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Copyright 2017 by Tim Challies. Published by Cruciform Press.

Translated and printed by permission. All rights reserved.

Publicado originalmente
em inglês sob o título: The Character of the Christian

1a edição 2019
ISBN: 978-85-85034-15-3

Tradução: Elmer Pires


Revisão: Cesare Turazzi
Capa e Diagramação: Haas Comunicação
Versão eBook: Haas Comunicação

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C437c Challies, Tim, 1976-

O caráter do cristão : aprenda a ser um modelo de maturidade cristã / Tim Challies ;


[tradução: Elmer Pires]. – São Paulo: Trinitas, 2019.

Tradução de: The character of the Christian.


Inclui referências bibliográficas.
ISBN 9788585034153 (ebook)

1. Vida cristã. 2. Caráter. 3. Virtudes. I. Título.


CDD: 248.4
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Catalogação na publicação: Mariana C. de Melo Pedrosa – CRB07/6477


INTRODUÇÃO

Extraordinariamente Comum
Todo cristão genuíno deseja crescer em maturidade espiritual. Todos
queremos nos revestir do novo homem e nos despir do velho, lançando fora
as marcas do pecado, para então substituí-las pelas marcas da santidade. Em
última análise, queremos nos tornar como Cristo, pensar como Ele pensou e
agir como Ele agiu. Fazemos bem em aspirar ao mais alto padrão de
santidade e piedade.
A Bíblia defende que um grupo de pessoas deve servir de exemplo à
maturidade cristã: os presbíteros (também chamados de pastores ou
supervisores). *Os presbíteros são qualificados para a obra e o serviço que
lhes cabem, principalmente com base no caráter. Embora a Bíblia apresente
uma relação entre aptidão e habilidade, todas as demais qualificações estão
relacionadas ao caráter. Porém, ainda que sejam exigidos dos presbíteros, tais
traços e marcas de caráter não são exclusivos deles.
D. A. Carson frisa que a lista de qualidades e qualificações necessária aos
presbíteros é “excepcionalmente comum”.1 Por quê? Porque são traços e
marcas repetidos em outras partes como qualidades que devem caracterizar
todos os crentes. Carson diz: “Os critérios mencionados são exigidos de todos
os cristãos de todos os lugares. Ou seja, outra forma de dizer que os
presbíteros devem ser, em primeiro lugar, modelos das graças cristãs, as
quais são pressupostos obrigatórios a todos os cristãos”. Todas as igrejas
devem estar repletas de homens e mulheres exibindo tais traços.
Há, aqui, uma aplicação importante para todo cristão: se você deseja
crescer em santidade, uma excelente maneira de começar é conhecendo e
imitando as qualidades de caráter dos pastores, presbíteros. Essa é exatamente
a finalidade desta obra, examinar o caráter de um cristão ao aprofundar-se nas
qualidades de caráter de tais homens. Espero responder a perguntas como: de
que forma as qualificações e qualidades para o presbitério e o chamado a
todos os cristãos se justapõem? De um jeito bastante prático, como essas
qualidades e características se apresentam e aparecem na vida do cristão?
Como consigo saber se estou as manifestando? E qual o modo mais eficiente
de orar por elas na minha própria vida?
No decorrer deste pequeno livro, vamos considerar como estimular uns
aos outros às boas obras, crescendo na semelhança de Cristo e abundando em
amor. Espero que você me acompanhe, em espírito de oração, à medida que
aprendemos, juntos, a manifestar as mais elevadas virtudes cristãs. Aqui está
uma pequena prévia do que vamos abordar:
1 – Irrepreensível
2 – Homem de uma só mulher
(ou Homem de uma mulher só)
3 – Disciplinado
4 – Hospitaleiro
5 – Gentil
6 – Temperante
7 – Generoso
8 – Líder da família
9 – Maduro e Humilde
10 – Respeitado pelos de fora.2
------------------ NOTAS ------------------
* No original, o autor usa, respectivamente, os termos elders, pastors, overseers. (N. do. T.)
1 Disponível em: https://youtu.be/mwA6_zDm2d8.
2 São três os textos mais basilares a lidar com as qualificações de um pastor: 1Timóteo 3.2–7, Tito
1.6–9 e 1 Pedro 5.1–3. Cada uma dessas passagens se complementam, ainda que cada qual tenha
elementos únicos. Chega-se à compreensão plena de quais são as qualificações de um pastor/presbítero
em tomando os três textos em conjunto. Por fim, aliás, eu sigo o padrão que Thabiti Anyabwile usa em
Finding Faithful Elders and Deacons.
Como usar esta obra?
Há muitas maneiras de usar esta obra, e você está livre para usá-la da forma
que melhor se adequar ao seu caso. Mas, recomendo que a leia em ritmo
mais vagaroso, permitindo que cada capítulo o envolva em rumo a uma vida
mais profunda de autoexame e oração. No fim de cada capítulo, você
encontrará perguntas para autorreflexão e orações pedindo a Deus que lhe
conceda as graças abordadas. Creio que estas perguntas e orações terão tanto
valor duradouro quanto as palavras que as precedem.**
------------------ NOTAS ------------------

** Na tradução desta obra, todas as citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e
Atualizada (ARA), salvo indicação em contrário. No original, o autor utilizou a versão English
Standard Version (ESV). (N. do. T.)
CAPÍTULO 1

Irrepreensível
O objetivo desta obra é explorar o fato de as qualidades e traços do caráter
dos presbíteros serem, na verdade, o chamado de Deus a todos os demais
cristãos. Embora os pastores sejam chamados a ser luzeiros e modelos dessas
características, todos os cristãos devem seguir seu exemplo ao também
manifestá-las. Quero que consideremos se realmente manifestamos tais traços
e aprendamos, juntos, a como orar para obtê-los em maior medida.
Começamos com a qualidade de ser “irrepreensível”. Ela é encontrada em
1Timóteo 3.2 (“É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível”) e
duas vezes em Tito 1.6–7. Seja qual for o significado de ser irrepreensível,
fica evidente que não é algo esperado apenas dos líderes da igreja. Paulo
ensina que a grande esperança e o grande conforto de todos os cristãos é que
o próprio Deus, um dia, “[nos] apresentar[rá] perante ele santos, inculpáveis e
irrepreensíveis” (Cl 1.22). O viver irrepreensível é para todos os cristãos.
John MacArthur ressalta que essa qualidade é necessária no nível pastoral,
porque os pastores devem ser o exemplo a ser seguido pelos demais crentes.
E, se ser irrepreensível “é parte desse exemplo, então adivinhe o que é
exigido de você? A mesma [qualidade]”.1
O que significa ser “irrepreensível”? O termo grego denota uma espécie
de inocência aos olhos da lei. Indica um estilo de vida contra o qual ninguém
pode fazer acusações legítimas. Outros podem trazer acusações, mas sua
conduta irrepreensível acabará por absolvê-lo. Sua vida é tão consistente que
seu comportamento é um exemplo, sua reputação exige honra e sua prática
adorna o Evangelho ao fazê-la condizente com o que você prega.
Naturalmente, antes que possamos viver de maneira irrepreensível,
devemos saber exatamente no que consiste sê-lo. Em seu livro Biblical
Eldership, Alexander Strauch explica: “O significado de ‘irrepreensível’ é
definido pelas qualidades do caráter que resultam do termo”.2 Assim, ser
“irrepreensível” é expresso por meio dessas outras qualidades de 1Timóteo 3,
Tito 1 e 1Pedro 5.
Ser irrepreensível em seu casamento significa ser “o marido de uma só
mulher”. Ser irrepreensível em seus pensamentos significa que você tem “a
mente sóbria”. Ser irrepreensível em suas ações significa que você é
“temperante”, que você tem “domínio de si”. Como podemos ver, trata-se de
um atributo que resume todos os outros, indicando que o cristão
irrepreensível é aquele que sustenta todos os traços de caráter que Deus
aprova. Obviamente, ser irrepreensível não significa ser perfeito. Significa,
contudo, viver na luz, confessando pecados e afastando-se deles, por ser a
perfeição o nosso padrão (Mt 5.48).
A melhor maneira de buscar um estilo de vida irrepreensível é buscá-lo
mediante os meios de graça de Deus — ler a Bíblia e aplicá-la
deliberadamente, orar em secreto e com sua família, frequentar fielmente os
cultos de sua igreja, participar das ordenanças do batismo e da Ceia do
Senhor, e assim por diante. Estes são os canais através dos quais Deus envia
Sua graça santificadora. Fora deles, você não pode esperar alcançar ou
manter uma vida irrepreensível.
AUTOAVALIAÇÃO
A avaliação mais completa de sua vida virá nos próximos capítulos, ao
examinarmos as mais precisas qualidades de caráter resumidas por esse traço.
Mas, enquanto isso, as seguintes perguntas irão ajudá-lo a considerar se você
está vivendo de forma irrepreensível.
• Há pecados [secretos] em sua vida que trariam vergonha a você, à sua família e à sua igreja
local, se fossem descobertos? Existem partes de sua vida que você esconde propositadamente
das demais pessoas?

• Saberia dizer a quais pecados você tende mais? Você toma medidas para proteger-se contra
a tentação desses pecados?

• Você tem aproveitado os meios de graça dados por Deus? Você está frequentando e
participando da vida da igreja? Você tem momentos de culto privado e em família?

• Você acha que a sua vida, como está agora, é agradável a Deus? Quando não, você vai e,
rapidamente, busca o perdão de Deus e dos homens? Você demonstra arrependimento,
fazendo mudanças significativas?

• Imagine que seus amigos íntimos ou pessoas em sua igreja ouviram acusações contra o seu
caráter. A reação deles seria: “não é possível” ou “eu sabia”? O que a resposta a essas
opções diria sobre você?
MOTIVOS DE ORAÇÃO
Considerando o caráter cristão, precisamos reconhecer que alcançá-lo só é
possível por meio da graça de Deus, que opera em Seus filhos o que lhe é
agradável aos olhos (Hb 13.20–21). Ele completa a boa obra que começou
(Fp 1.6). Assim, quando buscamos ser irrepreensíveis, devemos começar com
temor e tremor, dependendo humildemente daquele que nos capacita a querer
e a efetuar a obra para o Seu agrado (Fp 2.12–13). É por isso que devemos
orar para receber tais qualidades, guardá-las e nelas crescer. Para esse fim,
aqui estão alguns modelos de oração para a sua vida:
• Oro pedindo que, alegre e obedientemente, eu faça todas as coisas sem murmurar ou
reclamar, para que eu me torne irrepreensível e sincero, um filho de Deus inculpável no
meio de uma geração pervertida e corrupta, dentro da qual devo resplandecer como luzeiro
neste mundo (Fp 2.14–15).

• Oro pedindo que o Espírito Santo me ajude a identificar onde quer que haja pecado na
minha vida e a mortificá-lo.

• Oro pedindo que minha busca por santidade esteja firmemente enraizada no Evangelho.

• Oro pedindo que eu ande de maneira irrepreensível diante do Senhor e do meu próximo.
Que Deus faça minha conduta corresponder à profissão de fé que mantenho, de modo que
minha vida não manifeste nenhum traço de hipocrisia.

• Oro pedindo que, quando pecar, eu busque depressa o Seu perdão e o perdão daqueles
contra quem pequei.

• Oro pedindo que, se acusações forem apresentadas contra mim, eu seja encontrado inocente
— irrepreensível aos olhos do Senhor.
------------------ NOTAS ------------------

1 John MacArthur. The Call to Lead the Church-Elders, parte 2.


2 Alexander Strauch. Biblical Eldership.
CAPÍTULO 2

Homem de
uma só mulher
(ou homem de uma mulher só)

Prosseguindo, a fim de nos aprofundarmos sobre o caráter do cristão, o que


estamos fazendo é explorar como as várias qualidades no caráter dos
presbíteros são, na verdade, o chamado de Deus a todos os cristãos. Porque
os pastores são chamados a serem modelos destas características, todos os
demais cristãos devem seguir o exemplo ao manifestá-las da mesma forma.
Quero que consideremos se temos em nós esses traços de caráter e
aprendamos, juntos, a como orar para obtê-los em maior medida.
Nosso tópico, neste capítulo, é sobre uma qualidade que Paulo repete
tanto em 1 Timóteo 3.2 quanto em Tito 1.6. A versão ARA traduz a frase por
“esposo de uma só mulher”, interpretação comum do grego literal: “um
homem de só uma mulher”. Existem várias maneiras de interpretar essa
qualificação. Significa que o presbítero não deve ser polígamo? Quer dizer
que ele necessariamente deve ser homem casado? Isso desqualifica os
pastores divorciados e recasados? Nada disso chega ao cerne da questão.
John MacArthur diz: “Não é algo que diz respeito à posição em sociedade,
mas ao caráter. Não é uma questão de circunstância; é uma questão de
virtude. E a questão aqui diz respeito a um homem que é única, exclusiva e
totalmente dedicado à mulher que é a sua esposa. É uma questão do caráter.
Ele é um homem de uma mulher só. Qualquer coisa a menos já o
desqualifica”.1
De forma semelhante, Strauch nos lembra de que o lar é o primeiro teste
decisivo para um estilo de vida irrepreensível, acima de qualquer censura. Ele
escreve:
Em ambas as listas que Paulo escreve sobre as qualidades, ele insere “esposo de uma só
mulher” imediatamente após “irrepreensível”. Assim, a primeira e principal área em que
um presbítero deve ser irrepreensível é na vida conjugal e sexual [...] A expressão “esposo
de uma só mulher” deve ser uma afirmação positiva, manifestação de um casamento fiel e
monogâmico. Em português, diria-se: “fiel e verdadeiro a uma mulher” ou “um homem de
uma mulher só”.2

Philip Ryken diz que Paulo “quer que os líderes da igreja sejam exemplos
vivos do casamento bíblico: um homem e uma mulher em uma aliança de
amor para toda a vida”.3
O presbítero qualificado exemplifica a integridade sexual que é esperada
de todos os cristãos. Isso é verdade quer seja o cristão casado, quer seja
solteiro, homem ou mulher. Paulo ordena toda a congregação em Corinto a
“fugir da imoralidade sexual” e os adverte em especial sobre a natureza
destrutiva do pecado sexual (1Co 6.18). Escrevendo para a igreja reunida em
Éfeso, Paulo estabelece um padrão tão alto a ponto de ordenar: “Mas a
impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem
entre vós, como convém a santos” (Ef 5.3). Paulo é claro: se você é
“sexualmente imoral ou impuro”, então você não tem “herança no reino de
Cristo e de Deus” (Ef 5.5).
É claro, assim como com todas as qualidades e características citadas, não
seremos exemplos perfeitos delas. É por isso que sempre devemos voltar ao
Evangelho de Jesus Cristo, retornando ao Seu perdão e dependendo do Seu
poder para a santificação futura. Paulo também diz, embora alguns na
congregação houvessem sido “sexualmente imorais”, contados entre aqueles
que não possuíam herança no reino de Deus: “Mas vocês foram lavados,
vocês foram santificados, vocês foram justificados em nome do Senhor Jesus
Cristo e pelo Espírito do nosso Deus” (1Co 6.9–11). Paulo relembra que os
pecados sexuais estão relacionados ao velho homem e a seus maus caminhos,
não ao novo homem e ao seu reto e justo caminho.
Ainda assim, devemos levar a sério o inegável chamado do Novo
Testamento à pureza sexual. É um apelo à devoção — primeiro a Deus e
depois a uma esposa dada por Deus. É um chamado contra o adultério, com
certeza. Mais que isso, no entanto, é um chamado a expulsar o coração
errante, os olhos errantes e as mãos errantes. É um apelo à pureza e à
castidade, por caráter e conduta exemplares no casamento ou na vida solteira.
É um apelo para que os casados busquem e desfrutem de relações sexuais
com seu cônjuge, e também um apelo aos não casados que voluntariamente
submetam sua sexualidade ao propósito de Seu amoroso Deus.
AUTOAVALIAÇÃO
Para fortalecê-lo em sua luta contra a imoralidade sexual e dar-lhe poder na
batalha por pureza, eu o encorajo a avaliar-se à luz de perguntas como estas:
• Há pecados sexuais que você possa ter cometido e que precise confessar? Há algum pecado
que você talvez esteja escondendo que precise expor (Sl 32.3–7)?

• Você fica especialmente propenso a falhas sexuais em determinados cenários? Quais as


precauções que você tomou para evitá-los? Existem atitudes radicais que você ainda precisa
tomar (Mt 5.27–30)?

• Seu casamento serve como um exemplo da estrutura e do ideal de Deus para o matrimônio?
Você é fiel ao seu cônjuge em pensamento, palavras e ações? Você busca ter uma união
sexual constante com seu cônjuge (1Co 7.3–5)?

• Você se entrega ao entretenimento que degrada a estrutura e o propósito de Deus para a


sexualidade? Ou você deliberadamente se abstém de todas as formas do mal e se recusa a
agir como se tal questão não fosse importante (1Ts 5.22; Ef 5.3)?
MOTIVOS DE ORAÇÃO
Devemos orar para lutar contra a atração da imoralidade sexual. Devemos
orar pela força de perseguir a pureza de acordo com o desígnio de Deus.
Permita-me, assim, encorajá-lo a orar desta maneira:
• Por acaso eu oro “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os
meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno”
(Sl 139.23–24)?

• Eu oro pedindo que Deus me dê o desejo e a sabedoria para proteger meu coração de todas
as formas de imoralidade sexual. Oro para que eu confesse e abandone depressa todos os
pecados sexuais que me são conhecidos. (Considere orar Provérbios 6.23–35).

• Para os homens: Oro pedindo que eu considere as mulheres mais velhas como mães, e as
mulheres mais jovens como irmãs, com toda a pureza (1Tm 5.1–2).

• Para as mulheres: Oro pedindo que eu considere os homens mais velhos como pais, e os
homens mais novos como irmãos, com toda a pureza (1Tm 5.1–2).

• Oro pedindo que o Senhor purifique meu coração, para que o pecado do adultério —
manifesto mesmo por pensamentos e olhares lascivos — perca todo seu poder sobre mim (Mt
5.27–30).

• Oro pedindo que eu não fique abatido e desanimado quando pecar. Por favor, deixe-me ter
consolo em saber que, quando confesso meus pecados, o Senhor é fiel e justo para me
perdoar dos meus pecados e me purificar de toda a injustiça (1Jo 1.9).
------------------ NOTAS ------------------

1 John MacArthur. The Call to Lead the Church-Elders, parte 4.


2 Alexander Strauch. Biblical Eldership.
3 Philip Ryken. 1Timothy: Reformed Expository Commentary.
CAPÍTULO 3

Disciplinado
Este capítulo agrupa um conjunto de três características intimamente
entrelaçadas. O texto de 1Timóteo 3.2 (paralelo ao de Tito 1.8) diz que os
presbíteros devem ser “temperantes, sóbrios, [e] modestos”. O que significa
ser temperante? O que significa ser sóbrio? E o que significa ser modesto?
Estamos agrupando essas palavras por causa da mesma ênfase que elas
conferem a um tipo de domínio próprio que conduz ao discernimento.
“Temperante” é um termo que se relaciona, em particular, com a mente.
O homem temperante é alguém lúcido e vigilante, livre de excessos e
mudanças drásticas no pensamento e nas ideias. É uma característica que lhe
permite manter-se atento, de modo a proteger a si mesmo e aos demais de
qualquer tipo de perigo espiritual. Esse homem não é precipitado e
imprudente, mas prudente e sensato.
Enquanto “temperante” diz respeito à mente, o termo “sóbrio”
corresponde a atitudes ou comportamentos. O presbítero que tem domínio de
si é livre de excessos e oscilações drásticas em seu comportamento. De bom
grado ele submete suas emoções e paixões ao controle do Espírito Santo, e
julga de forma sábia e ponderada. Ele demonstra controle e moderação em
todas as áreas da vida. Thabiti Anyabwile diz que aqueles que demonstram
tais características são “sensíveis, discretos, e sábios”.1 Eles não vivem para a
circunstância momentânea, mas ponderam as futuras consequências de suas
ações.
Aqueles que são de mente sóbria e têm domínio próprio são também
“modestos”. Termo que se refere a uma disposição na vida que demanda
respeito dos outros. Com vidas disciplinadas e prudentes, eles conseguem
trazer ordem e paz àqueles ao seu redor. Eles sabem tomar decisões sábias e
vivem o tipo de sabedoria prática descrita no livro de Provérbios. São pessoas
por quem os outros têm uma estima elevada.
Juntando tais traços, vemos alguém que dominou seus pensamentos e sua
conduta de modo a tomar juízo sábio. Sua própria vida é exemplo e modelo
desta sabedoria. Anyabwile resume com destreza a importância desta
característica:

O ministério e a igreja são continuamente vigiados por pessoas de dentro e por pessoas de
fora, e os inimigos da igreja buscam constantemente por oportunidades de condená-la e
difamá-la. A igreja é tremendamente ajudada a resistir esse massacre quando seus líderes
são modestos na conduta e homens de juízo são.2

É claro, Deus não espera que somente presbíteros ou aspirantes ao


presbitério sejam “temperantes, sóbrios, e modestos” — Ele chama todos os
cristãos a buscarem tais características. Comecemos com a sobriedade. Em
Romanos 12.3, Paulo escreve: “Porque, pela graça que me foi dada, digo a
cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes,
pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um”.
Mais adiante, em 1Tessalonicenses 5.6, ele diz: “Assim, pois, não durmamos
como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios”.3
Quando tratando de moderação, Salomão adverte: “Como cidade
derribada, que não tem muros, assim é o homem que não tem domínio
próprio” (Pv 25.28). Paulo inclui o domínio próprio no fruto do Espírito e
adverte que aqueles que não o possuem tornam-se presas às tentações de
Satanás (Gl 5.23; 1Co 7.5). Em Tito 2.2–6, ele exige explicitamente o
domínio próprio de todos os cristãos. O que Alexander Strauch diz sobre os
presbíteros é verdade a todos os demais cristãos: o crente deve ser
“caracterizado por domínio próprio e autodisciplina em todos os aspectos da
vida, em especial quanto aos seus desejos físicos (At 24.25; 1Co 7.9, 9.25). O
homem indisciplinado tem pouca resistência ao desejo sexual, à raiva, à
preguiça, ao espírito crítico, e a todos os demais desejos vis. Ele é uma presa
fácil para o diabo”.
Quanto ao ser alguém que inspira respeito, Pedro disse: “antes, santificai
a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para
responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,
fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo
que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que
difamam o vosso bom procedimento em Cristo” (1Pe 3.15–16). Paulo
escreve: “Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem
imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra” (Rm
13.7).
A Bíblia deixa claro que, embora devam ser modelo nos presbíteros, tais
características devem estar presentes em todos os cristãos. O caráter do
presbítero descreve o caráter que todos nós devemos buscar e exibir.
AUTOAVALIAÇÃO
As pessoas poderiam dizer que você é “temperante, sóbrio e modesto”?
Encorajo-o a avaliar a si mesmo à luz destas perguntas:
• Quando as coisas não dão certo ou quando alguém acusa um pecado em sua vida, você
tende a reagir com humildade e paciência ou com acessos de raiva? A sua esposa, seus filhos
ou seus pais concordariam com a sua resposta?

• Você tem algum hábito desenfreado ou nocivo à saúde em relação ao que come, bebe ou em
seu lazer? Ou você está alegremente submisso ao Espírito Santo em todas essas coisas?

• Você demonstra consistência e disciplina no aspecto espiritual (oração, leitura da Bíblia,


envolvimento com a igreja), relacional (fala, pureza, bondade) e corporal (exercícios, dieta,
moderação) da sua vida?

• Você mantém um calendário? Você geralmente cumpre as suas tarefas e as realiza com
excelência?

• Você confia naquilo em que crê ou é facilmente influenciado por novos livros, novos mestres
ou novas ideias? As pessoas procuram o seu conselho quando estão incertas ou enfrentando
uma decisão difícil?
MOTIVOS DE ORAÇÃO
Sem Cristo, nada podemos fazer (Jo 15.5), portanto precisamos de Sua força,
se desejamos crescer no domínio próprio. Deixe-me, portanto, encorajá-lo a
orar da seguinte forma:
• Oro pedindo que o Senhor me encha com o Seu Espírito, a fim de que o autocontrole reine
em meu coração e na minha vida (Gl 5.23).

• Oro pedindo que o Senhor me ajude a colocar os outros em primeiro lugar, a fim de que eu
não pense de mim mesmo mais do que deveria pensar. Ajude-me a pensar com um juízo
adequadamente sóbrio (Fp 2.3; Rm 12.3).

• Oro pedindo que o Senhor me ajude a ser tardio em irar-me, de forma que eu tenha controle
sobre o meu temperamento (Pv 16.32).

• Oro pedindo que os outros me perguntem sobre a esperança que há dentro de mim, por
causa da minha vida alegre e respeitosa (1Pe 3.14–17).
------------------ NOTAS ------------------
1 Thabiti Anyabwile. Finding Faithful Elders and Deacons.
2 Ibid.
3 Ibid.
CAPÍTULO 4

Hospitaleiro
Nosso foco neste capítulo reside no que significa a um presbítero — e a todo
cristão — ser hospitaleiro. Também veremos por que Deus dá tanta
importância a essa característica.
Paulo diz a Timóteo que “o bispo deve ser [...] hospitaleiro” (1Tm 3.2) e
o repete em sua carta a Tito (1.8). O termo grego para “hospitaleiro” indica
um determinado amor por alguém desconhecido. Em dias de pousadas sujas,
perigosas e desagradáveis, era esperado que os cristãos abrissem as suas
casas a cristãos viajantes ou pregadores itinerantes. Os cristãos deveriam
alimentá-los e fornecer-lhes um local seguro para dormir. Hospitaleiro é um
termo naturalmente ampliado para incluir outras formas de hospitalidade, no
entanto ele indica, em primeiro lugar, um desejo de convidar outros ao seu lar
por um período de tempo, breve ou longo.
Por que há tanta ênfase nessa característica? Hospitalidade é uma
demonstração tangível e externa do caráter piedoso. Strauch explica,
Hospitalidade é uma expressão concreta do amor cristão e da vida familiar. É uma virtude
bíblica importante [...] Entregar-se ao cuidado do povo de Deus significa compartilhar a
vida e o lar com os outros. Um lar aberto é sinal de um coração aberto e de um espírito
amável, sacrificial e servil. A falta de hospitalidade é sinal claro de um cristianismo
egoísta, frio e sem amor.1

Abrir as portas do lar não é unicamente um ato de amor cristão em si, mas
também gera mais oportunidades para tal amor. A hospitalidade nos permite
aprofundar relacionamentos, discipular outros cristãos, e partilhar do
Evangelho. Ser hospitaleiro cria um contexto natural para forjar casamentos,
para moldar pais e filhos, e mais uma série de virtudes cristãs.
Enquanto nos cabe ensinar o que a Bíblia diz, devemos da mesma forma
demonstrar e manifestar o que nos é dito por ela. Uma das melhores formas
para tanto é convidando pessoas ao nosso lar e à nossa vida.
Somente o presbítero é chamado a, abrindo a porta do próprio lar,
partilhar de sua vida e seus recursos? Não, é o chamado a todos os cristãos.
Ainda que o Antigo Testamento dê grande ênfase ao cuidado e proteção do
peregrino, esse cuidado pela pessoa desconhecida torna-se ainda mais
evidente no Novo Testamento. Pedro está escrevendo a todos os cristãos
quando diz “Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração” (1Pe 4.9).
Paulo diz a toda a congregação em Roma que eles devem “praticar a
hospitalidade” (Rm 12.13). O autor de Hebreus diz: “Não negligencieis a
hospitalidade, pois alguns, praticando-a, sem o saber acolheram anjos” (Hb
13.2). E Jesus disse que seríamos julgados por nossa hospitalidade, pois
quando amamos e acolhemos o necessitado, nós amamos e acolhemos a Ele
próprio (Mt 25.35–40).
Strauch conclui: “Dificilmente há algo mais peculiar ao amor cristão do
que a hospitalidade. Por meio do ministério da hospitalidade partilhamos das
coisas que mais valorizamos: família, lar, recursos financeiros, alimento,
privacidade e o tempo. Em outras palavras, compartilhamos nossa vida”.2
AUTOAVALIAÇÃO
Porque somos pecaminosamente dispostos ao conforto, e por conta do
desconforto geralmente associado à hospitalidade, podemos facilmente fugir
deste mandamento tão claro da parte de Deus. Dê lugar a estas perguntas e
seja honesto consigo mesmo e para com Deus:
• Quantas pessoas da sua igreja você já convidou para comerem na sua casa? Qual foi a
última vez em que alguém passou a noite em sua casa?

• Outros vêm a você quando precisam de ajuda, ou você dá a impressão de que não quer ser
incomodado?

• Sua família intencionalmente recebe pessoas em casa, mesmo que sejam diferentes de você e
o façam se sentir estranho ou desconfortável? Você convida somente amigos próximos para
a sua casa ou também recebe estranhos?

• Por que você teme receber outras pessoas em sua vida e em seu lar? A quais promessas de
Deus você pode se agarrar a fim de receber esperança, paz e segurança?
MOTIVOS DE ORAÇÃO
Pondere na verdade de que o Deus do fraco e do desamparado o recebe — e
peça-lhe ajuda da seguinte forma:
• Oro pedindo a Deus que me encha com o Seu Espírito, de maneira que minha vida gere
frutos por meio de boas obras que beneficiem os demais.

• Oro pedindo que eu seja desprendido de tudo aquilo que o Senhor me deu e que eu saiba que
o meu lar, meu alimento, meu tempo e todo o mais também lhe pertencem. Ajude-me a
administrar todas essas coisas com fidelidade.

• Oro a Deus pedindo que me dê compaixão para receber outras pessoas da mesma forma que
o Senhor me recebeu.

• Oro pedindo que minha motivação na hospitalidade seja de glorificar ao Senhor


manifestando aos outros o amor divino. Por favor, dê-me grande alegria e liberdade na
hospitalidade.
------------------ NOTAS ------------------
1 Ibid.
2 Ibid.
CAPÍTULO 5

Gentil
Prosseguindo em nossa análise do caráter do cristão — caráter este que deve
estar presente em todo cristão e feito exemplo e modelo nos pastores ou
presbíteros —, voltemo-nos ao tão maravilhoso e geralmente esquecido traço
da gentileza.
Paulo escreve a Timóteo: “É necessário, portanto, que o bispo [...] não
seja violento, porém, cordato, inimigo de contenda” (1Tm 3.2–3).
Semelhantemente, ele diz a Tito que o bispo não deve ser “arrogante,
irascível [...] nem violento” (Tito 1.7). A característica positiva aqui é a
gentileza, e esta é oposta a duas características negativas, a violência e a
contenda. Seguindo o exemplo do presbítero, os cristãos devem almejar por
gentileza e fugir da violência e da contenda.
Ser gentil é ser amável, humilde e justo, é saber qual a resposta adequada
para cada ocasião. Ser gentil é ser gracioso, trata-se de uma extensão da
misericórdia, uma postura de submissão à vontade de Deus e à predileção dos
demais. Tal gentileza deve ser primeiro manifesta no lar e, então,
subsequentemente na igreja. Apesar de ser uma característica rara, podemos
reconhecê-la e admirá-la naqueles que a possuem.
Strauch nota que ansiar por gentileza é imitar a Jesus. Ele escreve,
Jesus nos conta quem Ele é como pessoa: Ele é gentil e humilde. Muitos líderes religiosos,
porém, não são gentis e humildes. Eles são controladores e orgulhosos. Eles usam pessoas
para satisfazer seus egos enfatuados. Mas Jesus é completamente diferente. Ele
verdadeiramente ama as pessoas, servindo e doando Sua própria vida em abnegação. Ele
espera que Seus seguidores — em especial os pastores, aqueles que lideram o povo de
Deus — sejam humildes e gentis como Ele próprio é”.1

John Piper escreve algo parecido, “Tal [gentileza] é o oposto de algo


briguento ou beligerante. Ele não deve ser duro ou mal-humorado. Ele deve
ser inclinado à ternura e recorrer à impetuosidade somente quando as
circunstâncias exigirem tal forma de amor. Suas palavras não devem ser
ácidas ou divisivas, mas prestativas e encorajadoras”.2
O presbítero deve, portanto, ser “inclinado à ternura”, capaz de controlar
suas reações quando atacado, caluniado, ou jogado em situações tensas. Em
todo o tempo ele é marcado por paciência, mansidão, e um espírito manso.
Na forma negativa, ele não deve perder o controle, tanto físico quanto verbal.
Ele deve controlar seu temperamento, deixando de responder aos outros com
força física ou ameaças de violência. E ele deve controlar a própria língua,
sem entrar em discussões, brigas ou incitando debates. Mesmo quando
pressionado e irritado, ele não se valerá de suas palavras para dilacerar. Ele
não esmagará o caniço ferido nem apagará o pavio que fumega.
Tenho por certo que você compreende que Deus chama todos os cristãos
— não apenas os presbíteros — a serem gentis. Os pastores devem servir
como modelo de gentileza, mas cada um de nós deve imitá-los, pois, ao
manifestar esse traço no caráter, eles se espelham no Salvador. São muitas as
passagens às quais podemos recorrer, tais como Gálatas 5.22–23, a qual nos
diz ser a gentileza necessariamente um fruto do Espírito: “Mas o fruto do
Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei”. Pouco
depois, Paulo diz: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós,
que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que
não sejas também tentado” (Gl 6.1).
Paulo admoestou os cristãos em Éfeso a que andassem de modo digno da
vocação a que foram chamados, o que envolve viver “com toda a humildade
e mansidão, com longanimidade, suportando uns aos outros em amor,
esforçando[-se] diligentemente por preservar a unidade do Espírito no
vínculo da paz” (Ef 4.1–3). Em outra carta Paulo pede que Tito lembre a
congregação em Creta de sujeitar-se “aos que governam, às autoridades”. Ele
prossegue: “sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra, não
difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de
toda cortesia, para com todos os homens” (Tt 3.1–2). A evidência é clara:
devemos ser gentis, a fim de que sirvamos como exemplo daquele que nos
trata de forma tão gentil.
AUTOAVALIAÇÃO
Lembre-se, enquanto estudamos o caráter do cristão, de que devemos parar e
refletir de modo a saber se estamos aplicando esses traços ao nosso caráter, a
fim de que não nos tornemos meros ouvintes da Palavra. Logo, você tem
demonstrado gentileza? Encorajo-o a que se faça perguntas assim, em espírito
de oração:
• Quando alguém chega a lesá-lo, você tende a rebater com raiva? Se sim, essa raiva se
expressa de forma física, verbal ou de ambas as maneiras?

• As pessoas têm medo de confrontar seu pecado por medo da raiva ou das palavras ríspidas
que você pode vir a manifestar? Sua esposa e filhos o temem desta maneira?

• Seus colegas, amigos e família poderiam dizer que você é gentil? Eles poderiam dizer que
você os trata com ternura?

• Você se alegra em agir como o “advogado do diabo”? Você gosta de uma boa discussão? O
que a sua presença nas redes sociais indicaria?
MOTIVOS DE ORAÇÃO
Só podemos obter a verdadeira gentileza ao nos achegarmos Àquele que é
“manso e humilde de coração” (Mt 11.29). Logo, encorajo-o a orar da
seguinte forma:
• Oro pedindo que o Senhor me transforme mais à semelhança de Cristo, de modo que eu seja
mais gentil como Ele. Peço que me capacite a meditar com regularidade sobre todos os
momentos em que o Senhor tem sido paciente e gentil para comigo.

• Oro pedindo que o Senhor me ajude a engolir o meu orgulho, confessar meu pecado aos
outros, e restaurar relacionamentos tensos em minha vida.

• Oro pedindo que o Senhor me dê a graça de ser paciente e calmo quando os outros me
atacarem e não me compreenderem corretamente. Peço ajuda para reagir com ternura e
gentileza mesmo nas circunstâncias mais difíceis.

• Oro pedindo que eu seja tardio a começar uma discussão ou entrar na discussão de alguém.
------------------ NOTAS ------------------

1 Ibid.
2 John Piper. Biblical Eldership, Session 1.
CAPÍTULO 6

Temperante
Agora, devemos explorar o que significa ser temperante e sóbrio ao invés de
ser beberrão e dissoluto, tanto para líderes cristãos quanto a todos os demais
cristãos.
Paulo diz a Timóteo: “É necessário, portanto, que o bispo seja [...] não
dado ao vinho” (1Tm 3.2–3). Mais uma vez, ele diz a Tito que os pastores
não podem ser “acusados de dissolução” nem “dados ao vinho” (Tt 1.5–7).
Por que qualificações específicas assim? O que há de tão importante nisso?
Strauch é bem claro: “A embriaguez é pecado, e aqueles que persistem
em se embebedar necessitam de disciplina eclesiástica [...] Logo, alguém em
posição de confiança e autoridade elevadas não pode ter problemas com a
bebida”.1 Prosseguindo, “se o presbítero tem algum problema com bebidas,
ele desencaminhará outras pessoas e trará acusação contra a igreja. Seus
abusos interferirão no crescimento e no serviço espiritual, e podem muito
bem levar a pecados mais degradantes”. Vale lembrar que a Bíblia não
deposita a culpa da embriaguez sobre o álcool em si, mas sobre aquele que o
consome. Comentando 1Timóteo 3, John Stott ressalta que Paulo “não exigia
deles que fossem abstêmios por completo, dado que o próprio Jesus
transformou água em vinho e fez do vinho o símbolo do seu sangue [...] O
que Paulo exige, portanto, é moderação como um exemplo do domínio
próprio já mencionado”.2
John Piper expande as implicações dessa passagem quando diz que “A
qualificação geral aqui seria semelhante àquela de ser temperante, isto é, o
controle de si — não dado a nenhum vício em nada que seja danoso,
debilitante ou mundano. Ser liberto da escravidão dos vícios deve ser algo tão
estimado que nenhum deles deve ser mantido”.3 Piper amplia o alcance desse
mandamento sobre o álcool a qualquer outro tipo de substância narcótica ou
inebriante — uma aplicação natural e, creio eu, justa acerca desse princípio.
Temos visto que, no caso de cada uma destas características, Deus exige
que todos os cristãos — e não somente dos presbíteros — busquem o mesmo
padrão. Paulo diz aos da igreja de Corinto que eles não devem associar-se ou
comer “com alguém que, dizendo-se irmão, for beberrão (1Co 5.11). Por
quê? Porque, junto a outros pecadores não arrependidos, os beberrões “não
herdarão o reino de Deus” (1Co 6.9–10). Uma vez mais, Paulo nomeia a
embriaguez com as obras da carne e diz que “aqueles que tais coisas
praticam, não herdarão o reino de Deus” (Gl 5.21). Em outra parte, o apóstolo
ordena: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas
enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18). Pedro concorda: “Porque basta o tempo
decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em
dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em
detestáveis idolatrias” (1Pe 4.3).
O livro de Provérbios também alerta repetidamente contra a embriaguez.
“O vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; todo aquele que por
eles é vencido não é sábio” (Pv 20.1). “Não estejas entre os bebedores de
vinho nem entre os comilões de carne” (Pv 23.20). Considere esta passagem:
“Para quem são os ais? Para quem, os pesares? Para quem, as rixas? Para quem, as
queixas? Para quem, as feridas sem causa? E para quem, os olhos vermelhos? Para os que
se demoram em beber vinho, para os que andam buscando bebida misturada. Não olhes
para o vinho, quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa
suavemente. Pois ao cabo morderá como a cobra e picará como o basilisco. Os teus olhos
verão coisas esquisitas, e o teu coração falará perversidades. Serás como o que se deita no
meio do mar e como o que se deita no alto do mastro e dirás: Espancaram-me, e não me
doeu; bateram-me, e não o senti; quando despertarei? Então, tornarei a beber” (Pv
23.29–35).

Por fim, outros grupos específicos também são chamados a serem


sóbrios. Diáconos são julgados de acordo com o seguinte padrão:
“Semelhantemente, quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis,
de uma só palavra, não inclinados a muito vinho” (1Tm 3.8). Novamente
Paulo escreve: “Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam [...]
não escravizadas a muito vinho” (Tt 2.3).
Seja qual for sua posição pessoal em relação ao álcool, isto é certo: o
povo de Deus deve estar escravizado somente a Jesus Cristo (Rm 6.18). O
povo de Deus deve resistir a tudo que deseje competir com Ele, incluindo o
álcool.
AUTOAVALIAÇÃO
É fácil ouvir a Palavra de Deus e esquecê-la logo em seguida. Lendo a
respeito da moderação, podemos começar a justificar nossos hábitos e a criar
desculpas para nosso pecado. Para guardar-se contra o engano e buscar o
caráter cristão, eu o incentivo a fazer um autoexame com perguntas assim:
• Sua posição é bíblica quanto ao consumo da bebida alcoólica por parte de cristãos? Você é
coerente com a sua posição? Você julga aqueles que tomam uma posição contrária?

• Se a sua consciência permite, você é capaz de beber bebida alcoólica com moderação, sem
ficar minimamente intoxicado? Seus amigos e familiares concordariam com a resposta?

• Você se vê tentado a beber doses muito próximas ao seu limite? Você sempre se entrega à
tentação de “tomar só mais uma”?
MOTIVOS DE ORAÇÃO
Queira você beba com regularidade, queira ocasionalmente, e ainda que você
nunca beba, todos precisamos da ajuda de Deus para nos guardarmos em
moderação e buscarmos por santidade. Com esse propósito, eu o estimulo a
orar da seguinte maneira:
• Oro pedindo que o Senhor aprofunde minhas convicções acerca do álcool, de modo que eu
possa partilhá-lo (ou dele abster-me) com liberdade e confiança. Ajude-me, Senhor, a nunca
violar minha consciência, a nunca julgar injustamente, e a nunca ostentar minha liberdade.

• Oro pedindo que eu seja capaz de desfrutar das dádivas sem por elas ser escravizado. Oro
que o Senhor me dê vitória sobre a embriaguez e indulgência. Oro que o Senhor me ajude a
nunca baixar minha guarda, mas sempre ser vigilante.

• Oro ao Senhor pedindo que eu me torne cada vez mais semelhante a Cristo, que estava próximo
ao álcool e daqueles que o consumiam, mas nunca passou dos limites e sempre obedeceu ao Pai.
------------------ NOTAS ------------------
1 Alexander Strauch. Biblical Eldership.
2 John Stott. The Message of 1 Timothy & Titus: The Bible Speaks Today.
3 John Piper. Rethinking the Governance Structure at Bethlehem Baptist Church.
CAPÍTULO 7

Generoso
Este capítulo considerará o que significa, aos líderes cristãos e a todos os
demais cristãos, rejeitar o amor ao dinheiro e abraçar o amor ao próximo por
meio da generosidade.
Paulo diz a Timóteo: “É necessário, portanto, que o bispo seja [...] não
avarento” (1Tm 3.2–3). De forma semelhante ele diz a Tito que o pastor não
seja “cobiçoso de torpe ganância” (Tt 1.7). Por fim, Pedro escreve a pastores
e líderes exilados dizendo “pastoreai o rebanho de Deus [...] não por
constrangimento, mas espontaneamente” (1Pe 5.2). Os autores bíblicos
decerto compreendiam que o uso de nosso dinheiro e seus fins demonstram
algo muito importante sobre nosso relacionamento com Deus. Ademais, eles
compreendiam que sempre haverá aqueles que usam o ministério para seu
próprio enriquecimento.
Ryken salienta que há dois erros comuns quando levado em consideração
o relacionamento de líderes cristãos com o dinheiro:
É erro grave considerar a riqueza como credencial espiritual de liderança. Ser rico não
desqualifica o homem do episcopado, muito menos o qualifica. O que importa é como ele
utiliza seu dinheiro e, em especial, quanta afeição lhe demonstra. Pastores e presbíteros
não podem ser amantes do dinheiro.1

Nestas mesmas condições, John Piper escreve que o “estilo de vida do


pastor não deve refletir amor ao luxo. Ele deve ser alguém que dá com
alegria. Ele não deve preocupar-se com a situação financeira do amanhã. Ele
não deve ser tão orientado pelo dinheiro de sorte que as decisões ministeriais
girem em torno das finanças”.2 O homem deve ser livre tanto do amor ao
dinheiro quanto do amor ao estilo de vida exuberante que o dinheiro pode
comprar. Ele demonstra estar liberto do amor ao dinheiro sendo generoso.
Strauch explica,
Essa qualificação proíbe o interesse mesquinho, mercenário que usa o ministério cristão e
pessoas para benefício próprio [...] Tal qual uma droga poderosa, o amor ao dinheiro pode
iludir o julgamento até mesmo dos melhores homens [...] Portanto, pastores não podem ser
o tipo de homem que está sempre interessado por dinheiro. Os presbíteros não podem ser
homens que têm a necessidade íntima de controlar as finanças da igreja e que se recusam a
prestar contas. Homens assim perverteram valores espirituais e deram à igreja o exemplo
errado. Eles inevitavelmente cairão em transações financeiras antiéticas, coisa que trará a
público desonra ao nome do Senhor.3

A bem da verdade, vemos com certa frequência homens caindo em


escândalos justamente por essa razão. Jesus alertou: “Ninguém pode servir a
Deus e ao dinheiro”, dado que só podemos ter um senhor (Mt 6.24). É
essencial ao bem-estar da igreja que seus líderes sejam controlados pela
Palavra de Deus com gozo e alegria, e não controlados pelo desejo das
riquezas.
E quanto aos cristãos que não são presbíteros? Deus exige o mesmo
padrão, não é de surpreender. Jesus alertou: “Não acumuleis para vós outros
tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões
escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça
nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque,
onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6.19–21). Na
carta de Paulo a Timóteo, o apóstolo alerta sobre o poder do dinheiro:
“Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar
dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que
querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências
insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição.
Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se
desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1Tm
6.7–10). O Antigo Testamento também contém diversos alertas como estes.
Por exemplo, um dos temas principais da literatura sapiencial bíblica diz
respeito ao perigo da idolatria ao dinheiro e às riquezas.
Seria, porém, grande erro pensar que Deus só tem coisas negativas a dizer
sobre o dinheiro. Pelo contrário, Ele nos diz que o dinheiro é um grande dom
que podemos administrar com fidelidade, visando alcançar propósitos mais
significativos. “Honra ao Senhor com os teus bens e com as primícias de toda
a tua renda” (Pv 3.9). Quando Davi estava recolhendo ofertas para a
construção do templo, “O povo se alegrou com tudo o que se fez
voluntariamente; porque de coração íntegro deram eles liberalmente ao
Senhor” (1Cr 29.9). Paulo ensina o valor duradouro da generosidade quando
escreve à igreja de Corinto: “Cada um contribua segundo tiver proposto no
coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá
com alegria” (2Co 9.7).
É responsabilidade e prazer do cristão ser generoso com suas riquezas e
doar com generosidade à obra do Senhor. O problema com o dinheiro não se
encontra no dinheiro per si, mas na inclinação egoísta do coração humano.
Mas como Thabiti Anyabwile salienta, os cristãos podem ser cativados por
algo muito maior do que o dinheiro: “O Senhor nos concede gozos muito
maiores do que o dinheiro, o qual faz asas para si e sai voando pelos céus”
(Pv 23.5). Deus nos provê de maiores alegrias em Cristo, o que, com efeito, é
a maior das alegrias. Que privilégio, mediante a rica graça de Deus, é pregar
Cristo, o Cordeiro, a este mundo transbordando de amor ao dinheiro”.4
AUTOAVALIAÇÃO
Ler sobre o chamado de Deus em favor da generosidade pode, por amor a
Jesus, diminuir nossa paixão pelo dinheiro, mas também pode, pelo contrário,
intensificá-la, conduzindo-nos para mais perto dele por medo de perder
nossos luxos. Precisamos fazer um autoexame para determinar quem é
verdadeiramente nosso mestre, Deus ou o dinheiro. Incentivo você, leitor, a
refletir, em espírito de oração, sobre o assunto, respondendo a si mesmo:
• Pessoas diriam que você é avarento ou generoso? Elas diriam que você ama o dinheiro ou
que ama as pessoas?

• Quando foi a última vez que você, por abnegação, sacrificou um prazer material a fim de
utilizar o dinheiro para abençoar alguém?

• Você se disciplina para ofertar em sua igreja e por outras causas dignas?

• Você oferta em secreto, para que ninguém mais saiba a não ser você mesmo e Deus, ou
oferta com o objetivo de ser visto pelos outros? (Mt 6.1–4).
MOTIVOS DE ORAÇÃO
Deus ama quem dá com alegria, pois Ele mesmo é generoso em Suas dádivas.
Visando ser cada vez mais parecido com nosso Pai, generoso em dar, tenha
os seguintes pedidos em oração:
• Oro ao Deus Pai que faça Cristo mais precioso para mim do que todas as demais coisas —
inclusive o dinheiro.

• Oro pedindo que o Senhor me dê um coração generoso, um coração que depressa identifique
e supra as necessidades do meu próximo. Ajude-me a acumular tesouro no céu com mais
entusiasmo do que acumulo tesouros na terra (Mt 6.19–24).

• Oro a fim de ser ajudado a confiar no Senhor durante todo tempo — em especial quando as
contas estão apertadas. Ajude-me a crer que o Senhor certamente me proverá aquilo do que
careço, uma vez que o Senhor cuida dos pássaros do céu e cobre os lírios do campo (Mt
6.25–34).

• Oro ao Senhor pedindo que me capacite a adorá-lo enquanto contribuo generosamente e de


bom grado com a Sua obra a cada domingo.
------------------ NOTAS ------------------

1 Philip Ryken. 1Timothy: Reformed Expository Commentary.


2 John Piper. Rethinking the Governance Structure at Bethlehem Baptist Church.
3 Alexander Strauch. Biblical Eldership.
4 Thabiti Anyabwile. Finding Faithful Elders and Deacons.
CAPÍTULO 8

Líder da Família
Este capítulo tratará o porquê de ser tão importante aos pais — presbíteros ou
demais cristãos — liderarem suas famílias de forma que honrem a Deus.
Lemos em 1Timóteo 3.4–5: “[Que o bispo] governe bem a própria casa,
criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não
sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)”. De
semelhante forma, Paulo diz a Tito que um pastor é qualificado se tiver
“filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados”
(Tt.1.5–6). Então, o que isso significa e por que importa tanto?
Em termos simples, significa que a liderança de um homem no lar prova
sua habilidade de liderar dentro da igreja. Do contrário, sua inaptidão para a
liderança no lar prova sua incapacidade de liderar na igreja. Desta forma, o
lar, e não o escritório ou a sala de aula, é o teste a habilitar e qualificar a
liderança de um homem. Por quê? Strauch explica:
Administrar uma igreja local é mais parecido com a administração de uma família do que
com a administração de um negócio ou estado. O sujeito pode ser um homem de negócios
bem-sucedido, um funcionário público capaz, um brilhante gerente de escritório, um líder
militar de primeira linha, mas um pastor ou pai terrível. Logo, o homem estar apto a
administrar bem a própria casa é pré-requisito para a administração da casa de Deus.1

Prosseguindo, o que significa a um homem administrar bem a sua casa?


John Piper explica: “Ele deve ter filhos submissos. Isso não significa
perfeitos, mas significa bem disciplinados, de modo que não seja um hábito
hostil o desprezar das instruções de seus pais. As crianças devem reverenciar
o pai. Ele deve ser um líder espiritual amável e responsável no lar”.2
Mais uma vez, se não consegue liderar com ternura e amar
sacrificialmente sua própria família, este homem não deve receber o
privilégio e a responsabilidade de liderar na igreja. Se ele não pode se superar
em um, ele não se superará em outro. Logo, se tal homem tem família, é
necessário que seu conviver em família seja cuidadosamente avaliado caso
candidate-se ao episcopado. Thabiti Anyabwile alerta sobre “homens
preocupados demais com os negócios da igreja e pouquíssimo preocupados
com o que está acontecendo debaixo do seu próprio teto. Pense sobre a
admoestação apressada e equivocada de Eli a Ana; enquanto esta orava, ele
desviava-se da responsabilidade sobre seus filhos rebeldes (1Sm 1–2). Um
pastor se preocupa com as questões do lar”.3
E quanto ao requisito que exige dos “filhos dos bispos serem crentes”?
Eis um texto complicado que tem sido assunto de muita discussão, mas estou
de total acordo com Justin Taylor e sua habilidade para manejar essa
passagem. Ele ressalta que a palavra traduzida por “crentes” pode, também,
ser traduzida por “fiéis”. Essa tradução permite que o texto se encaixe bem
com a ênfase no governo, obediência e submissão de 1Timóteo 3.4. Para
encerrar, ele escreve: “O que não deve caracterizar os filhos de um pastor é a
imoralidade, a rebeldia e a indisciplina, caso ainda estejam em sua casa e
debaixo de sua autoridade”.4
Mas e quanto aos pais cristãos que não são presbíteros? Como honramos
o texto mesmo quando ampliamos sua aplicação? A resposta é que todos os
pais cristãos devem ser aptos e piedosos no convívio em família. À
semelhança dos pastores, devem buscar ser exemplos. Os pais devem liderar
amorosamente e instruir seus filhos, não os provocando à ira, mas criando-os
na disciplina do Senhor (Ef 6.4). As mães devem cuidar de seus filhos com
amor, administrando o próprio lar com domínio próprio e bondade” (Tt
2.3–5; 1Tm 5.14). Tanto o pai quanto a mãe estão debaixo do mandamento
de Deus a Israel: “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração;
tu as inculcarás a teus filhos” (Dt 6.6–7).
Semelhantemente, Provérbios repetidamente descreve a importância da
disciplina dos filhos: “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o
ama, cedo, o disciplina” (Pv 13.24). Uma série de passagens narrativas
relatam o perigo de negligenciar tal cuidado e disciplina. O autor de Hebreus
pressupõe a necessidade da disciplina dos filhos como expressão de amor.
Ele questiona: “É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como
filhos); pois que filho há que o pai não corrige?” (Hb 12.7). Seu alvo é
encorajar aqueles cristãos debaixo da amorosa mão de Deus, Ele que “nos
disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua
santidade” (Hb 12.10).
Do início ao fim, a Bíblia coloca sobre cada pai a responsabilidade de
instruir e preparar seus filhos com bondade, cuidado e supervisão amorosa.
AUTOAVALIAÇÃO
Há esperança para os pais que falharam na liderança e na administração da
família e do lar. Mas antes que possa buscar o padrão de Deus pela graça,
você deve reconhecer suas falhas e desviar-se de toda ocasião de pecado. Eu
o desafio a refletir sobre estas questões abaixo, a fim de ver como você pode
crescer na liderança do lar:
• Você busca por formas de aperfeiçoar seu ensino e disciplina dentro do lar?

• Quando em público, seus filhos saem do controle ou costumam seguir sua liderança e
obedecer à correção?

• Você pode falar em espírito a seus filhos? Você conhece a condição de suas almas? Você
ora por eles de maneira específica?

• Pais, vocês lideram suas famílias espiritualmente? Os devocionais familiares são parte da
rotina? Mães, vocês ensinam e preparam seus filhos, vocês oram com eles, vocês os
disciplinam em amor?
MOTIVOS DE ORAÇÃO
Nosso Pai celestial está desejoso de ajudar Seus filhos que são pais e mães
neste mundo. Reflita e ore da seguinte forma, buscando prestar uma boa
liderança para sua família, humilde e corajosamente:
• Oro ao Senhor pedindo que faça de mim um líder fiel e paciente em meu lar.

• Oro ao Senhor pedindo que me ajude a amar meus filhos com ternura e firmeza.

• Oro ao Senhor pedindo que me capacite a manifestar o Evangelho de sorte que eu ame,
lidere e cuide dos meus filhos.

• Oro a fim de obter uma compreensão mais profunda de Deus como Pai, para que eu possa
imitá-lo enquanto cuido dos meus filhos.
------------------ NOTAS ------------------

1 Alexander Strauch. Biblical Eldership.


2 John Piper. Rethinking the Governance Structure at Bethlehem Baptist Church.
3 Thabiti Anyabwile. Finding Faithful Elders and Deacons.
4 Justin Taylor. You Asked: Does an Unbelieving Child Disqualify an Elder?
CAPÍTULO 9

Maduro e Humilde
Aqui consideraremos por que presbíteros e também os demais cristãos devem
empenhar-se para viver uma vida humilde e madura.
Paulo diz a Timóteo: “[O bispo] não seja neófito, para não suceder que se
ensoberbeça e incorra na condenação do diabo” (1Tm 3.6). Neste chamado
por maturidade espiritual, aprendemos que os presbíteros devem ser maduros
por pelo menos duas razões: pois maturidade gera humildade e porque
imaturidade gera orgulho e condenação. Deve-se, portanto, conferir posições
de responsabilidade somente àqueles já espiritualmente maduros. John Piper
escreve: “Ao novo cristão que muita responsabilidade é dada em pouco
tempo, este pode facilmente enfatuar-se de orgulho. Subentende-se que parte
do crescimento cristão é um processo de humildade e um guardar-se
continuamente do orgulho. Devemos ver evidências na vida deste homem de
que a humildade agora tornou-se virtude fixa, e não algo derrubado
facilmente.1
Alexander Strauch diz:
A maturidade requer tempo e experiência, e para tanto não há outro caminho, logo o novo
convertido simplesmente não está preparado para a árdua tarefa de pastorear o rebanho de
Deus. Não há nada de errado em ser “um novo convertido”. Todo cristão começa a vida
em Cristo como um bebê e chega a crescer em maturidade. Entretanto, um presbítero deve
ser maduro e conhecer seu próprio coração. O novo cristão não conhece seu próprio
coração nem compreende as artimanhas do inimigo, estando assim vulnerável ao orgulho
— a mais súbita das tentações e o mais destrutivo de todos os pecados.

Ele também diz, outra vez, que “se os pastores forem humildes, seu povo
será humilde, evitando muitas contendas. Se os pastores são líderes servis, a
igreja será marcada por servidão humilde, à semelhança de Cristo”.2 Deus
chama todos os cristãos à maturidade e humildade — e esse crescimento
ocorre melhor no contexto de uma liderança madura e humilde.
O chamado à maturidade aparece por toda a Palavra de Deus, seja aos
líderes, seja aos demais cristãos. Aquilo que cabe aos presbíteros dar de
exemplo e servir de modelo, todos os demais cristãos devem possuir. O autor
da carta aos Hebreus diz: “Mas o alimento sólido é para os adultos, para
aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir
não somente o bem, mas também o mal” (Hb 5.14). Ele insta a essa
congregação que “deixem princípios elementares da doutrina de Cristo e
sigam a maturidade” (Hb 6.1).
De semelhante modo, Paulo diz que Deus dá à igreja pastores e mestres
“com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu
serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à
unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita
varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.12–13). Ele
saúda a Epafras: “o qual se esforça sobremaneira, continuamente, por vós nas
orações, para que vos conserveis perfeitos e plenamente convictos em toda a
vontade de Deus” (Cl 4.12). Deus espera que Seus filhos amadureçam
continuamente e que, por sua vez, a maturidade conduza à humildade.
Portanto, em certo sentido, ter tratado aqui sobre maturidade e humildade
atinge o âmago desse livreto: o caráter do cristão. Todo cristão deve seguir o
exemplo de seus líderes, esforçando-se por tornar-se mais parecido com
Cristo e mais maduro espiritualmente.
AUTOAVALIAÇÃO
Parte da maturidade espiritual está em ter a humildade e a fome de justiça que
examinam a si mesmo. Ao fazer perguntas como as abaixo, podemos dar um
passo para longe da imaturidade e em direção ao chamado de Deus, que é
muito mais elevado.
• Você manifesta evidências de estar crescendo “na graça e no conhecimento de nosso Senhor
e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18)?

• Você amadureceu espiritualmente desde um ano atrás? Desde dois anos atrás? Como você
saberia dizer se é mesmo verdade?

• Você busca o louvor e a glória dos homens ou se vê feliz em permanecer desconhecido,


desde que tenha a aprovação de Deus? Muitos cristãos desejam que pensem deles como
servos, porém não querem, na prática, ser tratados como tais. Esse é o seu caso?

• De que formas os seus pais, filhos, cônjuge, chefe, pastor e líderes diriam que você precisa
crescer?
MOTIVOS DE ORAÇÃO
A fidelidade de Deus nos susterá, mesmo quando nosso crescimento parecer
lento. Tome ânimo enquanto ora da seguinte forma:
• Pai, oro pedindo ao Senhor que me faça mais como o Seu Filho em todas as áreas da minha
vida.

• Oro ao Senhor pedindo que exponha minhas ignorâncias e falhas e me dê a graça de


abandonar o meu pecado.

• Oro ao Senhor pedindo que me capacite a aproveitar ao máximo os meios de graça, e que
por meio deles eu possa ser feito mais à semelhança de Cristo.

• Oro ao Senhor pedindo que me ajude a buscar verdadeira grandeza em tornando-me servo
de todos.
--------------- NOTAS ---------------------
1 John Piper. Rethinking the Governance Structure at Bethlehem Baptist Church.
2 Alexander Strauch. Biblical Eldership.
CAPÍTULO 10

Respeitado pelos de Fora


Aqui, no capítulo final, abordaremos o que significa aos presbíteros — e a
todos os demais cristãos — usufruir de boa fama para com os de fora. E,
certamente, ponderaremos o porquê de ser algo importante.
Paulo instrui a Timóteo: “Pelo contrário, é necessário que [o bispo] tenha
bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do
diabo” (1Tm 3.7). Paulo já disse que o presbítero “deve ser irrepreensível”
diante de todos (1Tm 3.2), logo, ter “bom testemunho dos de fora” limita-se a
um grupo específico: aqueles que são de fora da igreja. Sim, até mesmo sua
posição perante o mundo conta quando o avaliamos, se apto ou não, para a
liderança.
Sobre isso John Piper escreve: “O que parece significar é que um líder
cristão deveria minimamente atingir os padrões do mundo no que diz respeito
à decência e respeitabilidade, pois os padrões da igreja devem ser ainda mais
elevados”.1 Isso importa, pois como Paulo escreveu em outro lugar, a glória
de Deus está em jogo: “Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela
transgressão da lei? Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado
entre os gentios por vossa causa” (Rm 2.23–24).
Então, por que incluir o bom testemunho de um homem por parte dos de
fora como requisito ao episcopado? Alexandre Strauch trata disso de forma
prática: “Os incrédulos podem saber mais sobre o caráter e a conduta do
aspirante ao presbiterato do que a igreja. Com muita frequência, colegas de
trabalho ou familiares incrédulos têm mais contato com os líderes da igreja
do que o próprio povo da igreja”. Ele também diz,
Se um pastor-presbítero carrega na sociedade reputação de empresário desonesto,
mulherengo ou adúltero, a comunidade dos incrédulos notará sua hipocrisia. Os incrédulos
dirão: “Ele age dessa forma e é pastor!”. Eles o ridicularizarão e zombarão dele. Eles
escarnecerão do povo de Deus. Eles falarão sobre ele e inventarão fofocas maldosas. Eles
levantarão questionamentos duros e vergonhosos. Ele será desacreditado como líder cristão
e sofrerá desonra e insultos. A sua influência para o bem será arruinada e ele colocará em
risco a missão evangelística da igreja. Certamente o pastor se tornará um prejuízo para a
igreja, e não uma vantagem espiritual.2

O Evangelho em si está em jogo baseado na consistência ou hipocrisia de


seus líderes.
Bem, o que exatamente “laços do diabo” significa, que preocupam tanto a
Paulo? Acredito que John Stott chega ao cerne da questão quando diz: “Em
seu desejo malicioso de desacreditar o Evangelho, o diabo investe o seu
melhor para desacreditar os ministros do Evangelho”.3 Se Satanás pode
desacreditar os líderes diante dos olhos do mundo, ele pode desacreditar a
igreja e sua mensagem. Strauch acrescenta,
O diabo é retratado como um caçador habilidoso (1Pe 5.8). Usando o criticismo público e
as próprias inconsistências do presbítero, o diabo apanhará numa armadilha o cristão
descuidado em pecados ainda mais sérios — amargura descontrolada, retaliação colérica,
mentira, mais hipocrisia, e dureza de coração. O que começa com uma ofensa pequena
pode tornar-se muito mais destrutivo e maligno. Portanto, o pastor deve reter bom
testemunho com os de fora da comunidade cristã.4

E quanto aos cristãos que não estão em posição de liderança? Também


estes devem buscar o respeito dos de fora. Por exemplo, Paulo escreve:
“Portai-vos com sabedoria para com os que são de fora; aproveitai as
oportunidades. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal,
para saberdes como deveis responder a cada um” (Cl 4.5–6). Mais uma vez
ele declara: “Contudo, vos exortamos, irmãos [...] a diligenciardes por viver
tranquilamente, cuidar do que é vosso e trabalhar com as próprias mãos,
como vos ordenamos; de modo que vos porteis com dignidade para com os
de fora e de nada venhais a precisar” (1Ts 4.10–12). Os cristãos
“resplandece[rão] como luzeiros no mundo” quando viverem “inculpáveis no
meio de uma geração pervertida e corrupta” (Fl 2.15).
De semelhante modo Pedro ordena: “mantendo exemplar o vosso
procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós
outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras,
glorifiquem a Deus no dia da visitação [...] Porque assim é a vontade de
Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos”
(1Pedro 2.12, 15 e veja também 1Pedro 3.13–17). O que deve ser
exemplificado pelos líderes da igreja, deve ser visível na vida de todos os
cristãos. E você também carrega a responsabilidade de viver uma vida
imaculada diante do mundo.
AUTOAVALIAÇÃO
Cristãos tendem a considerar, corretamente, o que Deus pensa sobre eles, e
como outros cristãos os consideram. Mas diante da responsabilidade de reter
um bom testemunho dos de fora, também fazemos bem em considerar o que
os de fora pensam sobre nós, se estamos correspondendo aos padrões de
decência e respeitabilidade deste mundo e, inclusive, os excedendo.
• Você conhece os seus vizinhos? Eles o conhecem bem o suficiente para serem capazes de
falar a respeito do seu caráter e reputação? Como os seus vizinhos incrédulos descreveriam
você e sua família?

• Que tipo de reputação você tem em meio aos não cristãos que trabalham com você? Você
trabalha duro e evita ser intrometido (1Ts 4.10–12; Ef 4.28)?

• O que os membros não cristãos da sua família diriam ser a coisa mais importante para
você? Eles diriam que seu convívio condiz com a sua profissão de fé?
MOTIVOS DE ORAÇÃO
Deus é capaz de fazer com que mais graça abunde em sua vida, logo,
encorajo-o a orar comigo da seguinte forma:
• Oro pedindo ao Senhor que faça minha vida refletir o fruto do Espírito, de modo a
glorificar, e não envergonhar, o Seu nome (Gl 5.22–23).

• Oro pedindo ao Senhor que me ajude a pensar sobre como minhas atitudes e ações afetam
os outros — em especial aqueles que não são cristãos.

• Oro pedindo ao Senhor que me capacite a ser exemplo de trabalho duro e de respeito pelas
autoridades, que eu me preocupe com o meu próprio serviço no local de trabalho.

• Oro ao Senhor pedindo que me faça modelo de boas obras dentro do meu lar, no trabalho e
na vizinhança, para que, ao fazer o bem aos outros, o Senhor seja glorificado.
------------------ NOTAS ------------------
1 John Piper. Rethinking the Governance Structure at Bethlehem Baptist Church.
2 Alexander Strauch. Biblical Eldership.
3 John Stott. The Message of 1Timothy & Titus: The Bible Speaks Today.
4 Alexander Strauch. Biblical Eldership.
Conclusão

Obrigado por juntar-se a mim ao longo desta obra.


Acredito que Deus tenha me ajudado a crescer na graça e no
conhecimento do nosso Senhor Jesus Cristo à medida que explorava e
aplicava a sua Palavra.
Espero que você possa dizer o mesmo!
Que Deus nos ajude a viver uma vida exemplar, um viver que manifeste o
caráter do cristão.
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