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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

Bacharelado em Engenharia Química


Arthur Pessoa Morais
Gabriela Cirilo Machado
João Vitor Mendes Cordeiro Dias

FLOCULAÇÃO E SEDIMENTAÇÃO DESCONTÍNUA

Diamantina
2021
Arthur Pessoa Morais
Gabriela Cirilo Machado
João Vitor Mendes Cordeiro Dias

SEDIMENTAÇÃO E FLOCULAÇÃO DESCONTÍNUA

Relatório apresentado a disciplina de ENQ301 –


Laboratório de Engenharia Química do curso de
Engenharia Química da Universidade Federal
dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, como nota
parcial para conclusão da disciplina.

Professor: João Vinícius Wirbitzki da Silveira

Diamantina
2021
RESUMO

A floculação e a sedimentação são processos comumente visto nas pequenas e


grandes indústrias, principalmente quando se trata do tratamento de água e efluentes. A
floculação é um processo físico-químico em que as partículas se unem de forma que
possam se decantar. Enquanto a sedimentação é um processo de separação sólido-líquida
que pode se iniciar a partir de flocos em alguma solução, onde os flocos, por seu tamanho
e peso, se repousam no fundo do recipiente. Esse trabalho tem o intuito de determinar a
melhor condição de floculação através do teste de jarros (jar test) em que pôde se
encontrar o melhor pH adequado e utilizá-la na sedimentação descontínua (em proveta) e
no projeto de um sedimentador contínuo. Foram feitas as revisões e a utilização dos
métodos de Roberts e Tamadge-Fitch em que apresentam cálculos e gráficos que possam
ajudar na escolha do melhor recipiente. Obteve-se um produto clarificado menos
concentrado com pH 6,5 e turbidez NTU, posteriormente direcionado ao módulo de
sedimentação descontínuo. O clarificado e o lodo apresentavam concentrações de sólidos
iguais a 0,002 e 0,122 g/cm3, respectivamente.
A vazão de alimentação da suspensão foi calculada pelos métodos de Tamadge-
Fitch e Roberts, com fator de segurança de 100%, de de 1,780 e 1,520 L/min
respectivamente.
De acordo com o estudo, pode-se concluir que o pH tem influência na atividade
coagulante do sulfato de alumínio, os métodos aplicados se ajustaram parcialmente aos
dados do experimento e a escolha do fator de segurança influenciam diretamente no
cálculo da vazão de alimentação.

Palavras-chave: Agente floculante. Decantação. Operações Unitárias. Tamadge-Fitch.


Roberts
ABSTRACT

Flocculation and sedimentation are processes commonly seen in small and large
industries, especially when it comes to the treatment of water and effluents. Flocculation
is a physical-chemical process in which the particles come together so that they can settle.
While sedimentation is a solid-liquid separation process that can start from flakes in some
solution, where the flakes, due to their size and weight, rest at the bottom of the container.
This work aims to determine the best flocculation condition through the jar test (jar test)
in which the best suitable pH could be found and used in discontinuous sedimentation (in
a beaker) and in the design of a continuous sedimenter. The revisions and the use of the
Roberts and Tamadge-Fitch methods were made, in which they present calculations and
graphs that can help in choosing the best container. A less concentrated clarified product
was obtained with pH 6.5 and NTU turbidity, subsequently directed to the batch
sedimentation module. The clarified and the sludge had solids concentrations equal to
0.002 and 0.122 g/cm3, respectively.
The suspension flow rate was calculated using the Tamadge-Fitch and Roberts
methods, with a 100% safety factor, of 1.780 and 1.520 L/min, respectively.
According to the study, it can be concluded that pH has an influence on the
coagulant activity of aluminum sulfate, the methods applied were partially adjusted to the
data of the experiment and the choice of the safety factor directly influences the
calculation of the feed flow.

Keywords: Flocculating agent. Decanting. Unitary operations. Tamadge-Fitch. Roberts


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11
2 OBJETIVOS ................................................................................................................... 13
2.1 Objetivo geral ............................................................................................................... 13

2.2 Objetivos específicos .................................................................................................... 13

3 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................... 15


3.1 Sedimentação ................................................................................................................ 15

3.2 Floculação................................................................................................................. 16

3.3 Método de Talmadge-Fitch..................................................................................... 18

3.4 Método de Roberts .................................................................................................. 19

4 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................................... 21


4.1 Materiais................................................................................................................... 21

4.2 Métodos ......................................................................................................................... 21

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 23


6 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 31
7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 33
11

1. INTRODUÇÃO

A disponibilidade de água potável é uma questão que indaga diversos ambientalistas.


É perceptível a crescente degradação da natureza, muita das vezes de forma desregrada. A
poluição do ambiente aquático, como o leito dos rios e lagos, acentuou-se após a Revolução
Industrial, principalmente devido ao surgimento e expansão das matrizes energéticas mundiais.
Nesse contexto, é imprescindível, além da redução do descarte de resíduos no meio-ambiente,
o tratamento correto e eficaz dos corpos d’água que contém esses efluentes.
Nos distritos urbanos, as Estações de Tratamento de Água (ETA’s) exercem o papel
de reduzir a carga de matéria orgânica e inorgânica presentes nos corpos d’água que receberam
determinados efluentes. De acordo com o IBGE, 2010, as ETA’s que realizam o tratamento de
efluentes por meio de operações unitárias que compõem o clico completo (coagulação,
floculação, decantação e filtração) atuam em aproximadamente 63,3% das cidades brasileiras.
Em municípios onde a população extrapola 100 mil habitantes, esse número chega a 80,7%,
segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico. Levando em conta que grande parte da
população do país reside nos grandes centros urbanos, espera-se que o quantitativo de cidadãos
atendidos por água tratada nas ETA’s de clico completo seja elevado. Logo, a relevância do
conhecimento, controle e otimização dessas operações de tratamento de água e efluentes
tornam-se essenciais para a garantia do bem estar e da saúde pública da população.
A coagulação é a etapa responsável pela desestabilização e agregação dos particulados
suspensos presentes na água, utilizando, geralmente, sais de ferro ou alumínio. O mecanismo
consiste na formação de espécies hidrolisadas quando esses sais se encontram em contato com
a água. Uma vez formados, essas espécies se adsorvem às partículas coloidais,
desestabilizando-as (KIM et al., 2001). Essa etapa do tratamento é dependente de parâmetros
como pH, turbidez, cor verdadeira, temperatura, força iônica, tamanho e distribuição do
tamanho das partículas coloidais e suspensas, concentração de sólidos totais, entre outros (DI
BERNARDO e DANTAS, 2005).
Por sua vez, nesses sistemas de tratamento, a floculação ocorre em uma etapa posterior
â coagulação, em tanques denominados floculadores. As partículas previamente
desestabilizadas são agitadas lentamente durante um período de tempo longo com o intuito de
aumentar a probabilidade de choque entre as mesmas. É plausível afirmar que nesses sistemas
a eficácia e desempenho do processo de floculação é dependente do êxito da etapa de
coagulação. Além disso, a floculação ocorre devido à dois mecanismos associados: transporte
e adesão. O primeiro é relacionado à agitação fornecida ao meio, podendo ser divido em outros
12

tês movimentos: do fluído (floculação ortocinética), Browniano (floculação pericinética) e


sedimentação diferencial (SANTOS et al., 2004).
A sedimentação ou decantação é uma das operações unitárias mais recorrentes na
indústria química. Tem como objetivo principal a separação sólido/líquido, líquido/líquido ou
gás/líquido, por meio da gravidade atuando como força eletromotriz. A densidade das partículas
e velocidade de alimentação também são fatores determinantes na seletividade das amostras,
no caso de uma classificação granulométrica realizada em uma câmara de decantação, por
exemplo. Já na obtenção dos produtos finais em um decantador, a agitação do meio e uso de
agentes floculantes são ferramentas que auxiliam na obtenção da fase com menor concentração
de particulados (clarificado) ou na fase com maior concentração (espessado ou lodo).
Por se tratar de escala piloto laboratorial, o presente experimento teve como foco
estudar a sedimentação descontínua do calcário dolomítico em água, em diferentes pH’s e
empregando o sulfato de alumínio (Al2(SO4)3) como agente floculante. O sistema que conteve
o clarificado com menor turbidez foi utilizado na otimização do experimento através do ensaio
da proveta (sedimentação descontínua).
13

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral


Determinar a melhor condição de floculação através do teste de jarros (jar test) e
utilizá-la na sedimentação descontínua (em proveta) e no projeto de um sedimentador contínuo.

2.2 Objetivos específicos


• Determinar através do teste de jarros a melhor dosagem do conjunto floculante
(sulfato de alumínio, hidróxido de sódio ou ácido sulfúrico);

• Realizar o ensaio de sedimentação em batelada no sedimentador graduado para


determinar as condições da cinética de sedimentação (curva Z versus t);

• Determinar a concentração de sólidos da suspensão inicial, do clarificado e lodo


por gravimetria.
14
15

3 REVISÃO DE LITERATURA

Atualmente, sabe-se que a separação sólido-líquido é empregada em diversos


processos industriais. Os principais métodos de separação utilizados são sedimentação, filtração
e centrifugação (HANASHIRO, 2018). Para tanto, é necessário determinar qual processo é
adequado para separação do sistema de interesse, podendo ser um deles ou a integração dos
mesmos.
De maneira geral, a sedimentação apresenta custo menor que a filtração e, na
existência de processo contínuos de larga escala, a sedimentação gravitacional deve ser o
método a ser considerado. Entretanto, quando a diferença de densidade entre o sólido e o fluido
for pequena, as opções de filtração e centrifugação tornam-se alternativas melhores
(HANASHIRO, 2018; NUNES, 2008).

3.1 Sedimentação

Por definição, a sedimentação é uma operação unitária de separação sólido-líquido


utilizada para a remoção de partículas discretas e floculentas, como sólidos suspensos,
partículas coloidais e compostos orgânicos devido à ação da gravidade (LOPES et al., 2020).
Esta, por sua vez, ocorre em equipamentos denominados sedimentadores ou decantadores.
Segundo Cremasco (2012), nos sedimentadores são geradas duas correntes, o
clarificado e o lodo/espessado. O clarificado é a fase mais leve e, portanto, com concentração
mínima de sólidos (overflow) e o lodo/espessado, é a fase mais pesada e com concentração
máxima de sólidos (underflow). Nesse sentido, os sedimentadores são classificados de acordo
com a corrente de interesse, sendo espessador quando o produto de interesse é o sólido e
clarificador quando o produto de interesse é o líquido clarificado (NUNES, 2008).
De acordo com Hanashiro (2018), o processo de separação por sedimentação
comumente ocorre em grandes tanques e pode ser feito de forma contínua com presença de
agitação branda e uma alimentação constante, demonstrado na Figura 1, ou em batelada, sendo
que nesta a suspensão tem concentração inicial uniforme, mas com o passar do tempo ocorre a
formação de quatro zonas distintas devido ao repouso, como mostra a Figura 2. O autor também
afirma que o processo de sedimentação é controlado pelas características do meio, bem como a
natureza morfológica e granulométrica das partículas, pela concentração da fase particulada e
pelas características do sedimentador. A etapa de separação raramente ocorre sozinha,
existindo geralmente estágios de pré e pós-tratamento (Lopes et al., 2020). Para aumentar a
velocidade de decantação é interessante a diminuição da viscosidade, que pode ser obtida pelo
16

aumento da temperatura, ou o aumento do tamanho das partículas. Neste caso, o processo mais
empregado para aumento das partículas é a floculação.

Figura 1 – Sedimentador contínuo

Autor: FOUST et al., 1982.

Figura 2 – Sedimentador descontínuo em proveta – curva altura da interface clarificado/lodo


x tempo e representação dos principais estágios da coluna de suspensão ao longo do tempo.

Autor: SANTOS; FILHO e GIORDANO, 2005.

3.2 Floculação

A floculação se caracteriza por uma operação unitária de clarificação, constituída


por um conjunto de fenômenos físicos, os quais se objetiva reduzir o número de partículas
suspensas (cor) e/ ou dissolvidas (turbidez) na fase líquida, buscando a formação de flocos mais
robustos que serão extraídos com mais facilidade na decantação (MARTINS, 2014).
17

Na floculação, as partículas se aglomeram as forças de Van der Waals, gerando


flocos maiores (HANASHIRO, 2018; CREMASCO, 2012). Esse processo depende de dois
fatores: a probabilidade de choque entre as partículas e a probabilidade de permanecerem
aglomeradas após as colisões. Para aumentar os choques entre as partículas utiliza-se uma
agitação branda. Já para a manutenção dos aglomerados utiliza-se floculantes (MARTINS,
2014).
Os principais coagulantes químicos utilizados são: sulfato de alumínio, cloreto
férrico, hidroxicloreto de alumínio e sulfato férrico (VAZ et al., 2010). Tomando como base o
sulfato de alumínio, este, ao ser adicionado à água, se dissocia e forma íons. Partículas coloidais
com cargas superficiais ligam-se a esses íons e isso faz com que as partículas se agreguem,
aumentando em massa, de modo que o movimento na água não seja mais suficiente para reter
as partículas em suspensão (SHARMA; DHULDHOYA e MERCHANT, 2006).
Nesse sentido, a temperatura, tipo, quantidade de floculante, tempo, velocidade de
agitação e o pH do meio influenciam diretamente na eficiência da floculação. De início, é
indispensável uma agitação rápida visando garantir a mistura do floculante e a suspensão.
Posteriormente, para garantir a formação dos flocos, é necessário que se reduza a agitação e se
estabilize os aglomerados previamente gerados. Além disso, o monitoramento do pH deve ser
realizado, uma vez que o conhecimento e manutenção desse parâmetro fazem-se necessários
para assegurar a dosagem certa do floculante (NUNES, 2008).
Seguindo os ensaios em laboratório, após a floculação utiliza-se o teste de proveta
para realização da sedimentação e, posteriormente, plota-se a curva referente à altura da
interface do clarificado e espessado em função do tempo. A Figura 3 representa os dados
obtidos durante um ensaio de sedimentação em proveta com um perfil de decrescimento
exponencial.
Figura 3 – Curva característica de um ensaio de sedimentação

Autor: FOUST et al., 1982


18

A sedimentação descontínua auxilia na resolução do processo contínuo. Para o


dimensionamento do sedimentador usado na operação contínua, existem diversos os métodos
Talmadge-Fitch e Kynch.

3.3 Método de Talmadge-Fitch

O método gráfico de Talmadge-Fitch (1955) fundamenta-se na determinação do


ponto de interseção através da análise da curva de sedimentação, como mostra a Figura 4.

Figura 4 – Método gráfico de Talmadge-Fitch

Autor: FOUST et al., 1982

Da Figura 4, tem-se:

• B é a tangente traçada a partir do início da curva;


• D é a tangente traçada a partir do final da curva;
• Z0 é a altura inicial da interface;
• Z1 é a altura que corresponde à concentração do clarificado;
• Zc é a altura da interface no ponto crítico;
• Zu é a altura da interface no espessamento;
• θc é o tempo necessário para atingir o tempo crítico;
• θu é o tempo necessário para atingir o espessamento.
19

Partindo da curva característica da sedimentação, traçam-se duas retas tangentes:


uma a partir do ponto inicial da curva e a outra a partir do ponto final. O ponto de interseção é
encontrado quando as retas são prolongadas, e então traça-se a reta bissetriz do ângulo. A
interseção dessa bissetriz com a curva de sedimentação fornece uma estimativa do tempo
necessário (θc) para atingir o ponto crítico, onde os sólidos entram na zona de compressão
(FOUST et al., 1982).

A concentração do clarificado (Cc) pode ser obtida através da Equação 1:

𝑍0 𝐶0 (1)
𝐶𝑐 =
𝑍1

onde C0 a concentração de sólidos na suspensão alimentada.

A altura da interface no espessamento (Zu) pode ser calculada pela Equação 2.


𝑍0 𝐶0 (2)
𝑍𝑢 =
𝐶𝑢

em que Cu é a concentração de sólidos na lama densa (lodo).


Após a identificação do θc a partir da análise gráfica, pode-se determinar a
velocidade de decantação através da Equação 3.
𝑍1− 𝑍𝑐 (3)
𝑢𝑐 =
θ𝑐

A área mínima do sedimentador é dada pela Equação 4.


𝑄𝐴 𝐶𝐴 θ𝑢 (4)
𝑆𝑚í𝑛 =
𝑍0 𝐶0

onde QA é a vazão volumétrica da suspensão alimentada no decantador e CA é a concentração


de sólidos da suspensão alimentada.

3.4 Método de Roberts

O método de Roberts se assemelha ao método de Kynch, no entanto, a partir da


análise gráfica de Roberts, é possível encontrar o ponto crítico (início da zona de compressão)
com uma maior precisão.
20

Os métodos de Kynch, Roberts, e Coe e Clevenger possuem apenas variações leves e


todos derivam da análise matemática de Mishler. Pode-se dizer que todos esses métodos
funcionam razoavelmente bem para materiais incompressíveis, porém com ressalvas e
adaptações a sólidos que possuem altos índices de compressibilidade no underflow
(GUIMARÃES, 2010).
A partir de um ensaio de sedimentação, traça-se um gráfico Z-Zf versus θ, como
apresenta a figura 5.
Figura 5 – Método gráfico de Roberts

Autor: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 62(2): 243-249, abr. jun. 2009

O gráfico apresenta um ponto de inflexão que significa a descontinuidade do ponto


crítico. Com ele, é possível encontra o θc, por fim encontra-se a vazão manipulando a Equação
5:

𝑄𝐴 𝐶𝐴 1 1 (5)
𝑆𝑚𝑖𝑛 = ( − )
𝑢𝑐 𝐶𝐶 𝐶𝐸
21

4 MATERIAIS E MÉTODOS

Os materiais utilizados no experimento de sedimentação em batelada foram


disponibilizados pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri para
realização das práticas propostas pela disciplina Laboratório de Engenharia Química I,
supervisionada pelo Professor Doutor João Vinícios Wirbitzki da Silveira.

4.1 Materiais

• Água;
• Balança analítica;
• Béqueres de 500 mL;
• Calcário dolomítico;
• Estufa;
• Jar test de 3 jarros;
• Peagâmetro;
• Pera de sucção;
• Pipeta graduada;
• Placas de Petri;
• Proveta de 1 L;
• Solução de Ácido sulfúrico (H2SO4) a 1M;
• Solução de Hidróxido de sódio (NaOH) a 1M;
• Solução de Sulfato de alumínio [Al2(SO4)3] a 200g/L;
• Turbidímetro.

4.2 Métodos

No jar test acoplado ao pHmetro, foram colocados três béqueres de 500 mL


contendo 500 mL de água, 5g de calcário dolomítico (10g/L) e 5g do agente floculante
sulfato de alumínio (200g/L). Cada béquer recebeu uma numeração de 1 ao 3, da esquerda
para direita.
Visando uma diferença de pH, no béquer 1 adicionou-se 5mL de ácido sulfúrico
1M, no béquer 2 nada foi adicionado (controle) e no béquer 3 adicionou-se 5mL de hidróxido
de sódio 1M.
22

Após adição de todos os componentes, as suspensões permaneceram sob agitação


vigorosa por 1 minuto e posterior agitação branda por 9 minutos. Durante a agitação, o pH de
cada suspensão foi medido. Retirados do jar test, os béqueres foram deixados em repouso por
aproximadamente 5 minutos.
Uma alíquota da fase clarificada de cada suspensão foi coletada a para leitura da
turbidez usando o turbidímetro. A suspensão de pH com menor turbidez foi selecionada para o
teste de sedimentação descontínua na proveta, para isto, duplicou o volume da mesma.
Na proveta, mediu-se a altura da interface de 20 em 20 segundos, durante 10
minutos. Foram pesadas duas placas de petri devidamente limpas e secas e anotou o valor de
cada peso. Com auxílio de uma pipeta graduada, retirou-se uma pequena quantidade de
clarificado do módulo de sedimentação e verteu em uma placa de Petri. Enquanto, que na outra
placa de Petri, foi colocado certa quantidade do lodo, retirado do módulo por uma pequena
abertura da válvula. As placas contendo as amostras foram pesadas, em seguidas levadas para
a estufa com temperatura de 105 ºC por aproximadamente 168 horas. Após ocorrer a secagem,
pesaram-se as placas contendo o sólido.
Para cálculo da concentração de sólidos usou-se as Equações e 6 e 7.

𝑚𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑠𝑢𝑠𝑝𝑒𝑛𝑠𝑜𝑠 (6)


𝐶𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠𝑠𝑢𝑠𝑝𝑒𝑛𝑠𝑜𝑠 =
𝑉á𝑔𝑢𝑎

𝑚𝑎𝑔𝑢𝑎 (7)
𝑉𝑎𝑔𝑢𝑎 =
ρá𝑔𝑢𝑎
23

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os três béqueres preparados contêm calcário dolomítico em água (200g/L), agente


floculante sulfato de alumínio Al2(SO4)3 e os corretores de pH, hidróxido de sódio 1 M e ácido
sulfúrico 1 M. O calcário dolomítico, por ser levemente solúvel e conter em sua composição
carbonato de cálcio, altera levemente o pH, deixando-o mais básico. Este, por sua vez, será o
agente a ser floculado e sedimentado.
O hidróxido de sódio, por ser uma base, aumenta o pH enquanto o ácido sulfúrico
1M, por ser um ácido, tem como função deixar o pH mais baixo.
Posteriormente, se faz necessário a mistura de todos os componentes da suspensão
para a formação de flocos e, devido a isso, uma agitação mais vigorosa é empregada. Ao se
formarem os flocos, é imprescindível que os mesmos continuem agregados então uma mudança
para uma agitação branda é importante.
Durante ambas agitações, foi possível observar que o pH das soluções não se
manteve constante, entretanto, o valor que se manteve sem variação por mais tempo ao fim da
agitação foi anotado. Seguido das agitações, o período de repouso é responsável pela
sedimentação do particulado e, consequentemente, para que seja possível a coleta de um
clarificado de melhor qualidade, visando a medida da turbidez. Os dados coletados estão
dispostos na tabela 1 abaixo.

Tabela 1 - Dados experimentais do jar test


Calcário Sulfato de Ácido Hidróxido Turbidez
Béquer dolomítico alumínio sulfúrico de sódio pH final (NUT)
(g) (mL) (mL) (mL)
1
5 5 5 - 6,00 18,7
2 5 5 - - 6,30 17,3
3 5 5 - 5 6,50 15,2

De acordo com a tabela 1, é possível verificar a que o melhor resultado de turbidez


está relacionado ao béquer 3, no qual foi adicionado hidróxido de sódio e, portanto, possui o
pH menos ácido. Isso se dá porque o meio ácido impede a formação do hidróxido de alumínio,
responsável por neutralizar as impurezas e formar flocos. Logo, quando mais ácido o meio,
menor a floculação e, portanto, mais particulados serão encontrados na suspensão.
24

Logo, o teste da proveta foi realizado relacionando o volume da proveta com o


tempo de sedimentação. Foi possível plotar a curva de sedimentação utilizando os dados
coletados, a qual está representada no Gráfico 1.

Gráfico 1 – Curva de Sedimentação

35

30 y = 30,962e-0,005x
R² = 0,8911
Altura da Interface Z (cm)

25

20

15

10

0
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)
Fonte: Autoria própria

Através da análise da curva do gráfico, consegue-se notar que, inicialmente, ocorre


uma maior velocidade de sedimentação e, com o passar dos segundos, a velocidade diminui.
Isso se dá porque os flocos decaem até o fundo da proveta e se acumulam logo, quanto mais
próximo do fundo, menor a taxa de sedimentação visto que essa está relacionada com a altura
do recipiente. Após o período de secagem das amostras do lodo e do clarificado na estufa por
aproximadamente 168 horas, obteve-se os dados da Tabela 2:

Tabela 2 - Dados de massa do Clarificado e Lodo


Mplaca vazia Mplaca+amostra Mplacaseca Mágua Msólidoseco
(g) (g) (g) (g) (g)

Clarificado 35,6553 64,7928 35,7123 29,0805 0,0570


Lodo 35,9268 74,6787 40,1567 34,522 4,2299
Fonte: Autoria própria.
25

Com os dados da Tabela 2 é possível realizar o cálculo das


concentrações de sólidos suspensos em ambas as amostras, pelas Equações 6 e 7,
considerando a massa específica da água como 0,997 g/cm3. Dessa forma:

Tabela 3 - Dados de massa do Clarificado e Lodo


Concentração de sólidos suspensos Volume de água
3
(g/cm ) (g/cm3)

0,0020 29,1680
Clarificado
0,1222 34,6259
Lodo
Fonte: Autoria própria

De acordo com os resultados, o lodo possui uma maior concentração de sólidos suspensos
quando comparado com a concentração de clarificado.
Nesse sentido, o lodo apresentou 61% a mais de concentração de sólidos suspensos
quando comparado com o clarificado. Esse resultado está de acordo com o esperando visto que
eles são referentes a uma operação de sedimentação.
Visando uma maior eficiência, seria necessária uma correção do pH para mais básico no
processo de floculação e um tempo maior de sedimentação.
Para calcular a vazão de alimentação da suspensão, tomamos como base um sedimentador
com as dimensões de 32 cm de profundidade e 22 L de volume. Para tanto, serão utilizados dois
métodos distintos: método gráfico de Talmadge-Fitch e o de Roberts.
De início, determina-se a área mínima do sedimentador como segue:

𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 (8)
𝑆𝑚𝑖𝑛 =
𝐴𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎

22000𝑐𝑚3 (9)
𝑆𝑚𝑖𝑛 = = 687,5𝑐𝑚2
32𝑐𝑚

Considera-se que o sedimentador foi projetado já admitindo um fator de segurança de


100%. Sendo assim, o valor real da área mínima que será utilizada nos cálculos para se
determinar a vazão será de 343,75 m2.
Posteriormente, o método gráfico é aplicado. Nele, retas tangentes são traçadas em
diversos pontos da curva de sedimentação afim de se determinar o ponto crítico. O Gráfico 2
segue abaixo.
26

Gráfico 2 - Método de Talmadge-Fitch

Fonte: Autoria própria

Do gráfico, tem-se as seguintes variáveis:


Smin 𝐶𝐴 𝑍0
𝑄𝐴 = (10)
𝜃𝐸 𝐶0

Pela interpretação do gráfico, o valor de 𝜃𝐸 é próximo de 365 ou 6,08 minutos. As


incógnitas referentes ao sedimentador são conhecidas (área mínima e concentração na
alimentação), bem como as incógnitas relacionadas ao ensaio da proveta (altura e concentração
iniciais). Portanto, substituindo-as na Equação 10, tem-se:

𝑔
343,75 𝑐𝑚2 × 0,01 × 31,60 𝑐𝑚
𝑄𝐴 = 𝑐𝑚3 = 1786,59 𝑐𝑚3 /𝑚𝑖𝑛
364,7 3
60 𝑚𝑖𝑛 × 0,01 𝑔/𝑐𝑚

𝑄𝐴 = 1,78 𝐿/𝑚𝑖𝑛
27

Nota-se que o valor encontrado é superior ao esperado de 1,00 L/min. Dessa forma,
é viável admitir maiores valores de fator de segurança empregados. Para tanto, assumindo
um fator de segurança de 200%, uma nova vazão pode ser calculada:

𝑔
229,16 𝑐𝑚2 × 0,01 × 31,60 𝑐𝑚
𝑄𝐴 = 𝑐𝑚3 = 1191,03 𝑐𝑚3 /𝑚𝑖𝑛
364,8 3
60 𝑚𝑖𝑛 × 0,01 𝑔/𝑐𝑚

𝑄𝐴 = 1,19 𝐿/𝑚𝑖𝑛

Para fins de comparação, o método de Roberts também será aplicado à análise do


experimento. Utilizando o mesmo gráfico do ensaio de sedimentação, traçou-se uma reta
referente à altura da interface entre o clarificado e o lodo no final dessa etapa, obtendo o
valor de Zf em torno de 2,35 cm. A partir desse dado, calculou-se o logaritmo da diferença
entre esse ponto e os outros valores da interface Z. O Gráfico 3 de log (Zf – Z) versus θ
evidencia um ponto crítico denominado Ponto de Compressão, que representa a entrada e
compressão dos sólidos suspensos presentes no sistema.

Gráfico 3 - Método de Roberts

Fonte: Autoria própria


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O valor de ϴc foi definido como aproximadamente 5 minutos. A partir disso, foi


possível esboçar as retas que determinaram os outros parâmetros restantes, ZC, Zf e ZIC,
imprescindíveis para a realização dos cálculos de vazão de alimentação no sedimentador.
O Gráfico 4 representa a demarcação desses parâmetros.

Gráfico 4 – Ensaio de sedimentação associado ao método de Roberts

Fonte: Autoria própria

Como o intuito é determinar a vazão de alimentação, faz-se necessário resolver


as Equações 10 e 11 para solucionar os valores de velocidade de sedimentação (uc) e
concentração de sólidos suspensos no ponto crítico (Cc).

𝑍𝑖𝑐−𝑍𝑐
𝑢𝑐 = (10)
𝜃𝑐

17,5 𝑐𝑚 − 7,0 𝑐𝑚
𝑢𝑐 =
300
60 𝑚𝑖𝑛

𝑢𝑐 = 2,10 𝑐𝑚/𝑚𝑖𝑛

A concentração de sólidos suspensos no ponto crítico (Cc) pode ser calculada


por meio da Equação 11:
𝑍0 ∗𝐶0
𝐶𝑐 = (11)
𝑍𝑖𝑐
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0,01𝑔
31,6 𝑐𝑚 ∗
𝐶𝑐 = 𝑐𝑚3
17,5𝑐𝑚

𝐶𝑐 = 0,018𝑔/𝑐𝑚3

Modificado matematicamente a Equação 10 e substituindo os valores encontrados:


𝑆𝑚𝑖𝑛 ∗𝑢
𝑄𝐴 = 1 1
(12)
𝐶𝐴 ∗( − )
𝐶𝑐 𝐶𝐸

343,75𝑐𝑚2 ∗ 2,10 𝑐𝑚/𝑚𝑖𝑛


𝑄𝐴 =
1 1
0,01𝑔 0,018𝑔 0,122𝑔
∗( − )
𝑐𝑚3 𝑐𝑚3 𝑐𝑚3

𝑄𝐴 = 1524,27 𝑐𝑚3 /𝑚𝑖𝑛

𝑄𝐴 = 1,52 𝐿/𝑚𝑖𝑛

De forma análoga, assumindo um fator de segurança de 200%, uma nova vazão pode
ser calculada:

229,16 𝑐𝑚2 ∗ 2,10 𝑐𝑚/𝑚𝑖𝑛


𝑄𝐴 =
1 1
0,01𝑔 0,018𝑔 0,122𝑔
∗( − )
𝑐𝑚3 𝑐𝑚3 𝑐𝑚3

𝑄𝐴 = 1016,15 𝑐𝑚3 /𝑚𝑖𝑛

𝑄𝐴 = 1,02 𝐿/𝑚𝑖𝑛
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6 CONCLUSÃO

O pH é um parâmetro que deve ser constante monitorado durante os experimentos que


envolvem a floculação e sedimentação, uma vez que pelo experimento foi possível determinar
a melhor condição de pH que possibilitou a obtenção de um clarificado menos concentrado. 3
O béquer 3 adicionado com NaOH apresentou turbidez 15,2 NUT e foi selecionado para a etapa
de ensaio de sedimentação na proveta.
No ensaio de sedimentação descontínuo, observou-se que nos tempos iniciais as
partículas floculadas se arrastavam com uma velocidade maior, evidenciada pelas retas
tangentes dos gráficos que representam os modelos, reduzindo com o decorrer tempo. A
concentração do lodo de fundo e do clarificado foi, respectivamente, 0,002 e 0,122 g/cm3
comprovando a ocorrência da floculação e resultando em um corpo de fundo 60x mais
concentrado que o clarificado.
A vazão de alimentação do processo de sedimentação contínua para um sedimentador
utilizado no laboratório foi determinada pelos métodos de Talmadge-Fitch e Roberts, sendo de
Os valores encontrados de 1,780 e 1,520 L/min, respectivamente. Adotando valores de fator de
segurança de 200%, foi possível diminuir a vazão para 1,190 e 1,020 L/min, respectivamente.
As duas vazões determinadas pelo método de Roberts se aproximam mais do valor
esperado de 1,00 L/min, afirmado que essa metodologia se ajusta de forma satisfatória à série
de dados fornecidos pelo experimento e representa de forma fidedigna o fenômeno de
sedimentação em escala laboratorial.
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7 REFERÊNCIAS

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