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Desenvolvimento Econômico Sustentável: a utopia possível.

Como é sabido, a ideia de uma civilização ideal, racionalmente


organizada, com plena harmonia de interesses, mostra-se, cada vez mais,
como uma civilização imaginária, impossível de ser alcançada. Isto é, por
definição, utopia. Em um sentido mais restrito do termo, esta abarca toda
doutrina social que almeja uma ordem social melhorada, menos conflitante
e saudável. O utópico, portanto, mesmo carregando a marca de algo
distante e inalcançável, pode conotar, também, na ideia de esforço e busca
por algo melhor. Ou seja, mesmo que o ideal não seja possível, dentre as
condições existentes, pelo menos algo aprimorado pode o ser.
Dessa maneira, é possível começar a discursão a respeito do
desenvolvimento econômico sustentável – que, muitas vezes parecendo
falácia e irracional, expõe a ideia de uma sociedade melhorada e
harmoniosa, dentro dos padrões sustentáveis.
A teoria econômica tradicional, por muito tempo, sustentou a sua análise
sobre desenvolvimento baseando-se, quase que única e exclusivamente, na
concepção de crescimento econômico. Assim, o alcance, por exemplo, de
um Produto Interno Bruto considerável, levava precisamente para um
desenvolvimento econômico interno – mesmo que para tal tanto outros
indicadores fossem negligenciados, sobretudo os sociais. Por outro lado, ao
transcorrer dos anos, o desenvolvimento econômico foi adquirindo um
caráter mais humanista, de modo que o crescimento, antes peça
fundamental, tornou-se peça complementar. Foi nesse momento que Celso
Furtado, economista brasileiro renomado, afirmou que o conceito de
desenvolvimento implica “(...) uma irradiação do progresso econômico
para o grosso da sociedade”.
Isto posto é fácil de ser compreendido, sobretudo quando se faz uma
análise mais minuciosa da realidade. Fica evidente que levando em
consideração toda a humanidade – com real preocupação com os
indicadores de saúde, segurança e bem-estar social, por exemplo – é
possível não tão somente pensar em um nível favorável de
desenvolvimento econômico, acompanhado de crescimento, como também
se torna justo alcança-lo.
Mas, afinal, o que é desenvolvimento sustentável? Primeiro, como já
comentado, desenvolvimento econômico é a apropriação do crescimento,
acompanhado de melhorias nos indicadores sociais a nível geral. O
desenvolvimento sustentável, por sua vez, é conceitualizado como sendo o
compromisso da geração atual com as gerações futuras em termos de
sustentabilidade econômica e ambiental. Em suma, esse conceito,
combinando eficiência econômica com justiça social e prudência ecológica,
integra, ao longo do tempo, as dimensões econômicas, sociais, ambientais e
institucionais. “Desenvolvimento sustentável poderia ser definido como
uma situação em que o vetor de desenvolvimento D não decresce ao longo
do tempo.” (Pearce; Barbier; Markandya; 1990).
É evidente, pois, que traçar um caminho rumo ao desenvolvimento
apresenta uma série de desafios, mesmo porque a sociedade, que deveria
ser bem organizada e livre de qualquer interesse pessoal que gerasse
conflito, encontra-se, mais do que nunca, corrupta – em todos os sentidos
do termo. É tendo isso em mente que faz com que a mínima consideração
de desenvolvimento sustentável se torne algo utópico – contudo, como
discutido acima, com esforço e ordem, pode, sim, essa consideração ser
levantada.
As próprias dimensões abordadas no conceito de Desenvolvimento
Sustentável, no entanto, elucidam as dificuldades de se conseguir, plena e
eficazmente, um equilíbrio e conciliação entre crescimento econômico e
conservação da natureza. Na dimensão ambiental, em primeiro lugar, têm-
se exposto os problemas com desmatamento e emissão de gases, sobretudo,
de modo que, para a tendência de um equilíbrio econômico-social-
ambiental, estes impasses precisam ser erradicados, senão minimizados –
aqui, cabe pontuar que já alguns países têm adotado medidas de cunho
sustentável: países da Europa, como Islândia e Suíça, vêm registrando
maior preocupação com o meio ambiente, por exemplo.
Um ponto que requer atenção, quando se discute a dimensão ambiental
especificamente do Brasil, é o trato com os indicadores sociais de bem
estar. Percebe-se que, à título de informação, em 2015, mais de 35 milhões
de brasileiros viveram sem o acesso adequado do serviço básico de
saneamento. É claro que isso compromete negativamente as demais
relações inter-regionais, salientando a disparidade social. Esta disparidade
se dá não tão somente entre grupos sociais, contribuindo para a
concentração de renda e acúmulo de grandes riquezas, como também
provoca um déficit no bem estar social por faixa etária – veja isto na Figura
02. Sendo assim, outras realidades como acesso à educação e saúde de
qualidade ficam comprometidas. Outro ponto a ser destacado, nesse
sentido, é o uso, exacerbado em certos casos, de agrotóxicos no Brasil. De
2010 a 2017, este uso apresentou um crescimento de aproximadamente
50%. Alguns impactos prejudiciais às saúdes ambiental e humana podem
ser levantados – mas, vale mencionar justamente, que muitas discussões
rodam este tema, uma vez que há aqueles que afirmam que as produções
sem o uso de agrotóxicos podem levar a perdas significativas, provocando,
em última instância, perda de lucros, menor oferta de produtos, desemprego
etc. Por isso que o debate se faz necessário e o equilíbrio entre as partes,
também. Algumas tecnologias, é verdade, têm sido desenvolvidas com o
fito de reduzir consideravelmente o uso de agrotóxicos à um nível que
amenize os impactos socioambientais não agradáveis.
Os gráficos abaixo expõem alguns aspectos da dimensão ambiental,
onde a análise dos dados concentra-se no Brasil.
Figura 01

Fonte: SIHSUS

Figura 02
Fonte: SIHSUS/Ministério da Saúde

Em seguida, o desenvolvimento sustentável aborda uma importante


dimensão: a social. Nesta é possível fazer uma análise mais precisa e
consistente dos problemas na saúde e na educação, e como isso influencia o
nível de (sub)emprego local. Veja que quando o meio é bem estruturado,
com uma sinergia de decisões pró-bem estar social, é possível ver um
desenvolvimento em níveis qualitativos e, por consequência, quantitativo.
É, pois, bastante difícil isto ser comum em todas as regiões brasileiras, ou
mesmo em todos os países, uma vez que muitas das decisões econômicas,
sociais e ambientas são tomadas em meio a conflitos, onde o interesse
próprio e de curto prazo supera o interesse do todo. Isto sinaliza, por seu
turno, à dimensão econômica, que tem em foco as variáveis
macroeconômicas que auxiliam sobremaneira a percepção mais clara das
atuais necessidades, das áreas e dos indicadores que precisam ser mais bem
valorizados e considerados. O PIB, o endividamento e a inflação, dentre
outros tantos, contribuem para essa análise mais apurada – relacionando os
impactos com o nível de salário mínimo, por exemplo.
Observação:
Estimativa de
PIB para 2021
só acontecerá
se a inflação
passar de
10%.

É evidente que estes aspectos econômicos afetam um importante


indicador macroeconômico: a dívida pública brasileira. Esta já enfrentou, e
vem a encarar, grandes oscilações, como se observa no gráfico abaixo.
Em seguida, toma-se como base a dimensão institucional no
desenvolvimento sustentável. Essa dimensão vem com o fito de estabelecer
acordos que promovam uma regulamentação mais saudável no que tange
ao desmatamento e à desertificação, por exemplo. Bem como visa
promover legislações com reformas tributárias – de caráter mais
progressivo –, previdenciária e trabalhista.
Diante de tudo o que foi mencionado acima, pode-se levantar alguns
fatores que, ao transcorrer dos anos, muitas empresas vêm selecionando de
forma a promover a chamada “eficiência produtiva verde”, isto é,
produções eficientes, com maximização de lucro e minimização de custos,
sujeito a padrões mais sustentáveis. Os fatores podem ser elencados como:
(i) incentivos fiscais por parte do governo – percebe-se isto na área eólica
brasileira; (ii) crescimento sustentável como vantagem competitiva, onde se
formam alguns nichos de mercado; (iii) formação de uma opinião pública
mais positiva, uma vez que cada vez mais os consumidores têm se
comportado conscientemente. Isto exposto mostra que o desenvolvimento
sustentável, ou pelo menos sua ideia, tem se alastrado pelo mundo – claro,
há a necessidade de esforço e toda uma reorganização da estrutura e
dinâmica econômica já existente.
Em resumo, pode-se concluir que, de acordo com a definição exposta
pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada
pelas Nações Unidas, o desenvolvimento sustentável propõe “um
desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem
comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras
gerações”. Ou seja, considerando as importantes dimensões, é preciso
almejar um crescimento econômico de um país, e do mundo portanto, ao
passo que se eleva o nível de bem estar social, com os recursos disponíveis
distribuídos da melhor forma possível. Para tal é preciso que haja, antes de
tudo, planejamento/ordem e a recuperação da noção econômica apresentada
desde muito tempo atrás: a de que os recursos são escassos e é preciso um
aproveitamento consciente deles. Percebe-se, com isso, que o
desenvolvimento, até então destacado, é importantíssimo para a promoção
de países com elevados índices de desigualdade. Com esforços e sinergias
de interesse, a realidade pode vir a se aproximar cada vez mais da ideia
utópica.

Bibliografia complementar:
- DESENVOLVIMENTO E NATUREZA: Estudos para uma sociedade sustentável [Clóvis
Cavalcanti (Org.)];

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