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O TRABALHO COMO PRINCIPIO EDU! ‘ATIVO FRENTE AS NOVAS TECNOLOGIAS Dermeval Saviani* © problema das relagdes entre educagdo e trabalho tem sido abordado de diferentes maneiras, Em termos gerais, a concepgao difusa parece ser aquela que contrapde de modo excludente educagao ¢ trabalho. Considerando-se que na atualidade educagao tende a coincidir com escola (esse tema sera retomado mais adiante), a tendéncia dominante ¢ a de situar a educaga0 no Ambito do naio- trabalho. Dai 0 cariter improdutive da educagio, isto é, 0 seu entendimento como um bem de consumo, objeto de fiuigao Essa situagaio tendeu a se alterar a partir da déeada de 60 com o surgimento da "teoria do capital humano", passando a educag2o a ser entendida como algo ndo meramente ornamental mas decisivo para o desenvolvimento econémico. Postula-se, assim, uma estreita ligagao entre educagao (escola) ¢ trabalho; isto é, considera-se que a educagdo potencializa trabalho. Essa perspectiva esta presente também nos criticos da "teoria do capital humano", uma vez que consideram que a educagtio € funcional ao sistema capitalista, no apenas ideologicamente, mas também economicamente, enquanto qualificadora da mao-de-obra (forga de trabalho). Entre as duas posigdes opostas acima indicadas, os educadores tém oscilado ao considerar a educagdo apenas em termos gerais, com ou sem referéncias & formagio vocacional e profissional, ou propondo um sistema dualista com a formagao geral desvinculada da formagao profissional ou, ainda, concebendo uma escola tinica que pretenderia articular edueagao geral ¢ formagao profissional As discuss6es atuais obviamente nao ignoram 0 quadro acima. De minha parte, gostaria de convidar os colegas a refletirem sobre as origens e o desenvolvimento historico do problema, como via para a compreensdo de suas coordenadas atuais. + Professor Titular em Historia da Educagdo da Faculdade de Edueagao da UNICAMP. Diretor associado da Faculdade de Educagao da UNICAMP. ptt om Candee EDUCACAO E TRABALHO: AS ORIGENS E sabido que a educagdo praticamente coincide com a propria existéneia humana Em outros termos, as origens da educagao se confundem com as origens do proprio homem. A medida em que determinado ser natural se destaca da natureza e ¢ obrigado, para existir, a produzir sua propria vida é que ele se constitui propriamente enquanto homem, Em outros termos, diferentemente dos animais, que se adaptam a natureza, os homens t@m que fazer o contrario: eles adaptam a natureza a si O ato de agir sobre a natureza, adaptando-a as necessidades humanas, ¢ 0 que conhecemos pelo nome de trabalho, Por isto podemes dizer que o trabalho define a esséncia humana. Portanto, o homem, para continuar existindo, precisa estar continuamente produzindo sua propria existéncia através do trabalho. Isto faz com que a vida do homem seja determinada pelo modo como ele produz sua existéncia, Inicialmente prevalecia 0 modo de produgao comunal, 0 que hoje chamamos de “comunismo primitive". Nao havia classes. Tudo era feito em comum: os homens Produziam sua existéncia em comum e se educavam neste proprio processo. Lidando com a terra, lidando com a natureza, se relacionando uns com os outros, os homens se educavam e educavam as novas geragGes. A medida em que ele se fixa na terra, que entdo era considerada o principal meio de produgio, surge a propriedade privada. A apropriagao privada da terra divide os homens em classes. Na Antiguidade, tanto grega como romana, ocorre a propriedade privada da terra: temos entio a classe dos proprietarios e a classe dos nao proprietarios. O fato de uma parte dos homens se apropriar privadamente da terra da a eles a condigdo de poder sobreviver sem trabalhar. Com efeito, os no proprietérios que trabalham a terra assumem o encargo de manter a si proprios ¢ aos senhores. Nesse sentido, surge uma classe ociosa, ou seja, uma classe que ndo precisa trabalhar para viver: ela vive do trabalho alheio Se antes, no comunismo primitive, a educagao coincidia inteiramente com o proprio processo de trabalho, a partir do advento da sociedade de classes, com o aparecimento de uma classe que nao precisa trabalhar para viver, surge uma educagio diferenciada E ¢ ai que esta localizada a origem da escola, A palavra escola em grego significa o lugar do Scio, Portanto, a escola era o lugar a que tinham acesso as classes ociosas. A classe dominante, a classe dos proprietarios, tinha uma educagao diferenciada que era a educagao escolar. Por contraposigao, a educagao geral, a educagao da maioria era o proprio trabalho: 0 povo se educava no priprio processo de trabalho. Era 0 aprender fazendo. Aprendia lidando com a realidade, aprendia agindo sobre a matéria, transformando-a ‘A forma como a classe proprietaria ocupava 0 seu dcio & que constituia seu tipo especifico de educagiio. Nao s6 a palavra escola tem essa origem mas também a palavra gindsio, que era o local dos jogos que eram praticados pelos que dispunham de écio, A palavra gindsio mantém esta duplicidade de significado ainda hoje. A origem da palavra gindstica é a mesma da palavra ginasio: ptt om Candee exercicios fisicos como lazer. A ginistica dos que tinham que trabalhar era o proprio trabalho, era o trabalho manual, era 0 manuseio fisico da matéria, dos objetos, da realidade, da natureza. IDADE MEDIA : ESCOLA E PRODUCAO. Algumas caracteristicas da sociedade antiga persistem na Idade Média, no modo de produgio feudal, porque, assim como na Antiguidade, também na Idade Média o meio dominante de produgdo era a terra e a forma econémica dominante era a agricultura. Na Grécia e Roma, os homens viviam na cidade, mas do campo, porque a vida na cidade era suprida pelo trabalho desenvolvido nos arredores da cidade, que era o trabalho agricola, Na Idade Média, os homens viviam no campo e do ‘campo, ou seja, viviam no meio rural ¢ da atividade agricola. A forma do trabalho da Idade Média se diferenciava da Antiguidade na medida em que ndo temos mais 0 trabalho eseravo ¢ sim o trabalho servil. Temos, na Idade Média, as escolas paroquiais, as escolas catedralicias e as escolas monacais que eram as escolas que se destinavam a educagio da classe dominante. As atividades que constituiam a educagda dessas classes se traduziam em formas de ocupacdo do écio, como na Antiguidade. Isto foi traduzido na Idade Média através da expresso "6cio com dignidade". Entdo, ocupar © écio com os estudos significava nao precisar trabalhar para suprir as necessidades da existéncia. Ocupar 0 6ei com dignidade é ocupé-lo com atividades consideradas nobres € ndo com atividades consideradas indignas. Essa expresso deriva da influéncia da Igreja A classe dos proprietirios se dedicava aos exercicios fisicos que estavam ligados as atividades guerreiras, 0 que € expresso através da nogao da Cavalaria, cuja ocupagao era a guerra, Dai a relagao cavaleiro ¢ cavalheiro como o sujeito de boas maneiras - a formago dos nobres inclufa as atitudes corteses. Cortés deriva de corte, formago destinada a aristocracia - a formagdo para a cavalaria envolve entdo esses dois aspectos, o da arte militar e o da vida aristocratiea, Em eontrapartida, a grande maioria continuava se educando pelo trabalho, no préprio processo de produzir a prépria existéncia e de seus senhores, Nesse contexto, a forma escolar da educagao é ainda uma forma secundaria que se contrapde como ndo-trabalho a forma de educagao dominante determinada pelo trabalho. © modo de produgao feudal contrapunha o campo, que era referéneia da vida na Idade Média, a cidade, que eram niicleos subordinados ao campo, onde se desenvolvia apenas 0 artesanato O que ¢ artesanato? E uma espécie de indistria rural, de industria propria da agricultura. Por qué? Porque através do artesanato se produziam apenas aqueles instrumentos rudimentares que a propria vida no campo demandava. No entanto, o desenvolvimento das atividades artesanais, fortalecendo as corporagdes de oficios, aliado ao grau de acumulagtio que a economia feudal pde desenvolver, possibilitou o crescimento de uma atividade mercantil que esti na origem da constituigdo do capital Esta atividade mercantil foi se concentrando nas cidades, primeiro organizadas periodicamente na forma de feiras de trocas, de grandes mercados de trocas. Esses mercados foram se fixando e dando origem as cidades. A origem do burgués ¢ 0 habitante do burgo, ou seja, o habitante da cidade. Através do comércio, ele foi acumulando capital que, em seguida, passou a ser investido na propria produgdo, ptt om Candee originando assim a industria Estes processos de transformagaio conduziram ao deslocamento do eixo do proceso produtive do campo para a cidade, da agricultura para a indistria. Temos, entao, a partir deste proceso, a constituigao de um nove modo de produgo que & 0 capitalista ou burgués, ou modo de produgdio moderno. EDUCACAO E MODO DE PRODUCAO CAPITALISTA. ‘A época modema se caracteriza por um proceso baseado na industria e na cidade. Neste sentido, diferentemente da Idade Média onde era a cidade que se subordinava ao campo, a indistria a agricultura, na época moderna, inverte-se a relagdo e é © campo que se subordina a cidade; & a agricultura que se subordina a industria. Por isso, na sociedade capitalista, a agricultura tende a assumir cada vez mais a forma da indiistria, tende a se mecanizar ¢ adotar formas industriais ¢ a se desenvolver segundo determinados insumos, insumos esses que so produzidos segundo a forma industrial. De outro lado, dado que a industria é a base do desenvolvimento das cidades, a sociedade ‘moderna vai se caracterizar pela subordinagao do campo 4 cidade ou, dizendo de outra maneira, por uma crescente urbanizagdo do campo. O proprio campo passa a ser regido por relagdes do tipo urbano Esta sociedade rompe as relagdes dominantemente naturais que prevaleciam até a Idade Média, ou seja, dado que até ai a forma de produgtio dominante era lidar com a terra, as relagBes também dominantes eram do tipo natural e se constituiam comunidades segundo lagas de sangue. Dai o cardter estratificado, hereditario: a nobreza passava de pai para filho, a servidao também passava de pai para filho, Na sociedade moderna, capitalista, as relagdes deixam de ser naturais para serem dominantemente sociais. Neste sentido é que a sociedade capitalista rompe com a idéia de comunidade para trazer, com toda a forga, a idéia de sociedade, Sendo assim, a sociedade capitalista traz a marca de um rompimento com a estratificagao de classes. Isto € posto em evidéncia pelo fato de que a sociedade deixa de se organizar segundo 0 direito natural, mas passa a se organizar segundo o direito positivo, um direito estabelecido formalmente por convengdio contratual. E por isto que os idedlogos da sociedade moderna vo fazer referéncia ao chamado contrato social e a sociedade como sendo organizada através de um contrato € no por lagos naturais. ‘A isso esti ligada a nogio de liberdade_A nogao de liberdade, como principio do modo de organizagdo da sociedade moderna, que esta caracterizada na ideologia do liberalism, significa que cada um é livre para dispor de sua propriedade. E importante considerar que a liberdade esta estreitamente vinculada a propriedade. E uma sociedade de proprietarios livres. Considera-se 0 trabalhador como proprietario da forga de trabalho e que vende essa forga de trabalho mediante contrato celebrado com o capitalista. Isto rompe com o carater servil da Idade Média. A sociedade moderna arranea 0 trabalhador do vinculo com a terra e 0 despoja de todos os seus meios de existéncia, Ele fiea exclusivamente com sua forga de trabalho, obrigado, portanto, a operi-la com meios de produgdo que so alheios. E neste sentido que Marx, em O capital, faz referéncia a esta ptt om Candee libertagio que a sociedade capitalista opera e que o faz em dois sentidos: o trabalhador se converte em trabalhador livre porque desvinculado da terra, livre porque pode vender sua forga de trabalho, mas também porque & despojado de todos os seus meios de existéncia, A liberdade posta num sentido contradit6rio, duplo, aparentemente positivo - livre para dispor de sua forga de trabalho - mas também no sentido negativo na medida em que ¢ desvinculada dos seus meios de existéncia A ESCOLA NA SOCIEDADE MODERNA A questtio da educagao e da escola, o que tem a ver com .0? Tudo isso é importante pelo seguinte: a sociedade contratual, baseada nas relagdes formais, centrada na cidade € na industria, vai trazer consigo a exigéneia de generalizagao da escola. A produgao centrada na cidade € na indistria implica que o conhecimento, a ciéncia que & uma poténcia espiritual, se converta, através da indiistria, em poténcia material. Entio, o conhecimento - Bacon assim colocava no inicio da Epoca Moderna - é poder, conhecer é poder Todo o desenvolvimento cientifico da Epoca Modema se dirigia a0 dominio da natureza: sujeitar a natureza aos designios do homem, transformar os conhecimentos em meios de produgdo material. E a industria nao € outra coisa sendo 0 proceso pelo qual se incorpora a ciéncia, como poténcia material, no processo produtivo, Se se trata de uma sociedade baseada na cidade e na indistria, se a cidade é algo construido, artificial, ndo mais algo natural, isto vai implicar que esta sociedade organizada a base do direito positive também vai trazer consigo a necessidade de generalizagdo da escrita Até a Idade Média, a eserita era algo secundario e subordinado a formas de produg3o que ndo implicavam o dominio da escrita. Na Epoca Moderna, a incorporagdo da ciéncia ao processo produtivo envolve a exigéneia da disseminagao dos eddigos formais, do eddigo da eserita. O direito positivo é um direito registrado por escrito, muito diferente do diteito natural que ¢ espontaneo, transmitido pelos costumes. O dominio da escrita se converte, assim, numa necessidade generalizada. Com efeito, jd que nao existe ciéneia oral (a ciéneia implica em registro escrito), ao incorporar a eiéneia a cidade incorpora, na sua forma de organizagao, a exigéncia do dominio da escrita. Esta € uma questio que ainda hoje esta presente, ou seja, o desenvolvimento da escola vinculado ao desenvolvimento das relagdes urbanas. ? © que por vezes se chama de vinculo entre a escola € os padres urbanos. Quanto mais avanga o processo urbano-industrial, mais se desloca a exigéncia da expansdo escolar Por ai € possivel compreender exatamente por que esta sociedade modema e burguesa levanta a bandeira da escolarizagao universal, gratuita, obrigatéria ¢ leiga. A escolaridade bisica deve ser estendida a todos A palavra cidade traz sempre referéncia ao progresso, ao desenvolvimento, enquanto 0 campo esta sempre vinculado ao atraso, a0 riistico, a0 pouco desenvolvido. Se levarmos em conta a etimologia das palavras, isto fica claro, Assim temos civilizado, que vem de civitas - que é a palavra latina que designa cidade - da qual igualmente deriva cidadio, que designa o habitante da cidade; mas também cidaddo significa sujeito de direitos e deveres, sujeito de direitos politicos. Politico vem de polis, palavra grega que significa cidade, e dai também derivam expresses como polido, sujeito bem educado ptt om Candee Se examinarmos as palavras originarias de campo, como por exemplo rus, palavra latina que designa campo, temos entio riistico, rude, para designar algo atrasado, nao desenvolvido. E se tomarmos a palavra agrés, que em grego significa campo, vamos ter agreste, acre, que significa algo agressivo, que ndo tem boas maneiras, que nao é polido, que nao ¢ civilizado. Estas referéncias sugerem, entdo, uma contraposi¢do entre uma sociedade baseada na cidade € na industria, desenvolvida, por oposigdio a uma sociedade agraria baseada no campo, que sugere algo atrasado, pouco desenvolvido A escola esti ligada a este proceso, como agéncia educativa ligada as necessidades do progresso, as necessidades de habitos civilizados, que corresponde a vida nas cidades. E a isto também esta ligado o papel politico da educagao escolar enquanto formagao para a cidadania, formagao do cidadao. Signifiea formar para a vida na cidade, para ser sujeito de direitos e deveres na vida da sociedade moderna, entrada na cidade e na industria. O que tivemos com este processo? Que a forma escolar emerge como forma dominante de educagiio na sociedade atual. Isto a tal ponto que a forma escolar passa a ser confundida com a educagdo propriamente dita Assim, hoje, quando pensamos em educagdo, automaticamente pensamos em escola. E por isso que quando se levantam bandeiras em prol da educagdo, o que esta em causa ¢ 0 problema escolar Se a educagao escolar é a forma dominante na sociedade atual, compreende-se por que as demais formas de educagao, ainda que subsistam na sociedade moderna, passam para um plano secundario, se subordinam a escola e so aferidas a partir da escola Ocorre aqui com a questio escolar ‘o. mesmo fendmeno que Marx descreveu com relagao economia, ou seja, trata-se de compreender as formas menos desenvolvidas a partir das mais desenvolvidas e nao o contririo. ? nesse sentido que & possivel compreender a educago a partir da escola € no © contrario. As formas no escolares de educagdo tém que ser compreendidas a partir da escola, que é a forma desenvolvida de educagdo. Este € 0 fendmeno que observamos hoje em dia, a tal ponto que, quando falamos em escola, nao é necessirio adjetivar; todos entendem do que se esti falando. Mas quando se quer falar em educagdo que niio seja a da escola, temos que fazer a referéncia sempre pela via negativa: educagao nao escolar, educagdo ndo formal, informal. O critério para entender as demais é a forma escolar Isto nos permite compreender por que assistimos hoje em dia a uma verdadeira hipertrofia da escola. Em outros termos: tende-se a considerar e a atribuir a escola tudo aquilo que € educative; a escola tem que absorver todas as fungdes educativas que antes eram desenvolvidas fora da escola, ja que hoje ha uma tendéncia a esperar que as mesmas sejam desenvolvidas dentro da escola Ela é alargada tanto em sentido vertical como em sentido horizontal. No sentido vertical, ela é espichada para cima (3. grau, 4. grau) e é espichada para baixo (pré-escola). Veja-se como ocorre hoje a reivindicagao da pré-escola: nao se trata apenas de acrescentar | ano, para preparar as criangas para 0 proceso de alfabetizagao, mas reivindica-se mais do que isso: quer-se uma pré-escola do zero aos seis anos. Isso foi reivindicado junto a Constituinte ¢ incorporado a nova Constituigdo. Ja se fala até em educagao pré-natal, Ha uma expectativa de alargamento das ptt om Candee fungdes da escola Nessa expectativa o que esta acontecendo? A fungdo educativa que antes se acreditava ser pripria da familia agora passa a assumir a forma escolar ‘Também se advoga o alargamento da escola no sentido horizontal, ou seja, a expanstio do tempo de permanéncia nas escolas. Esti na ordem do dia a defesa da jornada de tempo integral, 8 horas por dia Acexigéncia da escola se alarga tanto vertical como horizontalmente, isto é 0 que se chama hipertrofia da escola Além disto, também se reivindiea que a escola, no seu interior, assuma encargos que extrapolam aquilo que é especificamente pedagogico Comega-se a introduzir no currieulo toda uma série de atividades que se imagina que tenha alguma fungi educativa, portanto, deve ser tratada dentro da escola. Isto para falar no curriculo. Mas existem as atividades extracurriculares, como a merenda escolar que envolve o sentido mais amplo que a educagiio possa assumir, inclusive o sentido latino de eduear enquanto alimentar, portanto propiciar 0 crescimento fisico no sentido literal da palavra; e se reivindica que a escola exerga também este tipo de fungdo, Esta tendéneia € compreensivel no quadro histérieo esbogado. Se se trata de um tipo de sociedade onde a forma escolar ¢ dominante e ela é que define a educagdo, as demais formas sio aferidas a partir dela. Entdo, € compreensivel que se reivindique que a forma escolar assuma, na pritica, toda aquela extensdo que o tipo de sociedade esta exigindo dela. Se nés prestarmos atengao, vamos verificar que, concomitantemente a esta tendéncia que descrevi, ocorre também hoje em dia a tendéncia oposta Ao mesmo tempo em que a escola é hipertrofiada nos dias de hoje, ela também tende a ser secundarizada; ou seja, surgiu também nos dias de hoje um discurso que tende a afirmar que a educago escolar nao é a Unica forma de educagaio e sequer a principal. E muito comum hoje afirmar- se que a escola é uma das formas de educagdo, uma entre muitas e, entre estas, nao é a principal Educa-se através de miltiplas organizagdes, nfo apenas através da escola Educa-se, por exemplo, através dos sindicatos, dos partidos, das associagdes dos mais diversos tipos, através dos clubes, do esporte, dos clubes de maes. Educa-se através do trabalho, através da convivialidade do relacionamento informal das pessoas entre si, Dai se considera que a escola é uma entre essas muitas formas de educar e no € a que tem maior peso. No bojo disso surgiu até uma tendéncia radical de desvalorizagao da escola: a teoria da desescolarizacio, encabecada por Illich. Ai chega-se a afirmar que a escola tem uma fungaio negativa do ponto de vista educacional e, portanto, a sociedade ganharia se se livrasse das escolas. ‘Como entender essa contradigao? ptt om Candee A CONTRADICAO DO PROCESSO ESCOLAR Ao mesmo tempo em que a escola ¢ desvalorizada, ela é hipertrofiada. Essa contradigao atravessa o proprio interior da escola; pode-se dizer que existe essa tendéncia de se dar com uma mao e tirar com a outra. Ela se amplia ¢ se esvazia ao mesmo tempo. Estende-se, mas perde substincia, Hoje se coloca dentro da escola toda uma série de atividades que acabam descaracterizando-a. Parece que a escola cuida de tudo, menos de ensinar, de instruir Isso & mais ou menos palpavel observando nossas escolas Cheguei a ilustrar isso num artigo com as famosas semanas de comemoragies. O ano letivo comega na 2? quinzena de fevereiro e ja em margo vinha a semana da Revoluedo, depois a Semana Santa, a Semana das Mies, as Festas Juninas, Semana do Indio, Semana do Folelore, Semana da Patria, Jogos da Primavera, ‘Semana da Crianga, Semana da Asa, € nesse momento ja estamos em novembro; o ano esta terminando, se comemorou muito, mas pergunta-se: estudou-se Portugués, Historia, Geografia, Ciéncias? Constata-se, entdo, que isso foi relegado a plano secundario. As comemoragdes acabaram esvaziando o conteido especifico da escola, Como entender este paradoxo em que se enreda a escola? Aqui chegamos a um ponto importante do tema em discussdo. Trata-se do modo como a historia chega a colocar a forma escolar como forma dominante da educagao, J4 que a forma escolar é a forma dominante e a escola vive este paradoxo, ‘como situar papel que a educagao deve assumir na nossa época, na histéria presente, na histéria que, de algum modo, estamos fazendo? Parece importante resgatar algo que esta subjacente a exposigo. Coloquei as origens da educagao concomitantemente & origem do préprio homem. Essa origem era inicialmente comum, coletiva, A humanidade se divide em classes. A historia da escola comega com a divisto dos homens em classes. Essa divisdo da sociedade em classes coloca os homens em antagonismo, uma classe que explora e domina outra Atingimos, com a sociedade capitalista, 0 maximo de desenvolvimento da sociedade de classes. A contradigao entre as classes marca a questo edueacional ¢ o papel da escola, Quando a sociedade capitalista tende a generalizar a escola, esta generalizagao aparece de forma contraditéria, porque a sociedade burguesa preconizou a generalizagdo da educagdo escolar basica. Sobre esta base comum, ela reconstituiu a diferenga entre as escolas de elite, destinadas predominantemente a formagao intelectual, ¢ as escolas para as massas, que ou se limitam a escolaridade bisica ou, na medida que tém prosseguimento, ficam restritas a determinadas habilitagdes profissionais. Essa contradigao da sociedade capitalista em relagao a escola esta presente desde as origens da sociedade capitalista, mas de forma subjacente. Na época atual, essa contradigdo vem A tona e se toma mais aguda, Os idedlogos da burguesia proclamaram a escola universal, gratuita e obrigatéria, portanto, uma escolaridade comum para todos, porque isto correspondia ao carater da burguesia revolucionaria que expressava seus interesses em termos universais. Neste sentido 0 acesso ao saber, a cultura letrada, o dominio dos nimeros, dos elementos necessirios para conhecer cientificamente a realidade era considerado um direito de todos os homens. Dessa maneira, a burguesia se contrapunha aos privilégios de que gozavam a nobreza ¢ 0 clero, Mas esta pregagao universalizante ja apareceu de forma diferenciada no ptt om Candee discurso da economia politica classica. Ali os tedricos da economia politica localizavam com mais realismo a questo da escola. Alguns deles chegavam a afirmar que a escola era totalmente dispensavel para os trabalhadores, que a instrugdo escolar era tempo roubado a produgiio; que enquanto as eriangas estavam nas escolas, néio estavam colaborando com a produgao e, portanto, com o crescimento da mais- valia, ou seja, com o crescimento e acumulagao do capital. Mas os tedricos da economia politica mais perspicazes, que captavam de forma mais objetiva o processo da sociedade burguesa, percebiam que a instrugdo escolar estava ligada a uma tendéncia modemnizadora, a uma tendéncia de desenvolvimento propria de uma sociedade mais avangada, Esses te6ricos, como Adam Smith, afirmavam que a instrugdo para os trabalhadores era importante; & medida que os trabalhadores dispusessem de educagao basica, se tomavam mais aptos para viver na sociedade, ¢ se inserir no processo produtivo, se tornavam mais flexiveis, com pensamento mais gil e mais adequado & necessidade da vida moderma, Adam Smith percebia isso no nivel da educago bisica Dai a famosa frase a ele atribuida: "Instrugdo para os trabalhadores, porém, em doses homeopéticas". Quer dizer, é preciso um minimo de instrueao para os trabalhadores e este minimo é positivo para a ordem capitalista, mas, ultrapassando esse minimo, entra-se ‘em contradigdo com essa ordem social O que significa ultrapassar esse minimo? Significa o seguinte: na sociedade moderna, o saber 6 forga produtiva. A sociedade converte a ciéneia em poténeia material. Bacon afirmava: "saber é poder" E meio de produgdo. A sociedade capitalista € baseada na propriedade privada dos meios de produgao, Se ‘05 meios de produgao 40 propriedade privada, isto significa que sao exclusivos da classe dominante, da burguesia, dos capitalistas. Se o saber é forga produtiva deve ser propriedade privada da burguesia. Na medida em que o saber se generaliza e € apropriado por todos, entio os trabalhadores passam a ser proprietirios de meios de produgdo, Mas é da esséneia da sociedade capitalista que 0 trabalhador s6 detenha a forga de trabalho. Ai esta a contradigao que se insere na esséncia do capitalismo: o trabalhador no pode ter meio de produgdo, nao pode deter o saber, mas, sem o saber, ele também nao pode produzir, porque para transformar a matéria precisa dominar algum tipo de saber. Sim, é preciso, mas "em doses homeopaticas', apenas aquele minimo para poder operar a produgao. E dificil fixar limite, dai por que a escola entra nesse processo contraditério: ela é reivindicada pelas massas trabalhadoras, mas as camadas dominantes relutam em expandi-ta No préprio proceso de produgao foram encontrados instruments mais adequados de contornar este problema. Uma das formas bem tipicas ¢ 0 taylorismo, que partiu do estudo de como os trabalhadores produziam, portanto, de quais os conhecimentos que os trabalhadores dominavam para poder produzir, chamado estudo de tempos € movimentos, Analisando as formas do processo de produgo ccujo saber os trabalhadores dominavam, o que fez Taylor? Elaborou, sistematizou essas formas, Com esse procedimento, ele desapropriou os trabalhadores daquele saber, elaborou-o e desenvolveu-o na forma parcelada. Nesse processo da anilise dos conhecimentos que os trabalhadores detinham e na sua elaboragio, os trabalhadores foram desapropriados e o saber sistematico relativo ao conjunto do processo produtivo passa a ser dominio apenas da classe dominante, do empresariado. E dessa forma que se contorna a contradigao. © trabalhador domina algum tipo de saber, mas nao aquele saber que & forga ptt om Candee produtivs do processo, conhecimento esse que € privativo dos grupos dirigentes. Cada trabalhador s6 domina aquela porque a produgao moderna coletivizou o trabalho ¢ isso implica em conhecimento do conjunto parcela que ele opera no processo de produgao coletiva. Este processo atinge um ponto mais avangado na fase atual do capitalismo, que € a fase monopolista Neste ponto, cumpre registrar que 0 processo de constituigao da escola como forma principal, dominante generalizada de educagao, iniciado na modernidade, ainda nao se completou. Com efeito, no interior desse processo foram mantidas, obviamente com novas configuragdes, formas importantes de educagdo 4 margem da escola, especialmente aquelas diretamente ligadas 4s atividades produtivas. Assim, a formacdo profissional foi sendo organizada no interior do proprio aparelho produtivo, com destaque para as fibricas, brotando dai organizagdes que, refletindo a tendéncia dominante, assumiram a forma de escolas de tipo especial, as escolas profissionalizantes, como um sistema paralelo ¢ independente da escola propriamente dita, Esse fenémeno pode melhor ser compreendido a luz da divisio entre trabalho manual ¢ trabalho intelectual Até aqui, a leitura proposta do proceso histérico privilegiou a divisdo entre trabalho ¢ nio- trabalho ficando a educagdo para o trabalho de um lado e a educaco para 0 ndo-trabalho, de outro. Em ‘outros termos, a formagdo dos que necessitavam trabalhar, isto 6, produzir diretamente os meios de existéncia, se dava no proprio processo de trabalho, ao passo que a formagio dos que ndo necessitavam produzir diretamente os meios de vida se dava fora do trabalho, num espago e tempo préprios, definidos como escola, Portanto, os primeiros se educavam fora da escola, os segundos, na escola E possivel, porém, refazer essa leitura considerando que no primeiro caso a educagao correspondia as necessidades do trabalho manual; no segundo caso estava em causa o trabalho intelectual Assim que, desde suas origens, a escola foi posta do lado do trabalho intelectual, constituindo-se num instrumento para a preparagdo dos futuros dirigentes que se exercitavam ndo apenas nas fuungGes da guerra (Lideranga militar), mas também nas fungBes de mando (lideranga politica), através do dominio da arte da palavra ¢ do conhecimento dos fenémenos naturais e das regras de convivéncia social. Isso pode ser detectado no Egito desde as primeiras dinastias até 0 surgimento do escriba, assim como na Grécia, em Roma e na Idade Média cujas escolas, restritas, cumpriam a fungaa de preparar os também restritos quadros dirigentes (intelectuais) entdo requeridos. Nesses contextos, as fungdes manuais nao requeriam preparo escolar. A formagao dos trabalhadores se dava com 0 concomitante exercicio das respectivas fungdes. Mesmo no caso em que se atingiu alto grau de especializago, como no artesanato medieval, o sistema de aprendizado de longa duragdo exigido ficava a cargo das proprias corporagdes de oficios: 0 aprendiz adquiria 0 dominio do oficio exercendo-o juntamente com os oficiais, sob a orientagao do mestre, por isso mesmo chamado de "mestre-de-oficios" O advento da industria moderna conduziu a uma erescente simplificagio dos oficios, com a conseqiiente redugdo (tendente a supressdo) da qualificagdo especifica, Isso foi possivel pela incorporagao da cigneia produgdo, a qual propiciou a introdugao da maquinaria que passou a executar a maior parte das fungdes manuais. Ora, a maquinaria ndo € outra coisa sendo trabalho intelectual materializado, dando ptt om Candee visibilidade ao proceso de conversio da ciéncia, poténcia espiritual, em poténeia material, Tal processo ganhou nitidez com a chamada "Revolucdo Industrial" que data do final do século XVIII a primeira metade do século XIX. O fendmeno da objetivagdo e simplificagao do trabalho coineide, pois, com 0 processo de transferéncia para as maquinas das fungdes proprias do trabalho manual. Assim, os ingredientes intelectuais antes indissociaveis do trabalho manual humano, como acorria no artesanato, dele se destacam, indo incorporar-se s méquinas, o que viabiliza a mecanizago das operagdes manuais, sejam elas executadas pelas proprias maquinas ou pelos homens, os quais passam a operar manualmente como sucedineos das méquinas, ndo necessitando, nessa condigdo, de fazer intervir as suas faculdades intelectuais. Pode-se, pois, estabelecer uma relagao entre o carter abstrato do trabalho, assim organizado, com 0 carter abstrato proprio das atividades intelectuais. Em outros termos, 0 trabalho se tomou abstrato, isto , simples e geral, porque organizado e acordo com os principios cientificos, simples e gerais, vale dizer, abstratos, elaborados pela inteligéncia humana, Nessas condigdes, o trabalho especificamente humano, mesmo no Ambito da produg4o material (no interior das fabricas), passa a ser o trabalho intelectual consubstanciado no controle e supervisdio das maquinas e de seus eventuais sucedineos. E, assim, um trabalho "politico" ja que diz respeito ao exercicio do poder de controle, de diregdo, de ‘comando A medida em que essa nova forma de produgdo da existéncia humana se toma dominante, reorganizam-se as relagdes sociais de maneira correspondente. Assim, a domindncia da indiistria no Ambito da produgao corresponde a dominancia da cidade no ambito das relagdes sociais, implicando, em ambos 0s casos, a generalizagio das fungdes intelectuais e a objetivagdio das operagdes abstratas, quer dizer, a incorporagao de procedimentos formais 4 vida social em seu conjunto. E se a maquina viabiliza a materializagdio das fungdes intelectuais no processo produtivo, a via para se objetivar a generalizago das fungées intelectuais na sociedade foi a escola. Eis por que foi sob o impacto da revolugao industrial que os principais paises se entregaram a tarefa de constituir os seus sistemas nacionais de ensino, generalizando, assim, a escola bisica Dirse-ia, pois, que a Revolugio Industrial correspondeu uma Revolugdo Educacional. Aquela colocou a maquina no centro do processo produtivo; esta erigiu a escola em forma principal e dominante de educacao. A universalizago da escola priméria promoveu a socializagio dos individuos nas formas de convivéncia proprias da sociedade moderna. Familiarizando-os com os cédigos formais integrantes do universo da cultura letrada, que € 0 mesmo da industria moderna, capacitou-os a integrar 0 processo produtivo. Assim, a introdugdo da maquinaria eliminou a exigéneia de qualificagdo especifica, mas impds um patamar minimo de qualificagdo_geral, equacionado no curriculo da escola primaria. Preenchido esse requisito, os trabalhadores estavam em condigdes de conviver com as maquinas, operando-as sem maiores dificuldades. Mas, além do trabalho de operar com as maquinas, era necessario também realizar atividades de manutengdo, reparos, ajustes, assim como 0 desenvolvimento ¢ adaptagao a novas circunstincias Subsistiram, assim, no interior da produgdo, tarefas que exigiam determinadas qualificagdes especificas, ‘obtidas por um preparo intelectual também especifico. Esse espago foi ocupado pelos cursos profissionais, otganizados no ambito das empresas ou do sistema de ensino, tendo como referéncia 0 padrao escolar, mas ptt om Candee determinados diretamente pelas necessidades do processo produtivo. Portanto, sobre a base geral ¢ comum da escola priméria, o sistema de ensino se bifurcou entre as escolas de formagao geral ¢ as escolas profissionais, Estas, por nao estarem diretamente ligadas a produgiio, tenderam a enfatizar as qualificagdes gerais (intelectuais) em detrimento da qualificagao especifica, ao passo que os cursos profissionalizantes, diretamente ligados produgao, enfatizaram os aspectos operacionais vinculados ao exercicio de tarefas cespecificas (intelectuais e manuais) no processo produtivo considerado em sua particularidade Parece que ¢ essa situagao que vem sendo posta em xeque atualmente no contexto da chamada introdugdo de novas tecnologias. NOVAS TECNOLOGIAS E EDUCATIVO Estamos vivendo aquilo que alguns chamam de Segunda Revolugo Industrial! ou Revolugo da Informatica ou Revolugao da Automagao. E qual € a caracteristica especifica dessa nova situagao” Penso que se antes, como se descreveu, ocorreu a transferéncia de fungdes manuais para as maquinas, 0 que hoje esta ocorrendo ¢ a transferéneia das préprias operagdes. intelectuais para as méquinas. Por isso também se diz que estamos na "era das méquinas inteligentes". Em consequiéneia, também as qualificagdes intelectuais especificas tendem a desaparecer, 0 que traz como contrapartida a elevagdo do patamar de qualificagdo geral, Parece, pois, que estamos atingindo o limiar da consumagao do proceso de constituigdo da escola como forma principal, dominante e generalizada de educagao. Se assim é, a universalizagdo de uma escola unitéria que desenvolva ao maximo as potencialidades dos individuos (formagio omnilateral conduzindo-os ao desabrochar pleno de suas faculdades espirituais-intelectuais, estaria deixando o terreno da utopia e da mera aspiragao ideologica, moral ou romantica para se converter numa exigéncia posta pelo proprio desenvolvimento do processo produtivo. Indicios dessa tendéneia esto aparecendo cada vez mais fortemente como se vé pela universalizagio do ensino médio, ja real em varios paises, ¢ pela perspectiva de universalizagao do ensino superior, assim como pela conviegao crescente, inclusive entre os empresérios, de que 0 que importa, de fato, ¢ uma formagao geral sélida, a capacidade de manejar conceitos, o desenvolvimento do pensamento abstrato 1. Outros autores preferem denominar essa fase de Terceira Revolugdo Industrial, considerando como Segunda Revolugo Industrial o Processo que preparou e desembocou no taylorismo/fordismo, ptt om Candee

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