Resumo
Dentro das necessidades diversas na área da educação, os alunos especiais são um
capítulo à parte, pois muitas escolas, ainda hoje, não são adaptadas às suas necessidades e, se
tratando de alunos especiais na EJA, encontramos ainda menos acesso. Muitos alunos
diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que chegam a frequentar as salas
de aula do ensino regulamentar, sofrem com a falta de preparo do corpo docente e da escola.
O que dizer dos que, com ousadia ainda maior, enveredam no grande desafio das salas de aula
da EJA.
Introdução
O presente artigo nasceu da paixão despertada pelo contato com “pessoas azuis”, como
são chamados os autistas, e seus familiares, trabalhando com essas pessoas e percebendo as
nuances de suas necessidades e, também potencialidades, dentro do ambiente
familiar/social/escolar. A ideia de contribuir cada vez mais no aperfeiçoamento do conceito de
uma real inclusão em que todos os integrantes da comunidade escolar convivam
harmoniosamente. A realidade de autistas inseridos no ensino regulamentar fazendo grandes
avanços pode ser transportada para a EJA.
Para leigos no assunto, chega a ser motivo de espanto que personalidades como Lionel
Messi2 e Susan Boyle3 tenham diagnóstico de TEA. Mas para os profissionais que atuam na
1
Bacharel em Teologia. Tecnólogo em Construções Militares. Militar. Professor do Ensino Técnico e Superior
Militar. Professor de Teologia. Cinófilo. Cinoterapeuta atuante na área de autismo. Palestrante nas áreas de
liderança organizacional, motivacional e Terapias alternativas para portadores de TEA. Autor do livro “Neve no
Deserto” (Editora Multifoco).
E-mail: mnevesadest@gmail.com / marcelo_neves@id.uff.br
2
Jogador de futebol do Barcelona e da seleção argentina, vencedor por cinco vezes do prêmio de melhor
jogador do mundo da FIFA.
3
Cantora britânica. Desprezada pelos jurados do programa “Britain's Got Talent” antes mesmo de sua primeira
participação, chegou a final do mesmo obtendo a segunda colocação, alçando fama mundial. Já gravou 7 (sete)
CDs.
área, vê-los destacando-se em seus talentos é mais uma prova de que eles, quando
concentrados no que lhes mais atrai a atenção, podem alcançar além da expectativa que
criaram de si.
Perceber suas nuances e ajudá-los a se desenvolver através de atividades, muitas vezes
não convencionais, é um desafio a ser proposto aos profissionais que abracem esta causa e
estejam dispostos a mudar paradigmas engessados na educação. Sobre isso, Anita Brito relata:
Incluir não significa tentar “curar” o educando ou adequá-lo a métodos já existentes
e fossilizados. Incluir significa trabalhar com todos dentro de suas habilidades
diferenciadas; aprimorá-las, desafiá-las... É respeitar e entender as capacidades de
cada um sem esperar um modelo ideal. É aprender e ensinar que o ser humano pode
e deve crescer dia-a-dia sem que seja tolhido por uma sociedade segregadora,
excludente e discriminadora. (P. 14)
A sociedade brasileira, desde o berço, vive uma constante evolução. Ela é o resultado
da junção de diversas culturas que nos formaram e que, com o passar do tempo, foram se
amalgamando entre si, formando esse bolo evolutivo que chamamos de nação. Não há como
separar totalmente os brasileiros, pois uma hora qualquer, eles sempre vão se encontrar em
algum ponto comum. Esse conceito vai muito além de nossos próprios preconceitos. Com a
educação observamos algo semelhante. Não há como educar com qualidade uma parcela
desse povo em detrimento de outros, pois uma hora qualquer, a balança que equilibra essa
nação vai desequilibrar drasticamente. É fato que essa balança já experimentou várias ondas
de desequilíbrio, e que não será difícil vislumbrarmos desequilíbrios vindouros. Isso deve ser
observado fazendo uma análise profunda de nossa raiz para se traçar um parâmetro evolutivo
e projetar metas reais a serem alcançadas.
Desde a antiguidade observamos a evolução da educação. Esta evolução vem
acontecendo desde o raiar das eras e despontando de maneiras diferentes de acordo com o
pensamento de cada cultura local. A prática baseada nas repetições, nas transcrições de textos
e memorização rigorosa acompanhada de castigos físicos era consagrada entre os sumérios e
egípcios por volta de 3238 a.C. e dos chineses em 2500 a.C.. Segundo Genovesi (1999, p.
38), esta prática supõe a existência de uma instituição do tipo escolar. Já Manacorda (1989, p.
14) faz um paralelo entre os ensinamentos de Ptahhotep no antigo Egito (2450 a.C.) e do
romano Quintiliano (30-100 d.C.). Para ele, apesar da diferença de cultura, região e de quase
três milênios de distância entre eles, ambos demonstravam a preocupação na formação de
oradores ou homens públicos, ou seja, políticos. Este tipo de ensino projeta para um prenúncio
de formação de castas sociais bem definidas e separadas pelo tipo de instrução que
receberiam. Passando pela Grécia, observamos o conceito de Paidéia, que se resume ao ensino
do homem livre, e da Duléia, que nos mostra uma forma de ensino voltada apenas ao trabalho
no modo escravista. No Brasil, a chegada dos Jesuítas em 1549, marca o início da instituição
escolar em nossa terra. Ao longo de quase quatro séculos, as instituições escolares estiveram
restritas a pequenos grupos. A partir de 1930 começou haver avanços, ainda muito tímidos,
inclusive observando a inserção de negros, mestiços, índios e mulheres.
Os anos passaram e, em pleno século XXI, a Presidente Dilma Rousseff, ao assumir o
segundo mandato, lança o slogan “Brasil, pátria educadora!” Chega a soar estranha tal
declaração, observando-se as condições atuais oferecidas aos alunos e aos profissionais de
ensino. Partindo desse pensamento, observa-se um abandono aos profissionais que integram
as fileiras dos que labutam no ensino EJA. Muitos entram despreparados na sala de aula e
outros desmotivados. O pior é quando as duas características se encontram na mesma pessoa.
A responsabilidade pela qualidade da educação deve ser dividida quantitativa e
qualitativamente pelos poderes públicos, entidades educacionais, educadores e educandos.
Essas responsabilidades divididas cada uma a seu respectivo e real responsável, devem ser
gerenciadas de forma a um observar o procedimento do outro com vistas a estabelecer uma
supervisão mútua de tarefas. Essa supervisão é ao mesmo tempo uma orientação.
A função social de integralização deve ser pensada não somente no ensino
regulamentar e especial, mas principal e urgentemente em se tratando do sujeito da EJA.
Quando se fala em sujeito da EJA, deve-se lembrar das questões associadas à comunidade
carcerária que necessita de uma abordagem diferenciada e de profissionais com capacitações
especialmente trabalhadas. Não obstante, acolhe-se nesse processo a questão das diversas
mulheres que deixam o caminho dos estudos para cuidar da família e não tem tempo para si
mesmas, ou sofrem maus tratos e ficam desmotivadas. Neste ponto, ressalta-se que não devem
ser negligenciadas as questões relacionadas à comunidade rural, indígena e ribeirinha. Estas
comunidades enfrentam problemas como distância e acesso, motivação do educador e do
educando e as questões de sustento da família, onde normalmente, as crianças também tem
que ajudar os pais na “lida” e não podem se dar ao “luxo” de estudar. Os idosos que vivem
nessa situação não podem dividir suas poucas forças entre o trabalho na roça ou na pesca,
atividades domésticas e seus estudos. As mulheres desse contexto se tornam mais uma
“Maria”4, que enterra seus poucos sonhos ao ter que abandonar o “ABCDário” por tirar seu
4
O premiado curta de animação de Márcio Ramos apresenta Maria José, uma menina sertaneja de cinco anos,
que se vê forçada a deixar de “desenhar” letras para ajudar nos trabalhos de casa. Os anos passam e ela vê
história se repetir com sua filha. O filme termina mostrando que outras “Marias” utilizaram o mesmo caderno
e, dá entender que, se nada mudar, outras “Marias” também deixaram os estudos.
tempo das tarefas de casa. Ao crescerem, esses homens e mulheres passarão este legado aos
seus filhos. Sobre este assunto, Elionaldo Julião disse:
Durante muitos anos, quando se falava em educação de jovens e adultos, imaginava-
se estar falando de um grupo social homogênio com características bio-psicossociais
bem distintas dos demais e definidas. Nãos e levava em consideração as suas
particularidades, especificidades, tampouco a sua diversidade: faixa etária; gênero;
etnia; credo religioso; ocupação profissional; orientação sexual; situação social; e se
privados ou não de liberdade. (p. 4)
Sob a luz deste artigo vemos que o aluno com deficiência, enquanto em sala de aula, está
sob o cuidado e responsabilidade do professor e da comunidade escolar. Sendo assim, o
professor deve ter todo o cuidado com as questões sobre preconceito. Tratando-se de uma
turma de EJA, as questões sobre preconceito e discriminação podem vir à tona de uma
maneira ou de outra. O professor deverá estar atento a estas questões e saber intervir de
maneira a não aumentar a possível baixa autoestima do aluno que estiver sofrendo a ação de
discriminação e, ao contrário disso, promover a integração deste junto à turma.
Nestas questões, a primeira pessoa a ser confrontada deve ser o próprio professor. Muitas
questões ligadas a preconceitos precisam ser resolvidas em seu próprio interior e, para isso,
muitas vezes deve-se solicitar a ajuda de um profissional qualificado. Resolvidas estas
questões, ou pelo menos encaminhadas à resolução, o profissional de ensino poderá dedicar-
se a resolução destas problemáticas dentro da turma.
A Lei Nº 7.853 de 24 de outubro de 1989 recebeu nova roupagem à luz do Estatuto da
Pessoa com Deficiência. O Art. 8º lemos:
Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e
multa: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer
cessar inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau,
público ou privado, em razão de sua deficiência;
II - obstar inscrição em concurso público ou acesso de alguém a qualquer cargo
ou emprego público, em razão de sua deficiência; (Redação dada pela Lei nº 13.146,
de 2015) (Vigência)
III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promoção à pessoa em razão de sua
deficiência; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de prestar assistência
médico-hospitalar e ambulatorial à pessoa com deficiência; (Redação dada pela Lei
nº 13.146, de 2015) (Vigência)
V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar execução de ordem judicial expedida
na ação civil a que alude esta Lei; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da
ação civil pública objeto desta Lei, quando requisitados. (Redação dada pela Lei nº
13.146, de 2015) (Vigência)
§ 1o Se o crime for praticado contra pessoa com deficiência menor de 18
(dezoito) anos, a pena é agravada em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
Percebe-se a grande atenção por parte da legislação sobre o acesso a educação por
parte de todos. Porém nada foi proposto em questões de adaptação dos meios escolares.
O contrário disso seria uma metodologia mais livre e sem obrigatoriedades. Desta
maneira, seria mais fácil atingir todos os diferentes tipos de pessoas que se achegam a nós
educadores. Trato inclusive, neste caso, da inclusão. Quando falamos em EJA, já estamos
falando de inclusão. A realidade, porém é bem diferente. Se com pessoas ditas “normais” a
inclusão já é deficitária, o que encontramos no caso de pessoas com necessidades especiais é
muito pior. No caso de necessidades especiais “mais aceitas”, como cadeirantes e deficiências
visuais e auditivas, os preconceitos são amenizados pelo pouco que já se foi conquistado. A
situação é mais grave no caso de pessoas que possuem diagnósticos que não são tão simples
de compreensão. Cito por exemplo, o caso de pessoas diagnosticadas com Transtorno do
Espectro Autista, que sofrem muito preconceito por parte de pessoas que simplesmente não
conhecem nada sobre o tema, além de contar com profissionais desabilitados a lidar com este
tipo de público, e que também não demonstram nenhum tipo de interesse. É necessário que se
busque novas formas de trabalho com os diversos tipos de público, para desta maneira,
promover a integração e libertação social que tanto esperamos.
Apesar de hoje haver inúmeras pesquisas que apontem para uma pré-disposição
genética, o autismo não tem ainda um denominador biológico identificado. Diferentemente da
Síndrome de Down, onde o cromossomo 21 é o marca que a identifica, no caso do autismo,
seriam um grupo de genes que marcariam isso, sendo alguns com intensidades maiores ou
menores.
Em 1949 Kanner passou a classificar esta condição como uma síndrome e referir-se
à mesma como Autismo Infantil Precoce. Este quadro apresentaria como principais
características a dificuldade de contato com pessoas, desejo obsessivo de manter as
situações sem alterações, ligação especial com objetos, fisionomia inteligente,
alterações na linguagem (de mutismo a fala sem função) que tem como
conseqüência dificuldades no contato e na comunicação interpessoal
(SHWARTZIMAN e ASSUMPÇÃO. P. 10).
Foi Plouller que, em 1906, utilizou pela primeira vez o termo autista na literatura
psiquiátrica. Na ocasião, ele estudava pacientes que tinham o diagnóstico de demência
precoce analisando o processo do pensamento de pacientes que faziam referências a tudo no
mundo e à sua volta, consigo mesmo, num processo considerado psicótico. Ele introduziu um
outro novo termo ao mudar o diagnóstico desses pacientes para esquizofrenia.
Leo Kanner, em 1943, descreveu em artigo, seus estudos sobre um grupo de crianças
que apresentavam sérios problemas, porém com certas características comuns. A
característica mais notada era a incapacidade de se relacionar com pessoas. Utilizando do
termo empregado por Plouller, intitulou o seu trabalho de Distúrbio Autístico do Contato
Afetivo. Desta maneira, passou a utilizar esta palavra para descrever a qualidade de
relacionamento daquelas crianças (nota: autismo para descrever auto suficiente).
A aplicação de um Currículo Funcional Natural, defendido pela Psicóloga de Maryse
Suplino (2009) é a tentativa de preencher lacunas deixadas pela literatura técnica no tocante
ao desejo de ver crianças e adultos portadores de Transtornos de Desenvolvimento consigam
atingirem o nível de funcionalidade que suas capacidades permitam.
Hoje essas pessoas tem uma possibilidade real de uma melhor inserção em nossa
sociedade do que o que era esperado delas no passado, pois a maioria dos pais e profissionais
acreditavam que o ápice no horizonte do conhecimento da época, resumia-se na expressão: “O
que eu quero é que meu filho seja feliz! Nada mais!”. Hoje pode-se vislumbrar objetivos
muito além do que se imaginava antes, a medida que as perspectivas técnicas dos
profissionais mudem. Não há como permanecer insistindo em um método que insista em
“ensinar” a essas pessoas informações que não possuem nenhuma funcionalidade em si
mesmas, como colorir elefantes e saber que jacarés vivem na Amazônia, mas apresente a
importância da independência, da higiene pessoal, a demonstração funcional de afeto e
satisfação para as pessoas.
Independente da abordagem escolhida (ABA, TEACCH, FLOORTIME, SON-RISE,
etc), o caminho deve ser o afeto! Muito além do carinho, do afago, o conceito de afeto busca
afetar, atingir, impressionar o outro com nossos gestos, voz, expressões e movimentos. A
mudança de nossas atitudes para com os alunos diagnosticados com TEA faz a diferença na
motivação deles a interagirem conosco. Há autistas que, por exemplo, podem irritar-se com a
voz do profissional. Esse aspecto deve ser observado e esse tom de voz e jeito de falar deve
ser trabalhado. Na verdade, essas mudanças de paradigmas visando atingir esse conceito de
“Afetoterapia” só começara a surtir efeito a partir do momento em que, em primeiro lugar, o
profissional seja “afetado” pelo autista. Para isso, o profissional precisa se despir de velhos
conceitos, e porque não dizer, preconceitos e se deixar tocar pela experiência riquíssima do
convívio com portadores de TEA. Este contato com os alunos na EJA tende a produzir
aprendizados mútuos e dinâmicos baseados nas histórias de vida de cada alunos,
acrescentando conhecimentos e saberes nas vidas de todos os alunos e também do professor
que se deixe “afetar”, assim como cita Jane Paiva:
A EJA tem como princípio o entendimento de que os saberes, produzidos ao longo
da vida pelos sujeitos praticantes, são a base sobre a qual assentam seu estar no
mundo, sua compreensão e as explicações sobre ele. Também professores, no
processo de metacognição sobre o aprender de seus alunos, produzem
conhecimentos, nem sempre suficientes para possibilitar a continuidade dos
processos de aprendizagem, quanto adequados para criar ambientes satisfatórios ao
aprendizado do que deve compor o currículo na educação de jovens e adultos. (p.
91)
Em se tratando de afeto, talvez não haja nenhum ser vivo mais habilitado a transmiti-
lo do que o cão. Neste conceito, a “Cinoterapia” é uma nova abordagem terapêutica que
apresenta o uso de cães no tratamento seja de ordem física, psíquica e emocional de pessoas
com necessidades especiais. Pode ser empregada em todas as idades e circunstâncias. Os
profissionais que atuam na educação e na saúde podem lançar mão de mais este aliado no
intuito de reforçar, estimular e facilitar a reabilitação e a reeducação global do paciente. Os
resultados apresentados são muito satisfatórios nos casos de crianças, idosos, TEA, Síndromes
de Rett, Aspenger, Heller, Down, além de disfunção neuromotora e deficiência mental.
Com esta terapia, as pessoas com problemas sentem-se mais empolgadas a realizar o
tratamento, pois têm a noção de estar no comando, já que quem dá a ordem aos animais são
elas, havendo uma diminuição da dor e um aumento da segurança. Por outro lado, os
benefícios evidentes a longo prazo são o fato de as pessoas se tornarem mais abertas e
comunicativas. Pesquisando a existência de pesquisas sobre o assunto foi encontrada a
seguinte informação:
Uma nova pesquisa realizada nos Estados Unidos estudou 643 crianças com idade
entre quatro e dez anos: 58% tinham um cachorro em casa e 42% não. Foram
levados em consideração fatores como índice de massa corporal, atividades físicas,
tempo em frente ao computador/TV e saúde mental. A única diferença significativa
encontrada entre os grupos foi nos níveis de ansiedade e de estresse.
Dos 58% das crianças que tinham cachorros, 12% foram diagnosticadas com stress e
ansiedade, de acordo com um teste padrão. Esse número pulou para 21% quando as
crianças sem o animal de estimação foram analisadas. "Cachorros podem reduzir a
ansiedade infantil, particularmente a ansiedade de separação e social, através de
vários mecanismos. Eles podem estimular a conversação e fortalecer laços", aponta
o estudo.
Um dos possíveis responsáveis pelo efeito é a ocitocina, hormônio associado à
redução da ansiedade e à criação de laços sociais. E não são só as crianças que saem
ganhando. A pesquisa diz que "A interação social entre cachorros e humanos pode
aumentar os níveis de ocitocina tanto no humano quanto no cachorro. Interagir com
um cachorro amigável também reduz os níveis de cortisol através da liberação da
ocitocina, que atenua a resposta psicológica ao stress".
Apesar de a pesquisa ter sido realizada com um grande número de crianças, estudos
mais detalhados serão necessários para comprovar uma relação de causa e efeito.
(http://super.abril.com.br/ciencia/ter-um-cachorro-diminui-estresse-e-ansiedade-em-
criancas)
Cito como exemplo de sucesso, o caso de Daniel Ribeiro Jansen Ferreira, portador da
Síndrome de Aspenger, que em 2005, tornou-se o primeiro autista a defender uma tese de
mestrado no Brasil. Esse sucesso porém, começou sete anos antes ao ganhar um cão da raça
Labrador. O animal o ajudou a melhorar sua coordenação motora e, aos poucos, desenvolver
confiança. Tudo isso se deu quando ele desenvolveu o afeto a partir do simples aprendizado
de abraçar o animal, o que não fazia antes de tê-lo. Inspirada nessa emocionante história de
sucesso, sua mãe Sílvia Ribeiro Jansen Ferreira Fundou a ATEAC (Instituto para Atividades,
Terapias e Educação Assistida por Animais de Campinas), uma ONG que visa auxiliar
pessoas com TEA e suas famílias através do uso de cães (ateac.org.br).
Pesquisa de Campo
Diante da pesquisa proposta neste artigo, deveria encontrar uma escola que contasse
com a associação EJA / Alunos Especiais / Autistas. Com grato prazer, encontrei uma
instituição em minha cidade que contemplasse essa associação: a Escola Municipalizada José
Guimarães no Município de São Pedro da Aldeia, RJ.
A Escola conta em seus quadros com 452 alunos divididos pelos três turnos. Destes
alunos, dezesseis possuem algum tipo de deficiência. No ensino regular há um aluno com
Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH); um cadeirante; um com
Síndrome de Down, recentemente transferido para outra unidade; um com Transtorno do
Espectro Autista (TEA), igualmente transferido para outra unidade; e seis com retardos
mentais diversos. Todos estes alunos chegaram à unidade escolar já possuindo laudo médico
com o diagnóstico. O relato da Coordenadora Pedagógica é de que a Secretaria de Educação
do Município enviou um professor auxiliar para cada aluno especial do ensino regular. Cada
um desses profissionais tem habilitação na área de acompanhamento de deficientes diversos,
obtida através de cursos fornecidos pela própria Secretaria de Educação.
Quando nos voltamos para as questões da EJA na escola adotada para a pesquisa,
encontramos um quadro com duas turmas de EJA, sendo que os seis alunos especiais
concentram-se em apenas uma delas. Observando as especificidades de cada aluno especial
nessa turma de EJA, encontramos um aluno de 19 anos com retardo mental; um aluno de 20
anos que possui um nível nítido de retardo mental, porém não diagnosticado e sem laudo; uma
aluna de 40 anos com retardo mental; um aluno de 45 anos com retardo mental, que
abandonou já na 2ª fase; um aluno de 70 anos, com retardo e que abandonou por nunca
conseguir ir à escola; e uma aluna de 19 anos com TEA. Apesar de estarem na mesma sala de
aula e tendo aula com o mesmo profissional, estes alunos estão em três fases diferentes da
EJA. Este fato trás certa dificuldade ao trabalho da Professora, pois precisa dar atenção a cada
um deles em suas necessidades e dúvidas particulares, além de ter que apresentar conteúdos
diferentes na mesma aula. Quando havia algum tema em comum a ser apresentado, a
professora procurava utilizar os recursos disponíveis, tais como vídeos trazidos em pen-drive
e apresentado em TV da própria Escola. Sobre a incorporação de tecnologias digitais em
apoio a EJA cito Ivone Pinto e Daniel Souza:
A incorporação das tecnologias no contexto da prática educativa da EJA contribui
para o aluno melhor dispor do tempo-espaço para a criatividade, para a atividade que
incentivem o desafio do aprender. A escola precisa se tornar uma continuidade da
vida dos alunos, favorecer suas expectativas, metas, objetivos e, conseqüentemente,
mantê-los motivados para o saber, pois só assim o ato educativo assumirá a sua
indispensável coerência.
A inserção das tecnologias na escola deve ser pensadas num contexto curricular e de
gestão possibilitando sua utilização dentro de um projeto pedagógico interdisciplinar
e transdisciplinar.” (p. 6)
Conclusão
Diante do exposto no presente artigo, exponho a necessidade urgente de capacitação
dos profissionais de educação e auxiliares. Defendo que obtendo ou não uma melhor
formação continuada, esse profissional deve também interagir no currículo a fim de
aperfeiçoá-lo e desenvolvê-lo livre de amarras e talas que o engessam, tornando-o mais
interessante e atrativo para o aluno e mais prazeroso para o educador, mesmo que isso resulte
em romper as fronteiras da sala de aula.
Há ainda a necessidade de o profissional de educação reconciliar-se com a sua
humanidade, reconhecendo suas próprias falhas e limites, para assim encontrar novos
caminhos e permitir ser tocado, afetado pelos alunos e suas diferentes necessidades. Uma vez
afetado pelo aluno, o profissional terá todas as condições de também buscar afetar e distribuir
esse afeto de modo a despertar áreas de interesse não somente do aluno com TEA, mas de
todos os seguimentos da comunidade escolar e contar com a participação de todos no
desenvolvimento do projeto. Em um segundo momento, os pais do aluno e outros familiares
serão atingidos por esta interação de tal forma que passarão a estar mais participativos da
comunidade escolar, contribuindo assim com o trabalho global da turma dentro e fora do
contexto escolar, promovendo assim uma melhor interação e a verdadeira inclusão.
Tendo conseguido ganhar o aluno, a família e o restante da comunidade escolar, o
professor poderá apontar caminhos em que o aluno venha a se destacar nas suas áreas de
interesse e desenvolver-se acima do esperado, projetando um futuro promissor.
Bibliografia
BRITO, Anita e SALES, Nicolas Brito. TEA e inclusão escolar: Um sonho mais que possível. São
Paulo. 2014.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
GENOVESI, G. Pedagogia: Dall’empiria versus la scienza. Bologna: Pitagora, 1999.
SOUSA, Antônio Cícero de. Prefácio. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org.). A questão
política da educação popular. 3.ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. p.7-10.
SUPLINO, Maryse. Currículo Funcional Natural - Guia prático para a educação na área de
autismo e deficiência mental. 3ª Edição Revisada. Rio de Janeiro. Kirios. 2009.
http://super.abril.com.br/ciencia/ter-um-cachorro-diminui-estresse-e-ansiedade-em-criancas