ARIQUEMES/RO.
DA PRIORIDADE PROCESSUAL
I- DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA
Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na
contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§ 2º o juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que
evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão da gratuidade,
devendo, antes de indeferir o pedido determinar à parte a comprovação do
preenchimento dos referidos pressupostos.
§ 3º Presume-se verdadeiras a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente
por pessoa natural.
Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz
jus o Requerente ao benefício da gratuidade de justiça. Importante frisar que, a
assistência de advogado particular não pode ser parâmetro ao indeferimento do
pedido:
III- DO DIREITO
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Centrais Elétricas de Rondônia S/A CERON recorre da sentença de fls.
151/156, proferida pelo juiz da 7ª Vara Cível desta Capital, que julgou
procedente o pedido formulado por Oldemir Bernardo da Rocha, nos autos
de ação declaratória c/c indenização por danos morais. Afirma o autor que
a concessionária realizou a troca do medidor de sua residência, em
01.07.2010, alegando suposta irregularidade e, posteriormente,
apresentou um cálculo para a quitação no valor de R$6.016,13. Aduziu
que, em razão da fatura desarrazoada, requereu o reconhecimento da
cobrança indevida, bem como indenização por danos morais, pela inclusão
do seu nome na SERASA e corte no fornecimento de energia. A pretensão
foi julgada procedente, declarando inexistente o débito no valor pretendido,
ao fundamento de que a apuração se deu em desacordo com a legislação
pertinente. Condenou em pagamento de danos morais no valor de
R$10.000,00. Fixou honorários advocatícios em 10% sobre o valor da
condenação. Em suas razões de apelação às fls. 160/168, Centrais
Elétricas de Rondônia S/A CERON alega que a recuperação de consumo é
uma forma que a apelante tem de, legalmente, cobrar dos consumidores
pela energia utilizada e não paga, sendo que os valores apurados são
encontrados mediante perícia, agindo, assim, de forma lícita. Em pedido
alternativo, requer a redução do quantum fixado a título de danos morais.
Em contrarrazões acostadas às fls. 174/175, Oldemir Bernardo da Rocha
pugna pela manutenção da sentença. É o relatório.
Voto
DESEMBARGADOR ROWILSON TEIXEIRA
Presentes os pressupostos da admissibilidade, conheço do recurso.
A questão dos autos cinge-se em analisar a validade do débito decorrido da
ação da apelante em trocar o relógio medidor de energia, objeto de
fiscalização, com realização de perícia e emissão de fatura com valores
elevados, sob alegação de recuperação de consumo. Compulsando os autos
verifico que houve inspeção realizada pelos próprios técnicos da Ceron
(Termo de Ocorrência e Inspeção às fls. 24/25), laudo realizado por
laboratório no Estado do Rio de Janeiro (fls. 21/22) e à fl. 20, constou a
notificação de irregularidade. Para ser considerado válido o débito, é
preciso que se demonstrem não só a suposta irregularidade, mas também
a obediência aos procedimentos previstos na Resolução n° 414/2010 da
ANEEL, bem como aos princípios do contraditório e ampla defesa. No caso
específico dos autos, o laudo foi confeccionado por empresa terceirizada
contratada para tanto, qual seja, CAM Brasil Multisserviços Ltda., que
possui laboratório de ensaio acreditado pelo INMETRO de acordo com a
ABNT NBR ISO/IEC 17025. No entanto, muito embora tenha sido
observado a indispensabilidade de perícia por órgão metrológico oficial,
ficou claro nos autos que há procedimentos legais que não foram
observados pela requerida.
Veja-se que, para acompanhar a perícia, o autor teria que se deslocar à
sede da referida empresa, situada na Av. José Mendonça de Campos, 680
São Gonçalo - RJ, sendo abusiva tal situação, pois impor ao consumidor o
ônus de ter que se deslocar até o estado do Rio de Janeiro para
acompanhar uma perícia é algo que foge ao mínimo do bom senso, do
razoável e da proporcionalidade.
Registre-se, ainda, que o medidor foi trocado em 01.07.2010, ao passo em
que a suposta “perícia” somente foi realizada em 14.07.2011, ou seja,
o medidor ficou por tempo demasiado sob a única guarda e irrestrita
possibilidade de manuseio da requerida.
A inobservância destes procedimentos específicos, complementares à
confecção do laudo por órgão habilitado ou oficial, acarreta sua
imprestabilidade por contaminá-lo pela unilateralidade da perícia, o que
inviabiliza a cobrança de quaisquer débitos relacionados à ela. Desse
modo, a perícia unilateral, realizada pela concessionária, não se presta
como prova para fins de recuperação de consumo.
Nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
STJ. Processual civil e administrativo. Agravo regimental no agravo em
recurso especial. Fornecimento de energia elétrica. Violação do art. 535 do
cpc. Não ocorrência. Fraude no medidor apurada unilateralmente.
Invalidade do laudo pericial. Reexame de matéria fático- probatória.
Incidência da súmula 7/STJ.
1. Constatado que a Corte de origem empregou fundamentação adequada
e suficiente para dirimir a controvérsia, é de se afastar a alega da violação
do art. 535 do CPC. 2. In casu, o Tribunal a quo, soberano na análise do
contexto fático-probatório, fundamentado nas provas trazidas aos autos,
afirmou que a perícia realizada unilateralmente pela concessionária é
imprestável, reconhecendo assim a invalidade do laudo que apurou a
adulteração do medidor. Desse modo, é inviável, em recurso especial, o
reexame da matéria fática constante dos autos, por óbice da
Súmula7/STJ. 3. Agravo regimental não provido. (STJ, Relator: Ministro
BENEDITO GONÇALVES, Data de Julgamento: 26/06/2012, T1 -
PRIMEIRA TURMA)
Na mesma linha de raciocínio, cito julgados desta Corte:
Apelação cível. Fornecimento de energia elétrica. Recuperação de
consumo. Perícia unilateral. Cobrança indevida. Ausência de
suspensão do serviço e negativação Dano moral. Não configuração.
Dever de indenizar. Inexistência.
É indevida a cobrança de recuperação de consumo de energia elétrica se o
débito foi apurado por laudo pericial produzido unilateralmente pela
concessionária.
A mera cobrança, ainda que posteriormente declarada indevida, não é
capaz de gerar abalo moral, se não houve suspensão do fornecimento
de energia ou inscrição do nome do consumidor em cadastro restritivo do
crédito. (Apelação n.22960 - 07.2013.8.22.0001 Rel. Des Marcos Alaor
Diniz Grangeia, j. 03.06.2015)
Energia elétrica. Perícia unilateral no medidor. Realização. Recurso não
provido.
A perícia a ser efetivada em medidores de energia suspeitos
de fraude deve operar-se por meio de órgão metrológico oficial, ou
seja, pelo IPEM ou INMETRO, porém, nunca, por ato unilateral da
própria concessionária do serviço público de energia.
A perícia unilateral realizada pela fornecedora não é prova hábil a embasar
cobrança de débitos referentes a diferença de faturamento do medidor. A
presunção de legalidade dos atos administrativos é relativa podendo ser
discutida em juízo, e in casu, evidenciado a ilegalidade do ato da Ceron.
(Apelação 0014583-52.2010.8.22.0001, Rel Des Paulo Mori, j.
30/10/2013).
Ação declaratória de inexigibilidade de débito. Fraude no medidor. Perícia
unilateral. Órgão localizado em outro estado da federação. Débito.
Inexistência. É inexigível o débito cobrado do consumidor decorrente de
perícia realizada unilateralmente pela concessionária de energia elétrica,
ainda que por órgão metrológico oficial, porquanto possui sede em outro
Estado da Federação, o que impede o consumidor de acompanhar a perícia
realizada no medidor, de nomear assistente técnico, enfim,
impossibilitando o contraditório, o qual deve ser observado. (Apelação, n.
00107706820118220005, Rel. Des Alexandre Miguel, J.20/11/2012)
TJRO. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em
17/12/2015, DJe 03/02/2016)
Assim, pelo pacífico entendimento do nosso Egrégio Tribunal de
Justiça, deve o ilustre Juízo, portanto declarar-se inexigível o débito na quantia
de R$ R$1.405,50 (um mil quatrocentos e cinco reais e cinquenta centavos ),
tendo em vista que a perícia no relógio foi feita de forma unilateral.
Termos em que,
Pede o Deferimento.
Estagiária de Direito