Você está na página 1de 22
Inz Bowwies,T.; Bly, LO. Coney) froin perro p abou 4 ices a cee = + 228. Marca Gt Ecluem , Us. p 18/203. ) CRriTICA FEMINISTA Licia Osana Zolin (Os ESTUDOS DE GENERO EF A LITERATURA, Desde a década de 1960, com o desenvolvimento do pensamento feminista, a mulher vem se tornando objeto de estudo em diversas reas de conhecimento, como a Sociologia, a Psicandlise, a Hist6ria ¢ a Antropologia. Também no Ambito da Literatura e da Critica Literéria, a mulher vem figurando entre os temas abordados em encontros, simpésios € congressos, bem como se constituindo em motivo de intimeros cursos, teses ¢ trabalhos de pesquisa No entanto, tal presenca nao deve ser analisada como um fato que passa a despertar curiosidade por estar ligado a esse momento de afirmagio. Na verdade, é uma presenga que ultrapassa 0 pontual e 0 euférico para se conjugar a todo um processo hist6rico-literério, Mais importantes do que as polémicas geradas a partir do movimento feminista sio os efeitos provocados por ele em seus diferentes momentos. Um desses efeitos, ¢ € 0 que nos interessa neste capitulo, esté ligado a um dos diversos instramentos de que dispomos hoje para ler ¢ interpretar © texto literdrio: a critica feminista. Desde a sua origem em 1970, com a publicacio, nos Estados Unidos, da tese de doutorado de Kate Millet, intitulada Sexual Politics, essa vertente da critica literdria tem assumido o papel de questionadora da pritica académica patriarcal. A constatagio de que a experiéncia da mulher como leitora e escritora € diferente da masculina implicou significativas mudangas no campo intelectual, marcadas pela quebra de paradigmas e pela descoberta de novos horizontes de expectativas. [Nas diltimas décadas, muitas facg6cs criticas defendem a necessidade de se considerar o objeto de cestudo em relacio a0 contexto em que esté inserido; de alguma forma, tudo parece estar interligado. \No que se refere & posicio social da mulher e sua presenga no universo literdrio, essa visio deve ~ muito ao feminismo, que pds a nu as circunstincias s6cio-hist6ricas entendidas como determinantes na producio literdria. Do mesmo modo que fez perceber que esteredtipo feminino negativo, largamente difundido na literatura e no cinema, constitui-se num considerivel obsticulo na luta pelos direitos da mulher. Gl) crtrrca rensursra “Termo utilizado para designar uma espécie de organizagio familiar originéria dos povos ntigos, na qual toda instituigio social concentrava-se na figura de um chefe, o patriarca, Patriarcalismo | cyja autoridade era preponderante ¢ incontestivel. Esse conceito tem permeado a maioria das discusses, travadas no contexto do pensamento ferninista, que envolver a questio da opressio da mulher 20 longo de sua hist6ria, "Termo que provém da obra de Jacques Derrida, utilizado pelos teéricos da literatura em uma espécie de critica das oposigbes hierarquicas que estruturam 0 pensamento ocidental, tais como: modelo x imitagio; dominador x dominado; forte x fraco; presenga x auséncia; corpo x mente; homem x mulher. Trata-se de se apoiar na convicgio de que oposicées ‘como essas nio sio absolutamente naturais, nem inevitéveis, mas construgbes ideolégicas ‘que podem ser «lesconstruidas, isto & submetidas a estrutura ¢ funcionamento diferentes. Desconstrugao ‘A dialética da identidade/alteridade foi originalmente elaborada pela filosofia (de Descartes a Sartre), sendo que a “identidade foi concebida como um miéicleo e a alteridade como uma ‘exterioridade’, um ‘estranho’, uma ‘negativa’ do si-mesmo, orbitando a0 seu redor” (WADDINGTON, 1996, p. 337). Trazendo-a para o mundo das relagbes de poder na sociedade patriarcal, 0 niicleo coube ao homem, “senhor da razlo, da lei, da rel proprietério das riquezas" (WADDINGTON, 1996, p. 337); a periferia, i mulher, expropriada cdesses atributos. A partir desse contexto da exteroridade, da estranheza e da negatividade, foi atribufda uma alteridade & mulher, mas alteridade entendida como sindnimo de condicio objetal e de identidade em fil, ¢ nfo uma alteridade auténtica, inersubjetiva. Esta permaneceu por ser conquistada. © desnudamento da alteridade da literatura de autoria femninina constitui-se na base da abordagem feminista na literatura Isso implica dizer que | anilise das obras escritas por mulheres é realizada visando promover o desnudamento da alteridade do discurso feminino, de acordo com o prine‘pio da diferensa, ou seja, como um diseurso “outro” em relacio a0 “mesmo”, Alteridade Categorias utilizadas para caracterizar as tintas do comportamento feminino em face dos pardmetros estabclecidos pela sociedade patrarcal: a mulher-syjeto € marcada pela insubordinagio ‘Mulher-sujeito| ios reeridos paradigmnas, por seu poder de decisio, dominacio e imposigio; enquanto 2 mulher- e objs0 define-se pela submissio, pela resignacio e pela fila de voz. As oposigdes binétias Muther-objeto | subversio/aceitac io, inconformismo/resignacio, atividade/passividade, transcendéncia/imanéncia, entre outras, referem-se,respectivamente, a esss designagbes e as complementam. Quadro 1. Conceitos operat6rios da critica feminista. Fica mais claro entender o que vem a ser critica literéria feminista, € como ela funciona, quando se tem conhecimento de algumas nogées prévias acerca do femninismo entendido como 0 movimento social e politico que lhe deu origem. Em razio disso, passemos, de inicio, a uma espécie de mapeamento, ainda que rapido, do contexto em que se desenvolveu essa faccio da eritica literdria, ‘como origens, precursores, reivindicagdes etc. para, posteriormente, de posse dessas informagbes,

Você também pode gostar