinados dos
imperadores romanos, que tiveraõ a mania de julgar, forão os
que mais assombrarão a universo com injustiças. As leis são
os olhos do principe, por meio das quaes vc o que não poderia
ver sem ellas. Si elle quizer exercer as funeções dos ti ibu-
naes 3 trabalhará não para si, mas -para os que em seu damno o
leiTET.
Por tanto oprincipe nunca.deve exercer per si mesmo a
autoridade judiciaria, da qual deve ser fonte, mas não orgaõ :
a justiça deve ser administrada em seu nome , mas não deve ser
elle o administrador 5 deve ser a fonte, mas as partes não a
devem receber d'elle iramediatamentc : a justiça deve ser derra-
mada sobre as partes , mas por canaes intermédios.
Por consequçncia , lie mister que oprincipe institua, e
escolha juizes, A necessidade d'esta delegação deve de ser hum
preceito immudavel.
Estes juizes deverão ter alçada em todos os litígios entre
os cidadãos,' mas quando se tractar de pronunciar sobre cri-
mes, o poder de julgar naõ devera ser confiado somente à h u m
corpo permanente j cumpre que este poder seja partilhado poi
pessoas tiradas do povo em certos tempos do anno , e pela for-
ma preacripta nas leis : estas pessoas formarão hum tribunal
que só durará quanto a necessidade o exigir , e pronunciará so-
bre a existência do facto ao qual ao depois o juiz permanente
applicará a lei.
D'esta maneira o terribilitsimo poder de julgar naõ estando
ligado nem á hum certo estado , nem á huma certa profissão
torna-se para assim dizer , invizivel, e nullo. Gomo os juizes
naõ estaõ continuamente diante dos olhos , temer-se-ha a ma-
gistratura, mas naõ os magistrados.
Posto que em geral o poder judiciário naõ deva estar reu-
nido com nenhum dos ramos do poder legislativo , com tudo
ha trez excepções , todas fundadas no interesse particular do
que tem de ser julgado.
<&qí<%>
Os grandes estão sempre exDOStosá inveja ; ora si
fossem julgados pelo povo , corrião perigo , e não gozarião do
privilegio que em hum estado livre tem ainda o mais ínfimo ci-
dadão livre , que lie ser julgado pelos seus pares.
Por tanto he mister que os nobres , i.-to he , os membros
do segundo corpo que participa do poder legislativo, sejão cha-
mados não perante os tribunaes ordinários da nação , mas pe-
rante essa mesma parte do corpo legislativo , que he composta
de nobres.
2 ° Podendo acontecer que a lei que he ao memo tempo
perspicaz e cega , fosse em certos cazos demaziado rigoroza , e
não sendo os juizes da nação, como dice sinão a bocca que pro-
nuncia as palavras da lei, sinão entes impassíveis, que lhe não
podem mitigar a força , e rigor, importa que huma das partes
do corpo legislativo , seja em taes cazos, tribunal necessário;
pois á sua suprema autoridade cabe mitigar a lei em favor da
mesma lei, pronunciando menos rigorozamente , do que ella.
Este direito chama-se direito de perdoar e commutar as
penas.
Si o governo he monarchico , he evidente que este direho
não pode competir sinão ao monarcha , que he a mais conside-
rável , e augusta das diversas partes da legislatura.
3 ° Erafiiu , pode tãobem accontecer, que algum cidadão
no exercício das altas funcções publicas viole os direitos do povo,
e commetta crimes, que os magistrados pernnuenleo não po-
deriâo, ou não quererião punir. Ora , em geral, o poder ie»
gislativo não pode julgar , e ainda menos no cazo particular em
que reprezenta a parte interessada que he o povo. Por tanto
este poder não pode ser sinão accuzador. Mas perante quem
accuzarâ ? Ir-se-hã abatter perante os tribunaes da lei , que lhe
são inferiores , e de mais a mais compostos de pessoas, que
sendo povo , como elle, deixar-se-hião sem duvida arrastar
pela autoridade de tamanho accuzador ? Não : he mister , para
que conserve a dignidade do povo , e. a segurança dos particu-
lares , que a parte legislativa do povo accuze perante a parte le-
gislativa dos nobres , a qual não tem nem os mesmos interesses ,
e nem as mesmas paixoens , que ella.
Em summa , em toda a organização política de qualquer
estado , ha grande perigo em reunir nas mesmas mãos o poder
legislativo com o executivo , e não menor risco em reunir os
*
dous elementos deste uliimo podér, ÎSÎO he s autoridade" ad
nistractiva , e judiciaria.
Releva pois separal-os.
O poder legislativo deve ser delegado ao corpo [dos repie
zentantes do povo, e aos nobres : hum terceiro poder, o mo-
riarcha deve tâobem participar d'elle , cazo o governo seja mo-
narciíico. He do concurso das suas deliberações separadas ,
que a lei deve sahir,
2 ° O poder executivo deve ser delegado á huma só pessoa
publica , e na monarchia ao monarcha.
i ° A autoridade judiciaria deve ser delegada pelo mo-
narcha a hum corpo de magistrados da sua escolha, aos quaes
conferirá o direito de administrar justiça em seu nome..
í c Emfim todas as acçoens crimínozas devem ser previa-
mente verificadas, e declaradas por jurados , que não tenhão
sido'escolhidos , e nem mandados escolher pelos seus agentes.
Assim que , a divizão dos poderes políticos ; a divizão do
poder legislativo cm trez ramos ; a unidade na'execução ; a de-
legação necessária da autoridade judiciaria ; e o jury em ma-
teria criminal , são as primeiras garantias que podem consti-
tuir hum bom governo , ou em outros termos assegurar a felici-
dade do corpo social.
Mas para que hum estado seja bem organizado não basta
que os poderes sociaes sejão assim divididos : cumpre que a di-
vizão seja tal que nenhum d'elles possa invadir o poder d e
outros , e desta sorte mudar a forma do governo.
Isto he o que vou explicar estabellecendo as regras que
devem prezidir a organização de cada hum d'estes poderes em
particular.
c
§ ; P A ORGANIZAÇÃO DO PODER LEGISLATIVO.
N ° í ° D A CÂMARA POPULAR.
r
^99
ma aiguma trabalhar por que prevaleção os interesses íoeaes.
Também não se podem individualmente chamar os repre-
zentantes dopaiz , por que a câmara inteira he que reprezenta a
nação : assim pois, a qualificação de reprzeniante he collectiva ,
e abu/.o fora applical-a individualmente á cada hum dos mem-
bros d'assemblea, os quaes tão somente são os deputados do paiz.
ART. 3 ? D o N U M E R O DOS R E P R E Z E N T A N T E S .
N ° 2 ° DA GAMARA, ARISTOCRÁTICA.
f
^ I O I ^
Esta cam.ira porem , comquanto reprezente as su/n-
vudades sociaes, todavia também représenta o paiz que sepa-
rar-se não pode das iüustraçoens , dos serviços , e das recorda-
çoens que constituem a sua honra , e gloria.
Com razão se dezesperaria de huma naçaõ tão ingrata que
desconhecesse os serviços feitos á pátria , tão inimiga da sua
propria grandeza , que não honrasse aquém a honra, e fizesse
reprezar nos coraçoens essa nobre e salutar ambição de fama , e
de elevação , qne tem sido parte para que os homens tenhão
obrado tantas façanhas , e exaltado tanto as naçoens.
Por tanlo este he o elemento da câmara aristocrática , a
qual deve servir de contrapezo a acção da câmara democrática.
Assim quando huma voz poderoza , órgão das urgentes necessi-
dades , e dos votos alquando irrefleetidos cora que essa voz es*á
em rellaçaõ , pugna denodadamente á prol do paiz, outra voz
mais grave , retumba , a qual guarda das doctrinas de ordem , e
de conservação , cujo depozito lhe está confiado , mitiga o ar-
dor das reformas, esperando que o fructo amadureça para en-
tão aconselhar que o colhaõ : a sua previdente sabedoria asse-
gura d'esta arte á sociedade as vantagens que huma precipita-
ção imprudente poria em perigo.
Mas como deverá ser organizada esta reprezentação par-»
ticular ?
Segundo alguns publicistas a câmara aristocrática deve
necessariamente ser hereditaria : só a hereditariedade lhe pode
imprimir o caracter de força moral, de estabellidade , e de in-
dependência. Na verdade para a opinião o poder nunca se se-
para da duração , a idéia de experiência , e de habilidade se
liga nos espíritos ao que se perpetua : o que termina com o h o -
mem não pode ter aos olhos do vulgo hum caracter real de es-
tabellidade. Alem d'isto a hereditariedade dá aos corpos po-
liticos aquelle instincto de conservação, aquelle espirito de pro-
cedimento , que se transmitte de idade em idade , como tra-
dicçaõ familiar , e tornaÕ a sua experiência , os seus princípios ,
e a sua política hereditaria como os títulos dos membros que
os compõem.
Acresce que para que a câmara aristocrática naõ pertença
sinaõ a s i , e tenha força para reprimir ao mesmo tempo os es-
forços temerários do principe, e da democracia , he mistei
que se ella perpetue por hum meio que lhe seja próprio*
De mais a hereditanedade da câmara aristocrática lie par..
assim dizer o cürollario da hereditariedade cia corôa , que nao
ria bem perigo ficar destacada ;io meio de iustituicoene ,
que nao livessem nada de comirmm com o seu principe.
Em fim a iiereditariedade concedida á huma câmara aris-
tocrática naÕ constitue hum privilegio propriamente dicto: os
privilégios saõ fayocee (.-stahellecidos ã prol de alguns : aqui he
pa magistral ura que nau conferindo preeminence alguma
legai se torna hereditaria por bem do publico.
Em summa , na monarchia reprezentantiva he necessário
D terceiro poder , que sirva de arbitro entre os outros dous ,
e cuja acção seja essencialmente moderadoura. A existência ,
e a iorca d'esta instituição he a primeira condição d'esté gover-
no. Fora do pezo dos poderes, não ha sinâo os perigos da
monaichia , e para que este pezo seja bem exacto , he misxer
que. cada hum dos trez poderes pertença a si , e não possa ser
ideado pelos laços de huma ailiança que não estaria em suas
mãos quebrantar : a hereditaiiedade deste poder moderador ne
o único meio, e por isso deve ser estabellecida, e mantida como
principio de segurança , e da tranquillidade.
Outros publicistas porem combattem a heredilanedade
(\à câmara aristocrática , por que ao seu pensar, ella he incon-
ciliável com a igualdade constitucional dos cidadãos , pois teern
por absurdo que a funcção mais importante do estado , qual he
s fazer leis, seja conferida ao acazo , e sem que se possa co-
cer a moralidade, ou a capacidade do legislador ; porquan-
to Isuma assemblea composta de superioridades verdadeira-
mente nacionaes quer seja yiíalicia quer temporária, podereu-
ciscondiçoens de foiça moral, deestabellidade , e de inde-
pendência que são para dezejar-se. A necessidade de conser-
var huma poziçâo immimente torna a aristocracia indepen-
dente e conservadora : o esplendor dos talentos, e os seivicos
prestados dito consideração 5 em fim a hereditariedade concedi-
da á coroa basta para garantil-a das tempestades , quando e
principe se appoia nos verdadeiros interesses do povo. È demais
M O ihrono he hereditário he sobretudo por bem do estado , e
esle mesmo .bem aconselha que se repila outro qualquer poder
hereditário , cuja tendência será sempre para o angmento des
seu^, prnilegiçs. E na verdade os homens que d'elle estives-
em revestidos convergirião a sua ambição para o melhoraraer.-
<§>Iûi<§>
sqrte dé .-eus ulhos , e amigíss^ e a qui. m pensar qáe a sua
hereditariedade sera a garantia du seu espirdo de ordem e cériWr-
vacio , podt-se responder, que elles o levariâo à ponto de uï-
cessantemeute defíet:der<mi os seus privilégios, com o peru J
provocar sanguinolentas revoluções.
Sobre tudo isto cumpre notar que no» paizes oïicfe
não existe aristocracia íéudaí, e onde os seus últimos vestígio»;
forâü apagados pela razSu publica , a heredilariedade do poder
da câmara aristocrática, parece inútil, e perigoza : mutin por
que ja não existem os interesses,cuja reprezentação còttVíèssê
ser feita por senadores hereditários ; perigoza por que não ha
quem possa calcular o alcanse e traçar os limites da sua influ-
encia sempre crescente pelos lugares obtidos, e peio poder
augmentado em virtude dos raorgados , e das substituições ,
lhes ^aõ inhérentes,
Esta heredilariedade taõ bem seria repellida pelos costu-
mes públicos , e pela consciência esclarecida da naçaõ, si as
leis do paiz tendessem a propagar a divizão das propriedades ,
e si a sua influencia a favorecesse, e na reallidade a multi-
plicasse
Era tal paiz , a única baze da câmara aristocrática cîe'vè
se compor de talentos , de virtudes , de serviços feitos ao esta-
do , e do patronato honrozo que dão riquezas colossaes bem
empregadas.
Pox quanto naõ he de suppòr que em semelhante pau ,
se cuide seriamente era supprima* este terceiro poder. He mis-
ter que as superioridades sociaes abi sejaÕ reprezentadas : o go-
verno reprezentativo consiste inteiramente no equilíbrio dos po-
deres que o compõem , e a aristocracia que inevitavelmente re-
sulta d'estas summidades he hum d'estes elementos,
A constituição de hum d'estes poderes naõ pode ser posta
em duvida sem que a dos outros dous também o seja , e com èí-
la , toda a sociedade tal qual está organizada.
Assim que duascouzas restaÕ para regular : a escolha çtos
pares ou senadores , e o seu numero.
ART. 2 ° D A SANCCA-5.
ti
<#>ii3<#
1 ô Que durando a sessão , nenhum deputado pode ser per*
seguido , ou prezo por cazo crime sem que a sua câmara tenha
decretado a accuzaclo.
A única exeepçao á esta regra he o cazo de flagrante de-
licto ; e todos sahem , que neste cazo , nenhuma garantia ex-
traordinária deve abroquellar a hum cidadão tenha a qualifi-
cação que tiver, cujo crime não pode ser contestado.
2 ° Que nenhum membro da câmara pode ser prezo nem du-
rante a sessão, e nem durante certo lapso de tempo anterior
á ella.
Esta dispozição funda-se em que havendo plena faculdade
de prender ainda debaixo dos mais sólidos pretextos , ella poderia
empecer a marcha das deliberações , e ate impedir que a câmara
cumprisse os seus deveres , si por ventura não reunir o numero
de deputados necessário para que haja caza. Acresce que he
necessário deixar decorrer, ainda depois de encerradas as câ-
maras , certo espaço de tempo , para que seja licito descarregar
golpe tão grave contra a pessoa de homens que acabão de pre-
encher funcçoens augustissimas , como são as de legislador.
Quanto as prerogativas da 3 w parte integrante do corpo
legislativo , isto he 3 quanto as prerogativas do piincipe , expol*
as-hei d'aqui a pouco quando fallar do poder executivo.
1
^II/J^
perigo tanto para elles, como para o pôvo.
A couza mais pernicioza que ha ao dezenvolvimento,'e á ma-
nutenção do systema reprezentativo , he essa supposta conside-
ração , que ao dizer do vulgo , se adquire pelo facto , em subs-
tituição da estima que se obtém por meio de serviços honrozos;
O membro de huma câmara de deputados não he mais do
que hum cidadão , hum subdtcto , hum governado , escolhido
entre os seus pares para accidental, e temporariamente occu-
par-lhes o lugar : este serviço não o exclue da classe commum.
Quanto aos pares , aos chefes das famílias patrícias, he na-
tural suppôr que nao precizão receber estipendio algum , por
quanto em geral reprezentio a grande propriedade territorial.
Ora si o monarcha julga conveniente elevar á este immi-
nente cargo hum cidadão distincto por serviços relevantes pres-
tados ao estado , e esse cidadão nào tem fazenda suficiente para
sustentar a sua nova dignidade, cumpre ao estado inteiro á
quem elle pertence, dar-lh'a , e a nação certo nunca recuzará
deferir a provocação que o seu rei lhe fizer á esle respeito,
todas as vezes , que os serviços que elle tractar de por este meio
recompensar, forem realmente dignos de tal signal da munifi-
cencia nacional.
N ° I 1 DA OPPQMÇA.Õ SYSTEMATICA.
fc
<§>u5<^
Iilude-se grosseiramente quem preconiza este systemacomo
huma das garantias sociaes. Sâo inconcebíveis as desvantagens
de huma oppozição cujo principal empenho he repellir as pro-
pozicoens dos ministros , sendo que o seu único fim he destruir
os próprios ministros. Em quanto a oppozição nao tira a limpo os
seus dezejos , os abuzos, e a discórdia subsistem ; mas quando
de minoria passa a ser maioria e repelle algum importante pro-
jecto de lei, os ministros, que o propozeraõ, cahem ; os seus
successôres são tirados da oppozição, os quaes per seu turno di-
rigem o timão dos negócios ate que huma nova oppozição , que
em breve se formará consiga derrotal-os.
Si o systema reprezentativo houvesse de consistir n5este
mizeravel jogo de intrigas tão somente j por certo não valia a
iena que os povos fizessem tamanhos sacrifícios para estabel-
Í ecel-o.
Que importão estas mudanças aos homens sensatos e pací-
ficos que só aspirão viver em segurança , e com liberdade. Elles
se propõem a eleger deffensôres dos seus direitos , e interesses
privados , e não candidatos á dignidades publicas.
A manutenção , ou a obtenção das garantias deve de ser
o único fim de huma nação. Mas o único meio profícuo de
querer estas garantias he não dezejar nenhuma outra couza,
nem catástrofe , nem mudança de homens e de couzas , nem tri*
umfo de seitas , nem constituição nova , nem reforma ou emen*
da alguma de nenhum dos artigos da constituição existen-
te , embora lhe enxerguem deffeitos, nem emfim nenhu-
ma outra administração geral, sinão a que houver solemne-
mente renunciado ao arbítrio , e efficazmente se abstido do pe-
rigo de lhe renovar o scandalo.
4
#>n6<#>
Reprezentantes , que per si mesmos offereção com maior
grau de intensidade , estas garantias de patriotismo , d'espirito
de sabedoria , e de prudência , e que escolhidos por certo tempo
nas diversas dívizoetis políticas do império , conheçâo á fundo
as suas necessidades , e os seus recursos , e nào tenhão interest
ses oppostos aos que forem encarregados de deffender.
Ernfim , eleitores, e eleitos , que não sejão em tão dimi-
nuto numero , que á respeito dos primeiros, a constituição do
estado deixe apoz d'elles , huma excessiva quantia de proletá-
rios , constituindo assim huma verdadeira aristocracia debaixo
dapparencia do elemento democrático , e que quanto aos se-
gundos , isto he quanto aos eleitos , a sua reunião não possa re-
prezentar com dignidade hum paiz vasto , e huma população
importante.
Secundo, huma câmara aristocrata composta de todas as
grandes illustrações nacionaes , que á principio para ahi sejão
chamadas pela livre escolha do monarcha , mas que recebão esta
sublime magistratura á titulo vitalício , devendo o seu numero
ser tal que esteja em harmonia com o dos deputados, e com as
necessidades do paiz.
Tercio , hum monarcha hereditário , que pela sua expe-
riência practica do governo da sociedade, allutnie as outras duas
porçoens do poder legislatativo sobre a possibilidade de applicar
as suas theorias ; proponha directamente as leis , e as sanccione,
isto he, lhes dê vida.
A reunião periodica , e necessária das câmaras legislati-
vas , depois de intervallos determinados pela lei fundamental.
Outro sim a certeza dada por esta lei , de que os impostos
serão votados annualmente, e que o poder executivo náo pode-
rá deixar de convocar ás câmaras , cuja continua vigilância he
preciozissima ás liberdades publicas , e cujos conselhos são
proveitozissimos aos verdadeiros interesses da coroa.
A. cerca das discussoens , e dehberaçoens das câmaras ,
plena liberdade , que garanta a independência dos votos e a ma-
dureza das rezoluçoens.
A admissão do publico ás discussoens d'estas câmaras, a
fim de preparar a autoridade moral das leis , e lançar mais se-
guros fundamentos da obediência , que lhe ha de ser devida.
A declaração d'esta regra que todo o deputado ,
que durando o curso da sua missão acceitar qual quer era-
fc
<^>II 7 <^>
prego dependente do poder executivo, seja obrigado a su-
geitar-se á nova elleiçaõ, afim de que os que o escolherão
oulr'ora , julgemsi elle conserva independência suffieiente para
naõ sacrificar os interesses do povo , á sua ambição.—
Prerogativas concedidas aos membros das câmaras por bem
de sua dignidade, e da sua segurança pessoal, e pela utilidade
publica j que rezulta da tranquilia factura das leis.
Completa gratuidade das altas funcçoens dos membros das
câmaras , para que se lhes naõ altere o caracter essencial, que
he o de hum cargo publico, e por conseguinte o cumprimen-
to de hum dever para com a sociedade civil.
Huma oppozição emfim, que so tenha a mira em defíender
os direitos, e os interesses geraes,
*
<#-ii8<#>
Reconhecido este caracter do poder executivo, vejamos
quaes são as suas prerogativas.
I a A pessoa do monarcha deve ser inviolável e sagrada :
o, seus ministros porem , e os outros agentes seus devem ser
lesponsaveis.
2 ~ Só o monarcha deve ter o poder de convocar, e pro-
vocar as câmaras.
^ 3 " Só o monarcha deve ter o direito de dissolver a dos de-
putados.
4 P Também só elle deve dispor das forças de mar, e
terra.
5 a Só elle deve ser o arbitro da paz , e da guerra.
6 ° Só elle deve fazer os regulamentos rela th os a execução
das his.
7 M Só elle deve nomear todos os empregados civis, e mi-
litares , pagos pelo estado.
8 * Elle deve ter hum thezouro independente do da naç3o.
Islo he o que constitue o poder real propriamente dicto ,
ajunetando-se-lhea iniciativa , e a saneção das leis.
Para melhor appreciarmos estas prerogativas, convém
tractar cada huma délias de per si.
i
<^>Iig#>
J a , e esia prerogative he necessária ao estado , para que o
corpo legislativo se não torne tyranico , o que por certo acon-
teceria desde o momento em que o monarcha fosse acuzado,
ou julgado, deixando por conseqüência de haver liberdade.
D aqui o seguinte rifâo político , admiltido por todos os
governos constitucionaes : — o rei não pode fazer mal; a sua
pessoa he in -violável, e sagrada.—
Mas como o que executa não pode executar mal sem 1er
conselheiros maus , queaborreção as leis como ministros, pos-
to que ellas os favoreção como homens, os ministros podem ser
perseguidos, e punidos.
. E d'aqui esta outra maxima — Os ministros são respon-
sáveis.—-
Os ministros pois estão entre o rei , e a lei, afim de con-
ciliar-se a inviolabilidade da pessoa sagrada do monarcha, com o
que este mesmo monarcha deve a autoridade das leis. ( i )
Por conseqüência todas as vezes, que pela violação das
leis , o estado foi traindo , ou que hum cidadão recebeu algum
damno em sua pessoa, ou em seus bens, e que o culpado he
o poder executivo , só os ministros devem soffrer o pezo d'ac-
cuzação , e reparar o que for reparavel.
No primeiro cazo , isto h e , si se tracta de hum crime,
que importa ao estado perigo ou damno, pertence á sociedade
toda, por bern do interesse geral accuzar, e punir por meios
extraordinários o ministro traidor, ou concussionario.
D'aqui esta dispozição, eslabellecida em todas as consti-
tuiçoens dos governos reprezentativos , — que os ministros só
podem ser accuzados pela câmara popular , e julgados pel?
aristocrática.-—
Si se tractar de delictos commettidos pelos ministros no
exercicio das suas funcçoens , contra particulares ?
IS'este cazo pode-se admittir que o ministro fique izento
d'applicaçâo das penas ordinárias : o decoro, sinão a necessi-
dade d'esta prerogativa política, não he difficil de justificar.
Todavia si hum ministro commelter huma morte , ou qual quer
( t ) « Os conselheiros da coroa respondem por todo o mal , assim co-
* mo vemos os conductores attrahirem á si o elemento das tempestades, des-
« carregarem a nuvem d'elle , e preservarem do raio a soberba cupula dos
« nossos monumentos. » (Dupiu , o moco , processo de Figaro , á s8 de Agosto
de 1829.;
<#I20<#
ouíro crime d'esia natureza, e gravidade, na pessoa de bum
cidadão , nem a mesma autoridade real deve poder subtrahir
o culpado á vingança das leis, salvo si for depois do julga-
mento , e por meio de perdão.
Comeffeilo a garantia do ministro procede unicamente das
suas funcçoen".
Ora não se pode dizer que funeçaõ alguma ponha hum
ministro na obrigação de commelter huma morte , por exemplo.
Logo he razão que o ministro n'este cazo seja considerado como
simples cidadão , e como tal accuzavel, e punivel perante os
juizes e pelos meios ordinários.
Em todos os outros cazos em que hum ministro oíTende ,
e arrisca por hum diîicto commetlido no exercício das suas
funcçoens , a honra , a liberdade , e a fazenda de hum cida-
dão , pode estar sobranceiro a acçaõ penal, sim, mas deve
ao cidadão huma indemnizaçaÕ , que será demandada , discuti-
da , e sentenciada pelos meios civis.
NaÕ se pode comprehender bem a natureza do poder real „
em quanto naõ se reconhece que o fim d'esla admirável combi-
nação poütica , he conservar a inviolabilidade real, tirando-lí>e
os seus instrumentos logo que esta inviolabilidade ameaçar os
direitos, ou a segurança da naçaÕ. IVislo está todo o segredo.
Si para consagrar a inviolabilidade real , se exigisse que
a vontade do rei estivesse á abrigo de îodo e qual quer erro , a
inviolabilidade seria huma chimera. Combinando-a porem
com a re.-ponsabilidade dos ministros , faz-se que ella possa ser
respeitada realmente, por que si a vontade real se desvairar,
naõ será executada.
Demais he de notar que o principio da responsabilidade
he favorável aos ministros, pois he huma espécie de refugio
contra as vontades arbitrarias , e injustas do principe.
NaÕ ha duvida , que os ministros são os que as mais das
vezes excitaõ os reis a ultrapassarem as raias da sua autor idade,
a fim de se apossarem do poder absoluto. Mas por outro lado
que valente predominio a vontade de hum rei não exerce sobre
a conducta de hum ministro , agente subordinado , e depen-
dente por sua pozição, por seus deveres, e algumas vezes até
por sentimento !
Por tanto he por bem não só do ministério , mas também
do principe, e de toda a sociedade , que as conslituiçoens le*»
<%>12Î<%>
/
<è>l2o<ê>
mais huma excellente garantia da convocação periodica das ca*
maras.
o
NUMERO 3 Do DIREITO DE DISSOLVER A CÂMARA POPULAR
/
<#> 127 <#»
\
<#>i3o^>
teiramente ná victoria. O corpo do estado tem interesse em
soccorrer huma das suas partes, que está em perigo. Não ha
hum só cidadão , que podendo pegar em armas , não se dera
reunir debaixo das bandeiras , e voarão combate. Portanto
o orincipe podendo com o seu exemplo sustentar a coragem ,
excitar o enihuziasmo , atalhar os effeitos perigozos das rivali-
dades entre os generaes, não deve ficar ao longe mudo e quedo
espectador dos estragos , e da distruição das suas províncias ,
nem tão pouco cobardemeute encerrado nos muros da capital,
esperando que o inimigo o venha ferir no seu throno.
N ° 5 DA PAZ , E DA GUERRA.
/
#>i3i<#>
tem sufficiente conhecimento dos factos , que podem dar lu»ar
ao exercício do direito de paz , e da guerra ; conhecimento,
que fallesce ás assembleas nacionaes , pelo que não podem ser
juizes de hum tractado de paz, ou de huma declaração de
guerra.
Quanto as regras que determinão a justiça ou injustiça das
guerras , impossível he dal-as positivas.
A opinião publica quazi nunca se engana sobre a legiti-
midade das guerras que os governos emprehendem : preceitos
determinados á esle respeito he impossível estabellecer.
Dizer que o governo se deve circunscrever a guerra de-
fensiva , e não dizer nada , he huma , e a mesma couza.
He fácil ao chefe de hum estado , reduzir por meio de
ameaças , e de preparativos hostis , o seu vizinho a atíaeal-o .;
e neste cazo o culpado não he o agressor , mas aquelle que o
obrigou a lançar mão das armas como meio de salvação.
Assim que a deffensiva pode não ser algumas vezes , sinão
astuta hypocrizia e a offensiva precaução de legitima defeza.
Prohibir que os governos continuem as hostilidades alem
das fronteiras , tãobem he huma precaução illuzoria- Quando
o inimigo nôs altacou gratuitamente , e os expulsamos para
fora das nossas fronteiras , convirá que detendo-nôs era huma
"linha ideial, lhe demos tempo para reparar as suas perdas, e
tornar de novo á carga ?
A única garantia possivel contra as guerras inúteis , ou
injustas j he a energia das assembleas reprezentativas.
A' ellas , e ao sentimento nacional he que nos devemos
reportar quer para appoiar o governo, quando a guerra he justa,
embora seja feita Lra do território nacional, huma vez que o
seu fim seja inhabilitar o inimigo de nos fazer mal, quer para obri-
gar o mesmo governo a fazer a paz , conseguido o objecto da
defeza , e firmada a segurança , sendo que o único meio que ha
para constrangel-o á isso , he recuzar-lhe o dinheiro necessário
para continuar a guerra.
He porem necessário pôr limites ao direito excl-uzivo de
fazer a paz , ou a guerra : estes limites consistem em que em
tractados com potências estrangeiras , não se possa inserir clau-
zula, que influa sobre a condição ou sobre os direitos dos cida-
dãos no interior do reino.
Si as clauzulas dos tractados estiverem â disposição do
18 »
<®>l32#>
poder executivo , si elle poder tornar obrigatórias para a nação }
clazulas que influão na sua poziçao interior , nenhuma cons-
tituição poderá subsistir.
Hum rei supersticiozo contractaria com algum dos seus
vizinhos , supprimir a tolerância religioza. Outro rei inimigo
da liberdade da imprensa , contrataria com outrera que tal sub-
nietter os escriptôres ás mais oppressivas restrições; e deste modo
todas as garantias concedidas pela constituição seiião cassadas ?
e aniquiladas sem discussão , e com hum simples traço de pena.
Demais estes limites não offendem nem de leve a inviola-
bilidade do monarcha , o qual íica inviolável, mas ninguém o
pode servir assim n'este como em todos os outros pontos alem
dos limites constilucionaes , o que se reduz â isto —- que o mi-
nistro que em virtude de hum tractado olfendesse a integridade
do império , a liberdade dos cultos , e da imprensa seria tão pn-
nido j como aquelle que allegasse a vontade real para a execu-
ção de prizoens arbitrarias , ou para arrecadação de impostos
não decretados.—i
Si em huma monarchia reprezenlativa os tractados de paz
devessem estar sugeitos ás câmaras nacionaes, o seu exame nun-
ca poderia ter por fim regeital-os , ou admittil-os , mas unica-
mente rezolvey si os ministros teem cumprido com os seus de-
veres nas negociacoens. A desapprovação do tractado n'este ca-
zo ; não tem outro rezultado sinão a demissão , ou a accuza-
eão do ministro que servio mal ao seu paiz.
He fácil conceber quanto esta faculdade deve conter os
ministros antes da concluzão dos tractados.
N ° 8 DA DOTAÇÃO DO MONARCHA.
ART. i ° Da I N D E P E N D Ê N C I A , DOS J U I Z E S .
ARTIGO 3 ° DA PREVARICAÇÃO.
I
s-
<#>I72<^>
lhe inspira amor ás instituiçoens do paiz. S J he verdadeiramen-
te amigo da sua pátria aqueile que toma vivissima parte em tudo
o que dii respeito a naçaô á que elle pertence ; e debaixo d'esté
ponto de vista , a publicidade das audiências dos tribunaes uti-
liza á toda a cidade.
Acresce , que esta publicidade seria frustanea , si se limi-
tasse a formalidade da abertura das portas da sala , em que se
reúne o tribunal , e a audição do rellatorio do juiz , ou da sen-
tença do tribunal.
Para que seja efficaz , cabe não só que o publico tenha in-
gresso nas sallas das sessoens do tribunal, mas lambera que pe-
rante elle se faça a averiguação de todos os factos tendentes a
informar o juiz do verdadeiro estado da questão j que perante
elle tenhão lugar as opefaçoens preliminares , as inquiri-
çoens , os interrogatórios , os arrazoados ; emfim tudo quan-
to pode instruir o tribunal, deve ser patente ao publico, e fazer-
se de modo , que elle possa saber , o que convém que cada indi -
viduo, que se der ao trabalho de seguir os passos de hum ne-
gocio , possa julgal-o per si mesmo , e appreciar o procedimento
dos magistrados.
Ora cora quanto a publicidade seja optima em s i , pode
com tudo algumas vezes cauzar males. Cumpre que em aiien-
ção a honestidade , a decência , ou a outras graves considera-
coens, o juiz tenha a faculdade de ordenar , que o processo
seja formado á portasJeichadas , isto he na auzencia do publico.
A' prudência pois do juiz he que se deve deixar este cui-
dado , cora tanto porem que as portas Jeichadas não sejaõ sinão
huma excepção á regra geral.
Taes são as vantagens, as condiçoens, e os limites de
huma verdadeira publicidade.
•
<§>i93<#>
A conservação dos postos mílifares;
O recrutamento não só de marinheiros para oseiviço dos va-
zos de guerra nacionaes, mas também de obreiros para os traba-
lhos dos arsenaes marítimos ;
As forjas, e fundiçoens marítimas.
Os hpspitaes ;
Os Iribunaes marítimos.
A polícia das navegaçqena, e das pescas marítimas.
O maniciamento dos arsenaes marítimos.
Emfim a administração militar , civil, judiciaria, e a d e -
feza das colônias , cazo o estado as possua.
He sem duvida que ainda ha algumas matérias, que pela
sua importância poderiaõ dar lugar ao estabellecimento de al-
guns outros ministérios especiaes: taes serião por exemplo a
instrução publica , os negócios rellativos a religião, o coramer-
cio , a industria , e a policia geral. Mas , esíá visto , que es-
ta creação he essencialmente dependente , quer do systema po-
litico adoptado por este ou por aquelle governo, quer das ne-
cessidades , que mais se fazem sentir nesta do que n'quella epocha.
Propuz-me somente a indicar com algumas circunstan*
cias, os ministérios cuja existência parece inseparável de huma
bôa e regular administração geral, no meio de huma nação cuja
população he florescente , e cujo território extenso.
Termino observando i ° que o principio da responsabili~
dade ministerial obriga os ministros a referendarem todos os a-
ctos reaes , que regulão o que se comprehende nas attribuicões
do seu ministério , pois estes actos não podem ter effeito sinão
quando se achão revestidos da assignatura dos ministros : e a °
que os ministros no curso das suas augustas funccoens admi-
nistrativas , o que teem que fazer per si mesmos he menos do
que dirigir a execução , e obetel-a dos administradores, que lhes
sac subordinados.
2 DOS AGENTES SÜPERIORBS.
0
<S>i94^
vizoens do território, e pouco importa, que se chamem, g.y-
vemcuLoies , intendentes , prefeltçs , beys , ou bachds.
Estes agentes, sendo como saõ scnlin ilas des3.'m'nada>
por todos os prineipaes pontos do reino ou império, nao devem
ser estranhos â nenhum dos moyimentos do corpo saciai.
Encarregados de instruir ao governo , devem vi;r tudo e em
tudo velar. Guardas da paz publica, devem prevenir os delictos
por todos os meios que as leis poem á dispoziçaõ da policia admi-
niatractiva. Debaixo d'estas différentes rellações elles devem fazer
com que todas as classes sintão a sua acçâo , e estar em
contacto com todos os cidadãos. Emfim tal he a natureza
das attribuiçoens , de que devem estar revestidos , que a sua ac-
çâo , quazi sempre subordinada ás circunstancias, deve variar
com ellas, pois traçar com preçizão os limites au te os quaes elles
devem parar, fora impossível.
ISão se pode dissimular que no exercício de hum poder taõ
difficii de deffinir , o abuzo eslá mui vizinho do uzo. Apezar d'is-
to , estes imminentes funccionarios devem evitar com cuidado
todos os actos arbitrários : por que não ha nada , que eutibie
mais a affeiçaõ que os cidadãos consagraõ ao seu governo , do
que os abuzos do poder.
Cumpre notar huma difíerença essencial que ha entre a
natureza da autoridade , que hão de exercer estes agentes e a
que deve pertencer aos ministros. A. do ministro tem sempre
huma certa especialidade ; encerra-se n'huma esfera determina-
da e distineta do seniço publico.. Ü governo , ou o prefeito ,
pelo contrario deve corresponder-se com todos os ministros,, e
executar todas as medidas, que dicerem respeito a extençaÕ da
sua circunscripção , seja qual fôr o gênero de serviço , i que
ellas pertenção.
3 Dos AGENTES INTERMEDIÁRIOS.
*
^>i96<^
huma familia mais considerável, e debaixo destas duas rellacões,
ellas ficarão subordinadas á dous regimens muito distinetos :
a lei municipal, e a lei política.
O regimen municipal sahiu como de si mesmo, dos cos-
tumes , dos hábitos e sobre tudo das necessidades dos habi-
tantes.
A organização geral demandava maiores combinações. Era
mister , de diversos elementos , e algumas vezes disparatados for-
mar hum todo regular : era mister regular as rellaçoens das dif-
férentes municipalidades entre si, e as suas rellaçoens com a au-
toridade superior ; em huma palavra , era mister constituir hum
governo, dar-lhe forma, e chefe, e a grande arte de organi-
zar as sociedades ainda estava nas faxas. Em tanto o proble-
ma foi rezolvido de huma maneira mui simples.
Os chefes, os officiaes municipaes das diversas tribus se
reunirão em conselho nacional. Lá cada hum expoz o modo es-
tabellecido em seu município , e o regimen municipal mais ge»
ralraente adoptado , veio a ser o typo do novo governo.
Assim, quando na maior parte das communs , a adminis-
tração estava concentrada nas mãos de hum só homem, o go-
verno foi monarchico. A democracia prevaleceu, quando na ge-
neralidade das povoaçoens, o poder estava dessiminado por todos
os individuos que o exercião collectivaraeute , e em assembleas ge-
raes. O rigimen aristocractico emfim estabelleceu-se nos paizes
onde maior numero dos municípios estava sugeito á conselhos
compostos dos mais notáveis habitantes,
D'esta maneira se formarão as Irez espécies de governos
que os publicistas teem concordado em chamar simplices. Pelo
menos he assim que se pode conceber que passarão as couzas
onde quer que a força nao dictou a lei.
D'estas nocoens rezulta que o rigimen municipal naõfoi
nem organizado per publicistas, nem imposto como quazi to-
das as instituiçoens da meia idade, pela ignorância armada ; mas
que esta arvore antiga he huma producçaõ do terreno , que el-
le cobre dos seus ramos , e que espontaneamente , eimpeilidos
pelo dezejo da sua conservação he que os homens se reunirão de-
baixo da fua sombra tutelar.
Aqui pois ha hum verdadeiro poder natural^ que naõ po-
de ser desconhecido salvo por quem for insensato : e d'elle so se
deve cuidar era tirar proveito para o paiz.
•^197^
Adoptado o governo representativo, ojegislador , si he de
boa fé , verá claramente as suas conseqüências. A mais suc-
cinta reflexão lhe fará conhecer , que o principio vital do gover-
no reprezentativo lie que todos os interesses , os dos municípios,
e dos departamentos ou provincias , sejão igualmente reprezen-
tados que os da nação toda.
Supponhamos pois huma organização na qual os interesses
geraes sejão os únicos reprezentados, em que a administração se-
cundaria fosse excluzivamente confiada aos agentes do poder, á ho-
mens quaze Iodos estranhos aos indivíduos , e aos negócios dos
municípios: não he evidente que em igual estado de couzas , em
vez de hum governo reprezentativo, que se ciesse ter, não se teria
na realidade, sinão huma reunião extravagante de inslituições he-
terogêneas , sinão hum syslema incohérente , que como todos
os edifícios , construídos em terreno movidiço , não terra soli-
dez alguma ? !
Pelo contrario com eleições periódicas tanto para as func-
ções municipaes, como para as que fôr util crear junto a agen-
tes superiores d'administraçao , em cada huma grande divizão
do território , todos os direitos terão garantias, todos os cida-
dãos deffensores , e na epocha das reunioens para a eleição
dos deputados , como os notáveis de cada subdivizão teraõ suc-
eessivamente percorrido todos os graus da jerarquia administrac-
üva , os eleitores teraõ dados seguros e os eleitos conhecimentos
necessários. Huns, e outros teraõ (o que ainda val mais, do que
conhecimentos ) viva adhezão a constituição do seu paiz : elles
a amarão , por que a conhecerão.
Mas si o governo , que naõ pode ver tudo , quizesse fazer
tudo , si professasse altamente , que a cauza publica naõ
pode ser bem servida , sinaô por homens da sua escolha ; os
cidadãos desherdados da sua cjnfiança , lhe recuzariaõ a délies :
as vaidades se initariao, e ninguém teria adhezão á huma or-
dem de couzasá que fosse constantemente estranho.
Em tal estado de couzas , nunca jamais haveria espirito
publico , por que nunca haveria espirito de família e o que ain-
da seria mais deplorável, estabellecer-se-hia huma luta continua
entre as liberdades garantidas pelo pacto fundamental, e pelo
regimen administractivo. Qual seria o êxito desta luta ? S o a
duvida faz recuar de espanto.
<&>ig8<&
D A N A T U U E Z À D O P O D E R M U N I C I P A L ;
i
38. >
NUMERO 3 o CARACTERES BSSENCIAES A'S PUHCÇÕES
ADMINISTR ACTIVAS.
<^>2l3<#>
huma conseqüência do principio da revocabilidade , cuja justi-
ça ja demonstrei , quando fiz menção das prerogativas do poder
executivo : ella está intimamente ligada com a responsabilidade.
4 o O quarto caracter commum ás funcçõens administra-
ctivas he a rezidencia ou a obrigação de morar na cabeça do lu-
gar a que se dever extender o exercício da funcção delegada. A
bòa e prompta execução das^eis, e regulamentos da adminis-
tração publica ; a exacta , e quoTíuíana' vigilância á que devem
e^tar obrigados á este respeito os funccionarios de que falíamos ,
lhes impõem o dever de se não auzentarem dos seus lugares , sal-
vo si íõr por bem do serviço publico.
As funcçõens publicas certo naõ são , como commumen-
te se imagina , nem occazião para satisfazer pretençoens priva-
das , nem arranjo para as conveniências defamilia , nem assen-
to para a vaidade, nem leito de repouzo para a molicie , nem
mesmo couza de commodidade , e de prazer.
Estas funcçõens saõ serviço rigorozo , e ardi:o para a-
quelles á quem saõ confiadas , e demanda mais dedicação do que
as profiçoens independentes.
A administração pois deve ser possuída do zelo do bem
publico. A administração he essencialmenfe activa, pois he
velando que ella conserva a republica , e si a produz, também
he trabalhando.
Portanto hum principio de acçaõ lhe he necessário , e
este principio naÕ se pode deduzir sinao do fim que lhe he pro-
posto. O zelo será o haüto , que o inspira , o motor, que
o anima, a seiva que lhe circula no seio , a sua vida , ea sua alma
inteira : o zelo será para eîla o fogo que nunca se deve apagai.
Por tanto a prezença , e a prezença activa he hum dos ca-
racteres communs d'esta classe de funcções administractivas.
Agora que ja dei a conhecer os diversos instrumentos d'ad-
ministração, cumpre que me detenha em algumas considera-
ções , que lhes são communs , e como ja vimos o que os agentes
administractivos devem ao estado, vejamos agora o que em re-
tribuição tãobem o estado lhes deve.
(i) Quem dera que se attendesse para estes bellos princípios no Brawl •
çntão as couzas não hirião como v5o de'fcz em fora .' ! O îratîuetor
<S>2l6<^>
Naõ ha ninguém que possua este thezouro , mas tia socie
dade ha duas couzas , que teem lugar ; capitães , e trabalho.
Ambas ellas saõ emprestadas a outrem por aquelles que as
possuem : e isto he o que forma o grande objecto do com merci o
social. '■* *
O capital se compõem ou de couzas materiacs , como as
propriedades territuriaes_o<*^—e valores reprezentativos , como
as nossas moedas , ou emtim de huma capacidade propria d ca
da hum.
Este capital assim corno o indivíduo que o possuir , tam
bem pode ter diversas origens : pode ser adquirido por hum
acazo, como na hjpotheze figurada á pouco , ou extorquido
por força , e por violência, ou herdado , ou erufim pode ser
rezultado de trabalho pessoal.
Deixemos de parte as duas primeiras origens, pois a
terceira desaparece per si mesma , por quanto he de mister que
remontemos á aquelle que formou o capital : por conseguinte ,
cahimos ria qu.irta , de sorte qire emfím podese dizer, qus
todo o capital tem a sua origem no trabalho.
Ora este trabalho pode ser productivo para os outros , e
naõ assim para aquelíe que á elle se entrega : tal he o tempo
que os homens caridozos empregaô em acudir as desgraças
alheias : taes saó as consultas gratuitas dos advogados , e dos
medicos. Por outro lado o trabalho poderia ser improductivo
para aquelle que á elle se entregassa : tal seria por exemplo ,
o cazo em que hum homem fosse pago por outro para batter
agoa , simplesmente, e sem fim algum util.
Ora o products do trabalho pode ser tao passageiro , co
mo o salário , ou entaõ pode gerar hum cjpital , assim como
as especulaçoens commercials , ou as economias feitas no sa
lário diário ogeraõ.
O homem pois pode alugar para a util idade social , ou o
seu capital, ou o seu trabalho , ou huma e outra couza juncta
menle. O capitalista aluga o seu dinheiro , e o lucro que tira he
o preço da locação; o proprietário aluga a sua terra , a sua ca
za ; o juriscousulto , o advogado , o pintor o medico , aluga'5
outra espécie decapitai: alugaõ a capacidade que lhe he pro
pria e que era algarismos pode ser av^luada na quantia dispen
íiida com a sua educação.
Pode acontecer, que huraa farnilia venda huma terra ,
<#2Î7<#
huma caía, para dar a hum menino huma educação que pela
capacidade intellectual cuja acquizição lhe proporciona, substi-
tua , o capital que ella julgou dever alienar.
Vê-se pois quanto teem desconhecido o estado da socle da*
d e , aquelles que a te£n?~ dividido em duas classes, á
saber: os quepagSo, e não são pagos , e os que são pagos, e
n ão .pagão. — «, _,,—
Ninguém paga sem ser pago j os capitalistas , os proprie*
tàrios territoriaes sã > pagos pelo aluguel do seu capi-tal : os o atros
que alugão o seu trabalho tambe/n são pagos.
Longe de mim o pensamento de estigmatizar aquelles qua
alugão o seu trabalho pesssôal. O trabalho he mandado pela
providencia ; o trabalho he a grande mola da vida social : o
trabalho he o creador das artes ; foi o trabalho que estabelleceu
o commercio, e deu nascimento á toda a espécie de luzes;
foi o trabalho que fundou as cidades, abriu a navegação dos
mares, e r i o s . . . . Erofim não ha ahi poder-se dizer todo o bem
que o trabalho ha feito , e que certamente ainJa fará.
Ora , que differenca pois ha entre os que alugão a sua
capacidade intellectual y e os que alugão o seu trabalho ? En-
tre os que se consagraõ ao serviço da sociedade , e os que se de-
dicaõ á hum serviço privado ? Nenhum: por conseqüência fo-
ra tão injusto estigmatizar a huns como a outros.
Por tanto he necessário que aquelle que consagrou o seu
tempo, e os seus suores, ao serviço da sociedade, receba a
recompensa , assim como a^uelle , que osdispendeu no serviço
de hum p irticular.
Todavia hã huma differenca importante , c que he toda
em favor do galardão devido aos empregados do estado ; as pro-
íissoens privadas offerecem a perspectiva de formar hum capi-
tal , que poderá ser e npregado, por aquelle que ja não for
mais capaz de aug nental-o , e que assim poderá ser deixado á
sua mulher, e aos seus filhos : em huma palavra offerecem a
esperança de constituir hum patrimônio , ou o que ss chama
numa fortuna.
Esta perspectiva fallesce aos empregadas da estado ;
quanto mais fieis, e probos os suppomos, menos possibilidade
teem elles de crear hum capital para seus filhos. Quanto
mais avançarem em idade , tanto maiores serão as suas neces-
.si Jades , e tanto meios fruetiferos serã3 os seus serviços . ainda
<&2l8<&
mesmo que as suas enfermidades os nlo forcem a abandonai-os.
Assim que he justo , e econômico instituir hum syslema
de apozentadorias para os empregados do estado , isto he , fazer
em seu favor a especulação de precaução , que podem fazer os
outros membros da sociedade , ecaiupensar dü alguma sorte a
idade das necessidades , e enfermidades, com a da actividade ,
e do trabalho. _^_
Gumpie lambem distinguir na organização social d'entre
os diversos gêneros de empregos, os que absorvem toda a vi-
da , e todas as faculdades dos empregados , dos que não exi-
gindo siuão huma porção dolempo , podem ser hum orna-
mento , hum gozo , e huma consolação.
Cumpre lambem distinguir os tempos, e os lugares.
Paizes haverá em que a disproporçaõ dos haveres fará com que
vivão na abasiança assaz de famílias , de sorte que crescido nu-
mero de cidadãos possa dispor do seu tempo á prol do serviço
publico : demais numa repartição mais igual das riquezas di-
minuirá muito o numero das pessoas que podem viver commo-
damenie se'm trabalho algum , e limitará o numero das esce-
pçoens que poderiao fornecer funccionarius gratuitos.
Estas diversas circunstancias exigiaõ medidas différentes.
Assim pois , em rezumo , si não ha ninguém que cen-
sure , e na verdade naõ se pode censurar que hum manufactu-
reiro transforme huma materia bruta e iuforme em instrumen-
to util ou preciozo , e que lire d'ella hum justo lucro , da mes-
ma sorte naõ se deve estigmatizar aquelle que receber o preço de
seu suor , pelo serviço prestado ao seu paiz.
Justa proporção deve ser estabellecida entre os serviços ,
e a retribuição.
JNo governo reprezentativo ainda ha huma ullima consu
deraçào mui importante ; que h e , si os empregos do estado
naõ fossem renumerados por hum salário proporcionado ao
trabalho , e as lidas que elles occazionaõ , seriaõ por huma
conseqüência necessária excluzivamente devolvidos á classe opu-
lenta da sociedade ; esta carreira ficaria interdicla á classe me-
dia . ordinariamente taõ fecunda em talentos e em conhecimen-
tos , mas que ha necessidade desempregar o seu tempo de huma
maneira produetiva ; e a constituição seria assim violada.
3 o Us mesmos princípios se applicaõ ás pensoens em remu-
neração dos serviços publicosl
<&ZIÇ)<&
Cumpre deixar de parle as pensoens de mero favor , eas
que são disproporcionadas aos serviços porque a justiça as re-
pelle. Deve-se porem conceder as pensoens merecidas ; ellas
saõ recursos olferecidps á aquelles que tendo consagrado a sua
mocidade e as suas forças* âo. serviço do estado , achão na ve-
lhice , e na idade das enfermidades, meios de satisfazer ás suas
necessidades. O estado naÕ poderia-^era a mais atroz injustiça
abandonar os seus antigos servidores.
Ora dous meios podem ser empregados para o cumpri-
mento d'esté acto de justiça : istp he, as pensoens podem ser pa-
gas ou pelo thezouro publico, ou pelas caixas de rezerva.
Não ha difficnldade alguma á cerca das pensoens que lêem
de ser pagas pelo thezouro publico.
As rezervas são economias que a admi-nistraçiõ faz dos
ordenados annuaes dos empregados, para délias formar hum
fundo commuai, destinado ao pagamento das pensoens devi-
das áaquelles que são apozentados , e ás viuvas , e filhos dos que
morrem.
As caixas de rezerva pois saõ huma espécie da associação
formada entre os empregados do mesmo serviço'
Ao legislador pertence regular estes dous modos de pen-
soens , escolher entre elles ; ou adoptal-os ambos.
D E H U M C O N S E L H O D E S T A D O E M P A R T I C U L A R .
N / 6 — D H Ü M A JURISDICÇA.Õ ÀDMIRISTRAÏIVA.
/
NUMERO 7 T)A MA NUTENÇÃO DA S A TTRIBUIÇÕES ENTRE AS
AUTORIDADES A DMINISTRA TIVA S, E JUDICIA RIA S.
i ■ *
t
Si lhe parece que a lei estabellecida viola a lei natural ,
e a fundamental ; o direito do cidadão reduzse a dizelo , a
escrevelo e a demonstralo por meio da imprensa.
Isto pode fazer o objecto de huuia petição ás câmaras na
cioíiaes , ahm de levarlhe o tributo individual das suas luzes ,
e de esclareceias" por suas queixas.
Si a lei com effeito , fôr tal qual pensa o cidadão , si o
legislador houver desconhecido as regras do justo , e violado a
constituição, naõ he possível que essa lei permaneça por muito
tempo em vigor, pois ha de baquear ao poder da opinião pu
blica , e ás corajozas exhortações de huma reprezentaçaõ verda
deiramente nacional.
Mas atéentaõ , nunca será demaziado repetir, a lei obri
ga : cumpre obedecela, ou prepararse para sofíier a pen.*
que deverá seguirse a desobediência.
Mas por ventura será igualmente rigorozo o dever do ei
dadaõ , cazo a obrigação imposta pela lei seja inteiramente con
traria ao direito^ natural P Nao he de presumir que os legisla
dores esêabeUecao deveres que taes j mas si assim acontecer o
!
<^>a38<#>
cidadão longe de estar obrigado, deve rezistir, isto he , recu>
zar a obediência.
Taes me parecem ser os deveres dos cidadãos para com as
leis geraes. Acontecerá o mesmo á cerca das ordens do prin-
cipe ? Este ponto também merece ser profundamente meditado.
Ja dice , que os actus do principe exigem obediência .
por que tendo elles por fim a exepucaõ das leis , tiraô- d'elles a
força obrigatória.
Em theze obedecer as ordens do principe he obedecer
ás leis.
Pergunta-se porem si hum sugeito pode executar inno«
centemente huma ordem injusta do seu soberano, ou si deve
recbzar constantemente obedecer , ainda com perigo de per-
der a vida.
Alguns publicistas, a cuja frente se podem pôr Hobbes ,
ç PuíTendorf , dizem que he mister distinguir si o principe nos
manda obrar em nosso próprio nome , humaacçaÕ injusta , que
seja reputada nossa ; ou si elle nos ordena, que a executemos,
etn seu nome, na qualidade de simples instrumento } e como
huma acçaõ que reputa sua.
N'este ultimo cazo , pretendem os taes publicistas, que se
pode sem temor executar a acçaõ ordenada pelo principe, que
entaõ deve ser considerado como o único autor , sobre quem
*oda a culpa deve recaliir. Os soldados por exemplo , dizem el-
les, devem sempre executar as ordens do seu principe, pois
naõ obrão em seu nome , mas como instrumento , e em nome
de seu chefe.
Mas nunca será permiltido, proseguem os mesmos escn-*
ptorés, practical* em seu próprio nome huma acção injusta , di-
rectamente opposta ás luzes de huma consciência esclarecida :
assim pois , hum juiz nunca devei á , qual quer que seja a or-
dem que lhe desse o principe , condemnar a hum innocente ,
e nem tão pouco huma testemunha depor contra a verdade.
Outros publicistas porem , á testa dos quaes estaõ Bar-
oeyrac, eBurlamaqui, respondem : que esta distinção nâ"o
corta a difficuldade ; por quanto seja qual for a maneira por
que se pretenda que hum sugeito obre, n'este cazo , ou em seu
próprio nome ou em nome do principe , a sua vontade de al-
gum modo sempre concorre para a accão inj^sja^e-çriminoza ,
que elle executa. Assim ou sempre.se lhe deve jraputífr parte
de tttHtíU e outra acçâo , ou nunca se lhe deve imputar ne-
nhuma d'ellas.
Por tanto o mais seguro he distinguir n'este cazo a ordem
evidente, e manifestamente injusta, d'aquella cuja injustiça
he duvidoza , e apparente. Quanto a primeira cumpre susten-
tar geralmente e sem restricção , que as maiores ameças nun-
ca devem acabar comnosco que aiutia por ordem , e em nome
do soberano , pratiquemos liuma acção que nôs parece injusta ,
e criminoza , e suposto que mereçamos toda a desculpa nos tri-
bunaes humanos, por havermos succumbido á tamanha pio-
vança , todavia não merecemos desculpa alguma perante o tri-
bunal da consciência , e de Deos.
Assim que he incontestável que deve recuzar obedecei :
—hum ministro á quem o prineipa quize^se obrigar a expedir ,
ou a faxer executar huma ordem iniqua , ou tyranica ; h u m
embaixador á quem o monarcha desse ordens inanifestamer.te
injustas; hum official a quem o rei mandasse matar- hum ho-
mem cuja innocencia fosse mais clara do que a luz mere-
diana.—
N'estes cazos, cumpre mostrar nobre coragem e rezís*
tireom todas as forças á injustiça á despeito de tudo o q;
nosso procedimento nos possa acarretar. Quando se jura fiel
obediência , ao soberano lie sob a implícita condição de que ei-
le nunca ordenará couza que seja manifestamente contraria ás
leis naturaes.
Si se tractar porem de huma ordem que nos pareça imuô-
t a , mas cuja injustiça seja duvidoza , neste cazo, o mais seguro
sem duvida será obedecer : pois sendo o dever da obediência In;
ma obrigação clara e evidente, deve vencer ; por que alias si a
obrigação que teem os subdictus de obedecerem as ordens do
seu soberano lhes permittisse furtar-se á execução até que se ei»
les convencessem da sua injustiça , a autoridade ficaria reduzi-
da á nada , e tudo seria aniquilado. Fora necessário que os
soldados, os beleguins, e os próprios carrascos entendessem
de política , e de jurisprudência : sem o que elles se podenaõ
furtar á obediência , sob pretexto deque não estavão inteira-
mente convencidos da justiça das ordens que se lhes dessem, o
que inabilitaria o principe para fazer executar as leis. Por
tanto c u m p r e , a ^ subdictos obedecerem nestas ciscunstancias :
e si a acçio em si mesma for injusta ninguém lhes poderá com
^ 2 4 0 ^
lustici fazer a menor imputação : toda a culpa recahirá sobre
o principe , ou antes sobre os ministros que são responsáveis.
Cumpre porem observar que a obediência tem seus limi
tes, e que si a ordem do principe encerrar huma evidente in
justiça , não somente não ha obrigação de executala , mas até
a recuza de obedecel3 tornase indispensável, pois he me
lhor desobedecer ao principe $0. que violar os preceitos do di
reito natural ensinado por De.os mesmo.
Ninguém conclua porem d'aqui que se pode rezistir ao
principe, empregando a força } pois huma couza he sim
plesmente recuzar obedecer aos mandados injustos do princi
pe , outra he rebel!arse contra elle.
Verdade he que confundir a revolta com a simples recuza
■le obediência , he erro mui corriqueiro : devo porem repetir
que estas duas idéias são mui différentes ; pois como acabama*
iie ver , a recuza á obediência pode ser legitima era certos cazos r.
mas a revolta jamais he permettida.
A recuza á obediência não attaca a baze da autoridade do
■superior. Reconhecemos a autoridade no mesmo tempo em
que nos não curvamos ao que ella manda , ou por que pensamos
que excede ao seu poder , ou por que consideramos como
iiiicita ou injusta a couza mandada ?
A revolta pelo contrario tende directamente a destruir
o poder do superior : ella o desconhece , e quebra os laços da
obediência.
Ha com effeito duas obediências: a activa, e a passiva.
A obediência activa consiste em fazer o que manda o principe í
a obediência passiva consiste em soffrer o que se não pode
obstar.
A obediência activa nem sempre he devida , a passiva em
todos os cazos.
As>im como ha duas espécies de obediências assim tam
bém ha duas espécies de desobediência ; a activa , e a passiva,,
A desobediência activa que consiste em obrar contra as
ordens do soberano, he criminoza , a desobediência passiva^
que consiste em não obrar he algumas vezes legitima.
Revoltarse lie empregar a força para subtrahirse ao po
der do príncipe: he o crime de hum subdicto que attaca os of
ûciaes do principe, injuriandoo ou pondo^IJje^mjíos violenta?.
Penas rigorozas devem ser fulminadas contra os quer»*
<§>a4i^
correrem em semelhantes excessos.
Ha porem hum delicto que não se poderia imputar
âaquelle, que, sem irrogar injuria ou commetter violências,
se limita a não executar-huma ordem que recebeu, e que he
evidentemente injusta.
Eis o que tenho a dizer sobre as leis naturaes : fallarei
agora acerca das fundamentaes.
Sob a monarchia absoluta-, todos os autores ensinavaõ
que si o soberano mandasse ^ouza que fosse contraria ás leis
fundamentaes, os subditos nao estavaõ obrigados a obedecer-
lhe : que o soberano era obrigado a observar as leis fundamen-
taes , que o governo lhe fora confiado com esta condição ; que
estava subentendido não haver obrigaçío de obedecer, quan-
do elle contraviesse á estas leis; que elle nao poderia exigir
obediência mais ampla, do que a que se lhe quiz promener:
que neste cazo j í não havia obrigação de executar a5 suas
ordens, pois estava em conlradicção com as leis funda-
mentaes.
Com maior razão devem estes princípios ser admittidos
na monarchia constitucional , e reprezentativa, forma de go-
verno esta em que o principe não exerce de facto toda a so-
berania, em que as leis não emanao somente da sua delibera-
ção, e era que he reconhecido que o mesmo legislador ordi-
nário nao teria o direito de modificar, ou de mudar as leis fun-
damentaes.
Cumpre comtudo notar que com quanto os subdictos naõ
sejaõ obrigados a obedecei n'este cazo, todavia podem fazei-o ,
por que todo o homem pode renunciar ao direito que tem de
naõ fazer huma couza'.
Esta he a differença que existe entre às leis fundamen-
taes , e as naturaes. Os homens nem podem subtrahir-se ao im-
pério d*estas, por que nao saõ os autores délias, nem taÕ pou-
co jamais lhe será permettido offendel-as. As leis fundamen-
taes pelo contrario saõ obra do povo, que pode raudal-as , abolil-
a s , ou derrogal-as em huma occaziaõ particular, hurai vex
que se queiraõ prestar a o que lhes for contrario.
Todavia esta facilidade he de mau exemplo, e prova fra-
queza : attesta, n'aquelle que cede a auzencia dessa coragem ci-
vil que fa/ os verdadeiros cidadãos.
Todo o indivíduo , a nação em pezo , ou ao menos os
3J.
seus principaea órgãos teem o direito de rexistir ás ordens sub-
versivas da constituição do estado, cuja tendência fosse o es-
tabelecimento do despotismo : cumpre que se opponhaò por
meio de reprezentaçoens, de reclaraaçoens, e de protestos. O-
ia nao ha ninguém que duvide de que seja permittido aos sim»
plices cidadãos procurarem remédio na paciência, e antes ex-
porem-se á padecimentos do que. obedecer a actos do poder exe-
cutivo somente, que os despojassem dos seus mais preciozos
direitos, c lhes anniquiilassem todas as garantias.
A historia da França offerece , mesmo sob a monarchia
absoluta, uutnerozos exemplos de cidadãos illustres que po-
zeraÕ em practica estes principios sobre a rezistencia âs von«
tades arbitrarias dos soberanos.
Estas passagens históricas são a prova de grande cora-
gem civil, virtude muito mais rara, e muito mais util do que
a coragem militar !
-ââ®®&©a a&
Dos PARTIDOS, B DAS FACÇOEBS,
DA GÜ£BRA CIVIL.
•
<$>247^
vastado, e despovoado , cahe nas garras estrangeiras, e os es-
trangeiros certo não hão de crer que podem sustentar a sua au-
toridade sinão á força. Eis o resultado natural, e quazi certo
da licença popular.
Emfim pode-se dizer que as sedicçõès , e as guerras civis
são quazi sempre ou directa , ou indirectamenle , obra do gover-
no. Elle as provoca verdadeiramente, quando tendo commet-
tido hum acto arbitrário , despreza reparal-o , e por este meio ob-
star o descontentamento, e os qufcixumes. Gonducta que tal, pro-
va ou deleixo , ou desprezo : muitas vezes he fundada sobre a
falsissima maxima que os governantes nunca devera ter erro , e
por conseqüência nunca retrogradar , como se hum ministro , e
os seus agentes fossem dotados de infalibilidade : como si a sua
demissão arrastasse a ruina do governo.
O director de huma nação tãobem vem a ser a cauza indi-
recta das sedicçõès, si as não previne , ou as não abafa no nasce*
douro.
Pretendidos discontentes, facciozos, ambiciozos, espirito$
vertiginozos , e inimigos da ordem podem imputar a autoridade
erros imaginários ; podem tomar a peito propagaUos, e à surdi-
na formarem hum partido, Si o governo os deixar obrar, a cre<
dulidade lhes grangeará logo adhérentes : e assim que se elles jul«
guemassaz fortes , tirarão a mascara, ínsurgir-se-haõ , perturba-
rão por toda a parte a tranqüilidade publica , e entregarão a sor-
te do estado ao azar dos acontecimentos. Nada d'isto porem
accontecerá , si o governo, cuja vigilância deve extender-se a to-
dos os lugares fôr fiel a maxima , que he principalmente no prin-
cipio do mal, que se lhe deve rezistir.
Si o mal se aggrava , e se propaga , e si a voz da autorida-
de pouco á pouco vai deixando de ser obedecida em toda a parte ,
a sociedade achar-se-ha então em hum estado que vamos exami-
nar.
Este estado he a anarc/iia.
DA ATÍARCHIA..
;
DA DICTADORA.
*fe£Stt5»*«4SMS»*'Cfr"
«I»251 <#»
CAPITULO. 4o
à
DAS RsvoLtrçoBirs»>
FIM.
-#2o; " #
Nota-A.
A dez de Abril de 1828 M. Jomard , membro dolo>-
lilulo , e director, dos estudos dos moços da missão egypcia ,
entregou-me seis aluemos para serem iniciados j segundo a in-
tenção do seu governo no conhecimento das regras da adminis-
tração civil, e da diplomacia.
Estes alumnos eraÕ os Senhores Muhurdar Abdi-Effendc,
a dos chefes da missão , Stephan-Effendi, Artyn-Éffendi,
Chosrew-Effendi, irmão de Artyn , Selini-Effeiidi, e Hosrof-
Mohammed os quaes toei )s posto que rnuvesssm sido educados
no Egypto , to Ia via não tinhaõ nem a mesma origem , e nem
a me^ma educação primaria. Três eraÕ Coiistantinopolitanos,
dous Georgianos, e hum Anatdiano , três erao mahometanos,
dois Christãos Gatholicos, e hum Armeuio. Dous haviaõ
feilo parte do corpo dos mamolucjs ; dous tinhaõ vivido alguns
annos no captiveiro ; differiaÕ todos em idade , a qual varia-
va de vinte até trinta e hum annos. EsUs moços eslavu5 em
França á qucui dous annos , e únluõ-se oecupado, nas diversas
pencoens da Capital no estojo da lingua Franceza , das math; ~
maticas , e do dezenho.
Ao depois , hum novo alumno Emyn-Effendi, irmlo
de Hosrof-Mohammed, como elle Gregoriano , como elle sahHo*
do corpo dos mamelucos , e finalmsnte secretario de hum dos
ministros da guerra deMemehemet-Aly foi admitlido ni seccão
da administração civil.
Eis o plano de estudos que assentei dever formar para Os
meus discípulos. Atarefa era immensa e de'extrema difficul-
dade : e como era possível , em pouco tempo , iniciar nos se-
gredos da civilização Europea , e na ordem das nossas socie-
dades políticas , espíritos taõ novos , e junetamente taõ satura-
Tos de prejuízos ? ! Pensei que era impossível fazer hum bom
35, »
<^268^
administrador, e estadista daqueîle que I e não estuda
o homem em si mesmo , a sua natureza , as suas inclinações,
o* seus deveres para com Deos, para com sigo, e para com os
outros ; pois que he sobre o homem, pelo homem , e para sua
felicidade , que em toda a parte o administrador exerce as suas
iunccõe» D'aqui o estudo necessário da philozofia mo-
ral ,'ou por outra do DIREITO NATURAL.
2 ° D'aquelle que se naõ applica a conhecer as regras na-
turaes que regem as rellacoens das diversas naçoens entre si ;
d'aqui o estudo do DIREITO DAS GENTES.
3 c D'aquelle que se não esforça por saber cotno se cons-
tituem as sociedades civis , e as divercas formas do seu gover-
no ; d'qui o estudo do DIREITO PUBLICO GERAL.
4 ° àD'aqnelle que não procurar cuidadozamente conhecei
a? regras que prezidem a formação , a distribuição , e o consu-
mo das riquezas das nacoens ; d'aqui o estudo da ECONOMIA
POLÍTICA.
5 ° D'aquelle que se não penetrar da necessidade de co-
nhecer com a exactidão possível, os ellementos materiaes e
moraes do poder das nações , e por conseqüência d'aquelle que
não apprender as regras que devem dirigir esta indagação •, d'aqui
o estudo da ESTATÍSTICA GERAL.
6 c Emfim d'aquelle que não conseguir a intelligencia exa-
cta e perfeita das regras que em toda a sociedade civil devem
prezidir as reilações respectivas dos governantes para com os
goverados, e ter por fim satisfazer á estas três necessida-
des g era es : subsistência publica, instrução publica, esegu-
j anca geral, d'aqui o estudo profundo da ADMINISTRAÇÃO
GERAL.
A reunião d'estes seis ramos dos conhecimentos humanos
forma o que eu chamo sciencia social.
Desenvolverei estas idéias n'hum discurso preliminar, es-
pécie de programma em que este vasto plano foi desdobrado.
Comecei o meu ensaio aos io de Abril i828 e terminei em No-
vembro de x83i; por conseguinte a minha tarefa durou 43 Ine-
zes , durante os quaes o trabalho foi repartido por este modo
Direito natural, 3 mezes ;
Direito das gentes, 2 mezes ;
Direito publico , 3£ mezes*j
Economia politica, af mezes ;
<^>269^>
Estatística , a mezes ;
Administração , 21 mezes.
Pot tudo 34 mezes ou perto de trez a ri nos.
As ferias necessárias ao professor para repouzar - , ajun-
c t a r , e coordenar os seus materiaes sobre hum ensaio laó no-
vo pela sua extençaõ , e por algumas das suas partes , o tem-
po indispensável para os preparatórios dos exames , e o curso
administractivo ( sobre o qual mais abaixo se acharáõ alguns
promenores ) absorverão os outros nove mezes , que completai)
o total do espaço que decorreu de abri! de 1828 a novem-
bro de Í 8 3 I »
Permitla-se-me acrescentar algumas particularidades,
que talvez sejão dignas de altençaõ ; por que uaô he inutil
mostrar o como eu pude conseguir ageitar a civilização e-uro-
pea homens, que eraõ taõ estranhos á ella. Não será por. ven-
tura huma espécie de creaeâo moral, cujos prinerpaes desen-
volvimentos quem for curiozo não desgostará de saber ?
Quando tomei conta dos meus seis primeiros discípulos ,
quazi todos elles com quanto rezidissemera França cerca de dous
anuos j todavia ainda estavaõ pouco familiarizados com a nossa
língua. Vi-me obrigado a servir-me para compêndio de Di-
reito natural de hum livro impresso ( Burlamaqui ) e lel-o fraze
por fraze em voz alta , feito o que, tornei a começar , explican-
do o sentido das palavras menos uzuaes j depois diato ainda foi
necessário commentai', desenvolver, rectificar , e justificai
o pensamento do autor.
Foi mister fazer o mmeso trabalho em Felice para o t*iu-
do do Direito das Gentes.
Quando chegamos ao Direito publico , os meus alumnus
felizmente estavaõ tão adiantados na intelligencia da língua
franceza , que ja não precizarão ter hum compêndio â vista.
E demais onde o teria eu encontrado ? Em fraucez
não existe tractado algum d'esta sciencia verdadeiramente ele-
mentar : pelo que era-rae necessário compor hum depropozi-
to para este fim : raetti mãos á o b r a , eorezultado he o que
precede a esta nota ; o modo por que procedi á redacção está
explicado no meu prefacio. (1)
(1) A' 3o de Abril de 1819 os meus discipulos passarão por buro esamfc
publico sobre o direito natural, o direito das gentes , e o direito publico ge-
T^ry^A Gazeta dos trihunaet d'essa época da conta do lefferido exame.
♦270 ♦
Não live o mesmo embaraço quanto & Economia Politico.,
pois são abundantes os tractos d'esta sciencia : não tive traba
lho sinão de escolher. Ora a sciencia he tão difficil sobre tudo
para os espíritos que eu tinha de formar , que não hezitei hum
•ô momento sobre o partido que devia tornar. Havia pouce
po que tinha sabido á luz hum livro claro, esuccinto,
composto por Mr. Droz : mettio nas mãos dos meus alumnos ,
e si me não limitei ao que se continha n'elle , ao menos to
meio como texto das minhas licçoens : para expozitores soc
corrime ás obras de Smith ,.Sismondi , Ganilh , Destutt de
Tracy, Mallhus , Stoik , Skarbeck , Du noyez , Mill, Rlan
. e sobre todos do curso completo de Mr. J. B. Say.
Quanto aos princípios geraes da Estatística , a pòzição
de püofessèr ainJa era mais penoza do que para o ensaio do
direito publico. Ha falta absoluta da livros elementares, ou
para melhor dizer de quaes quer obras que tractem d'esta scien
cia em si mesma. Verdade he que possuímos estatísticas par
:.aes, algumas das quaes com razão gaba Ias ; mas carece
mos de obras que tractem da estatística em geral ; e direi de
passagem, que as bares d'esta sciencia ainda não estão bem
Ias , e os seus elementos ainda são incertos.
Foi por tanto forcez> aventurarme a bosquejar
. i nsaio trilhando huma estrada tão nova, e tão cheia de
'idades, Estabelleci algumas regras sobre o objecto d'esta
sciencia , sua utilidade , os factos que se ella propõem a reco
nhecer , e os melhores meios de conseguilos. Enfim para of
ferèòer aos meus discípulos a practica ao lado da theoria , escre
vilhes n'hum tratadinho especial a estatística doF.gyptoeda
França.
Mas a tarefa mais árdua , e em que era necessário fazer
mais aturados esforços estava rezervada para o ensaio d'Jdrni*
nisiração geral; faltavame também aqui hum guia: verdade
he que eu tinha á mão materiaes preciozissinos , mas era preci
• •: nàiruir o edifício desde os seus alicerces: n'este trabalho
on sag rei dous annos inteiros , e a minha obra offerece a ma
a de perto de 5 volumes em 8 ° ! . . . .
Como este era o fim , e objecto principal dos nossos estu
dos. !ei mais dezenvolvimento ao ensino desta sciencia , e mui
; _>zes tive a doce certeza de que as minhas licções erao ouví
50'tti attenç.+õ , e retidas com feliz succe^so.
•^271^
Accrésce que eu estava ligado a execução de hum piano
:jue julgava ter acabado sem coadjuvaçaõ de pessoa alguma , o
qu=tl devia deixar profundos vestígios na memória dos meus jo-
vens Africanos, e tinha a immensa vantagem de lhes fazer
ver no mesmo instante a âpplicação das theonas que eu lhes en-
sinava . . . . ViziLunus em Panz ou n'huin recinto de sei>
legoas, quazi todos os estabellecimentos de utilidade publica eu-
tretidos ou protegidos pelo eatado. Eu havia obtido do govei -
no as autorizações necessárias ; e como éramos acolhidos em to-
da a parte com polidez exquizita., e perfeita cordialidade , es-
tes cursos administrativos lhes agradavao extreraozamente. Que
estima pela França lhes-não inspirarão ! Quanto não adrni-
:avào elles a grandeza , e a utilidade das nossas instituições !
Na volta eu travava conversação com elles, afim de obri-
gal-os a recolher as suas lembranças : vi muitas vezes esses es-
píritos , ordinariamente taç tranquillos , encherem-se de enthu-
ziasmo pelo que acabavaõ de ver , e repetidas vezes conven-
ci-me que nenhuma particularidade importante havia escapado
aos olhos observadores da mór parte délies.
Foi pois esta huma das couzas mais úteis , que creio ter
feito aos meus caros alumnos : a qual he hum remate necessá-
rio de toda a educação política e administrativa que tendo sido
amplamente concebida, tenha sido firmemente executada.
Eis agora alguns proraenores sobre o mechanismo do meu
ensino em si mesmo.
Durante os meus Irez annosde professorato dei constante-
mente ti ez liccões por semana : cada liccão durava pelo menos
hora e meia , e algumas vezes duas , e meia.
A primeira parte era consagrada era rezurair succinta-
raente a liccão precedente, a segunda em explicar matérias no-
vas , e a ultima era empregada pelo modo seguinte : leva-
va para a aula todos os dias huma serie de thezes ( de dez a
vinte ) que rezuraião toda a liccão e assignalavaõ os seus pon-
tos capitães : eu as lia, e me dedicava a rezolvel«as com pre«
cizão e clareza : e para certificar-me si a liccão tinha sido bem
comprehendida, interrogava circularmente aos meus discipu-»
los, fazendo-os rezolver alternadamente as thezes assim es-
tabelecidas.
Alem d'isto cada hum d'elles era obrigado a escreve }
a solução que houvesse de dar sobre estas perguntasr
^ 2 7 2 <#
e no intervalo das nossas sessoens he que elles se appucavaô
.i este trabalho, ajudando-se das notas que tomavao durante a
îicào oral. Estas redacçoens me eraõ entregues no principio
dalicção seguinte , e eu Ih'as restituia para logo com as minhas
reccoens , e observaçoens escriptas. Só o curso d'adminis-
-2çào geral não abraçou menos de três mil thezes princi»
pães : portanto fácil he fazer huma idéia da immensidade dos
trabalhos á que nos entregamos.
Isto porem não he tudo : temendo não obter sinão re-
sultados insufficientes por meio das perguntas rezumidas
que se faziaõ no fim de cada sessão , e pelas soluções escriptas
que estes moços me davaõ, querendo que cada licção deixasse
os seus vestígios, não me demorei em consagrar em cada semana
huma sessão inteira ao exame dos meus discípulos sobre todas
as matérias ensinadas nas licçÕes precedentes. Por este modo
deparei com o meio de reprezentar lhes ao espirito cinco vezes
os mesmos objectos dos seus suecessivos estudos : a saber : pela
liecão, pelorezumo, que se lhe seguia, pelas interrogações
finaes, pelas redacçoens escriptas, e pelos exames hebdoma-
.TÍOS.
Estes exercícios he sem duvida que eraõ muito repetidos,
mas como eraõ distinetos na forma, nunca percebi que o espi-
rito dos meus alumnos se houvesse fatigado.
Rogo que me perdoem a minuciozidade , e aridez d'estes
pormenores, pois persuado-me que n'hum ensino tão novo,
ne util expor até o mecanismo por meio do qual pa-
receu-me que eu podia chegar a caplivar a attenção , e entreter
profundamente o espirito dos meus ouvintes.
Praza á Deos que os meus cuidados algum dia produzaÒ
fruetos! OEgypto victoriozo, tendo consolidado a sua inde-
pendência á força d'armas, sentirá sem duvida a necessidade
de dar á sua organização interior algumas das garantias sem as
quaes não ha império seguro , e nem prosperidade durável ?
" Os meus jovens alumnos podem agora offerecer ao seu paiz o
tributo dos seus estudos : elles deixarão a França . no mez de
Janeiro de i83a > tendo assistido em Pariz a grande revolução
de i83o ! , . .
Mr. Boulatignier, meu diacipulo e amigo continuou o
mesmo ensino, e sobre as mesmas bazes, para com alguns dos
moços Egypcios que ficarão em França.
-Sn
INDICE.
Paginas.
Prefacio. . „ . . . , Ill
Nomenclatura dos A u t o r e s . . . . . . . . VII
TITULO i ° . Das Sociedades civis a
CAPITULO 1 ° —Da Origem , fim y e effeitos das so
ciedades civis , . Id,
SECÇ4Õ I — Da Origem das sociedades civis, . , 5
SECCA.5 II—.Do Fim das sociedades civis. . . . 4
SECCAÕ III — Dos elfeitos das sociedades civis. . . 5
CAPITÜO 2 ° — Do estabellecimento das sociedades
civis . . . ; 6
SECCAÕ I — Do Pacto, ou Contractu Social, . . ÏJ.
SECCAÕ I I — Da Constituição política. . . . . 7
SECÇAÕ III — Das Obrigações reciprocas do Princi
pe , e dos cidadãos. . . . . , , . , Id.
SECÇA.5 IV — Da Constituição fizica da sociedade. 8
SECÇAÕ V — Da Constituição moral das sociedades. 9
CAPITULO 3 O — Dos Poderes Sociaes. . . . . 11
SECÇAÕ I—> Do Poder legislativo it
§ I — Definição de Lei , . . . . Id.
§ II — Caracteres da Lei ; . . i3
§ III—Fim das Leis i*
§ IV. — Efteito das Leis. . . . . : Id.
§ V. — Divizão das Leis. . , , . . . . . i5
§ VI.—■ Promulgação das Leis. . . : , , , 17
SECÇAÕ II — Do Poder executivo , em geral. . . 19
§ I ~ Do Poder executivo propriamente dicto ,
ou do Poder administrativo Id.
§ II —• Do Poder judiciário. : . , , . , , . 20
TITULO 2 ° — Da Soberania 2a
CAPITULO 1 ° — Da Fonte iramadiata da Soberania. 23
CAPITULO 2 ° —. Da Inalienabilidade da Soberania. 25
O
CAPITULO 3 — Da Divizibilidade da Sobarania. 26
TITULO 3 ° — Do Governo. . . . . . . . 27
CAPITULO I ° <—« Divizão dos Governos. , . . 20*
- * 36.
Paginas.
SECCAÕ Í — Dos Governos Republicanos. . . . ag
S I —Da Democracia Id.
S II —Da A ristocracia 3o
SECCAÕ II —Dos Governos monarchicos. . . . 3a
§ I—Da Monarchia simples Id.
§ li — D i Monarchia temperada 35
IJ — Do Despotismo 34
§ IV — Da Uzurpação , e da Tyran ia 3y
§ V — Da Monarchia elecliva . . . . . . . 3g
§ VI — Da Monarchia hereditaria 4Ô
§ VJI— Dos Reinos Patrimoniaes. . . . , . 4*
SECCAÕ III — Dos Governos mistos. 42
SECCAÕ IV —Do Governo reprezentalivo. . . . 4^
SECÇAÕ V — Dos Governos Federativos 4j
CAPITULO 2 ° Da Bondade intrínseca dos Governos. 4&
SECÇAÕI — Das Garantias sociaes Id*
§ I — Das Garantias privadas 4g
Numero 1 ° — Da Segurança pessoal. . . . . Id.
Numero 2 ° •— Da Segurança das Propriedades. . 52
Numero 3 o — Da Liberdade de Industria. . . 56
Numero 4 o — Da Liberdade das opinioens. . . 58
Numero 5 o — Da Liberdade de consciência. . ". 67
Rezumo do parágrafo , , 71
§ II — Das garantias publicas: Id.
Numero i ° — Da Conservação da sociedade. . . y2
Artigo i ° — Da Força publiGa Id.
Artigo 2 o — D a Fazenda publica. . . . ; . ?3
Artigo 3 o — Da Policia 77
Numero 2 ° — Do A perfeiçoamento da sociedade. 78
Artigo i c — Da Religião 79
Artigo 2 ° ■— Da Educação publica 8c
Artigo 3 o — Do Patriotismo» . : 85
SECCAÕ II — Da Distribuição dos Poderes sociaes. 86'
§ I — Elementos do Poder legislativo. . . . . 88
Numero 1 ° — Do Povo. . . » Id.
Numero 2 o — Dos Notáveis, ou Nobres. . • . 89
Numero 3 o — Do Monarcha . » 90
§ II — Do Poder executivo Id.
Numero i ° — Da A utoridade administractiva. „ 91
Paginas*
Numero 2 o — D a A utoridade judiciaria. . . . 92
SECÇAÕ III—• Dos Obstáculos áinvazão dos respe
ctivos poderes 93
§ I — Da Organização do Poder legislativo. . . 96
Numero i ° — Da Gamara popular Id.
Artigo i ° — Do Direito Eleitoral .1.1.
Artigo 2 0 — Da Elegibilidade 97
Artigo 3 o — Do Numero dos Re preze ri ta ates. . 99
Numero 2 ° — Da Câmara A ristocrática. . . . 100
Artigo i ° — Da Escolha dos Pares io3
Artigo 2 o — D o Numero dos Pares io5
Numero 3 o —■ Do Principe Id.
Artigo 1 ° — Da Iniciativa. . . , . , . , 106
Artigo a ° — Da Sancçao • . .
Numero 4 o —• D^ Reunião periodica das Ca m .iras. 107
Numero 5 o — Do Voto do imposto. . . . . 10S
Numero 6 o — Da Liberdade das discussoens , e
deliberaçoens das câmaras. . . . . . . \ og
Numero 7 ° — Da Publicidade das discussoens nas
câmaras . no
Numero 8 ° — Das IncompatibiliJades ïî.
Numero 9 ° —■ Das Prerogativas pessôaes dos Mem
bros do corpo legislativo. . . 4 . . .
Numero 10 — Da Gratuidade das Funcçoens dos
Membros do corpo legislativo n3
Numero i r — D'huma Oppoziçâo systematica. . 114
Rezumo dos Elementos do Poder legislativo. . . ii5
§ —Da Organização do Poder executivo. . . . un
Numero 1 ° — Da Inviolabilidade da Pessoa du
Monarcha , e da responsabilidade dos agen
tes do Poder executivo
Numero 2 ° — Da Convocação , e Prorogação das
Câmaras nacionaes í2r
Numero 3 o — Do Direito de dissolver a Câmara
popular i23
Numero 4 o — Da dispoziçaõ das forças de terra , e
mar. . . * * j25
Numero 5 ° — Da P a z , e da Guerra i3o
Numero 6 o — Dos regulamentos relativos á execu
36. »
<®>2j6<§>
Paginas.
çao das leis '. . 132
Numero 7 ° — Da Nomeação para todos os empre
gos tanto civis, como militares iâ6
Numero 8 ° — D a Dolação do Monarcha. . . . 140
§ 111— Da Organização d'autortdade judiciaria. . 142
Numero 1 ° — Dos Elementos d'auloridade judi
ciaria 143
Numero 2 ° — Do Exercício d'autoridade judi
diciaria 144
Artigo i ° — Da Independência dos juizes. . . 145
Ai tigo 2 o — Do Recurso contra os erros dos juizes, H9
Artigo 3 o — Da Prevaricação. . . . . . . i5o
Ariigo 4 o — L>a Denegação da justiça. . . . i5l
Artigo 5 o — Da Promotoria Publica i52
krfcigo 6 o — Da certeza que todo o cidadão deve
ter de ser julgado por seus juizes naturaes. i55
Ai ligo 7 0 — D o Jury em materia criminal. . . 159
Artigo 8 o — D a Publicidade dos debates judiciários. 169
Artigo 9 o — Da obrigação de fundamentar os jul
gamentos . . . . 1^2
At tigo ÏO — Da Liberdade da Defeza. . ; . . 174
Ai tigo \ 1— Da Simplicidade das formulas judiciaes. 176
Artigo 1 2 — Da Uniformidade da jurisprudência. 178
\ u : g o i 3 — Do Numero dos Juizes. . . . . 182
Hezurao dos Elementos d'A utoridade judiciaria. . i85
§ IV—Da Organização d'Autoridade administrativa. 186
Numero 1 ° —Da Divizâo do território. . . . Id.
Numero 2 o — D o s A gentes da execução. . . . 189
At tigo i ° —■ Da Divizão dos A gentes Id.
I — Dos A gentes supiemos , ou ministros. . . 1J.
II — Dos A gentes superiores 195
111—Dos A gentes intermediários, . . t . 194
IV — Dos A gentes inferiores» . . . . . . . IÍ)5
1 3 Do Poder municipal e da sua origem. . . ; fd.
— Da natureza do Poder municipal. . . . . 298
— Do Numero dos officiaes municipaes. . . . 200
— Da Escolha dos officiaes municipaes. . * . . Id.
— Da Escolha dos Mires, ou dos chefes das mu
nicipalidades . . . , , . . . . ; 202
Paginas
i z — Dos Conselhos Provinciaes. . : . . ; 204
Artigo 2 e — Dos Agentes auxiliares. . . ; . »06
I — Dos chefes de serviço. , 207
II — Dos Agentes interiores . 2o8
I I I — Dos Agentes exteriores . a 10
Numero 3 e — Caracteres essenciaes das funeçoens
administraclivas 2i2
N u m e r o 4 ° — Das Obrigaçocns do Estado para
com os administradores. . 2t3
N u m e r o 5 e — Dos Conselhos a d m i n i s t r a t i v o s e m
geral. . . ; . alp
De hum Conselho d'Estado em particular. . . . 2ao
Numero 6 o — D'huma JurisdiccSo adminisUactiva. 225
D'hum Tribunal de contas. ; . . 23o
Numero 7 ° — ' D a Manutenção das attribuiçoens
t-ntre as autoridades adrainistractiva , e j u -
diciaria a32
Rezumo da Organização d'autoridade administrativa. 234
CAPITCLO 3 ° Da Corrupção do Principio dos G o -
vernos , e da sua dissolução, . . . . . . 236
SECCAÕ 1 — Da Desobediência ás Leis. • . . . 236
SECÇAÕ H — Dos Partidos , e Facções 242
SECÇAÕ III — Das Sediçoens 244
SECÇAÕ IV — Da Guerra civil » .: a45
SBCCAÕ V — Da Anarchia. . . • . . . . < 248
SECÇAÕ VI — D a Dictadura. . . ; . . . . 249
o
CAPITULO 4 — Das Revoluçoens 251
CAPITULO 5 c e ultimo — Das Reacçoeus. . . . 25?
Appendice 267
Errata ; . 278
Faginas, Linhas , Em lugar de , Leia-se
IV 16 exforcei-me esforcei-me
a 7 simpleces simplices
I trexto texto
» 37
3 I ommittidas, sof- ommiítidasj ou sof-
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Piquas , Linhas , Em lugar de , Leia-se
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