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O presente trabalho tem como objetivo tecer comentários sobre a aplicação de parte da
Lei nº 11.232/05, que alterou o Código de Processo Civil no tocante a liquidação e
cumprimento da sentença, bem como a própria definição legal do instituto.
Não se tem aqui a finalidade de esgotar o tema legal, mas enfocar e expor, de maneira
didática, o procedimento de liquidação de sentença e a fase posterior, de seu
cumprimento, antes chamada "fase de execução", em todos os seus artigos (475-A a
475-R, CPC).
As discussões doutrinárias sobre a alteração trazida pela citada lei quanto ao próprio
conceito de "sentença" serão mencionadas. Do mesmo modo as relativas ao processo
de execução propriamente dito (ou autônomo), agora restrito aos títulos executivos
extrajudiciais, em consonância com a Lei nº 11.382/06.
Destarte, temos como principal escopo aduzir comentários quanto aos artigos 475-A a
475-R, que recheiam os Capítulos IX (Da liquidação de sentença) e X (Do
cumprimento da sentença) do Título VIII (Do procedimento ordinário) do Livro I (Do
processo de conhecimento) do Código de Processo Civil.
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AS ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI Nº 11.232/05 E SUA FINALIDADE
Desta forma, caso o devedor não cumpra com suas obrigações assumidas perante o
credor, este último recorre ao Estado, através do Poder Judiciário, para ver satisfeito o
direito ao qual faz jus.
Contudo, por muitas vezes o credor vê seu direito de receber o que lhe é
reconhecidamente devido exaurir-se no tempo, seja por culpa da morosidade do Poder
Judiciário, seja por culpa da própria legislação, por vezes excessiva e burocrática.
Por esta razão é que o legislador decidiu adequar o Código de Processo Civil ao
princípio da economia processual, mormente o ciclo da execução, através das Leis nºs
11.232/05 e 11.382/06.
Em síntese, a Lei nº 11.232/05 eliminou o processo autônomo de execução de
sentença, trazendo as fases de liquidação e cumprimento da sentença para dentro do
processo de conhecimento.
Por fim, antes da análise direta dos artigos trazidos pela "nova" lei, cabe
considerarmos que a reforma processual foi muito profunda, alterando institutos há
muito consagrados, de modo que divergências doutrinárias e jurisprudenciais são
inevitáveis até hoje.
Há autores que afirmam serem diversos artigos inconstitucionais (p. ex. os artigos 475-
L, § 1º e 475-N, inciso I, ambos do CPC).
Outros discutem sobre a necessidade ou não de intimação da parte executada para que
cumpra espontaneamente a sentença, e não incida na multa de 10% (dez por cento)
prevista no artigo 475-J, CPC.
Afinal, não se trata de grande novidade, pelo menos em questão temporal, já que a Lei
nº 11.232/05 foi publicada no Diário Oficial da União em 23 de dezembro de 2005,
com vigência a partir de 24 de junho do ano seguinte.
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Tem como finalidade completar o título, que passa a ser executivo, com o atributo da
liquidez. Tal atributo é o quantum debeatur, ou seja, o valor debatido. Sem a liquidez,
torna-se impossível a execução do título.
A saber: o título, seja ele judicial ou extrajudicial, para que tenha eficácia executiva,
precisa ser certo, líquido e exigível, conforme disciplina o art. 586, CPC. [02]
Com a reforma trazida pela Lei nº 11.232/05, a liquidação passa a correr dentro do
mesmo processo que originou o título ora sem liquidez, sem a formação de nova
relação jurídica processual (não é necessária formulação de petição inicial e nova
citação, p. ex.).
Isso não tira, contudo, a natureza de ação da liquidação de sentença, que faz coisa
julgada material (e pode ser impugnada por meio de ação rescisória). Somente há uma
simplificação, uma economia processual, como já ocorria, p. ex., com a reconvenção.
A liquidação de sentença tem lugar apenas em sentenças condenatórias ou em parte
condenatórias. Assim, sentenças declaratórias ou meramente constitutivas não podem
ser liquidadas. Tal procedimento ultrapassaria o pedido do autor, configurando
julgamento ultra ou extra petita.
Essa é uma das grandes reformas trazidas pela Lei nº 11.232/05. A liquidação de
sentença dispensa nova citação, pois é parte do processo de conhecimento. Não se trata
de nova relação jurídica processual, mas da mesma, com as mesmas partes e com o
mesmo objeto final. Desta forma, o advogado será apenas intimado. Na maior parte
dos casos, a intimação ocorre através do Diário Oficial.
Como o CPC não traz regra expressa quanto à competência para processar a
liquidação, entendemos que deve ser seguida a regra do art. 475-P, CPC, que se refere
ao cumprimento de sentença. Isso porque se trata da mesma lei e matéria consequente.
Assim, é competente o juízo que proferiu a sentença no primeiro grau de jurisdição; o
juízo do lugar onde se localizam os bens sujeitos à expropriação; ou, ainda, o juízo do
lugar do atual domicílio do réu.
§ 3º. Nos processos sob procedimento comum sumário, referidos no art. 275, inciso II,
alíneas d e e desta Lei, é defesa a sentença ilíquida, cumprindo ao juiz, se for o caso,
fixar de plano, a seu prudente critério, o valor devido.
A apuração do valor a ser pago deve seguir estritamente o disposto na sentença. Tal
sentença, apesar de ilíquida, deve dar as linhas pelas quais seguirá o credor para a
apuração do valor devido.
Não concordando o devedor com o valor apurado pelo credor, deverá opor
impugnação ao cumprimento de sentença, nos termos do art. 475-L, inciso V, CPC.
§ 1º. Quando a elaboração da memória do cálculo depender de dados existentes em
poder do devedor ou de terceiro, o juiz, a requerimento do credor, poderá requisitá-los,
fixando prazo de até 30 (trinta) dias para o cumprimento da diligência.
Entende Nelson Nery Júnior que, nessa hipótese, fica o devedor "impedido de opor
impugnação por excesso de execução (CPC 475-L V)" [03]. Entende o doutrinador
que se trata de presunção iuris et de iure, que não se admite prova em contrário.
Imaginemos que o devedor perdeu o prazo fixado pelo juiz para a apresentação dos
dados. O prazo para apresentação foi atingido pela preclusão, mas não o direito de
manifestar-se contra um excesso que acredite existente.
Seria por demais equivocado retirar do devedor o direito de opor impugnação por
excesso de execução.
Por fim, quanto à segunda parte do parágrafo debatido, caso os dados não sejam
apresentados por terceiro, o juiz fixará prazo para apresentação de tais dados e, não
sendo atendido, ordenará expedição de mandado de busca e apreensão, sem prejuízo
de imputação de crime de desobediência ao terceiro. [04]
§ 3º. Poderá o juiz valer-se do contador do juízo, quando a memória apresentada pelo
credor aparentemente exceder os limites da decisão exeqüenda, e, ainda, nos casos de
assistência judiciária.
Trata-se de medida que pode ser adotada de ofício pelo juízo, mesmo sendo esta de
interesse do devedor. Isso ocorre porque, na maioria dos casos, na execução por
quantia certa por meio de cumprimento de sentença, o valor patrimonial é disponível.
4º. Se o credor não concordar com os cálculos feitos no termo do § 3º deste artigo, far-
se-á a execução pelo valor originariamente pretendido, mas a penhora terá por base o
valor encontrado pelo contador.
Parece-nos que este parágrafo está mal redigido, dando a entender até mesmo que é
inconstitucional.
A impugnação deve ser decidida nos autos e dessa decisão interlocutória cabe recurso
de agravo. Exercido o direito de ampla defesa e rejeitada a impugnação, aí sim, a
penhora terá por base o valor apresentado pelo contador judicial.
Art. 475-C. Far-se-á a liquidação por arbitramento quando:
A liquidação por arbitramento ocorre quando for necessária perícia para apuração do
quantum debeatur.
Art. 475-D. Requerida a liquidação por arbitramento, o juiz nomeará o perito e fixará o
prazo para entrega do laudo.
Neste caso, o juiz designará audiência para que o perito possa analisar os quesitos e
respondê-los adequadamente.
Art. 475-E. Far-se-á a liquidação por artigos, quando, para determinar o valor da
condenação, houver necessidade de alegar e provar fato novo.
Frederico Marques define fato novo, nesse caso, como "o acontecimento apto a
determinar o valor da condenação" [05].
Não se trata de fato modificativo do processo, já que não pode alterar o que já decidiu
sentença transitada em julgado. O fato novo não diz respeito ao dano, cuja existência
já foi provada no processo de conhecimento, mas sim deve ater-se a questão da
valoração desse dano.
Tal procedimento poderá dar-se pelo rito sumário (art. 275 e ss., CPC) ou ordinário
(art. 282 e ss., CPC), dependendo do caso. Devem ser apresentadas a petição inicial,
cumprindo os requisitos estabelecidos nos arts. 282 e 283, CPC [07], a defesa, as
provas, razões finais etc. Por fim, será proferida a sentença pelo juiz.
Art. 475-G. É defeso, na liquidação, discutir de novo a lide ou modificar a sentença
que a julgou.
"A sentença deve ser executada segundo o que nela se contém, de modo expresso e
implícito, fielmente, adotando-se o adjetivo preciso. Ao diverso proceder, à evidência
o desacato à autoridade da coisa julgada". [08]
"Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e
269 desta Lei".
Assim, p. ex., a decisão do juiz que determina a exclusão de uma das partes do pólo
passivo, em caso de litisconsorte, por falta de legitimidade, seria sentença, já que
legitimidade é uma das condições da ação (matéria do art. 267, inc. VI, CPC).
Consequentemente, seria recorrível por meio de apelação (art. 513, CPC [11]).
Por essa interpretação, os autos deveriam subir ao Tribunal para a decisão sobre a
legitimidade da parte excluída em primeira instância, ficando o processo suspenso.
Ora, tal situação iria contra o objetivo do Código de Processo Civil e da própria Lei nº
11.232/05, que visam a celeridade e a economia processual.
Desta forma, há que se entender que o art. 162, § 1º, CPC, deve ser interpretado dentro
da sistemática do Código.
Assim, sentença é o ato do juiz que implica em alguma das situações previstas nos arts.
267 e 269, CPC, e que, ao mesmo tempo, extingue o processo ou procedimento no
primeiro grau de jurisdição.
Logo, a decisão que exclui o corréu por ilegitimidade não extingue o processo, mas
sim resolve questão incidental, por isso chamada de decisão interlocutória (art. 162, §
2º, CPC [12]) e recorrível por meio de agravo (art. 522, CPC [13]).
No caso do art. 475-H, ora em comento, acertou o legislador em dizer que da decisão
de liquidação de sentença cabe agravo de instrumento.
Apesar de a liquidação de sentença ter natureza de ação, de sua decisão ter conteúdo
de mérito, acolhendo ou rejeitando a pretensão (art. 269, I, CPC), de fazer coisa
julgada material (art. 467, CPC [14]) e ser rescindível (art. 485, CPC), não põe fim ao
processo e, assim, é recorrível por meio de agravo, no caso, de instrumento (e não o
retido), por definição do legislador.
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DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA
Art. 475-I. O cumprimento da sentença far-se-á conforme os arts. 461 e 461-A desta
Lei ou, tratando-se de obrigação por quantia certa, por execução, nos termos dos
demais artigos deste Capítulo.
A Lei nº 11.232/05 modificou a forma de execução de quantia certa, tendo por fim
facilitar e desburocratizar o processo de execução. Conforme se depreende do caput do
artigo em comento, o capítulo denominado "Do Cumprimento da Sentença" rege a
execução de obrigação por quantia certa.
A execução das obrigações (decorridas de títulos judiciais) de fazer ou não fazer reger-
se-ão conforme o art. 461, CPC, e de entregar coisa certa, conforme o art. 461-A, CPC.
O legislador decidiu por inserir este capítulo logo depois do destinado à "Liquidação
de Sentença", já que o cumprimento de sentença ocorrerá após a mesma ser revestida
de liquidez.
Por fim, cumpre dizer que tal capítulo rege a execução de títulos judiciais, e não dos
títulos extrajudiciais.
A questão será mais bem explicada no comentário do art. 475-O, CPC (execução
provisória). O que se vê aqui é que a sentença poderá ser executada, ainda que
provisoriamente, na pendência de decisão de recurso, ao qual não foi atribuído efeito
suspensivo.
Assim não entende o professor Nelson Nery Júnior [15], afirmando que "o devedor
deve ser intimado para que, no prazo de quinze dias a contar da efetiva intimação,
cumpra o julgado e efetue o pagamento da quantia devida".
"O bom patrono deve adiantar-se à intimação formal, prevenindo seu constituinte para
que se prepare e fique em condições de cumprir a condenação. (...) Se por desleixo,
omite-se em informar seu constituinte e o expõe a multa, ele (o advogado) deve
responder por tal prejuízo. (...) 1. A intimação de sentença que condena ao pagamento
de quantia certa consuma-se mediante publicação, pelos meios ordinários, a fim de que
tenha início o prazo recursal. Desnecessária a intimação pessoal do devedor. 2.
Transitada em julgado a sentença condenatória, não é necessário que a parte vencida,
pessoalmente ou por seu advogado, seja intimada para cumprí-la. 3. Cabe ao vencido
cumprir espontaneamente a obrigação, em quinze dias, sob pena de ver sua dívida
automaticamente acrescida de 10%". [16]
Por fim, deve o credor requerer o início da execução, indicando os bens que devem ser
penhorados. Tal requerimento deve ser feito através de simples petição. Se o credor
desejar que a execução seja feita em comarca diversa, deve instruir a petição com o
título executivo judicial.
§ 1º. Do auto de penhora e de avaliação será de imediato intimado o executado, na
pessoa de seu advogado (arts. 236 e 237), ou, na falta deste, o seu representante legal,
ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio, podendo oferecer impugnação,
querendo, no prazo de 15 (quinze) dias.
O auto de penhora será lavrado pelo oficial de justiça, que imediatamente fará a
avaliação do valor dos bens. Destes atos será intimado o executado.
A intimação normalmente é feita através da imprensa oficial (cf. art. 236, CPC [17]),
na pessoa do advogado do devedor. Contudo, pode ser feita intimando-se o advogado
pessoalmente, através de diligência efetuada por oficial de justiça ou por carta
registrada a ele enviada, com aviso de recebimento (cf. art. 237, CPC [18]).
Em caso de intimação feita pelo correio ou por mandado, o prazo conta-se a partir da
juntada do aviso de recebimento ou da cópia do mandado nos autos do processo.
Está prevista a necessidade de realização de penhora e avaliação para o oferecimento
de impugnação. Desta forma, só poderá ser oferecida a impugnação após a garantia do
juízo, que se dará, no caso, com a avaliação do bem penhorado.
Todavia, não é vedada a manifestação do devedor antes da impugnação, que pode ser
feita, conforme criação doutrinária, através de exceção de pré-executividade (chamada
por Cândido Rangel Dinamarco de objeção de pré-excecutividade e por Nelson Nery
Júnior dividida em exceção e objeção de executividade).
Entendemos que a penhora e avaliação são garantias de juízo e que a lei teve por
finalidade exigir a garantia e não especificamente a penhora.
Ou seja, garantido o juízo, seja através da realização da penhora e avaliação, seja por
meio do pagamento do valor da condenação, pode o devedor, querendo, oferecer
impugnação.
Dessa decisão cabe recurso de agravo por parte do credor (já que se trata de decisão
interlocutória). Já para o devedor não há recurso, posto que os argumentos acerca de
penhora incorreta e avaliação errônea devem ser aduzidos na própria impugnação.
§ 3º. O exeqüente poderá, em seu requerimento, indicar desde logo os bens a serem
penhorados.
Essa indicação será feita na própria petição que requereu a execução (cumprimento da
sentença) e atenderá os requisitos legais da penhora, cf. arts. 646 e ss., CPC.
A lei não exige justificativa, por parte do devedor, sobre a razão de ter feito o
pagamento parcial da condenação, de qualquer jeito incidindo a multa apenas sobre o
valor não pago.
Assim, tanto faz se o devedor não quis pagar a totalidade, não o podia fazer por razões
financeiras ou não concorda com a totalidade da condenação.
Todavia, em caso de a condenação ser paga parcialmente por acreditar o devedor que
há excesso de execução, tal matéria deve ser alegada em sede de impugnação. Se
procedente tal alegação, a multa sobre o valor restante ficará sem efeito.
§ 5º. Não sendo requerida a execução no prazo de 6 (seis) meses, o juiz mandará
arquivar os autos, sem prejuízo de seu desarquivamento a pedido da parte.
O juiz não pode determinar, de ofício, o início da execução. Cabe à parte fazer o
requerimento e, não o fazendo, será ordenado o arquivamento dos autos.
Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre:
II – inexigibilidade do título;
V – excesso de execução;
Quanto à impugnação, o art. 475-L, CPC, traz um rol taxativo das matérias que podem
ser alegadas nessa defesa. Assim, não é qualquer matéria que poderia ter sido alegada
(ou efetivamente o foi) durante o processo de conhecimento que podem ser aduzidas
na impugnação ao cumprimento de sentença.
O objetivo do legislador foi limitar a discussão acerca do título executivo judicial, pois
o processo de conhecimento já passou por toda a fase de manifestações e dilação
probatória, não sendo necessário retomar todas as matérias anteriormente alegadas.
Caso não o faça, ocorrerá a preclusão. Se a impugnação versar apenas sobre o excesso
de execução, será liminarmente rejeitada. Se contiver outras matérias, apesar de não
constar explicitamente do parágrafo comentado, apenas o argumento de excesso de
execução será rejeitado, cabendo ao julgador decidir quanto às outras matérias
alegadas.
Art. 475-M. A impugnação não terá efeito suspensivo, podendo o juiz atribuir-lhe tal
efeito desde que relevantes seus fundamentos e o prosseguimento da execução seja
manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta
reparação.
O efeito suspensivo da impugnação será exceção, e poderá ser-lhe atribuído desde que
cumulados os requisitos dispostos no caput do art. 475-M, CPC, ou seja, fundamentos
relevantes da impugnação e ameaça de grave dano de difícil ou incerta reparação.
A conjunção "e" utilizada pelo legislador demonstra a necessidade de cumulatividade
dos requisitos trazidos pelo caput, e não apenas um deles.
Já o termo "poderá" registra uma faculdade do juízo, e não obrigação. Araken de Assis
e Nelson Nery Júnior entendem que, na hipótese acima, a suspensão é medida que se
impõe.
[21]
Caso a caução seja insuficiente, o juiz determinará sua complementação e, caso seja
inidônea, fixará outra caução. Prestada a caução exigida pelo juízo, dar-se-á
prosseguimento à execução.
§ 2º. Deferido efeito suspensivo, a impugnação será instruída e decidida nos próprios
autos e, caso contrário, em autos apartados.
A norma traz um rol dos títulos executivos judiciais. O rol é taxativo e limitativo.
IV – a sentença arbitral;
Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art. 475-J)
incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou execução,
conforme o caso.
No caso dos incisos mencionados, a fase de cumprimento da sentença não corre nos
autos do processo de conhecimento. Desta forma, o executado ainda não foi citado,
não podendo ser apenas intimado.
II – fica sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a sentença objeto da
execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidados eventuais prejuízos
nos mesmos autos, por arbitramento;
Tal apuração e a liquidação serão feitas por arbitramento, disciplinadas nos arts. 475-C
e 475-D, CPC.
§ 1º. No caso do inciso II do caput deste artigo, se a sentença provisória for modificada
ou anulada apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a execução.
§ 2º. A caução a que se refere o inciso III do caput deste artigo poderá ser dispensada:
Outra possibilidade de dispensa de caução ocorre nos casos em que penda agravo de
instrumento de despacho denegatório de recurso especial ou de recurso extraordinário,
situação disposta no art. 544, CPC [24].
Da mesma forma que nos outros casos, a caução não poderá ser dispensada quando
dessa dispensa possa resultar grave dano de difícil ou incerta reparação.
§ 3º. Ao requerer a execução provisória, o exeqüente instruirá a petição com cópias
autenticadas das seguintes peças do processo, podendo o advogado valer-se do
disposto na parte final do art. 544, § 1º:
As cópias das peças que formarão a carta de sentença deverão ser autenticadas.
Contudo, o advogado pode autenticá-las, conforme dispõe o art. 544, § 1º, CPC, sendo
a autenticação de sua responsabilidade [25].
O parágrafo ora em comento traz um rol de peças necessárias para a formação da carta
de sentença e o consequente prosseguimento da execução provisória, bem como
faculta ao exequente juntar as peças que entenda importantes e necessárias.
O art. 475-P, CPC é praticamente uma reprodução do art. 575, CPC, que estabelece a
competência para julgamento da execução de título judicial.
A regra geral é de que o juízo que processou a causa no primeiro grau e proferiu a
decisão ou sentença exequenda é competente para processar e julgar o cumprimento
desta sentença. Essa competência, contudo, deixa de ser absoluta com a vigência da
Lei nº 11.232/05, devido ao disposto no parágrafo único deste artigo.
Logo, o art. 100, II, CPC [26], que dispõe ser competente o foro do domicílio ou
residência do alimentado (ou alimentando), se sobrepõe à regra dos arts. 475-P, II e
575, II, ambos do CPC.
Decidiu-se: "O CPC atual é ainda mais explícito que o anterior ao fixar a competência
do foro da residência do alimentado, bastando que sejam pedidos alimentos para que
qualquer ação pertença ao foro da sua residência". [27]
Contudo, existe ainda divergência jurisprudencial sobre o assunto, entendendo o
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul pela prevalência da regra do art.
575, II, CPC [28] e o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, pela da regra do art.
100, II, CPC [29].
Nesses casos, seria impossível aplicar a regra geral do art. 475-P, II, CPC, já que não
existe processo de conhecimento cível, ou seja, não há juízo cível anterior.
Parágrafo único. No caso do inciso II do caput deste artigo, o exequente poderá optar
pelo juízo do local onde se encontram bens sujeitos à expropriação ou pelo do atual
domicílio do executado, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada
ao juízo de origem.
A opção do legislador pelo termo "poderá" foi não prender o juiz a regra, pois
entendeu desnecessária a constituição de capital para toda e qualquer ação envolvendo
prestação de alimentos, independente do valor.
§ 1º. Este capital, representado por imóveis, títulos da dívida pública ou aplicações
financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a
obrigação do devedor.
O parágrafo não fere o dispositivo constitucional que determina que nada deve ser
vinculado ao salário-mínimo (art. 7º, IV, parte final, CF [32]).
A intenção do legislador foi determinar que a prestação de alimentos tem o mesmo fim
do salário-mínimo, ou seja, "atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua
família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social", conforme dispõe o mencionado artigo.
Assim, a vinculação não acarreta o perigo indicado pelo Supremo Tribunal Federal no
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1425, que decidiu:
"A razão de ser da parte final do inciso IV da CF 7º - ‘(...) vedada sua vinculação para
qualquer fim’ – é evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional
venham a ter influência na fixação do valor mínimo a ser observado". [33]
§ 5º. Cessada a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital, cessar
o desconto em folha ou cancelar as garantias prestadas.
Tais normas estão dispostas no Livro II, Do Processo de Execução, nos arts. 566 a 795,
do Código de Processo Civil.
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REFERÊNCIAS
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Notas
O crime de desobediência está previsto no art. 330, CP, in fine: "Desobedecer a ordem
legal de funcionário público: Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses e
multa".
V – o valor da causa;
VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
II – quando ficar parado por mais de 1 (um) ano por negligência das partes;
III – quando, por não promover os atos e diligências que lhe competir, o autor
abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
"Art. 162. (...) § 2º. Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do
processo, resolve questão incidente."
"Art. 467. Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e
indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário."
STJ, 3ª T.,REsp nº 954859-RS, rel. Min. Humerto Gomes de Barros, j. 16.8.2007, v.u.
"Art. 236. No Distrito Federal e nas Capitais dos Estados e dos Territórios,
consideram-se feitas as intimações pela só publicação dos atos no órgão oficial."
II – por carta registrada, com aviso de recebimento, quando domiciliado fora do juízo."
STJ, 1ª T., REsp nº 720953-SC, rel. Min. Teori Albino Zavascki, j. 28.6.2005, v.u.
TJSP-RT 726/238.
"Art. 544. Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo
de instrumento, no prazo de 10 (dez) dias, para o Supremo Tribunal Federal ou para o
Superior Tribunal de Justiça, conforme o caso."
"Art. 544. § 1º. (...) As cópias das peças do processo poderão ser declaradas autênticas
pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal."
RSTJ 3/741.
"Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social: (...)
IV – salário mínimo, fixado em lei, (...) sendo vedada a sua vinculação para qualquer
fim."