(1904-1977)
Por Jorge Cardoso
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Dados disponíveis no dicionário de música popular brasileira, http://www.dicionariompb.com.br/luperce-
miranda , acesso dia 14.06.2011.
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Figura 01 - Fotografia dos Turunas da Mauricéia contida no catálogo de artistas
da Casa Edison (FRANCESCHI, 2002).
Em 1928, com 24 anos de idade, transferiu-se para o Rio de Janeiro2. Nesta época,
se processava a grande transformação que faria do rádio e do disco os veículos ideais de
divulgação da música popular e de seus intérpretes, o que os tornava grandes ídolos
populares (BARBOZA, 2004). Conheceu o violonista Tute (Artur de Souza Nascimento,
1886-1957), de quem seu conjunto gravou "Pra frente é que se anda" e "Alma e Coração",
valsa que obteve grande sucesso, tendo sido regravada posteriormente. Ainda em 1928, o
grupo Voz do Sertão lançou pela Odeon seis composições de sua autoria: o fox
"Primoroso", a valsa-choro "Lindete", os sambas "Sacode a saia morena", "Samba da
meia-noite" e "Sertão do Surubim" e a embolada "Minas Gerais", as quatro últimas com
Minona Carneiro. Nesse mesmo ano, outras composições suas como a valsa "Alma do
sertão", a marcha "Lúcia" e o choro "A farra o Olegário" foram gravadas pelo grupo Voz
do Sertão. Também nesse ano, fez suas primeiras gravações solo: ao bandolim o choro
"Lá vai madeira" e o fox-trot "Barulhento" e ao cavaquinho o fox-trot "Moto contínuo" e
os choros "O caboclo alegre" e "Rigoroso", todas de sua autoria.
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Informação contida em ensaio “Os Vários Jacobs”, de autoria do cavaquinista e pesquisador Sérgio Prata,
cedido para publicação no projeto Músicos do Brasil: Uma Enciclopédia, patrocinado pela Petrobras através
da Lei Rouanet e disponível em www.musicosdobrasil.com.br .
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Realizou apresentações em rádios no Brasil e no exterior. Em 1931, apresentou-
se com Carmen Miranda, Mário Reis, Francisco Alves, Tute, entre outros, na Rádio El
Mundo de Buenos Aires. A partir de 1936, passou a atuar na Rádio Mayrink Veiga. Nesse
ano, gravou ao bandolim o choro "Pra quem gosta de nós" e a valsa "Foi um sonho", de
sua autoria. Por essa época, quando os integrantes do conjunto Alma do Norte voltaram
a Recife, constituiu seu próprio regional. Como integrante de regional, acompanhou os
grandes artistas da época, em diversas gravações na Odeon.
O primeiro livro escrito sobre o Choro faz referência a Luperce (PINTO, 1936):
“Julgo e sou capaz de apostar que no Brasil inteiro não terá outro igual... Luperce é como
um cometa que passa de mil em mil anos...” Segundo Barboza (2004), os conjuntos
instrumentais dos ranchos carnavalescos tinham sempre bandolinistas entre os seus
figurantes e os Oito batutas possuía o bandolinista José Alves de Lima. Neste período, os
bandolinistas utilizavam pouco o bandolim em acompanhamentos e menos ainda como
solista. João Miranda, Chico Neto, Jorge Bandolim, Amador Pinho, Aristides Júlio de
oliveira (Moleque Diabo) e Peri Cunha foram bandolinistas da década de 1930 e pouco
participaram das gravações. Assim, é possível afirmar que Luperce Miranda foi o fixador
da presença do bandolim como acompanhante e como solista na música popular brasileira
(BARBOZA, 2004).
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caracterizava um virtuosismo único para sua época na forma de trêmolos, arpejos em
tercinas e frases intercaladas em andamentos diversos. Os bandolinistas não arriscavam
tocar suas músicas pela dificuldade técnica. Além deste fato, sua proximidade ao estilo
italiano de bandolim requeria uma técnica específica para esta finalidade. Uma vez que
Luperce havia aprendido bandolim com seu pai, não foi esclarecido como consolidou seu
estilo musical em seu início na cidade de Recife - PE. Embora tenha se destacado por sua
técnica e virtuosismo, não obteve um retorno financeiro à altura de seu talento. É provável
que o período de seu afastamento do Rio de Janeiro tenha prejudicado sua carreira musical
juntamente com sua vida familiar conturbada.
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Informações contidas no encarte “A Música de Porto Alegre”, sobre o Choro, por José Ramos Tinhorão,
Unidade Editorial Porto Alegre/SMC, 1995, pág. 08. Nesta publicação, temos referência à atuações de
bandolinistas na cidade de Porto Alegre-RS, aproximadamente no início do século XX. A partir do trabalho
de Otávio Dutra como professor, surgiram os bandolinistas Antonio Del Bagno, Marino Santos Cotta
(compositor e executante de bandola), o multi-instrumentista Paulinho Mathias.
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dos discos a vinte anos e a dez anos dos meios musicais da capital política e cultural
brasileira na época (BARBOZA, 2004).
Outros fatores afetaram seu desempenho artístico. Ele fora casado diversas vezes
e possuía uma família numerosa, sendo pai de 18 filhos. Apesar de não ter conhecimento
da teoria musical, sendo apenas semi-alfabetizado, conseguiu desenvolver uma técnica
apurada, sendo conhecido como virtuose no bandolim. Desse modo, conseguiu estruturar
sua carreira em revelia às condições adversas de pobreza, problemas familiares, carências
e preconceitos de toda ordem. Assim, mesmo sem saber teoria musical, encontrou uma
saída para sua subsistência: a criação de uma academia de música. A academia tinha
caráter prático e formou diversos músicos que fundamentavam seu aprendizado na
música popular brasileira instrumental como solista e também no ensino do
acompanhamento. Dentre seus alunos, alguns alcançaram fama e importância no
panorama da prática do bandolim brasileiro como o bandolinista Deo Rian (Déo Cesário
Botelho) e Evandro do Bandolim (Josevandro Pires de Carvalho, 1932-1994)
(BARBOZA, 2004).
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Figura 1 - Luperce Miranda
(foto da capa do LP Luperce Miranda, 1971).
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REFERÊNCIAS
Sites
Dados sobre Jacob do Bandolim:
http://www.jacobdobandolim.com.br/jacob/index.html
Ensaio “Os Vários Jacobs”, de autoria do cavaquinista e pesquisador Sérgio Prata, cedido
para publicação no projeto Músicos do Brasil: Uma Enciclopédia, patrocinado pela
Petrobras através da Lei Rouanet e disponível em www.musicosdobrasil.com.br.