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MEU DESEJO
VOLUME I E II DA SÉRIE
RECOMEÇOS
1ª EDIÇÃO
LA MARTINE
Copyright © 2019 La Martine
•••
Sofia respirou fundo, tentando se acalmar.
Como um dia que começou tão igual aos milhares de outros nesses
últimos três anos, se transformou nesse mar revolto de surpresas e confusões?
Homens são seres confusos na maior parte do tempo e na outra parte –
lê-se todo o resto do tempo – são irracionais, pensou, baixando os olhos e
escondendo-se atrás do seu livro.
Estava na biblioteca. Fugiu para lá após ser rebocada por um Sebastian
muito contrariado em ter fugido do que parecia ser para ele uma boa luta
matutina.
Depois, ele que a arrastou pela universidade, fugindo dos olhares
curiosos que os cercavam, até uma sala vazia no térreo.
— Por que deixou que ele se aproximasse de você? — perguntara,
fechando a porta atrás de si. — No que estava pensando? O que ele disse pra
você? O que você disse pra ele? Aliás, sobre o que diabos você estava
falando com um desconhecido?
Sofia recostara-se em uma das carteiras e o fitara, sabendo que seria
melhor deixá-lo falar o que quisesse, até o sinal tocar.
— Sujeitinho desgraçado. "Não vou me afastar dela". Quem ele pensa
que é? Não sabe com quem está brincando. Ah, não sabe mesmo — sorrira
sombrio, como que conjecturando o que faria com o "sujeitinho" à seguir. —
Vou ensiná-lo o que acontece com quem se mete nos meus assuntos. Ou me
desafia claramente, ainda mais na frente de toda àquela gente. Ele não perde
por esperar — em seguida soltara uma série de grunhidos indecifráveis,
andando de uma lado para o outro. — Ainda mais vestida assim... nua com
essa roupa. — ela o ouviu resmungar, sem compreender sobre o que ele
falava.
Ela apenas fitava o chão, pensando em tudo que acontecera naquela
manhã. Deus, tanta confusão e ainda são 9h00 da manhã!, pensara.
Sebastian de repente parou de andar em círculos pela sala, fitando-a e
soltando a seguir:
— Você vai ficar longe dele.
Voltou a fitá-lo de súbito, surpresa com a força com a qual ele
declarara aquilo. Não, ordenara, ele ordenou que se afastasse dele.
— Eu vou?
— Sim, você vai — ele declarou, voltando a andar novamente. — Ele,
com toda certeza, vai tentar se aproximar de você novamente. Quando isso
acontecer, mande-o pastar e, se ele insistir, ligue para mim que eu dou um
jeito nele.
— E se eu não quiser? — perguntara baixo, enquanto sentia algo dentro
de si a incomodando.
Sebastian, ainda andando em círculos, pareceu não entender o que ela
dissera e indagara:
— O que?
— E se eu não quiser? — repetiu.
— E se você não quiser o que?
— E se eu não quiser que ele se afaste de mim?
— O que? — perguntou mais uma vez, confuso. — Se você não quiser
que ele se afaste de você?
— Sim. E se eu não quiser que ele se afaste de mim? E se eu quiser que
ele faça justamente o contrário?
— E se você... Por que você faria isso? — parando finalmente de andar
ele passou a fitá-la com atenção. — Você quer que ele se aproxime de você?
Sofia tentou avaliar seus sentimentos sobre o assunto – sobre ele – mas
sentia-se apenas cansada daquele assunto e não estava gostando nem um
pouquinho da forma com a qual seu irmão falava com ela.
— Não sei. Talvez.
— Talvez? Como assim "talvez"?
— Talvez eu queira que ele se aproxime de mim de novo. É uma
possibilidade.
— Não existe possibilidade nenhuma. Muito menos essa! — ele se
exaltara outra vez.
— Por que essa possibilidade não existe? Ele mesmo afirmou que
voltaria a se aproximar de mim e eu...
— E você nada! Eu o avisei e parece que precisarei fazer o mesmo com
você. — aproximou-se dela, falando a poucos centímetros do seu rosto: —
Você vai ficar longe desse cara, Sofia.
Ela, que se assustara com a explosão dele, sentiu o sangue começar a
ferver e poderia dizer, mesmo sem ver o seu rosto, que estava vermelha.
— Eu vou ficar longe dele? Porque você me avisou? Quem você pensa
que é?
— Sou seu irmão!
— Sim, e não meu pai!
— Eu estou mandando que você...
— Você não manda em mim! Se eu quiser me aproximar dele, eu vou!
— Só por cima do meu cadáver!
— Pois seria melhor você começar a planejar o seu funeral, Sebastian
Villar, porque este dia, aparentemente, está prestes a chegar!
— Estou falando para o seu próprio bem, Sofia! Você não entende?
Esse cara não presta, só quer se aproximar de você para usá-la!
— E como você pode saber disso? Nem mesmo o conhece!
— Sabendo, oras! Pude ver pela forma com que ele olhava para você
e...
— E o quê? Você é algum super mestre em decifrar olhares? Oras,
faça-me o favor!
— Sofia, homens sempre sabem o que outros homens estão pensando
apenas pelo olhar. E ele olhava para você com... — Sebastian sentiu-se
incapaz de continuar. Não conseguia nem pensar na hipótese de alguém que
olhara para sua irmã daquela forma voltar a aproximar-se dela. Ainda mais
agora, que ela estava tão determinada a contrariá-lo.
— Desejo? — ela perguntou, com uma voz estranha, embargada. —
Ele olhava para mim com desejo? É tão difícil de acreditar que alguém
poderia sentir desejo por mim?
Sebastian franziu o cenho, sem entender seu tom magoado.
— O que eu quis dizer...
— Sei bem o que quis dizer — o interrompeu. — Ninguém nunca me
olhou daquela forma antes. Tendo em vista a minha aparência, é difícil de
acreditar mesmo. Eu sei.
— Sua aparência? O que tem de errado com a sua aparência?
Sofia bufou, sentindo a vergonha a invadir pensando que teria que
declarar aquilo em voz alta.
— Olhe para mim! "O que tem de errado com a sua aparência"? — fez
uma fraca imitação da voz dele. — Eu sou um desastre, Sebastian! Horrível,
ao que parece. E, levando em conta que todos os outros garotos fogem de
mim como o demônio foge da cruz, é provável que sim.
— Você... O que? Do que você está falando? — perguntou ainda mais
confuso.
— Deus, você não vê? Não percebe? Nunca nenhum garoto se
aproximou de mim ou se sim, nunca mostrou interesse. Devo ser repulsiva
fisicamente. Eles fogem de mim como se eu tivesse lepra ou alguma coisa
pior!
Sebastian ficara surpreso com a declaração de sua irmã, mas, ainda
mais surpreso com a forma com que ela falava. Parecia magoada e, pior
parecia resignada sobre o assunto. E prosseguiu como se doesse continuar
falando:
— E, quando finalmente alguém parece ter interesse por mim, apesar
de tudo, você vem e estraga tudo! Como se eu precisasse de ajuda nesse
departamento! Ele deve estar pensando que, além de doente mental, eu
preciso da ajuda do meu irmão para decidir as coisas por mim!
Sofia sentira-se acabada após sua confissão, com um início de uma
incômoda enxaqueca, e doía continuar falando sobre aquilo. Mas após
finalmente colocar tudo que sentia para fora, não conseguiu parar.
— Apenas uma vez... Só uma vez eu pensei: e se? E se ele estiver
mesmo interessado em mim? E se aquilo que eu vi em seus olhos fosse
mesmo desejo? E se isso fosse possível, apesar de tudo? E se... E se... —
sentiu-se incapaz de continuar, os olhos marejando.
Sebastian parecia paralisado onde estava. A angústia que permeava a
voz dela, a dor de confessar aquilo, o atingiram como um soco. E quando vira
os olhos dela brilhando com lágrimas, sentira-se o pior ser humano.
Aproximou-se temeroso.
— Sofia, o que você...
— Mas isso não importa mais — o interrompeu. Se afastou dele,
sentindo-se acabada. — Talvez e se for verdade, ele deve ter desistido. Ainda
mais depois da cena que você fez.
— Eu só tentei...
— Eu sei. Me defender, defender o perímetro, mijar à minha volta,
como se eu fosse sua propriedade — ela não parecia mais com raiva quando
disse isso. Parecia resignada. Tristemente resignada.
— Deixe-me explicar. Eu só...
— Eu já disse que sei, Sena — ela, que estivera todo aquele tempo
fitando o chão, fitara-o nos olhos. A determinação que Sebastian vira naquele
mar do mais puro azul, ainda mais claros por causa das lágrimas, o fizera
estremecer levemente. — Eu entendo o que você fez, por mais que não
concorde com a sua atitude. E espero que você me entenda também, embora
possa não compreender.
— Entender o que? — perguntou sabendo o que ela diria.
— Que a vida é minha. E posso fazer dela o que quiser.
— Eu...
— E que se ele voltar a se aproximar de mim, não vou afastá-lo.
Sebastian não sentiu a mesma fúria de antes, mas não poderia se calar
diante de tal afirmação.
— Eu avisei que...
— Não me importam os seus avisos, ou ordens — ela o interrompeu,
limpando os olhos dos rastros de lágrimas que escorreram por seu rosto em
algum momento. — Se ele voltar a se aproximar de mim, não o vou afastá-lo.
E se você tentar se meter na minha vida ou me envergonhar na frente de toda
a universidade ou quem quer que seja novamente, esqueço que sou sua irmã.
Sebastian se afastara um passo, assustado, e ela aproveitou que o corpo
dele não bloqueava mais o caminho até a saída da sala. Não queria mais
discussões, tivera um bom número delas naquela manhã. Precisava se
acalmar, pensar um pouco.
Percorreu todo o caminho até a biblioteca sem fitar ninguém, com os
olhos no caminho que seus pés faziam.
E agora estava ali, na calmaria de um dos seus lugares preferidos no
mundo, tentando estudar, com os olhos percorrendo as folhas amareladas do
seu livro, mas sem conseguir focar-se nas pequenas letrinhas.
Pensava e repensava em tudo que acontecera desde que acordara e, sem
conseguir mais pensar na vergonha que sentira ao parecer uma doente mental
em frente àquele garoto ou a vergonha que seu irmão a fizera passar na frente
de toda aquela gente ou na conversa que tiveram depois, largou o livro na
mesa, a mais afastada da grande biblioteca, e fechou os olhos recostando-se
melhor na cadeira.
O silêncio do lugar só era cortado pelo ruído suave de livros sendo
retirados das prateleiras, cadeiras sendo arrastadas, folhear de páginas e
ocasionalmente a voz irritada da senhora Brígida – a bibliotecária responsável
por pôr ordem no lugar.
E havia o som de passos. Indo para lá e para cá, percorrendo os
corredores, entrando e saindo, passando ao seu lado. E aproximando-se.
Aproximando-se dela. Ouviu e sentiu que a pessoa cujos passos
pertenciam parou a sua frente, próximo demais para ser apenas algum
estudante ocupado.
Sofia sentiu uma espécie de déjà vu e, antes de abrir os olhos, soube de
quem se tratava.
— Posso me sentar com você? — perguntou o estranho, sorrindo.
CAPÍTULO 6
Antes de abrir os olhos, Sofia soube que, embora não houvesse
declarado com certeza ao seu irmão, agora já não poderia mais voltar atrás.
Mesmo que nesse caso ela não tenha nem ao menos o procurado; ele que a
encontrou.
E ela não pensara que ele o faria tão cedo. Pelo menos, não ainda
naquele dia.
O observou por alguns segundos, calada.
Ele também a observava. Não poderia ser diferente, pensou. Desde que
se conheceram ele não fazia outra coisa que não observá-la. Perguntou-se o
que ele estaria pensando.
Observou-o dos pés a cabeça como tinha feito antes, só que dessa vez
era diferente. Da primeira vez, ele estivera muito longe e na segunda, sentado
ao seu lado. Dessa vez, porém, poderia observá-lo melhor. Inteiro. Sem
perder nenhum detalhe.
Engoliu em seco. Ele era, sem sombra de dúvidas, um dos caras mais
gatos que já encontrara. Se não o maior de todos.
Seu físico era impressionante. Alto, ombros largos, pele bronzeada e
aqueles olhos de um tom escuro, não pretos, mas quase isso. Havia aquele
filete de cor em volta dos seus olhos que os tornavam únicos.
E havia seus cabelos.
Nunca antes vira – e Sofia orgulhava-se de possuir uma excelente
memória – fios com aquela tonalidade. Eram como mechas de ouro
entremeadas. Mas não apenas de uma tonalidade. Não. Não sabia descrevê-
los com exatidão, mas poderia afirmar com certeza que eram
impressionantes. E lindos. Como ele inteiro.
Fitou mais uma vez seus lábios e estremeceu, sentindo que corava.
Ótimo.
— Posso me sentar com você? — ele perguntou mais uma vez. E Sofia
estremeceu novamente. Aquela voz... Deus, não era justo que tudo naquele
homem fosse perfeito.
Sabia que deveria respondê-lo, ainda mais sendo aquela a segunda vez
que ele indagara. Mas sentia-se incapaz de pronunciar algo. Algo coerente, ao
menos. Não queria passar ao ridículo novamente balbuciando "huns" e "o
que".
Precisava esforçar-se para não parecer uma imbecil. De novo.
Limpando a garganta e concentrando-se, disse:
— Humrum.
Era uma melhora. Para Sofia, sim. E naquele caso específico, ainda
mais.
Ela imaginou que levaria algum tempo para poder voltar ao seu
"normal" perto dele. O que a fez perguntar-se mentalmente quanto seria esse
tempo. E, mais importante, quanto tempo ele estaria ali.
Gostou de pensar que seria muito tempo.
Ele puxou a cadeira à sua frente na mesa mediana e sentou-se. Sofia
olhou para o outro lado, especificamente para onde repousava a senhora
Brígida, imperiosa na sua poltrona e viu-se recebendo um olhar de
advertência. Desviou o olhar rapidamente, sabendo bem a mensagem que a
velha senhora quisera transmitir. Se ousassem perturbar o silêncio do seu
precioso recinto, seriam despachados no mesmo minuto.
Sofia já testemunhara a ira da pequena senhorinha destinada à alguns
dos seus colegas – Lorrany e Thaís, entre eles –, e não gostaria de estar na
sua mira, obrigada.
Observou-o novamente e esperou pacientemente que ele se
pronunciasse. Não que ela fosse incapaz de comunicar-se ou engatar uma
conversa – o que nós sabemos que, sim, ela é –, mas ele a procurara,
provavelmente poderia até tê-la seguido até ali, portanto, ele que deveria falar
primeiro.
— O que está lendo? — ele indagou suavemente, mantendo o tom
baixo, tendo ele mesmo sendo repreendido pela senhora Brígida. Ela
provavelmente notara que ele era carne nova por ali e o fitara seriamente,
lançando flechas com o olhar e aquilo era o suficiente para assustar até um
mercenário.
— Hum. Nada — respondeu, segurando o livro ainda na posição em
que estivera e baixando-o rapidamente ao notar que por todo aquele tempo
ele estivera de cabeça para baixo. Corando como uma idiota e envergonhada,
enfiou o livro na bolsa que estava no chão aos seus pés e aprumou-se na
cadeira, rezando para que ele não tivesse notado também. Se ele o fez, não
falou nada sobre. Pigarreando, acrescentou: — Estava revisando um assunto.
É... para uma prova. É, para uma prova.
Ele sorriu suavemente, apenas esticando os lábios.
— Bom — disse. Observou-a por alguns instantes e voltou a falar: —
Você parece preocupada. Discutiu com o seu irmão?
Sofia surpreendeu-se. Não pela pergunta ou sua curiosidade, mas sim
porque ele parecera realmente interessado. Talvez até preocupado com ela.
Até notara que ela estava chateada.
Melhor, estivera. Estivera chateada. Agora, não mais.
— Está tudo bem — disse apenas e parabenizou-se mentalmente por,
enfim, ter recobrado seus sentidos e conseguir pronunciar-se como uma
pessoa normal.
— Mesmo? — ele pareceu não acreditar.
Ela respirou fundo. Não queria relembrar mais uma vez a discussão
com o seu irmão e nem gostaria de conversar sobre isso com ele.
— Mesmo. — confirmou.
Fez-se alguns segundos de silêncio após isso. Não um silêncio
incômodo. Tão pouco cômodo; o que não seria possível entre dois
desconhecidos.
— Qual o seu curso? — ele indagou.
— Letras.
— Como ou por quê o escolheu?
Surpreendeu-se outra vez. Nunca antes perguntaram sobre a sua
escolha, nem mesmo a sua família. Mas sempre contara tudo aos seus pais,
tanto que desde que decidira-se por qual carreira seria melhor para si, ainda
no ensino fundamental, fizera questão de comunicar a todos que lhe eram
importantes.
Estranhou um pouco por quê aquele garoto, ainda um desconhecido,
seria justamente o primeiro. Mas, talvez, ele quisesse apenas conhecê-la
melhor. Ou, talvez... Ela não sabia o por quê. Nunca estivera naquela situação
– conversando com um desconhecido, ainda mais um do sexo oposto. Talvez
aquilo fosse normal nesse caso. Não saberia dizer.
Portanto, resolveu que poderia ser honesta sobre o assunto. Ao menos
não era uma pergunta pessoal demais.
— Bem. Tive uma professora há alguns anos que de longe foi e
continuou sendo por muito tempo a melhor de todas pelas quais passei.
Talvez eu tenha sido um pouco precoce, embora não me arrependa dessa
decisão. O curso não é como imaginei, é ainda melhor. E sinto que fiz a
escolha certa nesse caso — concluiu, perguntando-se se falara um pouco
demais. Tendo em vista os seus surtos de mais cedo, esse fora o menor de
todos, pensou. Mas talvez ele não visse assim.
— No meu caso, foi o contrário — ele confessou, rindo um pouco. —
Nunca sonhei com a universidade, me contentaria apenas com o certificado
do ensino médio. E considerava este um grande feito, tendo em vista que o
ensino médio foi um inferno — riu novamente e Sofia o acompanhou. —
Portanto, é de se esperar que eu precisasse de um pequeno, ou não tão
pequeno assim, empurrãozinho. Mas, para minha surpresa, o curso também
não era como imaginei, se é que o imaginei algum dia; é ainda melhor. Então,
não me arrependo tanto assim; embora odeie com todas as minhas forças
acordar cedo.
Ele riu novamente e Sofia o acompanhou, sentindo-se relaxar um
pouco. Ele falara tanto ou mais que ela. Mas isso não importava, sentia-se um
pouco melhor e menos incomodada.
— E qual é o seu curso?
— Engenharia mecânica.
— O mesmo que o meu irmão! — disse um pouco surpresa.
— Então é certo que nos encontraremos bastante por aqui — ele disse.
— Embora isso talvez não seja do agrado dele — piscou, referindo-se aquele
momento horroroso de mais cedo.
Sofia, embora não quisesse dizê-lo em voz alta, sabia que aquilo não
seria nada bom aos olhos de Sebastian. E provavelmente precisaria se meter
no meio daqueles dois novamente.
— Espero sinceramente que não aconteça mais nenhuma outra
desavença entre vocês — confessou. Respirou fundo e continuou: — Gostaria
que me desculpasse pelo que aconteceu mais cedo. Sebastian normalmente
não é tão irracional, mas tenho certeza que ele se arrepende do que fez e...
— Não preciso que se desculpe — ele a interrompeu. — Ao menos não
por ele. E não sobre isso. Mas tem algo pelo qual você precisa mesmo se
desculpar — declarou, encarando-a seriamente.
Sofia sobressaltou-se levemente, tentando imaginar se o insultara de
alguma forma. Provavelmente, talvez ele se sentira incomodado por todos os
seus intermináveis murmúrios.
— Desculpe se eu o incomodei ou insultei de alguma forma. Mas
acontece que eu estava nervosa e... — e seguiria balbuciando se ele não a
interrompesse divertido.
— Não, não. Também não precisa se desculpar por isso. E você não me
incomodou. Pelo contrário — fitou-a sorrindo um pouco malicioso. Sofia
sentiu-se esquentar um pouco com aquele olhar. Continuou: — Mas eu me
referia a pergunta que a fiz.
— Pergunta? — perguntou confusa.
— Sim.
— Qual pergunta?
Ele riu, debruçando-se sobre a mesa, aproximando-se do seu rosto.
Embora a mesa fosse de tamanho mediano, ainda era enorme e ele esticara-se
um pouco até quase alcançá-la. Seu tamanho fez com que isso fosse possível,
mas não o permitiu aproximar-se demais.
— Se você aceita sair comigo.
Ela sentiu-se corar novamente, sem conseguir desviar os olhos do rosto
dele tão próximo ao seu. Deus, o que estava acontecendo com ela? Sentia-se
estranha e precisou controlar-se para não se inclinar na mesa e completar a
pequena distância que os separava.
Ele a encarava com seriedade e uma mescla de diversão, aguardando
por sua resposta e aproveitando para fitá-la melhor. Sofia sentiu-se
estremecer levemente com aquele olhar e mordeu o lábio, nervosa e alguma
outra coisa que ela não saberia definir.
Ele baixou os olhos por seu rosto e concentrou-se em sua boca. Dessa
vez ele que respirara fundo, e seus olhos pareceram escurecer ainda mais, se
possível. Observou que o pequeno fio de cor dos olhos dele sumira, restando
apenas a escuridão.
Deus, o que aconteceria se ela apenas de aproximasse um pouco... só
um pouquinho...
— Sofia Villar! — Sofia pulou na cadeira como o grito – mais para um
sussurro alto que propriamente um grito – da senhora Brígida. Não notara que
havia começado a se aproximar dele lentamente e estava parcialmente
inclinada na cadeira.
Uma das regras mais rígidas da senhora Brígida era o contato físico
entre os alunos na biblioteca. Como se um aperto de mão ou abraço de
amigos fosse corromper a imagem do lugar.
Voltou para o seu lugar, notando que ele fazia o mesmo. Perguntou-se
se ele estaria chateado com a intromissão da enfezada senhorinha, mas o
pequeno sorriso matreiro em seus lábios era resposta mais que suficiente.
Sofia evitou olhar ao seu redor, com medo de mais uma vez ser o
centro das atenções. Pensou que se fosse o caso, ao menos não precisaria
encará-los.
— Sofia.
Ela pulou mais uma vez. Deus, poderia ser mais estúpida? Ele apenas
dissera seu nome. Normal. Então por que sobressaltava-se a cada e toda vez
que ele se pronunciava? Ou murmurava seu nome com aquela voz grave e
rouca?
Meneando a cabeça, resolveu concentrar-se na conversa e não em
indagações sem sentido.
— Sim? — disse, após limpar a garganta.
— Você fez de novo — ele a acusou, sorrindo.
— O que? — piscou confusa.
— Você sabe o que — ele piscou para ela, relaxando no encosto da
cadeira.
E ela sabia. Não poderia dar uma de desentendida agora. Ainda mais
após ele repetir a pergunta encarando-a seriamente, fitando-a nos olhos.
— Eu não sei se seria uma boa ideia — confessou em um murmúrio.
Deveria ser sincera.
Ele a fitou por alguns segundos.
— Por que?
— Eu... não sei.
— Algo a ver com o seu irmão?
— Não! Claro que não. Sebastian não tem nada a ver com isso.
— Tem certeza? — ele indagou sério.
— Sim. Claro que sim.
— Hum. Então, vejamos — ele a encarou pensativo. — Eu não faço o
seu tipo?
— O que? — Sentiu-se corar. Mais uma vez. Ótimo.
— Eu não faço o seu tipo? — repetiu calmamente.
Como responderia à isso, pelo amor de Deus? Sentia a face ferver,
deveria estar igual um tomate maduro.
Ela sentiu-se incapaz de pronunciar-se, e apenas o fitou mortificada.
Ele provavelmente notou como ela estava embaraçada e sorriu
condescendente.
— Não consegue responder? — indagou baixinho. Ela meneou a
cabeça. Ele sorriu levemente. — Mas consegue mover a cabeça, não? — ela
confirmou, sentindo-se ridícula. — Então, façamos assim: negue ou confirme
com a cabeça. Eu faço o seu tipo?
Ela permaneceu paralisada um instante e depois de alguns segundos
confirmou levemente com a cabeça.
Ele sorriu um pouco, fitando-a dos pés a cabeça, aumentando o sorriso
aos poucos.
— Você também faz o meu — declarou um pouco rouco.
Sofia arrepiou-se, encarando-o nos olhos. Sentia-se esquentar sendo
foco daquele olhar escuro.
— Então — disse ele, retomando a conversa. — Você quer sair
comigo?
— Sim. — respondeu, sem querer ou sentir-se disposta para pensar
mais sobre. E sentia que fizera a escolha correta. Afinal, ele era o seu tipo, ela
era o dele e isso que importa, certo?
Ele mordeu o lábio, baixando os olhos para a mesa e voltando a fitá-la.
Olhou ao redor e levantou-se, arrastando rapidamente sua cadeira. Arrastou-a
até deposita-la ao lado da que Sofia estava sentada e sentou-se, passando um
dos braços confortavelmente pelo respaldar da cadeira dela.
Sofia tomou uma respiração profunda, arrepiando-se com sua
proximidade. Fitou-o nos olhos, notando como era ainda mais surpreendente
se visto tão de perto. As tatuagens entremeadas no pescoço dele chamavam
seus olhos, tal como um discreto piercing que ele tinha no nariz. A joia era
tão discreta que só naquele momento, estando tão próximos, foi que ela a
notou.
Ele a encarou de cima, sendo alguns centímetros mais alto e sorriu
suavemente.
— Hoje está bom para você? — indagou, mantendo o tom baixo.
Sofia levou alguns segundos para notar que ele falara, e mais alguns
para compreender sua pergunta.
— Hoje? — arregalou os olhos.
— Humrum — ele murmurou, ainda fitando seu rosto com atenção.
Concentrou-se em sua boca e Sofia precisou resistir a tentação de morder o
lábio. — Hoje.
— Não acha... acha muito cedo? — sussurrou.
Estavam muito próximos, tanto que era capaz de sentir o sopro da
respiração dele em seu rosto.
— Não, não acho. Acho que é compreensível.
— O que é compreensível?
— A minha pressa de ficar a sós com você — ele respondeu baixinho,
aproximando-se mais.
Sofia sentiu-se incapaz de pensar com clareza, apenas o observava
aproximar-se mais e mais.
Estavam sentados lado a lado, mas voltados um para o outro. Ele
aproximou-se mais e Sofia estremeceu ao sentir o tronco dele encostar-se no
seu.
— O que...
— Shhh... — ele a interrompeu, colocando um dedo sobre seus lábios.
Estremeceu com seu toque. Ele fitou seu dedo, percorrendo as comissuras dos
lábios rosados em seguida. Ambos respiravam rapidamente.
Arfou ao senti-lo abandonar seus lábios, baixar a mão e em seguida
percorrer suas costas. Sua outra mão ainda continuava no respaldar da
cadeira, de modo que ele quase a abraçava.
A mão continuou a subir por suas costas até estacionar na sua nuca e
ela arrepiou-se novamente, sentindo-se de repente sem forças.
Em um lampejo de racionalidade, murmurou:
— A senhora B-brígida...
— Ela está ocupada — ele a interrompeu novamente. Sua voz estava
rouca e profunda. — Assim como você.
— Eu ainda nem sei o s-seu nome.
Ele sorriu e inclinou-se, murmurando baixinho no seu ouvido.
E, antes que Sofia pudesse agradecer por estarem na mesa mais
afastada da biblioteca – logo, a mais discreta –, estremeceu novamente e
fechou os olhos ao senti-lo colar a boca na sua, ouvindo uma e outra vez um
sussurro rouco, quase uma prece, viajar por sua mente. Um nome, um desejo,
uma descoberta, uma prece.
Beijou-o sentindo-se inteira. Beijou-o como desejou fazê-lo desde que
o viu pela primeira vez, como nunca beijara outro homem. Não era
inexperiente naquilo, já beijara antes, mas aquele beijo parecia e era perfeito,
parecia e era mais, significava mais do que deveria significar o beijo de um
quase estranho.
Beijou e foi beijada, o primeiro de muitos beijos que viriam, ela
poderia dizer, os olhos fechados e um sussurro sobrevoando sua mente:
Henrique.
CAPÍTULO 7
Poderiam ter se passado horas e ela não notaria.
Poderiam ter ateado fogo na biblioteca e este a queimasse viva, e ela
não daria a mínima.
Poderiam soar as trombetas do apocalipse e o mundo acabar, e para ela
não seria nada demais.
Tudo o que importava era aquele momento.
Tudo deixara de existir, de ter importância no segundo que ele colara a
boca na sua.
Henrique.
Um nome muito doce para alguém tão... tão... primitivo, pensou com
dificuldade.
Ele a pressionava contra si, puxando-a cada vez mais, abraçando-a
apertado.
E ela derretia, vez após outra, à cada nova inspeção de sua língua.
A princípio, ele a beijara delicadamente. Apenas um pressionar de
lábios. Sofia se surpreendeu com o quanto alguém tão grande poderia ter
lábios tão macios.
Depois, respirando fundo – enquanto ela mantinha-se em suspenso, de
olhos fechados – ele afastara-se um pouco, poucos centímetros, apenas para
voltar a pressionar a boca na dela novamente, após um grunhido.
Da segunda vez ele não fora tão delicado.
Pressionara a boca na dela e entreabriu seus lábios com a língua.
Gemeu baixinho e Sofia o acompanhou, quando suas línguas se encontraram.
Ela sentia-se incapaz de pensar. Sentia-se incapaz de qualquer coisa que não
beijá-lo. Beijá-lo com tudo de si. Beijá-lo como imaginara desde a primeira
vez que o vira.
E entregou-se.
Rendeu-se a ele, circulando seu pescoço forte com os braços,
aproximando-se um pouco mais. Colando ainda mais seus troncos – se é que
isso fosse possível.
Sofia não era iniciante na arte dos beijos. Talvez não fosse tão
experiente como suas amigas e o resto do mundo, mas também não era
virgem daquilo. Já beijou e fora beijada, normal, todos fazem isso. Mas
nenhum beijo, até ali, chegavam perto do que aquele homem fazia com seu
corpo. Não havia comparações.
Ele a abraçou ainda mais apertado, uma mão ainda na sua nuca e a
outra em sua cintura.
Sofia sentia-se entorpecida. Seus sentidos pareciam amplificados,
sentia e ouvia como nunca antes, partes do seu corpo de repente tornaram-se
tão sensíveis que o simples roçar do corpo dele contra o seu a fazia revirar os
olhos por trás das pálpebras fechadas.
Seus seios, pressionados contra o peitoral dele, pareciam pesados, os
mamilos, rígidos. Nunca sentira isso antes, mas tudo o que mais queria era
mais.
Mais dele.
Mais dele contra si, mais beijos, mais toques, mais tudo.
Tudo com ele. Tudo para ele.
Ela não conseguiu resistir e percorreu com as mãos trêmulas o
impressionante cabelo comprido, entremeando os dedos nos fios. E, seguindo
um instinto que não saberia dizer de onde surgira, puxou-o delicadamente,
mas com certa força.
Ele gemeu novamente, um som rouco, grave, baixinho, íntimo, que
brotara do fundo do seu ser. Mordendo seu lábio inferior e puxando-o
delicadamente com os dentes, ele desceu a mão que acariciava suas costas e
percorreu a lateral do seu corpo, subindo e descendo, aproximando-se
perigosamente de um dos seus seios.
Sofia nunca pensara que poderia desejar tanto que ele a tocasse como
naquele momento. Ali. Onde todos poderiam vê-la. Tudo em que podia
pensar era que seus seios doíam, pesados, e que a única coisa que poderia
ajudá-la com isso, seria o toque dele. Ali. Em seus seios. Naquele momento.
E por todas as outras partes do seu corpo que começaram a latejar,
doer, clamar por um mísero toque dele. E precisou segurar-se para não
implorar em voz alta, contentando-se em gemer baixinho, só pra ele, em
apreciação.
Ouviram, em meio a névoa de desejo que os rodeava, um arrastar
abrupto de cadeira, seguido de um pigarrear e lembraram-se, à custo, onde
estavam. Não que Sofia tenha de fato esquecido onde estava, poderia estar
cercada pelos braços dele, deixando-se sentir coisas que nunca sentira,
ansiosa por mais, porém a percepção de onde estavam, que poderiam ser
interrompidos e repreendidos ainda estava ali; em um cantinho bem afastado
da sua mente, mas estava. Ela só não se importava muito com o fato.
Com uma série de delicados selinhos e após mordiscar mais uma vez
seu lábio inferior, Henrique se afastou minimamente. Sofia fez o mesmo, um
pouco contrariada, e respirou fundo duas vezes antes de abrir os olhos.
Ele a encarava de perto, olhos nos olhos. O mais puro azul e a mais
sombria escuridão. Sofia retrocedeu mais alguns centímetros, mas ele a
puxou novamente, selando seus lábios mais uma vez, rapidamente. Ela riu
um pouco, com a respiração entrecortada.
Os olhos dele estavam cerrados, os lábios inchados e úmidos e Sofia
sentiu-se estremecer quando ele riu roucamente.
— Acho que essa resposta foi suficiente — falou baixinho, a voz ainda
mais rouca.
Ela precisou de alguns segundos para compreender sobre o que ele
falava.
— Acho que sim — riu também, concordando com o que ele já sabia e
declarara. Sairia com ele à noite..
Ele sorriu, percorrendo seus traços com o olhar e depois com os dedos.
Ela arrepiou-se com a carícia e não resistiu em descansar o rosto contra sua
mão.
Ele a fitou por alguns segundos, ainda acariciando seu rosto.
Sofia pensou ver uma sombra escurecer a expressão dele por um
segundo. Mas tão rápido quanto notara, sumira, deixando-a na dúvida se
realmente vira algo ou não.
Engraçado como suas dúvidas pareciam vazias naquele momento. Não
conseguia preocupar-se mais. Sairiam aquela noite, não importa para onde e
seria perfeito.
Ainda se fitavam quando ouviram – finalmente – o sinal tocar.
Precisariam seguir para suas aulas.
Sofia não queria quebrar aquela aproximação, nunca se sentira tão bem.
Mas infelizmente era preciso.
— Vejo você depois? — ele perguntou, levantando-se e levando-a
consigo.
Ela sorriu. Não conseguia parar de sorrir.
— Vejo você depois.
•••
Após um breve, mas intenso, segundo (ou seria o terceiro?) beijo,
Henrique seguiu em direção à sua primeira aula e Sofia preparava-se para
fazer o mesmo, observando-o caminhar relaxado, como se possuísse o mundo
em suas mãos.
Porém, antes que desse um segundo passo em direção à saída, fora
interrompida por uma massa de cachos volumosos e brilhantes que adentrara
o seu caminho.
— Você! — a pessoa por baixo daquela montanha cacheada quase
gritou, apontando um dedo para ela. — Quem é você e o que fez com a
minha amiga? — perguntou, empurrando-a de volta para a cadeira, ignorando
os resmungos inconformados da senhora Brígida, que expulsava todos dali
sempre que o sinal tocava. — Fica sussa aí, senhora B. Só preciso de alguns
minutinhos. Obrigada, querida — falou, como se fosse a íntima da senhora
Brígida. Esta por sua vez a encarava boquiaberta com a ousadia. A morena
voltou-se novamente para Sofia, ignorando o assombro da velha. — Você se
parece com ela, mas com certeza não é — continuou, fitando-a com atenção,
desconfiada. — É?
— Eu... — Sofia tentou responder, mas foi interrompida.
— Quem é o gostoso? Onde o conheceu? Ele beija bem?
— Ele... — tentou novamente, sem sucesso.
— Qual é o nome dele? Ele tem algum amigo gostoso? O que você
comeu hoje de manhã? Você não é a Sofia que eu conheço. Tá doente? —
colocou a mão na testa de Sofia, esperando um instante, conferindo os
segundos no relógio em seu pulso, como se estivesse medindo seus
batimentos. Na testa. — Você não está quente e sua pressão está normal —
refletiu. — Foi algo que você bebeu? Porque, se sim, me indica que eu
também quero. Ainda mais se essa bebida vier acompanhada de um super
gostoso, necessito — observou o caminho pelo qual Henrique seguira, como
que esperando que ele brotasse na soleira da porta da biblioteca. Quando isso
não aconteceu, fixou sua atenção de volta na amiga. — Fala, Sofia! — berrou
e bateu em seu braço.
— Ai! Calma, Lorrany! Como vou falar ou conseguir responder alguma
das suas mil perguntas se você não cala a boca? — perguntou, massageando
o braço.
— Você está falando agora e ainda não respondeu nenhuma delas. Fala
logo! De onde brotou esse gostoso, deus do Olimpo?
Sofia riu, rendendo-se.
— Ele é novo aqui — começou e a morena revirou os olhos.
— Isso eu sei. Pedi para você responder as minhas perguntas, não para
ser óbvia. Anda, fala!
— Tudo bem, tudo bem! — rindo, ela tentou escalar de mais um tapa.
Levantou-se e, entrelaçando o braço com sua amiga, a arrastou em direção a
saída da biblioteca (para alívio de uma muito contrariada senhora Brígida). —
O que você quer saber primeiro?
— Qual o nome do gostoso e você sabe se ele tem amigos solteiros?
Gostosos, por favor. Tipo assim, iguaizinhos a ele. Porque, você sabe, estou
solteira e tal, tipo, completamente disponível — quase berrou as duas últimas
palavras enquanto passavam por um grupinho de garotos. Eles riram para ela,
ou dela, não dá pra saber a diferença, e acenaram com a cabeça. — Senhores
— ela se curvou, como se cumprimentasse um dos seus amados lordes de
Game Of Thrones. Em seguida soltou beijos para alguns e seguiu com o seu
rebolado, arrastando Sofia consigo. — Responde, caralho! Ficou muda por
algum acaso?
— Meu Deus, Lorrany. Como vou conseguir responder se você não
cala a boca por um segundo? — riu. — E foram duas perguntas.
— E não estou vendo você responder nenhuma delas.
— Agora que tenho chance, posso responder. O nome dele é Henrique.
Não me pergunte o sobrenome, porque não perguntei e isso não tem
importância agora. E sim, ele tem amigos gostosos. Super gostosos, eu diria
— riu, corando um pouco. E antes que Lorrany abrisse a boca, acrescentou:
— Mas nem se anime. Embora sejam gostosos, não são como ele. E não sei
se estão solteiros.
— Não importa. Você vai me apresentar a eles — e lançou um olhar
para sua amiga que dizia "ou sofrerá as consequências". E vindo dela, Sofia
sabia que tudo era possível. — Então, estou curiosa. Como um garoto que
chegou hoje, precisamente há algumas horas, conseguiu a difícil façanha de
enfiar a língua na sua garganta?
— Lorrany! — protestou baixinho, corando.
— Falei alguma mentira por acaso? Não. Eu sei, você sabe e graças a
mim, a senhora Brígida não. Aliás, de nada — disse, parando rapidamente em
um dos espelhos próximos ao banheiro e conferiu o estado dos seus cachos e
da caprichosa maquiagem que fizera pela manhã. Concluindo que estava tudo
no lugar, soltou um beijinho para o seu reflexo e continuou andando. — Se
eu não os interrompesse, possivelmente vocês ainda estariam lá, na
biblioteca, guerreando com as línguas, quando Brígida, A Rígida, retornou do
banheiro.
Lembrando-se do pigarrear que os interrompera, trazendo-os de volta
para a realidade, Sofia voltou-se para ela, surpresa.
— Foi você?
— É óbvio. Quem mais seria? Algum dos patetas que estavam
assistindo seu duelo de saliva? Certamente que não. Aliás, a Ariputa era um
deles, só pra você saber.
— Ariana estava lá? Eu não vi — Sofia disse.
Notara poucas coisas quando entrara na biblioteca e após a chegada do
seu acompanhante, não notara mais nada. Mas Arianna Monteiro – ou
Ariputa, como Lorrany a chamava – era algo difícil de não se ver. Ainda mais
com seus longos cabelos de um loiro quase branco (tingidos, obviamente) e
sua vozinha irritante – de uma garça à procura de acasalamento, na opinião de
Lorrany.
Fato era que, além de deveras irritante, Arianna era uma das cabeças do
grupinho das "mais-mais".
As mais lindas, as mais populares, as mais bem arrumadas e mil e
outros "mais". E um dos seus muitos apelidos – alguns obras de Lorrany – era
"passarinho".
Nada que presenciasse ou chegasse aos seus ouvidos permanecia em
segredo por muito tempo.
Sofia sabia que era uma questão de minutos até chegar ao
conhecimento de todos na universidade que ela beijara o cara novo, um
estranho, na biblioteca.
Estremeceu com essa imagem mental.
Não que ela se envergonhasse do que fez, ela só não gostava
particularmente da ideia de que todos por ali ficariam sabendo e falariam
sobre algo que deveria ser só seu. E dele.
Pior, tinha certeza que aquela conversa chegaria aos ouvidos de
Sebastian, e ela não estava ansiosa por outra discussão com seu irmão.
Ao menos ela poderia pensar positivo e imaginar que Sebastian levaria
à sério o seu pedido de não meter-se novamente na sua vida.
Pior que isso, ela rezou mentalmente, que a senhora Brígida não
gostasse de fofocas.
Se ela soubesse que algo assim acontecera sob sua severa supervisão,
Sofia sofreria graves consequências. Como ser proibida de pisar novamente
na biblioteca.
Ela rezou um pouco mais.
— Não se preocupe — Lorrany a tranquilizou. — Quebro as asinhas
dela antes que ela faça algo contra você. Ela me conhece, sabe que você é
minha amiga e sabe do que sou capaz. Ela não se arriscaria tanto... —
interrompeu-se de repente, parando no meio do corredor.
Sofia olhou para ela, sendo obrigada a parar de caminhar também, já
que ainda era arrastada pelo braço.
Olhou para o seu rosto, intrigada e a encontrou com a boca aberta e
olhando fixamente para algo a sua frente, com os olhos arregalados.
Sofia seguiu seu olhar e avistou os amigos de Henrique parados em
frente a uma sala próxima de onde elas estavam, conversando e rindo com
alguns veteranos.
— Meu Jeová! Quem são aqueles deuses? — perguntou, ainda os
fitando.
Sofia riu. Aquele era o normal da sua amiga. Sempre em busca de
garotos. Ainda mais se fossem super gatos como aqueles.
— Aqueles, querida amiga, são os amigos de Henrique — sussurrou
baixinho, afastando-se um pouco para observar sua expressão.
Lorrany arregalou ainda mais os olhos e seu queixo caiu.
— Eles? — apontou não muito discretamente. — Tem certeza?
— Sim.
— Mesmo?
— Mesmo.
— Você não está brincando com a minha cara? — indagou, sem
desviar os olhos deles, como se isso fosse impossível.
— Não, Lorrany. Não estou — Sofia riu mais um pouco. — Aqueles
são os amigos de Henrique.
— Mana do céu! Eu vou me esbaldar nessas divindades! Obrigada,
senhor! — exclamou, levantando as mãos para o céu. Ou, no caso, o teto da
universidade.
— Outra hora você se "esbalda" — Sofia disse, puxando-a para
continuarem seu percurso até suas salas. Só tinham quinze minutos após o
toque do sinal para entrarem nas salas e Sofia não gostaria de se atrasar ainda
mais. — Temos aulas, vamos.
— O que? Eu não vou sair daqui! Preciso conhecê-los. Como acha que
vou casar com o pai dos meus futuros filhos sem ao menos saber seu nome?
— ela plantou os pés no chão, recusando-se a ser arrastada.
— Pai dos seus filhos? Você está louca? Vamos, com certeza está um
pouco desidratada.
— Desidratada eu vou ficar quando sentar em um daqueles gostosos até
suar um rio. Ou nos dois, já pensou? — fez uma expressão sonhadora, sem
deixar de encará-los nem por um segundo.
— Lorrany! Vamos — Sofia insistiu, puxando-a enquanto ela resistia.
—Aula, Lorrany. Temos aula.
— Aquele ali tem cara de quem come bem — disse, referindo-se ao
loirinho. — Mas aquele outro... — mordeu o lábio com uma expressão
safada. — Aquele tem cara de quem tem um equipamento e tanto. Se é que
você me entende — balançou as sobrancelhas sugestivamente.
— Meu Deus! O que você comeu ou bebeu hoje de manhã? Está mais
descontrolada que o normal. Vamos — puxou-a, indo para o outro lado, na
direção que seguiam todas as manhãs. — Temos aula.
— Mas eles...
— Temos aula, Lorrany — seguiu arrastando-a sem problemas.
— Mas os meus filhos...
— Não nasceram ainda e nem vão, ao menos espero, por um bom
tempo.
— Mas eu preciso, mana! Quero sentar na...
— ... cara deles, eu sei. Mas não agora, vamos.
— Ando tão precisada — choramingou, rendendo-se. Não sem antes
lançar um olhar sugestivo para eles - que retribuíram - e fazer um sinalzinho
de "me liga" com o braço que Sofia não agarrava. — Você está me devendo
um orgasmo.
— Pena eu não gostar da fruta, mana. Mas logo você encontra alguém
pra abaixar o seu fogo.
— Espero que bem logo mesmo — ajeitou os cabelos novamente,
piscando e mandando beijinho para um garoto que passara ao seu lado. Em
seguida, entrelaçou melhor o braço ao de Sofia e a puxou, dizendo: —
Vamos, não seja uma lesma. Temos aula, não ouviu? Vamos chegar atrasadas
por sua causa.
Sofia apenas revirou os olhos, rindo, seguindo-a enquanto a observava
distribuir beijos e piscadelas no ar para todos os garotos que cruzavam o seu
caminho.
CAPÍTULO 8
— Não vou vestir isso.
— Sofia, esse vestido é lindo. Você é linda. Então, qual é o problema?
— Thaís perguntou.
— É curto demais! Vou ficar nua com esse pedaço de pano. Não vou
vestir isso — negou novamente, sentando-se na cama e cruzando os braços.
— Não é curto demais, você que não está acostumada com roupas
apropriadas para a sua idade — alfinetou Lorrany, jogada no pequeno
sofázinho próximo a janela.
— Não é nada disso! Eu só não acho...
— E, além do mais, é um vestido — Lorrany a interrompeu. — E Deus
e o mundo é testemunha de que eu nunca vi você em um vestido.
— Isso não é verdade! — ela se irritou, embora fosse, sim, verdade.
Possuía vestidos, todos comprados por sua mãe, é claro, mas nunca sentira-se
à vontade em um. — Eu só não...
— Me poupe — a interrompeu novamente, acomodando-se melhor no
móvel que era pequeno e desconfortável demais para seu gosto. — Todos
sabemos a verdade. Não minta. Você não usa vestidos. Ponto.
— Meninas, não precisamos brigar por isso — Thaís tentou apaziguar
os ânimos, sabendo que se continuassem naquele caminho, Lorrany não daria
trégua, montaria todo um discurso, Sofia se irritaria e sobraria para ela
resolver as coisas depois. Melhor acalmar as coisas agora, antes que fosse
tarde demais. — Sofia não precisa usar um vestido. Podemos escolher
alguma outra coisa.
— Obrigada — Sofia disse aliviada.
— Uma ova que não precisa — Lorrany sentou-se no sofá. — Você vai
sair com um cara, Sofia. Um cara. Um homem — enfatizou. — Gostoso.
Gostoso demais, aliás. Isso já aconteceu antes?
— Bem, não — confessou, envergonhada. — Mas eu acho...
— E acha que seria legal ou minimamente aceitável usar uma daquelas
roupas que a sua mãe compra para você, hoje?
— Não, mas...
— E já que você não quer usar esse vestido maravilhoso, tenho que
frisar, onde encontraríamos outro?
— Hum... No shopping? — perguntou, indecisa. Não gostava de
shoppings, mas se fosse preciso, faria de tudo pela roupa apropriada para esse
encontro.
Um encontro.
Ela, Sofia Villar, tinha um encontro. Já poderia escutar ao longe as
trombetas do apocalipse. O fim do mundo estava próximo.
— No shopping? Essa hora? — Lorrany a encarou sem um pingo de
piedade. — Faltando, exatamente, uma hora para o seu encontro? Quem você
acha que somos? — antes que ela pudesse responder, prosseguiu: — Super
ninjas? Porque, sim, claro que conseguiríamos ir ao shopping, rodar por todas
as lojas possíveis, encontrar uma roupa adequada para você e depois voltar
para cá e arrumá-la inteira, em uma hora. Claro que sim, vamos ao shopping!
— debochou, deitando-se novamente.
Sofia a encarou por alguns segundos, assumindo para si mesma que não
teriam tempo para isso. Olhou para Thaís, suplicando. Mas ela concordava
com Lorrany, embora pedisse desculpas com o olhar.
— Sinto muito, amiga — disse baixinho. — Pensei que você gostaria
do vestido. Foi o mais comportado que encontrei, eu juro. E tenho certeza
que você não gostaria de usar um dos vestidos dela — sussurrou, apontando
para Lorrany que ainda estava deitada no sofá, as pernas pra cima, apoiadas
na parede e mexendo no celular.
— Não mesmo — Sofia estremeceu levemente só em imaginar isso.
Não que sua amiga se vestisse mal; esse problema era dela, não de Lorrany.
Mas, ao contrário das roupas de Sofia, que sobravam pano, as de Lorrany
careciam disso.
Eram muitos shorts microscópicos, minissaias, mini-blusas e toda uma
variedade de mini-roupas. Não que Sofia achasse isso um problema; isso
nunca. O corpo era da sua amiga - e ela possuía definitivamente um corpo - e
ela poderia usar o que quisesse.
Ainda mais levando em conta que roupas daquele estilo ficariam
ridículas em qualquer pessoa, menos em Lorrany. Ela possuía o poder de
vestir-se da forma que quisesse, com o trapo que escolhesse pela manhã e
ainda seria maravilhosa. Ninguém ousava julgá-la por isso. Talvez por sua
personalidade e charme. Todas as roupas que vestia pareciam compor quem
ela era e isso nunca seria errado.
Porém, Sofia, que se escandalizara com o vestido que Thaís trouxera
para ela, não gostaria de vestir algo ainda menor.
— Não sou surda, vocês sabem — Lorrany falou tranquilamente, ainda
mexendo no celular. Não se importava com a opinião de terceiros sobre si, e
sabia que suas amigas não falavam por mal. Apenas se vestiam diferente.
Cafonas, pensou. — Se não quiser usar o vestido que Thaís trouxe, amada, —
fingiu um tom condescendente. — você terá que usar um dos meus. O que eu
prefiro, certamente. Tenho um que é do babado e ficaria ótimo com essa sua
bunda. Talvez dê até para vê-la um pouco. E os seus peitos também. Ficariam
ó — fez um sinal com o polegar e o indicador. Sorriu zombeteira. — Seja
qual for a sua escolha, decida-se logo, não tenho a noite inteira. Mas, nem
pense em escolher uma daquelas suas roupas de freira. Por isso não estamos
na sua casa, aliás — e voltou a dedicar-se ao celular.
Sofia suspirou. Desconfiava disso, mas agora que sua amiga dissera,
tinha certeza.
Assim que acabaram as aulas, Thaís, que também estudava ali, as
encontrou na saída da universidade, suada e ansiosa pelas novidades. Viera
correndo o percurso inteiro da sua sala no segundo andar assim que recebera
uma mensagem de Lorrany, que não perdera tempo, a informando sobre os
acontecimentos recentes.
Sofia não se importou que fofocassem sobre sua vida na sua presença,
como se ela nem estivesse ali.
Não se importou com o sol escaldante que as acompanhava até o
estacionamento.
Não se importou com o seu celular que vibrava ininterruptamente,
anunciando o recebimento de chamadas e novas mensagens.
Não se importou que algumas pessoas pelas quais passava olhavam
para ela e sussurravam, surpresas.
Nem se importou com o olhar ultrajado que Arianna lhe lançara,
quando se cruzaram no estacionamento.
Não se importou com nada.
Nada parecia ter importância depois da pequena surpresa que
encontrara na porta da sua sala, quando o sinal tocara novamente, dessa vez
anunciando o encerramento das aulas.
Saíra ainda juntando o seu material, por isso não notara que alguns dos
seus colegas de curso revezavam o olhar entre ela e a pessoa parada ao lado
da porta que a fitava e sorria da sua falta de jeito para guardar suas coisas na
pequena bolsa, encostado casualmente na mesa do professor que fora um dos
primeiros a sair.
Só o vira quando conseguiu, finalmente, fechar a bolsa e levantou o
olhar, afastando um cacho dos seus cabelos que se soltara do rabo de cavalo.
Parou onde estava, à dois passos da porta e o encarou de olhos
arregalados.
Ele a fitou por mais alguns segundos e riu, esticando o braço e
puxando-a para sí, ainda encostado na grande mesa.
— Oi — disse suavemente, abraçando sua cintura.
Sofia, que não gostava em absoluto de demonstrações daquele tipo em
público, viu-se relaxada nos braços daquele ainda estranho.
O que a surpreendeu, só não mais que o fato de ele estar ali, na sua sala,
claramente a sua espera.
O que a fez se perguntar: como ele descobrira onde era a sua sala?
— Oi — respondeu baixinho, corando enquanto as pessoas que
passavam do lado de fora e claramente os viam arregalavam os olhos,
surpresas e diminuíam os passos, para observar mais. Cidade pequena, as
mesmas pessoas todos os anos... Todos se conhecem, o que é horrível, na
opinião de Sofia.
Felizmente, eram muitas pessoas saindo ao mesmo e tempo, e uma
parte delas - os mais sensatos, na opinião de Sofia - queriam apenas sair
daquele prédio e ir para suas casas ou quaisquer que fossem seus destinos. De
forma que os que queriam observá-la por mais alguns segundos, logo eram
empurrados pelos que vinham atrás.
Infelizmente, não poderia dizer o mesmo dos seus colegas de classe que
permaneceram na sala, mesmo sendo óbvio que não estavam ali para outra
coisa que não observá-los.
Mas ali estavam, uma dúzia de garotos e garotas curiosas que careciam
de algo melhor que fazer do que observar e depois fofocar sobre a vida de
terceiros. Arianna entre eles.
Sofia estremeceu.
Henrique acariciou suas costas, observando seu rosto com atenção.
— Tudo bem? — perguntou.
Ela respirou fundo, tentando esquecê-los e focar-se somente nele.
— Sim — respondeu, relaxando em seu abraço. Surpreendeu-se com o
quanto poderia estar tão relaxada nos braços dele. Se conheceram à menos de
um dia e já ficavam assim, abraçadinhos na frente de todos.
— Tem certeza? — perguntou ternamente, sem olhá-la.
Henrique lançou um olhar sério pelos curiosos, que viraram
rapidamente, pegando bolsas e livros e praticamente correndo em direção à
saída. Sofia riria, se uma das pessoas não tivesse permanecido ali.
Ela não precisava olhar para saber quem era.
Arianna.
Sofia sentia sua nuca queimar e quase pediu que saíssem dali. Porém,
antes que abrisse a boca, ele lançou mais um olhar sério para a pessoa às suas
costas e voltou a fitá-la.
— Precisamos conversar — disse.
Estremeceu novamente. Sobre o que ou por quê ele precisava conversar
com ela?
Será que já se arrependeu por tê-la chamado para sair? Ou ouvira
alguma coisa sobre ela nos corredores?
Ou pior, se incomodara por ouvir seu nome pelos corredores?
Ou, ainda pior, teria ele se encontrado com Sebastian novamente?
Sofia rezou para que não fosse esse o tópico da conversa. Porque, se
sim, com certeza ele desistiria de aproximar-se dela de vez.
— Tudo bem — disse baixinho e se afastou um passo.
Ele soltou sua cintura e encaminhou-se para a saída, tomando-a pela
mão. Ela surpreendeu-se com esse gesto.
Isso a deu esperanças de que sobre o que quer que fosse a conversa, não
seria sobre arrependimentos. Com isso em mente, segurou sua mão com força
e deixou-se ser levada pelos corredores da universidade, para onde quer que
ele fosse.
Ele seguiu abrindo caminho em meio a massa de pessoas que paravam
para conversar nos corredores e a levou para a saída.
Sofia pensou que sentariam em algum dos banquinhos como aquele em
que sentara pela manhã com ele, porém ele seguiu andando mais um pouco,
não em direção à saída ou aos banquinhos, mas sim em direção à lateral do
grande pátio.
E encontrou o que buscava: uma frondosa árvore mais afastada das
outras, talvez até uma das maiores entre todas.
Ela abriu a boca para perguntar o por que de ele tê-la levado até ali,
entretanto, antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele se encostara na árvore,
onde ninguém que saísse ou caminhasse por ali o visse e a puxou novamente
para si.
— O que...
Ele a beijou.
E Sofia surpreendeu-se com a intensidade daquele beijo.
O que compartilharam antes, que ela pensava ter sido o beijo mais
sensacional da sua vida, em nada se comparava com aquele.
Logo ela viu-se incapaz de fazer qualquer outra coisa que não beijá-lo e
apertar-se contra ele.
Henrique subiu as mãos por suas costas e, encontrando a massa
desorganizada dos seus fios presos no rabo de cavalo, puxou o fino elástico
que os unia e soltou seus cabelos.
Ele colocou o pequeno elástico no bolso e embrenhou as duas mãos nos
seus fios acobreados, inclinando sua cabeça como bem quisesse, para beijá-la
mais profundamente.
Ela gemeu quando ele mordeu seu lábio inferior, estremecendo e sentiu
a bolsa começar a escorregar por seu ombro.
Notando o mesmo, Henrique pegou a bolsa, sem deixar de beijá-la e
deixou-a no cair no chão, voltando a tomar posse dos seus fios novamente.
Sofia não se importou com o pequeno barulho que soara quando sua
bolsa pousou no chão. Não lembrava se havia algo frágil ali dentro e tão
pouco se importava.
Tudo o que importava era que ele continuasse a beijando e abraçando
com força.
Não notou que suspendera sua respiração até que ele descolou a boca
da sua e, com um gemido rouco, percorreu seu rosto com os lábios e puxou
seu cabelo de leve, inclinando seu pescoço. Onde pressionou os lábios.
Ela tomou uma respiração profunda, gemendo baixinho de olhos
fechados ao sentir a língua dele percorrer sua pele quente.
Ele a beijou, lambeu e mordiscou de leve, fazendo-a tremer em seus
braços.
— P-pensei que fossemos c-conversar — disse trêmula.
Ele mordiscou sua pele mais uma vez, beijando o local antes de
levantar a cabeça para fitá-la. Ela fez o mesmo.
Seus cabelos compridos, pouco abaixo dos ombros, estavam levemente
bagunçados e somente naquele momento Sofia notara que tinha as mãos ali.
Seus olhos estavam entrecerrados, escuros, sem a sombra de cor que
normalmente os iluminava. Seus lábios estavam levemente inchados, úmidos
e sua expressão era o que Sofia poderia descrever como única e
simplesmente: desejo.
Ela poderia descrevê-lo com facilidade porque também era o que
sentia.
— E estamos conversando — ele disse baixo, sua voz ainda mais
rouca, profunda.
— Estamos? — ela sussurrou.
— Ah, sim. Certamente — ele afirmou, descendo as mãos por suas
costas, causando arrepios no corpo dela. — Isso é o que eu particularmente
chamo de uma boa conversa — sorriu malicioso.
— Ah — ela disse debilmente.
E ela precisou assumir para si mesma que aquele tipo de conversa
passara a ser a sua preferida.
CAPÍTULO 9
Ele sorriu observando seu rosto, seus cabelos e tudo sobre ela, como
sempre fazia.
— Você quer conversar? Uma conversa normal, digo. Daquelas que só
palavras saem das nossas bocas — perguntou ainda sorrindo de leve.
— Hum — ela disse, sem conseguir pensar direito com aquele corpo
enorme e másculo colado ao seu.
Sentia-o por todo o seu corpo.
E, mais precisamente, sentia uma parte específica dele pressionada
contra uma parte também específica do seu corpo.
O mínimo movimento não intencional - ou sim - de ambos, fazia com
que aquilo roçasse com mais força contra ela.
E ela não sabia o que pensar sobre aquilo.
Aquilo, a situação, não "aquilo" a coisa dele. Vocês entenderam.
— Vou entender isso como um não — dissera ele.
Ela apenas piscava, o olhando, desejando por mais daquilo, mais dele,
mas sem saber como dizer isso em voz alta.
Ele a fitou por alguns segundos, percorrendo os fios vermelhos com os
olhos, depois com as mãos.
— Você é tão linda — murmurou, impressionado. Sofia não acreditava
nisso, mas achou melhor não discutir sobre isso naquela hora e não sentia-se
disposta para uma discussão sobre a sua beleza - ou, nesse caso, na opinião
dela, a falta dela. — Por que prende os cabelos assim?
— É mais prático — respondeu, com a respiração já normalizada.
— E não pesa? — ele perguntou. Ela confirmou com a cabeça, ainda
sentindo o toque dele nos seus fios. — Então não deveria prendê-los. Deveria
ser crime prender um cabelo tão lindo assim.
Ela corou, mais do que já estava. Ficou calada, apenas piscando e o
encarando.
Ele brincou mais um pouco com o seu cabelo e depois olhou-a nos
olhos, voltando a abraçá-la.
— De que horas devo buscá-la? — perguntou.
Sofia sentiu-se confusa por um momento, depois lembrou-se do
encontro que teriam à noite.
— Não sei — disse. Não queria confessar que nunca saíra em um
encontro e não sabia à que horas geralmente isso era feito. Preferiu ficar
calada e esperar que ele sugerisse o horário. O que ele fez depois de pensar
um pouco.
— Tenho que passar em um lugar para pegar algo, antes de pegar você
— ele disse. — Às sete está bom para você?
Ela concordou com a cabeça, rapidamente.
— Bom. Às sete, então — ele sorriu, beijando sua bochecha, como se
não conseguisse resistir ao impulso de beijá-la. — Tenho uma surpresa para
você.
— Uma surpresa? Para mim? — ela se surpreendeu.
— Sim.
— O que é? — perguntou antes que pudesse se conter. Ele riu.
— Se eu contasse não seria mais uma surpresa, não? — riu da
expressão contrariada dela, selando seus lábios rapidamente. — Mas garanto
que você vai gostar — disse com um sorriso malicioso.
Ela estremeceu, abraçando-o mais apertado.
Ele respirou fundo, deixando o sorriso escorregar por seus lábios e
voltando a fitá-la com desejo.
— Acho que precisamos ir agora. Já conversamos.
— Acho que sim — ela disse, embora, se pudesse, escolheria não sair
dali nem tão cedo. Tipo, nunca.
Porém, afastou-se relutante, pescou sua bolsa no chão e já ia dar o
primeiro passo para sair dali quando ele riu. Ela o encarou confusa.
— Onde pensa que vai? — perguntou ainda sorrindo.
— Hum... Para casa? — a afirmação saíra como uma pergunta, dado a
sua confusão.
Ele riu novamente, puxando-a para si mais uma vez. Ela não teve
escolha se não encostar-se a ele, sentindo-o por todo seu corpo novamente.
— Para casa? Assim? — perguntou, fingindo um tom repreendedor. —
Não está esquecendo nada?
— Hum... Não? — franziu o cenho.
Ele riu malicioso.
— Ah, Sofia, assim você me magoa — aproximou seu rosto do dela,
inclinando-se. — Tem certeza que não esqueceu nada?
Ela negou com a cabeça, incapaz de falar com os lábios dele tão
próximos aos seus.
— Mesmo? — perguntou rouco. — Não sabe que é falta de educação
despedir-se de alguém com quem estivera conversando, antes de sair
andando? — fingiu repreendê-la. — Que feio.
Ela sentia-se em suspenso, fitando os lábios dele, desejando prová-los
novamente.
— Tchau? — ele riu novamente. — Eu mereço ao menos um beijo de
despedida, não? — fingiu um tom triste. — Não mereço?
Ela não respondeu, começando a ficar ofegante. Mas como ele ainda
aguardava uma resposta ela apenas afirmou com a cabeça.
Ele fitou-a com os olhos entrecerrados, mordendo o lábio inferior e
inclinou-se um pouco mais, em direção à sua orelha.
— Beije-me, Sofia — sua voz agora não passava de um sussurro rouco.
Ela arrepiou-se e precisou segurar um gemido quando ele, antes de afastar o
rosto, mordiscara levemente o lóbulo da sua orelha. — Beije-me como eu a
beijei. Com fome.
Ele se afastou e a encarou, sem sombras de sorrisos e esperou que ela
fizesse aquilo.
Ela sentia-se fora do seu próprio corpo. Nunca se sentira tão excitada
na sua vida e não seria capaz de resistir ao pedido dele. Que também era o
seu.
Pressionou a boca na dele e por um segundo ficou parada, apenas o
sentindo de olhos fechados. Depois, como ele fizera, embrenhou os dedos no
seu cabelo e o puxou, mordendo seu lábio inferior de leve.
O resultado fora surpreendente.
Dessa vez, ele que estremecera, gemendo e a atacou como um animal
que estivera perseguindo sua presa por horas e agora a tinha cativa.
Colocou as mãos por baixo do seu moletom e acariciou a pele da sua
cintura, movendo-se rapidamente e invertendo suas posições, pressionando-a
contra árvore.
Sofia gemeu ao senti-lo acariciar sua pele, perigosamente perto dos
seus seios e inclinou-se, como se dando permissão para isso.
Mas ele parecera pensar melhor e retirou as mãos rapidamente. Ela
quase gemeu em protesto.
Quase. Porque, grunhindo mais uma vez, ele a rodeara com os braços e
deslizando as mãos por suas costas, pressionando-a mais contra si,
estacionou-as na sua bunda, apertando-a com força.
Sofia arfou e depois gemeu, quando ele apertou sua bunda com as duas
mãos e a puxou contra seus quadris, movendo-se lentamente.
Ela puxou o cabelo dele com força, sentindo-se perto de ruir.
Deus, como aquilo era possível? Ele a fazia sentir-se fora de órbita,
quente e excitada ao extremo.
Fora uma pena para ela quando, após um grunhido, ele aliviara o aperto
das mãos e voltou a percorre-las por seu corpo, diminuindo aos poucos a
intensidade do beijo, até selar seus lábios várias vezes, delicadamente e
afastar-se um passo.
— Agora vá — disse, a voz profunda. — Vejo você às sete.
Ela balançou sobre suas pernas, trêmula, sem conseguir pensar direito.
Precisou de alguns segundos e respirou fundo duas vezes antes de fitá-lo mais
uma vez e virar-se para ir embora.
Quando dera dois passos ele chamou seu nome. Ela virou-se para ele e
o observou encostado na árvore, fitando-a com fome nos olhos.
— Não prenda o cabelo.
Ela concordou com a cabeça e seguiu em direção à saída, rindo
tolamente até que encontrara Lorrany e depois Thaís.
Quando já estavam na casa dela, algumas horas depois, após pararem
para comer a primeira coisa gordurosa que encontraram na pequena
lanchonete próxima a sua casa, que contara, ainda boba como permanecera
pelo resto do dia, que naquela noite, ela, Sofia Villar, teria um encontro.
Depois fora um inferno suportar suas amigas gritando e planejando mil
e uma coisas que deveriam fazer antes do milagroso encontro, até que Sofia
anunciara, despreocupada, que este seria naquele dia, às sete.
Daí, o inferno foi triplicado e acabaram ali, na casa de Thaís - já que
Sofia não seria capaz de arrumar-se sozinha e com dignidade pela primeira
vez na vida - para produzi-la para o seu encontro.
O primeiro de sua vida.
Esperava que os esforços das suas amigas dessem certo. E que aquela
noite fosse perfeita.
— Sofia! — Lorrany berrou, atirando uma almofada na sua cara. Sofia
se sobressaltou, voltando para o presente.
— Aí! Está maluca?
— A maluca aqui é você! Está fazendo o que ai, parada, olhando pro
tempo como se ele fosse seu melhor amigo? Vamos! — exclamou,
finalmente se levantando do sofá. Pegou Sofia pelo braço e a arrastou em
direção ao banheiro do quarto de Thaís. — Se você pretende sair com aquele
gostoso ainda hoje, primeiro precisa tomar um bom banho.
— Eu posso andar sozinha - resmungou, mas não se afastou dos
pequenos empurrões encorajadores da amiga.
— Disso eu não tenho dúvidas, já que caminhou felizinha para o
matadouro hoje mais cedo com o seu gostoso, não é? Mas eu não te culpo,
sabe? Eu também iria com muita boa vontade para qualquer lugar com aquela
divindade. Para dar umas sarradas pressionada contra uma árvore então, até
correria. Sortuda — resmungou, parando no seu caminho para pegar a toalha
felpuda que Thaís a estendia, rindo. — É a vida, alguns com pouco e outros
com tanto. Injustiça.
— Eu não caminhei felizinha para dar umas sarradas com ninguém! Ele
me chamou para conversar e...
— E então sarrou em você, quase a comeu ao ar livre e coisa e tal. Sim,
eu sei. Não precisa passar na minha cara novamente, entendi da primeira vez
— a interrompeu, chegando finalmente na porta do banheiro. A abriu e
enfiou Sofia lá dentro, berrando antes de fechar a porta: — Não esqueça de
depilar as pernas.
Fechou a porta e já ia refazer seu percurso até o tão amado e
desconfortável mini-sofá de Thais quando, lembrando-se de algo, abriu a
porta e colocou apenas a cabeça para dentro.
— E mais para cima também, se é que você me entende — balançou as
sobrancelhas sugestivamente. Mas quando viu que Sofia apenas a encarava,
sem compreender, explicou, bufando ultrajada. — A perseguida, Sofia!
Depile a perseguida! — e para o caso de restarem dúvidas: — A xavasca,
Sofia, querida. Depile a xavasca, sim? Obrigada.
E fechou a porta, bufando e resmungando como os jovens de hoje em
dia são tapados, como se ela não tivesse a mesma idade que Sofia.
Thaís apenas ria, rolando na cama. Nunca se acostumaria com as
loucuras da sua amiga. Ela sempre tinha uma tirada ou outra para toda e cada
uma situação. E eram sempre hilárias.
Alguns minutos depois, uma Sofia higienizada e corada - se pelo banho
ou ainda pelas palavras de Lorrany, ela não saberia dizer - saíra do banheiro e
deram início a missão que denominaram como "abre porteira".
Que espécie de nome era aquele, Sofia não saberia dizer, e preferia
continuar assim.
Porém, Lorrany, a quem todos conheciam, além do seu estilo, por ser
uma pessoa patologicamente incapaz de calar a boca, explicou.
— É apenas uma expressãozinha que usamos às vezes quando
necessitamos que alguém abra nossa porteira. Só acontece uma vez na vida
de cada garota. Mas você não precisa se preocupar com isso — disse. — A
menos que você não tenha feito o que mandei — lançou um olhar ameaçador
para Sofia. — Você fez, não é?
— Fiz o que? — perguntou confusa com aquela conversa.
Não sabia o que porteiras e alguém as abrindo tinham a ver naquela
história. Porém, a maioria das coisas que saiam pela boca da sua amiga nunca
faziam sentindo mesmo. Ao menos, não para ela.
Thaís riu, sentando na cama.
— O que ela quer dizer é...
— Que espero que você tenha desmatado esse matagal no meio das
suas pernas, Sofia — Lorrany a interrompeu. — Caras, ou a maioria deles,
não gostam de pelos nos dentes, sabe? Então, espero sinceramente que você
tenha sido uma boa menina e tenha deixado tudo prontinho.
— Eu fiz o que você mandou, embora não existisse matagal nenhum. E
podemos parar de falar desse assunto? Obrigada — voltou-se para o espelho
à sua frente na penteadeira, notando como sua pele estava vermelha.
Notando o quanto ela estava incômoda com aquele assunto, Thaís
tentou ajudar.
— Claro, amiga. Esse é um assunto muito...
— Sério. Um assunto muito sério — Lorrany a interrompeu
novamente, virando o banquinho em que Sofia estava, de frente para si. — Se
você vai sair com um cara, deve saber de algumas coisas. E se essa for a
primeira vez que você faz isso, então você precisa saber de muitas coisas.
Rendendo-se ao notar que não escaparia daquele assunto, virou-se de
frente para suas amigas e empertigou as costas.
— Quais coisas? — perguntou, corando.
Feliz ao receber sua total atenção, Lorrany caminhou até a cama, que
ficava exatamente de frente onde Sofia estava e sentou-se ao lado de Thais.
— Bom, vejamos por onde começar — cruzou as pernas e colocou uma
mão no queixo com uma expressão pensativa. — Primeiro, se ele quiser levar
você para um motel, diga não. Não se leva una garota que acabou de
conhecer de cara para um motel.
— Lorrany! Ele não vai me levar em um motel! E...
— E, se ele insistir, acaricie o meio das pernas dele com o seu salto —
a interrompeu. — Chute com toda força.
— Ele não vai me...
— Segundo — a interrompeu novamente, contando nos dedos
conforme falava. — Se ele a levar em algum lugar suspeito, ligue para
alguém. Em casos de desaparecimento, a polícia sempre tem como registrar e
rastrear essas coisas. E, se você me ligar, eu mesma chuto as bolas dele —
continuou. — Terceiro; se ele pedir para você brincar com os amigos dele,
caia fora. Eu até indico ménage e tal, mas não parece ser a sua praia. E não
seria bom na sua primeira vez.
— Meu Deus! Nós não vamos transar, Lorrany! É apenas um encontro
e...
— E, em quarto lugar, se você resolver, mesmo contra meus conselhos,
ir para um motel, use camisinha. Você nem conhece o cara e tal, não sabe se
ele tem gonorreia ou sífilis ou coisa pior. Portanto, não arrisque — a encarou
com seriedade. Respirou fundo e depois riu, relaxando, olhando para Thaís.
— Foi mais fácil do que pensei.
Thaís balançou a cabeça, rindo levemente.
Sofia apenas as encarava, chocada. E vermelha da cabeça aos pés.
— É apenas um encontro! Nós não vamos transar! — exclamou.
Depois gaguejou: — N-não que eu não queira. Digo, é... Com ele. Eu quero.
Eu acho — disse confusa. Balançou a cabeça. — Mas, de qualquer forma, eu
não vou transar com ele hoje. Acabei de conhecê-lo!
— E daí?
— Lorrany! - Thaís exclamou. — O que Sofia querendo dizer é que ela
não se sente pronta para isso ainda. Ela precisa conhecê-lo primeiro, confiar
nele, e aí sim, depois disso, pensar se quer ou não transar com ele. Ou ir para
um motel.
Sofia apenas balançou a cabeça, concordando.
Sentia-se mortificada com aquela conversa e pior, por ser o centro dela.
Mas já deveria estar acostumada com essas situações, ainda mais sendo a
única ainda virgem entre as amigas.
— Mas ela precisa entender que existem algumas coisas que ela ainda
não sabe. Coisas que ela pode fazer, sem de fato precisar transar com ele —
Lorrany se justificou.
— Eu ia chegar nessa parte — disse Thaís. — Sei que você só quer
ajudar, amiga, mas precisa maneirar um pouco no que diz. Certo? — a
encarou e Lorrany concordou com a cabeça, contrariada, fazendo seus cachos
balançarem no ar. Thaís riu da sua expressão emburrada, mas resignada e
virou-se novamente para Sofia. — Então, como Lorrany disse, existem
algumas coisas que você pode fazer sem propriamente transar com ele. Você
precisa saber o que ou quais são essas coisas ou já tem ideia do que estamos
falando?
Sofia queria que um buraco surgisse aos seus pés bem ali, no meio do
quarto.
Porém, precisava saber ao menos um pouco sobre o assunto e, tendo
em vista o que acontecera naquela árvore, era provável que acontecesse
novamente.
— Eu posso... É... Tocá-lo lá? — suas bochechas não coravam mais,
elas ferviam.
— No pau dele? — Lorrany perguntou.
Dando uma cotovelada na amiga e ignorando quando ela resmungou
alguma coisa, Thaís concentrou-se em Sofia.
— Claro — sorriu um pouco maternal. — Você pode tomar a iniciativa
ou, é claro, deixá-lo levar sua mão até lá.
Sofia concordou com a cabeça, mostrando que compreendeu. Em
seguida, respirando fundo, perguntou:
— E ele pode... É... Retribuir o favor? Digo, tocar a minha...
Intimidade?
— Você quer dizer "boceta".
— Lorrany! — Thaís a repreendeu. — Claro que pode, Sofia. Mas
apenas se você se sentir confortável.
— Ou você pode pedir para ele chupá-la — Lorrany sugeriu, falando
rapidamente antes de ser interrompida. — Você sabe, na sua "intimidade".
Ou pode fazer o mesmo por ele também, mas peça que ele a auxilie na
primeira vez. E se ele pedir que você coloque a boca em alguma coisa que
você considere suspeita — fez um círculo com o polegar e o dedo indicador.
— Diga que não. Alguns caras gostam disso, mas eu particularmente não
colocaria minha boca no cu de alguém.
— Já entendi! — Sofia exclamou, levantando-se do banquinho, mais
vermelha que nunca. — Vamos mudar de assunto. Ou melhor, você poderia
calar a boca por cinco minutos e terminar de uma vez essa maquiagem —
disse fitando Lorrany.
Esquecendo aquele assunto pelos próximos minutos, elas se
concentraram em produzi-la.
E, de repente, depois de pouquíssimos esforços do trio, eis que Sofia
tivera uma surpresa.
Aquela pessoa que a encarava de volta no espelho não poderia ser ela.
Surpresa, percebeu que gostava do que via. E imaginou se ele pensaria o
mesmo.
CAPÍTULO 10
Uma das razões pelas quais preferiram ir para casa de Thaís em vez de
permanecerem na sua, foi que, além de Sofia não possuir nada no
departamento "embelezamento", também corriam o grave risco de Sebastian
chegar a qualquer momento.
E isso não seria algo que alguma delas desejaria.
Sofia deduzira isso quando, após negligencia-lo por quase um dia
inteiro, resgatara o celular na sua bolsa, em meio a um sem fim de coisas
desnecessárias e surpreendeu-se com o grande número de mensagens e
ligações perdidas. A maioria delas do seu irmão.
Por certo ele ouvira algo sobre o que acontecera na biblioteca e, ao não
a encontrar na saída da universidade, descontou toda a sua frustração e ira ao
ser ignorado na sua caixa de mensagem.
Ignorando boa parte delas, ouviu algumas e leu suas últimas mensagens
e deduziram - ela, Thaís e Lorrany - que deveriam partir imediatamente.
Como trabalhava na oficina do seu amigo após as aulas, Sebastian não
tivera como segui-la imediatamente quando notara sua ausência e de suas
amigas, mas Sofia não confiaria na sua sorte permanecendo ali; ele poderia
sair mais cedo com a intenção de interrogá-la sobre o que ocorrera.
E ela não precisava de mais uma discussão com o seu irmão. Ainda
mais estando prestes a sair com Henrique.
Por isso, ela fizera uma pequena mochila com seus objetos pessoais,
avisara a sua mãe que dormiria na casa de Thaís e fugira às pressas.
Se sua mãe notara sua pressa, preferira não comentar.
Virna geralmente era uma mulher muito discreta, mas se soubesse o
verdadeiro motivo por trás da correria da sua filha ao sair de casa, esta não
sairia dali tão cedo.
Ao menos não antes de ser obrigada a contar com quem sairia, onde o
conhecera, o endereço dele e nomes dos seus pais.
Sofia conhecia sua mãe bem demais para arriscar-se a atrasar-se ainda
mais.
Fora testemunha da curiosidade da sua mãe vezes sem conta, todas
destinadas ao seu irmão e suas conquistas amorosas.
Isso sempre a divertiu, mas não gostaria de sentir na pele o que seu
irmão sofrera. Ao menos até que conhecera Vanessa e, após alguns meses,
anunciara o namoro.
Sebastian daí em diante, com sua vida amorosa mais tranquila e a
animosidade de Virna para com sua namorada - não que ela demonstrasse tal
desagrado tão abertamente. Não, ela era muito educada para isso, porém
também nunca a adulava ou conversava por horas, como sempre fazia com
todos que ela gostava - ele passara a respirar aliviado sempre que comunicava
que sairia e sua mãe apenas o implorava para tomar cuidado ou perguntar se
não seria uma boa ideia ele levar Sofia consigo.
Isso para Sofia era um inferno. Além de ser obrigada a sair de casa sem
a sua vontade, teria que segurar vela para seu irmão e sua namorada
antipática.
Mas, com o tempo e a preciosa ajuda de Otávio, Virna finalmente
desistira e todos na casa passaram a ter paz.
Sofia permanecia em casa na companhia dos seus amados livros e
estudos e Sebastian saía para onde quer que desejasse sem ter que levar à tira
colo sua irmã-farol-de-machos.
Após ouvir todas as outras mensagens ultrajadas e cheias de palavrões
do seu irmão, enquanto se dirigiam para a casa de Thaís, Sofia lembrou-se
que Henrique não perguntara o seu endereço. Nem o seu número.
Como ele a buscaria se nem sabia onde ela morava?
E, pior: se ele perguntasse a alguém, descobrisse seu endereço e ela não
estivesse lá, e sim Sebastian?
Ela quase pirou.
Quando finalmente chegaram na casa de Thaís, suas amigas
perguntaram por quê ela estava tão tensa e ela explicou.
Porém, antes que Lorrany começasse a xingá-la por não ter passado seu
número, redes sociais e e-mail para ele, o celular de Sofia começou a vibrar
no seu bolso.
Imaginando ser, mais uma vez, seu irmão, ela ignorara a chamada,
cumprimentando a mãe e irmãos de Thaís enquanto subia as escadas para o
quarto da sua amiga, no primeiro andar. Suas amigas permaneceram na sala
enquanto ela subia, entrava no quarto e desabava na cama, imaginando se
haveria no mundo pessoa mais azarada que ela.
Como se esquecera daquilo?
Como ele faria para buscá-la sem saber seu endereço nem seu paradeiro
no momento?
Ela começou a enlouquecer.
— Escute só, seu idiota. Eu não sou nenhuma garotinha indefesa e
muito menos menor de idade! — gritou quando atendeu o celular que vibrava
pela terceira vez seguida. — Se eu quiser sair com alguém, eu vou! Você não
é meu pai, não manda em mim e não tem autoridade nenhuma para isso! —
respirou fundo e continuou: — Eu o avisei uma vez e não me faça dizer de
novo! Você sabe que não faço promessas em vão e, juro por Deus, se você
insistir nessa atitude de homem das cavernas comigo eu nunca mais falo com
você! — fez outra pausa, tentando se acalmar e notou que o outro lado da
linha estava em silêncio. Teria ele desligado na cara dela? — Sebastian?
Sebastian, se você estiver de brincadeira com a minha cara eu vou...
— Hum. Não é o Sebastian — uma voz diferente dissera do outro lado.
Ela pulou assustada e sentou-se na cama, com os olhos arregalados.
Afastou o celular da orelha e checou o visor, notando só naquele
momento que não era o número do seu irmão que a ligara. Era um número
desconhecido.
E ela, por todo aquele tempo, gritando como uma maluca, desabafando,
descontando toda a sua frustração em alguém que nem merecia.
Pior, alguém que nem conhecia, já que o número não estava registrado
nos seus contatos.
— Tem alguém aí? — o homem, deduziu pela voz grave, riu um pouco.
— Hum... É... Desculpe. Pensei que era outra pessoa — disse, sentindo
as bochechas queimarem de vergonha. Agradeceu aos céus por estar sozinha
no quarto e sem testemunhas.
— Sim, eu percebi — riu novamente. Provavelmente a estava achando
hilária, pensou. — O que ele fez para você?
— Quem? — perguntou.
— Sebastian, o fruto da sua ira — riu
— Ah, sim — pigarreou desconfortável. — Nada importante, na
verdade. Coisa de ir...
— Irmãos, eu sei. Mas ele discutiu de novo com você ou algo assim?
Sofia afastou o celular novamente, encarando a tela assustada.
Quem era aquele estranho e como sabia que Sebastian era seu irmão?
Seria alguma pegadinha de algum dos amigos idiotas dele? Ou...
Não, ela pensou, sentindo o sangue fugir do seu rosto.
Não seria possível!
Como ele conseguiria seu número? Ela balbuciou alguma coisa e
depois recolocou o celular na orelha, pigarreando.
— Hum. Quem é? — perguntou temerosa.
Que não seja ele. Que não seja ele.
Qualquer um menos ele. Que não seja...
— Não reconheceu a minha voz? — ele perguntou, fingindo um tom
triste, perceptível até mesmo naquela ligação. — Que feio, Sofia. Pensei que
nosso momento mais cedo não sairia da sua cabeça tão cedo, tal como não
saiu da minha durante todo o resto do dia.
— Henrique — sussurrou, fechando os olhos.
Deus, por que ela sempre tinha que passar vergonha perto dele? Agora,
até em uma simples ligação!
Ela precisava urgentemente de ajuda médica, aquilo não era normal.
Ele riu novamente.
— Vejo que lembrou — disse. — Consegui o seu número com um dos
caras da universidade. Espero que não se importe.
— Não, não. Tudo bem — falou, ainda sentindo-se uma tola.
— Liguei para saber o seu endereço. Ficamos tão... Ocupados mais
cedo, que esquecemos esse pequeno detalhe — riu mais uma vez, seu tom
malicioso.
Ela arrepiou-se.
Não conseguira tirar todos aqueles poucos minutos na presença dele da
cabeça durante todo o dia. Como poderia, afinal?
Nunca antes sentira algo minimamente parecido com o que sentira
aquela manhã com ele.
E, precisou admitir para si mesma, estava ansiosa por mais.
— Ainda vamos sair, certo? — ele perguntou.
Sofia despertou do mundo de lembranças em que estava.
— Sim! — respondeu rapidamente. Meneando a cabeça e
repreendendo-se por parecer tão desesperada, repetiu com uma calma que não
sentia: — Sim, claro. Ainda vamos sair. Mas temos um problema.
— Qual problema? — ele perguntou curioso.
— Não estou em casa — disse.
— E onde você está?
— Na casa de uma amiga. Viemos para cá depois das aulas.
— Ah, então vocês estão fazendo um desses rituais de garotas — disse
rindo.
— Rituais de garotas? — perguntou confusa.
— Sim, rituais de garotas. Essas coisas que vocês sempre fazem juntas.
Como arrumar o cabelo, pintar as unhas umas das outras e essas coisas que
mulheres fazem.
Sofia riu, relaxando aos poucos.
— Ah, sim. Esses rituais. É, pode-se chamar assim — sorriu para o
nada. Era sempre uma experiência única conversar com ele.
Após a pequena fase de gagueiras e vergonhas as quais ela é sempre
suscetível ao início de cada diálogo, é claro.
— Existem outros? — perguntou interessado.
— Outros o que?
— Rituais. Você disse "ah, esses rituais". Pergunto-me se existem
outros.
— Ah — ela riu, um pouco sem graça ao admitir: — Na verdade eu
não sei.
— Quando souber então, conte-me. Adoraria ouvir sobre todos os
detalhes sobre reuniões femininas e seus rituais.
Ele riu mais uma vez e ela o acompanhou.
Se ele notara seu deslize ao quase admitir em voz alta que aquele seria
o seu primeiro encontro da vida, não deixara transparecer e ela agradecia por
isso.
— Então — ele falou após alguns segundos de um confortável silêncio.
— Você está pronta?
Ela fitou seu reflexo no espelho da penteadeira de Thaís a sua frente.
Olhou para o seu moletom e cabelos desgrenhados.
— Quase pronta — respondeu, tentando não entrar em pânico.
— Bom. Quando estiver completamente pronta, — riu. — ligue para
mim.
— Tudo bem — respondeu, um pouco mais tranquila ao notar que ele
não estabelecera um tempo para isso.
Já eram quase sete horas e ele não estava preocupado com o seu atraso,
parecia apenas satisfeito por saber que ela não dera para trás de última hora.
— Mas antes, diga-me o endereço da sua amiga — pediu.
Sofia ditou o endereço e o informou sobre qual rota seria mais rápida
naquele horário, mas como não sabia onde ele estava, desistiu no meio de
uma explicação mais detalhada sobre a hora do rush no centro da cidade e
seus infinitos engarrafamentos.
— Vejo você em breve — ele dissera.
— Vejo você em breve — ela respondeu, sorrindo.
— Ah. E, Sofia — ele disse, antes que ela pudesse desligar a ligação.
— Não prenda o cabelo — ela pode ouvi-lo rir baixinho antes que a chamada
fosse encerrada.
Encarou a tela do celular e riu, jogando-se de costa na cama de Thaís.
Poucos segundos depois, em um timing perfeito, suas amigas
adentraram o quarto, com Lorrany fazendo um escândalo como sempre e
colocaram mãos a obra, após a conversa constrangedora sobre depilação,
motéis, camisinhas e ménages.
E finalmente estava ali, pronta.
Em frente ao espelho ela fitava seu reflexo, ainda admirada.
Ela não se achava a mais feia das espécies, nem tão pouco a mais
bonita. Mas aquela mulher que a olhava de volta no espelho não poderia ser
ela.
Era impossível.
A maquiagem que Lorrany fizera, não muito marcada, apenas um
"esfumadinho básico" como ela declarara, realçava a cor dos seus olhos, que
naquela noite pareciam mais azuis, como duas pedras preciosas recém
lapidadas.
Seus cílios, que eram generosos e um tom mais claro que seus cabelos,
estavam negros e definidos. Lorrany ainda insistira e quase discutiram sobre
a importância dos cílios postiços - que para ela eram essências e
indispensáveis para um lacre. Sofia não concordava com sua opinião e fora
preciso que Thaís as acalmasse, declarando que não teriam tempo para
aquilo.
Emburrada por ter sua opinião descartada, Lorrany terminara sua
maquiagem com um bico de descontentamento e Sofia temeu que ela a
deixasse como um palhaço como vingança.
Mas o resultado fora surpreendente.
O batom clarinho nos seus lábios apenas os realçava, tal como o
contorno que sua amiga fizera no seu rosto.
Com a face levemente iluminada e maquiada à perfeição, Sofia não se
reconhecia.
Suas amigas, paradas atrás de si, como mães orgulhosas da sua cria, a
encaravam satisfeitas e felizes com o resultado.
O vestido que relutara tanto em usar, mas que fora obrigada, caíra
como uma segunda pele no seu corpo.
Ela e Thaís tinham quase as mesmas medidas e não fora difícil vesti-lo,
o que a surpreendera já que o tubinho preto parecia, fora do seu corpo, quase
um vestido infantil de tão pequeno.
Mas o tecido, que Sofia não seria capaz de dizer qual era, tendo zero
conhecimento no assunto, era desses que esticam e ajustam-se ao corpo.
E ela precisou assumir que gostara do resultado.
Não ficara absurdamente curto como supôs. O vestido delineava suas
curvas e estacionava no meio das suas pernas, de alguma forma as
delineando, tornando-as um "espetáculo a parte", como dissera Thaís.
O único problema eram os seus seios.
Thaís possuía seios pequenos e Sofia, não. Então, fora um pouco
desconfortável encaixá-los naquele espaço reduzido, mas conseguira depois
de algum esforço coletivo e após concordarem que um sutiã seria
desnecessário, já que o vestido possuía bojo próprio.
Porém, mesmo sem o sutiã, fora difícil ajustar-se. Ajustá-los, melhor
dizendo.
Lorrany e Thaís estavam satisfeitas com o resultado e concordavam que
aquele decote tão apertado realçava os seus atributos frontais.
Ela não ficou confortável com essa observação, mas não havia mais
nada a ser feito. E já havia ligado para Henrique, informando-o que estava
pronta.
Ele riu após responder que estava a caminho, comentando que ela até
que não demorara tanto quanto ele imaginara.
Ela perguntou-se se aquilo seria um elogio.
Desceu as escadas com suas amigas no seu encalço fazendo escândalos
e alardes sobre como ela deveria andar com aqueles saltos assassinos e como
deveria sentar-se com aquele vestido bafônico que subiria horrores e evitasse
de ficar com a bunda de fora.
Caminharam para a sala de estar e sentaram-se juntas no sofá menor,
encarando a tevê ligada para ninguém em especial.
— Por que a tevê está ligada se não tem ninguém assistindo? —
Lorrany perguntou, procurando o controle remoto.
— Porque o Aveia gosta de assistir ao noticiário — disse Thaís.
— Quem é esse Aveia? — Lorrany perguntou, desistindo de procurar o
controle e recostando-se melhor nas almofadas às suas costas. — E que
diabos de nome é esse? Quem daria o nome de "Aveia" para qualquer coisa?
— O Aveia, — levantou-se Thaís, recolhendo um pequeno gatinho
gorducho que estava aos seus pés. Colocou-o no seu colo e enviou um olhar
irritado para a sua amiga. — é o meu gato e espero que você o respeite já que
está na casa dele. Aqui você é a visita. Ele, o morador. Então, mais respeito,
sim? Obrigada.
Sofia riu observando Lorrany encarar o gato incrédula.
— Ainda não entendi o por que do nome — disse confusa. — Se ele
fosse meio cinzento ou marronzinho, até entenderia. Mas isso não faz
sentido.
— Por que não faz sentido? É um nome comum, e ele gosta. Acho que
combina com ele — disse acariciando seu gato, que miava manhoso.
— É um gato preto, Thaís. Preto! — Lorrany exclamou.
— E daí? — ela perguntou, sem parecer se importar muito.
— E daí que faria mais sentido você chamá-lo de feijão preto. Ou café.
Ou carvão. Mas não Aveia.
— Eu o chamo assim porque ele ama aveia, não pela cor, idiota.
— Então talvez, quem sabe, você devesse ter explicado antes, imbecil.
— Pelo menos não sou eu que está julgando um gato pela cor — Thaís
declarou, fitando-a irritada, abraçando Aveia. — Isso é racismo de gatos,
sabia? Você pode ser presa!
— Não o julguei pela cor, sua doente! E sim por esse nome idiota. E
essa coisa de racismo de gato não existe, idiota. De onde você tirou isso?
— Gente... — Sofia tentou mudar o assunto — Vocês acham que...
Ouviu o ronco alto de uma moto entrar na rua.
— O que eu preciso é de um bom advogado para processar essa racista.
Racista! Preconceituosa! — Thaís a interrompeu.
— Cala a boca, vagabunda, não tem nenhum racista aqui. Até admito
que o Aveia é uma coisinha bonitinha, mas continuo não concordando com
esse nome ridículo — Lorrany fez um carinho no gato, que voltou a gemer
manhoso.
O barulho da moto ficou mais alto lá fora e de repente parou.
— Você não precisa gostar de nada, vadia. O gato é meu, não seu.
Ninguém aqui pediu sua opinião.
A mãe de Thaís encaminhava-se para a sala, onde elas estavam,
provavelmente para assistir suas novelas, mas dera meia volta ao ouvir a
discussão.
Estava mais que acostumada com as confusões e discussões da sua filha
com as amigas, mas gostaria de assistir a sua preciosa novela com
tranquilidade e sem gritos e palavrões rolando pelo recinto, obrigada.
Sofia sorriu para a mãe da sua amiga e ela fez um sinalzinho de "shhh",
antes de subir as escadas correndo. Sofia riu.
As duas continuariam discutindo, mas dois batidas na porta
conseguiram chamar a atenção das duas.
Levantando-se em um pulo, feliz por sair do meio das duas, onde tapas
rolariam em alguns segundos, Sofia correu para a porta, notando que Lorrany
começava a retirar as chinelas. O que significava que era "hora do pau".
Ainda rindo após observar Thaís fazendo o mesmo, Sofia abriu a porta
sem conferir o olho mágico e perdeu o ar ao ver a pessoa que estava do outro
lado.
Observando-a dos pés a cabeça, mordeu o lábio inferior levemente,
aprovando o que via.
— Olá — cumprimentou Henrique, sorrindo.
CAPÍTULO 11
Sofia apenas o encarou, paralisada onde estava.
Ela, que achava particularmente que já tivera surpresas demais para um
dia e não gostaria de outras, obrigada, viu-se ali, surpresa mais uma vez.
Mas, diferente de algumas que aconteceram naquele dia, aquela era
uma que ela qualificaria como uma das melhores; se não a melhor delas.
Porque ele estava simplesmente, como diria Lorrany, delicioso.
Ela, que nunca atribuíra tal palavra para nenhum garoto antes,
surpreendeu-se mais uma vez, agora consigo mesma.
Mas, bom, levando em conta a forma com a qual ele estava vestido, ela
achou que sua reação era compreensível.
O que ela primeiro notou fora que ele não se barbeara. Não o havia
feito pela manhã, ela lembrou do roçar dos pelinhos nascendo por sua pele, e
agora, à noite, já se podia ver uma sombra levemente azulada onde os fios
cresciam.
Se pela sensação que o simples roçar deles na sua pele a causava ou se
por tornar a aparência dele ainda mais marcante, ela não saberia dizer. Mas
podia afirmar, com certeza, que gostava do que via e gostaria que ele
permanecesse assim e a deixasse crescer um pouco.
O cabelo dele, novamente, estava solto, repousando suavemente sobre
uma jaqueta de couro escuro.
Sofia piscou duas vezes observando aquela jaqueta.
Não que houvesse algum problema com ela.
O problema era que, se com aquele moletom de proporções cavalares
pela manhã ele pareça apenas maravilhoso, agora, ali com aquela jaqueta,
para ela, não havia nada mais perfeito.
Como o moletom, ela era enorme, como seus ombros também, e o
delineava como se feito por medida.
Seus bíceps, que eram coisas enormes, iguais os de Sebastian,
estufavam a vestimenta e ela perguntou-se se o tecido - ou aquilo era feito de
couro de verdade? - rasgaria ao meio.
Ela não duvidaria disso. Os braços dele eram tão grossos como sua
coxa e, se aqueles mesmos braços não a tivessem abraçado com tamanho
carinho e sensualidade, ela admitiu que teria um pouco de medo.
Ele vestia um camiseta branca sob a jaqueta que moldava seus outros
atributos. Seus atributos frontais, como sua amiga dissera para ela mesma.
Mas seus atributos, Sofia pensou, nunca seriam tão espetaculares se
comparados aos dele.
E, complementando o visual para-matar-Sofia, um jeans preto e
coturnos.
Sofia observou a forma como o jeans escuro abraçava suas pernas
musculosas e subiu o olhar rapidamente, antes que ele pensasse que ela
estava olhando para outra parte de sua anatomia que não as suas pernas. O
que ela pensou em fazer, mas subira os olhos rapidinho antes de cair em
tentação.
Sofia olhou para o seu rosto e notou que o sorriso que estivera ali
quando ela abrira a porta já não estava mais.
Temerosa perguntou-se o que ele estaria pensando do visual dela.
Ela gostara do resultado final dos seus esforços e de suas amigas, mas
ele acharia o mesmo?
Ele poderia considerar aquele vestido vulgar demais, como ela pensara
a princípio. Poderia repudiar saltos altos. Ou não gostar da forma que ela
estava maquiada, como se tentasse aparentar outra pessoa.
Ela começou a retroceder um passo, entrando em pânico e sem saber o
que fazer a seguir.
Correr? Fugir para longe dali? Assim que tal ideia passou por sua
mente, Sofia a afastou. Não era uma criança, lembrou-se. Poderia muito bem
lidar com uma rejeição.
Mas, sabendo de antemão que ruiria se isso acontecesse, endireitou-se e
respirou fundo, empertigando as costas e esperou que ele dissesse algo.
Henrique, que ficara tão ou mais paralisado que ela quando se viram,
apenas a encarava da cabeça aos pés, uma vez e outra, com o semblante
fechado, sombrio.
Sofia não saberia dizer o que ele estava pensando apenas observando
sua expressão. Não aguentando mais aquele silêncio, abriu a boca para dizer
algo, mas ele falara primeiro.
— Você está... Linda — disse baixo, a voz rouca. Sofia poderia estar
imaginando demais, mas pensou detectar surpresa e até um deslumbramento
no tom dele.
Ele poderia ter gostado?, perguntou-se, sem acreditar.
— Obrigada — disse desconfortável.
Eles se encararam por alguns segundos em silêncio.
— Você está pronta? — ele perguntou baixinho, observando-a com
atenção.
Sofia detectou algo mais naquela pergunta.
Para ela, fora como se ele tivesse feito várias em apenas uma.
Ela estava pronta para aquela noite? Estava pronta para confiar nele e ir
onde quer que ele a levasse? Estava pronta para as consequências?
Sim, porque haveriam algumas. Como Sebastian, por exemplo. Ele não
aprovaria o que ela estava prestes a fazer e, se esse encontro resultasse em
algo à mais como um relacionamento, ele não aprovaria.
Mas, o que havia para ele aprovar ou não sobre sua vida? Afinal, a vida
era sua, faria dela o que bem quisesse e quando desejasse.
Porém, ela estava pronta para isso?
Não para o algo a mais e todas as baboseiras que Lorrany dissera, como
transar com ele naquela noite.
Ela não sentia-se pronta para aquilo ainda, e se sim, não tinha certeza.
E, mais importante que tudo: ela confiava em Henrique.
Poderiam ter se conhecido à menos que 24 horas, poderiam ser quase
desconhecidos ainda, mas confiava nele. E tinha certeza: ele não faria nada
que ela não desejasse.
Já provara que não era desse tipo que se impõe sobre as mulheres; ele a
respeitava. Ou, caso contrário, teria feito ou sugerido muito mais quando
estiveram naquela árvore pela manhã.
E ela aceitaria todas, pensou, mas depois talvez se condenasse.
Ele, sabendo disso, apenas a convidara para sair. E era isso que ela
faria.
Sairiam juntos, não importa para onde. Ela curtiria o seu primeiro
encontro e seriam apenas eles dois por aquela noite.
Não pensaria em nada mais que não em ser feliz. E curtir o seu
momento.
Com ele.
— Sim — respondeu, olhando-o nos olhos. — Estou pronta.
Ele sorriu levemente e deu um passo a frente, aproximando-se
vagarosamente.
Ela diminuiu a distância e arrepiou-se quando ele a abraçou,
circundando sua cintura.
— Você está muito bonita com esse vestido — ele disse, descendo os
olhos por seu corpo, mas como estavam abraçados, pode apenas observar
seus seios apertados naquele vestido. Ele sorriu, levantando os olhos após
doar sua atenção por alguns segundos àquela área. — Definitivamente, muito
bonita — sorriu malicioso.
Ela sorriu encabulada, sentindo o sangue espalhar-se por seu rosto.
— Hum. Obrigada, novamente — disse.
Ele riu e ela circulou seu pescoço forte com os braços.
Ela respirou fundo, notando como ficavam quase da mesma altura com
aqueles saltos. Mesmo assim, só alcançava até o seu queixo.
Fitou seus olhos escuros e, incapaz de resistir, baixou os olhos e fitou
sua boca, umedecendo a sua inconscientemente.
— Você deixou o cabelo solto — ele disse admirado, observando seus
fios, encantado.
Fora uma tarefa difícil lavá-lo e livrá-lo de todos os nós, mas, após o
trabalho intenso de Thaís com sua parafernália capilar, como cremes,
secadores e sprays, seu cabelo, com suas compridas ondas avermelhadas
agora repousava sobre os seus ombros, macios e bem tratados como nunca
vira.
— Você pediu — disse ela, irônica, sorrindo um pouco. Ele sorriu
também, compreendendo o que ela queria dizer.
Ele não pedira exatamente. Para Sofia, aquilo fora quase como uma
ordem. Que ela não relutou em obedecer e surpreendeu-se com o resultado
final, e ficou feliz que ele tivesse gostado.
— Eu posso beijar você? — ele perguntou baixinho, encarando com
preocupação o batom nos seus lábios.
Ela estremeceu com sua pergunta, mas não conseguiu reprimir um
sorriso ao notar sua preocupação com o batom. Provavelmente estava
preocupado se ela seria uma daquelas mulheres que surtam com batom
borrado e essas coisas.
— Sim — disse em um sussurro.
Ele respirou fundo, abraçando-a mais apertado.
— Tem certeza? — perguntou, subindo uma mão por suas costas até
estaciona-la na sua nuca. — Essa coisa não sai? — perguntou, se referindo ao
batom.
Ela sorriu.
— Eu não sei — admitiu.
— Teremos que descobrir juntos então? — ele perguntou, beijando sua
bochecha e arrastando os lábios por seu rosto.
Sofia apenas balançou a cabeça, em suspenso.
Não notara o silêncio repentino dentro de casa, presa onde estava,
aguardando que ele a beijasse.
Não notara que o burburinho que ouvira vindo da tevê, até a poucos
segundos, não existia mais.
E não notara que suas amigas, dois alto falantes ambulantes, que
estiveram brigando acirradamente até poucos minutos atrás, agora estavam
assombrosamente silenciosas.
E isso queria dizer uma coisa que Sofia não notara até ali.
Não até que fosse tarde demais.
— Boa noite, pombinhos.
Lorrany.
Deus, o que fizera para merecer amigas tão sem noção?
Henrique que estivera beijando seu rosto, aproximando-se
perigosamente dos seus lábios, parou subitamente e levantou o rosto, mas não
antes de selar seus lábios rapidamente.
Ele encarou as duas pessoas por cima do ombro de Sofia, desenlaçando
sua cintura e fazendo-a virar-se de frente para suas amigas.
Sofia, inconscientemente, dera uma passo para frente e, antes que se
afastasse ainda mais, Henrique passou um braço por sua cintura, puxando-a
novamente para trás. Sofia recuou até que encostara no corpo dele. Este
parecia ser o intento dele porque, quando ela olhara para trás, buscando o seu
rosto, ele apenas piscou para ela, cruzando os dois braços pela sua cintura.
Ele parecia relaxado e talvez até divertido, ela não tinha certeza.
— Boa noite — ele respondeu, educadamente, sorrindo.
Como ele poderia estar tão relaxado? Estavam abraçados com um casal
na frente das suas amigas - que a encaravam com sorrisos maliciosos - e
estavam prestes a se beijarem quando elas apareceram.
Sofia sentia o sangue ferver por toda a sua pele e tinha certeza que
estava do mesmo tom que o seu cabelo.
Mas Henrique apenas sorria, repousando o queixo sobre sua cabeça.
— Você é bonito — disse Lorrany, ignorando a cotovelada que Thaís
lhe dera e os sinais que Sofia fazia discretamente, desesperada.
— Obrigada — ele riu.
— Você tem amigos bonitos? Digo, tipo assim como você —
perguntou, sem vergonha nenhuma. Depois balançou a cabeça, como se
retirasse a pergunta. — Esquece. Eu sei que sim, Sofia me mostrou alguns.
Sofia não o via pela posição em que estava, mas sentiu que ele a olhou.
— É mesmo? — perguntou, o tom levemente interessado, como se não
quisesse alongar aquela conversa.
Mas Lorrany, a quem todos conheciam por sua incapacidade de manter
a boca fechada, não pegou a dica.
Sofia desistiu de fazer sinais para sua amiga. Ela não conhecia a
palavra limites e não descansaria até descobrir o que quisesse.
E Henrique estava se saindo bem, então tentou relaxar, percorrendo os
braços pelos dele, à frente do seu corpo. Ele moveu seus braços levemente até
capturar as mãos dela nas suas, entrelaçando seus dedos.
— Ah, sim. Mas de longe, sabe? Nem pude me apresentar, fui
impedida — lançou um olhar rancoroso para Sofia, que apenas deu de
ombros. — Mas, isso não importa agora. O que importa é: que tal um
encontro duplo? — sugeriu, sorrindo amplamente.
Thaís ao seu lado, apenas balançou a cabeça.
Sofia franziu o cenho.
Mas foi Henrique que perguntou, confuso:
— Um encontro duplo?
— Sim! — ela quase saltitava no chão, feliz com sua ideia. — Um
encontro duplo.
— E o que seria isso? — ela a fitou, curioso.
— O que? Você não sabe o que é um encontro duplo? — perguntou,
chocada. Olhou para Thaís, dizendo baixinho "dá pra acreditar? ele não
sabe!". Thais tentara dizer que ela precisava se controlar, mas Lorrany logo
se voltou para ele novamente, explicando com fingida paciência: — Um
encontro duplo é quando dois casais saem juntos. Um casal, mais um casal,
— fez uma demonstração com os dedos. — igual um encontro duplo.
— Isso eu já havia entendido — ele disse, tranquilamente. — O que eu
quis dizer é: só vejo um casal aqui. Portanto, a menos que você e sua amiga
sejam um, não vejo como isso faria sentido — explicou, também usando um
tom fingido.
Sofia precisou reprimir um sorriso. Ele dobrou sua amiga direitinho.
— Hum, não. Não somos — Lorrany respondeu, após alguns segundos
em silêncio. — Mas o que eu queria dizer era que você poderia ligar...
•••
A despeito do que dissera naquela noite, Henrique não tentara nada do
tipo.
Passaram-se dois dias. Dois dias de beijos enlouquecedores e encontros
pela universidade e após as aulas.
Mas sempre que o clima esquentava demais e apenas o contato dos seus
lábios não era suficiente, ele retrocedia e a acalmava.
Ela iria enlouquecer.
Não sabia como ou por que ele fazia aquilo, mas imaginava que aquela
fosse sua verdadeira intenção: enlouquecê-la. Deixá-la cega de desejo até que
implorasse que ele fizesse algo.
Naqueles poucos dias, Sofia conseguira fugir do seu irmão, o que a
surpreendeu.
Pouco o via em casa e quando sim, parecia estar em outro lugar,
pensando em algo que o deixava com uma expressão estranha.
Não querendo dar chances para o azar, Sofia apenas fingiu não
perceber aquilo, embora se preocupasse com ele.
Na manhã seguinte ao seu primeiro encontro com Henrique,
surpreendeu-se quando o encontrou do lado de fora da casa da sua amiga,
quando as três saíam para a universidade.
Ele vestia outro moletom escuro e calças jeans e estava apoiado em sua
moto, parecendo esperá-la.
Quando Sofia virou-se para suas amigas para perguntar o que fazer,
fora empurrada bruscamente na direção dele.
— Me agradeça depois, com um dos amigos gostosos dele — Lorrany
sussurrou no seu ouvido ao passar por ela, apressando-se para o carro, e
entrando rapidamente. — Tenham um bom dia! Adeus! — gritou pela janela.
Sofia parou próxima a ele, corada.
Ele riu, a beijou e disse que estava ali para levá-la para a universidade.
Ela o beijou de volta, incapaz de manter-se parada e sorriu, colocando o
capacete que ele lhe estendera.
Fora uma comoção geral quando chegaram ao seu destino e Sofia sentia
os olhos de todos por ali nas suas costas.
Não deu importância, embora corasse até os dedos dos pés. Ele a tomou
pela mão com naturalidade e a levou até a sua primeira aula.
Encontraram-se após as aulas e saíram para outro passeio de moto pela
cidade. Depois pararam para um lanche e ele a deixou em casa. Não sem
antes colocar em prática a primeira fase do seu plano "Como enlouquecer
Sofia".
E continuara com aquilo, instigando-a e depois retrocedendo, deixando-
a apenas na vontade, por dois dias. Dois dias.
Ela não aguentava mais. Precisava aliviar-se de alguma maneira e, já
que ele não o fazia, buscou ocupar sua mente com outras coisas.
Enfiou-se na biblioteca, na sua mesa de sempre, a mais afastada e
discreta de todas e selecionou algumas obras para pesquisas para trabalhos e
tentou distrair-se.
A biblioteca excepcionalmente naquele dia estava quase vazia. Apenas
alguns poucos alunos se encontravam por ali, e não se ouvia nem um ruído no
local, fora o pequeno som de páginas sendo folheadas.
A sra. Brígida, sentada na sua grande poltrona na entrada do lugar,
dormia pacificamente, aproveitando a surpreendente calma do lugar para um
cochilo.
Sofia ouviu o celular vibrando dentro da bolsa e o pegou.
Viu quem a ligava e apenas colocou o aparelho em cima da mesa,
ignorando-o.
Era Henrique. De novo.
Ligara para ela naquela manhã várias vezes. Naquele dia ela resolvera
voltar aos seus hábitos matutinos normais de antes de conhecê-lo e seguiu
caminhando até ali. Ela sentia-se frustrada demais para falar com ele.
Primeiro a excitava, para depois deixá-la necessitada, precisando de
alívio e recorrendo aos seus próprios dedos.
Aquilo não era justo e ele sabia.
Ele sempre sorria quando notava sua frustração, e ela acreditava que
era aquela a verdadeira intenção dele.
Viu o aparelho apagar e franziu o cenho, irritada.
— Qual a sensação de ser ignorado? — resmungou sozinha, encarando
o celular. — Garanto que não é agradável.
— Realmente, não.
Ela pulou na cadeira, assustada.
Além de deixá-la numa eterna frustração sexual, também a surpreendia
com frequência.
Fitou-o de cima a baixo e continuou assim, apenas o olhando com
desdém, embora suas bochechas ardessem.
Ele riu, colocando as mãos sobre a mesa e inclinando-se um pouco para
beijá-la.
Embora quisesse aquilo mais que tudo, Sofia se afastou. Imaginou que
aquilo o deixaria chateado, mas ele apenas riu.
— O que aconteceu? — perguntou sorrindo.
—Nada — respondeu. E continuou sem poder se deter. —
Definitivamente, não aconteceu nada.
Ele sorriu ainda mais, notando sua indireta.
— A que se refere? — perguntou cínico.
— Nada em especial. Apenas promessas vazias.
Ele riu.
— Odeio pessoas que não têm palavra — ele declarou, olhando em
volta.
— Mesmo? Que estranho — Sofia era puro desdém.
— Não é? — ele deu alguns passos por ali e, concluindo que não havia
ninguém por perto, voltou-se para ela. — Muito estranho. O que você está
vestindo por baixo dessa mesa?
A mesa era enorme e possuía alguns recantos, algumas peças de
madeira que impediam que alguém visse o que havia em baixo dela. Parecia
como aquelas mesas de professores, completamente fechadas.
Ela franziu o cenho com aquela mudança brusca de assunto, mas
respondeu.
— Uma saia.
— Jeans? — ele perguntou interessado.
— Não, de malha.
— Bom. Isso facilita um pouco as coisas — disse malicioso.
— Facilita o que? E por que quer saber o que estou vestindo?
— Você vai ver.
E com assombro, o viu abaixar-se rapidamente e enfiar-se por baixo da
mesa.
— O que você... — começou a perguntar, assustada, a voz subindo
alguns tons.
— Shhh — ele sussurrou debaixo da mesa, alcançando a barra da sua
saia. — Você não quer que a velha acorde.
— Mas o que você está fazendo ai?
— Shhh, Sofia. Você não consegue falar baixo? — reclamou,
agrupando o tecido da saia no quadril dela. Meteu as mãos na sua bunda e
puxou-a um pouco para frente, quase derrubando-a da cadeira. — Isso vai ser
um teste de resistência para você então.
Começando a entender, tardiamente, o que ele pretendia fazer, Sofia
arregalou os olhos, tentando cobrir a pele que ele desnudara.
Ele segurou suas mãos, afastando-as e subiu mais sua saia, expondo sua
calcinha.
— Hum — murmurou rouco, começando a acariciá-la sobre o tecido.
— Acha que consegue ficar calada por mim? Eu realmente preciso de
silêncio para fazer o meu trabalho.
— Henrique... — sussurrou, assustada, mas começando a sentir-se
excitada com seu toque. — Você não pode... Você não vai...
— Ah, eu posso — beijou suavemente sua virilha, farejando-a. — E
vou. Não faça barulhos.
Ela o sentiu afastar o tecido da sua calcinha e lançou um último olhar
em volta, com medo que alguém aparecesse.
Porém, tudo sumiu da sua mente quando sentiu a respiração dele ali.
E, quando ele a tocou com a língua, foi difícil conseguir pensar.
CAPÍTULO 17
Ela tentou impedi-lo.
Ainda conseguiu colocar uma das mãos na cabeça dele, pronta para
afastá-lo, mas ele agiu primeiro.
Mas quando ela sentiu o toque da sua língua, sentiu como se todas as
terminações nervosas do seu corpo estivessem localizadas ali.
Ele tinha experiência naquilo, ela pensou vagamente, enquanto
ofegava.
Não tinha base de comparação, mas aquele talento e o que ele a fazia
sentir, deveria ser fruto de uma vasta experiência.
Não conseguiu se importar com o como ele conseguira aquela
experiência. Ou com quem.
Ele lambeu mais fundo, entreabrindo seus lábios e ela precisou sufocar
um gemido.
Aquilo não era tarefa fácil. Ainda mais quando ele circulou seu clitóris
com a ponta língua.
Mexeu-se inquieta, sem conseguir se controlar, suando e esforçando-se
para manter-se calada.
Ele pressionou os lábios ali e chupou com mais força, gemendo
baixinho em apreciação. Ela estremeceu, sentindo-o vibrar com seu
murmúrio rouco.
Ele parecia faminto, como se não existisse nada no mundo mais
importante que aquilo.
Com a mão que ela tentara afastá-lo, embrenhando os dedos no seu
cabelo farto, passou a puxá-lo mais para si, incapaz de pensar.
Ele gemeu novamente e puxou-a mais para fora da cadeira, de modo
que ela precisou se recostar para não deslizar para o chão.
Sofia começou a suar, sentindo um calor espalhar-se por todo seu
corpo. Reprimia-se com esforço para não gemer alto.
Não imaginara que aquilo fosse possível. Sentir tanto prazer assim...
Precisou conter outro gemido quando ele acariciou sua entrada com um
dedo e começou a penetrá-la lentamente, fazendo movimentos de vai e vem.
— Henrique... — sussurrou aflita. Não poderia conter-se mais. Sentia
que estava muito intenso e, levando em conta os arrepios e tremores que
sentia, sabia que não seria capaz de manter-se calada.
— Shhh — ele sussurrou rouco. Levantou os olhos para ela,
acrescentando um segundo dedo na brincadeira. Ela mordeu o lábio. — Não
fale. Vai chamar atenção se a virem conversar com a mesa — sorriu, logo
retornando ao seu trabalho.
Ela não conseguiu reprimir o gemido dessa vez, mas por sorte este
soara baixinho. Apenas um som lamurioso.
Moveu-se, sem pensar, em direção a boca dele. Rebolou o quanto
conseguiu, sentindo o quanto aquilo tornava tudo ainda mais intenso.
— Isso — ele incentivou grunhindo. — Assim. Esfregue essa bocetinha
gostosa na minha boca.
Ela estremeceu e ficaria espantada com o seu linguajar sujo se aquela
fosse outra situação. Mas ali, suas palavras apenas a fizeram estremecer
novamente e seu desejo redobrar, se aquilo fosse possível.
Jogou a cabeça para trás, incapaz de sentir e ver o que ele fazia consigo
ao mesmo tempo.
Apoiou-se no encosto da cadeira e mordeu os lábios, puxando-o pelo
cabelo, movendo-se o quanto podia de encontro a sua língua, sentindo-se
cada vez mais perto de...
— Srta. Villar?
Sofia pulou assustada, abrindo os olhos.
A sra. Brígida a encarava desconfiada.
Sofia tentou empurrar Henrique para longe dali, mas ele apenas afastou
sua mão.
Sem querer chamar atenção para aquilo, Sofia se debruçou contra a
mesa, grata por a pequena velha enfadada estar de frente para ela, o que a
impossibilitava de ver o que acontecia ali em baixo.
— S-sim, sra. B-brígida — respondeu trêmula, tentando estabilizar a
respiração.
A mulher a encarou com curiosidade.
— O que está fazendo? — perguntou fitando seu rosto com atenção.
— Estava... — interrompeu-se arregalando os olhos quando sentiu
Henrique voltar a lamber seu clitóris. Foi capaz de sentir seu sorriso em sua
pele. Ela respirou fundo, tentando esquecer aquilo e o que ele lhe causava,
mas era impossível. — Es-estava dormindo — disse com dificuldade,
segurando-se para não gemer quando o sentiu descer a língua até sua entrada.
— E teve um pesadelo? — perguntou curiosa.
— Um... — arfou. — Um pesadelo? N-não, por que pergunta? — ela
não conseguiria manter aquela conversa por mais tempo. Ainda mais quando
ele voltou a acrescentar seus dedos.
— Porque está corada e a vi se remexer inquieta de olhos fechados lá
do outro lado — justificou.
Ela nem conseguiu se importar com aquilo. Muito menos com o fato de
que por sorte ela não vira também Henrique se enfiando por baixo da mesa,
minutos antes.
— Ah, sim — disse não resistindo e movendo-se de encontro a boca
dele. Ele a tomou com mais força, chupando e lambendo sua pele. Ela sentia
o quanto estava molhada e sabia que aquilo era um indicativo do que estava
por vir. — Estava sonhando.
Parecendo irritada de repente, a sra. Brígida balançou a cabeça.
— Isso me pareceu — franziu o cenho e a olhou severa. — Mas não
importa. Aqui não é local para cochilos. Se quer dormir, durma em casa, não
sobre os meus livros.
Sofia poderia rebater dizendo que ela mesma estivera cochilando e
babando sobre seus preciosos livros, mas tudo o que mais queria era que a
velha fosse embora logo para que ela pudesse gozar em paz.
Sentiu uma mordida na parte interna de uma das pernas, enquanto dois
dedos a penetravam e soube que Henrique desejava o mesmo.
— S-sim, senhora — disse suando frio.
— Hum. Como castigo por seu mal comportamento, fique onde está
enquanto recolho alguns livros na minha sala — disse, satisfeita, como se a
sentenciasse a um destino terrível, e não ao que Sofia realmente desejava: ser
deixada ali, sozinha. Ou, parcialmente.
— Sim, senhora — repetiu, segurando as extremidades da mesa com
força.
Interpretando sua aflição de maneira errônea, a velha sorriu.
— Muito bem — disse, satisfeita e saiu gingando nos seus sapatos
ortopédicos.
Jogando-se para trás, ofegando, Sofia encontrou os olhos escuros dele
por baixo da mesa.
Ele tinha a expressão sombria, concentrado no que fazia e a fitava com
uma maldade maliciosa.
Ela gemeu baixinho, sem conter-se e viu que ele estremecia.
De alguma maneira, ele parecia tão afetado quanto ela. Como se o
prazer que causava nela o desse prazer.
Ele abriu suas pernas um pouco mais e continuou olhando nos seus
olhos enquanto a enlouquecia com a boca.
Ela voltou a pôr a mão na sua cabeça e o puxou para si, querendo mais,
sentindo que estava perto de explodir.
Ele lambeu seu sexo da entrada ao clitóris e repetiu uma e outra vez.
Movendo os dedos dentro dela, Henrique afastou a boca.
— Gosta disso? — perguntou com a voz grave, embora baixa.
Ela confirmou com a cabeça, estremecendo.
— E quer mais? — seguiu instigando-a com os dedos e com o sopro da
sua respiração. Ela repetiu o movimento com a cabeça, precisando da boca
dele ali, não apenas seus dedos. — Então diga.
Aquilo era maldade, ela sabia.
Ele fazia aquilo apenas por maldade, o sorriso malicioso em seus lábios
era prova disso.
Mas ela não conseguiu se importar com isso no momento. Tudo o que
queria era aliviar aquela tensão.
— Sim — sussurrou.
— Sim o que? — indagou e lambeu seu sexo superficialmente.
Ela gemeu angustiada, querendo mais.
— Eu preciso... — começou, trêmula. — Preciso de mais.
— Mais o que? — voltou a indagar, mordendo a parte interna da sua
perna, atormentando-a. — O que precisamente você...
Ela o interrompeu, farta daquilo e ansiando demais por alívio para
envergonhar-se. Ao menos lembrou de manter o tom baixo, enquanto dizia
com todas as palavras o que ele queria ouvir.
— Eu preciso que você me faça gozar.
Ele a fitou por apenas meio segundo, mas foi o suficiente para ver todo
resquício de diversão ali ir embora, restando apenas o mesmo desejo cru que
ela sentia.
Ele voltou a pressionar a boca onde ela queria e chupou seu clitóris
com força, movendo os dedos em movimentos circulares.
E aquilo foi o bastante.
Ela gemeu, incapaz de se conter, e estremeceu, sentindo os tremores
dominarem seu corpo, movendo-se. Arfou enquanto seus olhos reviravam,
sentindo diversas ruminações do deu corpo entrando em colapso.
Ele agarrou o seu quadril, mantendo-a parada e continuando a
atormenta-la, lambendo, chupando e mordiscando de leve.
Dessa vez, fora muito intenso. Nuca havia sido assim quando ela se
tocava.
Ela ainda estremecia, sentindo o prazer prolongado e tentou afastá-lo.
Mas ele afastou suas mãos, parecendo afoito por aquilo e enfiou a língua
onde antes estiveram os seus dedos, provando do seu desejo.
Ela gemeu mais uma vez, sensível demais e arrepiando-se com o
grunhido selvagem dele.
Quando ele a soltou, ela deixou-se cair para trás, satisfeita, mantendo
os olhos fechados.
Sentiu que ele consertava sua roupa, voltando a cobrir seu sexo e
ajeitando sua saia.
Ele saiu debaixo da mesa e ela nem se importou em olhar em volta para
conferir se havia alguém por perto.
Não conseguia pensar, apenas mentalizava todo aquele prazer.
O doce sabor da satisfação.
CAPÍTULO 18
Ela manteve os olhos fechados, tentando normalizar sua respiração.
Não conseguia pensar direito, apenas sentia por todo seu corpo o doce
sabor de finalmente estar satisfeita.
Ou quase.
Embora tivesse acabado de ver estrelas, de uma forma que nunca
imaginara, sentia que precisava de mais. Algo mais que os lábios e dedos
dele.
Não imaginara nunca que um dia faria aquilo.
Ou que fariam aquilo com ela. Em uma biblioteca.
Claro que sabia que aquilo era possível. Quer dizer, alguém colocar a
boca lá e essas coisas. Mas nunca imaginara como seria essa sensação. Se
seria de fato algo agradável.
Ela não se sentia à vontade com seu próprio corpo, pensava
sinceramente que havia algumas coisas nela que não eram muito atraentes,
embora se considerasse uma pessoa bonita.
Agora, após o que ele fizera, ela poderia afirmar com todas as letras
que nunca sentira algo igual.
Aquilo era surreal. Ela, que pensava que a sensação única dos toques
dele naquela área havia sido o que mais lhe provocara prazer na vida, estava
redondamente enganada.
O que agradecia. E esperava ansiosamente por mais.
Abrindo os olhos lentamente, fitou primeiro as prateleiras de livros à
sua frente.
Nem nos seus melhores sonhos imaginou que tamanho prazer fosse
possível.
Moveu a cabeça e o fitou.
Ele também tentava normalizar sua respiração. Ela observou que ele
tinha as bochechas avermelhadas e seus olhos castanhos agora estavam
negros, tomados por uma névoa de luxúria.
Ele a observava, como se estivesse se contendo para não se lançar sobre
ela.
Ela sentia-se da mesma maneira, mesmo após tal experiência. Única,
diga-se de passagem.
Tardiamente, ela percebeu que apenas ela estava satisfeita.
Tentou buscar na mente algo que pudesse fazer por ele, e recordou as
palavras de suas amigas.
Bom, considerando o que ele fizera por ela, aquilo era o mínimo que
poderia fazer em troca, não é?
Baixou os olhos para a frente do seu jeans, e observou como o tecido
estava estufado.
Pode notar todo o seu contorno e proporções e, corando mais uma vez,
olhou em volta.
A biblioteca permanecia em um profundo silêncio e não se ouvia mais
o som de páginas.
Provavelmente, agora finalmente estavam sozinhos.
A sra. Brígida ainda não havia retornado e ela agradeceu por isso,
desejando que onde quer que ela tenha ido, fosse do outro lado da
universidade.
Mas não daria sorte para o azar.
Mordeu o lábio e buscou um dos seus livros, abrindo em uma página
qualquer e apoiando-o sobre a mesa.
Henrique observava o que ela fazia sem compreender, mas não a
interrompeu. O que ela agradeceu.
Precisaria de toda sua coragem e buscou resgatar dentro de si aquela
mulher autossuficiente e desavergonhada que rebolara até o chão dias antes
naquele pub.
Puxou um pouco o livro, de modo que ele ficou meio sobre a mesa e
meio sobre o vazio e o empurrou um pouco para o lado, posicionando-o entre
seus corpos, como se fosse compartilhar a leitura com ele.
Confuso, Henrique baixou os olhos para o livro, procurando por algo
que pensara que ela gostaria de lhe mostrar.
Concentrado, não percebeu quando ela infiltrou um das mãos por baixo
da mesa, inclinando o corpo, ficando quase de frente para ele, que
permanecia de frente para a mesa, observando seu livro.
Sobressaltou-se quando ela percorreu a frente do seu jeans com as
pequenas mãos e levantou os olhos imediatamente.
Ela riria se não estivesse tão nervosa.
Ele a fitou, surpreso. Ela o fitou de volta, sentindo como ele se remexia
ansioso ou incomodado.
Dessa vez, ele que olhara em volta, conferindo se havia alguém por ali.
Ela dedilhou seu contorno, confusa do que fazer a seguir, mas gostando
da sensação de tê-lo sob seu domínio.
— Sofia — disse seu nome com a voz rouca. Não parecia um pedido,
parecia uma advertência.
Ela sorriu, um pouco menos nervosa quando percebeu que ele estava
nervoso.
Bom, refletiu, enquanto abria o fecho do seu jeans, não deveria ser tão
difícil.
Seguiria seu instinto, da mesma maneira que fizera naquela pista de
dança. E antes, no jardim. E naquela árvore.
Desceu o zíper e sentiu que ele se remexia. Não sabia se ansioso ou
temeroso por seu toque.
Descobriria em breve, de qualquer maneira.
Ele respirou fundo, por entre os dentes e a puxou para si.
— Vai ser um inferno me controlar — rosnou contra sua boca, olhos
nos olhos. — Mas fiz o mesmo com você — sorriu, um sorriso malicioso. —
Agora é a sua vez.
Ela estremeceu. Aquilo não era o certo. Ela que deveria desestabiliza-
lo, não o contrário.
Respirando fundo, ainda com a testa apoiada na dele, prosseguiu
descendo o zíper e, antes que perdesse a coragem, pressionou a mão ali.
Poderia sentir o calor da sua pele mesmo por cima do tecido da cueca.
Mordeu o lábio e ele fez o mesmo, pressionando com mais força a mão que
estava na sua nuca.
Ela o acariciou devagar, percorrendo sua espessura sem pressa,
conhecendo o terreno.
Henrique fechou os olhos, mas ela continuou o observando, sem
conseguir baixar os olhos para o que fazia.
Conseguia tocá-lo ali, o que já era uma grande passo, mas não
conseguia observá-lo. Não, ao menos, ainda.
Imaginou como seria tê-lo na sua boca, como ele fizera com ela.
Surpresa, sentiu que ansiava por isso.
Imaginou que gosto ele teria. Como seria senti-lo com a sua língua.
Porém, embora aquela visão a deixasse quente e sentisse a calcinha
úmida, não saberia o que fazer e não gostaria que a sua primeira experiência
fosse ali, na biblioteca.
Já tivera uma descoberta ali naquele dia, estava prestes a ter mais uma,
porém sentia que quando ou se aquilo acontecesse, queria estar em lugar
tranquilo, sem riscos de alguém aparecer de repente.
Subindo os dedos até estaciona-los no cós da sua cueca, infiltrou um
dedo devagar, sentindo o calor da pele dele e o suave atrito com seus pelos
nascentes.
Ele abriu os olhos, apenas um pouco, ainda mordendo o lábio com
força.
Ela sorriu, feliz que fosse capaz de causar aquilo nele e acrescentou um
segundo dedo, começando a abaixar o tecido.
— Espere — ele sussurrou.
Ela parou seus movimentos e franziu o cenho quando ele se afastou.
Desceu o zíper do moletom e Sofia observou que suas mãos estavam
trêmulas.
Tirou-o rapidamente, empurrou o livro para o centro da mesa e
depositou a peça sobre sua mão, que ainda o tocava ali.
Ela observou a camisa que ele vestia. Todas suas roupas pareciam
simples, mas que quando em conjunto com todos aqueles músculos...
Deus, era quase desumano o quanto aquele homem era gostoso.
Todas aquelas tatuagens pareciam instiga-la, tentá-la. Ela sempre
gostou de tatuagens, mas nunca na sua vida desejou tanto desenhar algumas
com a língua.
Era o que sentia sempre que as via, entremeadas e algumas que
pareciam sobrepor outras. Eram desenhos que ela não compreendia.
Padrões abstratos, rabiscos confusos e algumas formas geométricas
que, quando em conjunto, tornavam-se impressionantes.
E naqueles braços de músculos também impressionantes, apenas o
tornavam ainda mais irresistível.
— Assim é melhor — declarou, cobrindo seu colo e a mão dela com o
moletom ainda quente do seu corpo. Sua voz estava profunda, ainda mais
rouca.
Voltou a tomar a sua nuca nas mãos e dessa vez a beijou
profundamente.
Sentiu seu sabor nos lábios dele e os lambeu, afoita.
Ela cedeu ao seu beijo, também faminta, chupando e mordiscando.
Ele embrenhou os dedos no seu cabelo e puxou com certa força. Ela se
arrepiou, reprimindo o desejo de montá-lo.
O desejo que sentia nublava sua mente, tonando árdua sua missão de
concentrar-se em outra coisa que não corresponder aos beijos dele com igual
fome.
Sentiu um suave pulsar na sua mão e lembrou-se qual era o seu
trabalho.
Ainda beijando-o com ânsia, voltou a acariciá-lo, dessa vez afastando o
tecido que o cobria rapidamente, sem cerimônias.
Ele gemeu na sua boca, puxando seu cabelo de novo, como se a punisse
por aquilo.
Ela sorriu nos seu lábios, finalmente tocando sua pele.
Era macio, ao mesmo tempo que duro como uma rocha. Pulsava
suavemente na sua mão e ela arrepiou-se quando ele gemeu novamente.
Ela não o via, mas apenas com o seu tato teve a certeza do que
desconfiara antes: ele era enorme.
Talvez não assustadoramente grande como aquele que vira no filme,
mas ainda de proporções avantajadas.
Ela o percorreu, sentindo sua pele quente.
Respirando fundo e soltando seus lábios, Henrique pôs uma mão por
cima da sua e a fez envolvê-lo com os dedos.
Ela seguiu suas instruções e fechou a mão ali, sentindo que seus dedos
mal se encontravam.
Ele segurou sua mão e a instigou a fazer um pequeno movimento de
subir e descer, da ponta do seu pau até a base.
Ele gemeu mais forte e pressionou o rosto no seu pescoço, tocando sua
pele com a boca e usando-a para abafar seus gemidos.
Mordeu sua pele, chupando, lambendo, atormentando-a como ela fazia
com ele.
Ela repetiu o movimento uma vez, subindo e descendo a mão, devagar.
Depois, sentindo-se mais a vontade, passou a fazê-lo com mais rapidez.
Os gemidos roucos dele na sua pele a arrepiavam, excitando-a mais
uma vez.
Surpreendeu-se que pudesse sentir tamanho prazer apenas o tocando.
Talvez aquilo fosse o mesmo que ele sentira quando fez o mesmo com ela.
Ele grunhiu contra sua pele, implorando que ela aumentasse seu ritmo.
O que ela fez com prazer.
Aos poucos compreendeu que ele apreciava quando ela o apertava com
mais firmeza.
Ela sentia sua calcinha úmida e quase desceu a mão que estava livre até
ali. Porém, precisava concentrar-se no que fazia, o que não aconteceria se se
tocasse.
Ele passou a gemer com mais frequência e começou a se remexer,
agitado.
Tardiamente, ela pensou o que fariam quando ele gozasse.
Não havia nada por ali que pudessem usar para limpá-lo quando aquilo
ocorresse.
Sua pequena mão não seria o bastante para ampará-lo e, se aquilo
acontecesse da mesma maneira que aconteceu com o carinha super dotado
daquele filme, nem as duas dariam conta do recado.
Precisava pensar em algo rápido, sentia que ele estava muito próximo.
Percorreu os olhos em volta a procura de algo.
Percorreu os olhos pela mesa.
Tentou lembrar se haveria algo na sua bolsa que pudesse ajudá-la.
Nada.
Não havia nada além do moletom dele e os seus livros, mas ela não
gostaria de suja-los, embora ele muito provavelmente não se importasse com
aquilo.
Ela diminuiu um pouco os movimentos, querendo retardar aquilo
enquanto pensava em algo, porém Henrique gemeu em protesto e ela retomou
o ritmo.
Ele estremeceu, gemendo rouco.
Ela precisava encontrar algo logo. Todavia, o que?, começou a se
desesperar.
O que poderia usar?
A não ser...
Uma ideia surgiu na sua mente.
Antes que perdesse a coragem ou fosse tarde demais, afastou-se dele e
lançando um último olhar em volta, enfiou-se em baixo da mesa
atrapalhadamente.
Grunhiu quando encostou os joelhos no chão frio, mas não se
incomodou muito, fitando-o.
Assim, estando tão próxima e observando como sua mão parecia
pequena rodeando-o, ela percebeu como de fato ele era enorme.
— O que você...
Ela o interrompeu, pressionando os lábios na ponta do seu pau.
Ele estremeceu e fechou os olhos, tremendo.
— Sofia... Não...
Ela não o ouvia, preocupada com o que fazer agora.
Lembrando-se do que ele fizera antes com ela, lambeu ali.
Ele gemeu um pouco alto, antes que trincasse os dentes, o maxilar
tenso.
Sem saber o que fazer, retomou os movimentos com a mão e sentia que
ele endurecia cada vez mais.
Ficou observando seu trabalho, impressionada com a beleza daquilo.
Ele tinha veias aparentes e o sentia pulsar contra sua mão. Seguindo seu
instinto, continuou movendo a mão e lambeu a cabeça do seu pau.
Ele jogou a cabeça para trás, de olhos fechados e mordendo os lábios,
tentando se controlar.
De onde estava, embora estivesse concentrada no seu trabalho, Sofia
ouviu o suave som de passos se aproximando.
Ela paralisou seus movimentos, controlando a respiração e temeu que
alguém a visse ali.
Um pigarro soou alto.
Viu quando Henrique abriu os olhos de susto e encarou a pessoa que
provavelmente estava a frente da mesa.
Ela o lambeu uma última vez e viu quando ele pressionou as mãos na
mesa, apertando com força.
Sofia observou todos aqueles músculos saltados, deliciada com a cena.
— O que deu em vocês jovens que vivem dormindo na minha
biblioteca?
Ela arregalou os olhos, contendo a custo uma exclamação.
A sra. Brígida.
CAPÍTULO 19
Ela o fitou de onde estava, com os olhos arregalados de assombro.
Ele, ao contrário do que pensara, rapidamente controlou sua expressão,
aparentando uma calma que não sentia, como se estivesse relaxado, normal.
Sofia não sabia se ele já estivera em uma situação parecida, mas nunca
na vida conseguiria dissimular aquela calma enquanto sentia os lábios e
língua de outra pessoa naquela área.
Ela, quando estivera naquela mesma situação minutos antes, apenas
tremera e gaguejara sem controle encarando a pequena senhorinha, sob o
domínio da língua dele.
Ela controlou sua respiração, tentando não fazer nenhum ruído.
Enquanto isso, a sra. Brígida aguardava por sua resposta.
Henrique piscou uma vez, como uma expressão tão inocente que Sofia
até acreditaria.
Se não estivesse com o seu pau na boca, é claro.
— Perdão — começou, com uma expressão cada vez mais inocente. —
Só estou um pouco cansado.
Sofia reprimiu um grunhido. A voz dele nem sequer tremia!
Ela quase se desintegrara naquela mesma cadeira e ele todo normal,
sem problemas de fala ou tremores pelo corpo.
— Hum — resmungou. — E onde está aquela garota?
De onde estava, Sofia não poderia observar a expressão da sra. Brígida,
claro. Mas poderia afirmar, com toda certeza, que ela estava franzindo o
cenho, irritada.
— Ela precisou ir ao banheiro. Coisas de mulheres, a senhora sabe —
disse ele, piscando um olho e abrindo um sorrisinho irresistível de bom
garoto. — Mas ela me pediu que ficasse no seu lugar até retornar. Espero que
não seja um incômodo.
— Absolutamente.
Sofia arregalou ainda mais os olhos, surpresa com o tom
repentinamente amável da sua algoz.
Como assim "amável"? Desde quando a sra. Brígida era algo menos
que grosseira com alguém?
— Você é novo por aqui — e lá estava de novo aquele tom de voz. O
que estava acontecendo?, ela se perguntou. — Nunca o vi antes e posso dizer
com certeza que conheço todos por aqui — pigarreou levemente, como se
estivesse envergonhada e continuou: — E eu certamente lembraria de alguém
como você.
A forma como ela confessara aquilo não fazia sentido para Sofia.
Porque já ouvira muitas garotas usarem aquele mesmo tom - suas amigas e
recentemente, ela mesma - quando falavam com garotos e isso sempre queria
dizer uma coisa. Quer dizer, quando uma garota usa aquele tom de voz.
Mas não poderia ser, pensou incrédula.
A sra. Brígida tinha, sei lá, uns cem anos e Henrique tinha tipo no
máximo 25 ou 26.
Aquilo não era possível!
A não ser, pensou, segurando o riso à custo, que fosse.
Soube disso quando fitou a expressão assustada de Henrique.
A sra. Brígida estava dando em cima dele! E na maior cara dura!
Ela viveu para presenciar aquele momento. Pena não poder vê-la, mas
apenas ouvi-la era suficiente.
Controlando o riso, viu quando Henrique lançou um rápido olhar na sua
direção e fechou a cara quando viu que ela se divertia com a situação.
Adotando novamente aquele fingido ar de garoto inocente, ele voltou a
se concentrar na sua nova paquera.
— Sim, sou novo por aqui. Cheguei essa semana — sorriu levemente,
um sorriso rígido.
Sofia sorriu ainda mais, colocando uma mão na boca.
Ele chutou discreta e levemente uma das suas pernas, enquanto fingia
que estava coçando a perna.
Ela riu, mas o som saiu abafado por sua mão.
Aquela situação era irreal.
A sra. Brígida, a quem todos conheciam por sua imparcialidade e
antipatia, dando em cima de Henrique, um garoto muitos anos mais jovens
que ela, enquanto Sofia, embaixo de uma mesa, entre as pernas dele, fitava
seu pau.
Que permanecia rígido, precisou observar. Não abaixara nem um
centímetro na sua magnitude e continuava duro com uma rocha, observou
quando o tocou.
Viu que ele respirava fundo e prosseguiu com o toque, voltando a
tomá-lo com a mão.
Ele retesou o maxilar, lançando um rápido e discreto olhar de aviso na
sua direção.
Ela sorriu, acenando com a mão que estava livre e começou a
masturbá-lo.
Ele pressionou as mãos nas extremidades da mesa, tencionando todos
aqueles músculos, como se buscasse por controle.
Ah, ela pensou, o doce sabor da vingança.
Seguiu com os movimentos da sua mão e aproximou um pouco o rosto,
incitando-o com sua respiração.
— E está gostando? Digo, da universidade. E das pessoas por aqui. Não
aqui, a biblioteca. Quero dizer, aqui também, claro — a velha soltou uma
risadinha ofegante, parecendo envergonhada. — Me refiro a universidade em
geral. Isso, a universidade.
Sofia riu sem se conter, mas por sorte, pressionou os lábios no membro
dele, abafando o som por pouco.
Ele respirou fundo.
— Claro. Todos são muito receptivos.
A voz dele nem tremia nem nada. Estava apenas ligeiramente mais
rouca, mas fora isso, nada. Tudo normal.
Sofia sentia-se um pouco indignada. Ela no lugar dele, quase derretera
na sua boca e ele ali, todo autocontrole e músculos retesados.
Afastou os lábios e respirou fundo, decidida a reverter aquilo.
Poucos minutos antes, ele parecia bem descontrolado com seus toques.
Estava prestes a gozar e tudo, ela lembrou. E quando pressionou os lábios ali,
viu que ele gostara muito, gemendo e tudo mais.
Ela poderia não saber o que fazer, mas, talvez, o básico que fizera
anteriormente pudesse funcionar novamente.
Talvez se ela se empenhasse um pouquinho mais...
— Fico feliz. E gostou de alguém em particular?
Sutileza não era o seu forte, definitivamente.
— Ah, sim. Com certeza — disse, sorrindo com naturalidade. Em
seguida piscou um dos olhos, prosseguindo com o flerte. — Gostei muito de
uma pessoa em especial. Ela é...
Sofia lambeu seu pau, começando na base e estacionando na ponta.
Afastou-se apenas um pouco e observou o rosto dele em expectativa.
Ele respirou fundo, evitando fitá-la, mas ela conseguiu ver como seus
olhos estavam ainda mais escuros, e seu rosto contorcido, como se ele
reprimisse algum som.
Sorriu satisfeita e logo voltou a pressionar os lábios ali, lambendo-o
lentamente.
Abriu um pouco a boca e tentou tomá-lo com os lábios, levemente.
Sabia que muito provavelmente aquilo nunca caberia na sua boca, mas
ao menos poderia se contentar com a pontinha.
Sentiu que ele tencionava as pernas e recomeçou os movimentos com
as mãos, mantendo a boca ali, lambendo-o.
Experimentou algumas leves sucções e ouviu quando ele soltou um
som grave, remexendo os quadris levemente, como se estivesse gostando do
que ela fazia.
— Algum problema? — ouviu a sra. Brígida perguntar parecendo
preocupada.
Preocupada! A sra. Brígida! Esse mundo estava mesmo perdido.
— É só um problema na garganta — nada de gaguejos novamente. Mas
ao menos a voz dele parecia um pouco tensa.
Já era alguma coisa, pensou, percorrendo os lábios por toda sua
espessura.
— Ah — disse a mais velha e logo continuou: — E então?
— Desculpe. E então o que? — ele parecia confuso e tenso ao mesmo
tempo. Afastou um pouco as pernas, liberando espaço para que ela pudesse se
acomodar melhor. Ela ficou feliz pelo seu gesto e o recompensou, voltando a
sugá-lo levemente.
— Você estava dizendo algo a respeito de uma pessoa especial que
conheceu na universidade — relembrou, marota.
— Mesmo? — ele parecia não se importar muito com a conversa.
— Isso me pareceu — ela parecia ansiosa.
— Ah sim — ele sorriu malicioso. — Sofia — sua voz saíra tão rouca
quando pronunciara seu nome que ela se arrepiou. — Ah, Sofia. Sofia,
Sofia...
Ela riria se não soubesse novamente apenas pelo pulsar dele ali que ele
estava perto.
Aumentou os movimentos da mão, tomando mais um pouco dele nos
lábios e chupando com cadência, tomando o cuidado de manter os dentes
afastados da sua pele.
— O que? — perguntou a senhorinha parecendo ultrajada e surpresa.
— Sofia? Sofia Villar?
— Sim, Sofia. Ah, Sofia — ele parecia cantar o seu nome. Sofia riu um
pouquinho, notando o quando ele ficava engraçado naquela situação, prestes
a gozar na boca de uma garota virgem que, por acaso, se encontrava em baixo
de uma mesa e, também por acaso, na frente da velha bibliotecária do lugar.
— Ah, Sofia...
— Sim, sim. Já entendi da primeira vez, não precisa ficar repetindo o
nome dela — resmungou. — Seja como for, se deseja dormir, prefiro que não
seja sobre os meus livros — pareceu voltar ao seu comportamento normal,
grosseira.
— Sim, senhora — ele respondeu, parecendo nem se dar conta do que
ela dizia. Infiltrou uma das mãos por baixo da mesa e cobriu a de Sofia,
fazendo com que ela o apertasse com mais força.
Sofia seguiu seus comandos, afastando os lábios e fitou o rosto dele.
— Permaneça ai até que ela volte — ordenou, parecendo dar as costas
para ele e Sofia ainda foi capaz de ouvir um resmungo que soou como "não
sabe o que está perdendo".
Assim que o som dos passos diminuiu, Henrique a olhou sério, sem
sombra de brincadeiras na sua expressão.
Ele mordeu o lábio e acariciou seu rosto, enquanto ela manejava seu
pau.
Gemeu rouco, acariciando seus lábios levemente inchados.
Ela voltou a tomá-lo nos lábios, olhando-o nos olhos.
Ele amaldiçoou baixinho, respirando forte e tentou afastá-la.
Ela afastou a mão dele e continuou chupando, aumentando o ritmo das
mãos.
Rendendo-se, ele jogou a cabeça para trás, mordendo o lábio com tanta
força que sua pele ficou branca, evitando que uma série de gemidos roucos
fossem ecoados no recinto.
Mas ela ouvira e se arrepiara com todos eles.
De repente, ele começou a pulsar com mais força, endurecendo mais.
O primeiro jato a pegou de surpresa, mas, recuperando-se rapidamente,
seguiu o envolvendo com os lábios, sentindo-o derramar-se na sua língua.
Passado alguns segundos, ele soltou o lábio, respirando fundo.
Ela se levantou trêmula, sentindo os joelhos incomodarem levemente
por ficarem por tanto tempo sustentando seu peso sobre uma superfície tão
dura.
Tardiamente, ela notou que engolira tudo.
Não sabia se aquilo era certo, só não sentira repulsa ou nada do tipo,
por isso apenas parecera normal engolir. Afinal, ele também havia feito o
mesmo com ela.
Ela desabou na cadeira, satisfeita com o seu trabalho, mas excitada
demais para estar completamente tranquila.
Ele tomou a sua nuca nas mãos e a beijou, como se estivesse a
recompensando pelo seu feito.
Passado alguns segundos, ele se afastou, distribuindo beijos pelo seu
rosto.
— Vamos sair daqui?
Ela assentiu com a cabeça, ansiosa.
Não perguntou para onde iriam - ou o que fariam onde quer que fossem
-, apenas se levantou e aceitou a mão que ele lhe estendia.
Ela precisou reprimir o riso quando passaram juntos ao lado de uma
irritada sra. Brígida, que por sua vez os encarava ultrajada.
Rendeu-se as gargalhadas quando se afastaram alguns passos e
Henrique a acompanhou, rodeando sua cintura enquanto caminhavam.
Tão perdidos e distraídos estavam que a princípio não notaram a pessoa
que se meteu no caminho que faziam.
Até que era tarde demais.
Sofia quase tropeçou nos seus próprios pés quando fitou o rosto dele,
perdendo todo ar de riso.
Embora soubesse que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde, não
previra que seria ali, em um dos corredores da universidade, com todas
aquelas pessoas por ali.
Pessoas essas que já os encaravam, ansiosas pelo o que resultaria
daquela conversa.
— Sebastian.
Sua voz saiu baixa, mais um apelo que um cumprimento.
Ele a fitou com seriedade, descendo os olhos até o enorme braço
masculino que envolvia a sua cintura. Trincou os dentes.
Ela implorou com o olhar que ele não fizesse nada, que não começasse
uma discussão ali. Não ali, no meio de todos aqueles curiosos.
Ela não gostaria de discutir novamente com seu irmão, por nenhum
motivo e, sobretudo, não aquele. Mas continuou suplicando com os olhos que
se ele buscasse insistir naquilo, ao menos esperasse estarem sozinhos.
Não recordava quais foram exatamente as suas palavras alguns dias
atrás, quando o ameaçara caso ele insistisse em se meter na sua vida, mas
rezou para que ele sim.
Observando-o cautelosa, percebeu o quanto parecia cansado. Talvez até
triste.
Poucos dias haviam se passado e ele parecia ter envelhecido dez anos,
em menos de uma semana.
Ela notara, nas poucas vezes em que se cruzaram pela casa, que ele
estava preocupado com algo, angustiado até. E ela, aproveitando-se disso,
usara aquilo a seu favor fugindo para a casa das suas amigas ou para
deliciosos encontros e passeios de moto.
Culpou-se por aquilo, perguntando-se o que estaria acontecendo com
ele, ao ponto de deixá-lo daquela maneira.
Seu rosto bronzeado estava rígido, sem o costumeiro ar de divertimento
que lhe era costumeiro. Sua barba ruiva, embora aparada com cuidado,
parecia um grande contraste com as escuras manchas sob os seus olhos.
Ela sentiu, mesmo sem saber o que estava acontecendo, que era algo
sério.
Rendendo-se a sua súplica muda, ele respirou fundo.
— Posso falar com você?
Ela sabia que não era um pedido.
Embora estivesse ansiosa por outro passeio com Henrique, ela
confirmou com a cabeça. Mas não porque vira-se obrigada a isso.
Ela conhecia seu irmão bem demais para ignorar todos aqueles sinais.
Não poderia se afastar dele ou ignorá-lo agora, quando sentia o quanto ele
precisava dela, por mais que ele não precisasse dizer nada.
Despediu-se de Henrique rapidamente. Ele selou seus lábios com
doçura, compreendendo que ela realmente precisava ir e disse que a ligaria à
noite.
Ela ruborizou quando ele a beijou na frente do seu irmão, mas abraçou-
o sem de conter.
Henrique lançara um último olhar para Sebastian, e daquela vez não
havia deboche ou malícia no seu olhar. Ele parecia compreender que algo
acontecera e como irmã dele, Sofia deveria ajudá-lo como pudesse.
Sebastian observou aquela cena com distanciamento, como se não fosse
a sua irmã ali abraçando e beijando um marmanjo desconhecido. Resistiu ao
impulso de tirá-la dali e aguardou pacientemente.
Os curiosos, que os observavam ansiosos, à espera de socos, palavrões
ou algo assim, voltaram a seguir seus caminhos, resmungando
inconformados.
Alguns minutos depois, quando chegaram em casa, seguiram direto
para as escadas, fugindo das falsas ofertas de bolinhos e chocolate quente de
Virna.
Eles sabiam que os bolinhos eram apenas desculpas da mãe para saber
dos últimos acontecimentos na vida dos filhos.
Ela, como a boa observadora que era e mãe atenta, notara uma certa
mudança nos seus filhos; ao passo que Sebastian passara a caminhar com os
ombros caídos, parecendo cansado e resmungando para as paredes, Sofia
saltitava pela casa em uma eterna e incomum felicidade, cantando desafinada
para as mesmas paredes alvos do seu irmão, e não parava muito em casa.
Tendo em vista as perguntas intermináveis que viriam, fugiram para o
quarto de Sebastian apressados.
Fechando a porta, ele se apoiou na mesma e respirou fundo, fechando
os olhos.
Seja o que fosse, ela sentia como aquilo o estava perturbando.
Pela primeira vez, estremeceu, temendo ouvir o que ele diria.
CAPÍTULO 20
Sebastian respirou fundo, caminhando até a cama e desabando nela.
Permaneceu em silêncio por algum tempo, fitando o chão com os olhos
vazios, como se o seu corpo estivesse presente, mas sua mente, não.
Sofia pigarreou, trazendo-o de volta para o presente.
Ele a fitou com seriedade, observando-a com atenção.
— Você parece diferente.
E ela estava, confirmou pra si mesma. De diversas formas.
Sentia-se diferente da garota que fora na semana passada. Sentia-se
feliz. Cômoda pela primeira vez em anos no seu próprio corpo.
— Você também.
Ele respirou fundo, sabendo que sim, estava diferente. Mas não queria
falar sobre aquilo agora.
— O que está rolando?
— Como assim?
— Entre você e aquele cara.
— Ah — ela moveu-se inquieta. — Não sei.
— Não sabe?
— Quero dizer, nós não definimos nada. Estamos apenas... —
lembrando do que acontecera nos últimos dias e principalmente há poucos
instantes atrás, sentiu suas bochechas corando. — Nos conhecendo.
— E como tem sido?
Sofia se surpreendeu.
Nada de gritos, ordens ou ameaças? Aquilo a assustou mais do que a
deixou aliviada. Sebastian não era assim. Não em relação a ela.
O que acontecera com seu irmão?
— Legal — disse sem querer entrar em detalhes. — Ótimo, na verdade.
Ele a fitou com atenção.
— Eu vejo — disse apenas.
— E com você?
Ele a fitou confuso.
— O que?
— O que aconteceu com você?
— Por que a pergunta? — perguntou incomodado.
— Você também parece diferente. E não de uma maneira positiva.
— Estou cansado — suspirou, passando as mãos pelo cabelo.
— O que aconteceu, Sebastian? Você parece preocupado com algo.
Angustiado. Está assim há dias.
— Nada com que precise se preocupar — levantou, caminhando até a
janela aberta e pegando algo no bolso do jeans.
Levou um cigarro aos lábios e o acendeu, soltando a fumaça na janela,
permanecendo de costas para ela.
— Não quer conversar sobre isso?
— Não. É assunto meu, não se preocupe — disse fitando o sol se pondo
ao longe. Tragou uma vez e ergueu os ombros, como se tomasse uma
decisão, soprando a fumaça. — Vou lidar com isso.
— Sena...
— Não comece — avisou, antes que ela prosseguisse.
Sebastian sabia que ela sempre conseguia o que queria dele quando
usava aquele tom de voz e o apelido carinhoso. Talvez ela não tivesse
conhecimento do poder que exercia sobre ele, mas ele sim.
E não queria ser obrigado a revelar algo que ele mesmo se via incapaz
de aceitar. Talvez quando ele decidisse exatamente o que faria dali para
frente, ele a contaria tudo.
Mas não agora. Agora ele precisava digerir tudo com calma, precisava
calcular seus próximos passos com atenção e fazer o que fosse melhor.
Não o melhor para ele. Não. Nesse caso, ele precisaria por seu bem-
estar de lado e focar-se no de outra pessoa, o que realmente importava
naquela história.
Tragou mais uma vez, afastando aquilo da sua mente por um momento
e focou-se na sua irmã.
Ela, de fato, estava diferente. Não fisicamente, embora não se vestisse
como sempre se vestira até alguns dias atrás.
Ainda eram as roupas compradas por sua mãe, mas agora pareciam ter
sido escolhidas à dedo, com as peças combinando, em harmonia.
Porém o que verdadeiramente chamara sua atenção e o que o impedira
de quebrar a cara daquele sujeito quando o encontrou mais cedo, fora aquele
brilho nos olhos dela.
Ela parecia plenamente feliz e aquilo transbordava nos seus olhos,
como se o sentimento fosse tão profundo que brotava diretamente da sua
alma.
Ele nunca a vira daquela maneira.
Gostou do que via, mas não conseguia se sentir tranquilo. Não quando
não confiava no que parecia ser o causador de todos aqueles sorrisos e
suspiros.
Não poderia se meter na vida de sua irmã. Não poderia se impor sobre
ela, nem delegar ordens. Ao menos, não mais.
Não após descobrir a maneira com a qual ela se sentira por todos esses
anos.
Feia, quando era de longe a mais bela entre todas as garotas onde quer
que estivesse.
Indesejável, quando todos os homens em um raio de um quilômetro a
seguiam com os olhos.
Sua culpa. Inteiramente sua, assumia.
Em sua defesa, tudo o que fizera, todos os cafajestes que afastara dela
ao logo dos anos, fora apenas pensando no bem dela. No melhor para ela. E
nenhum dos abutres que a cercavam pareciam minimamente descentes ou
remotamente capazes de fazê-la feliz.
Até agora.
Ele não conhecia o cara, não confiava nele e não mudaria de opinião
sobre isso nem tão cedo. E tão pouco passaria a confiar nele da noite para o
dia. Isso nunca.
Amava sua irmã mais que tudo e confiava no seu julgamento. Todavia,
não ficaria em paz consigo mesmo enquanto não se assegurasse de que as
intenções do sujeito eram as melhores.
Não se contentava com pouco e não permitiria que sua irmã fizesse
diferente.
Se asseguraria antes de qualquer coisa e se concluísse que estivera
errado sobre o caráter do outro, tudo bem, ficaria feliz por sua irmã e a
apoiaria.
Entretanto, se não fosse o caso...
Ele não sabia do que seria capaz. E temia descobrir algum dia,
sinceramente.
Sofia era sua vida. O amor que sentia por ela, a maneira como estavam
ligados, mais que apenas pelo sangue, nunca o permitiria permanecer parado
e não fazer nada quando algo ou alguém a magoasse.
Ele temia o que seria capaz de fazer. Apenas em pensar naquela
hipótese, sentia seu sangue ferver e mais de vinte maneiras de como matar
alguém da maneira mais dolorosa que pudesse imaginar invadiram sua mente.
Balançou a cabeça, tentando não pensar naquilo.
— Mas, Sena...
— Não, Sofia — a interrompeu novamente.
— Eu só queria ajudar você e...
— Eu sei.
— Mas você não quer conversar sobre isso e...
— Não, não quero.
— E eu queria...
— Sofia — interrompeu novamente, jogando o cigarro em um pequeno
cinzeiro ali perto e sentando-se ao lado dela. — Eu sei que você quer
conversar. Mas não quero falar sobre isso. Não agora.
Ela confirmou com a cabeça, mesmo que quisesse fazer o contrário.
Ela se preocupava com ele, da mesma forma que ele com ela. Sempre
foram assim, unidos e parceiros desde bebês. Sua mãe costumava brincar que
eles amavam um ao outro mais que aos seus pais. Eles não concordavam com
isso, mas sabiam que a ligação que os unia era mais forte que tudo.
Coisa de gêmeos, talvez.
Ele riu do biquinho que ela fazia e passou um dos braços sobre seus
ombros magros, puxando-a para si.
— Está tudo bem. Vai ficar tudo bem — corrigiu, fitando o teto.
Faria o correto naquela situação, custe o que custasse.
Mesmo que com isso fosse preciso sacrificar sua felicidade.
•••
— O que você está fazendo agora?
Ela sorriu, acomodando-se melhor contra os travesseiros.
— Estou no meu quarto, deitada na minha cama.
— Hum — ele murmurou e ela captou alguns sons de pessoas
conversando e rindo. — Como foi a conversa com o seu irmão?
— Tranquila, eu acho. Quero dizer, ele não tentou me dar ordens dessa
vez, o que me surpreendeu. Na verdade, ele está bem estranho ultimamente.
— Estranho como?
— Não sei. Só parece preocupado com algo, mas não quis me contar o
que nem conversar sobre.
— E você tem alguma ideia do que pode ser? Algo que tenha
acontecido — ele parecia estar se afastando do burburinho de vozes e risadas
que o cercava.
— Não sei. Não consigo pensar em nada. Poderia ser algo relacionado
sobre sua namorada, Vanessa, mas tive a impressão de que ele pretendia
terminar com ela. Mas não acho que seja isso. Não tenho ideia do que pode
ser — suspirou e franziu o cenho quando alguém próximo a ele gritou algo,
dando início a uma algazarra ainda maior. Ela aproximou mais o celular, na
esperança de poder distinguir o que diziam. — Onde você está?
— Em casa. Quero dizer, não na casa dos meus pais. Na casa que
divido com os caras.
— Seus amigos? Aqueles que estavam com você no seu primeiro dia?
— perguntou curiosa.
— Sim. Eles já dividiam a casa há algum tempo e quando cheguei, me
convidaram para ficar por aqui — ela ouviu o barulho de uma porta batendo,
abafando o som da baderna.
— Hum. E por que você não ficou na casa dos seus pais?
— Por que eles moram do outro lado do estado e esta casa fica mais
próxima da UFCG. Além de que eu não queria dar trabalho para eles, nem
perder a minha privacidade.
— Sei. E o que está acontecendo por ai? Seus amigos parecem bem...
Divertidos — para não dizer barulhentos, pensou.
Poderia estar sendo invasiva demais, mas não conseguia se conter.
— Não sei. Algum tipo de festa desorganizada, ou algo do tipo — ele
resmungou. — Sabe como é, pessoas desconhecidas, várias bebidas, uma
música animada, essas coisas.
— Hum. E você gosta? — perguntou começando a ficar incomodada.
Com o que exatamente, não sabia.
— Do que? Ah, sobre essas festas? Hum — ele pareceu pensar um
pouco. — Não sei. Geralmente, sim. Mas não quando não sou avisado sobre
elas. O que sempre acontece. E não com um monte de gente que não
conheço.
— Não conhece ninguém?
— Alguns, de vista, da universidade. Mas os outros, não sei de onde
são, apenas brotam aos montes a cada segundo.
Ela riu. Ele resmungava irritado, mas não fazia nada em relação aquilo.
Parecia resignado, mas não menos irritado.
— Ah, colegas da universidade. Conheço alguém? — perguntou
curiosa.
— Não sei. Acho que nã... Ah, tem uma garota. Acho que a vi na sua
sala.
— Hum. É mesmo? E como ela é?
— Loira, cabelo longo, muito magra. Na verdade, muito tudo: muito
magra, muito loira, cabelo muito longo. Pensei que ela fosse albina.
Ela sabia que apenas uma pessoa na universidade tinha aquelas
características. Aliás, havia apenas uma pessoa na cidade inteira.
— Arianna — não conseguiu disfarçar o tom enojado da sua voz.
— É, acho que é esse mesmo o nome dela. Ouvi um dos caras a
chamando assim.
— Hum. E o que ela está fazendo aí, na sua casa? — notando o quanto
soará rude, respirou fundo. — Quero dizer, ela é amiga dos seus amigos ou
algo assim?
Ela rezou para que não, que houvesse outra explicação.
Porque, caso contrário, aquilo significaria que Arianna poderia sempre
aparecer por ali, e não a agradava em nada saber que aquela cobra ficaria tão
perto do seu namorado.
Espera. Seu o quê?, perguntou-se assombrada. Henrique não era seu
namorado.
Quer dizer, ele não a pediu em namoro ou algo do tipo. Não eram
amigos tão pouco. Amigos não faziam o que eles fizeram recentemente.
Então, o que eram?
— Não sei. Metade das pessoas que eles convidam ou acabaram de
conhecer ou as convidam para esse fim. Por que? Ela não é sua amiga?
— Hum. Não — confessou. — Na verdade, o contrário disso seria o
correto.
— Ah, sei. Posso perguntar o por que?
Lembrando-se dos comentários maldosos e das situações
constrangedoras que ela sempre a fizera passar, Sofia estremeceu.
Não queria que ele soubesse o quanto fora fraca no passado, quando era
subjugada e não fazia nada, apenas corria para o banheiro mais próximo.
Eram sempre pequenas situações, pequenos comentários, nada que
chamasse muita atenção, ou seu irmão ficaria sabendo e colocaria um fim
naquilo.
Mas ele nunca soubera de nada e ela tão pouco contara. Gostava de
pensar que era forte o suficiente e capaz de se defender sozinha, mesmo
quando chorava escondida.
Aquilo acabara quando Lorrany, que nenhuma das duas percebera
chegando, focadas apenas uma na outra - Arianna a ofendendo como sempre
e Sofia ouvindo calada - aproximou-se devagarinho, ouvindo tudo.
Só perceberam que ela estava ali quando a cacheada, não muito
sutilmente, anunciou sua presença agarrando o dedo que Arianna apontava
para o rosto de uma pálida Sofia, e a empurrou para trás.
O resultado daquele dia fora uma Arianna com um dedo torcido, um
lábio partido e um inchaço em uma das bochechas.
Sofia reclamara com sua amiga enquanto estavam na enfermaria,
ouvindo os choramingos da Ariputa na sala ao lado, que ela poderia lidar com
seus problemas, sem necessitar de ajuda de ninguém.
— É assim que você me agradece? — Lorrany perguntara, sacudindo a
mão direita que estava sob uma bolsa de gelo. — E ela devia agradecer a
você por não ganhar um nariz quebrado e olhos roxos, de brinde. Sorte a dela.
— Eu sou suficientemente...
— Capaz de se defender sozinha. Eu sei. O que é uma mentira, você
sabe. Mas não se preocupe — a abraçou pelos ombros com o outro braço. —
Vou te ensinar um bom repelente para ariranhas. Primeiro, feche a mão em
punho. Isso, isso mesmo. Agora coloque o seu polegar para dentro e apoie
embaixo do dedo médio. Assim. Dessa forma, quando aquela cadela ou
qualquer outra abrir a boca, você a fecha de volta com isso aqui. É tiro e
queda. Só evite contato com os dentes dela; você não vai querer pegar
nenhum micróbio da boca daquela puta. Além disso...
E assim seu pesadelo tivera fim.
Não que tivesse seguido os conselhos de sua amiga e houvesse socado
Arianna sempre que esta abrisse a boca perto dela. Não, embora sentisse certo
desejo por isso, não gostava de coisas assim.
O que realmente acontecera fora que Ariana nunca mais abrira a boca
para insultá-la ou ofendê-la, embora ainda a fitasse com repulsa, como se a
enojasse, nunca mais lhe dirigira a palavra.
O que ela era grata. Mas não apagava todas as coisas más que a dissera
e a maneira com a qual se sentira por algum tempo.
— Hum. Não nos damos bem — aquele era o eufemismo do ano. Mas
como poderia se explicar para ele? Contando toda a verdade?
Não, isso nunca. Já era demais ter de sujeitado àquela situação sem
fazer nada.
— Sério? Ela parece ser uma pessoa legal.
— Hum.
— Eu pensei que fossem amigas, ela me contou o quanto eram
próximas e essas coisas.
Ela franziu o cenho, começando a se irritar com aquela conversa.
— Não somos amigas e não somos próximas — não conseguiu manter
o tom ameno.
— Ah, ela disse que você guarda mágoa ou algo do tipo.
Ela arregalou os olhos.
O que? Além de ser uma cadela todo aquele tempo, após rir na sua cara
e se divertir com suas lágrimas, agora aquilo?, perguntou-se. Agora inventava
mentiras para ele?
Por que? O que ela queria com aquilo? Se aproximar de Henrique?
Roubá-lo para si?
— Ela disse... — pigarreou, clareando a voz. — Ela disse que eu
guardo mágoa?
— Sim. Disse algo a ver com não sei o que do passado. Parece sentir
sua falta e acho que quer se reaproximar de você. Você deveria dar uma
chance a garota, Sofia. Seja lá o que tenha acontecido, ficou no passado. Não
é bom guardar mágoas. E ela parece realmente uma pessoa legal.
Não é bom guardar mágoas? Deveria esquecer, perdoar?
Ela sentia o corpo tremer de raiva, os olhos úmidos por ouvir aquilo
vindo dele.
Claro que uma parte de si reconhecia que ele não tinha conhecimento
do que verdadeiramente acontecera; ela não contara tudo.
Mas não conseguia ser racional. Não quando revivia aqueles dias,
enquanto relembrava o quanto chorara, o quanto sentia-se um nada, incapaz
de defender-se porque não gostava de confusões. Mesmo quando não tinha
culpa, era a vítima.
Incapaz de se conter, sentiu as lágrimas de indignação banhando seu
rosto.
— Então talvez, eu acho que você deveria procurá-la, já que ela é uma
pessoa tão legal.
— O que...
— Quem sabe não dê certo? Digo, vocês dois até combinam.
Estremeceu, sentindo-se ridícula e reconhecendo o quando talvez
estivesse sendo injusta com ele.
Mas desculpar-se-ia depois, quando pensasse melhor. Não agora.
— Sofia...
— Desculpe, preciso ir.
E desligou antes que ele pudesse dizer algo.
Deu vazão as lágrimas por alguns minutos, sem poder se conter.
Amava sua amiga e agradecia pelo que fizera, mas as vezes se
perguntava se talvez pudesse se sentir melhor agora se ela mesma houvesse
posto um fim naquilo.
Se houvesse colocado a outra no seu lugar e talvez quem sabe até
quebrado o seu nariz, como Lorrany a ensinara a fazer.
Mas agora era tarde. Não havia o que ser feito em relação a isso.
E sentia-se ainda pior, após ter descontado sua fúria em alguém que
não tinha culpa.
Só esperava que ele pudesse desculpa-la.
•••
Não percebera que havia pegado no sono. Não tivera essa intenção e só
perceberá o que estava acontecendo quando sua mãe a acordou, sussurrando
que ela tinha visita.
Escovou os dentes, observando como seus olhos estavam inchados do
choro e também porque acabara de acordar.
Não deu importância para isso, prendendo os cabelos em um nó mal
feito e vestindo um roupão por cima da lingerie. Não gostava de dormir
vestida e quando saíra do quarto do seu irmão, tomara um banho e vestira
apenas a roupa íntima. Fazia frio e ela sentiu-se aquecer no roupão fofinho.
Desceu as escadas devagar, amarrando o roupão, perguntando-se por
que sua mãe não mandara suas amigas subirem.
Suas amigas já a presenciaram em situações mais vergonhosas, um
pouco de baba no travesseiro não era nada. Mas não eram suas amigas que
estavam ali, percebeu com assombro, quando seguiu o tilintar de xícaras até a
sala de estar.
Não, definitivamente, não eram suas amigas.
Porque ali, sentando ao lado de uma sorridente e efusiva Virna, levando
uma pequena xícara de chá aos lábios e parecendo relaxado, estava um
homem.
E não qualquer um.
— He-henrique.
CAPÍTULO 21
— Oi, amor — ele a cumprimentou.
Ela estava paralisada. Não conseguia acreditar que aquela cena era real.
Henrique ali, na sua casa, tomando chá com sua mãe e a chamando de amor.
Era surreal.
Ele esticou uma das mãos na sua direção e ela caminhou trôpega até
desabar ao seu lado no sofá. Ele a envolveu com um dos braços.
Sofia olhou de relance para sua mãe. Virna os fitava com as mãos sob o
queixo, os olhos sonhadores e até suspirava.
Voltou os olhos para ele e notou que embaixo de toda aquela áurea
sedutora havia uma seriedade incomum na sua expressão.
Ele a fitou com atenção, observando seu rosto e acariciou a pele abaixo
de um dos seus olhos, provavelmente notando o quanto eles estavam
inchados.
Beijou sua bochecha rapidamente e sussurrou um "precisamos
conversar" baixinho no seu ouvido.
Ela se arrepiou com seu tom de voz e assentiu suavemente, voltando-se
para Virna.
— Mãe, posso conversar com Henrique por um instante?
Para sua consternação, Sofia notou que sua mãe avaliava todo o corpo
dele com atenção, sem tentar ser discreta.
Ela compreendia que aquilo seria impossível e sorriu discretamente.
Ele vestia mais um dos seus moletons enormes, dessa vez em um tom
de verde muito escuro e uma jeans de lavagem clara, que delineava todos
aqueles músculos impressionantes de suas pernas.
Ele se remexeu incomodado com os olhos das duas em si e Sofia sorriu,
balançando a cabeça levemente.
— Mãe — disse mais alto.
Parecendo acordar de um transe, Virna respondeu:
— Sim?
Em sua defesa, Sofia sabia que sua mãe não o observava com malícia,
nunca seria capaz de destinar tal olhar para outro que não seu marido. Pelo
brilho nos olhos dela, idênticos aos seus, soube que ela imaginava
decorações, convites, vestidos, véus e grinaldas.
O maior sonho de sua mãe, e ela nunca fizera segredo sobre isso, era
casar os seus filhos. De preferência, o mais rápido possível.
— Posso conversar um instante a sós com Henrique?
Virna sorriu, acenando com a cabeça várias vezes e se levantou.
— Claro, amor! Pode conversar com seu namorado sossegada. Mamãe
vai assar uns bolinhos para vocês — e saiu praticamente correndo da sala.
Sofia ruborizou inteira.
— Ele não... — mas sua mãe não estava mais ali.
Ela evitou fitá-lo, envergonhada com o que sua mãe dissera e
lembrando a forma que o tratara mais cedo.
Ele recostou-se melhor no sofá e esperou calado.
Ela respirou fundo após alguns segundos e também se recostou,
fitando-o envergonhada.
Permaneceram em silêncio por alguns segundos, apenas se observando.
— O que está fazendo aqui? — perguntou após respirar fundo.
Manteve a voz baixa, sabia que sua mãe provavelmente não faria bolinho
nenhum, aquilo era apenas uma desculpa. Lembrou-se que ela havia feito
uma fornada enorme deles à tarde.
Henrique permaneceu fitando-a, calado, sem respondê-la.
Suspirando, ele envolveu seus ombros com um dos braços e a puxou
para si, acariciando seu rosto com a outra mão.
— Por que chorou? — perguntou também mantendo o tom de voz
baixo e continuou acariciando-a.
Ela não conseguiu resistir àquela proximidade. Até tentou, mas era
mais forte que ela. Relaxou nos braços dele e descansou o rosto em sua mão.
— Você não respondeu minha pergunta — disse suavemente, evitando
responder a pergunta dele e surpresa que ele tivesse notado aquilo. Qualquer
outro poderia pensar que o inchaço nos seus olhos se devia ao recente cochilo
que tirara.
— E você não respondeu a minha.
— Eu perguntei primeiro.
— Responda a pergunta, Sofia.
— Não.
— Não, não vai responder a pergunta ou não, não chorou?
— Não, não chorei.
— Não minta para mim.
Ela estremeceu e arrependeu-se pela pequena mentira. Fitando seus
olhos escuros, confessou em um sussurro:
— Sim.
Ele respirou fundo.
— Por que?
Ela meneou a cabeça, negando-se a revelar aquilo. Ela não queria ter
que relembrar o passado outra vez. E não na presença dele.
— Foi algo que eu disse?
Ela meneou a cabeça outra vez. Mas pensou um pouco e afirmou em
um mínimo movimento, pensando que o melhor seria ser sincera com ele.
Notou o maxilar dele enrijecendo.
Ele a abraçou apertado e ela envolveu seu pescoço forte, apertando-o
também.
— Sinto muito — murmurou rouco com a boca no seu ombro direito.
— Tudo bem — ela não gostou que ele se sentisse culpado por aquilo e
o abraçou mais forte. — Está tudo bem agora.
Permaneceram abraçados por algum tempo, até ele afrouxar os braços e
fitar seu rosto com atenção.
— O que foi?
Ela franziu o cenho, confusa.
— O que?
— O que eu disse que a fez chorar?
Ela não queria falar sobre aquilo, muito menos com ele. Mas não
gostara que ele se culpasse por algo que não tivera culpa.
Respirou fundo algumas vezes e respondeu. E surpreendeu-se com a
forma que as palavras foram saindo por sua boca, uma atrás da outra,
ansiosas.
Sentiu-se incomodada confessando tudo aquilo em voz alta, mas
conseguiu continuar, mantendo os olhos na saia do seu roupão, evitando ver a
expressão dele.
Contou tudo. Tudo o que acontecera, todas as palavras maldosas, todas
as situações, todas as vezes que chorara escondida no banheiro, todos os
detalhes, a maneira como se sentira até a intervenção de sua amiga.
Ele a ouviu calado por todo aquele tempo, sem mover-se.
Ela respirou fundo quando terminou, sentindo uma espécie de alívio
com sua confissão. Relutou um pouco em levantar os olhos para ele.
Ele levantou o seu rosto, fazendo-a olhá-lo nos olhos.
— Eu não imaginava.
— Eu sei.
— Por que não me contou antes?
— Não sei. Talvez por vergonha.
— Não por isso. Você foi a vítima, Sofia. Você. Ela estava errada e
merecia mais que alguns cortes no rosto por isso.
Ela sorriu por seu tom enérgico.
— Eu concordo.
— Lorrany deveria ter batido mais.
— Também concordo, mas a impedi. Hoje, me arrependo.
Ele riu um pouco, puxando-a para si e beijando seus lábios
rapidamente.
— Não quero que minta ou oculte algo de mim novamente.
— Prometo. Mas você tem que prometer o mesmo — sorriu marota e
descansou a cabeça no ombro dele, não notando quando uma sombra fechou
sua expressão e enrijeceu o corpo.
— Eu prometo — respondeu em voz baixa após um tempo.
Ela sorriu feliz, abraçando-o apertado.
•••
— Então, Henrique, onde e quando vocês se conheceram? E há quanto
tempo estão juntos? Quais são as suas intenções? Espero que sejam as
melhores, hein, quero o melhor para o meu bebê — e antes que pudessem
dizer algo, continuou: — Quantos anos você tem? Tem algo contra
casamentos entre adolescentes? Eu acho muito romântico, você não
concorda? — suspirou sonhadora. — Que tal outubro? O clima é perfeito e...
— Mãe!
Sofia estava vermelha, dos pés a cabeça. Henrique ria baixinho ao seu
lado e ela sentiu-se relaxar um pouco por ele não se irritar com as indagação
e sugestões descaradas de sua mãe, mas estava morta de vergonha.
Virna havia retornado para a sala com um refratário de vidro enorme
contendo inúmeros bolinhos, como se pretendesse alimentar todo o
condomínio e não apenas duas pessoas.
Ela amava sua mãe infinitamente, mas aquilo já era demais. Não sabia
o que tinham, ele não havia dito nada e tão pouco ela indagou algo, porém
sua mãe havia os decretado namorados e, poucos minutos depois, já falava
em casamento.
Estavam na sala de estar, beijando-se ardentemente, quando sua mãe
surgiu com a sutileza de um pavão e ordenou que comessem tudo,
depositando o refratário gigantesco na pequena mesinha de centro.
Ela arregalou os olhos, pulando assustada e afastou-se dele, corando. E
assustou-se ainda mais ao fitar o notável monte de bolinhos à sua frente.
Ela nunca seria capaz de comer ao menos um quarto de tudo aquilo,
todavia, Henrique, que pesava quase o dobro, se não o triplo do seu peso, não
se fez de rogado e Sofia observou com assombro a grande pilha ir diminuindo
com rapidez.
— Os bolinhos estão ótimos, sra. Villar.
Sua mãe não poderia estar mais feliz com aquilo, deliciada e satisfeita
por vê-lo devorar tudo.
— Oh, obrigada, querido. Você é um amor! — disse encantada,
abanando-se ligeiramente. — Ele não é um amor, filha? Ai, que amor!
Sofia, após conseguir relaxar aos poucos, riu da forma abóbada que sua
mãe se comportava. Ela parecia apaixonada por seu muito provável genro e
esperançosamente, futuro membro da família oficialmente.
Henrique respondeu todas as suas perguntas, sem parecer incomodado
ou irritado. Ele parecia até divertido com tudo aquilo e sorria.
Sofia relaxou no sofá, reconhecendo para si mesma que gostava da
presença dele ali na sua casa, com sua mãe.
Observou os dois conversarem por algum tempo - sua mãe e suas
intermináveis perguntas e Henrique e sua eterna paciência - e imaginou se
seria sempre assim. Se sempre pareceria perfeito estar ao lado dele, sentindo
o calor do corpo dele junto ao seu. Suspirou, tão sonhadora como sua mãe.
Riu um pouco e engasgou-se ao ouvir a próxima pergunta.
— Vocês estão usando camisinha?
Sofia arregalou os olhos, lutando para parar de tossir. Sentiu Henrique
acariciar suas costas, ajudando-a a recobrar o fôlego. Ele riu descaradamente
quando ela corou ainda mais.
— M-mãe! — tossiu.
— O que? — Virna a encarou com uma expressão inocente. — É
apenas uma pergunta, oras.
— Mãe! — repetiu, dessa vez claramente.
— Ah, Sofia — desfez-se do seu protesto com um gesto de mão. —
Somos todos adultos, não vejo porque tanto assombro. Não é, Henrique?
— Claro, somos todos adultos — riu ainda mais quando Sofia
arregalou os olhos para ele.
— Você...!
— Não ligue para ela, querido. Sofia morre de vergonha sobre esse tipo
de assunto. Mas fico feliz que você seja diferente. Então, — começou
sorrindo e cruzando as pernas empolgada. — você sabe que camisinhas são
altamente recomendadas devido à todos os riscos que vocês podem estar
sujeitos. Mas você parece um bom garoto e aparentemente tem boa saúde.
— Acho que sim — ele parecia se divertir muito, enquanto Sofia se
afundava no sofá cada vez mais.
— Isso é ótimo, querido! Oh, isso é maravilhoso! — bateu palminhas e
inclinou-se para a frente, aproximando-se um pouco mais ao declarar: —
Você sabe que camisinha tira o prazer, não é? Eu não recomendo para vocês,
quero que sejam felizes — balançou as sobrancelhas, ignorando o ofego de
Sofia. — E, claro, quero netos. O mais rápido possível, essa casa anda muito
vazia, sabe? Desanimada — fez uma falsa expressão angustiada.
Henrique riu. Na verdade, gargalhou, jogando a cabeça para trás. Sofia
o invejou, gostaria de sentir-se alegre com aquela conversa, como ele, mas
tudo que sentia era a mais pura vergonha.
— Verei o que posso fazer a respeito — ele declarou, piscando para sua
mãe.
Sofia sentiu o queixo cair.
— Ah, que ótimo! Estupendo! Eu sabia que você não iria me
decepcionar, querido!
Sua mãe ainda batia palminhas animada, quando Sofia se levantou de
um rompante, sentindo as pernas falhas.
— Já chega — disse em voz baixa, interrompendo a comemoração de
sua mãe.
— Mas, querida, tudo que sua mãe disse é a mais pura verdade! Não é,
Henrique? — buscou ajuda e ele afirmou com a cabeça rapidamente,
sorrindo. — Mamãe só quer o seu bem. E usar camisinhas...
— Mãe! — a interrompeu, vermelha.
—... tira o prazer, sabe? E sua mãe deseja netos, Sofia! Ou você acha
que esperarei para sempre? Estou ficando velha, solitária nessa casa, sem a
companhia dos meus rebentos — fungou. — E se você não usar camisinhas,
então você será feliz, Henrique também e eu ainda mais! Qual o problema
nisso?
— Vamos mudar de assunto? — indagou bruscamente, danada que sua
vida sexual - ou quase vida sexual - fosse o tópico de uma conversa com sua
mãe. Ainda mais na frente dele!
— Por que? Você não pretende seguir meus conselhos? Não ama mais
a sua mãe? — colocou uma mão no peito, a expressão tão sofrida que se não
fosse sua filha e não a conhecesse há anos, Sofia acreditaria. — Filhos, são
todos ingratos — fungou uma segunda vez e disparou um olhar sério e
esperançoso para Henrique. — Conto com você.
Henrique riu mais um pouco e fez um sinal de "pode deixar comigo,
providenciarei seus netinhos".
— Vamos — Sofia continuou de pé e estendeu uma das mãos para ele,
que a pegou rapidamente, ficando de pé também.
— Para onde vão? — sua mãe perguntou curiosa, esquecendo o
pequeno teatro que fazia a pouco.
— Para o meu quarto. Para longe de você e seus conselhos descabidos
— declarou, seguindo em direção às escadas e arrastando-o consigo.
— Para o seu quarto? — perguntou alarmada e Sofia imaginou que se
oporia aquilo, negando veemente a presença de um homem com ela em seu
quarto. — Feche a porta!
Sofia quase tropeçou nos degraus e Henrique segurou sua cintura, rindo
alto.
Negando-se a olhar para trás, seguiu subindo as escadas com um
Henrique gargalhando às suas costas e ouviu sua mãe berrar mais uma vez,
antes que sumissem de vista.
— E não esqueçam: camisinhas tiram o prazer!
CAPÍTULO 22
Henrique ainda ria quando ela fechou a porta do quarto. Não porque
seguia os conselhos de sua mãe, mas sim porque não gostaria de pegá-la com
a cabeça na porta, conferindo se estavam providenciando seus netinhos.
Ainda rubra, sentou-se na cama, incapaz de acreditar em tudo que
ouvira.
Henrique observou seu quarto com atenção. Andou até onde haviam
algumas fotografias dispostas em uma parede e observou-as por um tempo.
Ela quase se levantou quando lembrou das suas fotos de infância que
estavam dispostas ali, emoldurando uma jovem de cabelo extremamente
vermelho e um aparelho horroroso nos dentes. Mas repensou e suspirou,
concluindo que aquilo seria menos constrangedor que os conselhos de sua
progenitora.
Ele ainda sorria quando sentou-se ao seu lado na cama, fitando-a.
— Você fica linda assim, corada — disse, seu sorriso mudando de
divertido para malicioso em questão de segundos. — Me faz imaginar coisas.
Ainda constrangida e sem entender a que ele se referia, indagou:
— Quais coisas?
Ele riu mais uma vez, dessa vez um som grave, baixinho e que arrepiou
todo o seu corpo.
— Coisas como você corada, nua e gemendo para mim.
Ao contrário do que pensara ser possível, Sofia sentiu-se corar ainda
mais.
— Você é impossível — sussurrou, começando a imaginar coisas
também.
Estavam finalmente sozinhos. E no seu quarto, sentados na sua cama e
muito próximos. Aquilo não poderia resultar em uma coisa boa. Ou melhor,
definitivamente aquilo poderia resultar em algo maravilhoso.
Ele tomou seu rosto nas mãos e acariciou seu lábio inferior com um
dedo, fazendo com que ela notasse só naquele momento que o mordia.
Ele se aproximou aos poucos, como se a estivesse dando a escolha de
afastar-se.
Desejando aquilo mais que tudo e relembrando tudo o que se passara
naquele dia, notou que fazia tempo demais que não se beijavam. E desejava
isso ardentemente.
Diminuindo a distância que os separava, ela uniu seus lábios, dando
início a um beijo que começara delicado, mas que como sempre, tornava-se
explosivo em poucos segundos.
Ele mordiscou seus lábios, primeiro o superior e depois o inferior,
depois sugou sua língua e Sofia gemeu, querendo mais.
Grunhindo, Henrique a abraçou apertado, colando-a a si o máximo que
aquela posição os permitia.
Beijaram-se com desespero, um faminto do outro, até que o simples
toque dos seus lábios não era mais suficiente.
Ele beijou seu rosto, deixando uma rastro de fogo por sua pele, até
estacionar os lábios no seu pescoço, puxando seu cabelo.
Ela gemeu mais forte quando ele percorreu sua pele com a língua, para
logo em seguida mordê-la.
Ele grunhiu quando ela gemeu mais uma vez e afastou o roupão dos
seus ombros, pressionando os lábios ali.
Sofia sentia-se quente, desejosa e sua calcinha estava úmida. Sentia o
meio das pernas pulsar e tudo o que pensava era em buscar um pouco de
alívio.
Todavia, antes que implorasse por seus toques ali onde mais o
necessitava, Henrique se afastou com uma maldição, continuando a segurar
seu cabelo, puxando-a com certa força. Ela amava aquilo, quando ele a
segurava com força.
— Você está apenas de lingerie embaixo desse roupão? — sua voz
saíra rouca, apenas um grunhido. Ele gemeu quando ela confirmou com a
cabeça, fracamente. Beijou seus lábios com força e afastou-se rápido demais.
Ela protestou. — Tranque a porta.
Ela abriu os olhos, fitando-o em meio a névoa de desejo que nublava
sua visão. Havia apenas fechado a porta, não trancara. E sabia o que ele
queria com aquilo.
Levantou-se trêmula quando ele soltou seu cabelo e caminhou até a
porta, girando a chave e estremecendo de expectativa.
Voltou-se para ele e notou que ele se movera, saindo da ponta da cama,
onde haviam se sentado e recostando-se nos seus travesseiros.
Ela estremeceu mais uma vez, notando a forma como ele a observava.
— Venha aqui — disse rouco, apontando para o seu colo.
Ela hesitou por apenas um segundo antes de fazer o que ele ordenara,
subindo desajeitada na cama e sentando-se de pernas abertas no seu colo.
Ele observou a grande parcela das suas pernas que ficaram descobertas
naquela posição e mordeu o lábio, subindo os olhos por seu corpo até
estacioná-los no seu rosto.
Acariciou suas pernas, subindo e descendo as mãos por sua pele,
arrepiando todo seu corpo.
Subindo uma das mãos para o seu cabelo, puxou-o novamente e
aproximou seu rosto, grunhindo rouco nos seus lábios:
— Você é gostosa demais.
Ela estremeceu mais uma vez e gemeu quando ele a beijou com fúria,
faminto, devorando-a.
Ela gemia e gemia sem parar e o desejo que sentia queimar por suas
veias não havia como ser descrito.
Ele subiu a mão que apertava sua perna nua e pressionou sua cintura,
trazendo-a mais para frente, fazendo com que ela sentasse exatamente onde
ele queria.
Ela arfou ao sentir o membro dele pressionado contra o fundo úmido da
sua calcinha e gemeu quando ele a instigou a mover os quadris.
Ele grunhiu mais uma vez, pressionando sua cintura com as duas mãos
e incitando-a a mover-se cada vez mais.
Ela seguiu seu comando, sentindo-se umedecer ainda mais e gemendo
na sua boca, cavalgando-o com desejo.
Ele a soltou e a deixou comandar os movimentos, inclinando-se para
trás, separando seus troncos, mas permanecendo pressionado contra o meio
das suas pernas e beijando-a com força enquanto descia o zíper do moletom,
tirando-o rapidamente.
Ela subiu as mãos pelo abdômen dele, sentindo-o por cima da fina
camiseta de algodão. Tocou seus músculos firmes, notando o quanto eles se
retesavam ao seu toque e gemeu em apreciação.
Sentiu algo ceder ao redor do seu corpo e arrepiou-se quando o sentiu
desfazer o apertado nó do roupão.
Ele enfiou as mãos entre as abas abertas do tecido felpudo e tocou a
pele da sua cintura, voltando a ajudá-la nos movimentos dos quadris.
Ele gemeu rouco na sua boca, subindo as mãos por suas costas e
tocando rapidamente no fecho do seu sutiã. Ela arrepiou-se mais uma vez e
esperou que ele o abrisse, liberando assim seus seios que pareciam doloridos
e pesados, ansiando por seus toques.
Todavia, ele pareceu reconsiderar aquela decisão e retrocedeu as mãos.
Ela gemeu na sua boca em protesto. Ele sorriu quente e ela arfou em seguida,
sentindo-o tomar seus seios nas mãos, por cima da peça.
Ele afastou a boca e ela abriu os olhos, continuando com os
movimentos e apreciando seu toque ali.
Ele desceu os olhos por seu corpo semi-exposto e mordeu o lábio,
fitando sua lingerie rosa bebê.
Focou sua atenção nos grandes seios que tinha nas mãos e os
massageou, cobrindo-os. Ela podia sentir o calor da pele dele mesmo por
cima do sutiã e gemeu mais uma vez.
— Gostosa demais — ele grunhiu, acariciando-a. — Quero deixá-la
nua, inteiramente nua para mim... Mas esse não é o momento.
Ela tentou protestar, desejando aquilo mais que tudo, mas ele a
interrompeu colando os lábios nos dela e rosnando:
— Você não tem ideia das coisas que quero fazer com você — apertou
seus seios com força e ela arfou. — Esse corpo gostoso do caralho... —
interrompeu-se, mordendo seu lábio inferior. — Eu quero comer você. Quero
comer você por horas, fazê-la gritar de prazer — sussurrou contra sua boca.
— Ouvi-la gritar o meu nome enquanto como essa bocetinha gostosa.
Sofia apenas gemia, ouvindo tudo o que ele dizia e imaginando todas
aquelas coisas, movendo-se com mais força.
Não se importava com mais nada. Não se importava que estivessem em
sua casa e que alguém pudesse interrompê-los, nem se importava se alguém
pudesse ouvir seus gemidos. Tudo o que queria era que ele fizesse tudo
aquilo que dizia e muito mais.
Gemeu alto quando ele desceu uma das mãos do seu seio e cobriu seu
sexo, começando a acariciá-la sobre o tecido.
— Assim. Quero ouvi-la gemer assim, com meu pau todo enterrado
aqui — infiltrou os dedos sob a pequena peça e afastou rapidamente,
dedilhando sua umidade e gemendo rouco. — Molhada pra caralho, porra —
grunhiu, percorrendo sua boceta e enfiando um dedo na sua abertura. Ela
gemeu, movendo-se de encontro ao seu toque. — Isso, amor. Bem aqui e bem
fundo. Consegue imaginar? Primeiro só a cabecinha... Em seguida meu pau
preenchendo essa boceta gostosa, com força, até o talo e você gemendo meu
nome bem gostoso — ela gemeu manhosa nos seus lábios, molhando seus
dedos ainda mais e ele pareceu perder o controle.
Grunhiu selvagemente e puxou a pequena peça que a cobria
precariamente e expôs seus seios. Ela pulou surpresa, mas gemeu ainda mais
alto quando ele circulou um dos seus mamilos com a língua, tomando-o na
boca em seguida, enquanto passava a penetrá-la com dois dedos.
Ela nunca sentiu nada parecido com aquilo, sentindo-o mamar nos seus
seios, alternando entre um e outro, lambendo, chupando e mordiscando de
leve.
Ela gemia sem parar, tentando controlar seus sons e notou que aquilo
não era justo, apenas ela se satisfazer.
Arfando e sentindo o quanto estava próxima de gozar, desceu as mãos
trêmulas que ainda repousavam contra os músculos abdominais dele e abriu
rapidamente o fecho do seu jeans.
Antes que ele sequer pudesse intervir, ela puxou seu pau para fora,
envolvendo com as duas mãos. Ele gemeu alto, largando seus seios e subindo
os olhos para o rosto dela, mordendo o lábio com força.
Desceu os olhos pelo corpo dela, os seios perfeitos e generosos,
empinados e com os mamilos vermelhos e pontudos por seus beijos e fitou as
pequenas mãos que o envolviam.
— Sofia — sua voz não passava de um sussurro grave, rouco. — Não
faz isso.
Ele permaneceu com os dedos dentro dela, mas parou os movimentos e
ela foi capaz de pensar com o mínimo de racionalidade.
Sorriu maliciosa, aproximando seus lábios dos dele.
— Por que? — sussurrou.
Ele respirou fundo, enquanto ela começava a mover as mãos para cima
e para baixo.
— Por que... — gemeu quando ela circulou a cabeça do seu pau
delicadamente, continuando o que fazia com a outra mão. Ela lembrou que
ele gostava que ela o pressionasse ali com força e o fez, observando-o fechar
os olhos e gemer mais uma vez. — Eu vou comer você — ameaçou.
Ela estremeceu, desejando exatamente aquilo.
— Sim — sussurrou, gemendo quando ele retomou os movimentos dos
dedos.
— Você é virgem — lembrou, abrindo os olhos e fitando-a com os
olhos cerrados.
— Eu sei — gemeu.
— Não podemos fazer isso agora — ele também gemeu, rouco.
— Eu sei — sussurrou, embora desejasse exatamente o contrário.
— Não podemos — ele negou com a cabeça, suando um pouco e
retesando as pernas sob seu corpo.
Ela sabia que ele estava certo. Sabia que não deveriam fazer aquilo
agora, mas tudo que mais desejava era senti-lo dentro de si, a preenchendo
devagar...
— Talvez... — começou, gemendo nos lábios dele. — Talvez...
— Talvez o que? — perguntou afundando os dedos dentro dela com
mais força, cada vez mais rápido. Ela gemeu alto e fez o mesmo com seu pau,
movendo-o com rapidez.
Respirando fundo entre um gemido e outro, ela sugeriu:
— Talvez só a cabecinha...
Henrique jogou a cabeça para trás, mordendo o lábio, negando com a
cabeça.
— Não posso — sussurrou.
— Mas é só...
— Não posso — repetiu. Ela gemeu manhosa quando sentiu ele
retirando os dedos da sua boceta, fazendo um som molhado e fitou-a nos
olhos. Ela estremeceu com a rendição crua que viu no olhar dele, gemendo
em deleite quando ele enfiou os dedos molhados na boca, chupando-os com
gula. — Não posso... Não posso resistir a você — grunhiu, beijando seus
lábios com força.
Ela não entendeu o que ele queria dizer, até que o sentiu afastando suas
mãos de seu pau.
E pressionando-o contra sua boceta molhada e necessitada.
CAPÍTULO 23
Ele massageou seu clitóris com a cabeça do pau, percorrendo toda sua
boceta e molhando-o com o líquido que escorria dela.
Ele fechou os olhos e ela olhou para baixo, observando os músculos
saltados do braço dele e a mão que guiava seu pau.
Ela gemeu sentindo como ele parecia quente ali e moveu levemente o
quadril sem conseguir se conter.
Ele gemeu e mordeu o lábio com força, percorrendo sua pele molhada
até pressionar na entrada dela.
Ela gemeu alto e ele também, sentindo como aquilo era gostoso. Senti-
lo ali, pressionando contra sua entrada, mas sem forçar passagem, estava
deixando-a louca.
Impulsionou o corpo para baixo, precisando dele dentro de si, mas
Henrique tomou sua cintura com a outra mão, parando o que ela fazia.
— Não — ele disse com a voz profunda, os olhos cerrados. Ela gemeu
manhosa, querendo aquilo e ele grunhiu. — Não faz isso. Não geme gostoso
assim para mim, não vou conseguir me controlar.
— Mas eu quero — ela sussurrou, sem se reconhecer. Tudo sobre ela
quando estava com ele era desconhecido, sempre algo novo. Até resultar,
aparentemente, em uma nova Sofia.
— Porra — ele gemeu e se pressionou com mais força contra a entrada
dela. Ela gemeu, ansiosa, colando os seios no peitoral dele e arfando contra
seus lábios.
Ele manteve a profundidade, controlando o pau com a mão, deixando
que apenas a cabecinha, como ela pedira, penetrasse seu corpo. Parou quando
sentiu a barreira da sua virgindade, retrocedeu um pouco e antes que ela
pudesse implorar por mais, repetiu o movimento, apenas com a ponta.
Ela sentia uma espécie de ardência quando ele se pressionava ali com
mais força, mas era uma dorzinha gostosa e ela sentia o corpo todo
estremecer de expectativa.
Gemeu, sentindo que ficava a cada segundo mais molhada e olhou nos
olhos dele.
— Por favor... — implorou.
Ele sorriu malicioso, pressionando um pouco mais forte e deliciando-se
com o gemido grave dela, sem nunca penetrá-la além da ponta.
— O que você quer, amor?
Ela respirava ofegante, fazendo uma força descomunal para não descer
o corpo de uma vez, forçando-o a entrar todo dentro de si. Mas ele a detinha
com a mão, forçando seu corpo a permanecer parado enquanto ele movia a
mão.
— Mais — ela sussurrou.
Ele sorria, mas também parecia estar no seu limite.
— Não podemos — disse pesaroso, sem parar o que fazia.
— Por favor — implorou.
Ele franziu o cenho, como se doesse negar algo a ela. Ainda mais
aquilo.
— Não podemos — repetiu. — Mas podemos fazer outras coisas —
sugeriu.
Ela aceitaria qualquer coisa, qualquer coisa que amenizasse aquele
incômodo que sentia no baixo ventre. Queria continuar com aquilo, ir além e
senti-lo inteiro dentro de si. Porém, não era o momento.
— O que? — ela suava, ele suava e estava louca para livrar-se daquele
roupão.
Ele a soltou e a fez deitar na cama rapidamente, encaixando-se entre
suas pernas.
Ela estremeceu ao senti-lo deslizar sobre sua boceta molhada,
escorregando todo seu comprimento no seu sexo, movendo os quadris como
se a estivesse penetrando.
Fitou seus olhos escuros, aberta para ele e disposta a qualquer coisa.
Ele fitou seu rosto, seu lábio mordido, seus seios expostos, os mamilos
vermelhos de seus beijos e estacionou os olhos no ponto onde se
encontravam, movendo os quadris com mais força, rebolando contra ela.
Ela mordeu o lábio com mais força, contendo um gemido.
Aquilo era gostoso demais. Tê-lo sobre seu corpo, roçando em seus
seios e pressionado ali, onde mais precisava, era maravilhoso, mas queria
mais. Necessitava de mais. Precisava dele dentro de si, mas ela sabia que ele
não cederia na sua decisão de esperar.
A situação seria engraçada se não estivesse tão excitada. Porém, um
pequena parte dela sabia que ele tinha razão.
— Hum — ele murmurou, deixando que uma parte do seu peso
descansasse sobre ela, pressionando-a contra a cama. Baixou a cabeça e
circulou um de seus mamilos com a língua, tomando-o na boca em seguida,
sugando.
Ela fechou os olhos, gemendo e circundou o quadril dele com as
pernas, apertando-o contra si.
— Henrique — sussurrou seu nome, precisando de alívio, não
suportava mais aquilo.
Ele sugou seu seio com mais força e ela enfiou as mãos no cabelo dele,
puxando-o mais para si. Ele trocou de um seio para o outro e focou-se
naquela área, lambendo, sugando e mordiscando de leve, enquanto ainda
movia o quadril.
Ela moveu-se de encontro aos movimentos dele, girando os quadris e
jogou a cabeça para trás, fechando os olhos e gemendo.
Ele sugou seu mamilo com força, gemendo de volta, sentindo-se
próximo de explodir.
Dedicou bastante atenção ao seus seios, sugando, apertando e
beliscando de leve com os dentes e desceu por seu corpo, beijando sua
barriga lisinha e percorrendo-a com a língua.
Ela abriu os olhos e fitou o teto do seu quarto, sentindo-o descer cada
vez mais, aproximando-se do lugar onde mais precisava dele.
Estremeceu com o sopro da respiração dele cada vez mais próximo dali
e percebeu apenas naquele momento o quanto o quarto estava claro. E
naquela posição, ele seria capaz de observar todas as suas nuances, não
deixando espaço para imaginação.
Corando idiotamente, tentou fechar as pernas e cobrir aquela parte do
seu corpo. Eram sentimentos conflitantes; embora desejasse que ele a tocasse
ali mais que tudo, principalmente com a língua, não sentia-se confortável
com ele fitando seu sexo tão de perto e naquela iluminação toda.
Antes, quando fizeram aquilo na biblioteca, ela não pensara muito
naquilo nem tão pouco ele a dera tempo para tal. Mas a mesa que se
encontravam na ocasião era um das mais afastadas, nos recantos do lugar,
metros longe da janela mais próxima. Ali ele não tivera chances de observá-la
com atenção.
Agora, no entanto...
Resistiu, tentando fechar as pernas, mas ele apenas as moveu o
suficiente para encaixar os ombros ali rapidamente, impedindo-a de fechá-las
novamente.
Ela esticou uma das mãos trêmulas, sem saber ao certo o que faria, se
cobriria seu sexo ou tentaria afastá-lo dali. Todavia ele levantou os olhos da
inspeção que fazia e a fitou sério, levantando apenas uma sobrancelha.
Ela parou com a mão no ar, arrepiando-se quando, sem deixar de fitá-
la, ele percorreu o interior da sua perna direita com a mão até estaciona-la ali,
percorrendo sua pele sensível apenas por fora, sem tocá-la mais profundo.
— Hum — murmurou rouco, acariciando-a. Ele fitou seu rosto com
atenção e sorriu de lado, um sorriso mínimo, o máximo que o atual estado de
excitação deles permitia. — Vergonha, amor? De novo? — perguntou, sem
nunca parar de tocá-la. Ele esperou por uma resposta, mas ela apenas tentava
respirar direito, estremecendo. Mordeu o lábio quando o sentiu lamber seu
sexo, superficialmente, apenas com a ponta da língua. — Era de se esperar
que devido as pequenas brincadeiras que fizemos anteriormente, a essa altura
você teria menos pudor — ele sorriu e ela fechou os olhos, virando o rosto
para o outro lado.
Disposto a fazê-la perder de uma vez aquela vergonha estúpida, ele
meteu as mãos nos quadris generosos dela e a puxou para si, ficando com o
queixo a poucos centímetros da sua boceta.
Ela arfou, abrindo os olhos e em seguida gemeu, quando ele percorreu
a pele da sua virilha e mais para cima com a barba de alguns dias, arrepiando
sua pele.
Ele a lambeu novamente, mas ainda superficialmente, apenas um roçar
da sua língua macia e úmida onde mais necessitava dele.
— Henrique... — sussurrou, esquecendo todas suas neuras e focando-se
no que importava: a boca dele ali.
— Shhh — ele murmurou e ela estremeceu com o sopro de sua
respiração, precisando forçar seu corpo a permanecer deitado ali, prostrado
para ele, enquanto ele brincava de enlouquecê-la. — Embora eu aprecie
bastante seus gemidos e eles me deixem louco... — pausou, lambendo-a
novamente, mas dessa vez com vontade, abrindo-a apenas minimamente, e
foi o suficiente para fazê-la fechar os olhos e gemer alto. Ele riu baixinho,
embora todo seu corpo parecesse tenso. — Ah, Sofia... Embora eu adore isso,
não podemos fazer barulho — lembrou, abrindo seu sexo com uma das mãos
e passou a observá-la. Passado alguns segundos, ele respirou fundo, soando
mais rouco ao continuar: — Você realmente vai precisar fazer silêncio, amor.
Porque isso aqui... — sussurrou e em seguida chupou um dos seus lábios
externos, fazendo o mesmo com o outro em seguida. Ela gemeu mais forte.
— Não terei pena de você — ameaçou, parecendo prestes a perder o controle.
— Gostosa desse jeito, quase nua e com essa boceta gostosa a minha
disposição e completamente molhada para mim...
Ela ergueu uma das mãos trêmulas e percorreu o cabelo dele,
envolvendo seu rosto em um carinho ameno. Ele pareceu momentaneamente
perturbado com a força do seu desejo, mas com seu toque ele pareceu voltar
ao normal, fitando-a nos olhos e descendo-os por todo seu corpo,
estacionando mais uma vez no banquete que tinha diante de si.
— Não faça barulho — ainda foi capaz de ouvir, antes que ele a
atacasse sem pena.
Não havia outra palavra para descrever o que ele fazia com ela, o que a
fazia sentir e a intensidade de tudo aquilo.
Ele lambeu, sugou, mordiscou seus lábios de leve e grunhiu rouco,
parecendo deliciar-se com seu gosto, enquanto ela tentava não fazer
escândalo.
Aquilo era impossível, pensou tapando a boca com uma das mãos
quando ele a penetrou com dois dedos, entrando e saindo da sua pequena
abertura, enquanto chupava seu clitóris.
Ela estremecia, arrepiava-se, movia-se de encontro a boca dele e nunca
parecia o bastante, sempre queria mais. Mais dele, com ele e para ele.
Ele ergueu os olhos para ela e tomou um dos seus seios na mão,
apertando-o enquanto continuava o que fazia, a enlouquecendo com a boca.
Ela cobriu sua mão enorme e a puxou para seu rosto, pressionando-a
contra sua pele, tentando aguentar a intensidade daquilo tudo.
Ele chupou seu clitóris com força e ela mordeu sua mão por instinto,
sem se importar com mais nada. Depois, descerrou os dentes, conferiu aérea
que não o havia ferido e o fitou no olhos.
Ele parecia estar também no seu limite. Suava um pouco, a testa estava
franzida e seu corpo inteiramente tenso, embora parecesse deliciar-se com
seu sexo.
Ela sabia que ele queria mais, provavelmente se fosse outra garota ali
com ele, já estariam nos finalmentes. Enquanto isso, ali estavam: ela, uma
garota virgem; ele, quase explodindo nas calças, mas sem querer possuí-la.
Ela sabia que ele tinha razão. Não era o momento, precisavam esperar
um pouco mais, mesmo que isso os enlouquecesse. Mas seria o certo.
Porém, enquanto isso, poderiam continuar se divertindo daquela
maneira, tocando-se e até chupando-se.
Ela morria de vergonha, mas assumia para si que adorava tudo aquilo.
Adorava os toques dele, senti-lo sobre si, a chupando, era algo que ela jamais
esqueceria.
Todavia, mais que isso, mais que apreciar os toques que recebia, ela
amava retribuí-los. Amava senti-lo mas mãos, sentir seus músculos
tencionando, seu cabelo macio e amava seus beijos. Mas, sobretudo, amava
chupá-lo.
Com certeza aquela fora uma descoberta deliciosa: ser capaz de dá-lo
prazer.
Pensando nisso, ainda segurando a mão dele nas suas, ela buscou seus
olhos, encontrando os dele em si e abriu a boca.
Em seguida, chupou seu dedo médio, pressionando-o com a língua e
subindo os lábios vagarosamente, sem nunca desviar o olhar dele.
Ele gemeu e fechou os olhos rapidamente, sugando seu clitóris com
mais força e ela gemeu junto, estremecendo.
Ele soltou seu clitóris, lambeu sua boceta com a língua aberta,
percorrendo-a toda e estacionou na sua entrada apertada, enfiando-a ali.
Ela puxou seu cabelo, rebolando de leve e ele grunhiu, voltando para
seu clitóris e chupando-o uma última vez.
Subiu pelo corpo dela como um animal que cercara sua presa e não
havia ares de diversão na sua expressão, apenas uma fome crua, necessitada e
ela sentia o mesmo.
Ele tomou seu seio rapidamente nos lábios e ela arfou, fechando os
olhos.
Relembrando o que decidira fazer, ela gemeu mais uma vez, mas, antes
que ele pudesse deitar-se sobre ela, ela impulsionou o corpo e o fez rolar na
cama.
Ele seguiu seu comando, deitando-se de costas e levando-a consigo,
fazendo com que ela ficasse deitada em cima do seu grande corpo.
Ela o beijou, precisando sentir os lábios dele em si mais uma vez.
Ele gemeu em apreciação, puxando seu cabelo com uma das mãos e
apertando sua bunda com a outra.
Ela mordeu seu lábio inferior e puxou levemente. Percorreu sua barba
com os lábios, amando sentir o pinicar dela na sua pele sensível e seguiu até
o pescoço forte, amando sentir o cheiro dele ali e deliciando-se com sua pele.
Ele gemeu e apertou sua cintura. Ela prosseguiu com o que fazia e
lambeu, sugou e mordeu a pele dele, amando ouvi-lo gemer e grunhir
baixinho.
Sentando-se sobre o quadril dele, encaixando-se sobre seu sexo nu,
sentindo o seu próprio molhá-lo, ela ergueu o corpo.
Ele parecia delicioso ali, deitado na sua cama, em meio aos seus lençóis
floridos, o cabelo comprido bagunçado sobre seus travesseiros, a camiseta de
algodão fina marcando seus músculos, a calça solta no meio das pernas e seu
membro livre, deslizando entre os lábios do seu sexo úmido.
Ela nunca imaginara que um dia estaria assim com alguém, muito
menos na sua casa. Mas gostava daquilo. Gostava de tê-lo para si e ali, na sua
casa, no seu quarto, deitado na sua cama.
Ela amava seus toques, amava seus sorrisos maliciosos, sua falta de
vergonha. Amava que ele fosse tão grande e forte onde ela era pequena e
delicada.
Amava que ele a fizesse sentir como nunca antes se sentira. Amava que
fosse ele a despertá-la para aquilo. Para os prazeres entre um homem e uma
mulher. Para sentir-se confortável e à vontade com outro alguém do sexo
oposto que não o seu irmão.
Amava que ele fosse tão paciente e carinhoso com ela. Amava que ele
gostasse das coisas que ela mais odiava em si mesma. E amava que ele não a
forçasse a nada, apenas deixando que ela siga seu curso, escolhendo o que
fazer, sem pressa, mas sabendo que ele estará ali por ela.
Ressentia-se, sim, por ele não ter cedido mais cedo e a penetrado. Mas
só um pouco, ela sabia que ele tinha razão, só não conseguira enxergar com
clareza no momento.
Nem o conseguia agora, pensou.
Precisaria parar para pensar em algum momento, avaliar seus
sentimentos, suas indagações e preocupações.
Todavia, tinha noção do que seria aquilo que sentia por ele sempre que
o via, junto com o acelerar de coração, o vermelho nas bochechas e o
gaguejar.
Tinha suas suspeitas, mas aquele não era o momento de divagar sobre
seus sentimentos.
Não. Agora o tinha sobre seu domínio. Agora era a sua vez de fazê-lo
enlouquecer e provavelmente notando o que ela pretendia fazer apenas por
sua expressão, Henrique xingou baixinho.
Ela sorriu maliciosa e ordenou, como a mulher maravilhosa que se
sentia naquele momento, livre de pudores e no controle da situação.
— Tire a roupa.
Agora era a sua vez.
CAPÍTULO 24
Ele a fitou com aquele olhar sério, malicioso e quente que a
enlouquecia, mas fez o que ela ordenou após um momento.
Tirou a camisa, olhando-a nos olhos e se ergueu com ela ainda montada
no seu colo. Ela estremeceu ao sentir sua pele quente em contato com seus
seios e mordeu o lábio observando todas aquelas tatuagens.
Elas não cobriam apenas seus braços, como pensara a princípio.
Também cobriam seu peitoral e abdômen e, ao notar alguns desenhos
descendo por seus ombros largos, percebeu que também haviam algumas nas
suas costas.
Ela precisou reprimir um gemido quando, naquela posição, a fricção
entre seus sexos pareceu mais intensa.
Henrique se moveu um pouco, movendo as pernas e ela ouviu o som do
jeans pesado dele caindo no chão ao lado da sua cama. Ele voltou a se deitar
e ela observou aquele espetáculo de homem.
Sofia sabia que nem se houvesse uma margem para comparações
aquela cena seria menos impressionante.
Um Henrique vestido já é algo digno de nota e arquejos, há de se
convir.
Porém, um Henrique vestindo apenas uma cueca boxer branca, com
todas aqueles músculos impressionantes e as figuras e rabiscos que os
cobriam, deitado na sua cama em meio a lençóis, edredons e travesseiros
floridos, com o cabelo revolto, os lábios inchados, a expressão fechada, os
olhos sombrios e com seu membro de fora, era algo para definitiva e
irrefutavelmente enlouquecer qualquer mulher.
Em qualquer caso, era assim que ela se sentia. Enlouquecida. Excitada
ao extremo e agora o tinha todo para si. Inteiramente a sua disposição e ela
não poderia estar mais ansiosa para prová-lo.
E, para ser justa, enlouquecê-lo, tal como ele fizera com ela.
Fitando seu olhar intenso, Sofia retirou o roupão lentamente, sem nunca
desviar os olhos. Jogou a peça no chão, junto ao jeans dele e esticou as mãos
às suas costas, tocando o fecho do sutiã. Ele grunhiu e moveu o corpo sob o
dela levemente.
— Não faz isso... — começou baixinho, a voz rouca, mas antes que
começasse com a ladainha, ela rapidamente soltou o fecho e retirou a peça,
jogando-a junto as outras descartadas. Ele gemeu e fechou os olhos,
mordendo o lábio e jogando a cabeça para trás.
Ela sorriu.
Era mais fácil não sentir vergonha com ele agindo daquela maneira,
como se a visão do seu corpo, qualquer parte dele, o tentasse e descontrolasse
sobremaneira.
Olhou para baixo e notou só naquele momento que sua calcinha havia
desaparecido. Não a havia retirado, Henrique apenas a afastara do caminho
dos seus dedos, mas ela não lembrava de quando exatamente ela sumira dali.
Bom, ela certamente não se desintegrara ou coisa assim, pensou. Ele
provavelmente a rasgara e ela nem percebera, até o momento.
Não tinha importância, de fato. Menos uma peça a retirar.
Mordeu o lábio, observando o corpo tenso sob o seu. Ele continuava de
olhos fechados e com a cabeça jogada para trás. Mantinha os braços ao lado
do corpo e ela notou como seus músculos estavam retesados, devido a força
que ele fazia para se controlar.
Tocou seu peitoral forte e ele respirou fundo, sem mover-se. Desceu as
mãos por seu abdômen e deliciou-se tocando-o.
Aquele homem, seus músculos, tatuagens e altura... Deus, precisava se
controlar, pensou. O plano, seu intento era descontrolá-lo, não o contrário.
Descendo as mãos e votando a subi-las, ela se inclinou sobre o corpo
dele, pressionando os seios sobre sua pele quente e respirando próxima a
boca dele, movendo os quadris lentamente.
Ele soltou o lábio e gemeu profundamente, baixando o rosto e voltando
a fitá-la. Ela moveu o quadril novamente, fitando-o nos olhos.
Ele trincou o maxilar e a fitou de volta, sem mover-se um centímetro
sequer, erguendo uma sobrancelha. Ela sorriu, aceitando o desafio.
Ergueu uma das mãos e tocou seu rosto. A barba áspera fez cócegas na
sua mão, seguiu até uma de suas sobrancelhas, desenhando-a e descendo até
seus lábios.
Ela percorreu sua boca com os dedos, delineando seu contorno e
fitando-a com fascinação. Ele descerrou seu maxilar e, ainda olhando-a nos
olhos, descolou os lábios e lambeu um de seus dedos.
Ela sentiu o corpo arrepiar e ele envolveu seu dedo médio com os
lábios, como ela fizera anteriormente, chupando de leve. Ela, que sabia as
maravilhas e o quanto aquela boca e língua eram habilidosas, gemeu,
sentindo-se molhar ainda mais.
Retirou o dedo da boca dele lentamente, observando-o com inveja.
Pressionou a boca ali rapidamente, desejosa, colando seus lábios antes que
ele arrumasse outro jeito se enlouquecê-la mais um pouco.
O beijou com gula, com ânsia dele e querendo mais, desejando que ele
se entregasse como ela fizera anteriormente, sem pensar demais no assunto.
Ele correspondeu ao seu beijo com igual fome, devorando seus lábios.
Ela chupou sua língua, demoradamente e moveu o quadril mais uma vez,
rebolando contra ele.
Henrique gemeu contra seus lábios e moveu-se em resposta, roçando
mais forte contra seu clitóris inchado.
Ela passou a rebolar sem pausas, mantendo um ritmo que, se
mantivesse por mais que alguns minutos, seria o bastante para fazê-la gozar.
Sentindo-se cada vez mais úmida, ela estava quase desistindo daquela
ideia idiota de fazê-lo perder o controle, resignando-se de que ou não era
capaz ou o autocontrole dele era sobrenatural.
Todavia, antes que recuasse, sentiu-o percorrendo suas costas nuas com
as mãos e gemeu, mais ansiosa que vitoriosa por seu feito.
Ele percorreu toda sua pele, fazendo-a arrepiar até estacioná-las no seu
cabelo desgrenhado, puxando com força e beijando-a mais forte.
Isso, pensou enquanto gemia e o beijava com igual fervor. Aquele era o
seu Henrique. O que a pegava com força, que a apertava, puxava seu cabelo,
mordia seus lábios com mais força e grunhia e gemia rouco contra seus
lábios.
Sofia gemeu alto contra a boca dele quando ele começou a mover o
quadril de encontro ao seu, equiparando seus movimentos, tornando tudo
mais intenso.
Ele desceu uma das mãos, percorreu seu corpo e apertou sua bunda
nua, como ela toda, e forçou seu quadril a mover-se com mais força.
Ela estremeceu, aumentando o ritmo, seguindo seu comando mudo e
rebolando mais forte.
Henrique gemeu mais alto e mordeu seu lábio. Arrastou os dentes ali
antes de soltá-lo e afastou o rosto.
Ela abriu os olhos minimamente, sua mente nublada de desejo e fitou
seu olhar. Ela sentia os seios pesados, doloridos e necessitados, encostados
contra a pele quente dele e notou o contraste interessante que faziam.
Ela, com a pele branca como leite, quase translúcida e ele bronzeado,
bombado e com aqueles rabiscos e figuras na pele. Gostou daquilo e
imaginou como ficaria sua pele com uma tatuagem. Combinaria com ela?,
perguntou-se com uma pequena parte do cérebro que não estava domada por
ele e todo aquele desejo.
Apertou sua pele, movendo-a como queria contra si e ela moldou-se
aos seu toque, deixando que ele ditasse o ritmo.
Henrique a fez mover-se como se ela o estivesse quicando, batendo
contra seu sexo duro, levantando-a minimamente e voltando a bater contra ele
novamente.
Ela gemeu, apertando-se contra ele e murmurou baixinho.
— Por favor.
Ele negou com a cabeça, os olhos cerrados, o maxilar travado e
pulsando contra o sexo dela.
Ela sabia que ele tinha uma parcela de razão, mas não conseguiu
impedir-se de se irritar com aquilo.
Pensou em dizer algo, até abriu a boca para falar, mas pensou melhor e
concluiu que ações eram melhores que palavras.
Franziu o cenho e ergueu o corpo, fitando-o de cima. Ele desceu os
olhos por seu corpo nu e tencionou o corpo, apertando sua bunda com mais
força. Quando ele, após balançar a cabeça e olhar para o teto, abriu a boca,
ela se desvencilhou das suas mãos rapidamente.
E, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, moveu-se na cama,
desceu o corpo e estacionou entre as pernas dele, com o rosto a centímetros
do seu membro.
Ele, parecendo pego de surpresa, apenas a encarou por alguns
segundos, mas quando ela tocou seu pau com as pequenas mãos, pareceu
pronto para negar-se novamente.
Ela sorriu maliciosamente e, rapidamente, o tomou na boca,
envolvendo-o nos lábios e massageando-o com a língua.
Seja o que fosse que ele pretendia falar, pareceu desistir e até esquecer,
jogando a cabeça para trás novamente e gemendo alto.
Bom, aquilo era um pequeno progresso. Gemidos eram melhores que
qualquer outra coisa, pensou.
Concentrou-se no que fazia e preferiu seguir seu instinto, como fizera
com tudo sobre aquilo desde o início.
Subiu e desceu os lábios por sua extensão, ouvindo seus gemidos
graves e sentindo-o pulsar contra sua língua. Lambeu-o, o circulou com uma
das mãos, movimentando-a para cima e para baixo.
— Sofia... — ouviu seu sussurro grave, mas não deu atenção,
continuando o que fazia.
Tomando-o na boca mais uma vez, chupou com força, vingando-se por
todas suas negativas e deliciando-se com seu gosto.
Ele gemeu alto novamente, por sorte, não tão alto quanto os gemidos
dela.
Ela o percorreu com a língua e subiu os olhos, fitando-o. Ele a
observava com os cotovelos apoiados na cama, erguendo o corpo para
observá-la melhor.
Sofia percebeu que o corpo dele brilhava levemente, todos seus
músculos cobertos por uma camada sutil de suor. Ele tinha a expressão
fechada, sofrida, os olhos cerrados e ela notou que estremecia.
Ah, então agora ele se sentia como ela mesma se sentira há alguns
minutos atrás, pensou, sem conseguir reprimir um sorriso vitorioso.
Ainda fitando-o nos olhos, chupou apenas a cabecinha, pressionando os
lábios com força e sugando. Ele sobressaltou-se e pareceu perder o controle,
movendo-se rapidamente.
Inclinou-se e a tirou dali, jogando-a na cama com força, cobrindo eu
corpo e beijando-a com fúria.
Ela não conseguiu sorrir dessa vez, presa onde estava, com mais de
cem quilos de um Henrique enlouquecido sobre si, pressionando-a contra a
cama, percorrendo seu corpo com as mãos fortes e beijando-a com força.
Gemeu, rendendo-se e envolveu a cintura dele com as pernas, puxando-
o mais para si enquanto embrenhava as mãos em seu cabelo, puxando-o.
Ele a beijou daquela maneira pelo que pareceram horas e afastou-se
minimamente, apenas para olhar em seus olhos.
— Você quer foder com o meu juízo — rosnou contra seus lábios.
Voltou a beijá-la, descendo uma das mãos pela lateral do seu corpo nu
até sua perna e ela rebolou, gemendo manhosa. Ele ergueu a mão e bateu
contra sua bunda, apertando-a e cobrindo sua pele quente.
Ela gemeu alto, surpresa, sentindo-se estranhamente ainda mais
excitada com aquele tapa. Não parou para pensar se era certo sentir aquilo,
apenas precisava de mais.
Moveu-se contra ele, ainda o envolvendo com as pernas e gemeu
novamente quando ele passou a rebolar mais firme contra seu clitóris. Ele a
bateu novamente e ela estremeceu, arfando e ficando mais úmida.
Ele afastou a boca e fitou sua expressão, sorrindo safado, notando o
quanto ela gostara daquilo.
— Você quer, definitivamente, ser fodida — grunhiu baixo e ela se viu
confirmando com a cabeça, desesperadamente. Ele riu, voltando a beijar seus
lábios. — E eu, definitivamente... — prosseguiu, fitando seu corpo nu
estendido na cama. Os seios que os saudavam, os mamilos, rígidos. As pernas
abertas, ele entre elas e seu sexo úmido eram mais do que indicativos da sua
condição. — Definitivamente, quero foder você — confessou, voltando a
fitá-la. — Porém, temos um problema.
Ela franziu o cenho, finalmente desistindo. Ele não cederia.
Afastou-se e descansou o corpo no colchão macio, desistindo daquilo.
Definitivamente, aquilo não aconteceria ali, agora, como tanto queria.
Ela o fitou desanimada, assumindo a derrota e começando a sentir-se
irritada.
— O problema é... — interrompeu-se quando notou a expressão
emburrada dela. — O que foi?
— Nada — respondeu grossa, começando a sentir-se ridícula.
Ele franziu o cenho, confuso.
— Por que está com raiva?
— Não estou com raiva.
— É notório que sim. Só me pergunto por quê.
— Tenho motivos para isso?
Ele sorriu, descarado. Ela o fuzilou com os olhos. Cretino, sabia o por
que de ela estar com raiva e ainda bancava o idiota.
— Ah sim — disse ainda sorrindo.
Ela fechou ainda mais a expressão. Ele riu mais um pouco, dessa vez
malicioso, voltando a movimentar o corpo e desafiando-a com o olhar a
manter-se indiferente.
Ela tentou. Tentou não focar no que ele fazia e no prazer que percorria
seu corpo com o deslizar do pau dele entre as dobras do seu sexo úmido.
Mordeu o lábio e negou-se a gemer, mas ele notou quando ela estremeceu,
apertando-o com as pernas ainda envoltas da sua cintura.
Ele tomou um dos seus seios na mão e apertou, tornando impossível a
tarefa dela de não gemer.
— Disse algo? — indagou malicioso, sorrindo aquele sorriso molhador
de calcinhas que ela amava, ainda movendo o quadril, deslizando contra ela.
Ela negou com a cabeça, tentando manter o mínimo de dignidade,
embora soubesse que ele era capaz de sentir o quanto ficava ainda mais
molhada contra ele.
— Ah, engano meu — sorriu, sem parar o que fazia. — Então, quer me
contar por quê está irritada?
Ela forçou-se a falar, reprimindo um gemido.
— Se você não quer ou "não pode", — fez aspas com as mãos, falando
pausadamente, respirando pesadamente — por que continua com isso?
— Por que você é gostosa demais — respondeu simplesmente, como se
isso esclarecesse tudo.
— Você já disse isso.
— E continuarei, porque é a mais pura verdade.
— E por que não segue em frente? Digo, seguimos até os finalmentes e
tal — e dado a sua irritação, somada a crescente excitação ela nem sequer
sentiu o rosto corar.
Ele sorriu, parecendo deliciado com aquela faceta descarada dela.
— Porque, amor, eu realmente penso que agora não é o momento —
declarou, erguendo o quadril e voltando a pressionar-se contra ela, repetindo
o movimento algumas vezes. Ela gemeu e ele pareceu deliciar-se com aquele
som. — Mas também quero muito comer você — aproximou a boca da dela e
ficou ali, recebendo os gemidos dela nos lábios. — Por horas. A noite toda.
Melhor, por dias — continuou. — Quero me fartar de você, fazer você gritar
meu nome, gemendo gostoso enquanto fodo essa bocetinha apertada —
rosnou, batendo o quadril contra o dela, pressionando seu clitóris.
Ela tomou seu cabelo nas mãos, apertando-o contra si, puxando-o com
as pernas enquanto gemia sem controle.
— E por que não fode? — ela sussurrou contra seus lábios, fora de si.
Ele fechou os olhos, gemendo e tencionando o corpo e ela por um
momento imaginou que negaria mais uma vez.
Todavia, não foi o que ele fez.
CAPÍTULO 25
Ela estava nervosa.
Nunca antes sentira-se tão nervosa na vida como estava naquele
momento.
Passou uma hora inteira na frente do espelho apenas fitando seu rosto,
mas sem enxergá-lo de fato, pensando em mil coisas ao mesmo tempo.
Ela sabia o que queria. Também sabia que era relativamente cedo. Ou
algumas pessoas rotulariam assim.
Mas ela queria, ele também. E, sobretudo, confiavam um no outro,
então, por que esperar?
O mais importante de tudo era aquilo que não sabia nomear ainda, mas
era consciente de que sentia por ele.
Poderia não ser amor, ela não saberia dizer, já que aquilo era diferente
de tudo que já sentira. Porém, ansiava por mais e sabia que aquele primeiro
passo seria um divisor de águas, tanto no relacionamento deles quanto na sua
vida.
Escolhera a roupa com cuidado. Passara horas decidindo tudo
milimetricamente, da lingerie ou a falta dela aos pequenos e delicados brincos
pendentes nas suas orelhas.
Vestia um vestido que comprara naquela manhã de sábado com suas
amigas, em sua primeira visita voluntária à um shopping.
Precisara chamar reforços porque, como ainda sentia-se insegura em
vestir-se sozinha e ainda mais para uma noite tão importante como aquela, ela
quase entrou em surto.
Compreendendo seu apelo mudo mais do que as palavras apressadas
que saíram por seus lábios, suas amigas rapidamente assumiram o controle e
a auxiliaram nas compras.
Decidiram em comum acordo comprar mais que apenas um vestido e,
realizando o sonho de Lorrany, que sempre esperara ansiosa pelo dia que
trocaria todas aquelas roupas horrendas compradas por sua mãe por roupas
novas, transadas e dignas de uma garota como Sofia, compraram muito mais
que o necessário.
Todavia, Sofia não se importou, seguindo-as no automático e
confirmando com a cabeça sempre que indagavam algo.
Após as compras, aproveitando que seus pais não estavam em casa,
acomodaram-se na sala de estar e conversaram por algumas horas.
Sofia sabia que suas amigas sempre a apoiariam em tudo e daquela vez
não foi diferente.
Ela não saberia dizer ao certo de onde surgira aquilo, mas, antes
daquela conversa, tinha certeza que suas amigas a julgariam por apressar as
coisas daquela maneira com Henrique.
Entretanto, não fora o que aconteceu.
E ela ficou feliz em ouvir todos os conselhos de suas amigas sobre o
que esperar e uma visão geral de como seria o ato em si. Tendo em vista tudo
o que já fizeram juntos nesses últimos dias, ela sabia bem o que ou como as
coisas eram feitas, porém isso não a impediu de corar como um tomate com
aquela conversa.
Por fim, após todos os preparativos e conversas, ali estava, pronta.
Fitou-se criteriosamente, dos cabelos daquela vez alisados e não
ondulados, até os saltos altos e caros que comprara naquela manhã.
Thaís demorara quase um hora inteira para alisar seus cabelos, mas ela
não reclamara uma vez sequer, meio aérea, enxergando tudo com um
distanciamento, como se fosse uma pessoa de fora. Ela gostara do resultado,
os fios pareciam macios e brilhavam levemente, hidratados e caindo
suavemente por sobre seu ombro, em um penteado lateral simples.
A maquiagem, obra de Lorrany, também era simples, apenas um realce
nos olhos, maçãs do rosto e um batom novamente em um tom clarinho. As
três concordaram que daquela maneira era melhor, algo simples e que seria
fácil de retirar a noite, antes de dormir.
Estremeceu de expectativa.
O vestido fora uma escolha unicamente sua. Estavam já há mais ou
menos uma hora de compras quando o vira em uma vitrine e soubera que
aquele deveria ser o vestido.
Ele era negro, escuro e sem enfeites. Possuía um decote em V discreto,
não muito profundo, deixando a vista apenas uma sugestão dos seus seios.
Possuía bojo interno, o que dispensava o uso de sutiã, o que era providencial,
ainda mais devido ao grande decote nas costas.
Ele era retangular, descia desde quase a sua nuca até o topo da sua
bunda, o que a deixava em evidência, devido a cor do tecido.
O vestido era um pouco apertado e impossibilitava o uso de lingerie, o
que ela não se importou muito.
Não facilitaria para ele hoje, pensou, sorrindo minimamente.
Da última vez ele quase surtara com o tamanho da sua calcinha, como
ele agiria quando notasse que ela estava nua por baixo daquele vestido?
Riu sozinha, sentindo-se finalmente relaxar, lembrando-se da maneira
que ele agia com ela, demonstrando seu desejo sem reservas, entregando-se
inteiro.
Apenas para voltar atrás no último segundo, pensou amargurada.
Mas aquela noite seria diferente. Naquela noite ambos seriam eles
mesmo e se entregariam ao desejo que sentiam, sem reservas e sem
hesitações.
Pegou o celular na pequena bolsinha pendurada no seu ombro e
conferiu o visor, notando que faltavam poucos minutos para o horário que
combinaram.
Sentou-se na cama e encarou seus lençóis, pensativa, relembrando tudo
o que fizeram ali.
Quando sussurrara, sem se reconhecer, que ele a fodesse, ela realmente
não esperava que ele fizesse aquilo, mas a reação dele a surpreendera de
qualquer forma.
Ele grunhira, parecendo perder o controle o rolara na cama, movendo-a
consigo e moldando-a com rapidez e eficiência, até que ela estava na posição
que ele queria.
De frente para sua janela, de costas para ele e sentada de pernas abertas
sobre seu rosto.
Ela não tivera tempo de protestar ou envergonhar-se, porque logo em
seguida sentiu a língua dele ali, no meio das suas pernas, provando-a e
sugando-a com força.
Ela ficara chocada, mesmo gemendo e estremecendo com o que ele
fazia, mas logo entregou-se, apenas se deixando levar, sentindo as mãos dele
na sua bunda, apertando-a e abrindo-a para ele.
Sentiu o corpo ceder e deixou-se cair, apoiando-se no abdômen dele,
em uma posição que nunca pensara que estaria algum dia: de quatro, aberta e
sobre o rosto de um cara.
Porém, não se importara com nada naquilo no momento, apenas gemia
cada vez mais alto e o sentia devorar sua boceta como se há apenas alguns
minutos antes não estivesse com a cabeça ali.
Ela sentira-se tonta, estremecendo vez após outra e sentindo-se cada
vez mais próxima. Ondulou o corpo para ele e ele grunhiu, recompensando-a
com um tapa na bunda.
Ela fechou os olhos, sem conseguir sequer punir-se daquela vez por
gostar tanto daquilo e gemeu deliciada, movendo os quadris novamente.
Henrique a mordiscou levemente e ela sentiu-se desabar ainda mais,
ficando com o rosto próximo ao pau dele.
Tomou-o nas mãos rapidamente e o acariciou, movendo as mãos para
cima e para baixo. Ele a chupou mais forte e antes que um gemido grave e
estridente escapasse por seus lábios, lambeu-os rapidamente e o tomou na
boca, chupando-o com força, como ele fazia com ela.
Dessa vez, ele que gemera alto, apertando-a com mais força e
circulando seu clitóris com a língua.
Ela continuou chupando-o daquela maneira, sentindo-se na beira do
abismo e rebolando contra os lábios e língua dele.
Henrique parecia gostar quando ela fazia aquilo, recompensando-a com
tapas e mordidas no interior de suas pernas.
Ela estremeceu mais uma vez e sentiu o corpo arrepiar, sabendo que
não resistiria mais tempo.
Por sorte, ele parecia estar perto também, passando a mover o quadril
de encontro a boca dela, e gemendo e grunhindo contra sua carne úmida.
Ela gemeu alto, pressionando os lábios nele e usando-o para abafar seus
sons quando sentiu-se cair, estremecendo e apertando-se contra ele, sentindo-
se perder, finalmente.
Ele continuou chupando seu clitóris e a penetrou com dois dedos,
fazendo com que seu orgasmo fosse mais intenso e prolongado, enquanto
gemia profundamente.
Ela continuou chupando-o enquanto ainda sentia o corpo estremecer e
ele também estremeceu, movendo o quadril com mais força.
Sofia voltou a tomá-lo nas mãos e continuou com os lábios ali,
bebendo-o quando ele se derramou contra sua língua.
Ela o limpou com a língua, chupando-o uma última vez e ele grunhiu,
sensível pelo orgasmo e bateu na sua bunda novamente, também chupando-a
mais uma vez.
Ela deixou-se cair contra a cama e permaneceu de bruços com o rosto
afundado no colchão mesmo quando pensou que muito provavelmente ele
tinha uma visão privilegiada da sua bunda.
Todavia, levando em conta o que acabaram de fazer, ela não se
importou muito, mas sentiu o rubor se espalhar ainda mais pelo corpo.
Sentiu ele se mover sobre a cama e arrepiou-se quando ele deitou-se
sobre seu corpo, cobrindo-a inteira e beijando suas costas, estacionando os
lábios no seu pescoço.
Ela gemeu satisfeita e fechou os olhos, adorando aquele carinho.
Namoraram por mais alguns minutos e quando ambos já gemiam e se
tocavam mais profundamente novamente, ele se afastou afirmando que por
agora bastava.
Ela não se importou e continuou deitada na cama, sentindo-se satisfeita.
Ouviu quando ele desceu da cama e o som de seus passos, seguido do
farfalhar de roupas. Continuou de olhos fechados e onde estava, deitada e
nua, espalhada na cama.
Ao terminar de vestir-se, ele grunhiu, inclinou-se sobre ela, mordeu sua
bunda levemente e a cobriu com o edredom, ordenando que se vestisse, para
o bem dele.
Ela riu e fez uma força descomunal para levantar-se, mas o obedeceu.
Sentou-se na cama e procurou com os olhos por suas roupas,
lembrando-se que quando ele chegara estava de roupão só quando ele o
estendeu para ela, sério.
Ela fitou seu rosto, pegando o roupão e percebeu porque ele parecia tão
sério. Encarava seu corpo nu, enquanto ele estava vestido, ao menos com a
calça.
Ela reprimiu um sorriso feliz ao notar seu poder sobre ele e ergueu os
braços, prendendo seu cabelo. O fez de maneira demorada, de modo que ele
notasse o balançar sutil dos seus seios com seus movimentos e a apreciasse
mais.
Henrique parecia fascinado, com os olhos focados nos seus seios e ela
finalmente sorriu, sem se conter.
Ele encarou seu rosto, fitou seu sorriso e ela notou quando ele percebeu
que ela fazia tudo aquilo de propósito.
Fechou a cara, sem desviar os olhos novamente para os seus seios e ela
quase riu com sua birra.
Ergueu as sobrancelhas e ele imitou seu movimento, ainda evitando
fitar seus seios.
Aceitando seu desafio mudo, Sofia ficou de pé lentamente, erguendo o
corpo e fingindo que havia acabado de acordar, erguendo os braços e
balançando o corpo suavemente.
Não tivera tempo de fitá-lo novamente, porque mal baixara os braços e
ela já a puxava para si, embrenhando as mãos nos seus cabelos, puxando com
força e colando seu corpo nu ao dele parcialmente vestido.
Ela gemeu entregue, apoiando-se no corpo dele e inclinando a cabeça
como ele queria, para beijá-lo melhor.
Ele mordeu seu lábio inferior, com força e soltou, respirando forte
contra seus lábios.
— Você será a minha morte — grunhiu.
Ela não conseguiu sorrir daquela vez, trêmula como estava e apoiada
nos braços dele. Pressionava todo seu corpo contra o dele, dos seios doloridos
e pesados ao seu sexo que implorava por mais atenção.
Ele fitou seu rosto por alguns segundos, descendo os olhos por seu
corpo em seguida e mordendo o lábio.
Beijou-a mais uma vez, como se não conseguisse se conter. Descansou
a testa sobre a dela após alguns segundos, enquanto ambos respiravam
ofegantes.
— Tudo bem? — perguntou baixinho, fitando-a nos olhos.
Ela franziu o cenho em um primeiro momento, confusa, sem saber a
que ele se referia. Até compreender que ele provavelmente estava preocupado
se ela haveria gostado de tudo que fizeram, ainda mais sendo tudo aquilo
novo para ela.
— Sim — ela sussurrou e percebeu quando ele pareceu relaxar,
sorrindo para ela. Sofia respirou fundo, envolvendo os braços no pescoço
dele e ainda sentindo aquela espécie de segurança que sempre sentia quando
ele a observava daquela maneira. Tocou seu cabelo comprido, acariciando-o.
— Mas eu quero mais — confessou.
Henrique tencionou o corpo, ela pôde sentir, já que ainda estava colada
a ele. Ela continuou com os braços envolvendo seu pescoço, enquanto ele
parecia pensativo, acariciando suas costas, subindo e descendo as mãos por
sua pele nua.
Passado alguns segundos de uma reflexão muda, ele a fitou nos olhos,
sem traços de diversão, parecendo buscar por algo ali.
— Tem certeza? — manteve o tom baixo e continuou a fitando, atento
a sua expressão.
— Sim — ela afirmou, sem titubear e certa do que queria.
Ele ainda a observou por alguns segundos, parecendo buscar provas se
o que ela dizia era verdade mesmo, antes de beijá-la demoradamente.
Ela rendeu-se mais uma vez, entregando-se a ele, moldando-se ao
corpo dele e sendo dele, mais do que poderia julgar possível.
Ele a beijou por minutos, tocando-a com infinito carinho, acariciando
seu rosto, massageando o interior da sua boca com a língua e abraçando-a
apertado.
Ela começava a ficar tonta, sem ar, sentindo-se mais uma vez tomada
pelo desejo quando ele se afastou, beijando todo seu rosto com delicadeza.
Ela fechou os olhos, aceitando seu carinho e sentindo o coração bater
forte no peito, inundado por ele e tudo que ele passara a representar para ela.
Henrique voltou a descansar a testa na sua e ela abriu os olhos,
estremecendo com a emoção que vira nos olhos dele, que parecia um reflexo
do que ela mesma sentia.
E sentiu o corpo todo arrepiar e estremecer novamente, dessa vez de
expectativa, quando ele sussurrou, ainda fitando-a nos olhos:
— Amanhã à noite.
E ali estava, na noite seguinte, produzida e aconselhada, apenas à
espera.
Não se irritara por ele adiar aquele momento por mais 24 horas. Sabia
que ele tinha razão quanto não fazer aquilo ali, na sua casa, onde poderiam
ser interrompidos. E pior, ouvidos.
Aceitara esperar até o dia seguinte, porque tinha que se preparar
fisicamente para aquilo, mas além de tudo porque confiava nele e sabia que
ele não fazia promessas vazias.
E estava ansiosa para vê-lo cumprir todas que que fizera desde que a
conhecera.
CAPÍTULO 26
Aquela noite, como todas as outras que passara ao lado dele, aliás, fora
sem precedentes.
Sofia não lembrava de uma só vez que sentira-se tão feliz e segura
como se sentia quando estava com Henrique.
Preocupara-se atoa, pensou, montada atrás dele naquela
monstruosidade de moto, enquanto passeavam pela cidade, seguindo para a
casa dele.
Foram ao cinema. Ela se surpreendeu com a escolha dele, imaginou que
iriam direto para casa dele e partiriam logo para terceira base, sem
contratempos. Porém, aquele era Henrique, sempre a surpreendendo.
Ela estava enganada quanto aquilo, mas admitia que se ele preferisse
adiar o passeio e partirem logo para o que interessava, não se oporia, pelo
contrário.
Tão ansiosa e nervosa estava que mal podia se controlar.
Fora uma tarefa árdua manter a boca fechada quando ele a buscara mais
cedo, a cumprimentara com um beijo prolongado e partiram dali rapidamente.
Quisera perguntar alguma coisa, contudo, tão abobalhada estava que preferiu
manter a boca fechada, para o seu bem.
Talvez presumindo que ela usaria novamente um vestido, Henrique
levara outra de suas jaquetas enormes e ela amarrara a peça na cintura,
subindo na moto atrás dele com ainda mais cuidado que da outra vez. No
começo fora um pouco incômodo sentir o bater do vento em uma área que
geralmente não era tão ventilada, mas logo se acostumou.
— Vai ser bom para você. Receber tanto vento na perereca, digo —
havia dito Lorrany, quando estava quase terminando sua maquiagem e após
conjecturarem por alguns minutos se ele novamente a buscaria de moto. — É
bom receber um ventinho na perseguida de vez em quando e, no seu caso, vai
servir pra amaciar a bichinha para o que acontecerá mais tarde.
— Lorrany! — Sofia protestara, sentindo o rosto corar por baixo de
uma camada generosa de base para esconder suas sardas. — Não tem um
filtro entre o seu cérebro e a sua boca? Você deveria...
— E você deveria calar a boca e ficar quieta se não quiser sair daqui
parecendo um palhaço — a interrompera e Sofia ouvira que vasculhava seus
milhões de pincéis. Retomou ao que fazia após alguns segundos, delineando
suas sobrancelhas. — Vai por mim, será ótimo para você receber tanto vento
na xoxota, arreganhada naquela moto. Quando ele for tocar em você, com a
boca, dedos ou pau, você vai entender o que estou dizendo.
Thaís apenas rira, jogada na cama de Sofia, após cumprir a missão de
alisar seu cabelo indomável. Decidira que manter-se calada quando Lorrany
optava por discursar sobre o que quer que fosse, ainda mais se isso fosse
sobre a vida sexual de Sofia, era sempre a melhor escolha.
Sofia corara, mas mantivera-se quieta ouvindo os conselhos
"indispensáveis" de sua amiga.
Todavia, precisava admitir que realmente sentia-se um pouco mais
sensível naquela área. Fora um alívio quando finalmente chegaram ao
shopping e pode sentar um pouco, cruzando as pernas e estremecendo, na
sala de cinema.
Se a perguntarem posteriormente qual era o filme ou sobre o que era,
ela não saberia dizer. Não concentrou-se em outra coisa que não o homem ao
seu lado e o que fariam mais tarde.
O rubor sob sua pele parecia permanente, pensou. Sempre que outras
pessoas os encaravam, talvez por chamarem tanta atenção por suas
características físicas excêntricas - ela, com um cabelo extremamente
vermelho e as longas pernas nuas e ele, alto, gostoso, tatuado, gostoso,
barbudo, gostoso, com o cabelo comprido e solto sobre os ombros, gostoso e
extremamente gostoso -, tinha certeza que nunca passariam despercebidos.
Sempre que recebia alguns olhares demorados ou até mesmo os
passageiros, Sofia sentia-se corar ainda mais, como se todos fossem capazes
de ler seu pensamento e saber exatamente no que ela estava pensando.
Bobagem sua, sabia, mas isso não a impedia de corar vez após outra.
Henrique tinha um leve e insistente sorriso de lado colado nos lábios
sempre que a olhava e ela desconfiava que ele soubesse o que estava
pensando.
O filme em si, ela não vira, mas a sensação de estar ao lado dele,
juntinhos, de mãos dadas e o mais próximos que podiam naquelas pequenas
cadeiras desconfortáveis, era o suficiente.
Ouvira alguns gritinhos femininos na sala escura e presumiu que se
tratasse de um filme de terror, sem tirar os olhos dele.
Aproveitando aquela chance, pressionou o rosto no pescoço cheiroso
dele, como se estivesse amedrontada, quando na verdade nem sequer olhara
para a grande tela à sua frente.
Ele abraçou seus ombros com um dos braços musculosos e a puxou um
pouco mais para si, descansando a cabeça sobre a dela, cheirando e beijando
seu cabelo.
Sofia acomodou-se melhor nos seus braços e permaneceu assim, apenas
sentindo o cheiro dele e sentindo-se segura ali.
Até que ele começou a acariciar suas costas. Era um toque leve, sem
malícia, mas ela sentia-se tão sensível e ansiosa pelos toques dele em toda e
qualquer parte do seu corpo, que sentiu-se despertar, como sempre acontecia
quando estava com ele.
Acomodou-se melhor na cadeira e aproximou-se mais dele, mantendo o
rosto no seu pescoço e tocando sua pele cheirosa com a língua.
Ele manteve-se imóvel, sem parecer incomodado, mas ela sentira que
as carícias dele nas suas costas tornaram-se mais firmes.
Notou a pele dele arrepiar quando afastou-se brevemente e não resistiu,
mordendo-o rapida e levemente. Daquela vez, ele que estremecera.
Ela o sentiu subir uma das mãos e acariciar seu cabelo, embrenhando os
dedos ali e logo puxando suavemente, afastando seu rosto para observá-la.
Ela fitou seus olhos e mordeu o lábio quando ele apenas a fitou
seriamente, parecendo procurar algo.
Logo sorriu, malicioso, notando suas bochechas coradas e a forma
como se remexia na cadeira, ansiosa e excitada.
Ainda mantendo uma das mãos em um aperto firme no seu cabelo, com
a outra ele tocou uma de suas pernas, acariciando sua pele nua.
Ela não resistiu em separá-las levemente, convidando-o para um toque
mais profundo.
Henrique percebeu e o sorriso rapidamente sumiu de seus lábios, sua
expressão mudando subitamente.
Ela ainda fora capaz de ouvi-lo grunhir, antes que ele abaixasse a
cabeça e tomasse seus lábios em um beijo faminto.
Ela gemeu, fechando os olhos e rendendo-se como sempre acontecia.
Beijaram-se por minutos à fio, tocando-se discretamente e desligando-
se de tudo a sua volta.
Henrique roçou as costas das mãos por seus seios doloridos e ela
estremeceu, agradecendo mentalmente por estarem em uma das últimas
fileiras, no escuro e sem companhia.
Ela ouvia o som das pessoas à sua volta, rindo, conversando baixinho e
alguns gritinhos femininos, e aquilo só aumentava o seu desejo.
Ele pressionou os lábios no seu pescoço, lambendo e mordendo sua
pele, ainda puxando seu cabelo. Ela manteve os olhos fechados, pressionando
os lábios também fechados para não emitir nenhum som que chamasse
atenção para onde estavam.
Desceu as mãos que enlaçavam o pescoço dele e percorreu seu peitoral
forte, deliciando-se quando os músculos retesavam-se sob seu toque e
amando ter o poder de excitá-lo tanto quanto ele fazia com ela.
Sentiu novamente o toque dele em uma de suas pernas, subindo
vagarosamente. Respirou fundo, trêmula e antes que ele a tocasse ali, onde
mais necessitava dele, descansou uma das mãos no colo dele, delineando com
os dedos o membro excitado e impressionante que estufava o tecido do jeans.
Ele respirou fundo e apertou sua perna, afastando-a um pouco mais.
Sofia prosseguiu com seu toque, sem arriscar-se em abrir o zíper e aprofundar
o toque, com medo que alguém ouvisse o som e os notasse.
Ele, pelo contrário, não teria esse problema, pensou, estremecendo.
Não quando estava de pernas levemente abertas e o sexo nu e excitado,
apenas esperando pelo toque dele. O único problema, pensou reprimindo
outro gemido, seria manter-se calada quando ele a tocasse ali.
Ela sentiu mais do que ouviu a surpresa dele quando notou a falta da
sua calcinha. Ouviu o grunhido selvagem dele, após retroceder os dedos
surpreso e sorriu, quando ele a tocou novamente, dessa vez sem hesitar.
Tocou-a com delicadeza a princípio, apenas um roçar dos dedos na sua
carne úmida e sensível e ela pressionou o rosto no pescoço dele, tentando
manter-se em silêncio.
Henrique a abraçou apertado, colando-a ao seu corpo enquanto a
tocava. Ela mantinha-se em suspenso, pressionando os lábios no pescoço dele
e tocando-o com as mãos trêmulas, por cima do jeans.
Ele percorreu sua pele sensível e molhada, grunhindo. A penetrou com
um dedo e Sofia mordeu sua pele, porque embora sempre acontecesse quando
ele a tocava e ela não entendesse absolutamente como aquilo era possível,
estava quase gozando.
Gemeu o nome dele, movendo-se como podia de encontro aos seus
dedos e ele gemeu em resposta, tão excitado quanto ela.
Quando já não conseguia mais reprimir seus sons, ele puxou seu cabelo
novamente e calou-a com a boca, continuando com o que fazia.
Ela rendeu-se aos seus beijos, mordendo, lambendo e chupando seus
lábios, devorando-o como ele fazia com ela.
Ele adicionou um segundo dedo no seu interior e ela estremeceu,
puxando o cabelo dele com as duas mãos e gemendo de encontro aos lábios
dele, caindo naquele delicioso abismo de prazer.
Estremeceu novamente, ainda gemendo e ele continuou tocando-a,
prolongando seu orgasmo.
Permaneceu em silêncio por alguns minutos, tentando voltar do limbo
de prazer em que estivera.
Afastou os lábios minimamente, apenas para recuperar o fôlego, sem
abrir os olhos e pensou que, definitivamente, havia enlouquecido. Ou, no
mínimo, mudara bastante naqueles poucos dias.
Talvez aquela nova Sofia que descobrira recentemente, sempre que
estava com ele, sempre estivesse ali, em seu interior, apenas esperando o
momento para sair.
Ela amava o que sentia quando estava com ele. Amava sentir-se
desejada e desejá-lo na mesma medida, com loucura. Amava sentir-se dele,
mas sobretudo, o amava.
Descobrir-se apaixonada por ele não fora algo que notara só ali,
naquela sala de cinema, enquanto abria os olhos e o observava chupar os
dedos que estiveram dentro dela. Não fora algo repentino, ou talvez, levando
em conta que se conheciam a poucos dias, talvez fosse.
Porém, ela não via daquela forma. Sim, conheceram-se a poucos dias
atrás. Sim, era repentino e, sim, poderiam estar pulando algumas etapas. Mas
o que fazer quando sentia que era certo? O que fazer quando o que sentia por
ele a fazia acordar todos os dias com um sorriso idiota no rosto e sentindo-se
feliz e completa como nunca imaginara?
Sim, apaixonara-se em poucos dias, mas não havia como ser diferente.
Ela soube disso no momento em que ele sentara-se ao seu lado naquela
segunda-feira e apenas a observara.
Ele não a tornara na mulher desinibida que chupara e fora chupada em
uma biblioteca pública. Não a tornara na mulher que gozava tranquilamente
em uma sala de cinema lotada de desconhecidos.
Essa mulher, a Sofia desinibida e corajosa, sempre existira, dentro si,
aguardando silenciosamente o momento de vir a superfície.
Era maravilhoso ser essa mulher.
Desejar e sentir-se correspondida com igual loucura, dar e receber
prazer nas mesmas medidas, entregar-se, doar-se e confiar cegamente em
outro alguém, um novo alguém, como era o caso, era maravilhoso.
E sentia-se correspondia, pensou feliz, relaxando nos braços dele
enquanto ele consertava seu vestido e alisava seus cabelos, fitando-a e
tocando-a com infinito carinho. Era difícil resistir a alguém assim, que a
fitava como se ela fosse seu mundo.
Ela era correspondida, tinha certeza disso. E, embora isso ainda fosse
algo que a surpreendia bastante, não questionava mais suas razões ou motivos
ou se haveria algo por trás de tudo aquilo.
Ela era dele e ele era dela, isso que importava.
Ou melhor, ela seria dele. Naquela noite. Finalmente.
Ele beijou seus lábios suavemente, apenas um roçar de lábios, sem
aprofundar o beijo e, após algum tempo, ela aconchegou-se a ele, querendo
mais.
Todavia, ele se afastara, distribuindo beijos por todo seu rosto.
Fitou-a, observando sua expressão desejosa, implorando por mais e
sorriu, uma mistura de malícia e carinho.
— Você é muito perigosa — sussurrou e ela corou, rindo junto com ele.
Não resistiu e beijou-o uma última vez, adorando ter o poder de fazê-lo
quando desejasse.
Ele rendeu-se ao seu beijo, deixando-se guiar e obedecendo ao
comando sutil dela.
Mas logo afastou-se novamente, quando ambos já gemiam e
recomeçavam com as carícias. Retirou delicadamente a pequena mão que
ainda repousava contra o tecido estufado do seu jeans e beijou sua palma,
mantendo os olhos nos delas.
— Muito, muito perigosa — declarou, sorrindo.
Ela deu de ombros, sorrindo com ele.
Ele selou seus lábios rapidamente, como se quisesse provar o gosto
doce do seu sorriso e suspirou quando se afastou, relanceando-a grande e
escura sala com o olhar.
Sofia fez o mesmo e notou as credenciais do filme surgindo na grande
tela. Algumas pessoas começaram a se levantar e passaram por eles,
conversando e rindo.
Esperaram até a maioria delas saírem e levantaram, ele segurando-a
pela mão e guiando-a cuidadoso pelo caminho escuro, perguntando-se por
que diabos as luzes ainda não haviam sido acesas.
Sofia seguiu seus passos com cuidado, tentando não tropeçar com
aqueles saltos.
Apenas quando chegaram na saída da sala, a luz fora acesa, após
caminharem lentamente até ali. Sofia divertiu-se ouvindo-o xingar e
resmungar irritado por todo caminho até o estacionamento.
Quando pararam ao lado da moto dele, ele ainda parecia irritado e ela
tentava reprimir o riso, sem sucesso.
Henrique fitou seu rosto, franzindo as sobrancelhas e ela riu ainda mais,
sentindo-se alegre.
Ele encostou-se a moto e a puxou para seus braços, abraçando-a
apertado.
Ela ainda sorria, feliz e ele parecia fascinado com seu sorriso, sorrindo
também.
— Então eu divirto você? — perguntou, tentando parecer ofendido.
Ela riu outra vez.
— Muito.
— E além de rir da minha cara, você ainda confessa?
Ela confirmou com a cabeça, ainda rindo e enlaçando seu pescoço.
Ele fingiu-se de magoado por mais algum tempo até render-se e
abandonar o teatro, rindo com ela.
Fitaram-se por algum tempo, ainda rindo ocasionalmente até que os
sorrisos desvanecessem e a áurea de desejo que sempre os rodeava se fizesse
presente mais uma vez.
Ela acariciou seus cabelos cumpridos, maravilhando-se com sua maciez
e aproximou-se um pouco mais, até estar com a boca à centímetros da dele.
Henrique permaneceu parado, deixando que ela tomasse a iniciativa.
Ela estremeceu e, sem demoras, beijou-o, fechando os olhos. Ele a
apertou nos braços e percorreu suas costas nuas, acariciando-a e excitando-a
novamente.
Quando mais uma vez, como sempre acontecia, o beijo evoluiu, as
respirações tornaram-se ruidosas e apenas o contato dos seus lábios já não era
suficiente, ela se afastou, gostando que fosse ela a recuar daquela vez.
Observou o rosto dele e arrepiou-se com a fome crua que encontrou na
sua expressão.
Respirou fundo e tentando não parecer ansiosa, sugeriu baixinho:
— Vamos?
Ele fitava seus lábios, como se pensasse em atacá-la novamente, mas
subiu os olhos e a fitou surpreso.
— Podemos ir, se quiser — ela confirmou com a cabeça rapidamente.
Ele sorriu e acariciou seu rosto. — Tudo bem. Então, onde quer ir agora? —
indagou.
Ela surpreendeu-se. Pensou que estivesse explícito na sua expressão ou
que ele desejasse tanto quanto ela seguir logo para sua casa. Todavia, ele
parecia querer estender aquela noite o máximo possível.
Bom, isso não aconteceria, pensou. Respirando fundo e dotada de uma
coragem que não possuía antes, fitou-o nos olhos.
— Para sua casa — disse com voz firme, embora sentisse o rosto corar.
Ele piscou, parecendo surpreso, mas logo voltou a apertá-la contra si,
respirando fundo.
— Você não quer passear um pouco mais?
Ela adorava estar com ele onde quer que fosse, mas não queria passear
agora. Ela sabia bem o que queria e ele também poderia perceber pela sua
expressão resoluta.
— Não.
Ele mordeu o lábio, finalmente cedendo e parecendo fazer uma força
descomunal para perguntar com a voz ainda mais rouca:
— Tem certeza?
Ela não precisou pensar antes de responder, e o fez, enquanto sentia o
corpo arrepiar e estremecer de expectativa.
— Sim.
Ele buscou a resposta na sua expressão, não satisfeito com a verbal,
mas finalmente cedeu, beijando-a uma última vez e montando na moto em
seguida.
Finalmente, finalmente, finalmente, pensou Sofia.
Naquela noite, ele seria dela.
Mas, mais importante que tudo, ela seria dele.
Inteiramente.
CAPÍTULO 27
— Suba com cuidado.
Ela revirou os olhos quando ele dissera aquilo pela quarta vez, quando
ainda estavam no estacionamento do shopping. Não que fosse incapaz de
compreender ou de fazer o que ele dizia, mas sua preocupação começava a
irritá-la e diverti-la ao mesmo tempo.
Conferira se a jaqueta estava segura na sua cintura e aproximou-se da
moto. Ele fizera questão de amarrá-la, tendo todo cuidado de conferir se a
peça cobrira realmente sua bunda. Ele parecia nervoso desde que descobrira
que ela estava sem calcinha, pensou.
Apoiou uma das mãos nos ombros dele e já levantava um pé quando ele
dissera mais uma vez:
— Com cuidado. Devagar.
Ela o fitou impaciente, franzindo as sobrancelhas.
— Eu entendi da primeira vez.
Ele também franziu o cenho, não gostando do seu tom.
— Eu apenas disse...
— Eu ouvi o que você disse — interrompeu-o.
Ele fez uma careta e tirou o capacete, fitando-a sério.
— Não quero que fique exposta — grunhiu.
Ela sorrira.
— Nem eu.
Ele suspirou, cedendo, mas não deixou de fitar suas pernas com
preocupação.
— Tudo bem — disse. — Vou comprar um carro — resmungou
irritado e ela fingiu não ouvir.
Aproveitou que ele fitava o estacionamento a sua volta, procurando por
qualquer um que passasse por ali que eventualmente pudesse ser agraciado
com a visão da sua calcinha - opa, que calcinha?
Subiu rapidamente e com cuidado, não porque ele pedira, mas sim
porque realmente não gostaria de ficar exposta.
Ele fitou suas pernas, que ficaram ainda mais expostas quando ela
montara e voltou a franzir o cenho, resmungando baixinho.
— Algum problema? — Sofia perguntara inocentemente, adorando ter
o poder de desestabiliza-lo daquela maneira. Um Henrique ciumento era algo
que não esperava, mas que a agradava sobremaneira.
A fitou sério por alguns segundos e resmungou:
— Nenhum.
Em seguida, colocou o capacete rapidamente, aguardou que ela fizesse
o mesmo e o abraçasse com força como ele sempre exigia e ligou a moto,
saindo do estacionamento rapidamente.
Não sabia em que bairro ele morava e evitou pensar no que finalmente
aconteceria quando chegassem lá. Focou-se na vista linda que tinham, as
luzes das avenidas todas iluminadas e os poucos transeuntes que encontravam
no caminho.
Não havia motivos para sentir-se nervosa agora, repreendeu-se. Ela
tinha certeza do que queria e sabia que seria certo. Mas a ansiedade e um
pequeno nervosismo insistiam em deixá-la um pouquinho temerosa.
Chegaram ao seu destino alguns minutos depois e ela notou que
realmente a casa dele ficava próxima da universidade, mas não tanto como a
dela. Gostou de descobrir que moravam próximos um do outro. Poderia até
caminhar tranquilamente da sua casa para a dele, seriam apenas alguns
minutos.
Esperou que ele acionasse o portão da garagem com um pequeno
controle que tirara do bolso e entraram.
Como estavam abrigados e parcialmente no escuro ali, após ele voltar a
apontar o controle para o portão, ela desceu da moto sem preocupações e
Henrique pareceu finalmente aliviado com aquilo.
Se por finalmente chegarem ali ou por ela não correr o risco de ter
terceiros fitando suas intimidades, ela não saberia dizer, mas riu um pouco,
divertida com a expressão dele.
Ele a fitou sério, sem compreender do que - ou de quem - ela ria e tirou
e apoiou o capacete na moto, aguardando que ela fizesse o mesmo.
A garagem estava parcialmente vazia, havia apenas algumas poucas
caixas largadas em um canto. Notou algumas prateleiras na parede contrária a
que estavam e, embora estivesse muito escuro, deduziu que sobre elas havia
toda sorte de produtos para carros e motos, como na garagem da sua casa.
Ela ainda sorria quando ele se aproximou um pouco, ficando à poucos
centímetros do seu corpo, mas sem tocá-la.
Sofia respirou fundo, mantendo o sorriso por mais alguns segundos,
mas logo sentiu-o sumir dos seus lábios aos poucos, enquanto o sentia tão
próximo. Mordeu o lábio, sentindo-se quente com aquele olhar sério sobre si.
Ele fitou sua boca e desceu os olhos por todo seu corpo, observando-a
inteira.
Ela arrepiou-se quando ele se moveu, rodeando-a lentamente e sem
roçar contra seu corpo. Fechou os olhos, perguntando-se como apenas um
olhar poderia deixá-la daquela maneira.
Estremeceu quando ele estacionou nas suas costas, afastando
gentilmente seu cabelo que havia se soltado do penteado, e aproximou-se
finalmente, colando o corpo no seu.
— Você tem ideia das coisas que quero fazer com você? — perguntou
rouco, a boca à centímetros da sua orelha.
Ela negou com a cabeça, mas rapidamente afirmou, lembrando-se das
coisas que ele falara e prometera que faria com ela.
Sentiu o sopro do seu sorriso na pele e arrepiou-se novamente, sem
resistir e apoiando o corpo contra o dele.
Ele tocou a pele nua das suas pernas e subiu as mãos lentamente por
seu corpo, acariciando-a levemente, enquanto pressionava o rosto no seu
pescoço.
Sofia inclinou a cabeça, dando livre acesso para que ele fizesse o que
desejasse com ela. Seu corpo, seus desejos e anseios já não mais a
pertenciam; tudo era dele, para ele e com ele. Ela era, definitivamente, dele.
Precisavam apenas consumar aquilo.
Ele mordeu sua pele e ela gemeu, sentindo-o apertar seus seios por
cima do vestido. Sentindo-se febril, pressionou-se contra a frente do jeans
dele, incapaz de conter-se.
Gemendo contra sua pele, Henrique a pressionou mais contra si,
movendo o quadril levemente.
Sofia mordeu o lábio, não resistindo e movendo-se também, rebolando
contra os movimentos dele.
Arfou quando ele rapidamente a virou para si, pressionando-a contra a
parede, prendendo-a com seu corpo.
Puxou seu cabelo e a fitou, próximo demais, mas não tanto quanto ela
gostaria.
Ela estremeceu com aquele olhar e tudo que ele prometia.
Finalmente, aproximando-se os poucos centímetros que faltavam, a
beijou.
Sofia gemeu contra seus lábios, desejando mais. Após um instante, ele
atendeu seu pedido mudo, beijando-a com força.
Adorou a sensação de estar presa contra ele, de certa forma indefesa
contra seus ataques. Sentia-se molhada e necessitada e tudo que mais
desejava era tê-lo finalmente e inteiramente para si.
Beijou-o da mesma maneira, com fome, devorando seus lábios como
ele fazia com os dela, lambendo, sugando e mordendo de leve.
Ele permaneceu parado, deixando que ela prosseguisse como quisesse,
refém do seu desejo.
Puxou uma das pernas dela para sua cintura, encaixando-se contra ela e
pressionando seu sexo coberto pelo jeans no sexo desnudo e necessitado dela.
Sofia gemeu, jogando a cabeça para trás, sentindo-o alojar-se
deliciosamente onde mais precisava.
Ele voltou a pressionar os lábios no seu pescoço e ela percorreu as
mãos por seus bíceps musculosos, apoiando-se e rebolando de leve.
Ele gemeu e mordeu sua pele, apertando a perna que ainda estava
envolta da sua cintura.
Ela repetiu o movimento, só que dessa vez com mais força, com certeza
molhando-o com o seu desejo.
Ele afastou-se do seu pescoço e a fitou, mordendo o lábio quando ela
rebolou novamente, dessa vez olhando nos seus olhos.
Ela também mordeu o lábio e desceu os olhos por seu corpo, amando o
contrate interessante que faziam. Ele vestira uma camisa social naquela noite
e Sofia nunca, nunca, nunca o vira mais gostoso.
Achara impossível que ele pudesse ficar ainda mais gostoso do que o
normal, até que abrira a porta de casa e o fitara naquela noite.
Não havia nada demais, era apenas uma camisa social e um jeans de
lavagem clara, ligeiramente justa. O que havia naquela roupa que o deixava
ainda mais gostoso que nos outros dias?, perguntou-se.
Ela pensara ser a cor. Ou talvez fossem apenas seus olhos, enevoados
com seus sentimentos recém-descobertos.
O tecido era branco e parecia delinear todos os seus músculos,
chamando atenção para sua pele bronzeada e rabiscada, já que as mangas
estavam dobradas até os cotovelos.
Ela mordeu o lábio, observando-o inteiro, deliciando-se com o que via
e sendo devorada por ele. Quando ele a cumprimentara com um beijo casto,
sem que ambos sequer notassem, o que antes começara como um simples
roçar de lábios, transformara-se em um devorar afoito de lábios e língua.
Bom, certamente não tinha culpa por ser incapaz de controlar-se perto
daquele homem, pensou mordendo o lábio, observando-o se afastar um
pouco, ainda mantendo sua perna na sua cintura, e desabotoando a camisa.
O fez lentamente, sem pressa, sem desviar o olhar do rosto dela,
enquanto ela apenas mordia o lábio e fitava o que ele fazia.
Deus, aquilo não era justo, pensou, observando-o finalmente retirar a
peça e jogá-la no chão ao seu lado. A visão que era aquele homem, seus
músculos e tatuagens expostos, o cabelo revolto sobre os ombros...
Ela o puxou de volta para si, atacando seus lábios com desespero e
sendo recompensada com igual loucura.
Percorreu seus músculos, afoita, tocando sua pele quente. Ele tomou
sua nuca nas mãos, inclinando sua cabeça e beijando-a ainda mais fundo.
Desceu as mãos por seu peitoral forte, sentindo os músculos saltarem
sob seus dedos e os desceu, tocando seu abdômen e deliciando-se com seus
gominhos, delineando-os.
Ele desceu as mãos por suas costas, estacionando-as na sua bunda e
apertando, ao mesmo tempo em que ela firmava a perna entorno dele e
rebolava mais uma vez.
Henrique grunhiu, infiltrando as mãos rapidamente sob o tecido e
apertou sua bunda novamente, dessa vez sentindo sua pele.
Ela gemeu, envolvendo os braços no pescoço dele e acariando seu
cabelo macio, puxando-o sem se conter.
Ele gemeu uma vez mais e bateu na sua bunda, acariciando a pele
quente com a mão. Ela gemeu alto nos seus lábios, pressionando-se mais
contra ele, rebolando sem se conter.
Ele sorriu contra sua boca, um sorriso quente, malicioso e ela o fitou
entre os olhos cerrados de desejo.
— Gostosa — grunhiu baixinho e ela apenas o fitou em suspenso.
— Por favor — pediu em um sussurro.
Ele sorriu mais uma vez, subindo as mãos pelas laterais do seu corpo e
estacionando-as nos seus seios, acariciando-os por cima do tecido enquanto
perguntava com a voz rouca e profunda:
— O que você quer, amor?
Ela sabia que era óbvio o que queria, o que queriam, aliás. Mas
resolveu entrar na sua brincadeira.
Aproximou os lábios dos dele mais um vez, sussurrando:
— Você.
Observou quando ele fechou os olhos apertados, mordendo o lábio e
retesando o maxilar. Resolveu provocá-lo um pouquinho mais, verbalizando
todos o que realmente queria.
— Eu quero você inteiro. Para mim e em mim — continuou
sussurrando observando sua reação.
Ele abriu os olhos e a fitou, necessitado e ela percebeu que faltava
pouco para perder o controle. Poderia fazer algo sobre isso, pensou.
— Quero você dentro de mim, me preenchendo, me fazendo mulher. —
fez uma pausa, fitando-o nos olhos ao dizer: — Sua mulher.
Ele agarrou seu cabelo com as duas mãos, mantendo-a parada onde
estava. Os olhos pareciam ainda mais escuros, o desejo e, finalmente, o
descontrole assumindo sua expressão.
— Minha — rosnou contra seus lábios. — Só minha.
Ela arrepiou-se e estremeceu, entregue em seus braços.
— Sua — sussurrou. — Só sua.
Ele a atacou. Beijou seus lábios com força, apertou seu corpo, puxou
seu cabelo, rebolou contra seu sexo e a enlouqueceu, sem dar brechas para
que ela respirasse.
Soltou-a alguns segundos, minutos ou horas depois, Sofia não saberia
dizer, tonta. Ela tentou respirar, zonza e notou que ele a movia, forçando-a a
caminhar com ele, mesmo que seus pés bambeassem nos saltos.
Ele segurou e apoiou suas mãos trêmulas contra o banco da moto e ela
seguiu seu comando, sem perguntar-se o que ele fazia, ainda focada em
encher os pulmões, fechando os olhos, ainda tonta.
Só quando o sentiu levantar seu vestido, expondo sua bunda, foi que
abriu os olhos, perguntando-se o que ele estava fazendo, mas sem incomodar-
se de fato.
Separou as pernas, fazendo um grande esforço, quando ele tocou seu
tornozelo com um pé.
Baixou a cabeça e quando já se sentia mais como ela mesma, sentindo
os sentidos voltarem, sentiu-o agachar atrás de si.
Arregalou os olhos quando percebeu, tardiamente, o que ele faria.
— H-henrique! — engasgou.
— Shhh — ele murmurou de onde estava.
— O que voc... — interrompeu-se quando sentiu o sopro da respiração
dele contra sua bunda, estremecendo. — Não p-pode... — tentou novamente,
mas ele a interrompeu.
— Ah, amor — sussurrou, afastando suas pernas mais um pouco e
moldando-a como queria, inclinando seu corpo sobre a moto. — Claro que
posso.
— Mas... Mas...
— Shhh — murmurou, subindo as mãos por suas pernas e
estacionando-as na sua bunda, soando ainda mais rouco ao continuar: —
Você não tem ideia do quanto é gostosa.
Ela arrepiou-se, rendendo-se, mas sem conseguir impedir o rubor que
cobriu sua pele, imaginando a provável visão que ele tinha do seu corpo
naquela posição.
— Henrique — sussurrou seu nome, sem saber ao certo se queria que
ele parasse ou fosse em frente com aquilo.
— Hum — murmurou, ainda envolvendo sua bunda com as mãos,
acariciando-a e separando-a, deixando-a ainda mais exposta. — Molhada pra
caralho — o ouviu rosnar, perdendo qualquer sombra de diversão da voz. —
Apoie-se na moto.
— Mas...
Ele a interrompeu, mordendo sua bunda com certa força e, em seguida,
lambendo seu sexo.
Ela gemeu alto, fechando os olhos e jogando a cabeça para trás.
Aquele homem, definitivamente, a mataria.
CAPÍTULO 28
Os saltos, a moto, a posição em que estava, nada ajudava na sua árdua
tarefa de manter-se de pé, inclinada. O único apoio que tinha eram as mãos
dele na sua bunda, mantendo-a aberta para o ataque da sua língua e
mantendo-a onde estava.
Gemeu ainda mais alto quando ele a sugou com força, lambendo e
pressionando com os lábios.
Ele grunhia e gemia contra sua carne sensível e aquilo só a deixava
ainda mais descontrolada - saber que todo o prazer que ele a proporcionava
também sentia, como se tê-la daquela maneira, aberta para si, suscetível aos
seus ataques e gemendo abertamente fosse também o seu prazer.
Todas as suas poucas inseguranças - na verdade, não eram
inseguranças, estava certa do que queria, só sentia-se extremamente nervosa
com o que aconteceria - sumiram da sua mente em um piscar de olhos.
Também não teria como ser diferente, não quando ele a desestabilizava
daquela maneira.
Rebolou de leve, incapaz de se conter e ele gemeu abafado contra sua
pele, grunhiu e bateu na sua bunda.
Ela gemeu mais alto, estremecendo e jogando a cabeça para trás, por
pouco não desabando no chão.
Sentia as pernas bambas, trêmulas como todo seu corpo e sabia que não
seria capaz de aguentar muito mais.
Ele afastou a boca da sua boceta por alguns segundos e ela pode
respirar um pouco, firmando as mãos contra o banco da moto, ofegante.
Repentinamente, sentiu dois dedos grossos a invadindo e fechou os
olhos, arfando alto. Ele os movimentou, retrocedendo e voltando a invadi-la
repetidamente.
Ela suava, gemia e sentia-se cada vez mais próxima de explodir na boca
dele. Não demoraria muito mais; não quando ele juntou os movimentos dos
dedos, as carícias enlouquecedoras da sua língua e os grunhidos contra sua
carne sensível e molhada.
Inclinou-se mais, sem importar-se que daquela maneira estava quase ou
inteiramente de quatro para ele. Sentiu as mãos escorregarem levemente
sobre o banco da moto, úmidas e firmou-as rapidamente, inclinando-se um
pouco mais.
Henrique aprovou o que fazia, gemendo e atacando sua boceta com
ânsia.
Sentiu um pequeno tremor perpassar o seu corpo e gemeu mais alto,
cravando as unhas no banco da moto.
Ele retirou os dedos e ela gemeu manhosa, sentindo o quanto estava
próxima e sabendo que gozaria ainda mais rápido com eles a preenchendo.
Porém, antes que tivesse tempo de protestar, sentiu-o penetrando sua
abertura com a língua, enfiando o máximo que conseguia em seu interior
úmido, ao mesmo tempo que beliscava seu clitóris com dois dedos. Ela ruiu.
Não saberia dizer se os sons que saíram por sua boca foram gemidos ou
gritos, não saberia dizer se os pequenos sons que ouvira parcialmente eram
gemidos dele, enquanto a lambia afoito, faminto por provar seu desejo.
Ele ainda a lambeu por algum tempo, intensificando seu prazer,
tornando-o quase dolorosamente intenso. Afastou os lábios e as mãos e ela
sentiu as pernas cedendo, fracas.
Henrique a segurou rapidamente, tendo se levantado em algum
momento que ela não notara.
A envolveu com seu grande corpo e a virou de frente para si, firmando-
a até que ela recobrasse o controle sobre seu próprio corpo.
Ela, de olhos fechados, tentou normalizar a respiração, sentindo a
satisfação percorrê-la inteira. Envolveu os braços no pescoço forte dele
quando sentiu-se capaz de mover-se novamente.
Abriu os olhos lentamente, esperando até conseguir focalizar o rosto
dele.
Ele a observava faminto, os olhos febris e repletos de desejo, mas ela
detectou algo como satisfação na sua expressão. Notou que ele apreciava tê-la
daquela maneira contra si; zonza e fraca, após fazê-la desmanchar-se de
prazer.
Ela não sorriu. Ela tampouco o fez.
Não era momento para isso, ambos sabiam e desejavam por algo. Algo
que os uniria, que os ligaria de uma maneira única.
Ele a fitou sério, buscando algo na sua expressão em uma pergunta
silenciosa. Porém, não seria preciso verbaliza-la; Sofia sabia.
Fitou-o com igual seriedade, mantendo os olhos nos dele todo o tempo
e respirou fundo, afirmando com a cabeça.
Sim, estava pronta.
Sim, tinha certeza, não restavam dúvidas ou inseguranças. O queria e,
sobretudo, queria ser dele, inteiramente.
Ela compreendia tudo que ele dizia com aquele olhar.
Uma vez que prosseguissem, não poderiam voltar atrás. Quando se
entregassem um para o outro, quando ambos se conectassem de maneira
carnal, além de sentimental, não haveria volta.
Sofia não voltaria atrás na sua decisão.
Não voltaria atrás quando confiava nele, quando seria capaz de tudo
para e por ele. Quando sentia-se dele, irrefutavelmente e sentia-se inteira,
como jamais sentira-se, embora uma grande parte sua agora pertencesse a ele.
Tentou transmitir tudo aquilo - sua segurança, suas certezas e,
sobretudo, seu amor - com o olhar, fitando-o nos olhos sem jamais desviar-se.
Viu quando ele respirou fundo uma última vez e confirmou com a
cabeça. Beijou-a delicadamente, apenas um roçar de lábios.
A conduziu pela casa vagarosamente, atravessando inúmeros cômodos,
mas sem nunca demorar-se neles.
A contrário de como se sentira no início daquela noite, quando se
conduziam para alí, Sofia não estava nervosa. Caminhou ao lado dele, de
mãos dadas, lentamente, observando tudo e cada vez mais próxima do quarto
dele, poderia sentir.
Ele não soltou sua mão nem quando subiram as escadas para o primeiro
andar, mantendo-a sempre ao seu lado e caminhando devagar.
Entraram em um longo corredor e ela percebeu vagamente que a casa
possuía mais quartos que moradores, se estivesse certa e apenas ele e os
outros dois amigos morassem ali.
Percorreram algumas portas, todas fechadas, até uma das últimas.
Henrique parou a frente desta e virou-se para ela.
Sofia imaginou que ele a indagaria mais uma vez se ela tinha certeza ou
não, mas, após respirar fundo uma segunda vez, notou que ele estava
nervoso. Inseguro de repente.
Franziu o cenho ligeiramente confusa, perguntando-se mentalmente o
por quê.
Antes que pudesse indagar se havia algum problema, ele respirou fundo
uma terceira vez e tocou a maçaneta, parando por um segundo para sussurrar
um "espero que goste".
Ela, que não estava entendo nada, confusa com seu nervosismo e
insegurança repentinos e ainda mais com aquele pedido, franziu o cenho e
ouviu quando ele abriu finalmente a porta.
Afastou-se um pouco, já que estavam muito próximos dela, e não tirou
os olhos dele.
Ainda sem compreender, virou-se para frente, desistindo de tentar
entendê-lo e arfou quando observou seu quarto.
A primeira coisa que notou foram as velas.
O quarto todo era iluminado apenas por elas e haviam várias espalhadas
por todo rodapé, demarcando e criando sombras nas paredes.
Estava paralisada, observando tudo aquilo, notando como o brilho
trêmulo das velas deixavam tudo ainda mais especial, como uma cena de
filme.
Deu um pequeno passo para frente, como que hipnotizada e adentrou o
cômodo, fitando-o com os olhos deslumbrados.
Haviam rosas também, notou quando se aproximou com cuidado.
A grande cama no centro do quarto possuía grandes colunas e grades de
ferro, de um tom de cobre. Ela sempre quisera uma cama como aquela,
sempre as achara lindas e muito femininas. Porém, aquela, naquele quarto e
em meio a paredes de tons escuros, masculinos, não era em nada feminina.
Sobre a cama haviam centenas de pétalas de rosas azuis e Sofia, que
nunca vira rosas daquela cor, deslumbrou-se ainda mais.
As rosas também decoravam o piso, em vasos nos criados mudos e
pequenas prateleiras.
Ela nunca vira nada tão lindo como tudo aquilo. Imaginou que por isso
ele adiara o que fariam por mais 24 horas.
Para fazer aquilo tudo para ela. Para eles.
Ela pegou um pequeno botão de rosa na cama como as mãos trêmulas e
a cheirou, fechando os olhos. Precisou controlar-se para não chorar,
mantendo os olhos úmidos fechados por mais alguns segundos, tentando
manter o controle sobre suas emoções.
Voltou-se para ele, abrindo os olhos e ainda absorvendo o suave cheiro
da rosa.
Ele fitou o que ela segurava e ao ver a forma que ela o fitava,
deslumbrada, relaxou aos poucos.
— Você gostou? — perguntou baixinho, aproximando-se um pouco.
O fez vagarosamente, até parar a poucos centímetros de distância dela.
Ela afirmou com a cabeça precisando fazer um esforço descomunal
para não dar vazão às lágrimas.
Ele pareceu respirar aliviado e aproximou-se um pouco mais,
envolvendo seu rosto com uma das mãos. Ela descansou a face contra seu
toque e o fitou com todo o amor e felicidade que sentia dentro de si.
Ele acariciou seu rosto e dedilhou suavemente a pétala que ela ainda
segurava com a outra.
— Não sabia qual era a sua flor favorita — confessou baixinho. — Mas
quando vi essa soube que seria perfeita. E descobri que é a minha favorita.
— Por que? — ela perguntou com a voz embargada, mantendo o tom
baixo, deslumbrada com a emoção que via na expressão dele.
Ele finalmente parou de fitar a rosa e concentrou-se em seus olhos,
fitando-a admirado e apaixonado, ela pensou, sentindo os olhos prestes a
transbordar.
— Porque elas me lembram você — respondeu, tomando o pequeno
rosto feminino com as duas mãos, sem nunca desviar o olhar do dela. —
Porque elas me lembram a cor dos seus olhos. A doçura que vejo neles, a
inocência que transmitem e tudo sobre você que me faz querê-la tanto.
Ela sentiu as lágrimas descendo por seu rosto e permitiu que elas
fluíssem livremente.
Não havia formas de descrever o quanto amava aquele homem. Deixara
de perguntar-se como poderia amar alguém daquela maneira, com tudo de si,
tendo o conhecido em tão pouco tempo.
Fato é que o amava. Tudo em si afirmava aquilo, seus olhos, suas
lágrimas, seu corpo.
E o melhor de tudo, sentia-se correspondida.
Ele secou suas lágrimas com os polegares, acariciando-a com infinito
carinho, amando-a com os dedos.
Ela tinha certeza de que havia reciprocidade entre eles, mas decidiu-se
por esperar por ele. Sabia que homens demoravam um pouco até aceitar ou
confessar seus sentimentos. Não queria assustá-lo com sua confissão, por isso
decidira-se por aguardar um pouco.
Por mais que fosse difícil refrear sua boca, pensou, abrindo os olhos e
fitando-o nos olhos, notando como os próprios olhos dele brilhavam. Não
com lágrimas, mas sim com sentimentos, com carinho, amor.
— Não chore, amor — pediu baixinho, percorrendo o caminho que as
lágrimas fizeram no seu rosto com os lábios. — Não suporto vê-la chorar —
sussurrou contra sua pele.
— São lágrimas de felicidade — ela confessou em um sussurro. — Está
tudo tão lindo... As velas, as rosas... — continuou encantada.
— Para você — disse olhando-a nos olhos. — É tudo para você, para
nós. Sei que talvez pulamos algumas etapas no nosso relacionamento, mas
preciso que saiba...
— Não pulamos etapas — interrompeu rapidamente. — Nos gostamos,
nos desejamos e acho que essas coisas não precisam ser adiadas.
Ele riu.
— Eu sei, amor. E eu, definitivamente, não conseguiria resistir por
muito mais tempo aos seus encantos — confessou e sorriu com falsa
inocência. — Você me seduziu.
Ela bufou, rindo sem se conter.
— Claro, porque o meu charme e sedução são irresistíveis — revirou os
olhos, divertida.
— São mesmo — sorriu malicioso, apertando-a contra si, moldando-a
ao seu corpo. — E eu, mesmo tentando arduamente, não resisti — confessou
baixinho, perto dos seus lábios. — Nunca desejei tanto alguém como desejo
você.
Ela respirou fundo, fechando os olhos.
— Eu também nunca desejei outra pessoa como desejo você.
Ele a abraçou mais apertado, deliciado com sua confissão.
Beijou-a uma vez mais, embrenhando uma mão nos seus fios
acobreados e descendo lentamente o zíper do seu vestido com a outra.
Ela o beijou mais forte, arrepiando-se ao sentir sua pele ser descoberta
aos poucos e sentindo o vestido despencar por seu corpo, até estacionar aos
seus pés.
Afastou-se, chutando a peça e o fitou nos olhos, inteiramente nua, a
pele ligeiramente rubra e ainda sobre os saltos altos.
Ele a fitou inteira, acariciando seu corpo com os olhos e deixando-a
ainda mais excitada com seu olhar quente e desejoso.
Ele se despiu lentamente, sem desviar o olhar do seu corpo nem por um
segundo, até também estar nu, excitado e pronto para amá-la.
Ela mordeu os lábios, fitando-o inteiro da mesma forma que ele fizera e
estremeceu enquanto repetia mentalmente "finalmente".
Finalmente, seria dele.
Finalmente, ele seria seu. Como jamais fora de outro alguém.
CAPÍTULO 29
Mais uma vez, como de costume, foi incapaz de não surpreender-se
com a beleza daquele homem.
Sua altura, músculos e tatuagens eram impressionantes. Inteiramente
perfeito. O homem mais lindo que já vira.
Sobretudo, nu.
Sua excitação era visível e saltava aos seus olhos inexperientes e
desejosos.
Sua própria excitação só era visível nos seus seios, pensou. Mais
precisamente, nos mamilos rígidos.
Mordeu o lábio quando ele se aproximou aos poucos, passo por passo,
fitando seus olhos.
Estremeceu quando ele a envolveu nos braços, colando seus corpos e
descansando a testa contra a dela.
Fechou os olhos, absorvendo a beleza do momento e desejando
eternizá-lo.
Ele alisou seu cabelo, percorrendo seus fios com as duas mãos até
estacioná-las nas laterais do seu rosto, levantando-o ligeiramente.
Ela continuou com os olhos fechados, apenas sentindo-o e arrepiando-
se com seu toque.
Sentiu o suave roçar da boca macia dele na sua e suspirou, abrindo os
lábios e deixando-o moldá-la, sugando seus lábios delicadamente,
mordiscando-os e percorrendo-os com a língua.
Aproximou-se ainda mais, pressionando os seios no peitoral forte,
sentindo o pulsar do sexo dele contra seu ventre.
Envolveu-o com os braços, acariciando suas costas, percorrendo sua
pele rabiscada com as unhas. Ele estremeceu e a apertou mais, inflando o
peito e percorrendo suas costas também.
O beijo, que começara delicado, aos poucos foi evoluindo, até
transformar-se em um faminto devorar de lábios e línguas.
Henrique grunhiu contra seus lábios quando ela moveu o quadril,
pressionando-se contra sua ereção.
Forçou-a a caminhar de costas, ainda abraçada ao seu corpo e seguiram
assim, beijando-se e caminhando às cegas, até chegarem a grande cama no
centro do quarto.
Henrique não descolou seus lábios, apenas inclinou-se levemente, o
bastante para tomá-la nos braços e a depositou no centro da cama, sobre as
rosas, deitando-se sobre o pequeno corpo feminino em seguida.
Sofia apenas estremecia, fitando-o nos olhos e sentindo-o sobre si,
pressionando-a contra o colchão macio, cobrindo-a com o seu calor.
Ele a beijou novamente, mordendo e grunhindo contra seus lábios. Ela
agarrou seus ombros fortes, envolvendo-o e circulando-o também com as
pernas, abrindo-se para ele.
Ele gemeu e pressionou o rosto contra o seu pescoço, movendo-se até
alojar sua excitação contra a dela.
Sofia também gemeu, sentindo-o pulsar contra seu sexo úmido. Ele
repetiu os movimentos do outro dia, movendo o quadril, percorrendo-a
inteira.
Ele desceu os lábios pela sua clavícula, deixando um rastro úmido por
seu corpo até estacionar os lábios sobre um dos seus seios.
Abriu os olhos que não lembrava de ter fechado e o fitou. Ele devolveu
seu olhar, riscando círculos com a língua pela sua pele, mas sem nunca
estender a carícia ao seu mamilo.
Resistiu ao impulso de implorar por um toque mais forte, estremecendo
calada e permitindo que ele prosseguisse como desejasse.
Ele sorriu com os lábios na sua pele e, sem desviar os olhos, tocou o
pico rígido com a ponta da língua rapidamente.
Ela gemeu baixinho, desejando mais, e ele logo atendeu ao seu pedido,
riscando um círculo perfeito no seu mamilo rosado e tomando na boca,
massageando-o com a língua e sugando-o de leve.
Ela arfou, cerrando os olhos e puxando o cabelo dele, trazendo-o mais
para si.
Ele repetiu a mesma tortura no outro seio, até tomá-lo inteiro na boca,
sugando forte, fazendo-a gemer alto ao sentir-se ficar ainda mais molhada.
Ele brincou com os seus seios, apertando-os, juntando-os e grunhindo
selvagem enquanto os sugava com força, parecendo deliciar-se.
— Tão macia... — sussurrou rouco, descendo os lábios pela sua barriga
plana. Ela se arrepiou, movendo o corpo sob os lábios dele. — Tão cheirosa...
— continuou, chegando ao centro das suas pernas, onde seu sexo úmido
pulsava necessitado. Lambeu-a levemente, apenas com a ponta da língua,
provando seu desejo e grunhiu rouco. — Tão gostosa — rosnou, separando
suas pernas rapidamente e descansando-as sobre seus ombros largos,
deixando-a aberta para si. — Tão minha.
Ela gemeu alto, jogando a cabeça para trás, entregue, de olhos
fechados.
Ele a percorreu com a língua, recolhendo seu mel, deliciando-se e
deixando-a louca. Enfiou as mãos entre o colchão macio e sua bunda,
puxando-a, atacando seu sexo com fome.
— Henrique — gemeu em súplica, a cabeça ainda jogada para trás. —
Eu preciso... — interrompeu-se, arfando quando ele a mordiscou levemente.
— Preciso... — ele a sugou com força e ela enfiou uma das mãos no cabelo
dele, puxando-o, incentivando. — Por favor.
Ela o olhou nos olhos, incapaz de fazer sentido e verbalizar o que
queria.
Queria que ele a devorasse, com força, com ânsia, ao mesmo tempo que
desejava que ele fosse mais delicado, sugando-a lentamente. Não sabia ao
certo o que desejava, tinha apenas uma certeza: queria gozar.
Não importava se lento, forte, rápido ou suavemente; tudo o que queria
era desmanchar-se logo nos lábios dele. Não aguentava mais esperar, seu
corpo todo tremia, suava e implorava por liberação.
Ele sugou seu clitóris suavemente, mantendo-a aberta com uma das
mãos e fitando-a nos olhos. Ela ergueu uma das pernas, descendo-a pelas
costas suadas dele.
— O que você quer, amor? — perguntou em um sussurro grave, sem
deixar de atormentá-la, agora com os dedos.
Ela gemeu baixinho, movendo-se, pressionando seu sexo contra a mão
dele.
— Eu quero... — um gemido a interrompeu quando ele a penetrou com
dois dedos. Mordeu o lábio, fechando os olhos e sentindo-se tão perto, mas
sem conseguir gozar. Faltava alguma coisa, algo que não sabia, tudo o que
sabia era que queria logo atingir o ápice, derreter sob ele.
— Hum? — indagou, sorrindo malicioso, acariciando-a internamente
com os dedos, molhando-os com o líquido que escorria dela, mas sem dar o
que ela precisava.
Ele a tocava devagar, bem lentamente, sem permitir que ela gozasse.
Ela gemeu, frustrada, percebendo seu joguinho. Sentia-se quente
demais, não suportaria mais nenhum minuto de todo aquele prazer.
Fitou-o nos olhos e deixou transpassar na sua expressão todo o desejo
que sentia.
Ergueu as mãos, soltou o cabelo dele e percorreu o seu, deslizando os
dedos pelos fios avermelhados, que brilhavam sob a luz das velas.
Ele não parou os movimentos dos dedos, mas dedicou toda sua atenção
para o que ela fazia.
Sofia prosseguiu, descendo as mãos, acariciando sua clavícula até
chegar aos seios. Percorreu-os suavemente, massageando-os e dedilhando os
mamilos inchados e avermelhados, olhando-o nos olhos.
Viu quando toda diversão e a intenção de fazê-la implorar por mais
desapareceram da expressão dele e foi a sua vez de sorrir suavemente,
deliciada e excitada ao extremo.
Se ele não daria o que precisava, ótimo; ela mesma poderia fazê-lo.
Tremeu, pressionando seus mamilos e puxando-os levemente. Cobriu
seus montes com as palmas, pressionando-os juntos, observando os olhos
dele não perderem nem um segundo, nem um movimento seu.
Desceu as mãos lentamente pela barriga, acariciando-se, movendo-se
levemente. Ele seguiu o movimento das suas mãos com os olhos, mordendo o
lábio e começou a mover os dedos novamente, provavelmente adivinhando o
que ela faria a seguir.
Ela mordeu o lábio para não gemer, chegando finalmente onde queria.
Com uma das mãos, envolveu a dele, ajudando nos movimentos que ele fazia
com os dedos. Com a outra, tocou seu clitóris, massageando-o.
Henrique gemeu, fitando sua pequena mão tocando o clitóris inchado,
percorrendo os lábios inchados e úmidos.
Ela gemeu alto, prosseguindo o que fazia, repetindo o que fizera
milhares de vezes, sobretudo com maior frequência nos últimos dias. Mas
nunca fora assim, com os olhos dele acompanhando seus movimentos,
devorando seu corpo, penetrando-a cada vez mais rápido e mais forte.
Sabia que não duraria muito, já podia sentir-se pulsando, sugando os
dedos dele.
Henrique gemeu quando a sentiu ficando ainda mais molhada e
estremeceu, como se o prazer dela fosse o seu próprio.
Sofia gemeu alto, movendo o quadril sentindo-se explodir, gemendo e
arfando. Jogou a cabeça para trás, tremendo e ouviu-o grunhir.
Ele afastou suas mãos rapidamente, voltando a enfiar as dele sob sua
bunda, puxando-a e pressionou os lábios na sua carne sensível sugando-a
com força, fazendo-a gritar quando sentiu-se gozando uma segunda vez,
estremecendo e gemendo alto.
Sofia envolveu a cabeça dele com as mãos, puxando-o, sentindo os
grunhidos famintos dele contra sua pele.
Ele a lambeu, gemendo, grunhindo. Penetrou-a com a língua, bebendo
seu prazer, fazendo-a estremecer e apertá-lo com as pernas.
— Henrique — sussurrou, sem suportar mais, sentindo-se muito
sensível e ainda mais molhada.
Ele sugou seu clitóris uma última vez e o soltou com um estalo,
fazendo-a gemer manhosa.
Arrastou-se sobre o pequeno corpo saciado e trêmulo abaixo do seu.
Ela respirou fundo, sentindo-se saciada, mas querendo mais. Muito
mais.
Ele deitou sobre seu corpo, moldando-a como queria, afastando suas
pernas e pressionando-se no centro delas.
Sofia fitou seu rosto e notou o quanto ele estava tenso.
— Não posso esperar mais — grunhiu. Ela observou sua expressão
sombria, repleta de desejo, ânsia por ela. Arrepiou-se, sentindo-se mais que
pronta e ansiosa por senti-lo.
Ergueu as pernas e as envolveu na cintura dele, puxando-o, sentindo-o
se acomodar contra seu sexo úmido.
Ele gemeu e ela tomou seu rosto nas mãos, acariciando-o.
— Não precisamos esperar mais — sussurrou tão próxima que
movimentou os lábios dele junto com os seus.
Ele a fitou ainda por alguns segundos, provavelmente lutando com o
desejo de possuí-la logo e a necessidade de ir com calma em um primeiro
momento, concluiu.
— Não posso — grunhiu, erguendo o quadril, afastando-se dela.
Ela franziu o cenho, pensando que ele ia sair da cama, desistindo
daquilo. Porém, não foi o que ele fez.
Arregalou os olhos, surpresa, quando sentiu-o fazendo pressão contra a
sua entrada, começando a penetrá-la lentamente.
Gemeu, mas logo rendeu-se, abraçando-o apertado com braços e
pernas.
— Não posso me conter — grunhiu rouco, a expressão congestionada.
Penetrou-a mais um pouco até sentir sua barreira. Respirou fundo, baixando a
cabeça e beijando-a rapidamente. — Não quero causá-la dor — sussurrou
contra seus lábios, retrocedendo levemente. — Mas não consigo me conter
mais.
— Não se contenha — ela sussurrou, trêmula, desejando que ele a
penetrasse logo. — Eu quero você — acariciou seu rosto com as mãos,
gemendo contra seus lábios ao continuar: — Inteiro.
Ele gemeu atormentado e retrocedeu mais um pouco, apenas para voltar
em seguida, rompendo seu hímen com uma estocada forte, penetrando-a
lentamente, até descansar o quadril contra o dela.
Sofia gemeu alto, sentindo-o rasgá-la, pressionado contra seu interior,
entrando mais e mais até tocar seu útero.
Ele se manteve parado e ela agradeceu por isso, sentindo seu sexo
arder. Não era uma dor insuportável, era apenas desconfortável, estranho
acomodar algo da espessura do pau dele em um espaço que a tão pouco
tempo não abrigava nem dois dedos.
Jogou a cabeça para trás, sentindo o corpo tremer, de olhos fechados,
gemendo baixinho conforme a dor ia diminuindo aos poucos, até só restar um
leve, mínimo e quase imperceptível incômodo.
Relaxou nos braços dele e notou, tardiamente, que não era o seu corpo
que tremia. Era o dele.
Abriu os olhos, fitando-o com atenção e notou o quanto estava tenso, a
expressão fechada, repleta de desejo, mas, sobretudo, preocupação. Ele
tremia com o esforço de manter-se imóvel dentro dela e sobre seu corpo.
Henrique fitou seu rosto com atenção, procurando por lágrimas, ou
arrependimentos ou qualquer coisa do tipo.
— Machuquei você? — indagou baixo, a voz grave, rouca, preocupada.
Ela moveu o quadril em resposta e gemeu alto quando descobriu que
havia mais dele fora dela. Gemeu uma segunda vez, sentindo-o penetrá-la
mais um pouco, mais um pouco, até estar todo dentro de si.
Ele gemeu, estremecendo e envolveu seu quadril rapidamente com as
mãos, mantendo-a parada enquanto descia mais sobre seu corpo,
pressionando-se contra sua pele de cima abaixo.
Ela tentou mover-se e sorriu quando não conseguiu, gostando da
sensação de estar presa.
Ele fitou seu sorriso, franzindo o cenho, mas logo sorriu também,
encarando-a fascinado e com desejo.
— Não machuquei você? — indagou novamente. Ela negou com a
cabeça rapidamente, querendo mais que tudo que ele se move-se. Ele pareceu
aliviado, respirando fundo e relaxando os ombros. — Não dói?
— Só um pouco — murmurou em resposta. — Mas é muito gostoso.
Ele mordeu o lábio com sua resposta, descansando os braços ao lado da
cabeça dela, deixando-a entre eles.
— Muito gostoso? — perguntou rouco contra seus lábios.
Ela afirmou com a cabeça, trêmula.
— E isso? — indagou, retirando-se lentamente do seu interior apertado.
Ela arfou, ficando as unhas nos seus ombros. — Também é gostoso?
Ela gemeu em resposta, afirmando com a cabeça, querendo mais
daquilo.
— Hum — ele murmurou, afastando um pouco mais as pernas dela
com as suas próprias, deixando-a completamente aberta e ainda mais
suscetível para o que faria a seguir. — E isso?
E estocou, com força, dentro dela.
Sofia gemeu alto, sentindo o prazer irradiar por todo seu corpo,
começando do ponto em que estavam unidos, percorrendo suas veias,
nublando sua visão e deixando-a trêmula, ansiosa por mais.
— Mais — pediu, gemendo, sem se reconhecer.
Viu os olhos dele ficarem ainda mais escuros.
— Mais? — grunhiu e em seguida, sem esperar por resposta, entrou e
saiu, estocando forte. Ela gemeu alto, quase um grito e sentiu o sexo ficando
mais úmido.
Ele também sentiu e, grunhindo, beijou-a começando a comê-la, como
prometera, com força, com fome, ânsia.
Ela gemia cada vez mais alto, sentindo-o pulsar, quente, dentro de si,
penetrando-a com força. Moveu o quadril contra os movimentos dele e ele
gemeu, batendo na lateral da sua bunda com força com uma das mãos. Ela
gemeu e ele apertou sua pele avermelhada, mantendo-a parada enquanto
desenhava círculos com o quadril, profundamente enterrado dentro dela.
Ela tentou afastar-se, sentindo que o prazer era demais para suportar,
mas ele não permitiu.
— Não posso aguentar mais — ele gemeu contra seus lábios, fitando-a
nos olhos enquanto rebolava com mais intensidade contra ela, estocando com
força.
Ela gemeu alto, quase um grito, e enfiou as unhas nas costas dele,
fazendo-o gemer e ordenar contra seus lábios:
— Goze, amor — rosnou baixo, estocando a cada vez com mais força.
— Goze gostoso no meu pau, enquanto eu gozo com força nessa bocetinha
gostosa, apertada e minha.
Ela explodiu em tremores, incapaz de conter os sons que saíram por
seus lábios e sentiu-se apertando-o, contraindo ao redor dele enquanto todo
seu corpo parecia se estilhaçar.
Ele gemeu alto, rouco, um som profundo e ela o sentiu pulsar ainda
mais, parecendo maior em seu interior.
Moveu o quadril, prolongando o prazer de ambos até ele a manter
parada com as mãos, atacando seus lábios com força.
Ela rendeu-se, beijando-o de volta com igual desejo, demonstrando
com os lábios tudo o que sentia.
Ele afastou-se após alguns segundos, beijando seu rosto inteiro até
estacionar no seu pescoço, onde descansou, abraçando-a apertado.
Ela o envolveu nos braços, sentindo o corpo forte e musculoso sobre o
seu aos poucos relaxar, junto com o seu e suas respirações.
Suspirou sentindo um beijo terno no seu pescoço e acariciou o cabelo
dele com uma mão enquanto descia a outra pelas costas fortes e suadas.
Fechou os olhos, sentindo-se feliz e amada.
Literalmente amada, pensou sorrindo.
CAPÍTULO 30
Sentia a nevoeiro rodear seus pés, beijar sua pele com lábios macios e,
surpreendentemente, quentes.
Sentiu a pele arrepiar, o corpo estremecer e de repente se viu em uma
campina florida, repleta de cores e deserta.
Estava deitada no chão, de olhos fechados. Mas podia sentir que ele se
aproximava mais uma vez.
Rodeou seu corpo, cobriu-a com seu calor. Sentiu uma carícia úmida
percorrendo sua pele, começando em seu pescoço e descendo até seus seios.
Manteve-se deitada na relva, de olhos fechados, mesmo quando sentiu-
se impelida a mover-se, implorar por mais daquilo.
Não sabia o que era, não sabia onde estava. Tudo o que sabia é que
ansiava por mais; mais daquele toque úmido e macio que a percorria,
acariciava seus seios e descia.
Descia e descia, até que...
— Abra as pernas, amor.
Ouviu o sussurro rouco do seu amante e o atendeu, deixando-se levar e
entregando-se.
Quando o sentiu tocando no seu recanto mais íntimo, beijando-a
profundamente e grunhindo contra sua pele, gemeu desejosa, implorando
mentalmente por mais, movendo-se sem se conter.
Seu corpo de repente foi moldado por mãos fortes, mantendo-a parada
no lugar, deixando-a presa.
As mãos subiram por sua pele, apertando sua cintura, percorrendo sua
barriga plana e subindo até seus seios.
Mordeu o lábio, reprimindo um gemido com medo de serem vistos ali,
naquela campina.
Não queria ser vista fazendo amor com o seu...
Nevoeiro?
Abriu os olhos de repente e precisou de alguns segundos para perceber
onde estava.
Não estava em uma campina florida e deserta. Tão pouco estava em
casa ou na de alguma das suas amigas; nenhuma delas possuía uma cama de
dossel como a que estava deitada.
Aquele fora, realmente, um sonho muito estranho, pensou.
Franziu o cenho ligeiramente confusa e ergueu as mãos para afastar o
cabelo dos olhos.
Foi quando notou que estava presa. Os pulsos pareciam rodeados por
braçadeiras de aço.
Arregalou os olhos e já se preparava para gritar quando sentiu
novamente. A carícia que pensara fazer parte de um sonho, o toque úmido, o
leve sugar na sua pele.
Nada fora um sonho.
Arregalou ainda mais os olhos ao baixar a cabeça de fios desgrenhados
pelo sono e fitar outra cabeça de fios também desgrenhados entre as suas
pernas.
Só que diferente dos seus fios acobreados, os que se estendiam sobre
seu estômago e pernas nuas eram de um mix de cores surpreendentes e
únicos.
Tentou mover-se novamente, surpresa, porém o ser por baixo daquela
cabeleira impressionante e dono de uma língua perita a encarou.
Ele a fitou sério, os olhos brilhando maliciosos, enquanto roçava o
queixo pela parte interna de uma de suas pernas.
Ela arfou, finalmente relembrando de tudo.
Como começara sua noite, de como tudo fora maravilhoso, como o
cuidado e atenção dele para com ela ao preparar tudo aquilo a emocionaram e
a fizeram amá-lo um pouco mais.
Lembrou-se de quando se entregaram um para o outro, de como fora
delicioso ser dele e senti-lo sendo seu e apenas seu.
Poderia ainda ser inexperiente no que se referia a sexo, mas poderia
dizer que nada no mundo, nunca, jamais poderia comparar-se ao que
compartilharam naquele quarto.
Fora dele, inteiramente. Corpo, alma e coração. E ele fora seu, em
iguais medidas.
Desceu os olhos por seu corpo e percebeu que ainda estava nua.
Não lembrava-se exatamente de quando dormira. Lembrava-se apenas
vagamente da sensação de plenitude que desfrutara sentindo-o nos seus
braços durante minutos que pareceram horas e para ela, se pudesse escolher,
duraria eternamente.
Após algum tempo, quando regularam suas respirações, ele se erguera,
acariciara seu rosto mais uma vez, com infinito carinho e a beijara com
calma, explorando sua boca, acariciando sua língua.
Despois que ele a limpara com um pano úmido, mesmo ouvindo
protestos – aos quais ele não deu ouvidos –, deitaram-se juntinhos, ela sobre
o peito dele e ele a cobrira com um edredom macio.
E conversaram por horas, sobre eles mesmos, sobre coisas engraçadas
do passado dos dois e sobre o futuro.
Procurou o edredom com o olhar e o encontrou jogado no chão, ao lado
da cama.
Fitou a janela e percebeu que ainda estava escuro lá fora, embora
começasse a amanhecer.
Voltou o olhar novamente para ele e sorriu, corando. Poderia ter
perdido muito da sua vergonha nos últimos dias, mas acostumar-se a acordar
com aquele homem entre suas pernas, fitando-a inteiramente nua, não era
algo que se acostumaria facilmente.
— Bom dia — sussurrou com a voz rouca de sono, ainda sorrindo.
Ele sorriu de volta, embora ainda fosse um sorriso malicioso.
— Só será um bom dia quando eu comer o meu café da manhã — ele
respondeu.
Ela franziu o cenho, mas continuou sorrindo enquanto forçava o corpo
para levantar.
— Posso cozinhar para nós dois, se você quiser — sugeriu.
Ele a empurrou de volta na cama.
— Meu café da manhã já está pronto.
Ela deitou-se de volta no colchão macio.
— Hum. Tudo bem — estranhou a maneira que ele sorria, se possível,
ainda mais malicioso. — Vamos descer então.
Ele negou com a cabeça lentamente. Ela franziu o cenho novamente.
— Mas como você quer comer o seu café da manhã aqui? Temos que...
— Eu já o tenho aqui — murmurou, baixando os olhos lentamente por
seu corpo, até estacionar no ponto onde ele ainda mantinha a cabeça e recebia
uma visão privilegiada. — E inteiramente para mim.
Ela ofegou, compreendendo tardiamente a que ele se referia.
— Mas...
— Shhh — a interrompeu, separando um pouco mais as pernas dela e
mantendo-a aberta para si. Cheirou-a lentamente e grunhiu, fechando os
olhos.
— Henrique... — sussurrou, sentindo o corpo inteiro estremecer. — O
que você... Ah! — arfou quando ele de repente a atacou.
Revirou os olhos, gemendo. Poderia demorar um pouco para se
acostumar com aquilo, mas o processo seria delicioso, pensou.
...
Abriu os olhos lentamente e reprimiu o desejo de mover-se, para não
acordá-lo.
Estavam deitados de conchinha. Ela sentia o corpo grande e musculoso
dele encaixado atrás do seu. A abraçava pela cintura, mantendo-a colada a si.
Após atacá-la no meio da noite, ele se recusara a penetrá-la. Ela,
embora ainda estremecesse após um orgasmo delicioso, desejava mais,
desejava senti-lo novamente dentro de si e não se contentara apenas com a
boca talentosa dele.
Ele se negara e rira descaradamente do seu bico de descontentamento.
Afirmara que poderia fazer outra coisa por ela e o fez; a posicionou sobre seu
rosto e a chupou, enquanto ela se esforçava para fazer o mesmo, não
descansando até que ela estremecesse mais uma vez, exausta.
Após o segundo – ou seria o terceiro? – orgasmo da noite, ela se
entregara ao sono, seguindo os comandos gentis dele e posicionando-se como
ele queria, sentindo-o abraçá-la por trás, envolvendo todo seu corpo com seu
calor.
Já era manhã, percebeu fitando a janela. Embora parecesse ser bem
cedo.
Afastou o cabelo dos olhos e ouviu-o respirar fundo com o rosto no seu
pescoço.
Ele se moveu levemente, firmando o braço que a envolvia, puxando-a
mais. Ela obedeceu rapidamente, seguindo seu comando mudo e colando suas
costas no peito dele.
Ele emitiu um som baixinho de apreciação quando ela se pressionou
contra sua ereção. Ela se manteve imóvel, aguardando em silêncio até
perceber que ele ainda dormia.
Ergueu as sobrancelhas, surpresa, perguntando-se como ele conseguia
dormir naquele estado. Ou como ele ficava naquele estado estando dormindo.
Permaneceu parada por alguns segundos, ouvindo-o ressonar baixinho
e sentindo-o pulsar levemente contra si.
Sentiu o corpo arrepiar e, sem se importar com nada, fez um pequeno
movimento com o quadril, roçando a bunda contra o sexo dele.
Ele permaneceu parado, dormindo profundamente e ela sorriu, sentindo
que aquela seria a sua chance.
Ergueu uma das mãos lentamente, sendo cuidadosa para não acordá-lo.
Rapidamente, colocou-a para trás e inclinou-se, encontrando o que queria.
Sentiu-o pulsar contra sua mão e ele se moveu levemente, ainda
ressoando baixinho. Sorriu, ofegante com o esforço de não fazer movimento
bruscos.
Inclinou o corpo e erguendo a perna rapidamente, direcionou-o para
onde mais queria.
Mordeu o lábio ao senti-lo deslizar contra seu sexo já úmido e inchado
após receber tanta atenção. Inclinou-se mais um pouco e estremeceu quando
conseguiu, finalmente, posiciona-lo corretamente contra sua entrada.
Agora só teria que fazê-lo entrar, pensou, trêmula. Não poderia ser
difícil, afinal, ele já estivera ali antes.
Moveu-se com o intuito de inclinar-se um pouco mais, imaginando se a
posição facilitaria um pouco a penetração.
Porém, devido ao seu movimento abrupto, sentiu-o invadindo-a.
Arregalou os olhos, sentindo um leve incômodo e paralisou onde estava.
Tentou controlar a respiração, com medo de acordá-lo antes da hora.
Ouviu por alguns segundos e notou que ele ainda ressonava, embora
parecesse levemente agitado em seu sono.
Mordeu o lábio, se concentrando na sua tarefa.
Não estava tão dolorida assim, como Henrique supora. Poderia suportá-
lo. Havia apenas um leve incômodo, mas nada que a impedisse de seguir em
frente.
Respirou fundo e mordeu o lábio, fechando os olhos e empurrando o
corpo para trás.
Gemeu baixinho, sentindo-o penetrá-la lenta e constantemente.
Continuou movimentando o quadril, empurrando e gemendo, até tê-lo inteiro
dentro de si.
Estremeceu, incapaz de controlar sua respiração ou manter o corpo
imóvel daquela vez.
Senti-lo dentro de si sempre seria algo único. Não havia formas de
descrever o que sentia mesmo agora, quando ele não se movia.
Descansou a perna sobre a dele, rendendo-se e começou a mover-se.
Gemeu, sentindo-o penetrá-la e retroceder, movendo-se cada vez com
mais força.
Seu corpo inteiro tremia, suava e implorava por mais. Era delicioso ter
o controle da situação, mas não suportaria muito mais, não tinha forças para
isso.
Ouviu um grunhido grave atrás de si e gemeu quando ele apertou o
braço na sua cintura, puxando-a com força contra seu pau.
— Eu esperava que você retribuísse o que fiz mais cedo e me acordasse
com a essa sua boquinha que me enlouquece — ele sussurrou rouco no seu
ouvido, mordendo seu lóbulo em seguida. Ela gemeu em resposta. — Mas
acordar assim, com essa boceta gostosa e apertada sugando meu pau... — fez
uma pausa e saiu do se corpo, voltando a penetrá-la com força, gemendo
rouco. Ela gemeu alto. — Ah, isso não tem comparação.
Ele ergueu sua perna, mantendo-a no alto enquanto entrava e saía do
seu corpo, gemendo rouco no seu pescoço.
Ela gemia e estremecia, sentindo-se quente, cada vez mais molhada e
enlouquecendo a cada nova estocada dele.
— Quero acordar assim todos os dias — ele murmurou. — Com o seu
corpo colado ao meu — estocou com força. — Sobre o meu.
Saiu e entrou no seu corpo, penetrando-a cada vez mais rápido. Ela
moveu-se de encontro aos seus movimentos.
— Rebolando gostoso assim — sussurrou, fazendo o mesmo, descendo
a mão lentamente pela parte interna da perna dela. — Com meu pau enterrado
aqui — tocou-a entre as pernas, no ponto em que se uniam. Ela arfou e
gemeu quando ele acariciou seu clitóris, movimentando-o com os dedos.
Movimentou-se com ainda mais força, sussurrando contra sua pele o
quanto ela era gostosa, o quanto o enlouquecia e o quanto ela era dele,
somente dele.
Ela gemia cada vez mais alto, sendo recompensada com estocadas
fortes.
— Isso, amor — gemeu quando sentiu-a escorrer contra seu pau,
molhando-o ainda mais.
Ela fechou os olhos, estremecendo, sentindo quando começou a apertá-
lo dentro de si.
Ele a comia com força, como disse que faria, sussurrando, grunhindo e
gemendo rouco contra sua pele.
— Nunca desejei tanto outra pessoa quanto desejo você — sussurrou,
enquanto pinçava seu clitóris com os dedos. — Nunca foi assim... — ela
manteve os olhos fechados, absorvendo suas palavras e gemendo. — Tão
gostoso quanto é com você. Tão intenso quanto é quando estou com você —
prosseguiu, soltando seu clitóris enquanto ainda estocava com força.
— Henrique... — Sofia gemeu, sentindo o quanto estava próxima.
— Isso — grunhiu. — Apenas o meu nome sairá da sua boca em forma
de gemidos. Apenas eu a terei assim, linda, gostosa e inteira para mim —
desceu um dos dedos até a entrada dela, onde ele a preenchia com estocadas
vigorosas. — Gemendo meu nome, sugando meu pau com essa delícia de
boceta e gozando para mim, bem gostoso, como agora — e penetrou-a com
um dedo, esticando-a, levando-a ao limite, sem tirar o pau e sem nunca parar
de mover-se dentro dela.
Ela explodiu, gritando o nome dele como ele dissera que ela faria,
gemendo e estremecendo para ele.
Ele grunhiu uma vez mais e a empurrou de bruços, pressionando-a
contra o colchão e montando-a por trás, gemendo rouco enquanto se
derramava dentro dela.
Ela gemeu, sentindo-o pulsar dentro de si, sentindo-se sensível. E
satisfeita, como apenas ele seria capaz de fazer.
Ele desabou contra suas costas, ainda gemendo e sussurrando que ela
seria sua morte.
Ela sorriu, sabendo que o contrário também era válido.
Não poderia imaginar naquele momento a veracidade das suas palavras.
Mas não de uma forma boa como agora.
Muito pelo contrário.
CAPÍTULO 31
***
Com a revelação da gravidez e após enfim descobrir o que afligia seu
irmão, Sofia tentou relaxar um pouco, embora o sofrimento dele fosse cada
vez mais nítido. Ela, infelizmente, não poderia fazer nada para ajudá-lo com
aquele problema em especial.
Vanessa, após aquele fatídico anúncio, passou a residir indiretamente
na sua casa.
Ela não era convidada, porém sempre bem-vinda, ainda mais estando
grávida. Sofia perdera as contas de quantas vezes Vanessa aparecera à tarde,
com bolsas e pequenas malas, antes que Sebastian saísse do trabalho. E
permanecia ali por dias, ocupando o quarto dele, e, assim, aumentando ainda
mais seu mal-humor.
Sofia viu-se fugindo de casa com ainda mais frequência. Uma coisa era
ter uma cunhada insuportável, outra completamente diferente era morar com
essa mesma cunhada.
Felizmente, Henrique sempre a recebia de braços abertos em sua casa
ou ela visitava suas amigas.
A situação de Sebastian estava cada vez pior.
Não bastasse ser obrigado a manter um relacionamento desgastante,
tudo em razão de um bem maior, ainda tinha que suportá-la vigiando seus
passos, cronometrando suas saídas, fosse para onde fosse e fazendo
exigências.
Sofia presenciara ou ouvira, mais de uma vez, discussões acaloradas
entre os dois que sempre, todas as vezes, terminavam com uma Vanessa
chorosa reclamando de dores.
Na primeira vez em que ela fizera aquilo, fora uma correria. Sebastian
ficara desesperado, seus pais correram para ajudar e Sofia já chamava uma
ambulância, quando sua cunhada, rapidamente recuperada, afirmara que
estava tudo bem, não precisava de uma ambulância.
Sofia ficara tão aborrecida com aquele teatro todo – porque, sim, até
seus pais perceberam que aquilo não passava de fingimento – que não notara,
a princípio, que Vanessa só desistira da atuação quando ela avisara que
chamaria uma ambulância.
Perguntou-se o que ela poderia estar escondendo a ponto de recusar
atendimento médico.
Chegou até a supor que ela de fato não estivesse grávida, mas como a
outra sempre vivia na sua casa, dia e noite, Sofia testemunhara mais de uma
vez todos os seus enjoos e choros repentinos – embora esse segundo, em boa
parte, fosse fingimento.
De mãos atadas, a única coisa que poderia fazer era apoiar seu irmão.
Em uma tarde, após a faculdade, Sofia passou em casa para pegar
algumas roupas para dormir na casa de Henrique.
Estava subindo as escadas, ouvindo a tranquilidade do lugar e
perguntando-se onde sua mãe se metera, quando ouviu uma voz vindo de
cima.
Franzindo o cenho, subiu sem fazer barulho e identificou que o som
vinha do quarto de Sebastian e, devido ao tom estridente daquela voz,
descobriu que era Vanessa. Provavelmente conversava com uma amiga no
celular.
Estava dando as costas e se encaminhando para o seu quarto quando
ouviu a cunhada diminuir o tom de voz e rir com escárnio, o que chamou sua
atenção.
— Não, ele acreditou — riu e Sofia poderia identificar o desdém
pingando naquela voz mesmo à metros de distância.
Franziu o cenho, perguntando-se a que ela se referia.
Vanessa bufou, respondendo uma pergunta que ouvira do outro lado da
linha com repulsa.
— Não seja idiota, aquilo nunca mais vai acontecer. Estou feliz com o
pai do meu filho — ouviu por alguns segundos e logo aumentou o tom de
voz. — Você não teria coragem — zombou e, seja o que quer que tenha
escutado, gritou: — Se você sequer pensar em estragar a minha vida, eu mato
você!
Sofia ficou surpresa com a força na voz de Vanessa, como se ela fosse
mesmo capaz do que dizia.
Deve ter feito algum barulho inconscientemente porque ouviu quando
sua cunhada sussurrou algo baixinho, subitamente nervosa e ouviu o som de
passos se aproximando da porta.
Ajeitou a postura, sem fingir que não estava ali exatamente com o
propósito de ouvir atrás da porta.
Sorriu mostrando todos os dentes quando uma pálida Vanessa abriu a
porta, fitando-a com os olhos arregalados.
Sofia poderia não ter entendido muito daquela ligação, mas fora capaz
de decifrar o sentido geral.
Nunca gostara de Vanessa, mas, se ela realmente estivesse fazendo o
que estava desconfiando, ela não perderia por esperar.
— So-sofia! — gaguejou, limpando a garganta. — O que vo-você está
fazendo ai?
Continuou sorrindo, com doçura.
— Passei para saber se estava bem ou se precisava de algo —
respondeu. Quando a viu começar a relaxar, indagou, ainda sorridente: —
Ligação importante? Quem era?
Novamente, a outra perdera a cor. E Sofia teve a sua suspeita
confirmada. Agora bastava apenas pensar em uma maneira de desmascarar
aquela cadela.
CAPÍTULO 33
Continuou fitando a face pálida da outra.
Estava longe da sua compreensão sequer pensar como ela poderia fazer
uma coisa daquelas.
Não tinha provas além do pouco que ouvira, era verdade, mas aquilo já
era o bastante para ela. Não o bastante para desmascara-la, porém poderia
começar a partir dali.
Não tinha ideia do que faria a seguir, por onde começaria, todavia, não
poderia ficar de braços cruzados enquanto via seu irmão definhar cada vez
mais.
Satisfeita por deixá-la sem palavras, Sofia virou as costas, começando a
caminhar para o seu quarto.
— Onde pensa que vai?
Virou-se erguendo as sobrancelhas, surpresa pelo seu tom de voz.
— Para o meu quarto, não que seja da sua conta — respondeu.
Vanessa riu, um pouco histericamente na opinião de Sofia e ela
começou a perguntar-se se a outra tinha problemas mentais.
— Vai dormir em casa hoje, cunhadinha? E deixar o namoradinho à
solta? Nossa — riu mais um pouco e Sofia franziu o cenho. — Se eu fosse
você, não o deixaria sozinho um segundo sequer. Sabe-se lá quando alguém
melhor pode aparecer e roubá-lo de você — riu mais uma vez, alisando as
laterais do corpo.
Sofia não compreendia como uma pessoa poderia mudar tanto em
questão de segundos.
Fitou-a em silêncio, tentando compreender o que ela estava falando.
Ela estava se referindo a ela mesma com aquele "alguém melhor" ou
era impressão sua?
Riu, sem se conter. Não um sorriso louco e histérico como o da outra,
mas um realmente surpreso e divertido.
Que Vanessa não amasse seu irmão, não era surpresa nenhuma.
Duvidava sinceramente que ela um dia o tenha feito. Aquele relacionamento
sempre fora um erro, desde o começo, a surpreendia ter durado tanto.
Era nítido a falta de sentimento entre os dois, exceto a possessão de
Vanessa. Ela, que tinha um convívio felizmente esporádico com a outra até
algumas semanas atrás, não saberia dizer como Sebastian a suportara por
todos aqueles anos.
Fazer o que Sofia desconfiava que ela estava fazendo, requeria uma
falta de caráter e escrúpulos enorme.
E agora, além de enganar seu irmão, ela sugeria que Henrique poderia
ser dela assim, em um estalar de dedos?
Riu mais um pouco. Vanessa não fazia ideia de quantas vezes
conversara com Henrique sobre o relacionamento do irmão e tampouco
poderia imaginar o verdadeiro asco que ele sentia por ela.
Não que ela o tenha influenciado com suas opiniões; Henrique não era
desses que se permite influenciar por terceiros. Mas, convivendo o mínimo
possível com Vanessa naquele último mês e meio e observando-a, ele
concordara com a avaliação de Sofia sobre o caráter da outra e até
acrescentara mais alguns defeitos na já tão deteriorada imagem dela.
Se ela achava que teria chances, riu mais um pouco, que partisse "para
o abate". Sofia não a impediria, pelo contrário, até assistiria da plateia.
— Pode até ser que, um dia, esse "alguém melhor" apareça — assumiu,
afinal, embora o amasse e soubesse que era retribuída, ainda tinha suas
inseguranças. Sorriu mais um pouco ao continuar: — Mas duvido muito que
seja você.
Vanessa perdeu o sorriso no mesmo segundo, fechando a expressão.
Aproximou-se alguns passos, parando exatamente na sua frente.
— Você se acha mesmo muito superior, não é, garota? — praticamente
rosnou contra seu rosto.
Sofia apenas a encarou, não precisava expressar sua opinião quando era
nítido que, sim, era superior. Sorriu, erguendo as sobrancelhas, aguardando
que a outra continuasse.
Vanessa ficou ainda mais vermelha de raiva, rangendo os dentes com
sua indiferença.
— Pensa que esse casinho amoroso vai durar para sempre? Pensa que
alguém gostoso como ele ficará quanto tempo ao lado de uma idiota como
você?
— Não tenho ideia, mas fico satisfeita com o que tiver — baixou o tom
para um sussurro, como se estivesse confessando um segredo. — Porém
tenho certeza que a idiota ficará ao lado do gostosão mais tempo que você ao
lado dessa farsa.
Vanessa mais uma vez perdeu a cor e Sofia sorriu mais uma vez.
A última vez que discutira com alguém daquela maneira fora com
Arianna, anos atrás, e aquilo nem poderia se considerar uma discussão, tendo
em vista que pouco falara na ocasião e quando o faria, Arianna estava
estirada no chão com o nariz sangrando.
Não era uma pessoa dada a discussões e confusões, mas aquela em
especial era necessária. Embora pudesse sentir as mãos trêmulas e frias,
decidiu-se por seguir com aquilo.
Talvez, se a provocasse o bastante, ela acabaria deixando escapar
alguma informação que a ajudasse.
— Não sei do que você está falando, garota — retrocedeu um passo.
— Claro que sabe. Mas, talvez, você possa estar um pouco confusa.
Ou, embora isso seja impossível, os hormônios da gravidez estejam afetando
seu raciocínio. Ah! — fez como se tivesse acabado de pensar em algo
importante. — Falando em gravidez, queria perguntar uma coisa —
aproximou-se um passo, fitando-a nos olhos. — Quem é o pai?
Vanessa deu mais um passo para trás, vermelha de fúria.
— Você está louca — murmurou e Sofia detectou medo em sua voz.
Era bom que a temesse mesmo. Estava para nascer alguém que ferisse
seu irmão e saísse impune depois.
— Ah, eu? — fingiu inocência. — Peço perdão pelo equívoco. Mas
você há de compreender que, após ouvir sua breve, mas suspeita ligação, eu
esteja um pouco desconfiada sobre essa gravidez — pausou um pouco
observando o rosto da outra ficar cada vez mais vermelho. — Não, deixe-me
reformular essa afirmação: não estou desconfiada sobre a gravidez em si, sei
que você está mesmo grávida, tem até uma barriguinha agora — aproximou-
se um passo, parando a centímetros do rosto da outra. — O que quero saber é
quem é o pai do bebê, já que, claramente, não é o meu irmão.
Vanessa apenas piscou, aparentando estar cada vez mais furiosa.
Sofia sabia que talvez estivesse indo longe demais, mas não poderia se
conter. Sabia que se a outra explodisse em um ataque de fúria – o que parecia
prestes a acontecer – não poderia rebater o ataque. Embora a odiasse, não
queria prejudicar sua gestação. O bebê não tinha culpa de nada daquilo, era
apenas um peão no jogo sem escrúpulos da mãe.
Parecendo recuperar o autocontrole, Vanessa arrumou a postura, rindo
histericamente mais uma vez.
— Você, definitivamente, está louca garota. Acha que alguém vai
acreditar em você?
Sofia deu de ombros.
— Posso arriscar, não tenho nada a perder. Já você, pelo contrário... —
sorriu.
— Esse bebê é do seu irmão e nada vai me impedir de conseguir o que
quero — rosnou.
Sofia surpreendeu-se. Ela falara do bebê com tanto desprezo, apenas
um meio para um fim, que Sofia sentiu um arrepio.
Não saberia dizer se pessoas más nascem dessa maneira. Vanessa
realmente não dava a mínima para o filho, tudo o que queria era prender
Sebastian ao seu lado. Para sempre.
Seu irmão merecia coisa melhor, merecia uma pessoa que o amasse,
que o admirasse e fizesse de tudo para conquistá-lo, mas não como aquela
mulher fazia. Enganando-o, manipulando-o cruelmente e forçando-o a
permanecer ao seu lado, apelando para o seu caráter e hombridade.
— Você é desprezível. Vou contar tudo para Sebastian — sussurrou.
Vanessa riu, jogando a cabeça para trás.
— Você não é ninguém para me pôr medo, garota. Duvido que seu
irmão acredite em você. Acha que ele ficaria ao seu lado e não do meu? A
mãe do filho dele?
— Você não é e nunca será mãe de um filho dele, porque depois que eu
desmascará-la, você vai ser chutada dessa casa como a cadela que é — sua
voz soava baixa, calma e só quem a conhecia poderia dizer o quanto estava
furiosa, apenas pelo tom de voz, as mãos ligeiramente trêmulas e o rosto
rubro.
Vanessa ergueu a mão, também furiosa, para batê-la, mas Sofia
rapidamente prendeu seu pulso, prevendo o movimento.
Ela se soltou rapidamente, com um gesto brusco. Sofia retrocedeu, não
machucaria uma mulher grávida.
— Vou desmascará-la, Vanessa. Custe o que custar.
— Ninguém acreditaria em você.
Sofia sorriu mais uma vez, com pena.
— Sebastian é meu irmão, você está na minha casa e enganando a
minha família. Acha que acreditariam em você e não em mim?
— Você não tem provas.
Sofia deu de ombros.
— Não tenho — admitiu e acrescentou: — Ainda.
Vanessa riu mais uma vez, mas não com a histeria de antes.
— E como pensa em conseguir essas provas?
— Não interessa como ou que farei para consegui-las, mas essa sua
farsa está com os dias contados.
Vanessa, aparentemente cansada de fingir, gritou:
— Antes disso, eu mato você!
Sofia deu um passo para trás, não por medo, mas surpresa mais uma
vez. Aquele era o mesmo tom de voz e a mesma ameaça que fizera
anteriormente, na ligação. Sofia, embora a conhecesse há anos, não a
conhecia de fato. Porém, começava desconfiar que ela fosse mesmo capaz do
que dizia.
— Você pode tentar, mas duvido muito que consiga.
Vanessa gargalhou.
— O que? Pensa que é invencível? Ou, talvez, pense que aquele seu
namoradinho seria capaz de me impedir?
Sofia balançou a cabeça, cada vez mais certa do distúrbio psicológico
da outra.
— Você está louca, Vanessa. Não vê que isso que está fazendo é
errado? E tudo para que? Manter ao seu lado um homem que não a ama, pelo
contrário, apenas a despreza?
Ela, subitamente, bateu um dos punhos na parede, os olhos saltados,
vermelhos.
— Ele me ama! — gritou, furiosa.
— Não, não ama. E desconfio que ninguém o faça, você é uma pessoa
desprezível — deu um passo para trás quando a outra ameaçou batê-la uma
segunda vez. — Tudo o que está fazendo só prova isso.
— Eu vou matar você! — gritou mais uma vez.
Sofia balançou a cabeça, com pena.
— Você pode tentar, mas isso e suas ameaças só provam o quanto você
é uma pessoa doente, sem escrúpulos e não amada.
Se possível, ela pareceu ainda mais louca, gritando ainda mais alto.
— Seu irmão me ama! Ele me ama, e nada do que você possa fazer vai
atrapalhar isso. Nós vamos nos casar e você não vai impedir os meus planos!
— Ele não a ama e você sabe disso — Sofia não tinha mais raiva,
apenas sentia pena. — O que aconteceu? Você descobriu que ele ia terminar
com você e decidiu engravidar, para prendê-lo? — pensou um pouco. — Mas
ele não é o pai desse bebê. O que você fez? Você engravidou antes ou depois
de começar essa farsa?
Sofia soube o quanto estava próxima da verdade quando Vanessa
arregalou os olhos, dando um passo para trás.
— Você nunca vai descobrir — sussurrou baixinho, os olhos ainda
arregalados e vermelhos. — Antes disso eu acabo com você.
— Eu entendo como você deve se sentir — murmurou. — Amando um
homem que não a ama, fazendo de tudo para prendê-lo ao seu lado... Mas
isso está errado, Vanessa. Não é assim que você vai conquistá-lo, ser amada.
Amor não se compra, não se manipula. Desista dessa farsa ridícula e procure
alguém que a ame de verdade e que você ame, também. Porque isso que você
sente pelo meu irmão não é amor, é doença. Obsessão.
— E o que você sabe do amor, sua idiota? Ou quer dizer que aquele seu
namorado a ama?
Sofia sabia que sim, embora ele não a tenha dito ainda. Nem ela o fez,
tampouco.
— Meu relacionamento não te diz respeito — disse calma. — Se ele
me ama ou não, não é da sua conta.
Vanessa gargalhou alto.
— Que você o ama, isso é nítido até para um cego. Mas ele amar você?
— riu outra vez. — Garota, um homem daquele não se aproximaria de você a
não se por interesse. Ou apenas para comê-la — Sofia deu um passo para
trás, embora aquelas palavras não a atingissem realmente.
Vanessa riu outra vez, jogando a cabeça para trás.
— Eu posso estar enganando o seu irmão, mas não sou iludida como
você. Você nunca seria capaz de conquistar alguém como ele. Já se olhou no
espelho? Você é ridícula, Sofia — deu um pequeno passo para a frente,
alisando o corpo e mordendo o lábio. — Já eu? Olhe para mim, eu
conquistaria seu namoradinho em dois tempos.
— Pelo contrário — uma voz rouca soou no corredor.
As duas pularam surpresas, arregalando os olhos enquanto o dono
daquela voz se aproximava vagarosamente.
Sofia não saberia dizer quanto daquela conversa Henrique ouvira, mas,
apenas observando sua expressão, poderia dizer que o bastante.
Ele se aproximou até ficar entre as duas, dando um passo a mais até
ficar a centímetros do rosto pálido de Vanessa. Ela recuou até apoiar as costas
contra a parede.
Sofia segurou sua mão rapidamente, não com medo que ele a agredisse;
sabia que ele seria incapaz de algo do tipo. Apenas precisava senti-lo após
todas aquelas acusações.
Haviam marcado de se encontrar na casa dele, após as aulas. Ela
passara em casa para pegar algumas coisas e seguiria para lá caminhando, já
que moravam próximos. Não fazia ideia de quanto tempo ficara ali, mas
deveria ter se passado um bom tempo para ele decidir procurá-la.
Ele fitou Vanessa com atenção e falou baixinho, quase um sussurro,
mas Sofia poderia perceber a fúria e verdade nas suas palavras.
— Ela me conquistou por ser exatamente tudo aquilo que você nunca
será, mesmo que se esforce.
Vanessa arregalou os olhos, pálida novamente, mas ele prosseguiu.
Sofia apertou sua mão.
— Uma pessoa desprezível como você não merece ser amada —
enfatizou o que Sofia dissera anteriormente, deixando claro que ouvira bem
mais do que elas imaginavam.
— Você não me co-conhece — sussurrou furiosa, embora fosse
perceptível que o temia.
Ele se aproximou mais um pouco. Sofia foi junto, ainda o segurando.
— E você não me conhece — fitou-a nos olhos, a expressão sombria.
— Não sabe do que sou capaz de fazer com alguém que ameace a minha
mulher — fitou-a de alto a baixo, observando-a engolir em seco e pressionar-
se contra a parede.
— Henrique... — Sofia o chamou, querendo sair dali. — Vamos
embora.
Ele retrocedeu um passo, afastando-se e abraçando o pequeno corpo
trêmulo que o segurava, sem tirar os olhos de Vanessa.
— Você é indigna de amar alguém, tampouco ser amada — declarou.
— Tenho pena de você.
Vanessa, parecendo recuperar-se, apenas o fitou com os olhos em
chamas.
Henrique virou-se, dando as costas para ela e ainda abraçando Sofia.
Deu uma passo em frente, mas parou quando a ouviu rir mais uma vez e dizer
com a voz trêmula de raiva:
— Você não sabe do que eu sou capaz para conseguir o que eu quero
— Vanessa levantou o queixo. — Se eu fosse você, tomaria cuidado de agora
em diante, Sofia.
Sofia tentou segurá-lo, mas ele era mais alto, mais forte e estava
furioso.
Soltou-a rapidamente, sem machucá-la e voltou até onde a outra estava,
ficando com o nariz colado com o dela ao rosnar:
— Nem você sabe do que eu seria capaz de fazer para impedi-la —
Vanessa se retraiu, sem conseguir manter a banca de corajosa com quase dois
metros de um Henrique furioso pressionando-a contra a parede. Ela virou o
rosto e ele tocou seu queixo, virando-o para si, delicadamente. Inclinou-se e
sussurrou contra seu ouvido. — Antes de você sequer pensar em tocá-la, eu
mato você.
Soltou seu queixo e ainda a fitou por mais alguns segundos antes de
sair dali, levando Sofia consigo.
CAPÍTULO 34
Ela estava inquieta. Não conseguia ficar sentada, não conseguia para de
andar de um lado para outro por um segundo, impaciente.
Não fazia ideia do que faria a seguir, porém precisava fazer algo.
Não conseguia pensar em nada, estava de mãos atadas. Não queria
apenas falar, queria mostrar provas, queria provar que tinha razão, e não
apenas dizer que a tinha.
Mas não era apenas aquilo que a incomodava. Havia também Henrique.
Ele ouvira boa parte da discussão, tinha certeza. Tinha certeza também
que ouvira a maneira que Vanessa debochara dos seus sentimentos. E dos
dele.
Não sabia o que fazer a seguir, mas precisava fazer algo e logo, para
não enlouquecer.
Passou as mãos no cabelo, notando o quanto estavam emaranhados e os
prendeu rapidamente em um coque no alto da cabeça, dando um nó com os
próprios fios.
Quando saíram de sua casa, seguiram para casa dele caminhando em
silêncio, já que quando ele fora a sua procura, resolvera deixar o carro e a
moto em casa.
Fora um percurso curto, já que moravam realmente muito próximos.
Quando chegaram ali, ele a ofereceu alguma coisa que ela não ouviu e
recusou, perdida em pensamentos.
Talvez, se apenas levantasse a suspeita, mesmo sem provas, sua família
acreditasse na sua palavra. Poderia dar certo, ou não. Mas pelo menos faria
algo.
Sobre Henrique e seus sentimentos, aquilo já eram outros quinhentos.
Não aguentava mais reprimir-se, impedir-se de revelar o que sentia, declarar
seus sentimentos em alto e bom som.
Decidira-se por esperar um pouco, não querendo assustá-lo. Porém, já
não aguentava mais aquela situação.
Por Deus, não bastasse ter que lutar suas próprias batalhas, agora
também teria que resolver os problemas do seu irmão.
— Vai fazer um buraco no chão.
Voltou-se para ele, surpresa. Por um momento, esqueceu-se de que ele
estava ali.
Estava sentado confortavelmente no sofá. Pernas abertas, braços
esticados sobre o respaldo e a cabeça inclinada para trás, fitando-a tranquilo.
Vestia um jeans de lavagem clara e uma camisa fina de manga longa
vermelha. Os cabelos estavam presos, notou surpresa. Nunca o vira com o
cabelo preso antes e ficou maravilhada com aquilo, com a forma em que o
rosto dele parecia mais másculo, em evidência.
Ela se aproximou, fitando-o de perto e notou que ele fizera um coque,
meio bagunçado, meio preso, tal como o seu.
Ela, que pensara ser impossível ele ficar ainda mais irresistível, fitou-o
inteiro, do coque aos grandes pés descalços. Ele parecia odiar sapatos, a
primeira coisa que fazia ao chegar em casa era retirá-los e jogá-los longe.
— O que foi? — perguntou curioso, fitando-a.
— Nunca tinha visto você assim — apontou para o seu cabelo.
Ele franziu o cenho e tocou o cabelo, notando o coque.
— Ah — riu um pouco. — Estava com calor — explicou.
— Ficou bonito — confessou, mesmo sabendo que aquele era o
eufemismo do ano.
Ele sorriu, fitando o nó que ela também fizera no cabelo.
— Você também — esticou os braços e a trouxe para o meio das suas
pernas. — Ainda me surpreendo com o quanto você é linda.
Ela corou, tocando as grandes mãos que circulavam sua cintura. Fitou
aqueles olhos escuros que tanto amava, o queixo pressionado contra seu
estômago.
Acariciou seu rosto másculo, delineou as sobrancelhas fartas, a barba, o
nariz, as maçãs do rosto e os lábios, fitando o caminho que seus dedos
faziam.
Ele fechou os olhos, recebendo suas carícias. Ela segurou seu rosto com
as duas mãos, respirando fundo duas vezes antes de declarar baixinho:
— Eu amo você.
Sua voz saíra só um sussurro e perguntou-se se ele teria escutado. Ele
permaneceu alguns segundos com os olhos fechados, e ela estava quase
entrando em pânico, pensando que teria que se repetir, quando ele abriu os
olhos, fitando-a.
Ela estremeceu com o que viu ali, com a gama de sentimentos que
havia naqueles olhos, com a emoção que eles transmitiam.
Ele apertou sua cintura e a aproximou mais, puxando-a até que ela
sentou-se no seu colo, uma perna de cada lado do seu quadril.
Encostou a testa na dela e fechou os olhos, apertando-a contra si.
Sofia o abraçou apertado, mantendo os olhos abertos, fitando-o.
A porta, de repente, foi aberta e Henrique levantou a cabeça
rapidamente, encontrando o rosto surpreso de Diego.
— Saia — falou baixo, fitando-o sério.
Sofia estava quase descendo do seu colo, envergonhada, quando
rapidamente viram-se sozinhos novamente.
— Não deveria ter expulsado seu amigo — reclamou, ainda corada.
— Não me importo.
— Foi errado. Nós estamos aqui e ele...
— A casa é minha.
— E deles também e...
— Não ligo — interrompeu-a novamente, tomando seu pequeno rosto
nas grandes mãos e fitando-a nos olhos, sério. — Diga de novo — exigiu.
Se possível, Sofia corou ainda mais. Já fora difícil confessar uma vez,
fazê-lo outra vez e com ele a fitando...
Ele pareceu entender sua dificuldade e acariciou suas costas, apertando-
a contra si.
Ela respirou fundo e fitou seus olhos escuros, tomando seu rosto nas
mãos novamente, acariciando-o.
— Eu amo você — repetiu, sem desviar o olhar do dele, deixando que
seus sentimentos transbordassem pelos olhos.
Ele fechou os olhos, abraçando-a ainda mais apertado.
Ela fechou os seus também, feliz por finalmente confessar o que sentia
e por ele parecer tão emocionado.
Ela repetiu mais uma vez, dessa vez em um sussurro e ele gemeu
deliciado, abrindo os olhos e beijando-a apaixonado.
Entregou-se, abraçando-o apertado e deixando-o tomá-la como queria,
envolvendo sua nuca e puxando seu cabelo, desfazendo o coque que fizera.
Sentiu os fios caírem sobre os ombros e apertou-se mais contra ele. Ele
desceu as mãos por suas costas, apertando sua bunda.
A puxou contra seu sexo, pressionando-a contra si e ela rebolou,
excitada, sem se conter.
Ele gemeu e ela fez de novo, ouvindo seu grunhido rouco e sentindo-o
contra os lábios.
Ela puxou seu cabelo, também desfazendo seu coque, gemendo e
puxando-o.
Henrique levantou-se, sem dificuldade, levando-a consigo.
Sofia gemeu, surpresa e envolveu as pernas na cintura dele. Ele segurou
sua bunda com as duas mãos, erguendo-a um pouco mais.
Começou a dirigir-se para a escada e Sofia soltou seus lábios,
pressionando o rosto contra o pescoço dele.
Ele subiu os degraus vagarosamente, enquanto ela atacava sua pele,
beijando, lambendo e chupando. Subiu os lábios até a orelha dele e raspou os
dentes pelo lóbulo, chupando-o.
Ele rosnou um palavrão e a pressionou contra a parede do corredor,
puxando seu cabelo, forte o suficiente para apenas afastá-la, sem machucá-la
e tomou novamente seus lábios, faminto.
Ela começou a movimentar o corpo, subindo e descendo o máximo que
podia, roçando contra ele.
Ele rosnou mais uma vez, beijando-a com força, faminto, bebendo seus
gemidos e liberando os seus nos lábios dela.
Bateu contra sua bunda, a mão aberta, apertando-a e Sofia sentiu a pele
queimar, mesmo sobre o jeans. Gemeu manhosa, querendo mais e ele grunhiu
mais uma vez, soltando seus lábios e fitando-a por um segundo antes de
carregá-la rapidamente para o seu quarto, fechando a porta com o pé.
Colocou-a no chão, mas ela mal tivera tempo de respirar e ele já a
agarrava mais uma vez, retirando suas roupas com pressa.
Ela o ajudou, erguendo os braços e depois balançando o quadril,
ajudando-o a retirar seu jeans. Quando ela estava inteiramente nua, a pele
coberta por um intenso rubor, ele deu um passo para trás, fitando-a inteira
enquanto retirava sua próprias roupas, apressado.
Sofia mal teve tempo de apreciar a visão que era aquele homem nu,
todo músculos e tatuagens à mostra. Rapidamente se viu nos braços dele,
sendo erguida e depositada com delicadeza no centro da grande cama.
Arrastou-se até os travesseiros, afastando-se um pouco e ele seguiu
seus movimentos com os olhos, colocando-se sobre ela rapidamente,
cobrindo-a com o seu calor.
Ela arrepiou-se, sentindo-o sobre si, cobrindo-a inteira, fazendo-a
consciente de todo seu corpo.
Ele beijou seu corpo inteiro, começando no seu pescoço e descendo,
parando nos seus seios, enlouquecendo-a com sua boca e descendo mais,
deixando uma trilha úmida por sua barriga plana até o vértice entre suas
pernas.
Ela mal respirava, fitando-o com os olhos cerrados, o corpo inteiro
trêmulo de expectativa.
Gemeu alto quando ele a atacou com fome, sem pequenas carícias, indo
direto onde queria, cavando com a língua e chupando-a com ânsia.
Após quase dois meses ao lado dele, dois meses de muitas aventuras,
descobertas e prazeres, muito da sua vergonha fora deixada no caminho. Não
reprimia mais seus gemidos, primeiro porque isso era impossível quando ele
a atacava daquela maneira e segundo porque ele adorava ouvi-los, saber o
que fazia com ela.
Ele a enlouqueceu, levando-a ao limite mais de uma vez, parando o que
fazia quando ela começava a estremecer, beijando suas pernas até que ela se
acalmasse, apenas para recomeçar tudo de novo, uma e outra vez.
Ela suava, o cabelo grudando na testa, os quadris em constante
movimento, erguendo-se contra a boca dele e apertando os lençóis com as
mãos.
Implorou que ele a deixasse gozar, gemeu sentindo-se perto de
explodir, mas ele apenas brincava com seu corpo, tirando o máximo dele sem
nunca permitir que encontrasse libertação.
Já não aguentava mais, apenas gemia, entregue, quando ele subiu pelo
seu corpo, beijando sua pele, lambendo seus seios até parar na sua boca,
beijando-a faminto.
Ela retribuiu como pôde, separando as pernas e envolvendo-o,
puxando-o para si até senti-lo encaixar-se contra seu sexo úmido e
necessitado.
Não separou seus lábios, apenas ergueu um pouco o quadril e Sofia
sentiu quando ele encaixou-se contra sua entrada molhada, forçando-a
lentamente, penetrando-a aos poucos.
Henrique gemeu, separando as pernas dela mais um pouco com as suas,
descansando os cotovelos ao lado da cabeça dela, sem separar seus lábios.
Sofia sentia o ar faltar, mas não descolou seus lábios, beijou-o de volta
e abraçou seus ombros, gemendo quando ele entrou de uma vez.
Ele gemeu, erguendo o quadril e voltando a penetra-la, estocando
lentamente, saindo e entrando no seu corpo, aumentando o ritmo aos poucos.
Logo ele estocava com força, batendo contra seu quadril, chocando
seus corpos suados, ainda possuindo seus lábios.
A falta de ar deixava tudo mais intenso, mas Sofia sabia que não era
aquilo que tornava aquela vez tão diferente das outras. Eram os sentimentos.
Era o amor que sentia e que finalmente confessara. Era a emoção que
vira nos olhos dele e que ele demonstrava com cada beijo, cada toque, a cada
vez que a penetrava mais fundo.
Daquela vez, não houveram palavras, apenas gemidos e toques, braços
e pernas trançados e corpos em constante movimento.
Ele se retirou do seu corpo repentinamente, erguendo-se e antes que ela
fosse capaz de abrir a boca, ele a virou de lado, deitando-se de frente para ela
e grudando seus corpos.
Ele ergueu sua perna, descansando-a contra a dele e voltou a penetra-la,
naquela posição, olhos nos olhos.
Ela gemeu, abraçando-o e apertando-o contra si, puxando-o mais como
se toda aquela proximidade não fosse suficiente.
Henrique voltou a colar seus lábios, beijando-a com amor, fazendo-a
sentir o que não dizia, o que talvez temesse confessar. Em meio ao carinho
dos seus beijos, da suavidade com a qual movia os lábios contra os dela, seus
movimentos continuavam fortes, penetrando-a com força. Aquela mistura de
suavidade e força foram o que precisava para finalmente alcançar libertação,
gemendo contra os lábios dele, puxando seus cabelos e sentindo como
pulsava contra ele, sugando-o para dentro de si.
Ele apertou sua bunda, com força, movendo-se alucinado, perdendo-se,
derramando-se dentro dela, gemendo rouco. Ele ainda moveu-se por algum
tempo, prolongando o prazer de ambos, até parar, abraçando-a apertado.
Sofia fechou os olhos, sentindo-se esgotada, satisfeita, feliz. Descansou
a cabeça no peitoral dele, ouvindo as batidas do seu coração.
Permaneceram em silêncio, recuperando a respiração, abraçados.
Sentindo-se sonolenta, Sofia o abraçou mais um pouco, apertando-se
mais contra ele e sussurrando baixinho que o amava.
Sentiu quando ele respirou fundo, abraçando-a mais apertado.
Já quase dormia quando ele beijou sua cabeça, alisando seus cabelos e
abraçando-a, cobrindo seu corpo com os dois braços e sussurrando rouco
contra sua testa:
— Também amo você.
CAPÍTULO 35
Nunca fora tão feliz na sua vida.
Claro que era feliz antes, com sua família e amigos. Tinha uma vida
tranquila, sem grandes acontecimentos, é claro, mas satisfatória. Nunca tivera
motivos para reclamar - exceto o leve incômodo com o aspecto romântico de
sua vida (lê-se garotos) -, mas nunca reclamara.
Era feliz, sua vida era cômoda, pequenas coisas que deveriam
incomodá-la - como as roupas horrendas compradas por sua mãe -, não a
incomodavam de fato. Não ligava para sua aparência, não havia motivos para
tal, além disso.
Seu irmão era o seu melhor amigo. Sua mãe, sua confidente. Seu pai
sempre a tratava com aquele diferencial, por ser menina e seu eterno bebê.
Suas amigas eram toda companhia que necessitava, companheiras, nunca a
deixaram para trás e nunca a excluíram - embora por vezes fosse como ela se
sentia.
Tudo estava bem e ela não ansiava por mudanças, tampouco achava
possível.
Então ele apareceu. E com ele, tudo que nunca sonhara e que não sabia,
mas seria tudo que necessitava.
Sentia-se completa, inegavelmente feliz e realizada. Tê-lo, pertencê-
lo... Não havia maneiras de descrever a maneira com a qual se sentia inteira
quando ao lado dele, e mesmo quando ele estava longe e a saudade apertava,
ainda sentia-se inteira, ciente de que a distância seria passageira. E sempre
era.
Sem que esperasse, ele chegara com seu domínio e apossara-se dos
seus dias, sem que ela tivesse tempo de se opor - não que desejasse.
Três meses. Quase três meses, na verdade. Oitenta e sete dias, para ser
específica - não que os estivesse contando, é claro.
O amor que sentia por sua família e amigas fora o único que
experimentara em seus vinte anos de vida. E, embora ainda os amasse mais
que tudo, não se comparava ao amor que sentia por ele. Eram tipos distintos
de amor, cada um a sua maneira.
Sempre gostara muito de romances - principalmente os de época
(autoras como Julia Quinn, Lisa Kleypas e Jane Austen eram as suas
preferidas) -, e sempre julgara não ser do tipo daquelas mocinhas indefesas,
que aguardavam ansiosamente por príncipes encantados em cavalos
reluzentes, dispostos a modificarem suas vidinhas pacatas de uma vez por
todas, levando-as consigo para uma bela e surpreendente aventura.
Embora amasse o gênero, nunca se imaginara no lugar de uma delas e
julgava ser impossível confiar em alguém a ponto de entregar-se sem
reservas.
Então, disposto a prová-la o quanto estava errada, o destino pôs no seu
caminho aquele homem. Um diferente de todos que conhecera, que, como o
mocinho de um romance em particular, precisou enfrentar um mostro
assustador, um enorme dragão furioso (lê-se Sebastian) para tê-la
inteiramente.
E, desde então, sua vida tem sido repleta de aventuras e descobertas.
Óbvio que o amava. Desde que o vira a primeira vez, meses atrás, no
pátio da universidade. Desde aquela primeira troca de olhares e,
posteriormente, aquele fiasco de primeira conversa.
O amava e nunca antes sentira-se tão completa. As conversas entre si
eram longas, eram muito parecidos. É verdade que sempre terminavam na
cama ou na sala, no carro, na biblioteca. O desejo que sentiam, mesmo após
três meses, não diminuía, pelo contrário. Mas com o tempo eles conseguiram
controlá-lo um pouco.
Adorava tudo que faziam juntos; as conversas, o sexo, o sentimento que
compartilhavam, as poucas, mas significantes coisas que tinham em comum.
Completariam três meses juntos em poucos dias e ela começou a pensar
em um presente para ele. Claro que primeiramente pensou em presenteá-lo
com algo que pudessem usar juntos na cama e fora justamente algo do tipo
que uma de suas amigas a sugeriu; uma lingerie sexy ou um brinquedinho ou
atacá-lo em um local impróprio e inúmeras outras sugestões indecentes. Não
precisava dizer qual de suas amigas fez tais sugestões.
Mas ela ouviu e ponderou todas, tendo em vista que não conseguia
pensar em nada. Claro que não levou sua amiga tão a sério, mas sabia que ela
queria apenas ajudá-la e não reclamou em nenhum momento, ouvindo calada
enquanto corava.
Foi em um domingo, após um almoço com sua família em um
restaurante italiano no centro da cidade escolhido por Virna, enquanto
caminhava pelas ruas movimentadas que avistou em uma vitrine pequenas e
delicadas peças feitas de porcelana, nos mais variados formatos. Resolveu
entrar para observar os delicados artesanatos mais de perto e viu-se
apaixonada com pequenos corações do mesmo material e imaginou que
aquilo seria perfeito.
Conversou com o artesão e proprietário da pequena lojinha sobre seu
trabalho e, após dez minutos de conversa, encomendou um delicado e
personalizado coraçãozinho de porcelana, com alguns pequenos dizeres e as
inicias do casal gravados no interior do objeto.
Seria apenas uma lembrança, um pequeno presente em comemoração
daqueles três meses que, de longe, foram os melhores de sua vida.
Feliz, assim que saiu da pequena loja, após combinar o dia em que
pegaria sua encomenda e acertar o pagamento, mandou mensagem para suas
amigas e contou sobre sua decisão; o que fez Thaís parabenizá-la pela escolha
original e Lorrany enviar um áudio resmungando inconformada com a
caretice daquilo.
Estava distraída, caminhando em direção à uma grande loja de
departamento, onde marcara de encontrar-se com sua mãe, ainda conversando
com suas amigas por mensagem e rindo dos áudios de Lorrany, quando
trombou com alguém, por pouco não derrubando o celular no chão.
Sentiu a face corar, envergonhada com sua falta de atenção. Levantou
os olhos, tímida, e deparou-se com os olhos verdes e frios de Brian. Ela
franziu o cenho, surpresa e afastou-se um passo inconscientemente.
Ele percebeu que ficou nervosa com sua proximidade, provavelmente
ainda maior após aquele pequeno encontro na porta daquele pub, meses atrás
e sorriu, irônico.
— Ora, vejam só o que encontrei vagando por aqui — sorriu, malicioso
e Sofia reprimiu o desejo de afastar-se mais um passo. Quando ela apenas
ficou calada, fitando-o, ele bufou. — Não fala mais com os conhecidos?
Nossa, Sofia, você era mais legal quando estava solteira — aproximou-se um
passo e ela, automaticamente, retrocedeu outro. — Aquele seu namorado a
proibiu de falar comigo?
Ela apenas o fitou, calada. Sentia o fedor de álcool vindo dele e notou
como seus olhos verdes estavam ligeiramente vermelhos. Perguntou-se se ele
seria capaz de fazer algo contra ela naquela rua movimentada e decidiu que
não ficaria ali para descobrir.
Deu um passo para o lado, querendo seguir seu caminho, ansiosa para
sair da presença daquele homem que ela não reconhecia mais. Seus instintos
gritavam para que se afastasse dele o mais rápido possível e ela ficaria mais
do que grata em segui-los.
Entretanto, rapidamente ele deu um passo para o lado e interrompeu
seu caminho, fazendo com que ela trombasse em seu corpo novamente.
Ela tentou se afastar, nervosa, querendo manter o máximo de distância
possível, contudo ele segurou seus braços, mantendo-a onde estava.
— Por que a pressa? — ele perguntou divertido, próximo do seu rosto.
Ela afastou a cabeça, franzindo o nariz ao sentir o hálito podre dele. Tentou
se soltar, porém ele apertou seus braços com força, mantendo-a no lugar. —
Não precisa correr de mim, Sofs, não vou machucá-la.
— Solte-me — pediu baixinho, sentindo que a pele dos seus braços
ficariam marcadas devido a força com a qual ele a apertava. Trincou os
dentes tentando afastá-lo novamente e ele a apertou ainda mais.
— Por que eu faria isso? — ele praticamente rosnou no seu rosto e ela
ficou surpresa com sua abrupta mudança de humor. Agora ele parecia
furioso, não mais sorria com malícia ou se divertia com a nítida aflição dela.
— Mandei me soltar — ela falou, encorajada pela dor que sentia.
Ele riu, jogando a cabeça para trás e a apertou contra seu corpo,
colando-a no seu peito.
Sofia notou que ele estava excitado e sentiu ânsia de vômito,
começando a ficar nervosa, imaginando se ele tentaria violentá-la ali onde
estavam, no meio da rua. Embora o local que estavam fosse bem
movimentado, as pessoas à sua volta não pareciam estranhar o
comportamento dos dois, provavelmente imaginando que pela proximidade
dos corpos aquela cena se tratava de um encontro apaixonado entre dois
amantes e não o contrário.
— Você, realmente, se acha superior, não é? — riu um pouco mais e
Sofia sentiu um incômodo com o que ele dissera, mas logo esquecera
enquanto ele ainda a apertava, aproximando seu rosto do dela. — Acha que é
melhor do que eu? Ou, talvez, pense que aquele seu namoradinho de merda
seja — aproximou um pouco mais do seu rosto e ela inclinou-se para trás. —
Mas eu tenho uma surpresa para você, sua pequena vadia — grunhiu raivoso.
— Seu namoradinho não passa de um mentiroso de merda, de um...
— Cale a boca! — ela gritou contra seu rosto, finalmente reagindo e
começando a socá-lo, ou tentando, já que ele prendia seus braços e limitava
seus movimentos. — Você não é ninguém, não passa de um verme e
Henrique é melhor que você, sim! Mil vezes melhor — praticamente cuspiu
no rosto dele.
Viu quando a expressão dele fechou ainda mais e ele soltou um dos
seus braços, levantando uma das mãos como se fosse batê-la.
Surpresa, Sofia reagiu sem pensar e se debateu contra o corpo dele,
tentando se soltar, aproveitando que ele liberara um de seus braços e acabou
atingindo-o entre as pernas com o joelho.
Ele a soltou rapidamente, grunhindo de dor e ela se surpreendeu com o
que fizera, mas feliz por finalmente estar livre. Deu um passo para trás,
notando que finalmente roubavam a atenção de outras pessoas e pensou em
correr.
Quando de um primeiro passo para contorná-lo e correr dali, ele se
ergueu rapidamente, fazendo com que ela retrocedesse, assustada.
Ele mantinha uma das mãos entre as pernas e a fitava ainda mais
furioso. Ela soube que se ele a alcançasse mais uma vez, a machucaria.
Alguma coisa no discurso de ódio dele a incomodava. Já ouvira aquelas
palavras antes, tinha certeza. Mas agora não era o momento para refletir,
precisava agir.
Estava se preparando para correr, sem se importar com nada, notando
que ele também se preparava para atacá-la, quando sentiu um toque gentil nas
suas costas.
Virou-se surpresa e encarou os olhos esverdeados e simpáticos de
Diego, amigo de Henrique. Ele sorriu para ela, ainda tocando-a gentilmente e
fitou o homem que ainda os encarava furioso.
Ela não quis olhar para Brian outra vez e continuou fitando o amigo do
seu namorado, notando que aquela era a primeira vez que o fitava tão de
perto. Claro que já se viram outras vezes, mas nunca tiveram muito contato.
Diego era uma pessoa discreta, sempre que ela visitava Henrique, ele saía da
casa ou quando ela chegava, ele já não estava lá.
Ela sentia-se um pouco incomodada por fazê-lo sair de sua própria
casa. Vinicius, o outro amigo de Henrique, nunca estava lá de qualquer
modo, Henrique dizia que as vezes ele passava semanas sem aparecer.
Diego era o mais simpático dos dois, sempre a cumprimentava com
breves acenos de cabeça e sorrisos ou poucas palavras, mas era simpático, ao
contrário de Vinicius que nunca sequer olhava para ela.
Ela não saberia o que dizer a respeito do outro, tendo em vista que ele
claramente não gostava dela, todavia gostava de Diego e sabia que dos dois
ele era o mais próximo de Henrique.
Fitou-o de alto a abaixo, notando que deveria ser no mínimo vinte
centímetros mais alto que ela. Tinha os cabelos cortados bem rentes a cabeça,
seria considerado careca se não fosse o sombreado dos fios nascendo. Ele
vestia uma camiseta branca longa, dessas que estão na moda entre os homens,
uma jaqueta preta e jeans também pretos.
Sua pele era surpreendentemente escura, e em contraste com seus olhos
verdes o deixava ainda mais charmoso. Poucas vezes o vira sorrir
genuinamente, com todos os dentes amostras, mas lembrava-se de um dia que
o vira de longe, brincando e conversando com seus amigos e notara que
quando sorria ele ficava ainda mais bonito.
Sentindo-se reconfortada com sua presença, respirou fundo e fitou o
homem ainda furioso na sua frente, que agora encarava seu salvador com os
olhos vermelhos.
— Diego — praticamente cuspiu com a expressão ainda mais fechada.
— Brian — Diego retribuiu o estranho cumprimento, mas sem
grosseria. Ele tinha a voz extremamente rouca, profunda e Sofia podia notar o
perigo implícito no seu tom.
— O que você faz aqui? — Brian perguntou, ainda furioso.
Sofia viu Diego erguer as sobrancelhas, sem deixar-se atingir pela
grosseria do outro.
— Até onde sei, estamos no centro e como as ruas são públicas, todos
são livres para ir e vir. Quero dizer, é o que eu acho — respondeu com falsa
inocência. Sofia conseguiu sorrir, mesmo abraçando seus braços doloridos.
Brian se aproximou um passo, cerrando o maxilar de raiva, mas parou
onde estava rapidamente quando Diego apenas ergueu as sobrancelhas.
Notou tardiamente que Diego era alguns centímetros maior que ele, de porte
forte, com os braços quase ou se não tão musculosos como os de Henrique.
— Eu estava conversando com Sofia.
— Gosto de conversas — Diego disse, sem sair de onde estava.
— É uma conversa particular, não se meta — grunhiu.
Diego não se deixou abalar pela raiva do outro, pelo contrário, sorriu.
— Nesse caso, sinto muito, por interrompê-los — começou, digitando
algo rapidamente no seu celular. Brian sorriu, provavelmente pensando que
ele iria embora e ficaria novamente a sós com Sofia. Continuou: — Porém,
Sofia e eu também precisamos conversar.
Ele a fitou rapidamente, viu a forma com a qual ela segurava os braços
machucados e Sofia notou quando sua expressão fechou ligeiramente,
perdendo rapidamente o ar tranquilo que adotara desde que os interrompera.
— Quem você pensa que é para chegar e levá-la assim? Já falei que
estávamos conversando — Brian estava cada vez mais irritado, gesticulando
e grunhindo como um louco. Parecia uma criança contrariada.
Sofia de fato não o conhecia verdadeiramente. Ele era apenas amigo do
seu irmão e como tal, Sebastian nunca permitiu que os dois se aproximassem
demais. Sempre se tratavam com cordialidade, embora notasse que Brian
tinha algo de estranho sempre que a via.
Brian ainda os fitava furioso e só ali notou a forma gentil com a qual
Diego ainda a tocava e sorriu, malicioso.
— Ah, entendi tudo — falou. Se inclinou um pouco e sussurrou como
se estivesse compartilhando um segredo: — Você também está comendo essa
vadia?
Sofia balançou a cabeça, sem acreditar naquilo. Qual era, de fato, o
problema de Brian?
— Henrique sabe que é corno do melhor amigo? — e riu
descontroladamente. Diego permaneceu calado sem deixar-se atingir com o
que o outro dizia. Desviou os olhos rapidamente para algo a sua esquerda e
sorriu tranquilo, dando um passo para trás e levando-a consigo. Sofia franziu
o cenho confusa, sem entender e virou-se para Brian. — Cara, eu daria tudo
para ver a cara do corno do seu namoradinho agor...
Mas ele não conseguiu terminar o que dizia porque de repente, viu-se
sendo agarrado por braços extremamente musculosos e tatuados.
Brian arregalou os olhos, surpreso, e a pessoa atrás do seu corpo
circulou seu pescoço, apertando-o com força e deixando-o sem ar.
— Agora você me vê — Henrique rosnou no seu ouvido e sua voz
pingava violência.
Sofia também arregalou os olhos sabendo que, se antes havia uma
mínima chance de Brian sair dali ferido, agora, ela tinha quase certeza de que
ele morreria.
CAPÍTULO 36
Ela tentou dar um passo para frente, disposta a separá-los antes que
fosse tarde demais. Porém, Diego, que ainda a tocava gentilmente, impediu
que fizesse qualquer movimento.
O fitou com os olhos arregalados de descrença, surpresa por ele saber o
que aconteceria ali - sangue seria derramado - e mesmo assim não deixá-la
intervir. Ele apenas sorriu, nenhum pouco disposto a soltá-la.
— Você parecia bastante valentão até alguns segundos atrás, o que
aconteceu? — Henrique indagou baixo, ainda prendendo Brian pelo pescoço
e imobilizando-o. Brian não conseguiu responder, tendo em vista que mal
conseguia respirar. — Onde foi parar toda a sua valentia? Hum? - rosnou ao
final.
Sofia fitou o rosto do melhor amigo do irmão, cada vez mais vermelho
devido a falta de ar. Ele tentou respirar fundo e surpreendendo a todos riu,
mesmo que parecesse fazer um esforço enorme para isso.
— Não tenho medo de você — disse entre pausas e com um sopro de
voz. Mirou os olhos em Sofia e sorriu, um sorriso doente. — Você e essa
vadia se merecem.
Surpreendentemente, Henrique o soltou, dando um passo para trás e o
fitou de cima enquanto ele se esforçava para respirar. Brian ergueu-se, dando
as costas para Sofia e Diego, fitando Henrique de frente, sem parecer temê-lo,
mesmo sendo uns bons centímetros menor e magro como um graveto se
comparado ao outro.
Quando ele abriu a boca, Sofia gemeu interiormente. Porém, antes que
tivesse tempo de dizer uma só palavra, Henrique ergueu o braço, fechou o
punho e o socou, tão rápido que ela piscou e quando voltou a abrir os olhos
Brian estava estirado no chão com a boca sangrando.
Henrique mal havia se movido, sem precisar esforçar-se, apenas ergueu
o punho e pronto. Encarou o homem aos seus pés, gemendo e cuspindo
sangue.
— Considere isso como um aviso. Não se aproxime dela outra vez —
disse baixo e mesmo quem não o conhecesse poderia afirmar apenas pelo seu
tom de voz que ele era um homem de palavra e que não fazia promessas e
ameaças vãs.
Sofia apenas tremia onde estava, observando tudo com os olhos
arregalados. Henrique se aproximou devagar, fitando o amigo e
cumprimentando-o com um aceno de cabeça antes de concentrar-se apenas
nela, seu olhar mudando automaticamente, passando da fúria para ternura.
— Como... Como — tentou perguntar como ele havia chegado ali tão
rápido, sua mente confusa, ainda digerindo as coisas que Brian lhe dissera e a
cena de agora a pouco.
— Você está bem? — ele perguntou baixinho, terno, enquanto Diego se
afastava um pouco e fitava o homem ainda deitado no chão com atenção.
Ela afirmou com a cabeça, sabendo que não conseguiria falar. Fitou-o
com atenção notando que ele mais uma vez estava com o cabelo preso.
Daquela maneira seu rosto anguloso ficava em evidência e o maxilar com
aquela barba farta que a instigava a tocá-lo.
Ele olhou em volta, certamente conferindo se chamavam atenção das
pessoas por ali e concluindo que não. Com o movimento que ele fez, Sofia
notou um plástico no seu pescoço. Surpresa viu que era uma nova tatuagem.
Ergueu a mão trêmula e tocou-o delicadamente, fazendo-o voltar a olhá-la.
— Quando você fez? — perguntou baixinho, ainda o tocando, mas
evitando a área coberta pelo plástico, deduzindo que a área estaria sensível.
Ele tocou sua mão, levando-a até os lábios e beijando-a.
— Hoje — sorriu quando ela ergueu as sobrancelhas, surpresa. - Na
verdade, ainda preciso terminá-la, saí do estúdio apressado.
Ela compreendeu o que ele não dizia. Ele precisou sair apressado de
onde estava quando Diego o avisara sobre o que acontecia. Lembrava-se de
tê-lo visto mexendo no celular pouco antes de Henrique chegar.
Provavelmente, deveriam ter chegado até ali juntos antes de Diego encontrá-
la.
— Dói? — perguntou, ouvindo os gemidos e grunhidos de Brian ainda
deitado no chão. Precisava manter a atenção de Henrique em si, não queria
mais confusão.
Ele sorriu e tocou seus ombros, aproximando-a um pouco do seu corpo.
— Na verdade, não. Já me acostumei — disse ainda sorrindo, descendo
as mãos pelos braços dela e franzindo o cenho quando ela estremeceu de dor.
Ele fitou a maneira que ela ainda abraçava os braços doloridos e cerrou
os olhos. Sofia tentou se afastar um passo, todavia ele foi mais rápido e como
ela estava muito próxima dele, não conseguiu fugir.
Ele a tocou com delicadeza, tentando fazer com que descruzasse os
braços sobre o peito. Ela resistiu e ele a fitou sério, fazendo com que ela
desistisse e deixasse os braços caírem ao lado do seu corpo, fazendo uma
pequena careta quando o movimento a machucou um pouco mais.
Henrique começou a enrolar a manga 3/4 da blusa que ela vestia,
começando pelo braço esquerdo. Ele o fazia delicadamente e ela mal sentia o
roçar dos seus dedos.
Sofia se concentrou no seu rosto, sem desejar ver o que ele via; sua
pele, antes branca e imaculada, agora marcada com manchas rochas e marcas
de dedos.
Viu a expressão dele mudar aos poucos, conforme fitava seu braço com
atenção, perdendo todo ar de riso que tinha até alguns segundos atrás. Ele fez
o mesmo com o outro braço, até tê-lo inteiramente exposto e marcado por
hematomas como o outro.
Ele travou o maxilar, a expressão cada vez mais sombria enquanto a
observava. Ele não tentou tocá-la, apenas a fitava, como se guardasse na
memória o que via.
Sofia sabia o que ele faria a seguir e procurou Diego com os olhos,
encontrando-o alguns metros afastado, observando-os. Pensou em implorar
que ele impedisse Henrique de fazer uma besteira, porém notou a forma que
ele também fitava seus braços e estremeceu, identificando a mesma fúria que
via nos olhos de Henrique nos olhos dele, embora fosse em menores
proporções.
Uma súbita gargalhada atrás de Henrique chamou de volta sua atenção.
Ela estremeceu quando seu namorado tencionou o corpo e antes que ele
pudesse fazer qualquer movimento, ela tomou seu rosto nas mãos, tentando
ganhar sua atenção novamente.
— Por favor — pediu em um sussurro. Não gostava de confusões, de
violência. Mas não era por isso que não queria que ele não batesse no outro
novamente; ela só não queria que ele se machucasse, que fosse prejudicado
de alguma forma por sua causa. Sabia que Brian merecia uns bons murros,
mas não queria que Henrique se metesse em encrencas por culpa sua. — Eu
estou bem.
Ele a fitava, mas parecia que não a enxergava de fato. Parecia perdido
em pensamentos. Sofia rezou para que estivesse pesando os prós e contras
daquela situação. Encostou a testa na dele e permaneceu assim, fechando os
olhos quando ele fez o mesmo, enquanto respiravam o ar um do outro.
— Desculpe interromper o casalzinho, mas meu assunto com você
ainda não acabou — Brian disse, com a voz ainda rouca. Sofia colou seu
corpo ao de Henrique quando ele tentou se afastar e agarrou-o com mais
força.
Não o deixaria sujar as mãos com o sangue podre do outro. Ainda não
sabia qual era o problema de Brian, se ele sempre a odiou ou se o problema
era o seu relacionamento. Ela apenas sabia que era preciso ser realmente
corajoso ou não ter medo de morrer para provocar Henrique daquela maneira.
Sabia que não seria capaz de segurá-lo se ele decidisse se soltar, mas
poderia tentar, mesmo que para isso fosse preciso usar toda sua força.
Envolveu os braços no pescoço dele, ficando nas pontas dos pés,
recusando-se a deixá-lo ir.
Brian riu debochado, provavelmente irritado por ser ignorado daquela
maneira.
— Acho que por hoje já chega. Por que você não vai embora? — Sofia
ouviu a voz profunda de Diego e o agradeceu mentalmente.
Ouviu outra risadinha.
— Cara, meu assunto não é com você. Meu assunto é com a vagabunda
e aquele troglodita ali.
Ela precisou se esforçar para não soltá-lo quando ele tentou retirar seus
braços do seu pescoço. Henrique só não conseguiu soltar-se porque da
maneira que estava presa a ele, não seria possível afastá-la sem que ele
machucasse seus braços doloridos ainda mais.
— Ou você é realmente corajoso ou não tem medo de morrer — Diego
comentou. — Ou gosta de apanhar, o que eu acho que é verdade.
— Esse idiota me pegou desprevenido, mas isso não vai acontecer
novamente — Brian rosnou indignado. — Assim que ele soltar a vadia, eu
quebro a cara dele.
— Solte — Henrique ordenou baixo, a voz rouca de raiva e Sofia
negou com a cabeça, abraçando-o apertado.
— Falando desse jeito... — Diego começou, mas de repente exclamou
como se só agora tivesse compreendido algo que estava bem na sua cara. —
Ah, agora eu entendi. Isso tudo é por dor de cotovelo?
— Não sei do que você está falando — Brian dissimulou.
Sofia não sabia do que estavam falando, porém agradecia pela pequena
distração. Henrique afastou o rosto, fitando-a sério e ela o fitou de volta, sem
deixar-se intimidar.
— Claro que sabe — Diego continuou. — Tudo isso, toda essa raiva, é
porque ela está com ele e não com você? — perguntou e recebeu o silêncio
como resposta mais que suficiente. Riu mais um pouco, realmente parecendo
achar graça na recém mudez do outro. — Você é realmente patético.
— Eu não a quero — Brian negou, mas sua voz subiu alguns tons e
Diego riu novamente. — Não quero, tenho coisa melhor. Nunca quis essa
vadia, tudo o que eu quero é provar dessa boceta gostosa. Não deve ser
difícil, afinal, esse aí mal chegou e em poucos dias já estava comendo a
prostituta.
Sofia ainda tentou impedi-lo, mas havia relaxado quando Diego
começara a falar e ele conseguiu retirar os braços do seu pescoço,
delicadamente, sem machucá-la, enquanto ela implorava que não.
Henrique afastou-se um passo e olhou de rabo de olho para Diego, que
rapidamente se posicionou ao lado dela, voltando a tocar suas costas com
gentileza, mas firme, mantendo-a no lugar.
— Henrique, não! Por favor! — implorou, mas ele parecia não ouvi-la.
Brian não parecia temeroso, pelo contrário, riu observando-o se
aproximar lentamente.
— Se você pensa que me assusta com essa pose de garoto malvado está
muito...
Tão rápido como da outra vez, Henrique o socou, fazendo Sofia pular
assustada quando ouviu o inconfundível som de ossos se partindo. Só que
diferente da outra vez, ele não se contentaria com apenas um soco. O que
ficou claro quando ergueu o outro como se fosse um saco de batata,
aproximando-o do seu rosto e fitando o sangue que pingava novamente da
sua boca e agora também do nariz.
Ele rosnou algo baixo que Sofia não foi capaz de ouvir. Brian sorriu
mesmo com a boca ensanguentada e disse algo de volta. Nervosa e curiosa
para ouvir o que falavam, Sofia tentou dar um passo para frente, mas Diego a
impediu, segurando-a mais firme e negando com a cabeça quando ela o fitou.
— Aproveite enquanto pode, animal — disse Brian, cuspindo sangue
no chão aos seus pés. — Você não vai tê-la para sempre. Uma hora ela vai
descobrir que...
Antes que ele terminasse o que dizia, Henrique mais uma vez o jogou
no chão com outro soco, daquela vez não parando, sentando-se rapidamente
em cima dele e socando-o com fúria, escapando com facilidade das fracas
tentativas do outro de fazer o mesmo.
Ele parecia transtornado, a expressão sombria, furiosa, enquanto o
socava, sem importar-se com os ofegos e gritos das pessoas em volta,
horrorizadas com o que viam.
Sofia tentou soltar-se mais uma vez, gritando, chamando por Henrique
e sendo contida por braços fortes, que a prendiam cada vez mais.
Ela gritou um pouco mais, tentando desesperadamente fazer com que
ele a ouvisse, mas nada adiantava e ela observou com crescente horror o
sangue respingar do rosto de Brian enquanto Henrique continuava atingindo-
o, uma vez atrás da outra.
Não saberia dizer se foi a visão de todo aquele sangue no rosto de Brian
ou nos punhos de Henrique, mas Sofia de repente começou a sentir-se tonta.
Piscou os olhos quando sua visão pareceu escurecer rapidamente.
Sentiu o corpo pender sobre Diego e agradeceu que ele ainda a rodeasse com
os braços.
Notando que ela mal conseguia se manter de pé, Diego a observou com
atenção, firmando-a de pé enquanto tocava seu rosto.
— Você está bem? — indagou preocupado.
— Estou bem — afirmou com um fio de voz. — Só fiquei tonta por um
segundo.
Ele tocou sua testa com delicadeza e ela fechou os olhos quando sentiu
o toque morno na sua pele.
— Você está pálida e gelada. O que você tem?
Ela tentou responder, porém, ao tentar fitar o lugar onde Henrique
estava sentiu a cabeça rodar e por pouco não desabou no chão.
Não saberia dizer o que estava acontecendo, mas podia sentir a bílis
subindo e descendo por sua garganta e sentia-se cada vez mais fraca, embora
lutasse para recuperar o controle do seu corpo.
— Henrique — Diego chamou com a voz séria e preocupada e foi o
suficiente para Henrique escapar da névoa de fúria em que estava.
Ainda fitou o homem caído no chão uma última vez, observando como
ria debochado mesmo que estivesse todo machucado, tentando provocá-lo.
Desviou os olhos, rangendo os dentes e fitou seu amigo, arregalando os olhos
quando viu Sofia perder a consciência.
Levantou-se em um salto, correndo até onde estavam, mesmo que
apenas poucos metros os separassem.
— O que aconteceu? — perguntou preocupado, retirando o moletom
que vestia e limpando as mãos ensanguentadas, ignorando as pessoas
amontoadas a sua volta. Fitou o pequeno rosto feminino desacordado e pálido
e a tomou nos braços, jogando o casaco no chão.
Ela parecia estranhamente sem vida e estava gelada. Ele se desesperou,
erguendo suas pernas e descansando-a contra o peito. Apenas o sopro quente
da respiração dela contra sua pele o confirmou que ela estava viva.
Sem demora, abriu caminho entre os curiosos, encaminhando-se para o
estacionamento em que deixara a moto, na rua de trás, agradecendo
internamente por estarem tão perto e por Diego estar de carro.
Ouviu parcialmente o amigo contar o que aconteceu, como ela
desmaiara, enquanto seguia a passos rápidos para o carro.
Diego destravou as portas e já abria uma das traseiras quando ela se
moveu contra seu peito, gemendo baixinho. Ele parou antes de entrar no
carro, afastando a cabeça para vê-la.
Ela abriu os olhos lentamente, brindando-o com aquelas esferas azuis
que tanto amava. Respirou aliviado ao vê-la retomar os sentidos.
— Henrique — ela murmurou baixinho, voltando a fechar os olhos.
— Estou aqui, amor — respondeu baixo, observando-a abrir os olhos
novamente e fitá-lo.
— O que aconteceu? — perguntou confusa.
— Você desmaiou — disse, ainda preocupado. — O que você está
sentindo?
Ela franziu o cenho, procurando por algum incômodo além do enjoo,
sentindo-se despertar aos poucos, como se estivesse acabado de acordar.
Deduziu que não caíra no chão quando desmaiou, já que não sentia nenhuma
dor pelo corpo, exceto os braços.
— Estou bem.
Dessa vez ele que franziu o cenho.
— Você não está bem. Você desmaiou — afirmou, começando a se
mover novamente. — Vou levá-la para o hospital.
Eu estou bem — repetiu, mas ele não quis ouvir, entrando no carro e
sentando-se no banco de trás com ela no seu colo. Acomodou-se no colo dele,
sentindo-se bem. Não sabia por quê desmaiara, mas não achava necessário
irem a um hospital.
— Vamos para o hospital.
— Só estou enjoada — ela tentou dissuadi-lo.
— Então, lá podem ajudar você com o seu enjoo — falou, encarando
Diego no banco do motorista. — Dirija para o hospital mais perto daqui.
— Henrique! — Sofia não conseguiu impedir-se de rir da teimosia
dele. E, além disso, era uma fofura vê-lo tão preocupado. Olhou para Diego.
— Vamos para casa. Não quero ir para um hospital, já disse que estou bem.
— Você desmaiou, Sofia, claro que precisa ir para o hospital — voltou
a fitar seu amigo. — Para o St. Clara, é o hospital mais perto daqui.
— Não vou para um hospital — negou-se, fazendo que não com o dedo
para Diego e voltando a fitar seu namorado, dizendo pausadamente: — Eu
estou bem.
— Você desmaiou nos braços de Diego, estava gelada e pálida. Nós
vamos para o hospital — fitou seu amigo mais uma vez que não fizera
nenhum movimento para tirar o carro dali, apena revezava o olhar entre um e
outro. Rosnou irritado: — Dirija esse caralho de carro até o St. Clara, ou eu o
dirijo para você.
Diego levantou as sobrancelhas enquanto Sofia negava novamente e
tentava uma nova tática.
— Amor — chamou baixinho, erguendo uma das mãos e acariciando
sua barba. Henrique fechou os olhos, resmungando um palavrão. Ela puxou
seu rosto para si, acariciando-o com o seu, roçando seu nariz no dele como
um beijinho de esquimó. — Eu prometo que estou bem, só quero ir para casa
com você.
— Sofia — ele avisou e ela reprimiu um sorriso, sabendo que mais um
pouco e ele cederia, como sempre.
— Só quero ficar juntinho de você, deitadinhos na sua cama —
sussurrou baixinho: — Receber seus carinhos, ficar abraçadinha com você...
Não quero ir para um hospital, quero ir para casa.
Ele permaneceu de olhos fechados, mas ela respirou aliviada quando
ele confirmou levemente com a cabeça e a abraçou apertado, ainda mantendo
seus rostos colados.
— Tudo bem — confirmou. E logo continuou, abrindo os olhos e
usando um tom mais duro, sem querer assumir que era facilmente dobrado
por aquela mulher. — Não vamos para o hospital, só porque você parece
bem. Vamos para casa, mas você vai dormir comigo hoje.
Ela confirmou com a cabeça, sorrindo, beijou seu queixo rapidamente e
descansou a cabeça em seu peito.
Fitou Diego de onde estava, que sorriu e fez um sinal de joinha para
ela.
CAPÍTULO 37
Foi difícil convencê-lo que estava bem mais uma vez quando, assim
que chegaram na casa dele, ela correu para o banheiro, vomitando todo seu
almoço e mais.
Quase desmaiou de cara na cerâmica do vaso sanitário, mas ele a
segurou, tendo a seguido preocupado.
— Vamos para o hospital agora? — perguntou irônico, mas ainda
preocupado, enquanto segurava seu cabelo e alisava suas costas.
Ela tentou responder alguma coisa, todavia, um novo enjoo a fez se
debruçar novamente e vomitar mais um pouco. Apenas quando parecia não
ter mais nada que pôr para fora, ela conseguiu erguer o corpo. Ele a ajudou,
firmando-a e enxugando o suor da sua testa com uma toalha.
Subitamente, tão rápido como o mal-estar surgira, ela sentiu-se bem,
como se não tivesse acabado de vomitar até a ceia de natal de 2003.
Escovou os dentes e começou a tirar a roupa, louca para tomar um
banho e livrar-se de todo suor que cobria seu corpo.
Henrique a fitava franzindo o cenho, confuso, observando-a como se
fosse louca.
— O que você está fazendo?
— Tirando a roupa — respondeu, passando a camisa pela cabeça.
Ele franziu ainda mais o cenho.
— Isso eu estou vendo. Quero saber por quê.
— Porque vou tomar banho — respondeu, jogando o jeans na pia.
Ele grunhiu irritado, tentando desviar os olhos do seu corpo seminu,
sem sucesso.
— Nós vamos para o hospital.
— Eu estou bem.
— Você disse isso quinze minutos atrás e quando chegamos aqui
passou mal de novo.
— Mas agora estou bem.
— Quem garante?
Ela franziu as sobrancelhas, fitando-o irritada, retirando o sutiã.
— Eu, por acaso, garanto. Já que eu passei mal e agora eu me sinto
bem — tentou passar por ele em direção ao box, após jogar a calcinha junto
com as outras roupas.
Henrique ficou no seu caminho, parecendo ainda mais irritado, porém
sem conseguir desviar os olhos dos seus seios, descendo-os por todo seu
corpo.
— Você está querendo me irritar, é isso? Ou me distrair? — perguntou
com a voz rouca.
Ela sorriu, incapaz de se conter.
— Não, amor, só quero tomar banho. Acabei de vomitar até os meus
órgãos, estou cansada, preciso de um banho para me livrar de todo esse suor e
depois quero dormir um pouco — disse, tentando passar por ele novamente,
sem sucesso.
Observando seu bico irritado, ela riu. Ele estava com o peito nu, tendo
retirado o moletom em algum momento que ela não recordava. Amava todos
aqueles músculos impressionantes e tatuagens expostos.
Henrique desviou os olhos do seu corpo quando a ouviu rir e franziu
ainda mais o cenho, fitando-a inteira mais uma vez, antes de sorrir malicioso.
— Se você passar mal mais uma vez — começou, retirando os sapatos
com os pés ao mesmo tempo que abria o botão do jeans. —, uma dor de
cabeça que seja, uma dor na unha — enfatizou, descendo o zíper enquanto ela
seguia seus movimentos com os olhos, hipnotizada. — Nós vamos para o
hospital, quer você queira quer não.
Ela confirmou com a cabeça, sem conseguir desviar os olhos quando
ele desceu a calça pelas pernas musculosas, revelando uma cueca boxer
vermelha.
— O que... O que você está fazendo? — perguntou quando ele retirou
rapidamente a última peça de roupa e se aproximou.
— Você não queria tomar banho? Vamos tomar banho — sorriu,
segundos antes de agarrar sua cintura e erguê-la nos braços.
•••
No dia seguinte, após se encontrar com suas amigas e conversar um
pouco, seguiu para casa, esperando encontrar seu irmão e poder enfim
conversar com ele sobre o que descobrira.
Não poderia adiar essa conversa, por mais que desejasse. Não seria
justo permitir que seu irmão continuasse sendo enganado daquela maneira.
Contaria tudo, tudo o que escutara e o que deduzira, mesmo sem provas.
Tinha esperanças que ele acreditaria nela, mesmo assim.
E, além disso, não bastasse os problemas do seu irmão, agora também
tinha uma nova preocupação: Lorrany.
Ela já havia reparado que sua amiga andava estranha, mas não
comentara nada, certa de que, como de costume, logo ela tagarelaria sobre o
que quer que estivesse a incomodando. O que não aconteceu, porém.
Sofia imaginava que era apenas coisa da sua cabeça, talvez estivesse
enxergando coisa onde não tinha, até que algumas noites atrás teve a certeza
de que algo realmente não ia bem.
Haviam combinado de fazer uma noite do pijama aquela noite, porém
Lorrany comunicara que não poderia ir porque sairia com algum contatinho e
seria impossível desmarcar em cima da hora.
Sofia e Thaís mantiveram os planos, reunindo-se na casa da segunda e
compartilhando fofocas, rindo e comendo besteiras a noite toda. O clima
estava ótimo, ambas se divertiam como sempre, mas sem Lorrany nada
parecia igual, embora elas se esforçassem para isso.
Até que, pouco depois da meia-noite, Lorrany retornou do seu
encontro, vermelha de raiva, as bochechas manchadas de lágrimas que
insistiam em cair por seu rosto, umas atrás das outras e sem querer conversar.
Não queria contar o que aconteceu, só precisava de carinho, não queria estar
sozinha, disse.
Sofia e Thaís a abraçaram, deitadas na cama, criando um pequeno
casulo para a amiga, cobrindo-a de amor e permitindo que ela chorasse o
quanto quisesse.
Permaneceram assim por horas, até que ela dormiu, cansada e suas
amigas fitavam com preocupação seu rosto úmido e olhos inchados. Lorrany
não era de chorar. Ela explode meio mundo antes de levar desaforo para casa,
quebra o nariz do primeiro que ousar levantar a mão para ela, xinga antes de
ser xingada, mas nunca, nunca, nunca chora. Ou, quando sim, nunca na
presença de ninguém, mesmo suas amigas.
Na manhã seguinte, quando acordaram, ela já não estava mais na cama.
Sofia desceu as escadas, coçando os olhos ainda inchados de sono, bocejando
e a encontrou na cozinha de Thaís, vestida com um dos vestidos floridos da
amiga e cantando desafinada.
Ela parecia feliz, normal, como se não tivesse chorado até dormir na
noite anterior. Thaís se juntou a Sofia no meio das escadas, também
bocejando. Ambas fitaram a amiga por alguns minutos, tentando entender o
que diabos estava acontecendo, mas com a certeza de que, o que quer que
fosse, Lorrany não falaria nada naquele momento. O que aconteceu.
Mesmo após alguns dias, ela ainda se recusava a revelar o que
acontecera. Ela não falaria, não contaria nada e permaneceria assim, Sofia
tinha certeza.
Se fosse com outra pessoa, Sofia deixaria para lá e esqueceria o
assunto. Mas era Lorrany, sua melhor amiga. Sua melhor amiga que nunca
chorava e que nunca tivera segredos com ela.
Mas isso precisava esperar, suspirou. Pelo menos por enquanto,
primeiro precisava conversar com seu irmão, esperar que ele acreditasse na
sua palavra e resolver tudo aquilo.
Pensava em maneiras de como contá-lo quando chegou em casa e
estranhamente não encontrou ninguém. Subiu para deixar sua bolsa no quarto
e fazer um rápido lanche.
Quando já estava terminando de se fartar com os famosos bolinhos da
dona Virna, ligou para Henrique. Fazia algumas poucas horas que não o via,
mas para ela pareciam décadas.
— Oi, amor. Onde você está? — ela sorriu ao ouvir sua voz rouca,
provavelmente acabava de acordar de um cochilo.
— Oi, amor — respondeu, pegando mais um bolinho. — Estou em
casa.
— Hum. Conseguiu falar com o seu irmão?
— Não — Sofia admitiu, suspirando. — Não havia ninguém em casa
quando cheguei.
Conversaram mais um pouco, sobre suas amigas e coisas banais, até
que Sofia pensou ter ouvido um ruído no andar de cima. Franziu o cenho e
aguardou, mas não ouviu mais nada. Deu de ombros e se levantou,
depositando o pequeno prato que usara na pia. Sentou-se novamente.
— Sofia? — Henrique indagou. — Você ainda está ai?
Ela esqueceu que falava no celular e riu, pensando o quanto era idiota.
Primeiro imaginava coisas e depois se esquecia do próprio namorado. Estava
ficando louca.
— Desculpa — riu sem graça. — Pensei ter escutado algo, mas estou
sozinha. Sobre Sebastian, eu ainda não sei o que...
Ergueu os olhos para cima, fitando o teto, quando ouviu novamente o
ruído. O que diabos era aquilo?
Franzindo o cenho, levantou-se, decidindo investigar aquilo. Não
estava imaginando coisas.
— Pensou ter escutado o que? Sofia, o que você está fazendo? —
Henrique parecia nervoso, como sempre ficava quando ela não lhe dava
atenção.
— Desculpa, amor, mas eu preciso desligar — disse rapidamente,
tentando imaginar o que poderia ser aquilo.
— O que está acontecendo?
— Ligo para você daqui a pouco — disse e desligou, começando a
subir as escadas.
Subiu devagar, mas sem tentar ser discreta. Quem quer que estivesse ali
– se de fato houvesse alguém ali – já sabia da sua presença, já que ela estava
falando no celular e não é das mais silenciosas.
Não eram seus pais, tinha certeza. Sena deveria estar voltando da
oficina nesse horário, mas estaria no meio do caminho ainda.
De repente soube, antes de vê-los.
Aquilo estivera bem na sua cara por todo aquele tempo. Como não
notara antes?
As mesmas falas, o mesmo ódio, a mesma falta de caráter. Deveria ter
notado antes, muito antes. Ela os ameaçara, é claro que aquilo teria
consequências.
Quando pensara em correr, já era tarde demais.
— Onde pensa que vai, cadela? — perguntou Brian, puxando seu
cabelo com força, impedindo-a de se afastar.
Sofia gemeu de dor, sentindo os olhos lacrimejarem. Ouviu o risinho de
escárnio às suas costas e trincou os dentes.
— Eu disse que antes de você acabar com os meus planos, eu acabo
com você — Vanessa cantarolou, rindo.
•••
Sofia xingou-se mentalmente. Como fora burra. Não sabia dizer quanto
tempo eles estavam juntos, quanto tempo aquilo acontecia, há quanto tempo
enganavam seu irmão. Não deveria ser muito, refletiu, sendo arrastada pelos
cabelos para um quarto.
Talvez alguns meses, pensou. Ou talvez não. Lembrou-se do olhar de
ódio de Brian, na universidade, no primeiro dia de Henrique.
Foi jogada sobre uma cadeira e olhou distraidamente em volta. Estavam
no quarto de Sebastian.
Notando como os lençóis da cama estavam embolados, estremeceu
pensando o que acontecera ali antes que ela chegasse. Na cama de Sebastian.
Vanessa devia estar muito feliz com aquilo.
Balançou a cabeça, sem querer se distrair mais e focou sua atenção no
casal a sua frente. Eles discutiam, sem ligar com sua presença.
Eles não a prenderam na cadeira. Sofia poderia se levantar facilmente e
correr dali, mas dificilmente conseguiria ir muito longe. Brian era ágil, não
musculoso como seu irmão e o seu namorado, mas era um homem. Sua força,
por mais que se esforçasse, nunca se igualaria a dele.
Brian grunhiu irritado, não gostando de algo que sua comparsa dissera
e voltou os olhos para Sofia.
Sofia estremeceu notando só naquele instante todos os hematomas que
cobriam seu rosto. Um dos seus olhos estava fechado, a pele ao redor inchada
e de um roxo escuro, quase preto. O nariz estava inchado, também roxo e
com um curativo mal feito e sujo.
Vanessa voltou a falar alguma coisa e ele desviou os olhos de Sofia.
Ela suspirou, sentindo-se relaxar sem os olhos frios dele sobre si.
Estranhamente, não estava preocupada. Quer dizer, claro que temia ser
machucada, tinha certeza que o que quer que eles decidissem fazer com ela
seria muito doloroso. Mas também tinha certeza que, como foram pegos de
surpresa, não esperavam que ela aparecesse ali, não teriam como "dar um
fim" nela; o que certamente eles queriam.
Talvez a batessem e tentassem ameaçá-la mais uma vez. Tinha certeza
que doeria o bastante, mas nada a impediria de contar a verdade. Sebastian
não merecia ser enganado daquela maneira.
Sofia não merecia estar ali, aliás. Mas se tinha que passar por aquilo
pelo bem estar do seu irmão, faria qualquer coisa.
De súbito, teve uma ideia. Não precisaria encontrar uma maneira de
sair dali, afinal. Tudo o que precisava fazer era aguentar aquilo por mais
algum tempo, logo Sebastian chegaria e por sorte ouviria da boca da própria
namorada a farsante que ela era.
Sorriu, sem conseguir se conter, imaginando o choro desolado daquela
cadela.
— Do que está rindo, sua imbecil? — Vanessa rosnou, irritada, se
aproximando um pouco.
Sofia desfez o sorriso rapidamente, mas não por medo. Só não queria
que ela desconfiasse que tinha um plano.
— A boca é minha, não posso sorrir? — perguntou, decidindo que
provocá-la talvez fosse a melhor distração. Arrependeu-se no mesmo instante
quando a outra grunhiu ainda mais irritada e bateu no seu rosto.
Sofia quase caiu da cadeira com o golpe. Sentiu o gosto de sangue na
boca e notou que mordeu o lábio. Sentou-se ereta, agradecendo mentalmente
por ter sido um tapa apenas ou, caso contrário, teria perdido alguns dentes.
Não imaginava que uma pessoa tão magra pudesse ser tão forte.
Cuspiu um pouco de sangue no chão e resistiu ao enjoo que o gosto de
ferro causou. Respirou fundo e ergueu os olhos para Vanessa, reprimindo a
vontade de dizer mais alguns desaforos à custo. Contudo, sorriu, sem se
conter, incapaz de deixar a outra sentir-se superior com a sua dor.
Vanessa sorriu com escárnio, observando o sangue que descia pelo seu
queixo com satisfação. Ergueu as sobrancelhas para Sofia, como se estivesse
esperando que ela falasse mais uma vez. Quando Sofia não disse nada, ela riu
debochada.
— Parece que finalmente calei a sua boquinha, não? — apontou para o
sangue que jorrava da sua boca, descia pelo seu queixo e pingava na sua
blusa.
Provavelmente rompera um vaso, pensou Sofia, já que o corte era
pequeno e não doía tanto.
Sofia sorriu também debochada e quando Vanessa ergueu o braço
novamente, Brian a interrompeu.
— É isso que ela quer, meu amor — aproximou-se um pouco,
abraçando-a de lado. — Ela quer provocá-la.
Sofia ergueu as sobrancelhas, surpresa com o tratamento carinhoso.
— Não me importo — disse Vanessa, parecendo deslumbrada com a
visão do sangue de Sofia e ansiosa por mais. — Tenho dois anos entalados
com a presença dessa daí, quero mais é vê-la sofrer.
— Eu sei — respondeu ele, ainda tentando acalmá-la. Ele parecia fazer
aquilo com frequência, Sofia notou. Acalmá-la. Vanessa realmente parecia
meio louca, com os olhos ainda fixos no sangue dela. — Mas não podemos
— se aproximou mais e sussurrou algo no ouvido dela.
Vanessa fechou os olhos e concordou com a cabeça, parecendo
visualizar o que ele dissera. Afastou-se alguns passos e Brian assumiu seu
lugar, de frente para Sofia.
— Você é realmente uma coisinha intrometida, não é? Nada disso tinha
a ver com você, mas decidiu se meter mesmo assim.
— É um defeito meu — disse, cuspindo mais uma vez e não acertando
os pés dele por alguns centímetros.
Ele sorriu, sem se mover.
— Realmente corajosa, preciso admitir. Não derramou uma lágrima
sequer ainda — fitou seu rosto com atenção. — Você está diferente.
Sofia permaneceu calada, notando com o canto dos olhos que Vanessa
os observava com atenção. Parecia enciumada.
— Alguns meses atrás, nessa altura você estaria implorando por
misericórdia. Mas veja só — fez um movimento com os braços, indicando a
situação em que estavam e a expressão dela. — Nem sequer uma lágrima.
Depois que aquele seu namoradinho apareceu, você parece outra pessoa.
Ela permaneceu calada, apenas ouvindo, sem alterar sua expressão.
Brian aguardou por uma resposta e, quando essa não veio, sorriu
irritado.
— Mas onde ele está agora? Você está aqui, indefesa, sangrando e onde
está o seu herói? Hum? — perguntou, se aproximando mais um pouco. —
Você merecia coisa melhor, Sofia. Ele não é homem para você, sequer a ama.
Sofia ficou vermelha de raiva. Uma coisa era insultá-la – isso ela tirava
de letra –, mas outra completamente diferente era evolver Henrique nessa
história.
— E quem seria melhor? Você? – perguntou, sem conseguir se conter.
Quando o viu cerrar os punhos, irritado, ela riu. Riu alto, debochada. —
Faça-me o favor! Você não chega nem aos pés de Henrique.
— Ah, é? E o que ele tem que eu não tenho? — perguntou, vermelho
de fúria. Sofia ouviu o grunhido inconformado de Vanessa e riu mais um
pouco.
— Ele é incrível, e você é desprezível. Ele é um homem de verdade,
respeitoso, carinhoso, compreensível, mas, acima de tudo, ele tem caráter.
Coisa que você não tem; se é que já teve algum dia — notou o quanto ele
parecia se segurar para não avançar no seu pescoço, mas não se importou,
continuando: — E eu o amo. Ele é o amor da minha vida e homem nenhum
terá o meu amor como ele o tem. Nunca gostei de você, nunca me envolveria
com você. Não é o bastante para mim, nem para ninguém. Você é desprezível
— cuspiu. — Você é...
Sentiu o impacto no rosto, do mesmo lado já ferido e caiu no chão.
Piscou os olhos, tentando clarear sua visão quando ficou tonta. Cuspiu mais
um jorro de sangue e se amaldiçoou mentalmente. Teria que controlar sua
boca se quisesse sair vivar dali.
O que começava a desconfiar que não aconteceria.
CAPÍTULO 38
O sangue, que havia estancado no seu lábio, voltou a jorrar. Dessa vez
o fluxo foi maior e Sofia se perguntou se não seria um novo sangramento.
Sem forças nem para investigar seus ferimentos com a língua, descansou a
testa no chão.
Porém, gemeu sentindo lágrimas brotarem nos seus olhos quando foi
erguida pelos cabelos. Firmou as pernas, tentando diminuir a dor no seu
couro cabeludo.
Brian se aproximou do seu corpo, parecendo louco, gritando contra seu
rosto:
— Viu o que você me fez fazer? É tudo culpa sua! Por que você tinha
que fazer isso? — continuou gritando, enquanto Sofia conseguia enfim
manter-se ereta quando a tontura diminuiu. Ele fitou sua boca e o sangue que
escorria dela e por um segundo pareceu arrependido. — Não queria que as
coisas fossem assim... — murmurou atormentado. Alisou seu rosto
delicadamente e Sofia se contraiu. — Eu amo você. Por que você tinha que
escolher ele e não a mim?
Vanessa gritou alguma coisa, revoltada, mas Sofia não prestou atenção,
sentindo o ouvido zunir e ainda se esforçando para manter-se de pé. Brian
também a ignorou, focando toda sua atenção nela.
— Eu estava aqui. Todo esse tempo, todos esses anos eu esperei que
você me notasse, mas o que você fez? Abriu as pernas para um desconhecido
e me ignorou como se eu fosse ninguém para você. Eu te amo, Sofia —
declarou, parecendo atormentado.
Sofia reuniu o pouco de força que tinha e falou, sem se importar com os
cortes na sua boca:
— Eu odeio você.
Brian respirou fundo. Ainda segurando seu cabelo com uma das mãos,
aproximando-a do seu corpo.
— Se você tivesse me escolhido, nada disso aconteceria — sussurrou.
— Eu não precisaria me juntar com ela — apontou para Vanessa. — para ter
você.
Sofia franziu o cenho, sem entender.
— Como assim "para ter você"? — Vanessa indagou, furiosa. — Você
disse que me amava!
Brian a ignorou.
— Tudo que que queria era ter você. Mas você escolheu outro, então
precisei fazer alguma coisa — confessou, sem se importar com os gritos
ensandecidos de Vanessa às suas costas. — Eu sempre a amei, mas como
você nunca sequer olhou para mim, precisei me contentar com outra coisa —
apontou para Vanessa novamente. — Eu sempre a achei gostosinha e areia
demais para o caminhão do seu irmão e, quando ela me deu bola, não perdi a
chance de dar o troco.
Vanessa permanecia furiosa, andando para lá e para cá, inconformada,
gritando coisas sem sentido.
— Você e o seu irmão sempre tiveram tudo do bom e do melhor.
Sempre tiveram tudo aos seus pés. Você não me notava, fingia que eu era
invisível. Sebastian sempre teve tudo, dinheiro, mulheres, beleza. Ao
contrario de mim — prosseguiu falando, parecendo não estar mais ali e sim
revivendo o que dizia. — Então eu pensei que já era hora de parar de ser o
capacho dos Villar. Vou te contar como tudo começou.
— O que você está fazendo, seu idiota? Não pode contar tudo para ela!
Você ficou louco? — Vanessa perguntou, gritando e batendo nas suas costas.
Ele a ignorou mais uma vez.
— Então, já que eu não poderia tê-la, me contentaria com a mulher do
seu irmão. Ao menos até você descobrir a verdade sobre o seu Henrique e vir
correndo para os meus braços — Sofia franziu o cenho, sem entender sobre o
que ele falava. Ele parecia prestes a continuar, mas, quando recebeu um golpe
mais forte nas costas, rapidamente atingiu Vanessa com o braço que estava
livre, fazendo-a cair de bunda no chão. — Idiota! — gritou com ela, que
continuou sentada, fitando-o furiosa. — Mas nada saiu como o planejado —
continuou, rindo como um louco.
Sofia, que desconfiava da saúde mental daqueles dois, agora tinha
certeza. Como poderia duas pessoas tão novas – não que em uma idade
avançada fosse aceitável – poderiam ser tão doentes? Sim, porque toda aquela
raiva, aquele rancor era doença. Sofia não era culpada por ter encontrado o
amor e entregar-se a ele. Sebastian não tinha culpa se nasceu em uma família
com condições, não tinha culpa por ser bonito. Isso não se escolhe.
Todavia, caráter sim. Sofia e Sebastian tinham caráter, ambos sabiam o
que era certo e errado e viviam suas vidas, sem desejar o mal de ninguém. Ao
contrário daqueles dois.
Até que ponto um ser humano pode chegar por vingança? Sofia não
conseguia entender. Eles eram felizes, mas não porque tinham condições ou
porque eram bonitos.
Eles eram felizes porque foram criados assim e aprenderam desde cedo
que bens ou beleza não definem caráter. Também não se nasce ruim. Caráter
é algo que se adquiri quando se tem consciência das coisas, é algo que se
constrói com o tempo.
Mas e quando se é incapaz disso, o que uma pessoa seria capaz de
fazer?
Sofia não queria descobrir, mas tinha certeza de que eles não hesitariam
em lhe mostrar.
— Quando ela me contou sobre o plano, eu ri muito porque, cara,
embora seja muito clichê, é genial! — Brian continuou, rindo. — Sebastian é
muito certinho e, embora não a amasse, nunca abandonaria seu próprio filho.
Claro que eu assistiria isso de camarote, até ajudaria se necessário — riu mais
um pouco, observando Vanessa se levantar raivosa, mas retrocedendo um
passo com medo. Ele sorriu malicioso.
— Mas ele não é — Sofia disse com dificuldade.
Brian se voltou para ela, surpreso.
— O que? Ele não é o quê?
Sofia apontou para a barriga de Vanessa.
— Ele não é o pai. Cedo ou tarde, Sebastian descobriria a verdade.
Brian franziu o cenho, sem entender.
— Do que você está falando?
Vanessa, às suas costas, finalmente riu.
Jogou a cabeça para trás e riu, histericamente. Brian soltou Sofia, que
deu alguns passos para trás, apoiando-se no criado mudo, de frente para a
porta.
Vanessa estava na outra extremidade do quarto, perto da janela, ainda
rindo. Brian se aproximou alguns passos, o rosto repleto de confusão.
De onde estavam, não podiam notar o que acontecia no corredor. Mas
Sofia sim e respirou aliviada, limpando o queixo com a barra da camiseta.
— Do que ela está falando? Quem é o pai? — Brian perguntou,
fazendo-se ouvir por cima das risadas histéricas de Vanessa.
Ela o fitou, ainda rindo um pouco, mas com os olhos brilhando de ódio.
— Você me usou como um consolo — começou, falando calmamente,
como se há apenas alguns segundos atrás não estivesse gargalhando como
louca. — Me usou porque não podia ter essa daí — apontou para Sofia com
raiva. — Disse que me amava, me enganou — cuspiu e de repente riu, como
se o que quer que estivesse pensando fosse muito engraçado para se conter.
— Bom, acho que estamos quites então.
Brian se aproximou mais, parando a apenas alguns centímetros de
distância do seu corpo.
Estava de costas para Sofia, mas ela podia notar o quanto estava
furioso. Vanessa riu uma vez mais, sem se deixar intimidar e Sofia
estremeceu, concluindo que ela era realmente louca para provocá-lo ainda
mais.
— Do que você está falando? O que você fez? — perguntou, gritando.
Ela abaixou o tom, mas falou claramente para que o som repercutisse
pelo quarto e além dele.
— Sebastian e eu nunca transamos sem camisinha. Nunca, embora eu
insistisse — falou, fazendo uma pequena pausa e rindo mais uma vez. —
Você e eu, no entanto, não usamos uma nem uma vez sequer. Você me usou
para esquecer outra e eu te usei para enganar outro. Estamos quites — fitando
a expressão furiosa dele, Vanessa riu novamente e falou: — Parabéns, você
vai ser papai.
Brian permaneceu parado, fitando-a com os olhos em brasas. Vanessa
sorria, sem medo, enquanto Sofia fitava o corredor, imaginando quanto
tempo mais demoraria.
— Mas, é claro que, como eu disse, apenas usei você — Vanessa
continuou. — Esse filho, para todos os efeitos, é um Villar. Sebastian vai
registrá-lo, com o tempo vamos nos casar e seremos felizes com esse
moleque nos unindo para sempre — suspirou, parecendo sonhadora. — Você
foi apenas o doador, essas coisas acontecem. Mas, sabe, é engraçado. Você
disse que Sebastian sempre teve tudo que você não teve, sempre teve tudo
que era para ser seu. Agora, definitivamente, ele terá algo seu — riu
debochada e deu um passo para trás quando ele começou a se aproximar.
— Você é uma cobra — Brian sussurrou, parecendo fazer um esforço
para falar. Vanessa permaneceu sorrindo, sem medo. — Isso nunca vai dar
certo. O que vai dizer quando a criança nascer com os olhos verdes, iguais
aos meus?
— Isso não importa — descartou seu argumento com um movimento
desdenhoso com a mão.
— Esse filho é meu. Ele não terá meu filho, não vou permitir — rosnou
furioso.
— Não importa o que você quer, vou seguir com o meu plano e você
pode se divertir com a vadia — apontou para Sofia. — Faça-a calar a boca e
faça com que não diga nada a ninguém. Não vou deixar que ninguém
atrapalhe meus planos. Não vou — murmurou, fitando ninguém em especial,
os olhos opacos, como que em transe. — Sebastian e eu vamos ter um filho,
vamos nos casar, em pouco tempo posso ter outro pirralho, dessa vez um
legítimo e seremos felizes. Ele nunca saberá de nada.
— Pelo contrário — Sebastian murmurou, saindo das sombras e
parando na porta.
Os olhos estavam vermelhos, de raiva, ódio e alguma coisa mais.
Talvez, ele gostasse um pouco, um mínimo que fosse, de Vanessa. Sofia o
observou com atenção, sentindo o peito doer. Não queria que ele descobrisse
tudo assim, não queria que ele perdesse um amigo, a namorada e a crença de
um filho assim, ao mesmo tempo. Mas não havia outro jeito.
Sebastian fitou Vanessa com ódio. Fitou aquele que chamava de amigo,
segurando-se por um fio de não fazer uma besteira.
Vanessa e Brian pareciam estáticos, pálidos, paralisados onde estavam.
Então, por último Sebastian fitou Sofia. E todo seu autocontrole foi
embora.
Em questão de segundos catalogou tudo: o rosto inchado e vermelho, o
lábio também inchado, o queixo manchado de sangue, a blusa encharcada e
os olhos. Ele viu amor refletido ali, compaixão, mas sobretudo soube que ela
também sentia sua dor.
Sebastian notou uma mancha vermelha nas mãos daquele que um dia
chamou de irmão e não parou para pensar.
Saltou sobre Brian e o derrubou no chão, grunhindo furioso. O ódio
transbordando com a força que os seus punhos subiam e desciam.
Ele não via mais nada, não via o sangue que começara a jorrar dos
ferimentos de Brian, não vira como novos se formavam. Não prestou atenção
nos gritos femininos às suas costas, nem nos pequenos toques em seus
ombros, tentando tirá-lo dali.
Ele não viu quando Vanessa correu do quarto, certamente tentando
fugir. Não viu quando Sofia a seguiu, correndo atrás dela e segurando-a no
final do corredor, perto das escadas.
Sebastian não viu como Sofia tentou escapar dos golpes furiosos de
Vanessa, resistindo ao impulso de feri-la também, sem querer bater em uma
mulher grávida.
Seus braços subiam e desciam e cada vez mais sangue jorrava e ele não
viu quando a porta da casa de repente foi aberta. Não viu quando Vanessa se
assustou com som e tropeçou para trás.
Sebastian não a viu cair, não viu que Sofia tentou segurá-la, gritando
assustada. Ele não viu como ela rolou escada abaixo, gritando e batendo
violentamente a barriga e a cabeça em cada degrau, seu pescoço sofrendo
uma nova fissura em cada batida.
Ele não viu nada disso, mas ouviu. Ouviu o som do corpo rolando e
ouviu quando alguém gritou desesperadamente por Sofia, uma voz de homem
e finalmente saiu do seu transe.
Levantou-se rapidamente e correu, alcançando-a antes que ela também
caísse, desmaiando nos seus braços, enquanto ele fitava seu cunhado correr
pela sala, desviando do corpo ao final da escada.
Sebastian soube, mesmo sem se aproximar que ali jazia um corpo
vazio. Vazio de caráter, de amor, de compaixão, de humanidade, de vida.
Ali jazia um corpo morto.
CAPÍTULO 39
•••
Setembro é um dos meses de maior variação climática no nordeste – só
perde para junho e julho, quando chove quase todos os dias.
O lado bom daquilo na opinião de Sofia é que por mais que todos os
dias começassem iguais, o final deles sempre era incerto.
Por exemplo; o dia poderia amanhecer com um solzinho tímido, que à
tarde se transformaria em uma tempestade colossal, e a noite seria de um
mormaço intenso, sem um ventinho sequer.
Ou o contrário disso; o dia pela noite e a tarde pelo dia. Ou nenhum
desses; poderia chover o dia inteiro ou o sol brilharia alto no seu por todo o
dia.
Tudo era incerto. A única certeza era que você deve estar preparado
para o que quer que o dia tenha lhe reservado. Seja chuva ou sol, alegrias ou
tristezas.
Esse era o novo mantra de Sofia. Não queria viver de passado, de dias
que já passaram ou acontecimentos que não podem ser modificados. A única
coisa que importava era o hoje, o agora. Viver o momento, deixar tudo que
passou para trás, mesmo embora modificada em razão do passado, viveria o
presente. Sem olhar para trás.
"Carpe Diem" dissera um sábio uma vez.
Os dias que passaram foram nebulosos, pouco se lembrava do que fez.
Lembrava-se apenas de chorar encolhida no colo da sua família, amigas e
namorado. Isso também ficaria para trás.
Não restringiria sua vida à tristezas. Queria e, mais que tudo, merecia
ser feliz. E seria.
Após agradecer e beijar muito todos aqueles que lhe deram suporte –
abraçara muito sua mãe e tivera o rosto babado de beijos pelo seu pai,
enquanto Sena apenas a abraçara em silêncio e suas amigas choravam como
se ela tivesse ressuscitado como Jesus ao terceiro dia–, decidira que agora
precisava agradecer àquele que, dentre todos, fora o seu maior alicerce.
Estava no centro à procura do que necessitaria para o grande dia.
Amanhã fariam três meses e, dado aos últimos acontecimentos, queria
comemorar em grande estilo. E necessitava daquilo, necessitava se sentir viva
de novo. E isso só aconteceria quando estivesse nos braços dele, quando ele a
fizesse sua novamente.
Dormiram juntos todos os dias na última semana. Ele dormira na sua
casa, deitara na sua cama, como uma vez fizera muitos dias atrás, mas apenas
se abraçaram. Ela buscando conforto e ele a protegendo com seus grandes
braços, prometendo que nunca mais passariam por algo assim.
Em um noite ele revelara que nunca na sua vida sentira um medo tão
grande como quando a vira prestes a perder a consciência no topo daquela
escada. Sabia que não seria capaz de chegar até ela antes que caísse, por isso
gritou. Gritou com toda sua força, imaginando que aquilo faria com que ela
acordasse e se segurasse no corrimão, antes que fosse tarde demais.
Henrique confessara que seria grato à Sebastian por toda sua vida,
nunca poderia agradecer o bastante – mesmo embora ainda tentasse,
Sebastian se recusou a aceitar seu agradecimento.
— Ela é minha irmã, daria a vida por ela. Não preciso do seu
agradecimento, fiz o que deveria — respondeu Sebastian seco, na primeira
vez que agradecera. Na segunda e última vez que Henrique tentara, ele
perdera a paciência: — Já falei que não precisa agradecer. Se o fizer
novamente, jogo você por essa escada. Quero ver se não cala o caralho dessa
boca.
Henrique rira, o que fez com Sebastian fechasse ainda mais a cara.
Sofia gostava daquele entrosamento entre os dois, era bom ter os dois
homens mais importantes da sua vida tão próximos e finalmente se dando
bem.
Naquela manhã, ela ligara para o artesão da pequena lojinha no centro
em que encomendara seu presente. Ele dissera que estava quase pronto,
faltavam apenas as gravações. Combinara de pegá-lo na tarde seguinte, um
sábado, já que agora não teria tempo.
Agora precisava comprar tudo o que necessitaria para a noite seguinte.
Noite que prometia. Sorriu ansiosa.
CAPÍTULO 40
Sofia respirou fundo uma vez, depois outra e entrou em uma grande e
famosa loja de lingeries no centro.
Ignorou o intenso rubor que cobriu sua face e passeou timidamente
pelos vastos corredores, perguntando-se mentalmente se um dia perderia sua
timidez.
Henrique confessara mais de uma vez que isso era umas das coisas que
mais amava nela e o que a definia como era; sua ingenuidade e timidez,
mesmo embora após sentir-se à vontade em varias situações inusitadas e por
que não dizer ousadas – como na biblioteca da universidade, por exemplo.
Aceitou a ajuda de uma simpática vendedora e informou mais ou
menos o que queria; suas medidas e preferências por cores, modelos e
tecidos. Em pouco tempo Clara, a vendedora, retornou com algumas peças e
a encaminhou para uma área mais discreta onde havia um provador.
Seguiu a regrinha emoldurada discretamente próximo ao grande
espelho e retirou a roupa, provando algumas das peças por cima das que
vestia. Surpreendeu-se com o que vira, com o quanto uma simples peça
poderia transformá-la quase em outra pessoa.
Sim, porque a moça no reflexo que a fitava surpresa usando um micro
conjunto de cor carmim, com renda, laços laterais e infinitamente menor que
as que usava geralmente, não poderia ser ela.
As peças que estava acostumada a usar não eram calçolas ou cintos de
castidade, mas também não eram ousadas. Eram confortáveis, discretas e, em
sua maioria, de cores neutras, clarinhas. Agora, entretanto, após provar mais
uma e observando o contraste da peça azul-marinho com a brancura de sua
pele, imaginava que aquilo poderia ser resolvido facilmente.
Provou todas as peças que a vendedora escolhera e amou todas. Vestiu
suas roupas novamente e agradeceu sinceramente, elogiando-a por seu tato e
aceitando mais algumas sugestões, e dessa vez não necessitou prová-las,
confiando cegamente na simpática mulher.
Suas compras lotavam duas cestinhas médias e, após Clara deixá-las
em um balcão próximo do caixa, voltara com uma terceira vazia a pedido de
Sofia.
Respirando fundo mais uma vez, encaminhou-se para uma área
próxima ao provador, no fundo da loja, que abrigava um diversificado
sexshopp.
Encarou as diversas prateleiras e respirou fundo uma última vez,
ficando um pouco mais confortável quando a vendedora Clara,
compreendendo sua dificuldade, deixou-a sozinha, saindo discretamente.
Analisou as diferentes peças com atenção e escolheu àquelas que
julgava que combinaria com seu estilo. Encheu a cestinha e caminhou até a
área central da loja, observando meias e outras coisinhas.
Comprou tudo o que precisava. Montou um enxoval dos mais variados
modelos, todos sensuais e um mais ousado que o outro, além de algumas
peças parecidas com as que já estava acostumada, porque sinceramente
pensava que não seria possível alguém usar calcinha fio dental diariamente e
não sentir-se assada ao final do dia.
Estava cada vez mais confortável na loja até que chegou no caixa e
havia um rapaz atrás do balcão.
Ele era alto, moreno e musculoso. Era bonito, extremamente viril e a
barba cheia e bem aparada apenas o tornava mais charmoso. Ele atendia duas
mulheres e Sofia aguardou um pouco afastada enquanto o observava.
As moças pareciam, como Sofia, impressionadas com sua beleza e
cochichavam uma com a outra, dando risadinhas e corando quando
perguntavam alguma coisa para ele, que respondia extremamente sério,
parecendo ligeiramente incomodado com o flerte.
Corou como um tomate enquanto ele passava suas compras, levantando
as sobrancelhas e analisando algumas das fantasias que escolhera
descaradamente. Evitou fitá-lo e preferiu manter o olhar no chão, analisando
suas sapatilhas confortáveis.
Como o dia estava quente, vestia um shortinho jeans que ganhara de
Lorrany e nunca usara por achar que era muito curto e uma camiseta preta,
básica e discreta, sem decote frontal, mas que deixava uma pequena parcela
das suas costas nuas.
Estava quase voltando tudo para as prateleiras, desconfortável sentindo
os olhos do rapaz no seu rosto, quando ele falou:
— Mana, adorei o seu cabelo. É um bafo! É tingido? Se for, já me
indica que eu viro ruiva amanhã mesmo! — disse e, se sua fala afeminada
não denunciasse sua sexualidade, com certeza a mudança na sua postura o
teria feito.
Ele gesticulava as mãos no ar e jogava os quadris para um lado, depois
para o outro, à vontade como se fossem velhos amigos.
Sofia arregalou os olhos e sorriu surpresa. Nunca imaginaria que um
rapaz com um porte tão masculino – masculinidade essa que sumira no
instante em que ele abrira a boca – fosse gay. Não que estivesse julgando,
mas é que, apenas olhando-o, nunca pensaria que ele poderia gostar – mais
que gostar, como ele dissera posteriormente – da mesma fruta que ela.
Nety – como ele se apresentara – alisava os cachos vermelhos de Sofia,
distribuindo elogios sobre a maciez dos fios, sobre seus olhos, seu corpo e até
deu uma checada na sua bunda – e berrou que com uma bunda daquelas ele
estaria rica.
Ele revelou que seu nome verdadeiro é Emanuel III – como sua família
careta e tradicional insistia em chamá-lo – ou apenas Emanuel Neto. Mas
odeia que o chamem por qualquer um deles, então, no trabalho, todos os
chamam de Nety, por exigência sua.
Porém, também confessou que na night, quando sai do trabalho e busca
se divertir caracterizando-se do seu verdadeiro eu, seu nome é Lorrayne.
Sofia imaginou um encontro entre Lorrany e Lorrayne e quase fez xixi
nas calças de tanto rir.
Divertiu-se muito com ele, conversaram por mais alguns minutos,
aproveitando que a loja estava quase vazia, e até aceitou algumas sugestões
descaradas de lingeries e algumas das melhores fantasias. Sofia aceitou todas,
de bom grado, assumindo que ele deveria entender mais daquilo do que ela.
Infelizmente, teve que partir, mas não sem antes trocarem números de
celular, endereços e várias outras recomendações sexuais – para eterno
constrangimento dela.
Sofia seguiu até o seu último destino sorrindo, sentindo como fora fácil
fazer uma nova amizade e feliz por estar um pouco mais relaxada. O que faria
a seguir exigiria muita coragem.
Todavia, ela estava decidida e mais do que animada com o resultado
que imaginava.
Encontrou o que procurava e entrou no grande estúdio, observando
tudo ao redor.
A fachada era discreta; paredes pretas e apenas um letreiro de tamanho
médio com o nome do estúdio: Goulart's Tattoo.
A decoração da grande sala de recepção era discreta, embora marcante.
As paredes também eram escuras e haviam poucos objetos de decoração. Em
sua maioria, haviam espelhos, banners de motos como ou maiores que a de
Henrique e alguns desenhos impressionantes.
Sofia sentou-se em um dos confortáveis sofázinhos próximos às janelas
e folheou algumas revistas que estavam disponíveis em uma cestinha ao lado.
Após alguns minutos, uma simpática jovem a atendeu, levou-a até a
discreta bancada da recepção, conferiu seu nome na extensa lista de horários
para o dia e a encaminhou para uma porta à direita da bancada.
Sofia a seguiu de perto, passando por um extenso corredor, repleto de
portas, até parar em uma das últimas. A mulher a abriu, acomodando Sofia
em uma confortável cadeira reclinável e oferecendo cafés, outras bebidas ou
bolinhos.
Sofia sorriu, impressionada com o quanto uma estúdio de tatuagem
poderia ser tão formal. Agradeceu a moça simpática – que se chamava Anny
–, mas aceitou apenas uma água. Estava ansiosa e quando ficava assim não
conseguia fazer com que nada descesse por sua garganta.
Anny se retirou em seguida e Sofia ficou só, olhando ao redor e
contorcendo as mãos, contendo-se para não mexer nos objetos interessantes
na grande mesa ao seu lado.
De repente a porta da sala foi aberta e um homem parou na porta,
arregalando os olhos e olhando-a surpreso.
Sofia riu do seu espanto e fez um sinal de olá com uma das mãos,
sorrindo travessa.
— Oi, Diego.
Quando soubera por Henrique que nas horas vagas Diego trabalhava
em um estúdio de tatuagem – que aliás era seu– e que ele era o responsável
pela maioria das suas tatuagens, Sofia não dera muita importância além de
concordar que ele tinha talento para coisa.
Até que, refletindo sobre sua vida e a enorme lista de coisas que não
fizera por medos bobos, decidira-se que aquela informação agora viria a
calhar.
Sempre desejara uma tatuagem – na verdade, várias. Até desenhara
algumas alguns anos atrás, ansiando pelo momento em que enfim teria
coragem e faria uma ou toda elas.
Nesse aspecto, se parecia muito com Sebastian. Seu irmão fizera a
primeira tatuagem muitos anos atrás, após vencer seus próprios temores e ela
sempre o admirou ainda mais por isso. Só não sabia se seria capaz de ser tão
ousada como ele ou Henrique e tatuar o pescoço. Não, ela achava que nunca
teria coragem o bastante para àquilo.
Tinha a impressão de que a pele do pescoço era ainda mais fina e,
sendo assim, doeria o dobro do que em qualquer outra área do seu corpo.
Depositou uma pequena pasta na mesinha ao seu lado e sorriu mais
uma vez.
Diego quase tocava o umbral da porta com seus ombros largos. Vestia
uma calça jeans preta, uma camisa polo também preta e um jaleco por cima
das roupas.
O contraste com sua pele o tornava quase etéreo; o preto da camisa e da
calça combinado com o branco puro do jaleco e o tom escuro da sua pele,
realçavam ainda mais o verde dos seus olhos, o tom rosado dos seus lábios
generosos e o branco do seu sorriso.
Ele piscou ainda na porta, mas acabou sorrindo, balançando de leve a
cabeça e ocupando uma cadeira próxima a dela.
— Sofia — fez um gesto com a cabeça, ainda confuso. — O que faz
aqui?
Ela riu.
— Bom, creio que esse é um estúdio de tatuagem — brincou. Diego
assentiu com a cabeça sorrindo. — Então, estou aqui para isso.
Diego refletiu por algum tempo, mas logo assentiu novamente. Pegou
um par de luvas de uma caixinha sobre a mesa e começou a vesti-las. Quando
já havia colocado a primeira e se preparava para fazer o mesmo com a outra,
perguntou curioso:
— Por que Henrique não veio com você? — vestiu a outra luva e
aguardou por uma resposta. Quando essa não veio, levantou os olhos e fitou
as bochechas coradas e o pequeno sorriso malicioso nos lábios de Sofia.
Compreendendo, ele mesmo respondeu: — Ele não sabe.
Ela confirmou com a cabeça, embora não fosse preciso.
— Quero fazer uma surpresa — disse e corou mais um pouco.
— Entendo — disse, mas ainda parecia um pouco reticente. — Mas
você tem certeza do que quer? Veja, não estou julgando sua decisão, mas
preciso que entenda que tatuagem é coisa séria. É coisa p...
— Para a vida inteira — ela completou. Sorriu quando ele levantou as
sobrancelhas. — Henrique me disse a mesma coisa milhares de vezes quando
eu disse que "um dia faria uma". Eu sei que é para vida inteira, tenho
consciência que é algo muito sério e não o faria se achasse que não estou
pronta. Sempre quis fazer uma... Algumas, na verdade – sorriu e Diego a
acompanhou. – Nunca tive coragem o bastante, mas agora tenho.
Ele a fitou por alguns segundos, absorvendo suas palavras. Quando ele
abriu a boca para falar novamente, ela soube o que diria. Por isso prosseguiu
rapidamente:
— Não quero fazer isso por ele — afirmou e Diego ergueu as
sobrancelhas surpreso que ela adivinhasse o que diria. — Há muito tempo
que quero fazer isso e quando digo que esse é o momento perfeito, não me
refiro ao meu relacionamento com Henrique — prosseguiu, séria, fitando
seus olhos para que ele compreendesse. — Me refiro a nova fase da minha
vida, a nova forma com a qual quero viver daqui para frente. Os últimos
acontecimentos foram... — procurou por palavras que expressassem o que
sentia, mas não encontrou. Suspirou tristemente. — Bom, só estou tentando
seguir em frente. É isso.
Diego a observava com seriedade, pesando o que dissera, tentando
buscar alguma rachadura na sua certeza.
Por fim, ele assentiu, sorrindo e ela sorriu também, suspirando aliviada.
Ele arrastou um banquinho até ficar mais próximo de onde ela estava e
pegou a pasta que ela colocara na mesa quando sentara. Eram os desenhos
que queria fazer, que ela mesma criara com ajuda de um programa de
computador, anos atrás.
Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso. Se pela qualidade dos desenhos,
pelo tamanho ou por serem dois, Sofia não saberia dizer, porque logo ele
fazia alguns pequenos ajustes necessários e colocava mãos a obra.
Mas não sem antes dizer:
— Se Henrique perguntar onde fez, minta. Se ele descobrir e quiser me
matar, eu volto para buscar você — e fingiu comicamente um calafrio.
Sorria riu, feliz e se esticou na cadeira reclinável – que se convertia em
uma confortável maca, quase uma cama móvel — e fechou os olhos, ansiosa.
Mal podia esperar para ver o resultado. E uma partezinha sua estava
louca para saber qual seria a reação de Henrique.
CAPÍTULO 41
Acionou o controle da garagem e estacionou o carro com cuidado,
temendo bater em qualquer coisa. Espremeu-se no espaço ao lado do carro do
seu pai, onde seu carro morava até algumas horas atrás.
Agradeceu mentalmente por seu irmão ter estacionado na outra
extremidade da garagem, onde haviam muitas prateleiras e coisas largadas no
chão. Nunca conseguiria estacionar seguramente ali, em uma manobra errada
atropelaria tudo no seu caminho e chamaria atenção de todos na casa.
Bateu a porta com cuidado e resgatou da sua bolsa o celular. Pensou
um pouco e resolveu deixá-lo desligado como estava, temendo receber
alguma ligação do seu namorado.
Conseguira enganar Henrique durante todo o dia para que não se
encontrassem, já que não queria mostrar uma de suas surpresas antes do
tempo.
Dissera a ele que sairia com sua mãe e passaria todo o dia fora, dessa
forma ele não insistiria em levá-la ou buscá-la. De fato, passara o dia inteiro
fora, mas não com sua mãe. Pela primeira vez em três anos dirigira pela
cidade.
Resgatou seu carro na garagem pela manhã, feliz e surpresa por
encontrá-lo limpo e abastecido; com certeza aquilo fora obra de Sebastian, já
que ela não havia pensado naquilo até pegar o carro.
Fora emocionante dirigir pela cidade e, mesmo cometendo algumas
barbeiragens, quase atropelando três ciclistas e, inacreditavelmente, duas
árvores considerara a missão completa, sem danos.
Precisava ser discreta com suas compras, não queria ter que justificar-
se para ninguém sobre o que comprara ou sobre o grande e inconfundível
logotipo da loja de lingeries impresso nas sacolas. Deixou tudo guardado e
protegido na mala do carro. Era quase meia-noite e o horário a protegeria das
indagações do pai, que com certeza ficara surpreso quando não avistara seu
carro na garagem quando estacionara o seu.
Todos estavam dormindo, exceto por Sebastian, com quem Sofia
encontrou enquanto subia a escada de fininho. Tomou um susto, pulando
quase meio metro no ar e esforçou-se para não gritar quando deu de cara com
o vulto do seu irmão.
Sebastian ergueu as sobrancelhas, observando-a curioso. Ela tentava
normalizar a respiração, uma mão no coração, quando ele perguntou:
— O que está fazendo?
— Pretendia ir para o meu quarto antes de você quase me matar de
susto — respondeu baixinho, sem querer que seus pais acordassem.
Ele a fitou por alguns segundos, avaliando-a descaradamente. Sofia
esforçou-se para não corar, o que foi em vão. Por sorte, as luzes estavam
apagadas, apenas uma das luminárias do corredor iluminava parcialmente seu
rosto. Sabia que Sebastian notaria o quanto estava eufórica com suas
peripécias e, além disso, nunca conseguira ou sequer tentara esconder algo
dele.
— Pensei que dormiria com Henrique hoje — ele disse, sondando.
— Acabei de voltar da casa dele, mas decidi dormir em casa hoje —
mentiu rapidamente.
— Hum — murmurou, encostando-se no corrimão da escada, sem tirar
os olhos do seus. — Estranho.
Ela sorriu com esforço.
— O que é estranho?
Sebastian a fitou, sorrindo irônico.
— Estranho que você estivesse com ele até pouco tempo — começou, o
sorriso aumentando aos poucos. — Porque, alguns minutos atrás, ele ligou
preocupado, perguntando se você estava dormindo e por que desligara o
celular. E também porque ele me ligou a tarde inteira perguntando se você
estava bem e se já havia retornado das compras com a mamãe. — Sofia ficou
lívida e ele continuou, atento as mudanças no seu rosto. — O que é ainda
mais estranho, porque posso jurar que ela não saiu de casa hoje. E sei disso
porque eu também não.
Sofia sentiu os ombros caírem. Era inútil tentar enganá-lo, ele a
conhecia melhor que ninguém.
— Eu não estava com Henrique — confessou e Sebastian inclinou a
cabeça para o lado, sorrindo satisfeito. — Eu estava no centro.
— Passou o dia inteiro no centro?
— Sim.
— Até essa hora? — perguntou, olhando de relance para o relógio em
seu pulso. — E o que exatamente você estava fazendo no centro até essa
hora?
— Coisas — Sofia respondeu simplesmente.
— Que tipo de coisas?
— Minhas.
— Que coisas suas precisariam ser feitas até essa hora?
— Daquelas que não dizem respeito a você.
Sebastian sorriu, tendo a certeza que ela aprontara alguma.
— E você não vai me contar? — perguntou apenas para confirmar.
— Não — Sofia respondeu, tentando manter-se firme.
Sebastian suspirou teatralmente.
— Que pena — disse, começando a retirar o celular do bolso do jeans.
— Mas acho que posso perguntar ao seu namorado, talvez ele saiba — disse,
erguendo o celular e desbloqueando-o com lentidão.
Ela tomou o celular das suas mãos rapidamente, sem que ele tivesse
tempo de reagir. Sebastian, no entanto, riu divertido. Sofia pensou um pouco
e resolveu que poderia confessar ao menos parte do que fizera.
— Eu conto — disse irritada. Ponderou por alguns instantes, mas logo
sorriu, sentindo-se animada novamente. — Fiz algumas coisas diferentes hoje
— começou, misteriosamente.
— Isso eu sei. Diferentes como mentir para o seu namorado, para o seu
irmão e entrar furtivamente em casa de madrugada — comentou sarcástico.
Sofia bateu no seu braço.
— Idiota.
Ele riu mais uma vez.
— Quais foram as outras coisas diferentes que você fez hoje, além de
se converter em uma mentirosa patológica?
— Coisas que envolvem agulhas — confessou, rindo marota.
Sebastian franziu o cenho, confuso.
— Agulhas? — pensou um pouco e logo assumiu uma expressão
preocupada. — Você está usando drogas, Sofia?
Ela tapou a boca com a mão, segurando-se no corrimão, rindo até sua
barrigar doer.
— Claro que não, Sebastian! — exclamou baixinho ainda rindo.
Resolveu confessar logo tudo de uma vez, sem querer que ele tirasse novas
conclusões ridículas. — Estava em um estúdio de tatuagem.
Sebastian apenas a encarou por alguns segundos, depois fechou a
expressão, parecendo ficar irritado.
— Se não queria dizer onde foi, era só dizer. Não precisa mentir, porra
— falou emburrado.
Sofia riu mais uma vez. Deus, como era idiota.
— Não estou mentindo, Sena, eu estava mesmo em um estúdio de
tatuagem. Aquele próximo ao shopping popular, sabe? Do Diego, amigo de
Henrique — explicou.
Sebastian pareceu acreditar daquela vez, arregalando os olhos surpreso.
— Você fez uma tatuagem? — perguntou, sua voz subindo um tom.
— Duas, na verdade — esclareceu.
— Você fez duas tatuagens? — aumentou o tom novamente e Sofia
tapou sua boca com rapidez, grunhindo e arrastando-o escada à baixo, até a
sala de estar.
— Quer falar baixo? — soltou seu braço e acendeu uma das luzes,
sentando-se no sofá.
— Fiquei surpreso — desculpou-se, analisando seu corpo de alto a
baixo à procura das tais tatuagens. — Por que mentiu para o seu namorado
sobre onde estava?
— Porque quero fazer uma surpresa — admitiu e orgulhou-se por não
corar daquela vez. — Ele ainda não sabe.
— E quem estava com você então?
— Quem foi comigo, você quer dizer? — perguntou e ele confirmou
com a cabeça. — Ninguém, não contei para ninguém. Você é o primeiro a
saber, além do tatuador. Que aliás, foi o Diego. Ele é muito talentoso, você
precisa ver...
— Você foi sozinha? — Sebastian a interrompeu, parecendo
preocupado. — Por que não me chamou? Eu poderia ter ido com você, não
contaria a ninguém — disse.
— Está tudo bem, foi tranquilo — Sofia confessou.
— Doeu muito? — perguntou, procurando novamente pelo seu corpo.
— E você estava sozinha...
— Eu estou bem, Sena — prometeu. — Não doeu muito, só no
comecinho mesmo. E eu quis fazer isso sozinha.
Ele observou seu rosto com atenção, procurado por alguma contradição
na sua expressão. Quando não encontrou, relaxou visivelmente.
— Certo — sentou-se ao seu lado, relaxando as costas no sofá. — Mas
então — começou, analisando seu corpo pela quarta ou quinta vez. — Onde
estão? O que você fez? Espero que não tenha sido uma Barbie. Ou duas
Barbies.
Sofia riu, levantando-se rapidamente e ergueu a camiseta, animada.
Sebastian arregalou os olhos, provavelmente imaginando que ela teria
feito algo pequeno, já que não estava a mostra, mesmo sob suas roupas
curtas.
Aproximou o rosto do seu corpo e observou com atenção todos os
contornos da grande mandala sob seus seios, na parte superior da barriga.
A pele em volta ainda estava vermelha e inchada, e Diego dissera que
permaneceria assim por alguns dias, conforme a pele fosse cicatrizando.
Ela fizera aquele desenho anos atrás após encontrar algumas fotos
como inspiração na internet, mas, a princípio, não imaginou onde o faria no
futuro. Até que, após Diego realizar algumas pequenas mudanças na sua obra
prima, ele perguntara onde faria. Na mesma hora, aquele parecera o local
perfeito.
Gostara do resultado, tanto que até fizera algumas fotos experimentais
ainda no estúdio. Diego pedira algumas delas para divulgar nas redes sociais
do estúdio, mas prometera fazê-lo apenas no domingo, após ela concluir tudo
que planejara.
— Não pensei que você teria coragem de fazer algo tão grande —
Sebastian murmurou admirado, ainda observando sua tatuagem. — E não
está borrada, prova de que você não chorou e pulou como uma gazela quando
a agulha tocou sua pele — alfinetou, rindo e escapando de um novo tapa por
pouco. Sofia já abaixava a camiseta quando ele indagou: — E a outra? Você
disse que foram duas.
— Ah, sim! — Sofia exclamou e voltou a erguer a camiseta, só que
dessa vez a tirou por completo, expondo o sutiã.
Sebastian tapou os olhos, virando a cabeça para o outro lado e
parecendo enojado.
— Sofia! Se queria me cegar, poderia avisar antes — resmungou.
Ela riu e prendeu os cabelos, erguendo os fios no alto da cabeça e os
entrelaçando rapidamente em um nó.
— Não estou nua, Sena. E você já me viu pelada várias vezes.
— Sim, e a última vez foi quando tínhamos 6 anos. Você não mudou
muito de lá para cá, é verdade, mas essa não é uma visão bem-vinda.
Ela riu mais uma vez quando ele a observou por entre os dedos,
mantendo os olhos no seu rosto, fingindo um estremecimento de pavor.
— Não seja ridículo. São apenas peitos, tenho certeza que você viu
milhares, só esse ano.
— Não quero ver seus peitos. Aliás, não queria nem saber que você
tinha peitos e preferiria continuar assim, obrigada — continuou resmungando
enquanto ela ria. — Pare de rir e mostre logo essa tatuagem — De repente,
abaixou as mãos e arregalou os olhos. Perguntou horrorizado: — Você não
tatuou os mamilos, não é? — Sofia abriu a boca para responder, mas ele a
interrompeu apressado, levantando-se em um pulo. — Não, não quero saber.
Nem ver. Já é o bastante ver você de sutiã, não quero ver os seus... —
interrompeu-se, enjoado.
Sofia gargalhou tentando tapar a boca com as mãos, mas o som
repercutiu pela casa silenciosa. Tentando se controlar e ainda rindo,
aproveitou que ele retirara as mãos dos olhos e virou-se, permitindo que ele
observasse suas costas.
Ela ouviu um ofego, ainda balançando os ombros de tanto rir e sorriu
satisfeita.
Se Sebastian achara que a tatuagem sob seus seios era enorme, a nas
suas costas era colossal.
A enorme árvore de cerejeira cobria toda sua pele, da nuca ao cóccix,
em flores e ramos delicados. As pequenas flores eram rosadas e os ramos
eram de um tom amarronzado. Diego sugerira que aquele tom seria melhor e
que faria um contraste interessante com a sua pele.
Aquela em particular fora a que mais demorara, mas Diego garantira
que pela simplicidade geral da arte – sem grandes áreas de preenchimento,
ele explicara – eles poderiam terminá-la ainda naquele dia, embora
certamente muito tarde.
Ele estava certo e o resultado fora melhor do que Sofia imaginava.
Inexplicavelmente, embora aquela tatuagem fosse três vezes maior que
a outra que fizera, fora a que menos doera. Diego explicara que devido a
proximidade com os seios, toda área de pele abaixo ou acima deles era muito
sensível. E a pele das costas, aparentemente, era mais grossa.
Sofia mal reclamara enquanto ele trabalhava nas suas costas,
conversando animada e conhecendo um pouco mais sobre o melhor amigo do
namorado.
Sentiu Sebastian tocando o plástico que recobria suas costas
temporariamente. Ele a tocou com delicadeza, sabendo por sua vasta
experiência o quanto a área estaria sensível e dolorida.
Quando ele afastou os dedos, Sofia voltou-se para ele novamente. Riu
quando deu de cara com um Sena de boca aberta, fitando-a com os olhos
arregalados.
— Gostou? — perguntou sorrindo.
Sebastian balançou a cabeça, não em uma negativa, Sofia percebeu,
mas sim para voltar ao normal, fechando rapidamente a boca.
— Ficou legal — disse e Sofia ergueu as sobrancelhas, esperando um
elogio melhor. Ele riu, coçando a barba farta e ruiva que recobria seu maxilar.
— Tudo bem, ficou mais que legal — rendeu-se.
Sofia riu, aceitando que aquele seria o máximo que tiraria dele.
Animada, sentou-se novamente e contou como fora sua experiência,
como se divertira. Contara até como vergonhosamente deixara algumas
lágrimas deslizarem por seu rosto enquanto Diego deslizava a agulha sobre a
pele abaixo dos seus seios e descreveu quais seriam suas próximas tatuagens
e onde as faria.
Falou e falou e apenas quando terminou foi que finalmente notara que
Sebastian estava vestido para sair. Vestia uma calça de lavagem clara
destroyed, uma camisa social de um roxo escuro e sapato social.
— Vai sair? — perguntou curiosa, afinal já eram quase duas horas da
manhã.
— Iria — corrigiu. — Antes de encontrar você entrando em casa tarde
da noite como um ladrão.
Sofia riu, perguntando-se mentalmente onde ele iria e, mais
precisamente, com quem sairia. Era bom ver o seu irmão sorrindo de novo,
saindo e se divertindo. Ela só esperava que ele escolhesse melhor com quem
se relacionaria da próxima vez.
Sebastian sugeriu que fossem até a cozinha preparar um lanche, já que
aparentemente nenhum dos dois estava com sono.
Sofia levantou-se com ele e já se encaminhava para a cozinha, quando
ele colocou as mãos sobre seus ombros, delicadamente, e a empurrou em
direção a escada.
— Mas, primeiro, vá por uma roupa. De jeito nenhum eu vou comer
com você nua. Tenho muito apreço por minha visão perfeita, obrigada.
Sofia riu mais uma vez e subiu as escadas, ouvindo-o resmungar que
irmãs não deveriam ter peitos e que precisaria de anos para se recuperar
daquela visão do inferno.
CAPÍTULO 42
Dormiu como um bebê. Quando finalmente subira para o seu quarto, já
eram quase quatro horas da manhã.
Lembrava-se apenas de deitar-se na cama e dormira instantaneamente.
A única coisa que a incomodou fora a posição que dormira. Não poderia
dormir de bruços, porque toda área abaixo dos seios estava muito sensível.
Suas costas também, por isso dormira de lado, em uma posição estranha que
não incomodasse ambos os lados. Desconfortável, mas pelo menos dormira.
Ficou algum tempo deitada na cama, olhando para o teto e pensando
em tudo o que fizera e imaginando como a noite seria perfeita. Após alguns
minutos, começou a sentir-se ansiosa e resolveu levantar para tomar banho.
Ao chegar no banheiro, entretanto, sentiu-se tonta e precisou de alguns
segundos para retomar o controle sobre seu corpo.
Quando a tontura passou, jogou água no rosto e escovou os dentes.
Porém, ao sentir o gosto estranho do creme dental na sua boca, cuspiu tudo
na pia e se debruçou no vaso sanitário, a tempo de vomitar tudo o que comera
durante a madrugada.
Os enjoos iam e viam em intervalos curtos. Decidiu sentar-se no chão
frio e respirou fundo, vomitando mais uma vez.
Minutos ou horas depois, conseguiu levantar-se. Jogou o creme dental
no lixo. Com certeza estava estragado, embora tenha usado no dia anterior e
não notou nada de estranho.
Dando de ombros, pegou outra caixinha no armário do banheiro e
cheirou cautelosamente. O cheiro... Não saberia dizer, mas fazia seu
estômago revirar. Jogou-o também no lixo e resolveu lavar a boca apenas
com o enxaguante bucal. Ou isso ou vomitaria todos os seus órgãos.
Tomou banho, sentindo a letargia do sono e o cansaço ocasionado pelo
enjoo passarem rapidamente. Lavou os cabelos, depilou as axilas, as pernas e
a área entre elas.
Saiu do banheiro enrolada na toalha e fitou seu reflexo no grande
espelho ao lado da porta. Vestiu rapidamente um dos conjuntinhos de lingerie
que comprara de cor preta e ficou observando seu reflexo por alguns
instantes, satisfeita com o que via.
Fitando a área avermelhada na parte superior da sua barriga, pegou sua
bolsa e retirou de dentro uma pomada. Aplicou-a suavemente por toda
extensão da tatuagem, da forma que Diego a ensinara.
Afastou um pouco o sutiã meia-taça, para que não irritasse a pele e, ao
mesmo tempo, sentiu o fecho nas costas roçando sua pele sensível.
Resmungou um pouco, procurando formas de manter a peça firme, mas
sem incomodar sua pele e não conseguiu.
Tentou ignorar o incômodo e prosseguiu com a aplicação da pomada.
Quando terminou, tentou passar nas costas, mas aquilo seria impossível.
Xingando-se em silêncio, pensou em chamar Sebastian para ajudá-la, mas
desistiu. Ele provavelmente cairia duro no chão, os olhos em chamas, antes
de vê-la de sutiã novamente.
Estava pensando no que fazer quando uma batidinha tímida soou na
porta. Antes que perguntasse quem era, sua mãe colocou a cabeça no vão da
porta, sorrindo feliz e com as bochechas coradas.
Quando notou que estava apenas de calcinha e sutiã franziu as
sobrancelhas, mas logo arregalou os olhos, soltando uma exclamação
surpresa quando de fato a viu.
— Sofia! O que é isso? — apontou para seu corpo seminu, entrando no
quarto.
Sofia riu sem graça, sem saber como reagir. Sua mãe não era contra
tatuagens, afinal, Sebastian possuía várias por todo o corpo. Mas Sofia, que
até pouco tempo nunca tivera coragem para fazer uma, agora exibia uma
mandala enorme na parte superior da barriga. Fora as costas, que ela não via.
— Mãe... — começou, procurando por palavras. Respirou fundo e
recomeçou: — Mãe, eu...
— Desde quando você usa fio-dental, Sofia Villar? — Virna perguntou
de olhos arregalados.
Sofia abriu a boca, surpresa.
— Hum — murmurou sem saber como responder essa pergunta
inesperada. — Desde hoje, para ser precisa.
— É mesmo? — sua mãe perguntou ainda muito surpresa, parecendo
admirada.
Sofia franziu o cenho.
— Mãe, eu fiz uma tatuagem — comentou como se não fosse óbvio.
— Sim, estou vendo. Sua mãe é velha, não cega — fez um movimento
com a mão, como se aquilo não tivesse importância.
— E o que a senhora acha sobre isso? — perguntou confusa e surpresa
com a reação da sua mãe.
— Maravilhoso. Eu sabia que deveria comprar alguns para você, mas
pensei que você não gostaria — respondeu. — Ficou ótimo em você, acho
que vou comprar um igual para usar para o seu pai. Ele vai ficar...
— Mãe! — Sofia protestou, corando, tentando afastar a horrível
imagem mental da sua mãe desfilando de lingerie para o seu pai, da mesma
forma que ela pretendia fazer à noite para Henrique. — Não preciso saber
sobre... É... As suas... Coisas com o papai.
— Besteira — Virna novamente descartou seu comentário com um
gesto. — Sua mãe e seu pai transam, você deve saber disso, já que foi assim
que concebi você e o seu irmão.
— Mãe! — protestou novamente, as bochechas em chamas. Decidiu
mudar de assunto, antes que que precisasse de ajuda psicológica em um
futuro próximo. — O que eu quero saber é o que você achou.
— Maravilhoso. Henrique com certeza vai ficar louco quando ver você
assim. Homens adoram mulheres de fio-dental, sabe. É algo que...
— Sobre a tatuagem — completou Sofia, ignorando o que sua mãe
dizia.
— Ah! — exclamou, observando-a com atenção. — É bonito, combina
com você — disse simplesmente.
— E você não está surpresa? Ou chateada? Decepcionada? — indagou
temerosa.
Virna finalmente ergueu o olhar para o seu rosto e sorriu amorosa.
— Chateada? Claro que não, amor. E você nunca me decepciona.
Nunca. Nem o seu irmão — disse e se aproximou um passo, acariciando seu
rosto com carinho. — Claro que estou surpresa, mas não muito. Veja bem,
você deve compreender que, como mãe do seu irmão, já vi de tudo.
— Sim, eu compreendo — Sofia sorriu.
— Então, não estou tão surpresa assim. Já estou tão acostumada com os
rabiscos do seu irmão que nada mais me surpreende. E, como vocês sempre
seguem os passos um do outro, pensei que seria uma questão de tempo para
você fazer o mesmo — observou sua tatuagem novamente. — Gostei desse.
O que é?
— Uma mandala.
— Mandala — Virna testou a palavra, admirada. — É muito bonito.
Quando você fez?
— Ontem — disse e pigarreou antes de continuar. — Essa não é a
única. Quero dizer, a única que eu fiz. São duas.
Virna ergueu as sobrancelhas, subindo e descendo os olhos por seu
corpo.
— É mesmo? E onde está a outra?
Sofia virou de costas, erguendo o cabelo e prendendo-o rapidamente
em um nó.
— Nossa! — sua mãe ofegou. — É enorme! E linda, combinou com
você.
Sofia suspirou sem perceber, aliviada e voltou-se novamente para sua
mãe.
— Pensei que você poderia ficar chateada quando visse. Ou...
— Isso não aconteceria. Aliás, nunca aconteceu. E porque você deveria
se importar tanto com a opinião dos outros sobre o que faz, mesmo a sua
mãe? O corpo é seu. Nunca julgaria você, amor, da mesma forma que nunca
julguei seu irmão.
— Obrigada, mãe — agradeceu, sorrindo feliz. Sua mãe retribuiu o
sorriso.
— Mas o que você fazia aí parada na frente do espelho?
— Ah, estava tentando passar isso nas costas — mostrou o pequeno
tubo da pomada.
Com uma precisão e delicadeza surpreendentes, Virna tomou o tubo da
sua mão e posicionou-se nas suas costas, espalhando o produto por toda a
área sensível.
Quando terminou, perguntou curiosa:
— Por que não pediu a ajuda do seu irmão? Já vi você fazer isso muitas
vezes para ele, nada mais do que justo ele fazer o mesmo por você agora.
— Ah, ele não poderia. Provavelmente, se me visse de calcinha e sutiã,
sairia correndo daqui até a capital berrando que havia perdido a visão —
Sofia riu imaginando a cena. Notou o semblante confuso de sua mãe e
explicou, rindo, o que acontecera quando chegara em casa à noite.
Virna riu tanto que precisou se apoiar na filha, seu corpo sacudindo-se
com as risadas. Sofia acompanhou, rindo até deu estômago doer.
Depois de alguns minutos de conversa com sua mãe, ela a convidou
para sair, dar uma volta ou, como ela mesma disse, rindo maliciosa, comprar
algumas lingeries.
Sofia recusou o convite, rindo. Não estava nos seus planos para o dia
sair para comprar possivelmente lingeries para sua mãe usar para o seu pai.
Passou o dia inteiro em casa, confortável, preparando-se para a noite,
mas, principalmente, fugindo de Henrique.
Porém, isso só fora possível porque ela mentiu novamente para ele;
dessa vez dissera que precisava sair com seu irmão, passar um tempo com ele
e saber como estavam as coisas.
— De novo, Sofia? — ele perguntou irritado quando ela finalmente
resgatou o celular e ligou para ele.
— Eu sei, amor. Também sinto sua falta, mas preciso de um tempo
com o meu irmão.
— Preciso marcar uma hora com você ou alguma coisa assim para
poder vê-la?
Ela riu. Henrique quando ciumento, tendia a agir como uma criança;
resmungona, irritada e inconformada.
— Claro que não, Henrique. Nós vamos nos encontrar à noite, como eu
disse. Chego aí por volta das oito horas.
— Não vou deixar você voltar para casa — avisou.
— Eu sei — Sofia sorriu.
— Não vou deixar você voltar par casa por uma semana. Não, um mês.
Até matar essa maldita falta que sinto de você.
— Tudo bem — concordou com seus termos, derretida.
— E você vai ficar todo esse tempo na minha cama. Ao meu dispor.
— Ah, é?
— Ah, é. E vou comer tanto você, Sofia, que da próxima vez que você
sequer pensar em sumir por uma hora que seja, vai relembrar tudo o que farei
com você hoje e pensar duas vezes antes de fazer qualquer coisa —
prometeu.
Sofia precisou respirar fundo, fechando os olhos e imaginando tudo que
faria com ela.
— Mal posso esperar — sussurrou.
Ouviu-o grunhir um palavrão do outro lado.
— Você vai me pagar por isso também; me deixar duro quando vai
passar o dia inteiro longe de mim.
Sofia riu, abrindo os olhos e escapando da nuvem de luxúria que ele a
envolvia, apenas com som da sua voz.
— Aceito seus termos — murmurou e quando ele grunhiu novamente,
atormentado, sorriu mais uma vez.
Conversaram por mais alguns minutos – Henrique mais grunhiu do que
falou, na verdade – e ela aceitou pensar se poderia chegar mais cedo. Na
verdade, não via a hora de finalmente vê-lo, não seria nenhum sacrifício
adiantar um pouco as coisas.
Por fim, sorriu, despedindo-se relutantemente.
— Até mais tarde, amor. Amo você — ela sempre sussurrava a última
parte, tímida, mas feliz por poder expressar seus sentimentos. E ele sempre
ficava alguns segundos em silêncio, como que absorvendo suas palavras. Sua
voz estava rouca ao responder:
— Até à noite, amor. Também amo você.
Deitou-se novamente na cama, após encerrar a ligação e comer algo
rápido. Procurou algo em que pudesse dedicar sua atenção pelas próximas
horas, mas não havia nada.
Resignada, resolveu que um cochilo seria o melhor a se fazer.
Quer dizer, afinal, se tudo saísse como planejava, esperava não dormir
àquela noite. Ainda estava sorrindo quando mergulhou em um mundo de
sonhos.
•••
Vestiu o pesado moletom, pôs o capuz sobre seus cabelos escovados e
se despediu dos seus pais. Carregou o pequeno embrulho com cuidado,
temendo derrubá-lo se fizesse qualquer movimento brusco. O delicado
coraçãozinho estava embrulhado em camadas de um papel forte. Ela pegara
sua encomenda quando estava no centro e ficara feliz com o resultado.
Destravou o carro e abriu a porta traseira, depositando-o com cuidado
no banco e torcendo para que nada acontecesse até chegar ao seu destino.
Resgatou as sacolas de compras que havia deixado na mala. Escolheu
com cuidado algumas das peças que comprara e guardou-as na bolsa.
Recolheu o que restara, guardou-as de volta nas sacolas e voltou a escondê-
las na mala do carro.
Depositou a bolsa ao lado do pequeno embrulho no banco de trás e
fechou a porta, dando a volta e entrando rapidamente no carro.
Acionou o controle da garagem e fitou seu reflexo no retrovisor.
Bem, a primeira vista, sua aparência estava normal. Diria até que um
pouco largada com aquele conjunto de moletom. Era o mesmo que usava no
dia que conheceu Henrique, o da cor da sua pele que ele havia dito que usá-lo
era o mesmo que estar nua.
Decidira que o melhor a fazer seria vestir-se lá, na casa dele. Já que o
que de fato vestiria não seria apropriado para uma saída de carro.
Escolheu uma das fantasias que comprara. Na verdade, não era bem
uma fantasia. Consistia basicamente em um baby-doll preto com
transparência, uma minúscula calcinha com laços laterais e meias 3/4 de
mesma cor, uma máscara de renda e, surpreendentemente, também um
chicote – que Sofia, com certeza, não teria coragem de usar.
Não saberia dizer de quê se tratava a fantasia, já que, além da máscara,
nada naquele conjunto fazia sentido para ela. Mas fora a que mais gostara –
exceto o chicote.
Ligou o carro e saiu da garagem, com cuidado. Decidira por vestir-se
apenas quando chegasse ao seu destino porque, definitivamente, não
conseguiria sair de casa vestindo aquilo e pensara muito a respeito, decidindo
que tudo seria mais especial daquela maneira.
Entraria na casa dele, tranquila e entraria no banheiro com a sua
mochila. Após trocar rapidamente o moletom cafona por suas novas roupas
ousadas, calçaria os saltos que reservara para a ocasião e desfilaria pelo
quarto, tentando-o.
Bom, esperava ter coragem para isso.
Apertou as mãos no volante e dedicou toda sua atenção para a estrada.
Estava duas horas adiantada do horário que combinara com ele, mas não
conseguiria aguentar por mais nenhum minuto.
Dormira por duas horas apenas e, após sonhar com Henrique tomando-
a nos braços, ela pulara da cama, direto para o banheiro e decidira-se que já
havia esperado demais; precisava dele. Precisava tê-lo, pertencê-lo.
A chuva, que começara a cair em algum momento enquanto ela dormia,
aumentou consideravelmente e Sofia prestou ainda mais atenção ao que fazia.
Em poucos minutos, estacionava o carro. Precisou estacionar do outro
lado da rua, já que a garagem de Henrique estava cheia com sua moto, seu
carro e o de Diego. Haviam outros dois carros em frente a casa e Sofia
franziu o cenho, pensando se Henrique estaria com visitas.
Desligou o carro e respirou fundo, cobrindo o rosto com o capuz do
moletom.
Abriu a porta do carro, pulou rapidamente para fora e fechou a porta,
sentindo a chuva castigar e encharcar rapidamente seu corpo. Abriu a porta
traseira, pegou sua bolsa, o pequeno embrulho e fechou a porta, travando o
carro em seguida.
Atravessou a rua à passos rápidos, sentindo a água escorrer pelo seu
corpo. O papel que recobria seu pequeno presente foi arrancado com a força
da chuva e levado pelo vento.
Sofia apressou o passo, sem querer perder nenhum segundo a mais ali
do lado de fora.
Naquele último segundo, antes que pisasse na calçada da casa de
Henrique, se Sofia voltasse atrás na sua escolha de seguir em frente, talvez
tudo que aconteceria à seguir fosse diferente naquela noite.
Ninguém sairia machucado do que estava prestes a acontecer ali.
Ninguém sofreria com as consequências de escolhas do passado.
E, principalmente, não haveriam acidentes naquela noite.
Mas não foi isso que ela fez. Sofia seguiu em frente, confiante,
sorridente, correndo da chuva como se ela fosse o seu pior algo, sem fazer
ideia do que a aguardava.
Todavia, como ela poderia sequer imaginar o quanto seu adiantamento
na hora seria crucial para o que aconteceria à seguir? Como poderia imaginar
o quão trágico seria o final daquela noite?
Ela não teria como saber, não fazia ideia de tudo que acontecera pelas
suas costas.
Mas estava prestes a descobrir.
CAPÍTULO 43
Setembro era um dos meses de maiores variações climáticas na sua
região.
Tipicamente quente na maior parte do tempo, o nordestino só vê chuva
em três meses do ano, sendo setembro o pior de todos.
Difícil imaginar que um dia que começara tão lindo – o céu
amanhecera limpinho, sem nuvens, uma mistura de vários tons de azul e o
clima estivera deliciosamente agradável, nem quente nem frio – poderia
converter-se em um temporal daquelas proporções, com rajadas de vento,
trovoadas e relâmpagos impressionantes.
Assistira o nascer do sol da janela da cozinha com seu irmão,
conversando e rindo do que ele dizia. Não lembrava-se de quando fora a
última vez que dormira tão tarde, mas gostara da sensação de liberdade e
independência que a situação causava.
Ainda mais difícil de imaginar que o temporal repentino que atingira a
cidade, fora o doloroso golpe que sofrera em seu coração, que agora jazia em
pedaços ridículos no chão.
Não o seu coração, o órgão. Mas sim o delicado coração de porcelana
que comprara por encomenda como presente de aniversário de namoro. Para
ele.
Tropeçou nos seus próprios pés enquanto fugia de uma poça d'água. A
consequência daquilo era o seu presente, que tanto amara a primeira vista, em
pedaços largados no chão úmido da chuva.
Respirou fundo e decidiu que aquilo poderia ser resolvido depois.
Poderia encomendar outro, pagar uma taxa exorbitante para recebê-lo o mais
rápido possível e presentear seu namorado alguns dias depois.
Ele não se importaria muito, tinha certeza. Afinal, aquele não era o
único presente que reservara para ele. Contando que as coisas no interior de
sua bolsa permanecessem secas, é claro.
Olhou com pesar para o chão, lamentando sua falha coordenação
motora. Deu de ombros, e seguiu em frente, sem deixar-se abalar por aquilo.
Caminhando rapidamente e fugindo de poças de água, sorriu ao
relembrar todos os momentos doces que viveram juntos, todas as surpresas e
alegrias que aquele relacionamento lhe trouxera. Com ele.
Todas as conversas, os sorrisos, a alegria que acompanhara seu
relacionamento desde o começo e até mesmo as poucas discussões. Tudo em
relação à ele era o que tornava o momento, qualquer momento ao lado dele
especial.
Fora, realmente, feliz naqueles últimos meses, como jamais fora. E
tudo em troca de entregar-se de corpo e alma, sem pensar duas vezes, no que
fora o acontecimento mais surpreendente da sua vida: apaixonar-se. Por ele.
Entregar-se de corpo e alma para outra pessoa fora mais fácil do que
imaginara. E surpreendente. E era, incondicionalmente, feliz. Em nenhum
momento, nem por um segundo, arrependera-se da sua decisão. Amá-lo fora
fácil como respirar e, tinha certeza que mesmo que lutasse contra o
sentimento, seria impossível não fazê-lo.
Lamentou-se mais uma vez por ter dois pés esquerdos. Em razão disso,
agora, o seu presente de aniversário estava arruinado.
Aquele realmente fora um descuido infeliz seu. O lindo coração,
customizado e feito por encomenda, custara um preço exorbitante,
considerando que o objeto não consistia em mais do que poucos centímetros
de cerâmica - aquilo não era porcelana nem aqui nem na China, dissera ao
vendedor quando recebera seu pacote, mas este insistira que aquilo era, sim,
senhora, porcelana, porém era um material novo, importado e caríssimo,
justificara-se, insultado.
Não era. Mas tudo bem, gostara do resultado mesmo assim e não
discutira mais.
Balançando a cabeça e resignando-se de que teria sido melhor ter
solicitado a loja que enviassem seu pacote, seguramente, para o seu destino,
passou as mãos por suas roupas, agora encharcadas, e perguntou-se se sua
aparência seria tão ruim quanto aparentava.
O moletom grudava na sua pele, pesado e escorrendo, pingando. Seu
cabelo, antes escovado e escondido pelo capuz, agora escorria pelo seu rosto,
grudando na sua testa e bochechas. Passara horas até dominar a arte de usar
um secador ao mesmo tempo que uma escova e para nada.
Todavia, não se importava muito com isso. O que mais queria no
momento era sair do alvo dos pingos da chuva e adentrar no dormitório
confortável e seco do seu namorado. Só em pensar no quanto estaria
quentinho lá dentro seu corpo estremeceu de expectativa.
Aproximou-se da porta e tocou a maçaneta, franzindo o cenho ao notar
como suas mãos estavam trêmulas, assim como todo seu corpo e seus dentes,
que batiam sem pausas, fazendo-a retesar o maxilar, imaginando se ficaria
banguela caso continuassem batendo nesse ritmo por muito mais tempo.
Deu uma última olhada em suas roupas e decidiu ao menos espremer
um pouco da água que pingava na soleira da porta. Deu um passo para trás e
começou a torcer algumas partes do moletom, espremendo-o e retirando o
excesso de água.
Satisfeita, passou as mãos pelo cabelo e rapidamente fez o mesmo com
os fios, espremendo-os e jogando-os para trás ao final.
Deu um passo a frente, tocando novamente a maçaneta, desejando com
todas suas forças que a porta estivesse destrancada, como Henrique
costumava deixar quase sempre.
Porém, estacou na porta ao ouvir o som de vozes animadas e
gargalhadas vindas por trás da porta. Franziu o cenho, tendo a certeza de que
Henrique tinha companhia.
Encostando a orelha na porta, tentando reconhecer as vozes que
chegavam até ela, perguntou-se o que faria agora, já que para fazer o que
planejara, obviamente, precisaria de algumas – muitas – horas de privacidade
com seu namorado.
Todavia, o que ouvira a seguir conseguira congelar todo o resto do seu
corpo.
— Conseguiu, hein, garanhão? — uma voz que reconheceu como
sendo a de Vinicius disse com animação. — Não só conseguiu comer a
ruivinha, como continua comendo esse tempo todo. Eu poderia dizer, acho
que por todos nós, aliás, que sua missão foi concluída com êxito.
Algumas risadas soaram após sua declaração.
— Sem dúvida! — disse outra voz, que Sofia não reconheceu. — Cara,
eu achava que você não ia conseguir comer a garota e vencer a aposta. Pensei
que com aquele irmão brutamontes dela, você seria morto em menos de uma
semana, mas vejam só! Venceu a aposta e ainda mantém a gostosinha por
esse tempo todo. Você é o meu herói, cara!
Outra pausa para risadas e logo uma voz aguda que Sofia reconheceu
imediatamente disse com escárnio:
— Mas não havia como ser diferente, né? Gostoso desse jeito, até eu
daria pra você em uma semana, gato — miou Arianna, com certeza no que
considerava ser uma voz sexy. — Mas, conta pra a gente, como foi? Ela é tão
feia nua como é com aquelas roupas ridículas?
— Você está louca? — perguntou Vinicius. — A mina é a maior
gostosa! Se Henrique não aceitasse a aposta, eu iria no seu lugar — alguns
risinhos masculinos. — Mas é, cara, a gente quer saber como foi. Eu ainda
não acredito que você conseguiu realmente comer aquela gostosa em menos
de uma semana. Cara, a gente precisa saber como foi! — ele parecia cada vez
mais animado e sua voz estava levemente abobalhada, como se estivesse
bêbado. — Ela é tão frígida como parece ou a ruivinha é um furacão na
cama?
Outras vozes fizeram eco, perguntando como tudo aconteceu.
— Não importa como aconteceu, ou como ela é na cama — uma voz
rouca, parecendo irritada, que Sofia conhecia bem começou. — O que
importa é que Sofia é minha.
As palavras que ouvira poderiam ser dirigidas para outra pessoa, não
ela.
Entretanto, conhecia bem a voz que as proferira, e já o ouvira usar
aquele mesmo tom debochado e irritado antes para outras pessoas. Mas nunca
dirigidas para ela. Não para ela, nem sobre ela.
Ficou estática, sem mover-se, paralisada onde estava, ouvindo os
relatos de como fora sua vida nesse último ano sobre outro ponto de vista.
Todos tinham algo a falar e Sofia notou que seu relacionamento nunca fora
seu. Comentavam sobre sua vida como se tivessem esse direito, rindo e
ressoando o som de brindes e garrafas batendo.
Nada fora como pensara. Tudo não passara de uma ilusão, concluiu,
sentindo os olhos arderem.
A dor em seu peito era algo que jamais sentira. A dor da perda era algo
que conhecia, é claro, mas não naquelas proporções.
Nada fora como pensara. Os dias mais felizes de sua vida foram uma
farsa. Tudo fora uma farsa; os últimos três meses da sua vida, todas as
conversas, a entrega mútua, a confiança, a cumplicidade... O amor.
Ela o amava. Mas o sentimento não era recíproco. Tudo o que ele
sempre quis foi vencer uma maldita aposta, levando-a para cama e depois
com certeza reunindo-se com seus amigos para comentar e rir do quanto ela
era patética e ingênua.
Burra. Todos avisaram, todos pediram que não se entregasse daquela
maneira. Que deixasse as coisas evoluírem com o tempo, para não ter pressa.
Burra. Ingênua. Cega.
Como não enxergara a verdade? Como algum dia acreditara que ele, de
fato, a amava tanto quanto ela o amava?
Como pudera ser tão cega dessa maneira? Como não vira? Imaginara
coisas, imaginara ser retribuída, imaginara toda aquela reciprocidade que a
fazia feliz todos os dias.
Ele a enganara direitinho. Interpretara um papel impressionante.
Aguentara todos aqueles dias ao seu lado apenas em razão de algo tão
estúpido como uma aposta.
Mas por que? Para provar que era homem? Para provar aos seus amigos
que nada o impedia de ter aquilo que queria?
Por que fizera tudo aquilo? Não via o quanto aquilo era errado,
desumano? O quanto a faria sofrer?
Provavelmente não, já que se ela não estivesse no lugar certo na hora
errada nunca saberia de nada. Quanto tempo mais ele levaria aquela situação
adiante? O que mais seria capaz de fazer, quanto mais a machucaria, se ela
não estivesse ali, ouvindo tudo clandestinamente?
Sentiu uma pontada forte no peito que parecia fazer eco no seu corpo.
Sentiu o mesmo incômodo na sua barriga e curvou o corpo com a dor,
apoiando-se na porta e exclamando baixinho. A dor a assolava em ondas, no
seu coração, na sua cabeça, mas, acima de tudo, no seu ventre.
Reuniu as poucas forças que restavam e ouviu as risadas lá dentro
cessarem abruptamente. Ergueu-se e recuou, sentindo todo seu corpo
trêmulo, virou-se com um único desejo: fugir dali e fingir que aquele dia e
todos os outros que julgara terem sido os melhores e mais felizes da sua vida
nunca existiram. Mas estacou ao pisar em algo que rachou aos seus pés.
Que irônico, pensou. Como um dia que começara tão lindo poderia
converter-se em um temporal daquelas proporções.
Ainda mais irônico que o temporal repentino fora o golpe doloroso que
sofrera em seu coração, que agora jazia em pedaços no chão.
Mas daquela vez não fora um objeto.
Seguiu em frente, ignorando a queimação em um dos seus pés e com os
olhos focados no carro.
Fugir. Tudo o que precisava era fugir dali.
Esforçou-se mais, caminhando com pressa. Pôs as mãos no estômago
quando uma nova pontada de dor quase a derrubou. Respirou fundo, ouvindo
um ruído as suas costas por cima do barulho da chuva e acionou o alarme do
carro.
Ouviu um ecoar de vozes, mas ignorou, abrindo a porta do motorista e
jogando sua bolsa encharcada o banco do passageiro.
Uma nova pontada no ventre a fez curvar o corpo novamente, e ela
precisou apoiar-se na porta aberta, reunindo forças para entrar no carro.
Fechou os olhos e estava quase cedendo, entregando-se a dor, quando o
ouviu.
— Sofia!
Ela não queria olhar para trás. Não queria vê-lo e presenciar mais uma
atuação. Não permitiria deixar-se enganar mais uma vez.
Nunca mais. Ele a fizera de idiota uma vez, a enganara, brincara com
sua vida como se fosse um joguinho. Nunca mais.
Entrou no carro com esforço e bateu a porta com o máximo de força
que conseguiu reunir, o que não fora muito.
Travou as portas no momento em que mãos grandes bateram
desesperadamente na sua janela. Não olhou para ele, fechou os olhos e
implorou a Deus que conseguisse sair dali.
Manteve os olhos fechados ignorando a dor no seu ventre, a dor
crescente na sua cabeça e a voz abafada do lado de fora do carro.
Sua voz soava desesperada, aflita. Ele implorava por algo que ela não
tinha mais. Não tinha amor, não sentia amor e, mais que tudo, não acreditava
em amor. Não mais.
Ligou o carro, afastou rapidamente as lágrimas que não notara que
derramara até o momento e engatou a marcha, ignorando suas dores
crescentes e as batidas na janela.
Arrancou com o carro, sentindo o que antes fora um coração disparar
com a adrenalina. Dirigiu sem rumo, apenas buscando fugir dali, afastar-se
dele, de tudo que ele já representara para ela.
Entrou em ruas, percorreu avenidas e aumentou a velocidade. Não
queria pensar, não queria reviver todo seu passado, enumerar quantas vezes
fora burra, quantas vezes não notara a verdade que estivera bem na sua frente.
Uma luz no seu retrovisor a fez notar só naquele segundo que estava
sendo seguida. Observou a grande moto tentando igualar a velocidade com a
sua.
Perguntou-se o que ele queria com aquilo. Afinal, não estava cansado
de fingir algo que não sentia por todo aquele tempo? O que queria a
seguindo? Mentir um pouco mais? Enganá-la uma vez mais? Ou rir da sua
cara, em diferença de todo aquele tempo em que rira pelas suas costas?
Aumentou ainda mais a velocidade, seguindo por uma avenida deserta
e úmida da chuva. Ele fez o mesmo, voltando a igualar-se à ela.
Ela rangeu os dentes e se preparava para pisar ainda mais fundo no
acelerador, quando novamente sentiu a dor no seu estômago, só que daquela
vez dez vezes mais forte.
Olhou para seu ventre, pressionando-o com uma das mãos, tentando
fazer com que a dor diminuísse, quando algo chamou sua atenção.
Suas pernas estavam pingando água no carpete, danificando o banco do
carro e poderia ouvir a irritação do seu pai quando visse aquele estrago.
Mas não fora aquilo que a aterrorizara. Fora todo o sangue que escorria
entre suas pernas e ensopava suas roupas já molhadas.
Tentou pensar no que fazer, no que aquilo poderia significar, mas sua
visão escureceu de repente.
Tentou focar os olhos, piscou-os e apertou as mãos no volante, tentando
retomar o controle sobre seu corpo.
Mas era tarde demais. Viu um clarão a sua esquerda, sentiu a cabeça
pender para frente, o ventre contrair-se em mais uma pontada, as pernas
ficarem ainda mais vermelhas, a vista nublar ainda mais, a cabeça girar... E
depois não viu mais nada.
EPÍLOGO
Sua vida não era mais sua. Seus pensamentos não eram mais seus e
nem mesmo seu corpo o pertencia.
Nada nunca fora tão bom como naqueles três meses. Nunca sonhara
com aquele grau de felicidade, de plenitude, satisfação. Nunca desejara nada
daquilo, certo de que aquilo não lhe pertencia.
Ser feliz, plenamente feliz. Contentar-se com algo, sentir-se satisfeito,
alegre, querido, desejado... Nunca sonhara com nada daquilo.
Nunca buscara nada além de satisfação sexual. Não colecionava
amizades, possuía poucas e um número ainda menor se considerasse apenas
àqueles aos quais realmente confinava.
Estava satisfeito com o que tinha, com a rotina de dias vazios e noites
de paixões insatisfatórias. Tudo estava do jeito que era para ser.
Até que ela surgiu na sua vida. Até que notara aqueles olhinhos azuis
brilhando de desejo focados em si.
Soube ali que a teria. Que a faria sua e que nunca mais a deixaria partir.
Ela o pertenceria, como jamais fora de outro alguém e ele se entregaria em
iguais medidas, feliz apenas por tê-la.
Não lembrava exatamente quem propusera aquela aposta imbecil. Não
recordava ao menos quem estava a sua volta enquanto a observava tentar
disfarçar a cobiça em seus olhos, olhando em volta e cobrindo o rosto com
um livro.
Precisava conhecê-la. Precisava tê-la, prová-la. Soube ali que não
apenas queria, como necessitava tê-la. Pulsava de desejo, sentindo o corpo
reagir ao dela como nunca antes fizera com mulher nenhuma.
Ouvira apenas partes do que seus amigos e alguns conhecidos diziam,
debochando da forma com a qual ele a fitava, quase babando de desejo. Ele
não se importara, observando todas as nuances daquele cabelo vermelho, as
sardas perceptíveis até mesmo de onde estava, o corpo curvilíneo e gostoso
em evidência naquele moletom quase indecente.
Ouvira algo relacionado a um irmão ciumento e agressivo, mas
novamente, não prestara atenção, extraindo de todo aquele falatório apenas o
que importava: o nome dela.
Sofia Villar.
"Sofia", repetira o nome em sua mente, imaginando como seria sua voz,
como reagiria em seus braços, como seria tê-la inteiramente para si.
Vinícius bateu nas suas costas, desviando sua atenção do que mais
queria no momento, tagarelando algo sobre uma semana para alguma coisa.
Notou que ainda falavam de uma aposta. Uma aposta ridícula,
insinuando que se ele não fosse homem o bastante para aquilo, para seduzi-la,
algum deles seria.
Para o inferno se permitiria que algum daqueles bastardos se
aproximasse da sua Sofia. Ela era dele; ou seria. Ninguém ali a teria, nenhum
deles seria bom o bastante para ela. Inclusive ele mesmo.
Mas não lutara contra seus instintos. A queria, independente de aposta
ou não. E a teria, a faria sua e nunca mais a deixaria ir.
Voltara os olhos novamente para o fruto do seu desejo e declarou, com
confiança e sentindo o desejo que pulsava por todo seu corpo tomar o
controle da situação:
— Ela é minha — dissera, antes de partir em direção aquilo que o
pertencia.
Não se importara com as risadas que se seguiram após a sua saída. Não
se importara que pensassem que faria aquilo em razão de uma estúpida
aposta.
Tudo o que importava era ela. E pegá-la para si. Seus amigos não
tiveram importância no momento, o que eles pensavam não lhe importava.
Como queria voltar no tempo e esclarecer tudo, deixar claro que não
aceitara aquela idiotice, que faria aquilo porque realmente a queria. Porque
precisava.
Hoje sabe que, por causa de um mal-entendido, tudo, todo seu futuro,
suas esperanças, seus planos, seu destino, seu amor... Tudo ruíra em razão de
algo que não aconteceu, algo que não fez, que não planejou, mas que
permitiu que pensassem que sim.
Agora era tarde demais.
Agora ela sabia de tudo, o mesmo que seus amigos idiotas imaginavam
que acontecera.
Não fora uma aposta. Nada, nunca, jamais, fora uma aposta. E provaria
isso para ela, assim que ela abrisse o caralho daquela porta e o deixasse
explicar.
Vê-la chorando em silêncio, o cabelo grudado no rosto, o corpo
tremendo de frio e as lágrimas escorrendo livres, estava acabando com ele.
Odiava-se por fazê-la sofrer daquela maneira. Arrependia-se por não ter
esclarecido tudo antes. Mas, sobretudo, rezava para que ela acreditasse na sua
palavra. Que ela o perdoasse, que o aceitasse de volta.
Bateu na janela com ambos os punhos, resistindo ao impulso de
quebrar o vidro por medo de machucá-la.
Quando ouvira o seu gemido de dor, mesmo em meio a algazarra na
sua sala de estar, soube que ela não o perdoaria. Levantara correndo,
desesperado antes mesmo de confirmar sua presença ali.
Sabia que ela viria aquela noite e estava ansioso por sua chegada, ainda
mais porque passara dois dias sem vê-la, sem provar do seu gosto, sentir seu
cheiro de rosas e amá-la com desespero.
Quando a vira caminhando com dificuldade em meio a chuva, sentiu o
coração doer. Viu quando pisou em algo e olhou para o chão, notando algo
colorido em pedaços em meio a uma poça de água.
Sentindo o coração pesar, ouviu um suspiro pesado ao seu lado e Diego
o olhou sério.
— Avisei que isso aconteceria, cedo ou tarde — dissera, fitando Sofia
com o cenho franzido. — Ela não parece bem — observou e voltou-se para
dentro da casa. - Vá atrás da sua garota, explique como tudo aconteceu e
implore pelo seu perdão. Vou expulsar toda essa gente daqui até você voltar.
Henrique permanecera parado na soleira da porta, sentindo suas forças
irem embora, sabendo que nada do que dissesse a faria perdoá-lo, a faria
acreditar na sua palavra.
Mas não desistiria sem lutar. A amava. Com todas as suas forças, com
tudo de si, a amava. E faria com que ela o perdoasse.
Desceu os degraus, a chuva banhando seu rosto e sentiu o corpo
paralisar quando ela apoiou-se pesadamente contra a porta aberta do carro,
curvando o corpo como se sentisse dor.
Gritou seu nome em desespero e correu, tentando alcançá-la. Porém,
ela, ouvindo seu chamado e sem querer contato, trancara-se no carro,
chorando em silêncio e ignorando suas súplicas.
Poucos segundos depois, ela arrancou com o carro, sem desviar o olhar
para ele nem uma única vez.
Ele montou na moto com rapidez e a seguiu, ignorando os protestos das
pessoas que estiveram até poucos minutos atrás acomodadas na sua sala de
estar, agora molhados de chuva.
Seguiu por onde ela disparara com o carro e aumentou a velocidade
quando a encontrou, tentando emparelhar ao lado dela.
Notando que era seguida, Sofia acelerou ainda mais e ele sentiu o
coração disparar de preocupação, fazendo o mesmo.
Sofia não dirigia. Ela confessara que há anos desistira de tentar porque
algo sempre dava errado e ela sempre parecia atropelar alguma coisa.
De repente o carro foi diminuindo a velocidade e Henrique respirou
aliviado.
Todavia o alívio rapidamente sumiu quando o carro invadiu a faixa
contrária e seguiu sem rumo fixo, ziguezagueando pela pista.
Com o corpo inteiramente trémulo e sem poder fazer nada além de
gritar e observar impotente, viu quando o carro ganhou velocidade aos
poucos, parando apenas ao atingir outro carro que surgira de repente, pego de
surpresa, sem ter para onde escapar.
O grito que ouvira, o lamento, o choro desesperado bem podiam serem
seus, mas não tinha certeza. Acelerou e saltou da moto ainda em movimento,
jogando-a de lado e implorando, rezando para que ela estivesse bem.
Pedindo para estar no seu lugar. Porque, se um deles deveria morrer,
que fosse ele. Ele merecia, ela não.
Entretanto, o poder de decisão não era seu. Para Henrique bastava
apenas rezar para que tudo voltasse a ficar bem. Para que ela estivesse bem.
O que, talvez, não fosse possível.
Epígrafe
•••
— Você sabe o que está fazendo? — Sofia perguntou, sentada no
balcão da cozinha, as pernas balançando no ar.
— É claro que eu sei o que estou fazendo — Henrique respondeu,
ajoelhado entre as pernas dela.
— Tem certeza? — riu quando ele grunhiu irritado e afastou suas
pernas com os ombros.
— Você poderia me ajudar abrindo as pernas. Quase não tem espaço
para mim aqui — resmungou, ainda no chão.
Ela riu e fez o que ele pediu, abrindo as pernas o máximo que
conseguiu.
— Assim? — perguntou e ao ouvir o tom manhoso, Henrique ergueu os
olhos do que fazia e franziu o cenho para ela.
— Não me provoque.
— Ou assim? — colocou as pernas sobre os ombros dele, puxando-o
um pouco para frente.
— Você está me distraindo — fitou o vértice entre as pernas dela,
coberto por um tecido delicado cor de rosa, cetim ou seda, não saberia dizer.
Balançou a cabeça e voltou a se concentrar no que fazia, aos pés dela.
— Você não parece distraído — Sofia sentia a respiração dele ali e
aquela brincadeira estava começando a ficar perigosa. — Na verdade, parece
muito concentrado.
— Acredite, estou me esforçando muito para isso — resmungou e
grunhiu aliviado quando conseguiu finalmente retirar os saltos dela. Ela
suspirou aliviada, mexendo os pés. Precisou apoiar as mãos no balcão e por
pouco não caiu quando Henrique, sem aviso, pressionou o rosto entre suas
pernas, puxando uma respiração profunda e lambendo-a lá, sobre o tecido.
Levantou-se depois, rindo quando viu o quanto ela estava vermelha e
alerta.
— Você não parece muito bem — provocou, sorrindo maroto. — Algo
errado?
— Isso não foi legal — reclamou, ainda em suspenso. Sentou-se ereta,
envolvendo-o com as pernas e puxando-o contra si, apertando-se contra ele,
tanto quanto sua barriga permitiu.
— Ah, acredite, eu sei como isso é.
— E o que você vai fazer a respeito?
— O que eu poderia fazer?
— Bom, você poderia começar ajoelhando-se de novo — sugeriu,
sorrindo.
— E depois? — ele também sorria, fazia tempo que não lidava com
uma Sofia tão descarada e provocante.
— Você sabe bem o que fazer — sussurrou, inclinando-se para trás.
Ele foi. Ajoelhou-se novamente entre as pernas dela e fez o que ela
queria, o que ele queria, até que ela restasse em cima do balcão, inteira
trêmula e gemendo gostoso para ele.
Lambeu os lábios e levantou-se, após ajeitar as roupas dela.
— Deseja algo a mais? — perguntou sorrindo contra os lábios dela.
Sofia balançou a cabeça dizendo que sim. Depois, parecendo lembrar-
se da sua condição, fez que não com um bico, mas não parecia muito triste
com aquilo. Seu corpo ainda tremia, ainda sentia os nervos em ebulição,
poderia contentar-se só com aquilo. Por enquanto. Linguinha boa, ele tinha.
Henrique afastou-se após beijá-la de novo, ele também querendo mais
coisas, ansioso por mais, mas ciente das limitações dela e de que prometera a
si mesmo não mais arriscar, brincar com a saúde dela. Por mais que ela ou
seu próprio corpo implorassem por libertação.
Estavam na cozinha da casa dele, para onde seguiram quando saíram do
bar. Não quiseram interromper os amigos que, surpreendentemente, se
agarravam na pista, como eles mesmo fizeram mais cedo. Henrique ainda
estava surpreso com o que viu. Claro que já notara os olhares do amigo para a
amiga de Sofia, mas Lorrany e Sebastian, aquilo realmente fora
surpreendente.
— O que você quer comer? — perguntou de costas para Sofia,
vasculhando o armário. Tentou calcular a quantas horas ela não comia e não
lembrou-se da última vez que a viu comer. Provavelmente, na casa dela,
pouco antes de Lorrany e sua banda de uma garota só chegar. Concluiu que
fazia mais do que três horas que ela não comia nada e xingou-se
mentalmente.
Precisava ficar atento. Precisava manter-se sempre alerta, vigilante.
Não poderia ser negligente, não com ela.
— Você sabe o que eu quero comer — só era difícil manter-se firme
quando ela o provocava daquele jeito. Virou-se para ela, pedindo com o olhar
para que o ajudasse, não dificultando as coisas mais do que elas já estavam.
Sofia sorriu e revirou os olhos. — Tudo bem. Qualquer coisa que você fizer,
estou morrendo de fome.
— Desculpe por isso — ele disse, ainda revirando os armários,
encontrando pouco mais que macarrão instantâneo e poeira. — Não notei
quanto tempo havia se passado desde que você comeu.
— O que você tem aí? Miojo? — perguntou sobre o ombro dele, ainda
sentada na bancada porque não conseguia descer sozinha, nem ver seus
próprios pés.
— Vou pedir alguma coisa. Você não pode comer só isso — disse,
pegando o celular do bolso do jeans e procurando na lista de contatos.
— Mas eu quero comer miojo — ela teimou.
— Sofia, você precisa se alimentar bem, não pode pular refeições e
miojo definitivamente não é uma refeição — ele disse, ainda mexendo no
celular.
— Mas Henrique...
— Vou ligar para um restaurante aqui perto e pedir o menu. Você pode
escolher o que quer comer.
— Quero comer miojo.
— Sofia... — ele tentou novamente, mas ela tomou o celular das suas
mãos. Henrique ergueu os olhos para ela.
— Eu quero comer miojo — repetiu séria, os olhos desviando-se dele
para o pacotinho que ela via dentro do armário. De onde estava conseguiu ler
"sabor picanha" e sentiu a boca salivar. — Miojo.
Henrique franziu o cenho, fitando-a confuso. Poderiam comer qualquer
coisa, certamente algo muito melhor e mais elaborado, mesmo assim ela
preferia o caralho do miojo. Fitou a expressão dela, a forma como os olhos
estavam úmidos e fixos às suas costas, a boca aberta e o corpo inquieto.
— O que você tem? — perguntou, preocupado, aproximando-se dela.
— Eu não sei — ela murmurou. — De repente senti essa coisa
estranha, um desejo, quase uma necessidade.
— Desejo? — Henrique se sobressaltou. Já havia escutado histórias
sobre desejos de grávidas, sua própria sogra já contara sobre alguns que
tivera e já o alertara sobre as crenças sobre isso. Aquele era o primeiro desejo
de Sofia, ele mal lembrava que grávidas têm dessas e se apressou para
atendê-la. Não queria que seu bebê nascesse com cara de qualquer coisa que
não o rosto de um bebê normal. — O que você quer, amor? É só dizer, eu
trago pra você.
As lágrimas escorreram pelo rosto dela e Henrique se desesperou.
Precisava que ela dissesse logo o que queria, não desejava atrasar-se mais e
correr riscos. Era do seu filho que estavam falando, ele precisava nascer
parecido com a mãe, ou com ele mesmo, não com a cara de uma barra de
chocolate ou algo do tipo.
— Vamos, amor, diga pra mim. O que você quer? Eu vou comprar pra
você e prometo que não demoro — pegou as mãos dela, ansioso e Sofia
sorriu só um pouquinho, ainda parecendo um pouco desnorteada.
— Não precisa comprar nada.
— Mas, Sofia, você está com desejo. Sua mãe disse que não podemos
ignorar desejos de grávida. Diga o que quer que eu...
— Eu quero miojo — interrompeu-o.
— Miojo? — perguntou confuso. — Esse é o seu desejo?
— É — Sofia balançou a cabeça várias vezes.
— Mas eu pensei que você queria algo mais... Sei lá, outra coisa. Não
sabia que grávidas desejam miojo.
— Não sei as outras, mas eu quero miojo. Você poderia...? — apontou
para a fonte do seu desejo e Henrique deu de ombros, enchendo uma panela
com água.
Sofia quase dava pulinhos sobre o balcão quando ele abriu o pacote.
Henrique riu com a animação dela. Pelo menos não precisaria sair de casa,
pensou rindo, despejando o macarrão na água. Não tinha muita paciência para
esperar os três minutinhos, então jogava tudo na água e esperava o milagre
acontecer, assim mesmo, de uma vez.
— Sabor picanha? — perguntou sorrindo malicioso e Sofia revirou os
olhos. Riu e estava se esticando para jogar a embalagem no lixo quando um
pequeno detalhe chamou sua atenção. A validade.
Aproximou o plástico dos olhos e xingou um palavrão.
— O que foi? Você não vai colocar isso no fogo?
— Está vencido — disse, virando-se para ela.
— O que?
— O miojo está vencido. Deve estar aí há muito tempo.
Sofia piscou, olhando para ele e depois para o macarrão boiando na
água.
— Não tem importância. Posso comer assim mesmo — disse, tentando
descer do balcão e fazer ela mesma a droga do miojo.
— É claro que não, Sofia. Você não pode comer isso — ele a impediu
de descer e pegou a panela. Jogou a água na pia e em seguida o macarrão no
lixo.
Sofia emitiu um gritinho agudo e por pouco ele não largou a panela no
ar. Virou-se para ela quando recebeu um chute nas costas, e arregalou os
olhos.
— O que você está fa...
— Por que você fez isso? Eu comeria assim mesmo!
— É lógico que não. Você poderia passar...
— E agora o que eu vou comer?
— Eu posso ligar para...
— Você jogou o meu miojo no lixo! No lixo! Como você pôde fazer
isso comigo? — perguntou chorosa e Henrique se apressou para a porta da
cozinha enquanto ela ainda gritava. Voltou pouco tempo depois vestindo a
jaqueta e balançando a chave da moto.
— Vou comprar o caralho do miojo! Não saia daí!
Ele não deu tempo para que ela concordasse e saiu em disparada,
batendo a porta atrás de si. Quando ele voltou, pouco tempo depois, trazia nas
mãos quatro enormes sacolas de mercado.
— Aproveitou para fazer a feira do mês? — Sofia perguntou, sentada
onde ele a deixou.
Ele fechou a porta com o pé e andou até onde ela estava. Colocou as
sacolas no chão e se desfez da jaqueta. Estava suado, vermelho e não perdeu
tempo. Pegou uma outra panela, encheu com água e colocou no fogo.
— Não sabia qual o sabor que você queria, então trouxe todos.
— Todos? — ela arregalou os olhos para aquela quantidade absurda de
macarrão instantâneo. — Mas eu não posso comer isso tudo agora, Henrique!
— Eu sei, não sou idiota, mas se você desejar mais de um ou dez,
temos tudo à mão — disse, retirando também a camisa, de frente para o
fogão.
Sofia riu com o exagero daquele homem. Mas também, o que ela
queria? Deixou o coitado assustado.
— Você é um homem muito esperto — elogiou, sorrindo, mas queria
na verdade comentar o quanto ele era exagerado. Ali havia macarrão
instantâneo suficiente para três pessoas comerem durante um mês inteiro.
— Eu sei — ele sorriu, deixando a panela de lado e se aproximando
dela. — Por que você não me esperou na sala? O sofá é mais confortável que
esse balcão frio.
Ela sorriu amarelo enquanto o abraçava.
— Não consigo descer — confessou envergonhada.
Henrique franziu o cenho e observou a distância dos pés dela no ar até
o chão. O balcão não era muito alto, mas Sofia era baixinha.
— E não consigo ver meus próprios pés, o que é degradante. Não quis
arriscar — continuou.
Henrique franziu ainda mais o cenho, dessa vez sentindo-se um idiota,
mas ela o interrompeu antes que ele se desculpasse outra vez.
— Já se passaram três minutos — disse. Ele voltou a preparar o jantar
dela, não sem antes pedir desculpas com os olhos.
Pouco tempo depois, após tomar um banho e vestir um dos moletons
enormes que ganhara dele, Sofia repousava no sofá, encostada no peito dele,
entre suas pernas, e com um prato enorme, o maior prato que havia na casa,
que mais parecia uma bacia, de miojo sobre o colo.
Ela comia como se não houvesse amanhã e Henrique sorria como um
idiota. Parecia que não comia há dias, tamanho o desejo que sentia. Pensou
que apenas um prato seria suficiente, mas ela comeu outro e estava indo para
o terceiro quando escutaram batidas na porta.
Sofia estava a caminho da cozinha, então aproveitando que já estava
em pé, seguiu até a porta e a abriu, curiosa para saber quem era aquela hora.
Ela arregalou os olhos ao dar de cara com Thaís, ainda vestida com as
roupas que escolhera para a noite, mas com a maquiagem borrada e marcas
de lágrimas no rosto.
Antes que tivesse tempo de perguntar o que acontecera, ouviram
quando um carro estacionou em frente a casa e esperaram para saber quem
era.
Lorrany desceu do táxi e pagou o motorista. Caminhou até onde as
amigas estavam e Sofia viu que por mais que ela tentasse esconder, também
havia chorado como Thaís.
O que diabos aconteceu com aquelas duas?, perguntou-se.
Suspirando, abriu a porta atrás de si e disse:
— Entrem, tem miojo para todo mundo.
CAPÍTULO 18
Amar e ser correspondido com certeza é uma das melhores sensações
do mundo. Reciprocidade. Henrique nunca havia se apaixonado daquela
maneira antes, e tudo naquele relacionamento eram para ele novidades ao
mesmo tempo que traziam una sensação de casa. Sensação de lar. Pertencer.
Querer bem, precisar estar perto, sentir-se estranho quando longe e
cada dia mais ansioso apenas por ouvir a voz dela: isso era estar apaixonado e
ele soube desde o início que era ela. Ela não era a escolhida. Ele não via
assim porque em momento algum pensou em escolher alguém.
Viver um dia por vez, pegar e não se apegar, beijar inúmeras bocas,
outras coisas e sequer ligar no dia seguinte era a sua rotina. Não tinha aversão
a relacionamentos, só não sentia que era o certo. Você não sabe como a vida
pode ser maravilhosa, como um relacionamento pode mudar as coisas, para
melhor na maioria das vezes, até que encontra a pessoa certa.
A sua pessoa, como diz Cristina Yang, uma das personagens de uma
das séries preferidas de Sofia e que ela o obrigou a assistir.
Ela era a sua pessoa e ele não conseguia imaginar como a vida poderia
ser melhor que aquilo. Mas seria.
Com a sua filha.
Sofia estava grávida de seis meses, não descobriram o sexo do bebê
antes porque em todas as ultrassons que fizeram ela sempre estava com as
perninhas fechadas. Decidiram não saber o sexo do bebê, conversaram sobre
aquilo, se aquele não era um sinal e não se importavam de fato com o sexo. O
importante era que nascesse com saúde, entretanto, no dia da consulta, assim
que a médica começou o exame, para a sua surpresa, finalmente o bebê
resolvera revelar-se para os pais.
Era uma menina. E criança mais amada que essa, mesmo antes de
nascer, não existia.
Virna estava em êxtase, já havia montado todo um enxoval, em
segredo, e agora montava um segundo, com a desculpa convincente de que
havia comprado apenas roupinhas de cores neutras e agora que sabiam o sexo
do bebê precisava comprar os complementos, como dizia.
O quarto de Sofia estava cheio de embalagens e sacolas lotadas de
tiarinhas, frufrus, lacinhos, sapatinhos e derivados fofos. Engraçado que
nenhuma daquelas peças fora ela que comprara, tudo obra de sua mãe
ansiosa, futura avó babona, e ela não viu necessidade de comprar mais. A
menina nem havia nascido ainda e tinha roupinhas suficientes para no
mínimo dois anos.
— As roupinhas se perdem logo, Sofia. Por isso que é preciso estar
preparada, bebês crescem rápido e eu sei bem disso. Não se preocupe, mamãe
cuida de tudo pra você — dizia Virna e saía em mais uma sessão de compras.
O pai de Sofia, que renegava até a morte quando a mulher o convocava
para suas intermináveis excursões ao shopping, ao saber que teria outra
menina em casa, ia, feliz, ao lado da esposa e montava ele mesmo seu próprio
enxoval.
Dizer que eram exagerados era pouco, mas Sofia não se importava,
Henrique tampouco. Deixavam que comprassem o quisessem, estavam
felizes com a chegada do bebê, como eles próprios.
Lorrany e Thaís prenunciavam as tias babonas que seriam e não
ficaram nada felizes ao não serem convidadas para as compras. Por isso
arrastaram Sofia para o shopping e deram início ao próprio enxoval.
Sofia, que sempre odiara fazer compras e perder horas à fio em
shoppings, se pegou sorrindo de orelha a orelha escolhendo roupinhas para a
filha. Macacões pequenininhos, lacinhos, mantas, fraldas coloridas e um sem
fim de outras coisinhas.
Engraçado que viu os dois homens enormes e tatuados na lojinha de
coisas de bebês e tão animada e emocionada estava selecionando roupinhas
minúsculas que não os reconheceu a princípio. Não demorou a acontecer,
todavia, porque ficou curiosa com a atenção exagerada que eles recebiam das
atendentes assanhadas da loja.
Não ficou chateada, nem poderia. Àquela altura, já estava acostumada
com as atenções e olhares que Henrique recebia, por onde quer que fosse. Era
um homem alto, o que por si só já chamava atenção. Junto com os músculos
impressionantes, as milhares de tatuagens e o cabelo comprido, ela entendia e
já esperava os olhares que viriam.
Com Sebastian era a mesma coisa, mas com ele ela não precisou
controlar o ciúme que sentia até que ele não mais existisse. Com Henrique
isso fora preciso e ela estava feliz consigo mesma. Não tinha crises de
ciúmes, não tanto quanto seria suposto, porque aquele homem é um absurdo
de tão gostoso, mas ela aprendeu a lidar com isso.
Era seu, tal como ela era dele. Estava tudo bem, quem quiser que olhe.
Só não podem encostar, porque ai já é demais até para ela.
Estava os observando de longe enquanto Lorrany e Thaís discutiam a
certa distância sobre quem seria a melhor tia. Sorria, boba, observando-
os avaliar macacões com olhares críticos, escolhendo cores e aceitando a
ajuda prestativa das atendentes.
Até que uma delas, a mais atrevida, decidiu ser prestativa até demais.
Aproximou-se mais do que seria suposto para uma conversa entre cliente e
funcionária e tocou o braço do seu homem.
Henrique não deu importância para o toque, nem olhou no rosto da
atrevida. Seguia erguendo peças na altura dos olhos, avaliando criterioso e
depositando o que queria em uma cestinha de tamanho médio quase cheia.
Sofia se aproximou devagar.
— Já visitou a nossa sessão de acessórios para bebês? — a mulher
perguntava, ainda com a mão no bíceps dele. — Temos tiaras, lacinhos, uma
grande variedade de enfeites para cabelo e até pequenas coroas.
— Coroas? — Henrique perguntou, parecendo indeciso sobre duas
peças. Um tinha babados delicados na gola e outro nas mangas. Sem
conseguir escolher, colocou as duas na cestinha, não sem antes dobrá-las com
cuidado. Sofia sorriu com aquilo.
— Sim, com pedrinhas delicadas que imitam joias e tudo mais. São
muito fofas. Posso levá-los até lá — ela apertou de leve a mão e Henrique
finalmente pareceu notar que ela o tocava. Fitou a mão da mulher, depois
fitou seu rosto e então olhou para seu cunhado, que sorria, desgraçado, sem
motivos. Henrique não percebeu Sofia às suas costas, mas Sebastian sim.
— E então? Posso levá-los até lá? — ergueu os olhinhos famintos para
o ruivo enorme e Sebastian abriu um sorriso para a mulher, dessa vez um
sorriso malicioso.
— Claro, querida. Pode nos levar onde quiser.
A mulher sorriu ainda mais, desviando os olhos de um para o outro,
tentando decidir-se a quem dedicaria mais sua atenção.
— Você é o pai do bebê? — perguntou para Sebastian, medindo-o de
alto a baixo, sem tentar ser discreta.
— Não — respondeu rindo, e se afastando um passo quando Sofia se
aproximou ainda mais, as bochechas vermelhas e os olhinhos azuis brilhando
de raiva. — Sou o tio.
— Então... — a mulher virou-se para Henrique. Subiu e desceu os
olhos pelo corpo dele, novamente sem discrição. Parecia ter se decidido e o
fato de que ele teria um filho e provavelmente fosse comprometido não
parecia impedi-la de cobiçá-lo.
— Eu sou o pai — disse, retirando delicadamente a mão da moça do
seu braço.
— E eu sou a mãe — Sofia disse sorrindo de orelha a orelha, a despeito
dos olhos estreitos e as bochechas vermelhas.
Henrique virou-se para ela, surpreso. Não havia culpa em seus olhos ou
um pedido mudo de desculpas porque ele não havia feito nada. Sofia não lhe
dedicou um segundo olhar e focou sua atenção na atendente cara-de-pau que
a fitava de olhos arregalados.
— Ele não entende nada sobre coisas de bebês, mas você pode me levar
até essa tal sessão — ainda sorria e sorriu ainda mais quando a mulher ficou
pálida a sua frente.
— Sofia... — Henrique tentou, ignorando as gargalhadas nada discretas
de Sebastian às suas costas.
— Vamos? — Sofia o ignorou e fez sinal para que a mulher seguisse na
frente. Ela demorou um pouco para recobrar o controle, mas fez o que a ruiva
pediu e seguiu a passos rápidos e de cabeça baixa.
Ao chegarem, a moça se pôs a enumerar as diversas opções e
diversificados acessórios, ansiosa para ser útil. Sofia ouviu calada, analisando
as pequenas e fofas coroas que a mulher havia mencionado.
— A senhora deseja uma cesta? — tentava ser solicita, mas Sofia não
lhe deu atenção.
Seguiu pela sessão, admirada e já imaginando a sua pequena com um
daqueles lacinhos fofos nos cabelinhos. Como ela seria? Com quem
pareceria? Com ela ou com o pai? Talvez uma mistura dos dois. Suspirou
baixinho imaginando uma linda menininha de olhos escuros como os dele e
seus traços marcantes em miniatura.
— A senhora deseja alguma coisa? Posso ajudá-la...
— Já ajuda o bastante não dando em cima do meu namorado.
A mulher abriu e fechou a boca, em silêncio.
— É feio cobiçar homens alheios. Ele pode não ter uma aliança no
dedo, mas você deveria ser mais esperta que isso.
— Mas...
— Não preciso nem quero a sua ajuda. Chame uma das outras
funcionárias da loja, de preferência uma que não seja tão descarada como
você.
A mulher não saiu de imediato, demorou alguns segundos fitando-a
primeiro surpresa, depois assustada e por último com ódio. Sofia não se
importou, continuou observando algumas peças que chamaram sua atenção.
Ouviu quando a mulher saiu, pisando duro no chão, como uma criança
faria e sorriu. Henrique estava ao seu lado logo depois, observando-a com
cuidado.
Aos seis meses, Sofia pouco enjoava e eram raros os desejos, mas suas
mudanças de humor ainda eram constantes, embora ela tentasse controlar.
Nunca sabia dizer o que ela faria a seguir, se cairia no choro ou faria com que
ele chorasse. Ela poderia ser malvada quando queria, ele sabia bem, e por
isso mesmo a amava cada dia mais.
— Você está bem? — perguntou, lhe entregando um copo de água.
Sofia não estava com sede, mas entendeu que provavelmente ele estava
preocupado, como sempre, com o seu bem-estar e aceitou o copo que ele lhe
oferecia.
— Estou ótima — disse, pegando uma das coroas. — Veja. Isso não é
lindo?
— Sim. Não está chateada?
— Não. O que acha desse lacinho? Grande demais? Talvez seja, mas é
tão lindo — murmurou encantada, segurando um lacinho enorme, cheio de
pedrinhas e detalhes em renda.
— Isso é enorme, provavelmente maior que a cabeça dela quando
nascer. — respondeu, virando-a para si. — Mas se você quiser comprar
mesmo assim, nós levamos.
— Eu quero.
— Então tudo bem — acariciou suas costas, abraçando-a devagar.
Desceu uma das mãos para a barriga dela, inconsciente. Fazia aquilo sempre,
parecia incapaz de se controlar e Sofia gostava do seu toque. — Tem certeza
que não está chateada?
— Tenho — colocou a mão sobre a dele, sorrindo. — Quer dizer,
fiquei chateada, mas com aquela atrevida, não com você. Já passou.
Gostava quando ele tocava sua barriga porque a bebê sempre chutava.
Talvez reconhecendo a voz dele ou porque sentia o quanto a mãe ficava feliz
e calma ao lado dele.
Seria uma menina tranquila, Sofia previa. Era muito calma, quase
nunca chutava. Exceto quando Henrique estava perto, então Sofia as vezes
chegava a sentir até certo incômodo quando o espaço dentro de si parecia
pequeno demais para as manobras que o bebê fazia. E sempre sorria, ainda
que sem ar, ou que não conseguisse dormir direito, mas sorria. Porque
finalmente, finalmente tudo parecia estar bem.
Seu bebê estava bem. A gravidez seguia em frente, sem grandes alardes
com o passar do tempo, mas nunca relaxou com sua própria saúde. Não
queria novas surpresas ou sustos e estes já há algum tempo não aconteciam.
Estava tudo bem. Estavam bem, mãe, bebê e o futuro papai, também.
Eram uma família, ainda pequena e talvez um pouco desorganizada, louca as
vezes, mas ainda assim uma linda e feliz família. E isso era tudo que
importava.
Por isso, poucos dias depois, se mudou para a casa dele. Precisavam ter
um espaço para sua pequena e também precisavam de um espaço que fosse só
deles. Queriam privacidade, queriam um lugar para aportar, chamar de seu e
esperar o nascimento do bebê, ansiosos, como todos os casais fazem.
Foi difícil dizer adeus ao seu quarto, sua casa, seus pais e irmão, mas
Sofia precisava seguir com a sua própria vida. Agora seria mãe, em poucos
meses a menina nasceria e ela precisava agir. Haviam quatro quartos na casa
que Henrique dividia com os amigos e um deles fora separado para o bebê.
Aos poucos eles montavam o quartinho. A princípio, eles decidiram ir
devagar, comprar só o essencial, porque não pretendiam passar muito tempo
ali. Queriam uma casa, estavam procurando por uma, mas a procura pela casa
perfeita poderia levar tempo demais e a menina não esperaria todo esse
tempo.
Faltavam poucos meses para o seu nascimento, não teriam tempo de
encontrar a casa dos sonhos, montá-la como queriam e se mudarem a tempo.
Por isso permaneceriam ali até pouco tempo depois do parto, quando
supunham que já teriam tudo pronto.
Não demorou a se acostumar com a casa dele ou chamar aquele lugar
de seu. Estavam felizes sendo os três, mesmo que dividissem a casa com
outras pessoas.
Diego não se importou com as mudanças na casa que até em tão era
para ele como o seu covil. Estava feliz pelo amigo e por Sofia, também.
Gostava dela, era uma boa garota, amava seu amigo e teriam um bebê.
Ele teria se mudado para outra casa, talvez um apartamento pequeno,
porque ele não aguentava mais ter que lidar com a limpeza e manutenção de
uma casa daquele tamanho sozinho. Porém Henrique o colocara a par dos
seus planos, o casal não permaneceria ali por muito tempo e ele preferiu ficar.
Também fora alertado que bebês recém-nascidos quase não dormem,
mas ele apenas sorriu para Sofia quando ela lhe disse isso. Tinha irmãos
menores e adorava crianças, não criaria caso por besteira e confessava estar
ansioso pela chegada da menina.
Sofia estava feliz. Acordava e dormia nos braços do seu homem,
sentindo-se amada, amando em iguais medidas e estava em paz.
Até Vinícius voltar para casa, após meses sem aparecer ou dar notícias.
Então ela precisou rever os seus conceitos porque, em poucos dias, tudo que
aquele lugar não representaria para ela seria um lar.
CAPÍTULO 19
Aos 21, quase 22 anos, jovem, muito jovem ainda, descobrindo o
mundo e suas surpresas, Sofia já havia passado por poucas e boas.
Primeiro, crescer ao lado do seu irmão não fora nada fácil. Claro que o
amava, ele era a sua melhor parte, sua metade, mais que irmãos de sangue,
eram irmãos de alma. Se é verdade que esse negócio de alma gêmea existe,
então Sebastian é a sua. Ninguém a conhece melhor que ele, ninguém a
compreende melhor, nem mesmo seus pais.
Mas, além de todo amor que sentiam um pelo outro, também havia as
partes ruins. Como descobrir, após anos, que o fato de não ter namorado
como sempre desejara, de não ter conhecido garotos como queria, de não ter
beijado quando quis e só quando teve coragem de tomar a iniciativa, de não
ser convidada para sair, de se divertir com garotos, tudo isso fora culpa das
intervenções dele.
Não tinha raiva dele, é claro. Sabia que ele fizera toda essa idiotice de
afastar seus potenciais pretendes por julgar que era o certo, seu papel de
irmão. Não o culpava, contudo, embora por um momento quase tenha pulado
no seu pescoço.
Não era culpa de Sena o fato de ela ser tímida, de ser insegura, de ter
esperado que o garoto perfeito um dia surgisse montado em um cavalo
branco, brandindo uma espada para os céus e pronto para amá-la. Pode ter
demorado um pouco, anos para ser precisa, mas toda espera valera a pena,
porque o seu cavaleiro, atrasadíssimo, um dia chegou.
Ela só não esperava que ele surgisse não montado em um cavalo como
supôs, e sim em uma Harley Davidson preta e enorme, com os cabelos
compridos ao vento, braços musculosos e tatuados a mostra, gostoso até dizer
chega. Cavaleiro melhor que aquele não tinha.
Então, não culpava o irmão por sua interferência idiota. Na verdade,
depois de muito pensar, talvez até o agradecesse. Nunca em voz alta, é claro,
porque o idiota não precisava de mais estímulos para se meter na sua vida,
mas o agradecia em pensamento. Talvez, se ele tão tivesse se metido na sua
vida como fez, afastando garotos, ditando ordens imbecis, talvez ela não
tivesse resolvido que seria melhor esperar. Esperar o garoto que a faria se
sentir única, perfeita como era mesmo com suas imperfeições, que a faria
sentir-se amada, como sempre quis.
Apaixonar-se por Henrique fora uma surpresa porque, embora
acreditasse em amor a primeira vista, como a leitora devota de Júlia Quinn e
Lisa Kleypas que era, em nenhum momento pensara que aquilo poderia
acontecer com ela.
Ele a cativou no primeiro olhar, metros de distância. Era um sexta-
feira, finzinho do mês de junho, poucos dias antes das férias. Lembra que
naquele dia acordou mais atrasada que de costume. Lembra que vestiu a
primeira roupa que encontrou, que depois daquele dia passou a ser uma das
favoritas de Henrique.
— Você não imagina o que aquele moletom fez comigo — ele disse
certa vez. — Parecia uma segunda pele, quase da mesma cor da sua, o que, de
longe, fazia parecer que você estava nua. Eu fiquei louco com aquele bando
de idiota que não tirava os olhos do seu corpo.
Ela nunca havia notado os olhares que recebia. Ou, talvez, sim, mas os
julgasse depreciativos. Lembra, rindo consigo mesmo, do tempo que julgou
ser invisível.
Talvez, ela reflete sozinha, talvez em algum momento ela tenha
escolhido ser invisível. Talvez tenha escolhido passar despercebida, tenha
preferido não notar os olhares que a seguiam. Ressentia-se em alguns
momentos, é claro que sim, porque por melhor que você esteja, por melhor
que se sinta, as pessoas, com seus olhares indiscretos, parecem ter o dom de
derrubar todas as suas barreiras e fazer com que você se sinta ínfimo.
Ninguém. Um zero a esquerda.
Envolver-se com Henrique foi fácil. Apaixonar-se também. Difícil de
entender, com seu histórico depreciativo, foi o fato de ser amada em igual
medida.
Agora, grávida aos 21, faltando poucos meses para sua filha nascer,
uma faculdade pela metade, uma doença gestacional parcialmente sob
controle e morando com o namorado, agora, só agora, parece que ela
começou a viver.
É preciso um grande acontecimento para que de repente as pessoas
passem a enxergar a vida como de fato ela é. Passem a ver o mundo como
mundo, sem lentes que deturpam a visão, sem viseiras que cegam. Sua visão
de mundo agora é outra. Seus sonhos são os mesmos, novos sonhos entraram
para a lista e compartilhá-los com alguém era o melhor de tudo.
Engravidar tão jovem nunca passara pela sua cabeça e ela descobria, a
cada dia, dia após dia, um pouco mais sobre si mesma e descobria-se como
mãe.
Não tem um ser humano no mundo, ao menos não um que ela conheça,
que veja uma grávida como uma pessoa normal. Pessoas transam, mulheres
engravidam, engordam, incham, se tornam mais sensíveis, sentem dores, a
barriga cresce até que não se possa ver os próprios pés e, mesmo donas do
seu próprio corpo e vida, parece que perdem boa parte da autonomia e
controle sobre o próprio corpo. Ao menos, é o que as pessoas veem.
Basta que a encontrem na rua ou em qualquer outro lugar que começam
as recomendações e o "grávida não pode isso e aquilo". Parece que a barriga
redondinha que ela ostenta como um estandarte com orgulho é o sinal verde
para que as pessoas interfiram na sua vida.
Grávidas precisam descansar. Grávidas não podem comer demais ou
depois que o bebê nascer vão continuar gordas. Grávidas precisam ser
vigiadas. Não podem usar salto alto. Não podem dormir demais. Não podem
fazer exercício, embora agora isso esteja na moda. Não podem ter controle
sob o próprio corpo. Grávidas necessitam de conselhos. Grávidas não são
mais donas de si. Grávidas precisam aprender a ouvir. Repete.
É como se de repente a mulher grávida fosse vista como algo pequeno,
como algo ínfimo, um quase nada que precisa ser moldado de acordo com as
crenças e achares dos outros.
Sofia se tornou craque na arte do "a vida é minha", "meu corpo, minhas
regras e, adivinhe, a filha também é minha", "não se meta". Para uma Sofia
que até poucos meses atrás se escondia ao menor sinal de confusões e
procurava evitar conflitos, aquele era um avanço e tanto.
Os parentes eram os piores de todos. Primos, primas, tios e tias
espalhados pelo país que, ao saberem que a garota prodígio, a mais
comportada e estudiosa de todas, estava grávida, brotavam aos bandos na
porta da casa da sua mãe e montavam fila para discursar sobre A Vida de
uma Mulher Grávida, volumes infinitos.
Enquanto isso, enquanto as mulheres precisam lutar pelos direitos sobre
o próprio corpo, os homens continuam iguais.
Ela estava gorda, inchada, andava devagar porque não via os próprios
pés, não sentia dores, o que era um alívio, mas gerar uma vida dentro de si
cansa. O bebê se alimenta do que a mãe se alimenta, sente o que a mãe sente,
se alimenta da sua energia e cresce a cada dia. Isso é exaustivo.
Trabalhar por dois, dormir e comer por dois. E chorar por dez, porque
mesmo aos quase sete meses, suas mudanças de humor ainda eram
constantes.
Contudo, Henrique continuava o mesmo. Gostoso até dizer chega,
músculos impressionantes espalhados pelo corpo, quase dois metros de pura
tentação, os cabelos passando da altura dos ombros, as tatuagens que ela não
cansa de tentar tirar na língua, piercing no nariz, agora também nos mamilos
e uma voz grossa que a têm revirando os olhinhos em dois segundos.
E tem gente que diga que mulher grávida não sente tesão. Que mulher
quando grávida não transa, não tem libido. Ou, quando têm, é só por um
tempo. Uma fase em que o desejo é demais para resistir e uma fome
insaciável se abate sobre seu corpo. Mas, ainda assim uma fase.
Ela não saberia contestar essa crença porque, levando em conta o
homem que tem, não sabe se sua libido um dia foi normal. O desejou desde a
primeira vez que o viu e esse desejo só aumentou com o tempo, após
entregar-se para ele pela primeira vez.
Não poderia realizar seus desejos como gostaria, o que era uma pena.
Dormir e acordar nos braços daquele homem eram a melhor coisa do mundo.
Queria atacá-lo sempre que o observava dormir como um anjo, uma
expressão tranquila no rosto, de paz e outra coisa. Mas isso não era tudo, ela
queria atacá-lo em todos os outros momentos do dia também. Henrique
sentava no balcão da cozinha para comer e de repente ela estava salivando.
Ele descia até a garagem para consertar uma coisa qualquer na moto e quando
via ela estava com água na boca, observando os contornos que os riscos
negros faziam na sua pele.
Tudo bem que transa não se resume a penetração, mas ela sentia falta
de senti-lo dentro de si. Eram mestres na arte do "quem tem boca e dedos tem
tudo", mas só isso não era o suficiente. Mas teria que ser, porque enquanto
estivesse grávida, enquanto não estivesse apta ou liberada pela médica,
continuaria resistindo. Não colocaria a vida da filha em risco outra vez. Não
por tesão, nem por qualquer outra coisa.
Até lá, ela reflete enquanto o observa dormir mais uma vez. É uma
mania sua acordar mais cedo que ele e fitar seu rosto adormecido pelo pouco
tempo que ele leva até acordar, sempre sorrindo, porque já se acostumou a ter
os olhinhos dela sobre si.
Até lá, até tudo se resolver, ela pode aguentar. Embora seja uma das
coisas mais difíceis que já fez na vida.
Mas vai valer a pena.
•••
Em uma semana as coisas podem mudar da água para o vinho.
Faziam sete dias que saíra de casa e, embora aquela fosse uma grande
novidade e novidades sempre causam estranhamento no começo, ela sentia-se
em casa.
Não havia constrangimento porque se amavam, estavam juntos, teriam
uma filha e aquilo só parecia certo. Era o certo a se fazer. Seriam pais, uma
família, precisavam ter o seu próprio espaço, ter privacidade, um local para
aportar e sentir-se em paz.
E, o mais importante para Sofia: um lugar onde pudesse gemer em paz.
Logo virou rotina dormir e acordarem juntos, tomarem café da manhã
na cama, a bandeja que ele montava assim que acordava sobre as pernas, o
cheirinho de café pela casa, o dia que amanhecia, o silêncio da casa e os dois
namorandinho sobre a cama até que o sono a pegasse e ela dormisse,
satisfeita. Henrique dormia ao seu lado porque não resistia ao desejo de senti-
la mais um pouquinho, quentinha e confortável contra seu corpo.
Acordavam quase na hora do almoço e, após uma sessão de amasso na
cama e no banheiro, cozinhavam juntos. Sofia aprendera com a mãe desde
cedo a cozinhar e Henrique, um homem, pasmem, conseguia a façanha de
cozinhar melhor que ela.
Eles sempre se divertiam nesses momentos e, com a faculdade trancada
até que o bebê nascesse, Sofia estava feliz. Recebia a visita da mãe quase
todos os dias, chorosa por não ter a filhotinha sobre as asas e com saudades.
A visitava todos os dias, depois do almoço porque ela mesma afirmava não
ter semancol e não se importava de interromper o casal.
— Guardem as saliências para a noite. Preciso ver a minha filha e neta,
então por favor — e fazia um sinal com a mão que Sofia entendia como "me
poupe".
— Ela ainda nem nasceu, mãe.
— Não interessa. Ela pode ouvir a voz da vovó e já se acostumar
comigo porque, minha filha, se você não cuidar bem da minha neta, tomo ela
de você — dizia em parte verdade e parte brincadeira. E de fato acomodava
Sofia no grande sofá da sala, deitada e, ajoelhada perto da sua barriga,
conversava com a neta por minutos à fio e sobre nada de importante.
Sofia já estava acostumada e sorria, descansando as costas um pouco,
relaxando enquanto ouvia a mãe contar para sua barriga o quanto o vovô
estava chato naquele dia. Henrique fazia o mesmo, sempre ao acordar e antes
de dormir. Não falava tanto quanto sua mãe, mas dizia o mais importante:
— Papai ama você tanto quanto ama a mamãe. Continue crescendo e se
exercitando ai dentro, só não chute muito forte porque isso pode machucar a
mamãe — e alisava a pele esticada de sua barriga, sentindo a bebê chutar, os
olhos fixos na altura do seu umbigo. — Isso, assim. Devagar. Papai também
ama você.
Ela costumava conversar com sua barriga também. No banho, antes de
dormir, ao acordar, quando estava sozinha. Logo virou uma mania e ela mal
percebia que se expressava em voz alta até que alguém a interrompesse.
Estava na cozinha tentando preparar algo decente para o almoço
enquanto Henrique havia ido ao mercado. Relembrava o dia que o conheceu e
ria sozinha.
— Então, depois que a mamãe viu que aquele moço bonito também
estava olhando para ela, ela fingiu que não tinha percebido e tentou focar em
outra coisa — contava e ria sozinha, coitada. Pegou a tábua de madeira sobre
a pia e começou a picar os temperos que usaria. — O papai chegou perto da
mamãe bem devagarinho, sem que ela percebesse e sentou ao lado dela. Você
vai saber disso um dia, mas meninas precisam se impor para os meninos,
porque alguns deles, não o seu pai, graças a Deus, alguns deles pensam que
são os reis do mundo.
Derrubou a faca no chão, desastrada e não conseguiu se abaixar para
pegá-la porque sua barriga não permitia. Afastou-a para um cantinho com o
calcanhar do pé descalço e procurou outra no suporte da pia.
— Mas, voltando a história: a mamãe gostou do papai logo de cara,
assim que o viu. O papai diz que sentiu o mesmo e vamos fingir que
acreditamos nele. Ele chamou a mamãe para sair e poucos dias depois, acho
que fizemos você.
Sorriu, sozinha, relembrando o mar de flores azuis que havia se tornado
o quarto dele naquela noite, a luz das velas perfumadas, o carinho e o desejo
nos olhos dele.
— Então a mamãe se apaixonou pelo papai. Ele também e, aqui
estamos hoje — suspirou, parando de trabalhar com a faca para suspirar de
novo. Acordara um pouco mais sentimental naquele dia e podia sentir a
vontade de chorar se aproximando. — Estamos felizes por ter você agora,
estamos feliz que todo esse amor tenha resultado em algo tão lindo, mesmo
que tudo tenha começado com uma imbecil...
— Aposta — concluiu uma voz masculina que não era a de Henrique.
Sofia se sobressaltou, largando a faca no ar. Ela caiu a poucos
centímetros de distância dos seus pés. Virou-se de olhos arregalados na
direção de onde a voz vinha.
— E, para quem sabe que foi enganada por todo aquele tempo, você
parece muito feliz — disse Vinícius, avaliando-a dos pés a cabeça. — Pena
ter que atrapalhar toda essa felicidade — sorriu. E aquele sorriso, maldoso,
malicioso e obscuro parecia predizer os dias que viriam.
CAPÍTULO 20
— Você não vai desmaiar, vai? — ele perguntou, fingindo um tom
preocupado.
Sofia não sabia o que Vinícius fazia ali. Quer dizer, aquela casa
também era dele, mas há meses que ele não aparecia e, quando sim, eram
aparições rápidas para pegar mochilas com roupas e outras coisas.
Não gostava dele. Nunca gostou. Havia algo nele que ela notou desde
que o viu pela primeira vez que não parecia bem. Ele era sombrio, fazia
piadas e sorria com frequência, mas não eram sorrisos felizes e havia algo
nele como um todo que a deixava inquieta.
Embora ela sempre tentasse ser simpática, afinal ele era amigo de
Henrique, Vinícius nunca tentou o mesmo. Nunca fez questão de disfarçar o
desagrado na sua expressão sempre que se viam.
Antes de descobrir sobre aquela aposta imbecil, ele sempre sorria
quando a via, sempre um sorriso desdenhoso de quem sabia algo que ela não.
De fato, era esse o caso. Henrique havia contado toda a história da aposta,
quem sugeriu o que, os termos, as piadinhas e brincadeiras, e, segundo ele, a
ideia toda partira de Vinícius. E Arianna, mas isso não vinha ao caso.
Após todo o alvoroço da descoberta seguido do acidente, a gravidez e a
reconciliação do casal, ele passou a não mais disfarçar que não gostava dela.
Nunca na frente de Henrique, eram sempre encontros rápidos, nos corredores
da universidade ou ali naquela casa. Nunca fora preciso palavras para que ela
entendesse que, se dependesse dele, ela e Henrique nunca teriam ficado
juntos.
Vinícius sorria no batente da porta e desceu os olhos vagarosamente
pelo corpo dela. Sofia vestia uma das camisas enormes de Henrique que,
mesmo com a barriga pronunciada, a cobria até metade das coxas.
— Parece que por aqui tudo vai bem — soprou sorrindo, ainda com os
olhos que subiam e desciam por seu corpo. Sofia remexeu-se, inquieta,
sentindo-se nua. Resistiu ao impulso de puxar a camisa mais para baixo, não
daria essa satisfação a ele.
Como não respondeu nem fez qualquer movimento, ele continuou:
— Você fica bem com essa camisa — caminhou devagar até o balcão
onde ela estava e sentou-se em um dos banquinhos altos, de frente para ela.
— Henrique está em casa?
Ela balançou a cabeça, dizendo que não. Respirou fundo uma vez e
tentou relaxar. Ele não gostava dela, ela não gostava dele, não havia
problema nisso. Ele não faria nada que a machucasse, repetiu mentalmente,
mesmo que algum alerta interior a implorasse para que saísse dali o mais
rápido possível.
Já sentira aquilo uma vez, quando descobriu toda a armação de Vanessa
e Brian, a ex-namorada grávida e o e-melhor amigo de Sebastian. Aquilo
parecia ter acontecido séculos atrás, mas aquela sensação, aquele tremor pelo
corpo, aquele pressentimento ruim, ela já sentira antes. E não acabara bem.
Vanessa morrera ao cair da escada na casa da sua mãe. Ela estava
grávida de poucos meses. Todos acreditavam que o filho era de Sebastian,
exceto Sofia. E fora ela que descobrira a armação. Fora presa a uma cadeira,
grávida sem saber e ameaçada por Vanessa e Brian, o verdadeiro pai do bebê.
Vanessa morreu, Brian cumpria uma pena leve por conspiração, cárcere
privado e agressão. Fora difícil, após aquele dia, voltar a sua rotina, mas ela
conseguira. Chorara todas as noites antes de dormir por semanas, sempre
abraçada com o irmão que também precisava de conforto naquele momento
ou nos braços de Henrique.
Desde que ela e Henrique reataram o relacionamento Vinícius passou a
ficar menos tempo em casa. Quase não aparecia, por isso Henrique nem
sequer cogitou a ideia de perguntar ao amigo, como fizera com Diego, se
estava tudo bem Sofia morar com ele por um tempo.
Ela não sabia se ele tinha conhecimento daquilo e preferiu ficar calada
e aguardar até Henrique voltar. Suas pernas tremiam por trás do balcão e ela
não arriscaria subir a escada até o seu quarto enquanto elas não estivessem
estáveis.
— O que você está fazendo aqui a essa hora?
— Henrique foi ao mercado. Já deve estar voltando — sua voz saiu
firme, a despeito dos tremores que sentia.
— O que você faz aqui a essa hora? — ele repetiu, parecendo aos
poucos perder a paciência.
— O almoço — não queria responder a verdade, sentia que seria
melhor que ele conversasse com Henrique, que ele o contasse sobre o novo
arranjo, sobre as mudanças naquela casa.
Ela não queria contato com ele e rezou baixinho para que daquela vez
ele sumisse e demorasse ainda mais para voltar. Ou fosse embora de uma vez.
— Veio buscar mais roupas? — perguntou tentando manter uma
conversa tranquila, ganhando tempo.
— Sim. Por que o interesse? — ele se inclinou pra trás na cadeira,
avaliando-a com atenção.
— Por nada.
Respirou fundo uma vez. E outra. E uma terceira vez. Quando sentiu-se
mais calma, conseguiu pensar com clareza.
Não era uma mocinha indefesa. E Vinícius não seria louco de tentar
qualquer coisa contra ela. Por que todo esse temor, então? Que besteira,
recriminou-se. Talvez fossem os hormônios.
Ela desviou os olhos para o fogão quando lembrou-se do molho que
estava reduzindo. Pegou uma colher de madeira no suporte sobre a pia e
mexeu lentamente o líquido que fervia tentando calcular a quanto tempo
Henrique saíra e quanto tempo levaria para voltar.
Ele não costumava demorar, não gostava de deixá-la sozinha em casa,
mas ela havia dito que ele relaxasse, não precisava se apressar, ela ficaria
bem. E teria ficado, não fosse aquela visita infeliz.
Buscou sobre o balcão os ingredientes que havia separado para o molho
e prosseguiu seguindo sua receita, sem desviar os olhos do que fazia, mas
atenta a qualquer movimento às suas costas.
Havia decidido preparar uma lasanha, mas não qualquer uma. Todo
mundo sabe fazer lasanha, é simples, fácil até, mas naquele dia era queria
algo diferente. Por isso pesquisou na internet por lasanhas diferentes e
encontrou uma perfeita. Ela não tinha certeza se conseguiria atingir seu
objetivo, deixar a massa parecida com a ornamentada e muito bonita da foto,
mas valia a pena tentar.
Seguiu com os preparos, retirando a massa que ela mesma preparou
com um pouco de dificuldade do escorredor e buscou nos armários um
refratário para que pudesse começar a montagem.
A cozinha da casa de Henrique era enorme, mas prática. Maior que a da
sua antiga casa, mais moderna inclusive, mas quase nunca usada. Henrique
não gostava de cozinhar só para si mesmo, Diego, segundo o próprio Diego,
não sabia nem ao menos como ligar o fogão, e apenas naqueles dias que ela
realmente foi usada.
Encontrou o que procurava, mas o recipiente de vidro estava no
armário sobre a pia, na prateleira mais alta. Esticou-se toda, sentindo a coluna
que não é mais a mesma há meses reclamar, ficou nas pontas dos pés e
mesmo assim não conseguiu alcançar nem mesmo a prateleira mais baixa.
— Precisa de ajuda? — ela ouviu a cadeira que ele estava sentado ser
arrastada pelo piso.
— Não.
Ele se aproximou mesmo assim e Sofia retrocedeu alguns passos,
afastando-se. Disfarçou o tremor das suas mãos voltando a mexer no molho,
ignorando o fato de que ele já estava pronto e que não precisava mais ser
vigiado.
— Aqui — ele alcançou o refratário sem dificuldade, erguendo o braço
só um pouquinho e o depositou sobre o balcão.
— Obrigada — esperou que ele voltasse para a cadeira, mas Vinícius
sorriu e se encostou no fogão, próximo demais de onde ela estava.
Ela virou-se para a bancada, querendo dar mais um passo para o lado e
se afastar dele, mas não o daria essa satisfação.
Vinícius sorria, observando enquanto ela pegava uma terceira faca do
suporte e, apertando-a com força, voltou-se novamente para o balcão.
— Então. Dessa vez é pra valer?
Ela respirou fundo, prestando atenção no que fazia para não se cortar.
— O que é pra valer?
— Você e Henrique. E esse moleque — apontou para sua barriga com
o queixo. Sofia resistiu a vontade de corrigi-lo e de estapeá-lo por chamar o
seu bebê daquela maneira. Apenas acenou com a cabeça, fechando a mão
com força ao redor do punho da faca. — Você é mais ingênua do que eu
pensava.
Não esperava que ele dissesse aquilo e por pouco não cortou o dedo
com a faca amolada.
— O que?
— Vamos lá, Sofia. Todo mundo na universidade sabe da história da
aposta. Sei que você é ingênua, mas não imaginei que também fosse burra —
riu baixinho.
Ignorando o temor que ainda sentia, Sofia focou na raiva e virou-se
para ele, ignorando o que fazia.
— Você não me conhece — murmurou com a voz baixa, trêmula de
raiva e outra coisa.
— Nem preciso, está praticamente escrito na sua cara. Caiu naquela
história do garoto novo interessado, depois apaixonado, e mesmo após que
descobriu tudo, veja só onde você está; na cozinha da casa do homem que a
enganou por meses, que riu pelas suas costas, e o pior de tudo é que você
ainda parece feliz com isso.
— Você não sabe o que está dizendo. Henrique não...
— Ah, pelo contrário. Eu sei muito bem o que estou dizendo porque eu
estava lá. Eu vi você caindo na lábia dele, vi você fazendo papel de otária na
frente de todo mundo, mas, aparentemente, você está muito desesperada ou é
muita cega pra perceber que tudo ainda não passa de um jogo.
— Quem é você para falar no meu nome ou no nome de Henrique?
Você não me conhece e, aparentemente, nem ao seu amigo. Henrique não é
esse homem que você diz, ele poderia até ter aceitado essa merda de aposta, o
que eu não acredito que tenha acontecido, e mesmo assim, mesmo que eu
acredite nele ou não, isso não é da sua conta.
Vinícius jogou a cabeça para trás e riu, debochado.
— Você tem uma boca esperta. Tenho que dar o braço a torcer, parece
mesmo muito apaixonada e acredito que você o ama. Mas como pode ser tão
idiota? Acredita mesmo nele? Acredita mesmo que ele não a continua
enganando?
— Novamente, não que seja da sua conta, acredito, sim. Qual o seu
problema com isso? — ela sentia o corpo inteiro tremer, dos pés a cabeça.
Provavelmente estava vermelha, sentia o suor escorrer por sua nuca, a mão
que segurava a faca estava escorregadia, mas ela não desviou os olhos dele.
Sofia odiava confusões. Odiava discussões, mas não deixaria aquele
homem falar mal de Henrique ou dela mesma.
— Por que você não vê? — ele sussurrou, também vermelho, os olhos
focados nela como se tentasse compreendê-la. — É tudo um jogo, Sofia, você
precisar acordar para a vida. Isso aqui não é um conto de fadas e muito
menos terá um final feliz.
— Você não sabe o que está dizendo. Não tem nem mesmo o direito de
falar assim comigo e muito menos querer interferir no que eu faço ou não da
minha vida. Quem é você para querer se meter no meu relacionamento?
— Ele só queria comer você, pelo amor de Deus! — ele quase gritou,
aproximando-se um passo. Sofia recuou automaticamente.
— E mesmo se fosse esse o caso, e daí? Não é da sua maldita conta!
Vinícius se aproximou mais um passo e Sofia recuou novamente.
Sentiu uma fisgada no pé esquerdo, mas tão irritada estava que não percebeu
quando a primeira faca que havia derrubado cortou sua pele, cravando-se na
sua carne.
— Vou fazer você perceber a verdade. Como pode ser tão estúpida?
Está assim tão desesperada por rola? Pelo amor de Deus, você pode até ser
idiota, mas é gostosa. Não deve ser tão difícil encontrar alguém que a
satisfaça.
— Saia daqui — ela não gritou, embora quisesse muito. Sua garganta
parecia comprimida, seu pulso estava acelerado e só naquele momento ela
lembrou que não podia se alterar.
— Você é muito engraçada — ele ria, debochado. — Quer me expulsar
da minha própria casa? Quem você pensa que é? Que direito você tem?
— Eu moro aqui — cuspiu as palavras, firmando as pernas, erguendo o
queixo.
Vinícius cerrou os olhos.
— Henrique não tinha esse direito. Essa casa é tão minha quanto dele
— falou entredentes, mas pareceu pensar melhor e logo sorria outra vez.
Afastou-se do fogão e lançou um longo olhar por todo seu corpo novamente,
demorando-se um pouco em algum ponto abaixo. Seu sorriso aumentou. —
Na verdade, esqueça o que disse. Você pode ficar.
— Não preciso da sua permissão para nada — cuspiu, com raiva.
Ele riu.
— Os próximos dias serão interessantes — murmurou para si mesmo,
ainda rindo e começou a se dirigir para a saída da cozinha. Parou no umbral
da porta e virou-se novamente para ela. — Decidi que vou passar uns dias em
casa, caso esteja interessada. Ando sentindo falta dos meus amigos, entende?
— ela não respondeu, mas ele não esperava que ela dissesse nada. Seguiu
andando calmamente até a sala de jantar e falou por sobre o ombro — Preciso
adicionar "estabanada" na sua lista de adjetivos. Limpe a cozinha. Odeio
manchas de sangue no meu piso.
Sofia não desviou os olhos do caminho que ele fez até que ouviu o som
de um carro saindo. Apoiou as mãos na bancada, inteira trêmula e olhou para
os próprios pés. Não pode vê-los por causa da barriga, mas a mancha
vermelha e espessa no piso branco era visível e se espalhava cada vez mais
ao seu redor.
CAPÍTULO 21
A primeira coisa que Henrique sentiu quando abriu a porta de casa foi o
cheiro de algo queimando.
Parou com os braços cheios de sacolas e fechou a porta com o pé. Sofia
não estava na sala. Curioso, deixou as sacolas ao lado da porta e seguiu até a
sala de jantar.
— Sofia? — chamou alto quando a fumaça o atingiu.
Seguiu até a cozinha. Havia uma panela aparentemente esquecida sobre
o fogão e era de lá que vinha a fumaça. Desligou rapidamente e jogou a coisa
preta, queimada, que ele não soube identificar na pia.
Ligou a torneira e franziu o cenho para as coisas largadas sobre o
balcão da cozinha, os ingredientes que ela estava separando quando saiu.
Quase sorriu imaginando onde ela poderia ter se metido. Aparentemente,
havia esquecido a panela no fogão e ficaria muito irritada quando descobrisse
que teria que começar tudo de novo.
Então sentiu o cheiro antes mesmo de ver a poça vermelha no chão.
Sangue tem um cheiro específico. Um cheiro que fica no ar, pairando,
quase tão espesso como o líquido. E também quase tão espesso quanto o
medo que percorreu suas veias quando ele encarou aquela mancha.
Sentiu o medo paralisar seu corpo, mas apenas por um segundo, porque
logo encontrou uma trilha de sangue pelo chão.
— Sofia? — chamou novamente, quase gritando, sentindo o desespero
aos poucos crescer.
Não deveria tê-la deixado sozinha.
Seguiu a trilha vermelha até a escada, onde ela seguia, manchando os
degraus. Não deveria tê-la deixado sozinha, repetiu, correndo pela escada.
Não deveria ter demorado tanto. Deveria tê-la levada consigo.
Não deveria ter saído. Deveria ter arrastado ela consigo, ao seu lado,
debaixo do seu braço, onde ela deveria ficar sempre, segura, protegida. Onde
ele poderia ajudá-la, socorrê-la se ela precisasse.
E se. E se ela passou mal? E se ela precisou de ajuda e ele não estava
ali? Ela estava sangrando. O que poderia ter acontecido enquanto esteve fora?
E se... Então o medo triplicou quando ele pensou no bebê.
— Sofia! — daquela vez ele gritou, o medo escorrendo pelas sílabas do
nome dela.
Abriu a porta do quarto com um estrondo, com força, tremendo. Ela
não estava sobre a cama, não estava em nenhum lugar pelo quarto, mas havia
uma segunda poça aos pés da cama, sobre o tecido peludo do tapete que ele
comprara para ela quando ela reclamou que preferia andar descalça porque
seus pés ficavam apertados nas sandálias.
Pretendia espalhar tapetes como aquele pela casa, contando que ela
ficasse feliz, mas ver aquela segunda mancha sobre o tecido branco, tão
branco como o tecido do piso da cozinha, fez com que suas pernas
tremessem.
Ela não estava ali. Ele se preparava para correr de volta o caminho que
fizera e procurá-la pelo resto da casa, o desespero escapando pelos poros, o
suor escorrendo pelo rosto e por todo o corpo, quando viu uma outra mancha
vermelha próxima ao banheiro.
Seguiu até lá e abriu a porta, desesperado. Lá estava ela.
Não conseguiu suspirar aliviado porque ela chorava e havia ainda mais
sangue no piso do banheiro do que nos outros lugares que ele encontrou.
— Sofia — chamou, a voz trêmula. Ela ergueu os olhos para ele,
sentada sobre a tampa da privada. Sofia jogou um grande amontoado de papel
higiênico no chão e ele notou que havia um grande número deles espalhado
por ali, manchados de sangue e sobre o sangue que havia no piso.
Ajoelhou-se entre as pernas dela, tremendo da cabeça aos pés e
procurou a origem do ferimento. Não conseguiu respirar aliviado quando viu
que era um dos pés dela que estava ferido, porque era um corte grande, feio e
profundo.
— Não consigo p-parar isso — ela falou pela primeira vez, em um fio
de voz.
— Vai ficar tudo bem — ele disse, abraçando-a apertado. Soltou-a logo
depois. Segurou seu rosto e o ergueu, fitando seus olhos. — Precisamos ir
para o hospital.
Ela negou com a cabeça devagar, mas Henrique percebeu como aquele
movimento foi fraco. Ela havia sangrado por quase toda a casa e sua pele
estava fria.
Pegou-a nos braços, delicadamente e seguiu até a cama. Deitou-a no
edredom macio e em seguida rasgou um pedaço da ponta do tecido. Ergueu o
pé dela com cuidado e o cobriu rapidamente, fazendo pressão para estancar o
ferimento, dando um nó apertado no tecido.
Ela não reclamou outra vez e Henrique se desesperou ao perceber que
estava quase dormindo.
— Não durma — ergueu seu rosto, fazendo com que ela focasse os
olhos no seu rosto.
— Estou cansada — a voz dela estava fraca, como ela inteira parecia
estar e Henrique correu pelo quarto, procurando a bolsa dela.
Encontrou-a e, após pendurá-la no ombro, ergueu Sofia novamente nos
braços. Desceu a escada com cuidado, sentindo o corpo delicado dela se
aconchegar nos seus braços.
— Estou com frio — ela murmurou contra o tecido da sua camisa.
— Vai ficar tudo bem — murmurou apertando- a nos braços. Não
conseguia pensar, não conseguia focar em outra coisa que não fosse ela e o
bebê. O bem estar deles. — Vai ficar tudo bem — repetiu, porque precisava
acreditar naquilo.
Segurou-a com apenas um dos braços, buscando no bolso traseiro da
calça a chave do carro. Não encontrou. Procurou com os olhos, desesperado,
sobre o sofá, o chão ou no aparador ao lado da porta. Nada.
— Droga! — gritou, sentindo os olhos arderem e Sofia se remexeu nos
seus braços.
Desistiu de procurar a chave e seguiu até a porta. A carregaria a pé até
o hospital, correria com ela nos braços, mas não demoraria nem mais um
segundo para tirá-la dali.
Correu sobre os degraus da pequena varanda e sentiu algo escorrer por
seu braço. Olhou rapidamente e viu que era sangue. O corte do pé dela
escorria outra vez e o tecido que ele havia enfaixado estava vermelho escuro.
Pretendia correr até a rua quando ouviu um carro dobrar a esquina.
Pensou em esperar até que o motorista passasse para pedir socorro, mas o
carro avançou de repente e derrapou bem a sua frente antes que ele tivesse
tempo de abrir a boca. A porta do motorista abriu e fechou e em questão de
segundos Henrique sentiu Sofia sendo retirada dos seus braços.
— O que aconteceu? — Sebastian perguntou de olhos arregalados,
encarando o sangue que manchava as roupas da irmã desacordada e as roupas
do cunhado.
— Precisamos ir para o hospital — Henrique disse, abrindo a porta de
trás e Sebastian não hesitou em entrar com a irmã nos braços, com cuidado.
Henrique fechou a porta, correu e em questão de segundos dirigia como
um louco rumo ao hospital mais próximo.
...
— Vai ficar tudo bem.
— Vai ficar tudo bem.
Os dois tremiam. Sofia fora encaminhada até a emergência. Foram
barrados na porta por uma enfermeira gentil e levados até a sala de espera.
Em questões de minutos a minúscula sala estava lotada.
Henrique queria poder tranquilizá-los, queria poder dizer que fora
apenas um corte, um acidente doméstico, queria poder dizer que ficaria tudo
bem, mas não podia. Primeiro porque não sabia o que havia acontecido e
segundo porque a culpa era sua.
Ela estava bem quando sob suas vistas. Estava bem quando ele estava
ali por ela. Estava bem quando a deixara em casa, sozinha, para ir até o
maldito mercado mais próximo de casa. Foram vinte minutos apenas. Vinte
minutos e aquilo aconteceu.
Se tivesse demorado mais, se tivesse ido até o outro mercado, um
pouco mais distante, como pretendia fazer, só para comprar o queijo favorito
dela, quanto mais teria demorado? Quanto mais ela teria sangrado, sozinha,
sem forças sequer para pedir ajuda? Qual seria o cenário que encontraria
quando chegasse em casa dez minutos mais tarde?
Não queria pensar sobre isso, mas as possíveis situações, a gravidade
do que havia acontecido, sua negligência, não saiam de sua mente. Lá estava
ele, tremendo em silêncio, rodeado pelos amigos, a família e amigas dela. O
que faria se houvesse chegado tarde demais?
Algum dia se perdoaria? Parte do porque se sentia tão culpado é porque
nunca, embora o tempo passasse, embora ela o tenha perdoado, nunca vai
conseguir esquecer ou se perdoar pelo outro acidente, meses atrás.
Mais uma vez, lá estava ele, confinado em uma sala de espera, sem
saber de nada, sem notícias, a angústia o consumindo, o medo maior que
tudo. E mais uma vez lá estava ela, longe dos seus olhos, ferida e correndo
riscos que poderiam e deveriam ser evitados.
Queria saber o que havia acontecido, mas, mais que tudo, queria saber
se ela estava bem.
— Vai ficar tudo bem — repetiu.
— Você já disse isso — rebateu Sebastian, as roupas tão manchadas e
vermelhas como as de Henrique.
— Você também.
— Mas não fico repetindo como você.
— Vá se foder — não tinha paciência para discutir com seu cunhado
naquele momento. Aliás, com Sebastian nunca tinha paciência. Os dois eram
parecidos demais, semelhantes demais e isso era cansativo. Ver a si mesmo
em outra pessoa e notar o quanto aquilo era enervante.
— O que aconteceu, afinal? Você não me disse — perguntou o ruivo.
— Eu não sei. Fui até o mercado e ela decidiu ficar em casa,
preparando alguma receita maluca que encontrou na internet. Voltei vinte
minutos depois e a encontrei sangrando no banheiro.
— Por que a deixou sozinha? — e lá estava. A culpa que tinha certeza
que era sua exposta por terceiros. Aquilo não ajudava em nada, mas merecia
toda e qualquer acusação.
Sofia precisava de cuidados, precisava ser vigiada, assistida de perto e
ele não fizera isso. Constatar que o que sentia também era visto pelos outros
só o fez se remoer em culpa.
— Ela não quis ir e insistiu para que eu fosse sozinho. Não deveria tê-la
deixado sozinha, deveria tê-la levado comigo ou deixado para ir outra hora.
Sei disso.
Sebastian o fitou em silêncio por alguns segundos e permaneceu
calado. Talvez porque fosse perceptível o quanto Henrique sentia-se culpado
ou talvez porque ele mesmo estivesse cansado de discutir.
Esperaram em silêncio por mais um tempo, minúsculos diante da
espera. Diego havia saído para comprar um café e voltou pouco tempo
depois, trazendo uma bandeja. Entregou um por um para todos na sala e
quando foi a vez de Thaís ele cochichou algo baixinho que só eles dois
ouviram.
Thaís abaixou a cabeça e não respondeu. Diego se afastou e se
aproximou de onde Henrique estava, sentando-se na cadeira vaga entre os
dois. Permaneceram em silêncio e, após visualizar a tela do celular, franziu o
cenho.
— O que foi? — Henrique perguntou.
Diego lançou um olhar desconfiado para Sebastian, que fingia não
prestar atenção nos dois, e mostrou a mensagem que havia recebido para
Henrique.
— O que é que tem? — Henrique perguntou sem entender. Na
mensagem, Vinícius comunicava aos amigos que retornaria para casa e dessa
vez seria para valer.
O amigo andara distante nos últimos meses, tanto que poucas vezes se
viram e agora voltaria para a casa que também era dele. Não havia nada de
mais.
— Acontece que fui em casa, quando você avisou sobre Sofia, porque
sabia que provavelmente encontraria a porta aberta e estava certo. Você tem
essa mania as vezes quando está sob pressão.
Henrique franziu o cenho, não encontrando qualquer sentido no que o
amigo falava. Deixou que continuasse porque aquilo o distraía da angústia da
espera.
— E daí?
— E daí que quando eu estava saindo, encontrei o vizinho, aquele cara
do cachorro estranho, lembra? — Henrique confirmou com a cabeça,
estranhando cada vez mais aquela conversa. — Ele queria saber o que havia
acontecido. Disse que estava na varanda de casa consertando qualquer coisa
que eu não lembro agora e viu quando você saiu carregando uma mulher
sangrando nos braços.
Henrique não recordava de muita coisa do momento em que saiu de
casa, tão focado estava em dar um jeito de conseguir ajuda para ela e depois
no alívio momentâneo quando seu cunhado surgiu quando mais precisava.
— Contei parcialmente o que aconteceu, só o básico porque era só o
que eu sabia no momento — Diego prosseguiu e Henrique estava pronto para
perguntar novamente qual o sentido de toda aquela conversa, mas a expressão
séria do amigo o impediu de abrir a boca.
— Por que você não fala logo de uma vez o que diabos isso tem de
importante? — foi Sebastian que encurtou toda a enrolação, ele também
procurando sentindo naquela conversa afiada e cansado de esperar.
— Eu realmente pensaria que isso poderia ser apenas coincidência,
mas, não sei — hesitou apenas por um instante e logo suspirou. — Quando
eu contei o que aconteceu, ele disse que provavelmente se o outro cara
tivesse demorado um pouco mais para sair, ele poderia tê-la ajudado.
Sebastian franziu o cenho, mas foi Henrique que perguntou, sentindo
uma suspeita crescente.
— Que outro cara?
— Poucos minutos antes de você chegar, ele disse que um outro cara
havia estado na casa e que saiu uns dez minutos depois.
— Que cara? E porque Sofia abriria a porta para um desconhecido? —
Sebastian perguntou.
— Porque não era um desconhecido e Sofia não precisou abrir a porta
porque ele tem a chave — esclareceu Henrique, as peças finalmente se
juntando na sua cabeça.
— E quem é esse cara?
— Segundo a descrição do vizinho sobre o cara e o carro dele, Vinícius
esteve em casa poucos minutos antes de Henrique chegar e encontrar Sofia
sangrando.
A expressão de Henrique era dura, tanto quanto a de Diego quando
começou aquela conversa e agora também como a de Sebastian, quando
compreendia a gravidade do que os falavam.
— E onde ele está agora? — engraçado que Sebastian parecia quase
calmo quando perguntou. O tom de voz estava baixo e embora a expressão
fosse furiosa, a voz não. Lorrany lá do outro lado viu o que ninguém além do
grupinho deles via e soube instantaneamente que havia algo de errado.
Antes que Henrique ou Diego tivessem tempo de responder, logo um
médico apareceu com uma expressão alarmada e a sala fora tomada pelo
silêncio.
CAPÍTULO 22
...
Poucos dias depois do chá de bebê barra chá de casa nova, Sofia enfim
conseguiu o que queria: uma noite das garotas. Só elas, reunidas na sua casa,
prontas para uma noite de muitas brincadeiras e fofocas, enquanto os
meninos faziam o mesmo na casa nova de Diego.
Não foi difícil planejar aquela noite, como pensara que seria. As amigas
se mantinham fechadas sobre o que acontecia nas suas próprias vidas, mas
continuavam ali para ela, sempre que precisasse. Henrique conseguiu
convencer seu irmão e Diego a fazerem o mesmo e ela esperava que ele
tivesse sucesso no verdadeiro propósito daquela noite: obter informações
sobre o que diabos aconteceu e estava acontecendo com aqueles quatro.
Sofia não estava menos motivada do que ele, além de muito curiosa e
esperançosa de que pudesse fazer algo por suas amigas. Elas sempre estavam
ali quando precisava, sempre a apoiavam, sempre a ajudavam, e nada mais
justo do que fazer o mesmo. Por isso, após algumas horas de muita fofoca e
muitas guloseimas ingeridas, ela perguntou, como quem não quer nada, mas
quer tudo:
— E os namoradinhos?
— Ora, olá, tia Gertrudes. Como tem passado? Não sabia que a senhora
havia sido convidada para a nossa festa do pijama — Lorrany respondeu
rindo, sabendo exatamente onde Sofia queria chegar com aquilo. Não era de
hoje que ela está curiosa e nem sequer tenta esconder.
Thaís, coitada, só ria da piada da amiga. Ela era outra que preferia
manter aquele assunto para si e, por mais que amasse a amiga e odiasse
esconder coisas dela, ainda não queria falar sobre aquilo.
— Você sabe o que eu quero saber, não vou me fazer de idiota. Nem
você — Sofia decidiu cortar logo a enrolação e foi direto ao assunto. — O
que aconteceu ou está acontecendo com vocês?
— Como assim, amiga? — Thaís perguntou, sentando-se sobre as
pernas cruzadas. Estavam as três sentadas na cama de Sofia, a tevê ligada
para ninguém em particular transmitia um filme qualquer que elas haviam
escolhido, mas que sequer prestavam atenção.
— Quero saber o que está rolando entre você e Diego — respondeu e
apontou para Lorrany. — E você e Sebastian.
— É complicado — a morena respondeu, fugindo descaradamente de
elaborar uma resposta melhor.
— Você jura? Não havia percebido até agora — Sofia ironizou. — Por
que não querem me contar o que aconteceu? Eu fiz alguma coisa e por isso
vocês não querem mais me contar as coisas?
— É claro que não — Lorrany respondeu rápido, arrependida que sua
omissão deixasse a amiga triste. — É só que... É complicado.
— É. Não estou escondendo coisas de você porque quero, amiga. Só
não quero falar sobre isso agora — Thaís explicou.
— Mas vocês conversam entre si. Por que é tão complicado conversar
comigo também?
— Nós conversamos, mas não sobre o que aconteceu. Lorrany tem os
assuntos dela e eu tenho os meus, assim como você tem os seus. Ela não me
contou o que aconteceu e eu também não contei para ela.
— Mas por que isso é tão complicado?
— Não quero falar sobre o que aconteceu, porque preciso me entender
antes. Nem eu sei dizer o que está acontecendo, preciso de um tempo até
conseguir entender tudo — disse Lorrany. — Você é a minha melhor amiga,
Thaís também e quero conversar sobre isso, só não consigo agora.
— Nós amamos você, amiga. Não quero que fique chateada por isso,
amo você e quero poder conversar com você sobre tudo e qualquer coisa, mas
preciso de um tempo para mim também.
Sofia sabia que seria difícil fazer as amigas se abrirem, mas não havia
pensado que aquilo seria impossível como percebia agora. O que quer que
tenha acontecido, elas não estavam prontas para falar ainda. Mas estariam.
Não queria pressionar as amigas, queria apenas ajudá-las da mesma forma
que elas faziam por ela.
Mesmo embora estivesse chateada, entendia. E continuaria ali para
elas, se e quando precisassem.
Henrique retornou algumas horas depois e elas esperaram por ele
porque foi um pedido dele que esperassem até que retornasse, não queria
Sofia sozinha. Nem por dois minutos, ou pelos poucos segundos que levou da
casa vizinha até a sua.
Diego havia comprado naquela mesma semana uma das casas ao lado,
sem contar a ninguém e Henrique riu muito quando, em uma manhã como
qualquer outra, saiu para comprar pão e deu de cara com o amigo, lavando o
carro na casa vizinha, tranquilo e acenando como se aquilo não fosse nada
demais.
Quando as amigas foram embora, Sofia avaliou a expressão dele e
soube que ele havia se saído tão bem quanto ela. Suspirou resignada e só
conseguiu amenizar a curiosidade e preocupação que sentia quando
relembrou as mulheres fortes e seguras de si que são as suas amigas. Naquela
noite, dormiu abraçada ao amor da sua vida, quietinha e amada, como todos
os dias, com a certeza de que ficaria tudo bem e o desejo que um dia suas
amigas tivessem o mesmo que agora tinha.
Elas poderiam não querer falar, mas estaria ali para elas independente
de qualquer coisa, assim como Henrique estava ali para o amigo e seu irmão.
Ficaria tudo bem ou, caso contrário, sempre poderia mexer alguns pauzinhos
para que tudo desse certo e aqueles quatro deixassem de suspirar ou
resmungar pelos cantos. Ficaria tudo bem.
CAPÍTULO 35
Faltavam poucas semanas para a chegada da sua filha e Sofia não
parava quieta por um minuto. Já havia inventado de arrumar e rearrumar o
quarto da menina três vezes, havia checado a bolsa da maternidade que
Henrique organizou duas vezes, havia escolhido as roupinhas que levaria para
o hospital, tudo.
Henrique também estava ansioso, inquieto e preocupado, mas preferia
focar nela e somente nela e esquecer as próprias neuras ao menos por um
tempo. Por isso mudava os móveis do quarto da bebê quantas vezes ela
pedisse, até que voltasse atrás e decidisse que ficaria melhor do jeito que
estava.
Então ele mudava tudo de novo, dobrava e redobrava as roupinhas,
checava e rechecava a bolsa duas, três ou dez vezes. Faria aquilo quantas
vezes ela quisesse e achasse melhor, porque ela não podia fazer esforço de
qualquer forma, porque ele não gostava de vê-la tão preocupado ou
insatisfeita com algo e porque, daquela forma, fazendo o que ela queria, ele
se distraia das preocupações que rondavam sua mente.
Uma forma que encontrou para distraí-la e também se distrair foi
passear pelo shopping. Caminhavam devagar entre as lojas, observando
coisas para a casa e os futuros melhores e mais indicados brinquedos para sua
filha. Iam ao cinema, sem programações, e assistiam qualquer filme que
estivesse em cartaz e parecesse interessante.
Perdiam horas, as vezes, naqueles jogos de mesa e nos simuladores e
sempre se divertiam muito. Então voltavam para casa, ela mais calma,
cansada mesmo que ele sempre tenha o cuidado de não deixar que se esforce
demais, e dormem tranquilos. Na manhã seguinte, ele inventa qualquer outra
coisa, uma sessão interminável de filmes melosos, do jeitinho que ela gosta, e
vão seguindo, lidando com a ansiedade e os temores da melhor forma que
podem.
Também cozinham sempre que possível, mas também pedem muita
comida, sempre com o aval da médica de Sofia. Faltando poucas semanas
para o nascimento da bebê, ela parece um pouco menos preocupada com as
"futuras gorduras permanentes" que restarão quando a bebê nascer.
Henrique nem se importa tanto com aquilo, sabe fingir muito bem uma
expressão compreensiva quando ela começa com aquele assunto, mas não
poderia se importar menos com gorduras e coisas do tipo. Sofia é e sempre
será a mulher mais linda que já viu, algumas gorduras ou muitas delas não
farão diferença.
Melhor, que assim ela vai ficar mais cheinha, vai ficar mais gostosa e
ele será feliz com isso. Gosta de carne, não tem frescuras e demonstra aquilo
para ela, sempre que reclama que está gorda ou inchada demais, apertando,
lambendo e beijando as gordurinhas que ela tanto odeia.
Juntos, eles se descobrem a cada dia como casal e como pais.
Conversam muito sobre como será lidar com um bebê, como farão para
educá-la, os prós e contras de cada decisão, sempre em acordo e sempre
pensado no melhor para a criança. São novos, os dois. Para serem pais, nos
dias de hoje, isso não é lá muita coisa, mas ainda assim são jovens. Ambos
tinham planejamentos que não incluíam uma criança e ajustes foram feitos
para que tudo desse certo.
Por isso, naquela manhã, foram até a universidade. Sofia havia trancado
o curso, tempos atrás, quando precisou dedicar mais tempo para a sua saúde e
Henrique fez o mesmo. Quer dizer, ele só não foi mais. Ficou ao lado dela,
esqueceu que deveria fazer algo com relação ao seu curso, mas nada fez.
Nenhum aviso, nenhuma ligação, e-mail, nada.
Sofia ficou sabendo daquilo só agora e não ficou nada feliz. Pensou que
ele tivesse feito o mesmo que ela, e ele não contou porque pensou que ela
soubesse. Esqueceu daquilo e foi, ao lado dela, quase rebocado e de orelhas
quentes, ter uma conversa com o reitor da universidade.
— Irresponsável — ela resmungava, aceitando a mão que ele a estendia
para descer do carro.
— Eu pensei que isso não teria tanta importância — ele repete o que já
disse milhões de vezes, mas ela segue resmungando.
— Irresponsável, isso que você é. Trancar a faculdade é uma coisa,
abandonar é outra. Onde já se viu uma coisa dessa.
E lá se ia ele, mais uma vez, se desculpando por ter esquecido uma
coisa que era realmente importante para o seu futuro, falando que não fez por
mal, só não lembrou daquilo. Então ela relaxava, embora ainda resmungona,
mas não se passava muito tempo e voltava as reprimendas mais uma vez.
Henrique sorria, afirmava que ela estava certa, ele havia sido mesmo
muito irresponsável, ela tinha toda razão em passar uma lição de moral e
arrastá-lo até ali. Acionou o alarme do carro e caminharam juntos, de mãos
dadas, pela entrada da universidade.
Lá estava o banco em que se sentaram juntos a primeira vez, quando se
conheceram. Lá estava a árvore em que ele a agarrou, naquela falsa conversa
que antecedeu o primeiro encontro.
Passavam, alheios e perdidos em lembranças e eram a sensação do
momento. Lá estava a menina da aposta, a que foi enganada, a que foi
humilhada, a que eles pensavam ser uma mosca morta. Lá estava o gostosão
comedor que conseguiu ganhar a aposta, o sonho de muitas garotas ao lado
daquela garota, a sonsa, logo daquela que era o sonho de consumo de muitos,
mas que sempre fora muito alheia ou cega aos olhares que recebia.
Lá estava o casal que ninguém supôs que daria certo. Lá estavam os
sorrisos felizes dos dois, o amor que os unia perceptível mesmo a metros de
distância, e não era só a barriga dela uma prova disso. O jeito que ele a
olhava, o jeito que ela olhava para ele, o como ela parecia reluzir, feliz e ele
também.
Os viam e presumiam que aquela menina tinha feito um belo de um
pacto para conseguir um homem como aquele. Olhavam e viam o que
queriam. Olhavam para ela e todos apostavam que, para tê-lo, ela fazia todas
as vontades dele. Que ela fosse seu capacho, quase uma submissa, refém aos
desejos dele e só dele.
Viam o que queriam e não faziam ideia de que era exatamente o
contrário. Ele que é o capacho da relação. Ele que faz as vontades dela, ele
que mata e morre por ela, submisso aos desejos dela e só dela. O refém da
relação é ele, o escravo dela, o homem dela e ela é a rainha do seu mundo.
Elas são.
As pessoas veem aquilo que querem. Lá estava um casal que irradiava
felicidade, e eles presumiam o que queriam, longe, muito longe da verdade.
Ela também mata e morre por ele, mas antes que chegue a um extremo como
esse, ele já foi lá e fez. Sou seu, o sorriso dele diz. Sou seu, você é o meu
mundo, eu te amo.
Ela olha para ele enquanto ainda resmunga e o pega sorrindo como um
bobo. Sorri também, porque ganhou na loteria dez vezes com um homem
desse. Um homem para fazer as suas vontades, que a ama mais que a si
próprio, que a coloca em um patamar lá em cima, antes de si mesmo.
Sofia não se importa mais com o que as pessoas pensam, não se
importa se é observada, só sorri. Vê os olhos que os seguem até a entrada, vê
alguns olhares femininos direcionados para o seu homem e sorri ainda mais.
Não precisa olhar para ele de novo para saber que os olhos dele estão e
sempre estarão nela.
Henrique não devolve olhares, não liga para duas ou três meninas que o
acompanham com os olhos, choramingando um pouquinho, e só se incomoda
quando os olhares, tão desejosos como os no seu corpo, focam no dela. Então
ele fecha a cara e encara cada um, enquanto Sofia ri baixinho.
Passa um braço pelos ombros dela, marcando território como se aquela
barriga já não fosse suficiente. Ajeita o óculos escuro sobre o nariz, fazendo
careta para ela e Sofia ri ainda mais.
— Sabe, nós somos quase como Bella e Edward quando assumiram o
namoro.
Henrique sabe de qual filme exatamente ela está falando porque é um
dos favoritos dela e ele foi obrigado a assistir a saga inteira dezenas de vezes
até que passasse a gostar ao menos um pouquinho.
— Você não quer repetir as falas, quer? — ela sabe todas de cor, de
tanto que já assistiu e ele, também.
— Estão todos olhando — ela pisca os olhos e finge colocar as mãos
nos bolsos de uma jaqueta invisível.
Faz uma carinha parte de quem não se importa com os olhares e parte
de quem está se achando por estar saindo com o garoto mais gato da
universidade. Henrique ri e se prepara para recitar a fala do Edward sem sal
que ele nunca foi com a cara, mas ela o interrompe, rindo.
— Esqueça. Você não vai para o inferno.
— Se você soubesse as coisas que pretendo fazer com você quando
chegar em casa, não diria isso.
Ela ri e cora e quase tropeça nos próprios pés e Henrique gargalha com
gosto.
— Você, definitivamente, não presta — ela resmunga, sorrindo.
— Eu sei, mas você me ama do jeito que eu sou.
— Amaria um pouco mais se você brilhasse no sol, mas fazer o que, né.
Nem tudo nessa vida é perfeito.
Henrique belisca a bunda dela de brincadeira, punindo-a pela
provocação e, rindo, eles avançam pela universidade até o segundo andar do
prédio principal, onde fica a sala do reitor.
Estão na sala de espera quando o celular dela toca e ela atende,
envergonhada pelo barulho alto. Esqueceu de pôr o celular no silencioso, mas
de qualquer forma não vão demorar muito por ali.
— Oi, Sena. Não, não estou em casa — ela escuta por um instante e
revira os olhos, rindo. — Porque sou eu, idiota. Estou na universidade com
Henrique, você não está vendo coisas.
Henrique é chamado pela secretária do reitor enquanto ela ainda
conversa com o irmão. Beija sua testa, avisa que não vai demorar, que ela
fique ali, quietinha até ele voltar. Ela faz careta para a ordem e concorda com
a cabeça.
— Boa garota, vai ser muito bem recompensada quando chegarmos em
casa.
Ela cora, porque a secretária provavelmente ouviu e porque o irmão
dela também, Henrique foi capaz de ouvir o grunhido de Sebastian do outro
lado da linha mesmo a distância.
Sorri para ela, beija sua testa mais uma vez e segue a secretária risonha
até a sala do reitor. Henrique o havia visto apenas uma vez, quando foi fazer
a matrícula, na semana que chegou naquela cidade.
A conversa não foi fácil. O reitor era um homem mais velho, quase na
terceira idade e rígido quando se diz respeito a sua universidade. Henrique
não tentou se desculpar, estava errado mesmo, fora irresponsável mesmo e
aceitaria o que aquele homem decidisse.
Não queria contar quais foram suas razões para fazer o que fez, ignorar
o seu futuro, mas o homem insistiu em saber, curioso e intrigado. Henrique
contou porque ele pediu e aguardou o tempo que o homem levou para digerir
a história.
Não se importava se ele não acreditasse e pensasse que estava
mentindo, fato é que não queria demorar muito por ali. Sofia estava lá fora
conversando com irmão, ela também pretendia ter uma conversa com o reitor,
mas não agora. Queria esperar o nascimento da bebê e ter uma verdadeira
noção do que seriam as coisas dali para frente, antes de decidir qualquer
coisa.
— Então, pelo que entendi, sua filha está para nascer em breve. O que
você quer fazer? Voltar para o curso agora ou depois do nascimento dela?
— Não, não agora. Só queria me desculpar por não ter avisado antes
que ficaria um tempo afastado das aulas.
— Considere o curso trancado. Vou fazer isso porque você parece ser
um bom rapaz e fez o certo de acordo com a situação. Mesmo que uma
ligaçãozinha não fosse gastar muito do seu tempo — ele briga um pouquinho,
apenas para manter a pose e Henrique reprime um sorriso. — Vou fazer tudo
como se você tivesse trancado o curso a partir da data que não veio mais.
Dessa forma, você só vai precisar seguir de onde parou, não precisará
recuperar as matérias que perdeu todo esse tempo.
Henrique agradeceu e deixou a sala, não sem antes ouvir várias outras
reprimendas. Aquele parecia ser o seu dia de sorte, tinha certeza que Sofia
riria muito da sua cara quando soubesse que não era a única irritada com ele.
Sorriu para a secretária que retornava provavelmente do banheiro e seguiu até
a pequena sala onde Sofia o aguardava.
Já sorria e tinha uma piadinha na ponta da língua, uma brincadeira
besta que morreu nos seus lábios porque Sofia não estava ali, embora sua
bolsa estivesse. Olhou para os lados, perguntou a secretária onde a moça
ruiva que estava com ele havia ido e ela informou que Sofia havia dito que
não demoraria, mas que isso foi poucos minutos depois de ele entrar na sala
do reitor. E isso já fazia algum tempo.
Henrique não queria ter demorado tanto, mas o homem estava curioso e
ele fora quase obrigado a contar em detalhes o que havia acontecido. Fez isso
porque sabia que ela ficaria feliz em saber que estava tudo certo, que
poderiam voltar juntos quando fosse o momento. Pensou que ela estivesse ali,
sob os olhos da secretária, não estaria desacompanhada e ele só estava a uma
porta de distância.
Pegou a bolsa dela, agradeceu a mulher prestativa que agora parecia
curiosa e partiu em busca dela.
Não era nada demais. Ela poderia ter ido ao banheiro, ou atrás do
irmão. Ou poderia estar conversando com alguma colega de classe. Ou
qualquer besteira do tipo que explicasse sua demora.
Mas por que ele sentia aquele aperto no peito, avisando-o que algo
estava errado com ela? Que talvez ela não estivesse bem? Poderia ser apenas
seus temores falando por si, gato escaldado que é, porque sabe que sempre
que ela não está sob suas vistas coisas ruins acontecem.
Andou apressado e, quando percebeu, corria pelos corredores, caçando
um cabelo ruivo por onde passava. Talvez fosse isso, apenas besteiras da sua
cabeça. Paranoias e medos demais.
Ou talvez não.
CAPÍTULO 36
Tudo que ele queria era uma distração. Para a dor, para o sentimento de
derrota, algo que o fizesse esquecer o passado, o quanto a ferida causada por
pessoas nas quais confiou, as que sempre estiveram ali para ele, ainda doía.
Não havia amor, ele sabia, mas havia confiança, carinho e amizade.
E tudo que recebeu em troca foi traição.
A música alta estrondava nos seus ouvidos, corpos esbarrando por todo
seu corpo, desinibidos pelo álcool e uma música barulhenta qualquer. Levou
o copo à boca, sem sentir o gosto do que bebia, buscando apenas o
esquecimento almejado que viria quando seu corpo estivesse além demais
para ser controlado. Ou sua mente anestesiada demais lembrar de alguma
coisa no dia seguinte.
Ainda sofria, mesmo mais de um ano depois. Era como uma ferida
nova, ainda aberta, ainda vertendo sangue, a dor fresca na sua memória e na
sua pele, a descoberta de todas as mentiras e joguinhos como cenas
ininterruptas invadindo sua mente.
Confiou demais, esse foi o seu erro. Não se entregou como era
esperado que fizesse, e aquilo ainda doía como se fosse uma ferida na alma.
E se houvesse amor?, ele se pergunta. Se estivesse apaixonado e não cômodo
com o relacionamento, e se não tivesse ignorado todas as coisas que o
incomodavam naquela amizade, como estaria agora? Pior? Melhor? Menos
pior do que se sentia agora?
Vanessa e Brian, mesmo sem nunca terem chegado até o fim com
aquele plano idiota, conseguiram destruir sua vida. Porque antes, ele não se
sentia como se fosse vazio. Antes ele acreditava em amor, antes ele sonhava
com o dia em que seria pai, sonhava com uma família para chamar de sua,
construída com amor e carinho, forjada das suas dores e do seu esforço.
Sangue do seu sangue, mulher e filho seriam.
Agora não resta mais nada.
Não tem esperanças em um futuro que não mais acredita, não sonha
mais com essas coisas. Está ferido e sofre todos os dias em luto por um filho
que não era seu, mas que era o único inocente naquela história. Também
sofre pelos sonhos que indiretamente incentivou e que por fim acabaram com
a vida daquela mulher. Era uma mentirosa, pouco valia para ele, nunca a
amou, mas mesmo assim era uma vida, ainda na flor da idade e que se foi de
maneira brutal.
Desde então ele definha por dentro, sem deixar transparecer nada, para
que ninguém saiba. Sorri em detrimento das dores do passado e vive um dia
de cada vez. Consegue ser feliz com a felicidade daqueles que ama, consegue
sorrir com sinceridade quando tem a sobrinha por perto, mas é só. Não sonha,
não tem esperanças e só sobrevive, quase um vegetal, não mais ser humano.
Talvez aquela dor nunca vá embora, ele reflete enquanto agarra um
corpo feminino qualquer, na intenção de cumprir com seu objetivo de afogar
as mágoas recorrentes de maneira mais prazerosa, já que o álcool não o
estava ajudando. Talvez seja o seu destino viver com aquela dor para sempre
e para ele tanto faz. Não acredita mais em amor, não almeja isso e
provavelmente é melhor assim, porque não vai alimentar o amor e a
consequente desilusão de mais ninguém.
Nunca mais será o responsável ou alvo de um sentimento tão volátil,
tão perigoso. Não é incapaz de amar, pelo contrário, acredita com todas as
forças que seja, mas não quer aquilo para si. Perigoso demais, doloroso
demais e ele já soma um bom número de feridas para desejar mais uma.
O corpo colado no seu remexe no ritmo da música, pulsa, o envolve
com sua feminilidade. Deixa de lado todas as dores e memórias e volta a
focar no objetivo daquela noite: esquecer.
Mas então o perfume daquela mulher desconhecida e até seu próprio
corpo o fazem lembrar daquela mulher e ele pragueja. Não a que morreu e
que o visita apenas em lembranças, mas aquele demônio de cabelo cacheado
e curvas deliciosas que tiram o seu juízo e já foram capazes mais de uma vez
de tirá-lo do limbo em que agora vive.
Lorrany e suas respostas ásperas, seu corpo gostoso e sua boca atrevida
são o mais próximo que ele já chegou de se entregar a alguém. E aquilo é
perigoso. Quer se entregar e não é pouco e isso o assusta. Por isso foge dela
como o diabo foge da cruz, desde a última vez que se entregou aos desejos do
seu corpo e quase fez aquela mulher como sua.
Ela é perigosa. Tenta afastar da mente o quanto queria que fosse ela ali
e não uma garota qualquer, sem sucesso. Ela tem o poder de afetá-lo, de tirá-
lo da sua zona de conforto e deixá-lo maluco por mais, sedento, cego de
desejo e caído aos seus pés.
Mas ele não vai ceder. Não é mais assim. Ele foge, afoga as mágoas na
bebida e esquece de tudo pelo tempo que dura a letargia do passatempo da
vez. Beijando a boca da garota desconhecida e disposta, querendo fugir da
própria mente, geme quando até naquilo elas se aparecem. Pode estar bêbado,
mais para lá do que para cá, o efeito do álcool finalmente surgindo, mas os
lábios daquela menina parecem carnudos como os dela, o corpo curvilíneo, o
cabelo cacheado e armado, a pele macia e aquele cheiro de mulher que é só
dela.
Lorrany o enlouquece, mas aquela noite não é sobre ela. E talvez afogar
as mágoas com alguém que se pareça tanto com ela não seja uma distração
tão ruim assim.
Talvez.
PRÓLOGO
A lembrança é clara na sua mente, repleta de detalhes e cores, tão cheia
de sensações que é como se fosse algo recente.
As aulas naquele dia pareceram se alongar, infinitas, um tédio sem fim
e, assim que a última acabou, ele correu para casa. Tinha trabalho para fazer
na oficina, havia deixado tudo de lado para se concentrar no que fazer da sua
vida após Vanessa soltar a grande novidade no seu colo e o trabalho serviria
mais como uma distração do que uma obrigação.
Subiu na moto e pilotou devagar para casa, sem pressa, curtindo o bater
do vento contra o corpo e desejando mais que tudo um banho para despertar
de vez. Não havia dormido direito, passou a noite inteira virando de um lado
para outro na cama, ignorando o corpo feminino ao lado do seu também
inquieto, mas por outra razões que ele fingiu desconhecer.
Vanessa havia decidido se mudar para sua casa e ele não teve tempo
sequer de conversar com os pais sobre aquilo, contando que tivesse a
intenção de aceitar aquele absurdo, o que não tinha. Mas, quando viu, era
tarde demais. Uma noite ela disse que aquilo talvez fosse o melhor para os
dois e, no dia seguinte, enquanto ele estava na universidade, ela mesma fez a
mudança, sem um convite propriamente dito e sem esperar mais.
Então ela passou a morar na sua casa, dormir na sua cama e incomodá-
lo todos os dias. Ele levantava cedo, sem fazer barulho e chegava na
universidade mais cedo até que o vigia do turno da manhã. Quando as aulas
terminavam, seguia para oficina do amigo, onde trabalhava desde que
terminou o ensino médio, e só voltava para casa tarde da noite, coberto de
graxa dos pés a cabeça e com a esperança de que ela já estivesse dormindo.
Pelo contrário. Vanessa não só o esperava chegar como também o
esperava nua, esparramada na cama, no que ela pensava ser uma posição sexy
e convidativa. Nem toda a graxa espalhada pelo seu corpo ou o quanto
estivesse cansado e fedendo a desmotivavam e ele precisava se controlar para
não ser grosseiro, todas as vezes.
Não queria aquele relacionamento, estava pronto para acabar com tudo
quando ela começou com o fingimento e tudo que ele queria era esquecer que
ela estava ali e dormir. Mas ela não desistia fácil. Insistia, apelava para
posições ainda mais ousadas, tentava-o de todas as formas e mesmo assim ele
não cedia. Não tinha mais tesão, não sabia nem mesmo o que tinha visto nela
de tão atrativo que o fez querer um relacionamento sério.
As coisas ficaram ainda mais complicadas, ele mal dormia, passava o
dia inteiro fora de casa, estava cansado, mas não poderia fugir da sua
obrigação. Seria pai, ou pensava que sim e Vanessa e a criança precisariam
de assistência.
Foi para casa naquele dia pensando que ela não estaria, já que seus pais
não estavam. Ela odiava ficar sozinha, supôs que talvez tivesse ido visitar a
mãe ou fazer mais uma sessão interminável de compras no shopping.
Nada o preparou para a cena que encontrou. Abriu a porta e entrou em
casa sem fazer barulho, um instinto básico comandando suas ações antes
mesmo que tivesse alguma noção do que estava acontecendo. Viu os restos
de um lanche pela metade sobre a mesa da cozinha, viu a chave com o
chaveiro cor de rosa de Sofia e franziu o cenho.
Ao mesmo tempo em que teve a certeza de que algo estava errado,
antes mesmo de pensar sobre o que estava acontecendo, ouviu o inegável som
de um tapa, seguido de um resfolegar de dor vindos do andar de cima.
Não pensou antes de subir as escadas, certo de que algo estava errado, e
novamente, sem que percebesse, não fez nenhum som que denunciasse sua
presença. As vozes ressoavam pelo corredor e ele demorou apenas um
segundo até reconhecê-las.
— Do que ela está falando? Quem é o pai? — perguntou a voz que ele
reconheceu como sendo de Brian, fazendo-se ouvir por cima das risadas de
Vanessa, que soavam histéricas mesmo de onde estava, parado a poucos
passos da porta do seu quarto.
— Você me usou como um consolo. Me usou porque não podia ter essa
daí — respondeu Vanessa com a voz rouca. —Bom, acho que estamos quites
então.
Sebastian hesitou em se aproximar mais, a mente trabalhando rápido
para entender do que aquilo se tratava e a preocupação com Sofia crescendo.
Não se perguntou o que Brian estava fazendo na sua casa, o relacionamento
dos dois já não era o mesmo há um bom tempo, mas estava intrigado demais
para escutar um pouco mais, sem que fosse percebido.
Ouviu o som de passos pelo quarto e Vanessa começou a rir
novamente, daquela vez com deboche, mas sem deixar de lado a histeria.
— Do que você está falando? O que você fez? — Brian perguntou,
gritando.
Vanessa riu outra vez e respondeu, sua voz ecoando pelo quarto e além
dele até onde Sebastian estava, de repente paralisado, sem acreditar no que
ouvia ao mesmo em que tudo começava a fazer sentido.
— Sebastian e eu nunca transamos sem camisinha. Nunca, embora eu
insistisse — confessou ela. Fez uma pequena pausa e riu mais uma vez. —
Você e eu, no entanto, não usamos uma nem uma vez sequer. Você me usou
para esquecer outra e eu te usei para enganar outro. Estamos quites — cuspiu
e prosseguiu com desdém pingando da voz: — Parabéns, você vai ser papai.
Sentiu o sangue gelar nas veias. Descobriu ali que tudo não passara de
uma armação, de um plano para amarrá-lo de uma vez naquele
relacionamento. Como se fosse um brinquedo, como se seus sentimentos não
importassem, como se, para ela, ele fosse apenas um objeto, algo desejado e
que por isso ela faria o que fosse preciso para conseguir.
— Mas, é claro que, como eu disse, apenas usei você — Vanessa
continuou e Sebastian piscou, voltando a se concentrar na conversa. — Esse
filho, para todos os efeitos, é um Villar. Sebastian vai registrá-lo, com o
tempo vamos nos casar e seremos felizes com esse moleque nos unindo para
sempre. Você foi apenas o doador, essas coisas acontecem. Mas, sabe, é
engraçado. Você disse que Sebastian sempre teve tudo que você não teve,
sempre teve tudo que era para ser seu. Agora, definitivamente, ele terá algo
seu — riu debochada.
— Você é uma cobra — Brian sussurrou, parecendo fazer um esforço
para falar. Sebastian quase não foi capaz de ouvir, levando em conta o tom de
voz baixo e o quanto seus ouvidos zuniam, a raiva aos poucos se espalhando
pelo seu corpo. — Isso nunca vai dar certo. O que vai dizer quando a criança
nascer com os olhos verdes, iguais aos meus?
— Isso não importa — Vanessa descartou a hipótese, sem se alterar.
— Esse filho é meu! Ele não terá meu filho, não vou permitir.
— Não importa o que você quer, vou seguir com o meu plano e você
pode se divertir com a vadia. Faça-a calar a boca e faça com que não diga
nada a ninguém — ela ordenou, obviamente se referindo a Sofia e Sebastian
finalmente sentiu o corpo reagir, livre da paralisia que o abateu desde o início
daquela conversa e fechando as mãos em punho, ainda lutando para absorver
tudo que havia escutado.
— Não vou deixar que ninguém atrapalhe meus planos. Não vou —
ouviu Vanessa murmurar enquanto dava os pequenos passos que o levariam
até o quarto. — Sebastian e eu vamos ter um filho, vamos nos casar, em
pouco tempo posso ter outro pirralho, dessa vez um legítimo e seremos
felizes. Ele nunca saberá de nada.
— Pelo contrário — ele respondeu, saindo das sombras e parando na
porta.
Tudo não passou de um jogo, um plano idiota para usá-lo, fazê-lo
acreditar que aquele filho era seu e prendê-lo àquela mulher pelo resto da
vida.
Talvez ele gostasse um pouco, um mínimo que fosse, de Vanessa. Não
a odiava, tampouco a amava, mas não a repudiava. Até ali. Até aquele
momento onde as máscaras finalmente caíram e ele descobriu quem era
aqueles dois de verdade. Até descobrir tudo.
Catalogou o quarto com os olhos. Observou Vanessa que o fitava com
os olhos arregalados. Deixou que todo o ódio que sentia transparecer na sua
expressão. Deixou que soubesse que agora ele sabia de tudo. Que se antes nas
mãos dela ele fora um brinquedinho, agora não mais.
Fitou aquele que um dia chamara de amigo, paralisado do outro lado do
quarto, os olhos tão arregalados como os de Vanessa, mas com tanto ódio que
Sebastian não soube por que não percebeu aquilo antes. Por que nunca viu
quem ele era de verdade, desde o princípio. Sempre esteve ali, sempre sentiu
um incômodo, algo que o alertava inconscientemente, mas nunca prestou
atenção e só ali ele viu.
Ele lutou para se controlar, lutou para não ceder e agir como o animal
que era, buscando vingança pelos dias de angústia que viveu, pela traição, por
todo aquele plano idiota. Então ele viu Sofia, amarrada em uma cadeira no
centro do quarto, o rosto coberto por hematomas que ainda se formavam e o
sangue que escorria pelo queixo é manchava toda a frente do seu corpo.
Guardou aquela imagem na mente, embora não precisasse; ela estaria
sempre ali para assombrá-lo. Sua irmã era inocente naquilo tudo, não tinha
culpa de nada, mas mesmo assim lá estava ela, sangrando e ferida, mas
mesmo assim retribuindo seu olhar com o amor que ele sempre viu ali. Ela
sofria por ele e junto com ele pela situação, sofria por ele ter descoberto
aquilo da pior maneira possível.
Olhou mais uma vez para o sangue que escorria pelo seu rosto e
encharcava sua camisa, vermelho vivo e fresco e viu o mesmo tom de
vermelho que manchava os dedos de Brian. Não havia sangue por mais
nenhuma parte do quarto, nem nas mãos de Vanessa, só ali, nas mãos de um
homem forte o bastante e que, se não tivesse sido interrompido, talvez fizesse
pior.
Sentiu ceder as últimas amarras que prendiam o animal sanguinário na
casinha e não parou para pensar. Já havia pensado demais e teria tempo para
isso depois. Só agiu, deixando que o ódio que percorria suas veias assumisse
o controle da situação.
Saltou sobre Brian e o derrubou no chão, grunhindo furioso. A ira, o
sentimento de ser traído, enganado, feito de brinquedo transbordando com a
força que seus punhos subiam e desciam.
Ele não viu mais nada, não viu o sangue que começara a jorrar dos
ferimentos de Brian, não vira como novos se formavam. Não prestou atenção
nos gritos femininos às suas costas, nem nos pequenos toques em seus
ombros, tentando tirá-lo dali.
Ele não viu quando Vanessa correu do quarto, certamente tentando
fugir. Não viu quando Sofia conseguiu se soltar da cadeira e a seguiu,
correndo atrás dela. Não viu quando sua irmã conseguiu alcançá-la no final
do corredor, perto das escadas.
Sebastian não viu como Sofia tentou escapar dos golpes furiosos de
Vanessa, resistindo ao impulso de feri-la também, sem querer bater em uma
mulher grávida.
Seus braços subiam e desciam e cada vez mais sangue jorrava, o animal
fora da casinha, louco por mais. Mais sangue, mais dor, mais sofrimento.
Não viu quando a porta da casa de repente foi aberta. Não viu quando
Vanessa se assustou com som e tropeçou para trás.
Sebastian não a viu cair, não viu que Sofia tentou segurá-la, gritando
assustada. Não viu quando Vanessa rolou escada abaixo, gritando e batendo
violentamente a barriga e a cabeça em cada degrau, seu pescoço sofrendo
uma nova fissura em cada batida.
Ele não viu nada disso, mas ouviu. Ouviu o som horrível do corpo
rolando pela escada e ouviu quando alguém gritou desesperadamente por
Sofia e finalmente conseguiu sair do transe em que estava. Ignorou o corpo
coberto de hematomas e sangue aos seus pés, ignorou o desejo por mais, não
estava sequer satisfeito.
Levantou-se rapidamente e correu, alcançando Sofia antes que ela
também caísse, desmaiando nos seus braços, enquanto ele fitava seu cunhado
correr pela sala, desviando do corpo sem vida caído ao final da escada.
Vanessa morreu, junto com o bebê que não era seu, mas que ele amava,
junto com a crença em uma um amor que ele nunca foi capaz de retribuir.
Morreu não somente, mas também arrastou sua alma junto.
E depois daquele dia ele nunca mais foi o mesmo.
CAPÍTULO 1
Junho, mês de festas.
Reuniões familiares, comidas típicas, bebidas liberadas, shows
gratuitos, pegações à mil e Sebastian está presente em todos. Bebe, fuma,
gosta de ir à shows, gosta de estar em festas, no meio de dezenas de pessoas
conhecidas ou até mesmo desconhecidas e fazer o que sabe de melhor.
Gosta de sair por aí na sua moto faça chuva ou faça sol, não tem muitas
preocupações na vida, mas leva a sério suas obrigações, seu trabalho, seu
curso e todas as responsabilidades para com sua família. Vive em festas,
shows, beija inúmeras bocas por noite, pega e não se apega e foge como o
diabo foge da cruz de compromisso.
Galinha, dizem.
Um homem que aprecia sua liberdade, gosta de sempre variar o
cardápio e curtir a noite na presença de alguns poucos amigos ou
desconhecidos em boates ou bares, cheios de badernas, confusões, brigas e
discussões, ele diz.
Sebastian, no auge dos seus 23 anos, é um homem vivido mesmo
embora ainda tão jovem. É daqueles que tem sempre um sorriso debochado
no rosto, uma piadinha maldosa na ponta da língua, um olhar desdenhoso e
uma beleza que arranca suspiros. Pena que por dentro se sinta tão vazio.
Sempre uma cabeça maior que qualquer outra pessoa onde quer que vá,
ele se acostumou a não passar despercebido e juntando a altura com sua
aparência, isso é quase certo. Os desenhos espalhados por sua pele, fruto de
uma paixão por tatuagens desde que era um adolescente espinhento, chamam
atenção por si só e ele gosta dos olhares que recebe – sobretudo, é claro, os
femininos.
Os cabelos, tão vermelhos quanto os de sua irmã, são uma de suas
marcas registradas e mesmo quando recebia apelidos idiotas na escola nunca
se importou muito. São muitos os ruivos na sua família, com exceção de sua
mãe, loira natural e também de farmácia – e, segundo ela, com muito
orgulho.
Para Sebastian, não havia muitas coisas com o que se preocupar na
vida. Sempre encarava um dia por vez, sem planos ou metas, buscando viver
o momento, divertir-se sem reservas e ser feliz. "Carpe Diem", afirmava
sempre que o questionavam sobre o seu futuro. Esse virara o seu lema, tanto
que o tatuou em seu corpo. Em letras garrafais e no pescoço, para completo
horror da sua família.
Mas isso tudo foi antes.
Agora ele se fecha sem perceber, prende tudo aquilo que foi ou sonhava
em ser em um espaço mínimo e tenta apenas sobreviver com as dores do
passado. Dores que deixaram sua marca, que moldaram quem é hoje e o que
jamais voltará a ser.
É fácil demais pegar um ser humano repleto de sonhos e desejos e fazer
com ele o que quiser. Fizeram isso com ele não muito tempo atrás, ou não
tempo suficiente para que a ferida cicatrize. Agora ele só segue um dia por
vez, sem planos, sem sonhos e sem nunca, jamais se envolver demais.
Muitas das suas escolhas foram arriscadas no passado e agora ele
sequer mede consequências, embora deixe claro que não busca aquele algo a
mais. Se envolve por uma noite apenas ou, se a moça for muito receptiva e
faça valer a pena aquela noite, talvez então duas.
Após deixar claro que não haverá um depois, uma ligação no outro dia
ou sequer um repeteco, ele segue. Faz o que tiver vontade, faz valer daqueles
poucos instantes como se fossem únicos e para ele está tudo bem. Não o
incomoda tanto agora que está acostumado.
Até ela surge diante dos seus olhos, linda como um anjo, o corpo que o
enlouquece, o cabelo que chama atenção e a língua mais ferina que já
conheceu na vida. Então é a vez dele de fugir dela, de caçar distrações em
boates e bares e de fingir que os pequenos momentos que teve com ela foram
o mais perto que chegou da superfície desde que tudo ruiu.
Ficou famoso na universidade depois que pegou todas as mocinhas
dispostas por lá. Um ponto a favor no seu cardápio sempre variado é que as
moças sempre comentam umas com as outras e ele muitas das vezes nem
sequer precisa procurar muito. Elas estão sempre ali, à procura, querendo e
ele só vai, sem mentiras, sem meios termos.
Seu envolvimento com Lorrany não foi algo que planejou. Sempre
manteve um olho focado naquelas curvas todas e outro que fingia demência
desde o dia um, quando a conheceu. Não deu em cima dela como queria
porque ela era amiga da sua irmã e ele nunca havia feito aquilo antes, nem
quando eram adolescentes.
Sofia prezava muito por suas amizades e também eram poucas as
pessoas em que confiava, ele não colocaria aquilo a perder por apenas uma
noite. Opções não faltavam também, então manter-se distante dela não era
nenhum sacrifício.
Até que passou a ser. Até o fatídico dia em que sentiu o corpo daquela
morena sobre o seu, as curvas dela sumindo sob seu toque.
Tentou abstrair, fugir do tesão que sentia, das coisas que ela despertava
no seu corpo. Então ela, seu corpo delicioso e aquela dança indecente
aconteceram. Aquela música infernal e que deixava explícito tudo o que ela
queria dizer e fazer com ele e mais um pouco. Ele não foi capaz de resistir e
depois daquilo, nem sequer tentou.
Deixou de lado a consideração para com sua irmã, focou no desejo que
sentia e foi. Se jogou de cabeça naquela mulher, deixou para pensar no que
aconteceria depois apenas quando este chegasse e se perdeu.
Beijou aquela boca carnuda como se dependesse do gosto dela para
viver. Tocou todas aquelas curvas que observou pelo canto do olho por anos.
Se rendeu a ela sem perceber, deixou de pensar, de medir possíveis
problemas, de cogitar possíveis consequências. Era isso que ela queria
quando o olhou com todo desejo que sentia, era isso que ela buscava quando
dançou para ele daquela maneira, quando expressou com o corpo o que não
conseguiu dizer com palavras.
Lorrany fez dele refém naquela pista de dança, fez miséria com sua
cabeça, os pensamentos todos voltados para ela, o corpo dela e em ter mais.
O toque dela em seu corpo o fazia se sentir vivo, seus beijos, a dança
indecente, tudo sobre ela e aquela noite foram demais para suportar e ele nem
sequer tentou reprimir o que sentia.
— Vamos embora — dissera ele naquela noite, quando o desejo por
ameaçou consumi-los.
Ela apenas acenou com a cabeça uma vez, os olhos febris, a expressão
repleta de desejo, o corpo aceso, ansioso por ele. Ele a beijou uma última vez
e logo saíram dali.
Levou-a para casa porque não havia ninguém lá e ir até um motel nem
sequer passou pela sua cabeça. Se agarraram por todo o caminho até lá, os
lábios dela no seu pescoço enquanto dirigia, as mãos dela no seu corpo e as
dele que se controlavam e tentavam manter a direção estável. Quando
chegaram, ele a carregou nos braços, as pernas delas na sua cintura, o corpo
colado no seu e a boca na sua.
Quando a jogou na cama e viu aquele espetáculo de mulher deitada ali,
sorridente e o corpo que o chamava, jogou de lado qualquer reserva que por
ventura ainda tivesse e manteve os pensamentos apenas nela. E em tudo em
que apenas sonhara em fazer, sem nenhuma esperança futura. Sorriu como
um aniversariante que havia recebido o melhor presente do mundo e pelo
tempo que levou mapeando todas aquelas curvas, beijando aquela boca e se
perdendo nela, ele não pensou mais.
Retirou aquele vestido que não passava de um pedaço de tecido, retirou
a própria roupa e se deliciou com os gemidos que encheram o quarto
enquanto a tocava onde queria, enquanto a beijava e lambia por todo o corpo.
Sebastian não sabe até hoje o que aconteceu. Uma hora tinha as pernas
dela sobre os ombros, o gosto dela na boca, o corpo inteiro trêmulo de desejo
enquanto ela também tremia e gemia e no outro, quando estava prestes a
afundar dentro dela, aproveitando enquanto ela ainda era tomada por
tremores, Lorrany tencionou o corpo.
— Não — ela dissera, tão baixinho que ele pensou ser um gemido e
teria seguido em frente, não fossem as mãos dela que o empurravam e o
corpo que a um segundo chamava por ele, então tenso.
— O que? — perguntou ele, ainda muito além, o gosto dela na língua e
o desejo por mais reverberando por todo seu corpo.
— Não — repetiu ela e daquela vez ele ouviu. Focou o olhar no rosto
dela, na sua expressão estranha, quase sofrida e não entendeu.
— Não o que? — não entendia o que ela queria dizer e precisou se
abster do corpo dela colado no seu para poder prestar atenção.
— Eu não quero — murmurou e para que não restassem dúvidas e não
ter que se repetir de novo, esclareceu: — Eu não quero mais.
Sebastian não insistiu, embora não compreendesse. Afastou-se dela,
saiu da cama e quando viu que ela procurava por suas roupas, vestiu a própria
calça. Pelo tempo que ela levou para se vestir, as mãos trêmulas e o rosto
inteiro vermelho provavelmente de vergonha, ele tentou entender o que
estava acontecendo. Tentou entender porque ela não queria mais ou o que
poderia ter feito de errado para que desistisse.
— O que aconteceu? — perguntou quando ela terminou de vestir a
roupa e parecia pronta para ir embora, sem dizer nem sequer uma palavra.
Lorrany parou na porta do quarto, a bolsa embaixo do braço e a mão
que quase tocava a maçaneta. Respirou fundo e depois se voltou para ele.
Parecia estranhamente resignada e, o que ele não entendeu, triste.
— O que aconteceu? — ele repetiu quando ela apenas o observou em
silêncio.
— O que aconteceu é que eu não quero mais — respondeu ela quando
ele pensou que não diria nada.
— Isso eu entendi. Quero saber o por que.
— Por que você quer saber? Eu só não quero mais e ponto. Não é tão
difícil de entender.
Ela não tinha por que agir daquela maneira, grosseira e debochada.
Sebastian tentou controlar seu temperamento, tentando entender o que diabos
estava acontecendo; sem sucesso para as duas tentativas.
— Se você não quer mais, quer ir embora, pode ir para a puta que
pariu, não vou impedi-la — disse, os olhos focados nela e o desejo finalmente
esfriando. Caminhou até parar onde ela estava, procurando seus olhos,
procurando ver neles uma pista que indicasse o que realmente estava
acontecendo. — Só quero entender o que aconteceu, porque um minuto atrás
você parecia estar muito disposta para terminar o que começou naquela
maldita pista de dança.
— Já entendi o que está acontecendo — ela riu com desdém depois de
apenas observá-lo por um tempo. — Você não se conforma que uma garota
dê para trás de última hora, não é? Acha que é o gostosão poderoso e que
todas sempre caem aos seus pés. Mas você precisa entender uma coisa: eu
não sou qualquer uma.
E ele entendeu. Ela não diria a verdade. Não importa qual fosse o
motivo, ela não diria e pelo tempo que continuasse ali buscaria feri-lo da
mesma maneira que parecia estar ferida.
— Vá — ele disse, apontando para a porta. E apenas porque ela fizera o
mesmo, quando ela deu as costas, abriu a porta e já saía do quarto, disse: — E
é verdade, você não é qualquer uma. É do tipo que provoca um homem, finge
interesse e para na hora H apenas por prazer. Apenas porque pode — viu
quando ela parou no corredor, os ombros tensos, ainda de costas e continuou:
— Posso ser do tipo que fica irritado quando uma garota dá para trás, mas
não sou como você. Não finjo interesse e não minto. Para ninguém, nem para
mim mesmo.
Ela foi embora depois, pediu um táxi e foi. Sebastian tentou entender
aquela noite, o que havia acontecido, tentando entender porque tinha cedido
tão facilmente para ela, porque havia se deixado levar. Tentava não pensar
em como ela parecia abatida quando deixou seu quarto e saiu da sua casa,
tentou não lembrar das coisas que disse para ela, para feri-la como ela o feriu.
Chumbo trocado não dói e ele resolveu focar naquilo e esquecer todo o resto.
Ao menos, enquanto pôde.
Ele a via quase todos os dias e embora por muitas vezes fingisse que
ela sequer estava no mesmo cômodo, seus olhos pareciam não responder aos
comandos de sua mente. Ela chegava e ele era atraído para ela como polos
diferentes de uma imã.
Seus olhos a seguiam, mapeavam as curvas que já teve nas mãos, a pele
cor de chocolate que beijou de alto a baixo. O cabelo volumoso e cheiroso, a
boca gostosa, os olhos que diziam mais do que ela se permitia revelar. Via
nos olhos dela sempre que a flagrava o observando que ainda o queria. Que o
desejava, que queria mais, tal como ele também queria.
Fingiu indiferença, ignorando sua presença, o perfume que o tentava.
Fugiu dela pelo tempo que pôde, até que não resistiu mais. Até que olhar para
ela apenas com o canto dos olhos não era mais suficiente.
Não eram estranhos, mas agiam como se fossem. Conversavam o
mínimo possível, apenas o necessário e só quando não estivessem sozinhos.
Passou noites sem dormir depois daquela fatídica noite e tentar ignorá-la
passou a ser ainda mais difícil quando ela passou a habitar seus sonhos.
O fato de Lorrany ser uma das melhores amigas de Sofia apenas
complicava tudo, como soube que seria desde o princípio se por acaso se
envolvesse com ela. A via quase todos os dias quando ia visitar sua irmã,
quando a acompanhava em consultas e exames.
Tentou não se render outra vez, não se deixar levar pelo charme dela,
não rir com suas tiradas debochadas, mas concluiu não ter forças o suficiente
para isso. Fingiu estar preocupado com o bem-estar dela quando se feriu, um
corte mínimo, ridículo no dedo, em um domingo qualquer de almoço na nova
casa de Sofia.
Fingiu indiferença enquanto pôde, o que não foi muito. Bastou ver os
olhinhos famintos dela sobre seu corpo e ele se deixou levar mais uma vez.
Quase a fez sua naquele banheiro, beijou e chupou e aproveitou o
quanto pôde, e no final quem deu para trás daquela vez foi ele.
Ela ainda revirava os olhinhos, a cabeça jogada para trás, a boca aberta,
os gemidos que enchiam o cômodo e as mãos no seu cabelo. Então ele se
afastou, duro como uma rocha, o sangue fervendo de desejo, e um sorriso
cafajeste no rosto de quem finalmente tivera a vingança que queria.
— Não quero mais — disse quando ela tirou a perna de cima da
banheira, soltando seu cabelo e parecendo pronta para se ajoelhar entre suas
pernas. Falou antes que ela fizesse aquilo ou não seria capaz de falar por um
bom tempo e tentou apagar da cabeça a imagem daqueles lábios carnudos e
rosados ao redor do seu pau.
Primeiro ela parou, parecendo não ter escutado direito, depois fitou sua
expressão satisfeita, os olhos brilhando de satisfação. Lorrany xingou dois
palavrões, depois mais quatro, olhou do seu rosto para o volume que estufava
seu jeans, depois olhou para seu rosto mais uma vez e fez uma careta.
Então se virou, pegou a calcinha no chão e, ainda de costas para ele, se
inclinou para a frente, esquecendo que o vestido continuava para cima,
expondo toda sua bunda e mais além. Ela se voltou para ele depois. Olhou
para seu rosto, percebeu o que havia acontecido e olhou mais uma vez para
seu pau.
Então sorriu como uma filha da puta.
— Que pena então — disse ela abrindo a porta do banheiro. — Espero
que seu pau se contente com sua mão. Boa sorte — sorriu por sobre o ombro
e saiu, batendo a porta.
Eles meio que fizeram um trato depois disso. Não se conversam, não
precisam de palavras para dizer o que querem. Onde se encontram, onde
estão os dois juntos, sempre dão um jeitinho de encontrar um canto qualquer,
um quarto desabitado, algum lugar escuro e logo estão se agarrando
desesperados, como um casal de adolescentes. Mas nunca chegam aos
finalmentes. Ela o provoca, ele a atiça e quando estão os dois muito além, um
dos dois interrompe a brincadeira que passou aos poucos a não ter mais
graça; mais ela do que ele.
Não é um trato ruim. Não seguir adiante pode ter sido irritante, para
falar o mínimo, antes, mas agora parece ser a piadinha interna deles. É um
caso que ao ver de Sebastian pode ser benéfico para os dois e que a longo
prazo não causará problemas.
Ao menos é o que ele acredita e repete para si mesmo dia após dia.
AGRADECIMENTOS
Eis-me aqui, mais uma vez, onde achei que nunca estaria.
Tenho muito a agradecer a muitas pessoas que me ajudaram nesse
trajeto, que não me deixaram desistir, que me apoiaram, que me presentearam
com palavras de carinho quando mais precisei e que me fizeram chegar até
aqui.
Aos meus leitores, que me enchem de orgulho a cada comentário, que
me amam e me xingam na mesma sentença, que me acompanharam em mais
uma loucura e que nunca desistiram de mim.
As minhas leitoras betas, Tainá, Yara e Flávia, que tanto me ajudaram e
alertaram e também, por vezes, me xingaram e ameaçaram pela demora.
Vocês são maravilhosas!
À Thatyanne Tenório, pela capa maravilhosa feita de última hora
(menos de 24 horas antes do lançamento), por suportar todas as minhas crises
de indecisão, por procurar e trocar de imagem vezes sem conta, por ser tão
paciente e, é claro, pelo trabalho maravilhoso. Toda luz à você, mana, e conte
comigo pra tudo.
À Thaís, que se dos meus textos poucas palavras leu, mesmo assim
sempre me pôs pra cima quando a bad batia, quando o xaxu era eterno e por
todo amor e carinho. Amo você, mana.
E, por último, mas não menos importante, à Bárbara Lorrany, para
quem essa série sempre será dedicada.
Sofia e Henrique são tão teus quanto meus, Babi, porque se até aqui
cheguei, foi por pura insistência e suporte seus. Você que me levanta, que me
faz ir além, que me acorda pra vida e mostra qual caminho seguir, que me diz
o que está certo e o que está uma bosta, que me xinga dia e noite, que me
suporta mesmo com todos os meus defeitos e crises e que me ama, mesmo
que não pareça, mas não tanto quanto eu te amo.
Você é e sempre será, desde que nos conhecemos, ao que agora parece
séculos atrás, uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida, com
certeza a pessoa de coração mais puro que já conheci e a irmã que não é do
meu sangue, mas é como se fosse.
Muito obrigada por tudo que fez por mim, por ter me feito chegar aqui
e por me encorajar a ir mais longe. Amo você de todo meu coração.
SOBRE A AUTORA
La Martine é apaixonada por livros há mais tempo do que é capaz de
lembrar, mas seu amor também pela escrita começou a cerca de quase 5 anos
atrás, quando descobriu que havia uma plataforma online de livros onde
qualquer um poderia se tornar um escritor.
Lê e escreve compulsivamente em iguais medidas e seus livros são as
retratações do que mais a encanta na literatura. Nascida e criada na cidade de
Campina Grande, Paraíba, considera-se uma nordestina de raiz e tem o sonho
de, um dia, poder apresentar para o mundo as belezas da sua terra.
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