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AO DOUTO JUÍZO DE DIREITO DA _ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE

ARIQUEMES/RO.

JOSÉ RIBEIRO DA SILVA, brasileiro, agricultor, casado portador


da Cédula de Identidade RG n° 1711818 SSP/RO, inscrito no CPF/MF n°
428.459.399-49, residente e domiciliado na LC 80, BR 364 LOTE 6, na cidade de
Rio Crespo /RO, por intermédio do advogado que ao final subscreve; BRYAN
ERIKSON CAMARGO RIBEIRO - inscrito na OAB/RO sob o n. 9490, com
escritório sito a Avenida JK n° 2336, Setor 04, 2° andar, Ariquemes-RO, Tel. (69)
9-8451-5060, vem, respeitosamente perante este juízo propor:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO E PEDIDO DE TUTELA


ANTECIPADA

em desfavor de ENERGISA DISTRIBUIÇÃO RONDÔNIA, pessoa


jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 05.914.650/0001-66,
ambas com sede sito a Avenida Juscelino Kubitschek, nº 2032, Setor 4, nesta
cidade de Ariquemes/RO, pelas razões de fato e direito a seguir:

DA PRIORIDADE PROCESSUAL

Primeiramente, Requer o peticionário, nos termos do art. 1048,


inciso I do CPC, c/c o art. 71 do “Estatuto do Idoso” (lei 10.741/03), a concessão
do benefício da “prioridade processual” à pessoa maior de 60 (sessenta anos),
previsto nos referidos dispositivos. Em anexo a esta petição, segue documento
atestando a idade do requerente, cuja juntada aos autos se pleiteia, atendendo ao
disposto nos arts. 1048, § 1º, 71,§1º das respectivas normas.

Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e


procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure
como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos, em qualquer instância.

Deferido o benefício, requer-se a Vossa Excelência que seja


determinada à secretaria da Vara a devida identificação dos autos e a tomada das
demais providências cabíveis para assegurar, além da prioridade na tramitação,
também a concernente à execução dos atos e diligências relativos a este feito.

I- DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

O Autor é pobre na forma da lei, não tendo condições de arcar com


as despesas processuais, tampouco, honorários advocatícios, sem prejuízo do
próprio sustento e de sua família, fazendo jus aos benefícios da assistência
judiciária gratuita, nos termos do art. 98, do CPC.

Destaca-se que a benesse da gratuidade da justiça goza de


presunção de veracidade quando deduzida exclusivamente por pessoa natural,
devendo ser requerida pela simples afirmação, a qualquer momento do processo,
consoante o art. 99 do Código de Processo Civil:

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na
contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§ 2º o juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que
evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão da gratuidade,
devendo, antes de indeferir o pedido determinar à parte a comprovação do
preenchimento dos referidos pressupostos.
§ 3º Presume-se verdadeiras a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente
por pessoa natural.
Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz
jus o Requerente ao benefício da gratuidade de justiça. Importante frisar que, a
assistência de advogado particular não pode ser parâmetro ao indeferimento do
pedido:

AGRAVO DE INSTRUMETNO. PEDIDO DE GRATUIDADE DE JUSTIÇA.


CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. HIPOSSUFICIÊNCIA. COMPROVAÇAÕ DA
INCAPACIDADE FINANCEIRA. REQUISITOS PRESENTES. 1. Incumbe ao
Magistrado aferir os elementos do caso concreto para conceder o benefício da
gratuidade de justiça aos cidadãos que dele efetivamente necessitem para acessar o
Poder Judiciário, observada a presunção relativa da declaração de hipossuficiência.
2. Segundo o ª§ 4, do art. 99 do CPC, não há impedimento para a concessão do
benefício de gratuidade de Justiça o fato de as partes estarem soba assistência de
advogado particular. 3. O pagamento inicial de valore relevante, não é, por si só,
suficiente para comprovar que a parte possua remuneração elevada ou situação
financeira abastada. 4 no caso dos autos, extrai-se que há dados capazes de
demonstrar que o Agravante, não dispõe, no momento de condições de arcar com o
processo sem desfalcar a sua própria subsistência. 4. Recurso conhecido e provido.
(TJ- DF 0713988852017807000 DF 0713988-85.2017.8.07.0000, Relator:
GISLENE PINHERIO, 7ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE:
29/01/2018)

No caso em tela, o autor trabalha como agricultor, não auferindo


renda mensal fixa.

Noutro giro, cabe destacar que a lei não exige atestada


miserabilidade do requerente, sendo suficiente a “insuficiência de recursos para
pagar à custa, despesas processuais e honorárias advocatícias”, conforme desta a
doutrina:

“não se exige miserabilidade, nem estão de necessidade, nem tampouco se fala em


renda família ou faturamento máximo. É possível que uma pessoa natural, mesmo
com boa renda mensal, seja merecedora do benefício, e que também seja aquela
sujeita que é proprietária de bens imóveis, mas não dispõe de liquidez. A
gratuidade judiciária é um mecanismo de viabilização do acesso a justiça, não se
pode exigir que, para ter acesso a justiça, o sujeito tenha que comprometer
significativamente sua renda, ou tenha que se desfazer de seus bens, liquidando-os
para angariar recursos e custear o processso. (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA,
Rafael Alexandria de. Benefício da Justiça Gratuita. 6ª e.Editora JusPodivm,
2016.p.60).
Diante do exposto, requer o deferimento da gratuidade da Justiça
ao Autor, isentando-o do recolhimento das despesas processuais, nos termos do
art. 5º, LXXIV da Constituição Federal de 1988 e pelos artigos 98 e 99, ambos do
Código de Processo Civil.

II- DOS FATOS

Inicialmente, esclarece que o Autor é consumidor dos serviços da


ré, possuindo identificação de instalação sob o número do Código Único 556782-
3

Destaca-se que, no mês de agosto de 2021, o autor foi


surpreendido com o envio do Termo de Ocorrência de Irregularidade, no qual a
empresa demandada efetua cobrança no valor de R$1.405,50 (um mil,
quatrocentos e cinco reais e cinquenta centavos), a título de suposto desvio de
energia elétrica referente ao ano de 2020.

Observa-se que as faturas mensais de consumo foram devidamente


emitidas pela ré, o que desconstitui a tese da empresa quanto a existência de
fraude como demonstrado no relatório em anexo da memória descritiva que a
própria Ré forneceu ao Autor.

Em 28 de outubro de 2020, esteve na residência do Autor, um


funcionário da empresa Ré, informando que se tratava de uma averiguação de
rotina, não lhe fez perguntas alguma e em seguida lhe forneceu um Termo de
Ocorrência e Inspeção, ao qual a filha do Autor assinou, não lhe sendo informado
mais nada sobre a inspeção.

Importa salientar, que, o autor em momento algum foi comunicado


de que a inspeção se tratava de averiguação de suposta fraude, sendo certo,
reafirme-se, que só teve ciência de tal vistoria no momento do recebimento da
injusta cobrança, depois de quase 1(um) ano após a suposta vistoria de fraude.
Ao receber a fatura de consumo mensal relativa ao mês (10/2020),
constatou-se a advertência: “unidade consumidora sujeita a suspensão do
fornecimento de energia elétrica. O não pagamento poderá ensejar também
a inclusão do nome do consumidor no SPC e SERASA”.

Cabe esclarecer que em momento algum o autor foi informado que


estava sendo submetido a uma investigação de uma PSEUDO-
IRREGULARIDADE, ao contrário, apenas foi dito que o medidor - muito
antigo - seria submetido a uma vistoria, sendo necessária a substituição
deste, jamais lhe informando que o mesmo estava violado, motivo pelo qual
não tomou as providencias para resguardar seu direito.

Esclarece o Autor que desconhece a afirmação de violação no


relógio, pois, nunca presenciou o acesso de estranhos ao relógio, somente os
agentes da concessionária, devidamente identificados. Além disso, é de fácil
percepção que o medidor era muito antigo possuindo (mais de 10 anos) de
utilização, sendo está a primeira troca, o que fatalmente pode ter ocasionado
avarias decorrentes do longo período de utilização, jamais adulteração ilegal.

A parte autora sempre cumpriu com suas obrigações, respeitando


a lei adimplindo com os pagamentos das tarifas cobradas pela concessionária dos
serviços de energia, repudiando terminantemente qualquer tipo de insinuação (ou
falsa imputação de adulteração ilegal do medidor instalado em sua residência).

Sendo assim, no presente caso a recuperação do consumo não se


sustenta, pois, a perícia foi feita sem a intimação do autor, desbordando tal
conduta do exercício regular de um direito para o campo do exercício arbitrário
das próprias razões.

III- DO DIREITO

A constatação de “fraude” é atrelada a comprovação de violação por


uma vontade livre e consciente, o que não é o caso em tela, onde o autor rechaça
a suposta fraude e igualmente questiona os meios utilizados para chegar-se a tal
conclusão, uma vez que o lacre do equipamento nunca havia sido rompido e
a mesma jamais tinha agido de forma a prejudicar o seu regular funcionamento.

A inspeção e perícia realizada no medidor da unidade consumidora


por empresa contratada pela própria concessionária, mostra-se indevida, pois em
desacordo com a Resolução n. 456/2000 da ANEEL, portanto, deverá ser
declarado totalmente inexistente o débito.

Em recente julgamento, o Ilustríssimo Desembargador Moreira


Chagas, em análise ao caso concreto, lecionou acerca da Matéria:

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os desembargadores da


1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, na
conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, em:
POR UNANIMIDADE, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO NOS
TERMOS DO VOTO DO RELATOR.
Os desembargadores Moreira Chagas e Raduan Miguel Filho
acompanharam o voto do relator. Porto Velho, 22 de novembro de 2016.
DESEMBARGADOR ROWILSON TEIXEIRA RELATOR
Poder Judiciário do Estado de Rondônia 1ª Câmara Cível
Data de distribuição: 05/12/2014
Data do julgamento: 22/11/2016
Apelação n. 0007044-30.2013.8.22.0001
Origem: 0007044-30.2013.8.22.0001 - Porto Velho/ 7ª Vara Cível
Apelante: Centrais Elétricas de Rondônia S/A – CERON Advogados:
Jonathas Coelho Baptista de Mello (OAB/RO 3.011), Alex Cavalcante
de Souza (OAB/RO 1.818), César Henrique Longuini (OAB/RO 5.217),
Ubirajara Rodrigues Nogueira de Rezende (OAB/RO 1.571) e
Francianny Aires da Silva Ozias (OAB/RO 1.190)
Apelado: Oldemir Bernardo da Rocha
Advogado: Fausto Schumaher Ale (OAB/RO 4.165)
Relator: Desembargador Rowilson Teixeira

RELATÓRIO
Centrais Elétricas de Rondônia S/A CERON recorre da sentença de fls.
151/156, proferida pelo juiz da 7ª Vara Cível desta Capital, que julgou
procedente o pedido formulado por Oldemir Bernardo da Rocha, nos autos
de ação declaratória c/c indenização por danos morais. Afirma o autor que
a concessionária realizou a troca do medidor de sua residência, em
01.07.2010, alegando suposta irregularidade e, posteriormente,
apresentou um cálculo para a quitação no valor de R$6.016,13. Aduziu
que, em razão da fatura desarrazoada, requereu o reconhecimento da
cobrança indevida, bem como indenização por danos morais, pela inclusão
do seu nome na SERASA e corte no fornecimento de energia. A pretensão
foi julgada procedente, declarando inexistente o débito no valor pretendido,
ao fundamento de que a apuração se deu em desacordo com a legislação
pertinente. Condenou em pagamento de danos morais no valor de
R$10.000,00. Fixou honorários advocatícios em 10% sobre o valor da
condenação. Em suas razões de apelação às fls. 160/168, Centrais
Elétricas de Rondônia S/A CERON alega que a recuperação de consumo é
uma forma que a apelante tem de, legalmente, cobrar dos consumidores
pela energia utilizada e não paga, sendo que os valores apurados são
encontrados mediante perícia, agindo, assim, de forma lícita. Em pedido
alternativo, requer a redução do quantum fixado a título de danos morais.
Em contrarrazões acostadas às fls. 174/175, Oldemir Bernardo da Rocha
pugna pela manutenção da sentença. É o relatório.
Voto
DESEMBARGADOR ROWILSON TEIXEIRA
Presentes os pressupostos da admissibilidade, conheço do recurso.
A questão dos autos cinge-se em analisar a validade do débito decorrido da
ação da apelante em trocar o relógio medidor de energia, objeto de
fiscalização, com realização de perícia e emissão de fatura com valores
elevados, sob alegação de recuperação de consumo. Compulsando os autos
verifico que houve inspeção realizada pelos próprios técnicos da Ceron
(Termo de Ocorrência e Inspeção às fls. 24/25), laudo realizado por
laboratório no Estado do Rio de Janeiro (fls. 21/22) e à fl. 20, constou a
notificação de irregularidade. Para ser considerado válido o débito, é
preciso que se demonstrem não só a suposta irregularidade, mas também
a obediência aos procedimentos previstos na Resolução n° 414/2010 da
ANEEL, bem como aos princípios do contraditório e ampla defesa. No caso
específico dos autos, o laudo foi confeccionado por empresa terceirizada
contratada para tanto, qual seja, CAM Brasil Multisserviços Ltda., que
possui laboratório de ensaio acreditado pelo INMETRO de acordo com a
ABNT NBR ISO/IEC 17025. No entanto, muito embora tenha sido
observado a indispensabilidade de perícia por órgão metrológico oficial,
ficou claro nos autos que há procedimentos legais que não foram
observados pela requerida.
Veja-se que, para acompanhar a perícia, o autor teria que se deslocar à
sede da referida empresa, situada na Av. José Mendonça de Campos, 680
São Gonçalo - RJ, sendo abusiva tal situação, pois impor ao consumidor o
ônus de ter que se deslocar até o estado do Rio de Janeiro para
acompanhar uma perícia é algo que foge ao mínimo do bom senso, do
razoável e da proporcionalidade.
Registre-se, ainda, que o medidor foi trocado em 01.07.2010, ao passo em
que a suposta “perícia” somente foi realizada em 14.07.2011, ou seja,
o medidor ficou por tempo demasiado sob a única guarda e irrestrita
possibilidade de manuseio da requerida.
A inobservância destes procedimentos específicos, complementares à
confecção do laudo por órgão habilitado ou oficial, acarreta sua
imprestabilidade por contaminá-lo pela unilateralidade da perícia, o que
inviabiliza a cobrança de quaisquer débitos relacionados à ela. Desse
modo, a perícia unilateral, realizada pela concessionária, não se presta
como prova para fins de recuperação de consumo.
Nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
STJ. Processual civil e administrativo. Agravo regimental no agravo em
recurso especial. Fornecimento de energia elétrica. Violação do art. 535 do
cpc. Não ocorrência. Fraude no medidor apurada unilateralmente.
Invalidade do laudo pericial. Reexame de matéria fático- probatória.
Incidência da súmula 7/STJ.
1. Constatado que a Corte de origem empregou fundamentação adequada
e suficiente para dirimir a controvérsia, é de se afastar a alega da violação
do art. 535 do CPC. 2. In casu, o Tribunal a quo, soberano na análise do
contexto fático-probatório, fundamentado nas provas trazidas aos autos,
afirmou que a perícia realizada unilateralmente pela concessionária é
imprestável, reconhecendo assim a invalidade do laudo que apurou a
adulteração do medidor. Desse modo, é inviável, em recurso especial, o
reexame da matéria fática constante dos autos, por óbice da
Súmula7/STJ. 3. Agravo regimental não provido. (STJ, Relator: Ministro
BENEDITO GONÇALVES, Data de Julgamento: 26/06/2012, T1 -
PRIMEIRA TURMA)
Na mesma linha de raciocínio, cito julgados desta Corte:
Apelação cível. Fornecimento de energia elétrica. Recuperação de
consumo. Perícia unilateral. Cobrança indevida. Ausência de
suspensão do serviço e negativação Dano moral. Não configuração.
Dever de indenizar. Inexistência.
É indevida a cobrança de recuperação de consumo de energia elétrica se o
débito foi apurado por laudo pericial produzido unilateralmente pela
concessionária.
A mera cobrança, ainda que posteriormente declarada indevida, não é
capaz de gerar abalo moral, se não houve suspensão do fornecimento
de energia ou inscrição do nome do consumidor em cadastro restritivo do
crédito. (Apelação n.22960 - 07.2013.8.22.0001 Rel. Des Marcos Alaor
Diniz Grangeia, j. 03.06.2015)
Energia elétrica. Perícia unilateral no medidor. Realização. Recurso não
provido.
A perícia a ser efetivada em  medidores de energia suspeitos
de fraude deve operar-se por meio de órgão metrológico oficial, ou
seja, pelo IPEM ou INMETRO, porém, nunca, por ato unilateral da
própria concessionária do serviço público de energia.
A perícia unilateral realizada pela fornecedora não é prova hábil a embasar
cobrança de débitos referentes a diferença de faturamento do medidor. A
presunção de legalidade dos atos administrativos é relativa podendo ser
discutida em juízo, e in casu, evidenciado a ilegalidade do ato da Ceron.
(Apelação 0014583-52.2010.8.22.0001, Rel Des Paulo Mori, j.
30/10/2013).
Ação declaratória de inexigibilidade de débito. Fraude no medidor. Perícia
unilateral. Órgão localizado em outro estado da federação. Débito.
Inexistência. É inexigível o débito cobrado do consumidor decorrente de
perícia realizada unilateralmente pela concessionária de energia elétrica,
ainda que por órgão metrológico oficial, porquanto possui sede em outro
Estado da Federação, o que impede o consumidor de acompanhar a perícia
realizada no medidor, de nomear assistente técnico, enfim,
impossibilitando o contraditório, o qual deve ser observado. (Apelação, n.
00107706820118220005, Rel. Des Alexandre Miguel, J.20/11/2012)
TJRO. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em
17/12/2015, DJe 03/02/2016)
Assim, pelo pacífico entendimento do nosso Egrégio Tribunal de
Justiça, deve o ilustre Juízo, portanto declarar-se inexigível o débito na quantia
de R$ R$1.405,50 (um mil quatrocentos e cinco reais e cinquenta centavos ),
tendo em vista que a perícia no relógio foi feita de forma unilateral.

II. DA ILEGALIDADE DO TOI

Conforme acima exposto, a ré emitiu, indevidamente, o TOI no


valor de 1.405,50 (uns mil quatrocentos e cinco reais e cinquenta centavos).
Ocorre que, a referida emissão é totalmente ilegal, ferindo princípios
constitucionais como o devido processo legal, direito de defesa, contraditório,
dentre outros.

Isto porque, o documento emitido, bem como a verificação da


suposta irregularidade foram feitas unilateralmente e sem a realização da devida
perícia.

Vale ressaltar, que, a demandada é empresa privada,


concessionária de serviço público, razão pela qual seus atos não possuem
presunção de legitimidade, ao contrário do que ocorre com aqueles praticados
pela Administração Pública.

Neste sentido, o entendimento da melhor jurisprudência, conforme


podemos verificar abaixo:

Apelação. Concessionária de energia elétrica. Termo de Ocorrência de


Irregularidade – TOI e estimativa retroativa de consumo não faturado.
Sua legalidade, in abstracto. Necessidade de elementos suficientes
para caracterizar o procedimento irregular e a idoneidade da
estimativa. Ônus que recai sobre o prestador. Atos seus que não se
presumem verazes nem legítimos. Direito à informação. Prova
insuficiente. Laudo pericial inconclusivo quanto à existência de
fraude no medidos. Cobrança reputada indevida e efetuada por meio
abusivo e coativo. Dano moral. 1. A legalidade em tese dos
procedimentos arrolados no art. 129 da Resolução Aneel nº 414/2010,
dentre eles a lavratura do Termo de Ocorrência de Irregularidade – TOI, só
se concretiza caso a caso na hipótese de a concessionária o instruir com
elementos probatórios suficientes à “fiel caracterização da irregularidade”,
na dicção do próprio dispositivo regulamentar. O mesmo se aplica quanto
à estimativa de consumo não faturado (art. 130 da Resolução). 2. Nos
termos da Súmula nº 254 desta Corte de Justiça, “aplica-se o Código de
Defesa do Consumidor à relação jurídica contraída entre usuário e
concessionária”. 3. Decorre dos princípios gerais do direito das obrigações
que o devedor faça jus à prestação de contas regular daquilo que lhe é
cobrado; qualificado, ainda, como direito basilar do consumidor à
informação clara e adequada acerca do produto ou serviço, seu preço,
quantidades e características, conforme art. 6º, inciso III, do CDC,
ratificado pelo art. 7º, caput e inciso II, da Lei de Concessões (Lei nº
8.987/95). 4. As concessionárias de serviço público são simples
pessoas jurídicas de direito privado, que não se confundem com a
Administração de quem recebem, por delegação contratual, a
incumbência de desempenhar determinada atividade de interesse
público. Seus atos, pois, não gozam da presunção de legitimidade
típica dos atos administrativos. Seria uma aberração quer às normas
de Direito Administrativo, quer aos mais basilares princípios do
direito das obrigações, quer ainda às normas protetivas do
consumidor (que se presume parte vulnerável no mercado, conforme
diretriz estabelecida pelo art. 4º, inciso I, do CDC), imputar ao usuário
o ônus de provar que a apuração técnica da distribuidora de energia
estivesse equivocada. 5. Os elementos dos autos, ainda que não
indiquem má-fé nem temeridade no procedimento da concessionária, não
são suficientes para a “fiel caracterização” do ilícito imputado ao usuário,
seja porque não há prova apta a demonstrar que o faturamento a menor
decorresse de fraude e não ter defeito no medidor, seja porque a leitura
minorada iniciou-se antes mesmo de a autora entrar na posse do imóvel.
6. O só registro de consumo mensal inferior ao que se pode estimar pela
carga ativa do imóvel não basta para caracterizar irregularidade na
medição, muito menos má-fé do consumidor, o qual, sendo leigo, não está
obrigado a deter conhecimentos de engenharia elétrica suficientes para
detectar o equívoco na leitura do consumo de energia. 7. Quando o
faturamento a menor não for imputável ao consumidor, a cobrança da
recuperação de energia só pode retroagir aos três meses anteriores a
detecção da incorreção, nos termos do art. 113, I, c/c art. 115, § 2º, ambos
da Resolução Aneel nº 414/2010. 8. A imposição de confissão de dívida
superior a mais que o décuplo do devido, sob ameaça de interrupção de
fornecimento de serviço essencial, constitui forma de cobrança abusiva,
configurando o constrangimento de que trata o art. 42, caput, do CDC, o
que caracteriza o dano moral. Se seria ilegal a interrupção do serviço, que
não chegou a concretizar-se, ilícita também foi a ameaça de efetuá-la. 9.
Parcial provimento do recurso.
(TJ-RJ – APL: 00119814620098190021RJ 0011981-
46.2009.8.19.0021. Relator: DES. MARCOS ALCINO DE AZEVEDO
TORRES, Data de Julgamento: 05/02/2014, VIGÉSIMA SÉTIMA
CÂMARA CÍVEL/ CONSUMIDOR, Data de Publicação: 21/03/2014
00:00).

Ademais, a jurisprudência do Tribunal fluminense, em


consonância com a tese sustentada pelo autor entende que, sendo realizada
unilateralmente a vistoria que gerou a lavratura do TOI e diante da inexistência
mínima de participação do consumidor, este é ilegal, verbis:

DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZATÓRIA POR DANOS


MATERIAIS E MORAIS C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. LAVRATURA DE
TERMO DE OCORRÊNCIA DE IRREGULARIDADE -TOI, EFETUADO DE
FORMA UNILATERAL PELA RÉ. PROVA PERICIAL DISPENSADA PELA
PARTE RÉ QUE SERIA CAPAZ DE CONSTATAR A POSSÍVEL EXISTÊNCIA
DE IRREGULARIDADES. INEXISTÊNCIA DE BOLETIM DE OCORRÊNCIA
POLICIAL. TOI QUE DEVE ASSEGURAR AO CONSUMIDOR GARANTIAS
CONSTITUCIONAIS INERENTES AO DEVIDO PROCESSO LEGAL EM
SEDE ADMINISTRATIVA (art. 5º, LV, CRFB). PAGAMENTO DE DÉBITOS
REFERENTES À DIFERENÇA DE ENERGIA COMPROVADO, DAÍ
NECESSÁRIA A SUA DEVOLUÇÃO. INCONFORMISMO DA RÉ. Existência
de relação de consumo com aplicação do CDC. Ainda que houvesse a
constatação de irregularidade no medidor da residência do
consumidor, esta deveria se demonstrar através de laudo pericial ou
registro de ocorrência policial, o que não se deu, eis que efetuado
apenas termo de ocorrência e de forma unilateral pela ré. Valor
indenizatório fixado em observância os princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, pois tal importância compensa a autora, e , ao mesmo
tempo, desestimula a Ré a proceder de modo abusivo. Busca da efetividade
a teoria do desestímulo sem que sob a sua invocação se materialize
enriquecimento sem causa. Recurso a que se nega provimento na forma do
art. 557, caput, do CPC.
(TJ-RJ – APL: 22678 RJ 2009.001.22678, Relator: DES. MARCO
AURELIO BEZERRA DE MELO, Data de Julgamento: 02/06/2009,
DECIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 05/06/2009)

Diante de todos os argumentos acima expendidos, deve ser


reconhecida a ilegalidade do termo de ocorrência.

II.II DA IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA POR ESTIMATIVA.


DA DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DO DÉBITO

Ainda que não seja reconhecida a ilegalidade do Termo de


Ocorrência, o que se admite ad argumentandum tantum, mister o
reconhecimento da impossibilidade de cobrança realizada por estimativa. Deve
ser cobrado o valor real de consumo.

Imperioso destacar que a ré é responsável pela manutenção da


regularidade da prestação dos serviços, bem como da contraprestação pecuniária
no valor devido e na época correta do vencimento.

Não pode a concessionária a qualquer momento alegar suposta


irregularidade e cobrar por todo o período em que, segundo seu entendimento,
houve fraude. Ainda mais se esta não foi devidamente comprovada por meios
idôneos.

Possui a ré a obrigação de, mensalmente, verificar a possível


irregularidade quanto à variação de valores, se existirem, para, imediatamente,
restabelecer a normalidade. Indubitável de que tal fato não ocorreu. Não foi
demonstrado o desvio e não foi apurado o valor real da suposta diferença de
pagamento.
A jurisprudência acolhendo a tese segundo a qual é impossível a
cobrança por estimativa, assim se pronuncia:

ENERGIA ELÉTRICA. CÁLCULO DE RECUPERAÇÃO DE CONSUMO.


ILEGALIDADE DA RESOLUÇÃO Nº 456 DA ANEEL.
Ilegalidade da forma de cálculo adotada, seja porque embasada em mera
resolução emanada da agência reguladora e, portanto, sem força de lei,
seja porque eventual critério de cálculo que se venha a adotar a fim de
alcançar uma decisão equânime nem sempre a tal se conduzirá. Inovação
no ordenamento que somente pode se dar, como decorrência do Estado
Democrático de Direito (art. 1º da Constituição Federal), através da lei,
assim entendido o ato emanado do Poder Legislativo. Tanto é assim que
por força do Princípio da Legalidade ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (inciso II do artigo 5º
da Constituição Federal). Hipótese em que a posição do fornecedor se
revela absolutamente cômoda ao lançar mão do cálculo de
recuperação de consumo, uma vez que não apenas cria o seu próprio
título com base em critérios sabidamente irreais, seja ao estabelecer o
período de recuperação, seja ao apurar o consumo não medido, porque
a adoção do maior consumo que se verificou nos últimos doze meses, como
ocorre no caso posto em exame é sabidamente artificial, notadamente
porque o consumo, conforme as peculiaridades de cada unidade não é
uniforme nas diferentes estações do ano. Como se não bastasse isso, ainda
pode impor o pagamento do denominado custo administrativo no
percentual correspondente a 30%, submetendo, ao depois, o consumidor
ao jugo da autotutela que, não obstante a condição de mero concessionário
do serviço público exercita sem qualquer pejo. Possibilidade de o
fornecedor buscar, porém na via adequada, indenização por eventual
locupletamento.
DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DA AUTORA E
IMPROVERAM O DA RÉ. (Recurso Cível nº 71000760280, Segunda
Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Luiz Antônio Alves
Capra, Dara de Julgamento: 05/10/2005, Segunda Turma Recursal
Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 22/11/2005).
Assim, deve ser considerado ilegal o termo de ocorrência baseado
em estimativas, bem como declarada a inexistência do débito, uma vez que os
valores correspondentes ao consumo foram devidamente pagos.
IV- DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

O CDC em seu Art.2° estabelece ainda, como consumidor, “toda


pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final”. O Requerente se enquadra nesta condição, pois adquiriu
produto – no caso dos autos a energia elétrica – como consumidora final, para
seu uso particular e auxílio nas tarefas do dia-a-dia.

V- DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

É sabido que, em se tratando de situações em que uma das partes


se encontra em posição de desigualdade jurídica, sendo obrigada a submeter-se à
vontade da parte “mais forte”, perfeitamente aplicável a inversão do ônus da
prova.

O requerente, apesar de acostar aos autos provas que acredita


serem suficientes para a demonstração da verdade dos fatos ora narrados, para a
condução deste exímio juízo à formação de seu livre conhecimento, protesta pela
inversão do ônus da prova, pois considera ser a medida da boa administração da
Justiça e do exercício de seus direitos.

Prescreve a norma do art. 4º, inciso I, do CDC:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o


atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua
dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a
melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia
das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
I – Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de
consumo
Ratificando o entendimento da vulnerabilidade do consumidor, o
art. 6º, VIII, do CDC, diz o seguinte:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências” – (seleção e grifo do autor).

Assim, aplica-se ao caso a inversão do ônus probandi: aplicação do


artigo 6º da Lei n. 8.078/1990 em detrimento do inciso I do artigo 373 do CPC.

No presente caso, conforme os documentos carreados, tanto é


verossímil a alegação inicial, bem como resta demonstrada a sua hipossuficiência
em relação a fornecedora de energia elétrica, não cabendo, assim, a aplicação do
inciso I do artigo 373 do código instrumental, por prestígio ao princípio da
especialidade das leis.

Destarte, por serem verossímeis as alegações da requerente,


conforme as provas conduzidas, detalhamento de faturas, etc., e pela sua
condição de hipossuficiência em relação à ré, é a presente para que se inverta o
ônus da prova.

VI- DA CARACTERIZAÇÃO DO DANO MORAL

Com efeito, preceitua a norma do art. 14 do CDC, in verbis:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Conforme é sabido, para que haja a responsabilidade objetiva,


necessário apenas que seja constatado o dano e o nexo de causalidade entre o
dano e a ação do responsável, fato este, imputável à empresa ré.

No caso em comento, deve ser aplicada a Teoria do Risco do


Empreendimento, respondendo a demandada por eventuais vícios e/ou defeitos
dos produtos ou serviços postos à disposição dos consumidores.

Resta claro que a situação ultrapassou, e muito, a esfera do mero


aborrecimento/dissabor, visto que, o autor teve seu nome inscrito nos órgãos
de proteção ao consumidor e o fornecimento de energia elétrica
interrompido na manhã do dia 28/09/2021, pela ré o que lhe vem trazendo
momentos de estresse, frustações, angustias de maneira totalmente indevida,
pois necessita de seu nome “limpo” para poder fazer financiamentos para manter
seu pequeno sitio de onde tira seu sustento e necessita do fornecimento da
energia elétrica para manter o mínimo de dignidade.

Ora Excelência, a inclusão do nome do Autor no SPC/SERASA e


o corte no fornecimento da energia elétrica é totalmente desnecessário,
deixando o autor totalmente constrangido e se sentindo na obrigação de
reconhecer um débito totalmente indevido, deixando o autor em uma posição
desprivilegiada e constrangida por ter seu nome incluso nos órgão de proteção ao
consumidor e sua residência sem fornecimento de energia, sem antes mesmo de
poder provar sua inocência, comprometendo sobremaneira a sua saúde física e
mental, diante do acontecido, mesmo com todas as contas quitadas e sem a
apuração devida da suposta irregularidade no medidor de energia. Sendo assim,
preceitua a norma insculpida nos arts. 186 e 927 do C.C:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
No mesmo sentido, a art. 5º, inciso X da Carta Magna:
X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
A simples cobrança indevida é capaz de gerar o dever de indenizar
sem mencionar o corte indevido. Neste sentido jurisprudência se posiciona em
casos análogos:

DECLARATÓRIA CUMULADA COM INDENIZATÓRIA. FORNECIMENTO


DE ENERGIA ELÉTRICA. COBRANÇA BASEADA EM TERMO DE
OCORRÊNCIA DE IRREGULARIDADE - TOI. DOCUMENTO
UNILATERAL NÃO CORROBORADO POR OUTRAS PROVAS. NULIDADE.
DANO MORAL CONFIGURADO NA HIPÓTESE. MANUTENÇÃO DO
JULGADO. 1 - O Termo de Ocorrência de Irregularidade (TOI), lavrado
unilateralmente pela concessionária, e não corroborado por outras provas
nos autos, não serve de suporte à cobrança da dívida. Ausência de
realização de perícia no local e não participação do usuário na apuração do
alegado débito. Ausência de prova da existência de irregularidade no
medidor ou de efetivo consumo pelo demandante. Declaração de
inexistência do débito objeto do TOI. Precedentes. 2 -Dano moral
configurado. Imputação de fraude ao consumidor sem mínima prova nesse
sentido. Violação a direitos da personalidade. Verba arbitrada
adequadamente, considerando os princípios atinentes à matéria e as
particularidades do caso concreto. Manutenção. DECISÃO
MONOCRÁTICA. NEGATIVA DE SEGUIMENTO AO RECURSO (TJ-RJ -
APL: 1493565220098190001 RJ 0149356-52.2009.8.19.0001, Relator:
DES. CARLOS SANTOS DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 25/04/2011,
NONA CÂMARA CIVEL) (grifamos)

A jurisprudência posiciona-se no sentido de responsabilizar as


empesas em casos desta natureza, conforme se observa nas ementas abaixo
transcritas:

APELAÇÃO CÍVEL. CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA. LAVRATURA


DE TOI. UNILATERALIDADE. NULIDADE. DANO MORAL.
OCORRÊNCIA. JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA.
ENCARGOS DE SUCUMBÊNCIA. INVERSÃO. 1. A relação jurídica que ora
se examina é de consumo, pois o demandante é o destinatário final da
energia elétrica fornecida pela ré, daí a necessidade de se resolver a lide
dentro da norma consumerista prevista no Código de Proteçâo e Defesa do
Consumidor. 2. Da leitura do art. 14 do CPDC, verifica-se que a
responsabilidade do fornecedor de serviços é objetiva e somente não
responderá pela reparação dos danos causados ao consumidor se provar
que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste ou o fato é exclusivo do
consumidor ou de terceiro. 3. Outrossim, segundo a teoria do risco do
empreendimento, aquele que se dispõe a fornecer bens e serviços tem o
dever de responder pelos vícios resultantes dos seus negócios,
independentemente de sua culpa, pois a responsabilidade decorre do
simples fato de alguém se dispor a realizar atividade de produzir, distribuir
e comercializar ou executar determinados serviços. 4. Dessa forma,
incumbe à concessionária demonstrar que a lavratura do TOI se deu de
forma regular e em plena observância aos critérios e procedimentos
previstos na Resolução 456/2000 da ANEEL, ônus do qual não se
desincumbiu. 5. Incidência do enunciado de nº 5 do II Encontro de
Desembargadores, com competência em matéria cível, realizado no dia 16
de junho de 2011, constante no Aviso do Tribunal de Justiça nº 51 de
2011. 6.Nulidade do TOI que decorre da irregularidade de sua lavratura,
fulminando a recuperação do consumo elaborada. Precedentes do TJRJ. 7.
Dano moral in re ipsa. Fixa-se o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), pois
atende às peculiaridades do caso, as condições do ofensor e do ofendido, o
tipo de ofensa e as repercussões provocadas pelo ato ilícito da
concessionária de energia. 8. Correção monetária que deverá incidir a
contar desse decisum, com juros de mora fluindo a partir da citação,
diante da relação contratual entabulada entre as partes. 9. Honorários
advocatícios fixados nos termos do artigo 20, § 3º, do Código de Processo
Civil. Precedente. 10. Recurso provido (TJ-RJ - APL:
00281390720118190087 RJ 0028139-07.2011.8.19.0087, Relator: DES.
JOSE CARLOS PAES, Data de Julgamento: 27/03/2015, DÉCIMA
QUARTA CÂMARA CIVEL, Data de Publicação: 31/03/2015 12:19)
(grifamos)

DIREITO DO CONSUMIDOR - APELAÇÃO CÍVEL EXISTÊNCIA DE


AGRAVO RETIDO INTERPOSTO PELA APELANTE EM FACE DA
DECISÃO QUE DEFERIU A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - RELAÇÃO
CONSUMEIRISTA VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES AUTORAIS -
FLAGRANTE HIPOSSUFICIÊNCIA DO CONSUMIDOR - TERMO DE
OCORRÊNCIA DE IRREGULARIDADE (TOI) - NULIDADE PROVA
UNILATERAL - PACÍFICA JURISPRUDÊNCIA DO TJ/RJ - AMEAÇA DE
SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA -
ILEGÍTIMAS AS COBRANÇAS PERPETRADAS COM FULCRO NA
LAVRATURA DO TOI- DEVOLUÇÃO EM DOBRO DA IMPORTÂNCIA
DESPENDIDA - PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL - FRAUDE NÃO
CARACTERIZADA - AMEAÇA DE INTERRUPÇÃO DO SERVIÇO
ESSENCIAL - DANO MORAL CONFIGURADO. MANUTENÇÃO DA
SENTENÇA. DESPROVIMENTO DO AGRAVO RETIDO E DO APELO. 1.
Trata-se de ação declaratória de inexistência de débito c/c repetição de
indébito c/c indenização por danos morais com pedido de tutela
antecipada promovida por consumidor em face da concessionária de
serviço público (Light), objetivando a manutenção ou restabelecimento do
fornecimento do serviço de energia elétrica, a devolução em dobro dos
valores cobrados em decorrência da lavratura do TOI e compensação por
danos morais. 2. Decisão interlocutória deferindo a inversão do ônus da
prova. Agravo retido interposto pela parte ré e reiterado nas razões
recursais do presente apelo. 3. Sentença de parcial procedência, já que
não houve necessidade do restabelecimento do serviço (religação),
declarando, ainda, a inexistência do débito apurado pela parte ré a título
de consumo irregular de energia elétrica decorrente do TOI e condenando a
concessionária a devolver em dobro a importância cobrada sob a rubrica
de "recuperação de consumo irregular" e ao pagamento de R$ 6.000,00
(seis mil reais), a título de compensação por danos morais. 4. Apelo da
parte ré requerendo a apreciação do Agravo Retido (fls. 186/189)
interposto em face da decisão interlocutória que deferiu a inversão do ônus
da prova (fls. 184). No mérito, repisa os argumentos trazidos na peça de
bloqueio, tais como, a existência de irregularidade no medidor da unidade
consumidora, a legalidade da lavratura do TOI, conforme estabelecido pela
ANEEL, e a não configuração de danos morais. 5. Agravo retido. Inversão
do ônus da prova. Relação de Consumo. Presente a verossimilhança nas
alegações autorais, bem como patente a hipossuficiência do consumidor,
em especial, técnica, impõe-se a inversão do ônus da prova com fulcro no
art. 6º, inciso VIII, do CDC. 6. Termo de Ocorrência de Irregularidade. A
produção de prova unilateral malfere as garantias constitucionais do
devido processo legal, ampla defesa e contraditório. Eficácia horizontal dos
direitos fundamentais. Impossibilidade de sobreposição das normas
administrativas, redigidas pela ANEEL, Agência Reguladora, à lei. A prova
pericial, nesses casos, se faz evidentemente necessária, não sendo lícito
permitir a ameaça de interrupção do fornecimento de energia elétrica sem
que seja efetivamente comprovada a fraude. 7. Ameaça de suspensão do
serviço como forma que causa temor e compelir o consumidor ao
pagamento do que não deve. A impugnação judicial dos valores lançados a
débito impede que a fornecedora retalie o consumidor, ameaçando cortar-
lhe a eletricidade, serviço de natureza essencial, imprescindível para a
fruição de uma vida digna. 8. Laudo pericial. Fraude não caracterizada.
Perito que atestou que o consumo registrado na unidade consumidora pelo
sistema de medição é compatível com a carga apurada na unidade
residencial. 9. Dano material configurado. Devolução em dobro da
importância despendida em função da lavratura do TOI, nos moldes do art.
42 do CDC. 10. Dano moral configurado. Ameaça ilegítima de interrupção
do serviço. Indenização que surge como reflexo da mudança de paradigma
da responsabilidade civil e possui dois objetivos: a prevenção (através da
dissuasão) e a punição (no sentido de redistribuição). Ou seja, o dano
moral deve ser também a pena privada, a justa punição contra aquele que
atenta contra a dignidade da vítima ou de um dos bens integrantes da sua
personalidade, pena esta que deve reverter em favor da vítima. 11. Fixação
do montante indenizatório que deve atender aos seus dois aspectos
precípuos: o compensatório, nos limites da lesão suportada pela vítima; e o
pedagógico-punitivo, cujo fim é inibir a contumácia do causador do dano.
Analisando-se as particularidades do caso, ou seja, a extensão do dano e o
grau de reprovabilidade da conduta da apelante, mormente, quando
desconsidera reiteradas decisões dessa Corte, verifica-se que o quantum
fixado a título de compensação por danos morais, arbitrados em R$
6.000,00 se coaduna aos princípios da proporcionalidade, da razoabilidade
e aos padrões de fixação desse E. Tribunal, bem como aos seus dois
aspectos precípuos: o compensatório, nos limites da lesão suportada pela
vítima; e o pedagógico-punitivo, cujo fim é inibir a contumácia do causador
do dano, lavrando TOI's que sabe ser nulo em virtude de maciça
jurisprudência e imputando levianamente crime de fraude ao consumidor.
NEGO PROVIMENTO AOS RECURSOS, NA FORMA DO ART. 557, CAPUT,
do CPC (TJ-RJ - APL: 171141320068190203 RJ 0017114-
13.2006.8.19.0203, Relator: DES. MARCELO LIMA BUHATEM, Data de
Julgamento: 08/10/2010, DECIMA QUARTA CÂMARA CIVEL, Data de
Publicação: 14/10/2010) (grifamos)

Não é demais ressaltar que a indenização por dano moral possui


duas vertentes, a saber: reparar o abalo psicológico causado e servir como
punição (natureza educativa), com o fito de evitar que o causador do dano volte a
cometer a infração.

Portanto Excelência, deve ser a demandada condenada ao


pagamento de indenização por dano moral no importe de R$ 10.000,00 (dez
mil reais), com aplicação de juros e correção monetária a partir da data do ato
danoso.

Desta forma, tendo sido provada a cobrança indevida, o fato de o


autor não ter tido tempo nem de tentar solucionar o problema
administrativamente, os danos causados e o desligamento indevido da
energia elétrica da demandada para compelir a autora a pagar o suposto debito,
dentre outros, é certo que devida à indenização por dano moral.

VII. DA TUTELA DE URGÊNCIA PARA CUMPRIMENTO DA


OBRIGAÇÃO QUANTO O RESTABELECIMENTO DO FORNECIMENTO DA
ENERGIA ELÉTRICA

Necessária à concessão da Tutela de Urgência a determinar que a


Requerida proceda o imediato restabelecimento da energia da Unidade
Consumidora do requerente, tendo em vista que a Requerida demorou quase
um ano para enviar o TERMO DE OCORRÊNCIA PARA O REQUERENTE, E EM
MENOS DE UM MÊS APÓS O REQUERENTE TER RECEBIDO O TERMO A
REQUERIDA SUSPENDEU O FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA NA
RESIDÊNCIA RURAL DO REQUERENTE.

Cabe destacar excelência, que o requerente é idoso, mora e


trabalha na zona rural, e a suspensão do fornecimento na energia elétrica lhe
causará inúmeros prejuízos a sua mantença própria e familiar, pois a requerida
demonstrou que nada fará espontaneamente para solucionar o problema, aliada
a essencialidade do serviço.

Dispõe o artigo 300 e seguintes, do Novo Código de Processo Civil,


que:

§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após


justificação prévia.

Outro elemento necessário para concessão da tutela se refere ao


perigo de dano causado à parte, o qual está insculpido na própria matéria aqui
alegada, tendo em vista que o autor está enfrentando sérios transtornos em
virtude da ausência de energia elétrica.

VIII. DA ESSENCIALIDADE DO SERVIÇO


Importante trazer à baila, que o serviço de distribuição de energia
elétrica é considerado serviço essencial, conforme aduz o artigo 11 da Resolução
nº 414 da ANEEL, senão vejamos:

Art. 11. São considerados serviços ou atividades essenciais aqueles cuja


interrupção coloque em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a
segurança da população.

Parágrafo único. Para fins de aplicação do disposto neste artigo,


classificam-se como serviços ou atividades essenciais os desenvolvidos nas
unidades consumidoras a seguir indicados:

I – tratamento E abastecimento de água; produção e distribuição de


energia elétrica, gás e combustíveis;

No caso em tela, há mais do que a possibilidade do pleito, há sim a


certeza da sua procedência constatado o constrangimento em que o Requerente
esta passando.

VII- DOS PEDIDOS

Face ao exposto, requer o autor se digne Vossa Excelência:

a) Seja acatada em sede de preliminar, reconhecida a


prioridade, diante do Estatuto do Idoso, recebendo os autos a devida identificação
que evidencie o regime prioritário;
b) Deferir os benefícios da justiça gratuita posto que a
Autora não tem condições de arcar com custas e despesas processuais sem
causar prejuízo a sua própria subsistência;
c) Citar a Requerida ENERGISA DISTRIBUIÇÃO
RONDÔNIA S/A, na pessoa de seu representante legal, para que, em querendo,
ofereça resposta no prazo legal, sob a pena de sujeitar-se aos efeitos da revelia;
d) Conceder a inversão do ônus da prova, nos termos
acima expostos uma vez que o Requerente se enquadra na condição de
consumidora perante a ré, razão pela qual impera que a regra do Art. 373, inciso,
I do Código de Processo Civil seja subsidiária a determinação elencada no Código
de Defesa do Consumidor.
e) A condenação da promovida ao pagamento de uma
indenização por danos morais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais)
experimentado pelo requerente, em razão do corte do fornecimento de energia
elétrica sem justa causa;
f) Ao final julgar procedente a ação, declarando inexigível
o débito de R$1.405,50 (um mil, quatrocentos e cinco reais e cinquenta
centavos); tendo em vista as razões apresentadas;
g) Condenar a ré ao pagamento de custas processuais e
honorários de sucumbência, nos termos do art. 85, § 8º do CPC;
h) Dispensar a realização de audiência de conciliação nos
termos do art. 319, VII do Código de Processo Civil, tendo em vista que a empresa
não tem apresentado propostas de acordo nos seguintes casos;
i) Protesta-se por provar o alegado pelos meios de provas
admitidas pelo Direito, requerendo desde prova pericial, depoimento pessoal do
réu, sob pena de confissão, por ocasião da audiência de instrução, oitiva de
testemunhas cujo rol será apresentado em momento oportuno e demais provas
que se fizerem necessárias a instrução processual e a demonstração da realidade
fática.

Atribui a causa o valor de R$11.405,50 (onze mil, quatrocentos


e cinco reais e cinquenta centavos).

Termos em que,

Pede o Deferimento.

Ariquemes/RO, 20 de January de 2022.

Bryan Erikson Camargo Ribeiro


OAB/RO 9490
ARIADINA MICHELE

Estagiária de Direito

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