Você está na página 1de 10

3.

Transporte Dutoviário

3.1. Conceituação e características

Entende-se por transporte dutoviário aquele efetuado no interior de uma linha de tubos ou
dutos realizado por pressão sobre o produto a ser transportado ou por arraste deste produto
por meio de um elemento transportador. Assim, toda dutovia deve ser constituída de três
elementos essenciais: os terminais, com os equipamentos de propulsão do produto; os tubos e
as juntas de união destes.

Neste modal, à diferença dos demais, o veículo que efetua o transporte é fixo enquanto que o
produto a ser transportado é o que se desloca, não necessitando assim, na maior parte dos
casos, de embalagens para o transporte.

Segundo Owen em Santana (1974):

“a plausibilidade de dutovias, para os países em desenvolvimento,


encontra-se na sua capacidade de atravessar até os terrenos mais
difíceis, ser praticamente inafetada pelo tempo e fornecer
transporte de petróleo e seus derivados a baixos custos unitários.
Onde os volumes são suficientemente grandes, a dutovia é mais
econômica, para estes fins, do que outras formas de transporte.
Os custos de terra são mantidos ao mínimo enterrando-se o cano a
uns 90 centímetros ou mais profundamente para se evitar
interferência com outras utilizações da terra.”

3.1.1. Conceitos Básicos

Trata-se de modalidade de emprego bastante antigo na área dos equipamentos urbanos, em


especial na adução e distribuição de água à população e na captação e deposição de esgotos
domiciliares, funções que o caracterizam até hoje como a modalidade de maior uso em
tonelagem e volume, embora por suas características nestes campos tenha saído da órbita dos
transportes para a do saneamento urbano.

Como modalidade típica de transporte ganhou importância quando da exploração comercial do


petróleo e da distribuição de seus derivados líquidos e gasosos, em especial nos Estados
Unidos da América. Nas 2 últimas décadas ganhou o reforço de seu emprego no transporte de
granéis sólidos, como o minério de ferro e o carvão mineral em mistura com a água, de modo
a formar uma pasta fluida, nos chamados minerodutos e carbodutos.

Seu uso eficiente exige operação continuada e em conseqüência volumes significativos, tendo
como lado positivo a pequena interferência com a ocupação do solo e a expressiva segurança
dos produtos em relação a ações externas ao sistema e à poluição ambiental.

Portos e Aeroportos – Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia – UFMG 22


3 Via: é constituída por tubos, geralmente metálicos, que seguem a diretriz traçada pelo
projeto, seqüência esta interrompida de tempos em tempos pelas estações de
bombeamento, onde for necessário à continuidade do fluxo, e pelas tancagens de
armazenagem, onde determinar o consumo. A capacidade necessária leva ao
dimensionamento do diâmetro dos tubos e da potência das bombas, de forma a permitir os
fluxos de projeto, com certa margem de segurança.

3 Veículo: o produto bombeado é seu próprio veículo, cada partícula impulsionando as que a
antecedem, formando uma corrente contínua, direcionada pela tubulação que é a via.

3 Terminais: as tancagens em pontos estratégicos da tubulação, segundo normalmente as


condições de mercado, marcam os terminais onde os produtos ou são transferidos a
veículos de outras modalidades ou são bombeados para as tubulações menores de
distribuição aos diversos usuários, ou mesmo para abastecerem as linhas de produção de
produtos derivados, nas indústrias consumidoras.

3 Controles: como se trata de uma modalidade com apenas um grau de liberdade em sua
movimentação, os controles se restringem ao da velocidade imprimida pelas bombas,
evitando tanto as baixas que permitiriam a sedimentação, como as altas que, conforme o
produto, levariam à erosão dos tubos, assim como o encaminhamento às derivações de
tubulação para alcançar instalações de tancagem ou sistemas de distribuição.

3.1.2. Dutovias - Características Técnicas

Segundo Santana (1974), as suas características técnicas, operacionais e econômicas, pouca


interferência com os demais modais e reduzida necessidade de manuseio de carga, convertem
o sistema de dutos em meio seguro e econômico para o transporte de certos produtos, como
petróleo e seus derivados, gás, água e minério interligando regiões produtoras a centros
consumidores. Entre as características técnicas, operacionais e econômicas do transporte por
condutos, podem ser mencionadas:

3 Facilidade de implantação: o caminhamento de uma tubulação é condicionado apenas às


possibilidades do emprego dos equipamentos especializados no seu lançamento, e às
facilidades de futuro acesso para sua inspeção e manutenção. Ao contrário das rodovias e
ferrovias onde as rampas máximas dificultam bastante a escolha da diretriz, as tubulações
podem ser lançadas em rampas de até 90º, como no caso de gasodutos, tornando o trajeto
entre os pontos extremos o mais direto possível.

3 Alta confiabilidade: sua operação não conhece o entrave de alternâncias diurnas e


noturnas, nem contingências climáticas e atmosféricas, adaptando-se, assim, ao trabalho
contínuo e também sua tubulação, que em geral é enterrada a uma profundidade mínima
de 80 cm, torna o transporte por dutos praticamente sem riscos.

Portos e Aeroportos – Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia – UFMG 23


3 Baixo consumo de energia: o transporte por dutos necessita de um mínimo de energia em
relação à massa transportada a ser empregada exclusivamente na transferência do
produto. Esta vantagem é ainda melhorada com a supressão da necessidade do retorno de
embalagens vazias ao ponto de carregamento e pela economia de derivados de petróleo,
uma vez que o acionamento das bombas, em geral, é feito através de motores elétricos.
Ressalta-se aqui a utilização, em alguns casos, de energia elétrica gerada por
termelétricas, que por sua vez utilizam combustíveis fósseis no seu funcionamento, e
portanto poluentes. No entanto não há relatos de criação de usinas termelétricas exclusivas
para abastecer dutovias, e sim a utilização de usinas já existentes.

3 Alta especialização: o uso da automação com necessidade de uma mão de obra


especializada, porém reduzida, para sua operação e o emprego de modernas tecnologias
como o SIG (Sistema de Informações Geográficas), que permite a visualização do traçado
da dutovia ou de pontos da mesma, ou com o GPS que fornece informações de
posicionamento em tempo real e transmitidas via satélite.

3 Baixos custos operacionais: devido ao baixo consumo de energia e pela reduzida mão de
obra utilizada na operação.

Apesar das vantagens mencionadas, este modal apresenta como desvantagem operacional sua
reduzida flexibilidade, já que os pontos de origem e destino são fixos e os meios físicos, em
sua quase totalidade, não podem ser transferidos para outras frentes de transporte, como
acontece em outras modalidades. As características vantajosas já citadas têm feito com que a
procura pelo modal de transporte dutoviário aumente no mundo inteiro.

3.1.3. Tipos de Dutos segundo as cargas a serem transportadas

Nem todo tipo de produto pode ser transportado por este modal. Os produtos que são
transportáveis por dutos são:

3 O Petróleo e seus Derivados: Este tipo de carga é transportado por oleodutos. Seu uso em
escala industrial iniciou-se com o transporte de petróleo no século XIV.

3 Não Derivados de Petróleo: Algumas cargas não derivadas do petróleo, como álcool, CO2
(dióxido de carbono) e CO3 (trióxido de carbono), podem ser transportadas por oleodutos.

3 Gás Natural: O gás natural é transportado pelos gasodutos, semelhantes aos oleodutos,
porém com suas particularidades, principalmente no sistema de propulsão da carga.

3 Minério, Cimento e Cereais: O transporte destes materiais é feito por minerodutos que são
tubulações que possuem bombas especiais, capazes impulsionar cargas sólidas ou em pó.
O transporte é efetuado por meio de um fluido portador, como a água para o transporte do
minério a médias e longas distâncias ou o ar para o transporte de cimento e cereais a
curtas distâncias.

Portos e Aeroportos – Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia – UFMG 24


3 Águas Servidas (esgoto): As águas servidas ou esgotos produzidos pelo homem devem ser
conduzidos, por canalizações próprias até um destino final adequado.
Estas canalizações apropriadas são os emissários e troncos coletores que são unidades
operacionais projetadas para receber e dispor os esgotos da cidade, beneficiando toda a
sua população. Os esgotos oriundos de cada residência ou instalação industrial ou
comercial fluem através de um sistema de coletores e interceptores até as instalações de
terra do Emissário, onde recebem um pré-tratamento antes de serem lançados ao mar.

FONTE: Prefeitura Municipal de Maceió - 2002

Figura 3.1 – Emissário de Maceió

3 Água Potável: Após a água ser coletada em mananciais ou fontes, a mesma é conduzida
por meio de tubulações até estações onde é tratada e depois distribuída para a população,
também por meio de tubulações. As tubulações envolvidas na coleta e distribuição são
denominadas adutoras.

3 Correspondências, Carvão e Resíduos Sólidos: Para o transporte deste tipo de carga utiliza-
se o duto encapsulado que faz uso de uma cápsula para transportar a carga por meio da
tubulação impulsionada por um fluido portador, água ou ar.

Existem três tipos de dutos encapsulados atualmente em uso:

Portos e Aeroportos – Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia – UFMG 25


3 Pneumatic Capsule Pipeline (PCP), que usa como veículo, cápsulas sobre rodas para
transportar a carga num duto cheio com ar. No Brasil esta tecnologia é empregada em
alguns hospitais e repartições públicas para o envio de correspondências para outros
andares do prédio já que ela é apontada como solução eficaz para os problemas de perda
ou extravio de correspondências remetidas a outras repartições por meio de entregadores.

Figura 3.2 – Duto encapsulado Pneumático – PCP

FONTE: Capsule Pipeline Research Center – USA -2001

3 Hydraulic Capsule Pipeline (HCP), esta tecnologia usa cápsulas sem rodas para transportar
cargas em um duto cheio com água. É mais econômica que a anterior pois usa menos
energia. É utilizada para transportar materiais como grãos e outros produtos agrícolas e
resíduos sólidos municipais (lixo), sendo que este último não necessita das cápsulas, pois é
compactado de forma a assumir o formato semelhante ao dessas, conforme Figura 3.3.

Figura 3.3 – Cápsula de Resíduos Compactada

FONTE: Capsule Pipeline Research Center – USA -2001

Portos e Aeroportos – Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia – UFMG 26


3 Coal Log Pipeline (CLP) é um tipo especial de HCP em que o próprio material a ser
transportado é compactado em forma de cilindro constituindo a cápsula. O uso é limitado a
carvão e a alguns minerais e resíduos sólidos de materiais, que, como o carvão podem ser
compactados e formar cilindros resistentes à água.

FONTE: Capsule Pipeline Research Center - 2001

Figura 3.4 – Cilindros de carvão compactados e preparados para o transporte

3.1.4. Tipos de dutos segundo sua construção

Segundo o tipo de construção os dutos podem ser classificados em terrestres (subterrâneos,


aparentes e aéreos) e submarinos.

Os dutos subterrâneos são aqueles enterrados para serem mais protegidos contra intempéries,
contra acidentes provocados por outros veículos e máquinas agrícolas, e também, contra a
curiosidade e vandalismo por parte de moradores vizinhos à linha dutoviária. Estes dutos
enterrados estão mais seguro em caso de rupturas ou vazamentos do material transportado,
pois a porção de terra que envolve e cobre a tubulação funciona como um invólucro, que
amortecerá o impacto da pressão criada pelo acidente.

FONTE: ProDutos - 2002

Figura 3.5 – Duto Subterrâneo

Portos e Aeroportos – Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia – UFMG 27


Os dutos aparentes são aqueles visíveis, o que normalmente acontece nas chegadas e saídas
das estações de bombeio, nas estações de carregamento e descarregamento e nas estações de
lançamento/recebimento de “PIGs”, que são aparelhos utilizados na limpeza e detecção de
imperfeições ou amassamentos na tubulação.

Quando a tubulação atravessa maciços rochosos ou terrenos muito acidentados, a abertura de


valas para a colocação da mesma é difícil e onerosa. Neste caso a linha é fixada em pequenas
estruturas constituídas de uma sapata e uma coluna de concreto, denominadas “berços”, que
servirão de sustentação e amarração para a tubulação.

Fonte: Samarco - 2001

Figura 3.6 – Duto Aparente

Figura 3.7 – Estrutura de Fixação do Duto Aparente

Os dutos aéreos são aqueles necessários para vencer grandes vales, cursos d’água, pântanos
ou terrenos muito acidentados. Tornam-se viáveis com a construção de torres metálicas nas
extremidades do obstáculo e quando necessárias, torres intermediárias que servirão de
suporte para a tubulação que ficará presa a elas por meio de cabos.

Esta técnica já é utilizada em pontes estaiadas onde a estrutura que recebe o leito da rodovia
fica presa aos pilares por cabos de aço. Também são necessárias próximas a pontes ou
viadutos que devem ser transpostos atrelando-se a tubulação à lateral da ponte ou viaduto por
meio de fixadores especiais denominados ganchos ou cabides.

Portos e Aeroportos – Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia – UFMG 28


Figura 3.8 – Travessia de um rio

FONTE: Petrobrás - 2001

Figura 3.9 – Travessia de um Vale

FONTE: Petrobrás - 2002

Os dutos submarinos são assim denominados devido à que a maior parte da tubulação está
submersa no fundo do mar. Este método é geralmente utilizado para o transporte da produção
de petróleo de plataformas marítimas (off-shore) para refinarias ou tanques de armazenagem
situados em terra (on-shore). Também são utilizadas para atravessar baías ou canais de
acesso a portos. Os emissários são considerados dutos submarinos.

Portos e Aeroportos – Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia – UFMG 29


NA
Plataforma

Tubulação

Figura 3.10 – Duto Submarino

FONTE: COPPE/UFRJ - 2003

3.1.5. Capacidade do Transporte Dutoviário

Embora seja o modo de transporte que opere as maiores quantidades de cargas, geralmente
passa desapercebido por estar em muitos casos vinculados ao Saneamento, com a distribuição
de água e a coleta de esgotos.

No presente contexto, é tratado como um transportador contínuo de líquidos e suspensões


minerais e agrícolas em líquidos e gases, normalmente para usos industriais ou alimentícios.

Esta função atinge valores expressivos nos países mais adiantados e nos produtores de
petróleo, ganhando mais importância pela tecnologia que permitiu seu uso no transporte de
minérios e carvão de pedra.

Para fluxos contínuos oferecem um transporte eficiente, econômico, seguro e freqüentemente


de baixa interferência com a ocupação do solo, ainda que seja o menos flexível de todos os
modos, tanto por ser unidirecional como pela dificuldade de entrada ou saída dos fluxos fora
dos terminais e estações de bombeamento.

O fato de exigir para sua eficácia volumes ponderáveis de carga faz com que se limite muitas
vezes a grandes usuários de poucos produtos.

O cálculo de sua capacidade para implantação de projetos está estritamente vinculado à


Mecânica dos Fluidos, seja em condutos livres ou forçados, adquirindo certa complexidade
quanto se trata de sólidos em suspensão, como nos minerodutos e carbodutos.

Portos e Aeroportos – Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia – UFMG 30


As relações entre concentração e velocidade do elemento a transportar e o tipo de tubulação
são importantes. A velocidade, se comparada com a de outros modos de transporte, pode ser
considerada baixa (em geral entre 2 e 10 km/h), mas como funciona continuamente 24 horas
por dia o volume transportado se ombreia com o dos demais transportes e é uma função da
densidade, viscosidade e temperatura do líquido combinados com o diâmetro do tubo e a
pressão exercida pelas bombas das estações.

Chamando de "O" a quantidade de dado produto, cujo peso específico é "p", transportado por
duto de seção transversal "s" em um tempo "t", "v" a velocidade imprimida pelas bombas,
expressos todos em unidades compatíveis com sua análise dimensional, tem-se:

Q=pxsxvxt,

expressão da capacidade do duto para aquele produto naquele período de tempo. Outra
relação importante nesta modalidade é a que envolve a velocidade média do fluido
movimentado, que é função da resistência oposta e de características do líquido e do tubo,
relação esta que envolve o número de Reynolds ("R") e que assim se apresenta:

v×d × ρ
R=
µ

onde:

3 v = velocidade média do fluido

3 d = diâmetro do tubo

3 µ = viscosidade do fluido

3 ρ = massa específica

Portos e Aeroportos – Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia – UFMG 31

Você também pode gostar