1Timóteo 5 » (5.8 )
“Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e
é pior do que o infiel.” (1Timóteo 5.8 )
» A vida de um filho de Deus não é uma mera teoria, nem consiste em um conjunto de
pensamentos e meditações acerca dos céus e de Deus apenas. A vida de um filho de Deus vai
além das orações e da indignação que sentimos com a crueldade do mundo ou com os maus
tratos que sofremos ou as dificuldades que enfrentamos; vai além de desejarmos muito estar
nos céus e desfrutar das bênçãos da graça do Senhor Jesus Cristo. O crente não é apenas
aquele que chora pelas misérias e necessidades próprias, do mundo, dos seus próprios
parentes e dos seus irmãos em Cristo, antes, ele deve combinar toda a devoção teórica, todo o
entendimento, todos os sentimentos, pensamentos e exercícios santos (adoração, oração,
meditação, louvor, contemplação, etc.), tudo isso deve ser combinado com um conjunto de
acções em direcção ao seu próximo, e é isso que poderá ser chamado de amor e é isso que é
amar, a prova da veracidade da fé e de que alguém é filho de Deus e discípulo de Jesus Cristo.
Nenhum crente deve estar contente e satisfeito com uma vida que se resume em meras
teorias, em uma piedade de palavras, em uma devoção à Deus que não resulta em actos
práticos directos ao próximo. Qualquer vida assim é totalmente reprovada diante de Deus
quando vivida por aqueles que professam o cristianismo. É um falso cristianismo.
» Nesta passagem, embora o apóstolo esteja lidando com o sustento das viúvas,
verdadeiramente ele está trazendo para nós princípios muito elevados e indispensáveis da vida
cristã. Cuidar das almas que estão ao nosso redor, especialmente os que vivem connosco e,
certamente, nossos irmãos da mesma congregação em particular, é o grande medidor da
nossa fé e espiritualidade, o que aprova ou reprova a nossa piedade, porquanto ele declara
enfaticamente que, quem não faz isso, é pior que o infiel e negou a fé, ou seja, é claramente
um falso cristão.
» Os cuidados referidos pelo apóstolo são materiais, porém, com certeza, ele não perdeu de
vista os cuidados espirituais, pois, não se deve separar o que Deus uniu, o corpo e o espírito
devem ambos ser cuidados e santificados igualmente (1Cor 6.20) e, quando apóstolo diz que
estes cuidados materiais são evidências da veracidade de nossa fé, ele está igualmente falando
que, na medida em que cuidamos materialmente dos nossos, cuidamos e devemos cuidar
deles espiritualmente também. Nisso concorda o apóstolo João, que reprova todos os que
supostamente se inclinam ao cuidado espiritual (amar por palavras) e negligenciam o cuidado
material (1João 3.17,18), da mesma forma Tiago esclarece que é falta de fé verdadeira, fé viva,
viver desta forma hipócrita (Tiago 2.14-17). Pior ainda é encontrar um crente que nem por
palavras ama o seu próximo (tem claros sentimentos maus no seu coração contra o próximo),
este está muito mais distante de exercer actos directos de amor, e sua fé reprovada.
» Os seres humanos têm necessidades. As necessidades são físicas e espirituais. Embora nós
mesmos, como seres humanos, também temos necessidades, porém, na qualidade de crentes,
servos e filhos de Deus, somos chamados, antes de mais, em dar e doar, em gastar e nos deixar
gastar, em prol do próximo, principalmente aqueles que estão sob os nossos cuidados
(2Coríntios 12.15). Olhar muito mais para nós mesmos do que para o nosso próximo é egoísmo
e orgulho, é pecado, não sendo este o caminho que Cristo nos ensinou e nos deu a percorrer,
até à eternidade. Deus abriu os nossos olhos, para não vivermos mais para nós, e sim para Ele,
para que, com a graça que Ele nos deu, como Seus cooperadores, abramos os olhos dos outros
também. Agora, pois, crente, julga a tua fé pelo nível de cuidado que tens tido para com os de
tua casa, e os de tua congregação. O que tens sentido, pensado e feito em prol deles te aprova
ou te reprova?
» Se nutres algum sentimento mau contra alguém de casa ou da congregação, ainda que
supostamente tenhas razão para tal, e há alguém que não consegues tratar bem, com
mansidão, humildade e amor, então, já estás reprovado, pois, a palavra diz claramente que
“toda a amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfémia e toda a malícia sejam tiradas dentre
vós, antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos
outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.” (Efésios 4.31,32); se, por causa do mal
que as pessoas te fazem não consegues te compadecer delas, vendo elas como Cristo as vê,
como ovelhas que não têm pastor, como cegos que não sabem o que fazem e precisam de
arrependimento, então, já estás reprovado; se tens dificuldades de perdoar e lidar com o
pecador como se nunca tivesse cometido contra ti, se acumulas os pecados do próximo em vez
de acumular o perdão para com o próximo, então, já estás reprovado; se não oras pelos teus e
não te esforças em ser comparticipante da vida deles de diversas formas, especialmente para
os ganhares para Cristo e glorificares a Deus no tracto com eles, então, já estás reprovado; se
não tens buscado em Deus formas e capacidade para lidar com a rejeição e as dificuldades que
se tornaram em barreiras para que possas amar certas pessoas más e difíceis, como Cristo nos
amou e nos ama, simplesmente não fazes nada ou fazes pouco esforço, para mudares ao
ponto de amares o teu inimigo como Cristo te amou quando eras inimigo dEle, e como Cristo
mesmo te manda amar os teus inimigos, então, já estás reprovado; se não trabalhas, nem te
esforças nesta direcção, para sustentar os teus, já estás reprovado; se és casado ou tens uma
responsabilidade e um papel na família como a de um pai de família, e não és zoloso para com
o culto doméstico e o cuidado espiritual individual dos seus, já estás reprovado; se és o único
ou dos poucos crentes em casa, e pouco ou nada fazes em prol da salvação das almas que
estão no mesmo tecto contigo, já estás reprovado; se és preguiçoso, já estás reprovado.
» O Senhor Jesus Cristo cuidou dos Seus enquanto esteve na terra, ele alimentou-os com
comida (física e espiritual), garantiu que tivessem roupas e onde dormir, e não deixou de orar
por eles, de instruir e dar vida, de revestir os Seus de justiça e santidade, e viveu
sacrificialmente em prol da vida deles, morreu por eles, morreu por nós. Jesus Cristo nos
ensina, com exemplo prático, claro e inequívoco, que devemos cuidar dos nossos, quer
materialmente, quer espiritualmente, e que não devemos negligenciar nenhum deles, antes,
devemos ser pacientes e labutar arduamente, com a força, o poder, a sabedoria e o amor que
somente Ele nos pode dar. Ele nos dá, para administrarmos aos outros (1Pedro 4.10). Não
devemos reclamar falta de capacidade, pois, a capacidade não vem de nós mesmos, mas, vem
de Deus, o qual dá à todos que o pedem e buscam de todo o coração e para a Sua glória (1João
5.14), portanto, se estamos em falta no cuidado dos nossos, a nossa fé está em risco de ser
reprovada, se é que ainda não está reprovada, portanto, averiguemos a nossa piedade no lar e
na congregação, sondemos com grande profundidade, arrependamo-nos dos nossos pecados e
faltas, busquemos em Deus graça e poder para mudarmos e, doravante, em oração e vigilância
constantes, andemos de maneira diferente, de maneira digna da graça de Cristo, do chamado
do Senhor, cuidando dos nossos, orando por eles, falando com eles sobre Cristo e o Seu reino,
desejando ser salvos junto com eles, e suprimindo as necessidades de carinho, companhia,
comida e outros bens materiais. Que o Senhor Jesus tenha misericórdia de nós, não nos
reprove, mas, nos mude completamente, a fim de o glorificarmos no lar e na congregação dos
santos, tendo cuidado do próximo com Cristo tem cuidado de nós. Amém!