Você está na página 1de 3

PENSAMENTO CIENTÍFICO: CIÊNCIA E CONHECIMENTO

Introdução

Fonte: Gazeta do povo, em 30/4/2012.

Nossa primeira unidade trata do conhecimento científico como


um instrumento que nos ajuda a desvelar o mundo a nossa volta,
para compreendê-lo e explicar os fenômenos que nos cercam.
Nosso saber e nossas atitudes são influenciados pelas inúmeras
experiências da ciência; lidamos diretamente com os resultados
do vasto conhecimento que ela produz incessantemente. Os
questionamentos de ontem cederam lugar aos novos; os
problemas que eram circunscritos a outras eras hoje seriam,
talvez, inusitados. Podemos exemplificar com a temática da
tecnologia voltada para computadores. Há sessenta e três anos, os computadores eram gigantescos e a
população da época não tinha nenhum acesso a essa tecnologia. Hoje, temos um computador dentro dos nossos
telefones celulares, o que nos permite alta eficiência nas atividades interativas e profissionais.

O progresso da nossa sociedade, o avanço tecnológico e digital, a comunicação globalizada, todo esse contexto
nos impulsiona a buscar cada vez mais o conhecimento.
A procura pelo saber se dirige à solução das questões mais imediatas que nos cercam em nosso presente
e até mesmo a definições que favoreçam o futuro, com maior qualidade de vida e vantagens reais, dirigidas a
um número cada vez maior de pessoas e suas relações.

Para fazer ciência, devemos reunir alguns atributos importantes: organização, procedimento sistematizado,
percepção crítica, pensamento hipotético, capacidade de análise, padronização e possibilidades de medir,
avaliar e mensurar. Todos esses atributos e procedimentos referem-se ao método científico. Mas, antes mesmo
de pensarmos em etapas ou em como proceder para alcançar objetivos, é necessário que você se inspire. Isso
mesmo! Quem falou que ciência, metodologia, conhecimento baseia-se somente em técnicas e procedimentos?
Veja a frase abaixo, de um dos maiores cientistas da humanidade: Albert Einstein.

Eu acredito na intuição e na inspiração. A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é


limitado, enquanto a imaginação abraça o mundo inteiro, estimulando o progresso, dando a luz à evolução. Ela é,
rigorosamente falando, um fator real na pesquisa científica (EINSTEIN, 2011)

Então, ao entrar por esse mundo instigante, você deve ouvir o próprio coração para encontrar uma temática que
mereça fazer você se dedicar, debruçar-se mesmo, buscando soluções e, a partir daí, sim, investigar, ler muito,
escrever e comunicar os achados, como fizeram os grandes Aristóteles, Platão, Newton e outros mais!

Neste estudo, vamos buscar o conhecimento científico e seus pilares – a ciência em foco ontem, hoje e amanhã
–, as etapas de um trabalho científico, os temas de investigação, como encontrar o tema do trabalho, dicas e
modelos e a importância da temática escolhida –, a construção da justificativa e como escrever de modo
científico.

Nesta primeira etapa dos nossos estudos, os objetivos são estimular o pensamento e a escrita científica,
desenvolver a temática a ser investigada no plano de pesquisa e justificar a temática com argumentos científicos.

O conhecimento científico e seus pilares

Se o que se pode ver, ouvir, pegar, medir, pesar. Do avião a jato ao jaboti, Desperta o que ainda não,
não se pôde pensar. Do sono eterno ao eterno devir, Como a órbita da terra abraça o vácuo devagar.
Para alcançar o que já estava aqui. Se a crença quer se materializar. Tanto quanto a experiência quer se
abstrair. A ciência não avança, a ciência alcança, a ciência em si (ANTUNES; GIL, 1997)
O trecho da letra de Arnaldo Antunes e Gilberto Gil nos dá a inspiração de que precisamos para abrir nosso
capítulo sobre o conhecimento científico. A proposta aqui é explorar os conceitos relativos ao tema e motivá-
lo(a) a compreender a ciência. Köche (2009) apresenta o sentido desse conhecimento nos alertando que ele
deve responder às necessidades humanas, no sentido de o homem não apenas se posicionar como
testemunha dos fatos, mas compreender as relações existentes na sociedade, que estão por detrás de objetos,
fatos ou fenômenos.
Esse tipo de conhecimento, que é distinto do conhecimento do senso comum, deve ser buscado por alunos que
desejam apreender informações técnico- científicas especializadas, a fim de transformar suas realidades
profissionais e expandir as possibilidades do trabalho.

Dessa forma, vale ressaltar que explicações sistemáticas que podem ser testadas, validadas e reproduzidas são
um dos alicerces do conhecimento sedimentado na ciência, e elas se estabelecem como resultado da
investigação científica. Por isso, o método está intimamente ligado à ciência.

Certamente não! Afinal, até na preparação de um bolo de chocolate por exemplo, devemos identificar
elementos, quantidades e a ordem dos ingredientes, pois ela altera o resultado, não é mesmo? Assim, as
características do conhecimento que buscamos aqui, de modo muito semelhante ao que acontece no preparo
de um bolo de chocolate, é uma necessidade preliminar para nossa produção científica!
Para nos familiarizarmos com o tipo de conhecimento que buscamos, é válido identificarmos as diferenças
entre os principais campos de conhecimento existentes. A tabela abaixo apresenta as características mais
essenciais de cada um deles. Veja:

TABELA 1
Definição e características básicas de quatro tipos de conhecimento.

CONHECIMENTO CARACTERÍSTICAS
Fundamenta-se na percepção de fatos/objetos/fenômenos, impregnada pelo próprio
estado de ânimo e emoções.
É reflexivo, mas limitado à familiaridade com o objeto.
POPULAR ou SENSO COMUM É assistemático, pois não se baseia numa formulação geral que explique os fenômenos
Baseia-se em informações obtidas na observados.
convivência familiar e social. É verificável, pois é possível sua ocorrência no dia a dia.
É falível e inexato, pois se baseia no que se viu e ouviu sobre dado fato/objeto/fenômeno.

Fundamenta-se em hipóteses que não podem ser submetidas à observação.


Não é verificável, pois as hipóteses não podem ser nem confirmadas nem refutadas.
É racional, já que os enunciados têm correlação lógica.
FILOSÓFICO É sistemático, pois hipóteses e enunciados representam uma realidade coerente.
Baseia-se no uso da razão pura para É infalível e exato, pois seus postulados e hipóteses não são submetidos a teste de
questionar os problemas humanos e para observação ou experimentação.
discernirsobre certoe errado.

Fundamenta-se em doutrinas que contêm pressupostos sagrados.


É inspiracional, pois as doutrinas são reveladas pela divindade.
RELIGIOSO OU TEOLÓGICO É infalível, pois adota pressupostos indiscutíveis e exatos.
Baseia-se em verdades que são infalíveis É sistemático, pois o conhecimento organizado do mundo é obra do criador divino.
e indiscutíveis por revelarem o sobrenatural. Não é verificável, pois o que é revelado implica uma atitude de fé.

Fundamenta-se em fatos reais, e suas hipóteses e proposições têm a veracidade ou a


falsidade conhecida por meio da experimentação e não da razão.
É sistemático, pois o saber é ordenado logicamente, construindo um sistema de ideias e
teorias, e não conhecimentos desconexos.
CIENTÍFICO É verificável, pois as hipóteses são examinadas através da observação e experimentação
Baseia-sena ocorrênciade fatos,que se para serem comprovadas ou refutadas.
manifestam de algum modo. É falível, pois o conhecimento não é definitivo, absoluto ou final.
É aproximadamente exato, já que novas proposições podem reformular uma teoria já
existente.

Fonte: Adaptado de MARCONI; LAKATOS, 2010.


A ciência e o saber

Queremos saber o que vão fazer com as novas invenções/ Queremos noticia mais séria sobre a descoberta
da antimatéria e suas implicações na emancipação do homem das grandes populações/ homens pobres da
cidades, das estepes dos sertões/ Queremos saber quando vamos ter raio laser mais barato/ Queremos, de
fato, um relato/ Retrato mais sério do mistério da luz (GIL, 1998).

A poesia de Gilberto Gil nos presenteia e nos leva a refletir sobre a importância do saber em nossos dias. Seu
caráter prático e o anseio da sociedade por receber os benefícios dos resultados científicos para mudar sua
realidade e suas condições de vida. É válido pensarmos que o saber, scire em latim, alimenta a busca da ciência.

Muitas são as influências intangíveis sobre a descoberta científica – curiosidade, intuição, criatividade. Grande
parte delas desafia a análise racional do pesquisador (National Academy of Sciences, 1995). Outras tantas
envolvem nosso senso ético e de responsabilidade com o que estamos dispostos a desenvolver. Bem, vamos
ver no quadro abaixo mais algumas características essenciais da ciência, que também devem ser incorporadas
pelos pesquisadores como ferramentas importantes durante seu trabalho:

Características Significado
elementares
Descrição da realidade investigada independentemente dos desejos do pesquisador, de forma
Objetividade clara e precisa.
Racionalidade A razão é utilizada durante todo o processo de pesquisa, desde o desenho do estudo, a coleta
dos dados, até sua análise.
As ideias devem ser construídas e organizadas racionalmente, pautadas na lógica,
Sistematicidade apresentando-se os conhecimentos de forma a serem absorvidos na sua totalidade.

Generalidade O conhecimento gerado deve ser analisado sob a possibilidade de ser ou não aplicado a outros
contextos, explicando fenômenos em diferentes situações.
Verificabilidade Possibilidade de mensurar as informações resultantes da investigação, de modo a demonstrar a
veracidade dos resultados.
Falibilidade Todos os resultados científicos devem ser tratados como suscetíveis ao erro.

Você também pode gostar