As marcas históricas da colonização pela qual os países da América Latina passaram como
afirma Stiglitz “economias baseadas em recursos naturais, como as da América Latina,
tendem a ser caracterizadas pela desigualdade”,reduzidos por vários séculos a meros fornecederes de produtos primários para as metrópoles deixaram sequelas na sua estrututura como pobreza ,concentração de renda e exclusão social e ainda estão presentes e se agravaram ainda mais nos anos 80 com as crises econômicas que afetaram a maioria dos países da América Latina. Desde a década de 1990 diversos países da América Latina estão adotando políticas públicas visando à redução da pobreza e da exclusão social, destacando-se os programas de transferência de renda que passaram a ganhar importância governamental em vários países. Segundo a Cepal (2009, p.94), essa reformulação expressou “o reconhecimento dos escassos avanços em matéria de redução da pobreza” ocorridos durante os anos 1990. No Brasil as respostas governamentais a situação de pobreza começou no governo do Fernando Henrique Cardoso (1995-1998) ,através de formulações de programas sociais voltados para as necessidades das populações mais carentes ,denominados “combate a pobreza” em 1995 a criação do orgão federal de assistência social e o programa comunidade solidária em parceria com a sociedade e o governo ,além do programa renda mínima e a criação do fundo de combate a erradicação da pobreza ,todas essas ações fizeram parte da política social voltada para focalizar a redução da pobreza em estados da federação com IDH abaixo 0,5 ,as ações continuaram com criação do cadastro único das pessoas em situação de pobreza que consiste num banco de dados, centralizado na Caixa Econômica Federal, com o cadastro de todas as famílias com renda mensal de até ½ salário mínimo por pessoa. O titular do cadastramento, como representante da família, é preferencialmente a mãe e a ela cabe, portanto, retirar os recursos provindos dos programas sociais nas agências bancárias .Em 2002 o governo consolidou uma estrátegia de superação da pobreza que unia diferentes programas em uma mesma lógica de promoção,proteção e desenvolvimento humano a partir do reconhecimento da face multidimencional da pobreza além da privação física existe a privação social o que protagonizou reformulações dos programas sociais que passou a focar não somente na renda mas no acesso a direitos sociais básicos unido ações voltada para o trabalho ,educação, saúde,habitação,cultura e lazer. Assim os PTR começou de forma lenta e gradativa localizada em alguns municipios ,recebeu várias denominações e ajustes pelo governo FHC que fez funcionar em esfera federal até chegar no inicio do governo de Lula em 2003 que o sancionou como o programa Bolsa Família. O bolsa família é um instrumento no combate aos problemas sociais resultado da fusão de quatro programas até então existentes: Auxílio Gás, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Cartão Alimentação,e funciona com a tranferência de um valor em dinheiro diretamente para o beneficiário com condicionalidades ligadas a saúde e educação o objetivo do programa é que essas famílias superem a longo prazo as condições desfavoráveis interrompendo o ciclo intergeracional da pobreza e proporcionando a curto prazo o aumento do capital humano e reduzir a desigualdade e a pobreza. No âmbito do Governo Federal a gestão do programa está sob responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) que, por meio da Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (SENARC), define as regras de funcionamento do programa, estabelece os valores dos benefícios, bem como articula as parcerias entre estados e municípios. O programa beneficia famílias em situação de pobreza (com renda mensal por pessoa de R$70 a R$140) e extrema pobreza (com renda mensal por pessoa de até R$70). Qualquer família na extrema pobreza pode participar do programa, enquanto as famílias em situação de pobreza somente participam do programa caso tenham algum filho de até 17 anos. Os valores dos benefícios variam com a condição de pobreza e a composição familiar. Desde 2003 o programa passou por mudanças nos critérios de elegibilidade e de transferência. Atualmente, as famílias em extrema pobreza recebem um valor mensal de R$68,00 na forma de benefício básico. Alem desse benefício básico, as famílias extremamente pobres têm direito a um benefício variável no valor mensal de R$22,00 por criança ouadolescente até 15 anos de idade. Esse benefício é pago no máximo por até três crianças e adolescentes. Por fim, existe também um benefício variável vinculado ao adolescente,que corresponde ao pagamento mensal de R$33,00 por pessoa de idade entre 16 e 17anos, até duas pessoas. No caso das famílias pobres (com renda mensal por pessoa de R$70 a R$140), elas não recebem o benefício básico, mas apenas os benefícios variáveis. Em contrapartida ao recebimento das transferências, elas devem satisfazer as seguintes condicionalidades: as famílias devem manter as crianças e adolescentes em idade escolar frequentando a escola e cumprir os cuidados básicos em saúde, seguindo o calendário de vacinação para as crianças entre 0 e 6 anos e a agenda pré e pós-natal para as gestantes e mães em amamentação. O Brasil esta inserido no contexto de país com grandes contrastes sociais ,o Estado não consegui atende toda a população e fazer cumprir o que consta no artigo 6º da Constituição Federal que garante os direitos sociais de todos os brasileiros: direito ao trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, assistência aos desamparados, proteção à maternidade e infância,nesse sentido os PTR foram criados para amenizar esse falhas .Segundo Rodolfo Hoffmann (2014),”não há dúvida de que programas de transferências de renda contribui para reduzir a pobreza”. O PBF que atende mais de 13,9 milhões de famílias,sendo as mulheres a principal beneficiária de uma fonte regular de renda, 92% das famílias beneficiárias têm mulheres como titulares ,pretendo aprofundar os estudos tendo como objetivo geral as mudanças no âmbito econômico trazidas pelo programa para essas beneficiárias. Quanto aos objetivos específicos pretendo estudar a relevância dessa mudança em termos de poder de comprar e participação da provisão financeira do lar. Pretendo responder tal pergunta: Quais as mudanças trazidas pelo PBF para autonomia econômica feminina? Como hipótese pode ressaltar que o PBF apesar de suprir necessidades imediatas como alimento, calçado ou vestuário entre outros o que o torna importante para sua manutenção básica ,a promoção da cidadania e os direitos sociais não são asegurados como saúde e educação não garantindo a autônomia desejada pelos objetivos do programa. Silva (2007) argumenta que embora os resultados e impactos decorrentes dos Programas de Transferência de Renda sejam muito modestos para superar a fome e a pobreza no Brasil, o significado real que esses programas representam para as famílias beneficiárias deve ser considerado, por permitir a elevação ou mesmo o único acesso a uma renda monetária por parte de um número elevado de famílias que se encontra à margem da sociedade, considerando o nível de destituição em que sobrevivem. A expressiva agrangência do PBF que corresponde a um quinto da população brasileira quase 14 milhões de familías beneficiadas,em seus mais 15 anos de sua existência e a mazela da pobreza que afeta o país em índices alarmantes como mostra Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas, utilizando-se do Censo Demográfico de 2000 e adotando como critério uma renda de R$ 60,00 per capita como definidor da Linha de Pobreza, calcula que 35% da população brasileira vivem em extrema pobreza, equivalendo a 57,7 milhões de pessoas, sendo as Regiões Norte e Nordeste as de maior concentração da pobreza extrema, abrigando 13,8 milhões de pessoas nessa situação (INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA -FGV, 2001) , foram os motivadores do estudo. Vale ressaltar que a pobreza é entendida como um fenômeno multidimencional que tem raízes históricas decorrente do processo capitalista e seu entendimento vai além da insulficiência de renda e os PTR não serão analizados como instrumentos de alavanques políticos e sim no seu propósito de meio utilizado para alcançar a redução da pobreza.