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Trabalho apresentado originalmente na mesa-redonda “História e violência no espaço platino”.
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Professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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Carla foi entregue à família do oficial
Eduardo Ruffo, conhecido repressor sendo induzidas a canalizar a sensação de
argentino. A identificação se deu através de violência e frustração, sofrida nesses
uma fotografia utilizada pela avó nos meios encontros, contra os próprios pais,
de comunicação. Conta Samantha Viz rechaçando seu entorno e sua história. Essa
Quadrat que a própria menina teria se estratégia era orientada e avalizada pelos
reconhecido, mas, com apenas 9 anos, foi psicólogos do regime.
convencida pela família apropriadora a 5
Exemplificado no caso da mãe da menina
esquecer a história. QUADRAT, S. V. O María Victoria, María Asunción Artigas,
direito à identidade: a restituição de detida com dois meses e meio de gestação e
crianças apropriadas nos porões das sobrevivendo como uma espécie de
ditaduras militares do Cone Sul. História, “incubadora” por mais seis meses.
São Paulo, n. 22 ano 2, p. 173, 2003. Concluída a sua “tarefa”, desapareceu.
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Depoimento de Criméia Schmidt de María Victoria teve sua identidade
Almeida. Seminário Repressão e Violência. restituída somente dez anos depois.
40 anos do Movimento Militar de 1964. 6
Panfleto de divulgação, no Plebiscito de
Assembléia Legislativa do Rio Grande do 1989, dos setores contrários à Ley de
Sul, Porto Alegre, 2004. Caducidad, lei que anistiava os funcionários
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Provavelmente, a utilização de uma figura repressivos da ditadura civil-militar.
feminina procurava neutralizar o clima de 7
Dados atualizados pelo documento A todos
violência a que estavam submetidas, ellos, informe de Madres y Familiares de
induzindo-os a uma menor resistência Uruguayos Desaparecidos (Montevideo,
contra alguém que podia lembrar a figura 2004).
materna. Essas mulheres desempenhavam 8
um papel-chave para tirar informação das Na música popular uruguaia, tornaram-
crianças, ganhar sua confiança, dar-lhes a se clássicas, entre outras, canções como
falsa impressão de proteção e, quem sabe, Despedida del Gran Tuleque (Mauricio
de um tratamento mais delicado. Assim Rosencof e Jaime Roos), Angelitos (José
como a dupla bom e mau torturador, a “tia” Carbajal) e Mariana (Murga Falta y Resto).
representava um papel funcional: ganhar a 9
“La prueba de abuelidad comienza con
confiança dos meninos seqüestrados, un análisis de la sangre de los abuelos/as
deixando-os mais à vontade, dentro dos (tíos o tías) y del niño/a en cuestión.
limites da situação extrema em que viviam, Observando ciertos ‘marcadores’ genéticos,
para obter algum tipo de informação. es posible determinar si algunas
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Houve ainda a situação de combinaciones de los mismos fueron
constrangimento vivida nas visitas aos pais heredadas de los/as abuelos/as, o bien si
nos cárceres onde estavam legalmente aparecen por azar. Teniendo en cuenta la
detidos. Muitas vezes, essa experiência de distribución conocida de los ‘marcadores’
contato foi abalada pela instrumentalização genéticos en la población argentina, es
da visita como meio de tortura, agredindo posible probar que una criatura proviene
visitantes e visitados. Os presos, dentro da de una familia determinada, con una
lógica de aumentar sua desestabilização precisión de hasta un 99,95%.” In:
emocional (el enloquecimiento); as crianças,