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Rio de Janeiro
2015
C2015 ESG
Este trabalho, nos termos de legislação
que resguarda os direitos autorais, é
considerado propriedade da ESCOLA
SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É
permitido a transcrição parcial de textos
do trabalho, ou mencioná-los, para
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referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho
são de responsabilidade do autor e não
expressam qualquer orientação
institucional da ESG.
_________________________________
Eduardo Augusto Wieland
73 f.: il.
Rui Barbosa
RESUMO
This monograph addresses the mineral resources exploration in the Area (the
seabed region defined by the United Nations Convention of the Law of the Sea
(UNCLOS) as not subject to the jurisdiction of any State). The aim of this paper is to
demonstrate the economic, political and strategic relevance for Brazil in the
exploration of the Rio Grande Rise, a submerged ledge land, located approximately
600 nautical miles off the closest shore, on the Brazilian coast. The methodology
involved a literature review and documentary, in order to seek theoretical
frameworks, as well as the author's experience as a Brazilian Navy officer. The study
emphasizes the importance of the sea for human development by analyzing their
attributes and points of dispute. It presents the scientific expeditions that explored the
seabed, showing that existing mineral wealth in Brazilian waters are already detailed
knowledge in almost absolute majority, by foreign entities. It also discusses the legal
framework that deals with mining in the area and its controversial aspects, which
ensure the interests of the core countries. It scans in national public policies relating
to the sea, focusing on National Defense Policy. Then goes on to detail the
characteristics of the Rio Grande Rise and to analyze the Brazilian Work Plan for
their exploitation. Finally, concludes that ocean mining should be able to rely on the
Armed Forces protection, because the oceans are the world latest political, strategic
and economic border, therefore National Defense subject.
Keywords: Mineral Resources. UNCLOS. Public Policies. Rio Grande Rise. National
Defense.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................
12
2 AS BASES TEÓRICAS PARA A RELEVÂNCIA DO MAR .....................................
15
2.1 AS CARACTERÍSTICAS DO MAR ...........................................................................
15
2.1.1 O Mar como Fonte de Riquezas ............................................................................
15
2.1.1.1 Recursos Não Vivos .................................................................................................
16
2.1.1.2 Recursos Vivos.........................................................................................................
17
2.1.2 O Mar como Meio para Transporte e de Intercâmbio ..........................................
18
2.1.3 O Mar como Meio para Obter e Trocar Informação e
Conhecimento.........................................................................................................
19
2.1.4 O Mar como Área de Domínio / Meio Para Dominação .......................................
20
2.1.5 O Mar como Meio Ambiente ..................................................................................
21
2.2 DISPUTAS MARÍTIMAS – FONTES DE CONFLITOS OCEÂNICOS ......................
22
3 AS EXPEDIÇÕES CIENTÍFICAS .............................................................................
24
3.1 AS PESQUISAS EXPLORATÓRIAS NAS COSTAS BRASILEIRAS .......................
25
4 MARCOS LEGAIS E AS POLÍTICAS NACIONAIS. ................................................
30
4.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ...................................................................
31
4.2 A CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO
MAR..........................................................................................................................
31
4.3 A LEI No 8.617/1993 .................................................................................................
34
4.4 O ACORDO RELATIVO À IMPLEMENTAÇÃO DA PARTE XI DA
CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO
MAR..........................................................................................................................
35
4.5 A AGENDA 21, ADOTADA NA CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES
UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
(CNUMAD) ...............................................................................................................
36
4.6 OS CÓDIGOS DE MINERAÇÃO DA AUTORIDADE
INTERNACIONAL DOS FUNDOS MARINHOS .......................................................
36
4.7 A COMISSÃO INTERMINISTERIAL PARA OS RECURSOS DO
MAR..........................................................................................................................
38
4.8 A POLÍTICA MARÍTIMA NACIONAL ........................................................................
38
4.9 A POLÍTICA NACIONAL PARA OS RECURSOS DO MAR ....................................
38
4.10 O PLANO SETORIAL PARA OS RECURSOS DO MAR .........................................
39
4.10.1 O Programa de Prospecção e Exploração de Recursos Minerais
da Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial ...........................................
40
4.11 A POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA......................................................................
41
5 A ELEVAÇÃO DO RIO GRANDE E O PLANO DE TRABALHO
BRASILEIRO PARA A EXPLORAÇÃO MINERAL..................................................
43
5.1 A ELEVAÇÃO DO RIO GRANDE .............................................................................
43
5.2 O PLANO DE TRABALHO PARA A EXPLORAÇÃO MINERAL ..............................
44
6 A IMPORTÂNCIA DA EXPLORAÇÃO DA ELEVAÇÃO DO RIO
GRANDE PARA O BRASIL. ....................................................................................
47
6.1 ASPECTOS GEOPOLÍTICOS E ESTRATÉGICOS ..................................................
47
6.2 ASPECTOS ECONÔMICOS ....................................................................................
50
6.3 ASPECTOS CIENTÍFICO-TECNOLÓGICOS ...........................................................
53
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS. ....................................................................................
56
REFERÊNCIAS ........................................................................................................60
GLOSSÁRIO ............................................................................................................65
ANEXO – ILUSTRAÇÕES E TABELA ELUCIDATIVAS .........................................67
12
1 INTRODUÇÃO
Segundo (TILL, 2004), o Mar tem sido uma generosa fonte de todas as
formas de riquezas, recursos vivos e não vivos, e um maior contribuinte para o
desenvolvimento humano. As marinhas e outras agências marítimas têm se visto
16
crescente importância (não apenas como uma contribuição para a política, economia
e poder militar ao país), e por isso mais e mais atenção tem sido dada ao Mar como
uma área sobre o qual a jurisdição deva ser exigida e exercida. A noção de que
partes do mar “pertencem” a certas partes da massa terrestre não é em si nova. Em
1494, no Tratado de Tordesilhas, o Papa dividiu o mundo entre Espanha e Portugal.
Essa ideia de que o Mar possa ter propriedade, da mesma maneira que a terra, está
por trás da tradição do “mar fechado” advogada pelo jurista John Selden 3, do Século
XVII (PEREIRA, 2014).
Soberania, normalmente, significa ter absoluta e independente autoridade
sobre uma parte de território, e soberania marítima simplesmente estende este
conceito ao Mar. Com efeito, uma área do oceano diz respeito a uma parte do
território do estado. Para ser aceita por outros, a soberania precisa ser reivindicada,
exercida e, se for o caso, defendida. Assim, países estão crescentemente
preocupados em exercer, e em muitos casos estender, sua jurisdição sobre o Mar
(TILL, 2004). A adoção da CNUDM fornece a moldura dentro da qual isto está sendo
feito e será assunto a ser abordado no Capítulo 4.
buscado ampliar sua plataforma continental para até 350 milhas marítimas, de
maneira a ganhar controle das reservas conhecidas ou suspeitas. Ainda,
aproveitando-se que muitos estados ainda estão por definir suas fronteiras
marítimas, alguns procuram um aumento de seus limites.
Existe ainda a controvérsia na CNUDM, desde a época de sua negociação
até os dias de hoje, centrada na mineração no fundo do mar na Área
(ORGANIZAÇÃO, 2010). Embora a mineração no fundo do mar não fosse rentável
por ocasião da negociação da Convenção, indivíduos, empresas e estados
acreditaram que se tornaria no futuro, e então quiseram preservar suas
possibilidades de explorar e lucrar com esses recursos. Estados mais ricos quiseram
impor sistema de livre acesso para todos, em uma espécie de “quem chega primeiro
ganha”. Estados mais pobres temiam que os minerais iriam esgotar antes que eles
desenvolvessem a tecnologia necessária que os capacitaria a explorar os fundos
marinhos (NYMAN, 2013).
O Brasil participa ativamente das disputas supramencionadas, como será
visto a seguir.
24
3 AS EXPEDIÇÕES CIENTÍFICAS
ponto de vista político, como pelos recursos neles contidos, tanto vivos como não
vivos (minérios).
Assim, impulsionados por interesses econômicos, centros universitários de
pesquisas, especialmente dos Estados Unidos da América (EUA), realizaram
inúmeros levantamentos geológicos e geofísicos dos oceanos. Também a Inglaterra,
a Rússia, a França, a Alemanha e o Japão passaram a investir nesses estudos,
organizando expedições para conhecer mais corretamente a geologia dos oceanos e
seus recursos minerais. Esses países promoveram a realização do Ano Geofísico
Internacional (1957/58). Em meados da década de 1960, as indústrias de mineração
passaram a se interessar pela exploração dos recursos minerais dos fundos
marinhos, iniciaram a prospecção e passaram a estudar os sistemas de explotação e
tratamento metalúrgico de nódulos polimetálicos (SOUZA et al., 2007).
Apenas no final da década de 1960, o Brasil iniciou estudos em Geologia
marinha, portanto, pelo menos dez (10) anos após as nações mais desenvolvidas,
apesar da Marinha brasileira já ter promovido pesquisas oceanográficas
anteriormente (inclusive em conjunto com outros países, como a Argentina e o
Uruguai) (CENTRO, 2013).
Desde o século XIX, o litoral brasileiro vem sendo visitado com propósito de
pesquisas exploratórias. Em 1873, ficou famosa a expedição do HMS Challenger,
que coletou e analisou sedimentos do fundo da margem continental brasileira,
especificamente no Nordeste. Posteriormente, entre 1925 e 1927, o Navio
Oceanográfico Meteor colheu mais amostras.
Em 1958, começou a funcionar o Instituto de Biologia Marítima e
Oceanografia, da Universidade do Recife que, com a contribuição da Diretoria de
Hidrografia e Navegação (DHN) da Marinha do Brasil (MB) e com a Divisão de
Recursos Pesqueiros da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(DRP/SUDENE), proporcionou inegável incremento do conhecimento sobre
sedimentos superficiais da plataforma continental brasileira. Já em 1959, foram
publicados resultados das primeiras missões, um estudo sobre a distribuição dos
sedimentos na desembocadura do Rio Amazonas. Em 1967, estudos sobre a
distribuição e natureza dos sedimentos da plataforma sul brasileira. Com o apoio do
26
teve como principal função o mapeamento geofísico da área a ser estudada, que
para efeito de detalhamento, foi dividida em subáreas.
Estiveram embarcadas 31 pessoas de várias partes do mundo (Indonésia,
Filipinas, Rússia, Alemanha e Brasil) que trabalham em diversas áreas de pesquisa
como geologia, hidrografia, navegação e marinharia. Com elas puderam ser
trocadas experiências e aprendizados que contribuíram com o aperfeiçoamento dos
profissionais brasileiros.
Em 2012, com o apoio do Navio de Pesquisa alemão Ocean Stalwart, foram
concluídos os levantamentos e a coleta de amostras de crostas cobaltíferas na ERG,
necessários para elaborar a proposta brasileira para a prospecção e exploração
desse recurso mineral, na Área. O Navio Hidrográfico Sirius, da MB, também foi
empregado nos levantamentos. A partir dos dados obtidos, pôde ser verificado:
- A ERG possui duas áreas distintas, sendo que a parte que apresenta
crostas cobaltíferas mais espessas, ou seja, com maior teor mineral, encontra-se
mais próxima do litoral; e
- As áreas levantadas totalizam 78.000 km 2. Dessas, 17.000 km2 possuem
crostas, onde foram selecionados diversos blocos (COMISSÃO, 2013a).
No período de 13 de abril a 29 de maio de 2013, foi realizada a Expedição
IATÁ PIÚNA, fruto de uma parceria entre o Serviço Geológico do Brasil – CPRM, a
Universidade de São Paulo (USP) e a Agência Japonesa de Ciências do Mar e da
Terra (JAMSTEC), envolvendo pesquisadores de cerca de vinte universidades e
empresas dos dois países. Essa iniciativa conjunta teve como propósito mapear e
recolher material geológico e biológico do leito marinho do Atlântico Sul, inclusive de
áreas da Plataforma Continental e da Zona Econômica Exclusiva brasileira
(COMISSÃO, 2013a).
A expedição contou com o apoio do Navio de Pesquisa japonês Yokosuka,
dotado do submersível – Shinkai 6500 -, com capacidade de realização de
mergulhos tripulados até a profundidade de 6.500 metros. Foram percorridos trechos
da ERG, da Cordilheira de São Paulo e do Platô de São Paulo. Todos os locais
foram escolhidos pela CPRM, com base em estudos prévios, considerados mais
promissores. Além do granito, importante do ponto de vista cientifico, foram
encontrados sinais de depósitos de minerais e compostos de ferro, manganês,
cobalto, cobre, níquel, nióbio e tântalo, que podem ter importância econômica em
futuras operações de mineração submarina (COMISSÃO, 2013a). Além destes, são
29
normalmente encontrados nas crostas outros metais como o titânio, cério e zircônio
(MORAES, 2014).
Para a geologia, um dado importante foi confirmar que a base geológica da
Elevação do Rio Grande, assim como do Rio de Janeiro, é de rocha granítica – um
tipo de rocha que só se forma na superfície – o que é um forte indicativo de que a
Elevação esteve conectada ao continente num passado distante, apesar de hoje
estar separada dele por mais de mil quilômetros de oceano. Diferentemente de
elevações como a do Arquipélago de Fernando de Noronha, por exemplo, que tem
origem vulcânica.
Amostras de rochas da Elevação coletadas pela CPRM por meio de
dragagens no ano passado já mostravam a presença do granito, mas faltava uma
verificação direta para confirmar a descoberta. Essas amostras indicaram a
possibilidade de a ERG ser um continente que afundou a 100 milhões de anos,
quando a América do Sul se separou da África. Para que essa hipótese seja
confirmada serão necessários estudos mais aprofundados. Mas, se for confirmada,
poderá ter implicações em relação à extensão da plataforma continental, com
implicações geopolíticas significativas para o País, como será detalhado neste
trabalho mais adiante.
É importante ressaltar que no Brasil, as ocorrências conhecidas de nódulos
polimetálicos e crostas cobaltíferas foram registradas, em sua maioria quase
absoluta, por navios de pesquisa de instituições estrangeiras.
As Figuras 1 e 2 do Anexo apresentam as áreas marítimas de relevante
interesse mineral para o Brasil já identificadas.
30
6 Em <https://treaties.un.org/pages/ViewDetailsIII.aspx?src=TREATY&mtdsg_no=XXI-6&chapter=21
&Temp=mtdsg3&lang=en>. Acesso em 13 maio 2015.
31
7 O Artigo 237 da CNUDM estabelece a proteção ao meio ambiente marinho e a previsão expressa
de coordenação e compatibilidade com as obrigações. Os Artigos de 207 a 212 da CNUDM conferem
obrigação aos estados adotarem leis e regulamentos para prevenir, controlar e reduzir a poluição do
meio ambiente marinho (ORGANIZAÇÃO, 2010, Art. 237).
33
também por serem as decisões tomadas por mero consenso, em vez do voto
democrático, enfraquecendo o interesse dos países periféricos, muitos dos quais,
hoje, emergentes, traduzindo, na prática, a hegemonia dos países centrais (MEIRA
MATTOS, 2014).
Dois princípios básicos regem a Área: ser ela patrimônio comum da
humanidade (Art. 136 da CNUDM) e o de que o comportamento dos estados deve
pautar-se no interesse da manutenção da paz e da segurança internacionais, assim
como da cooperação e da compreensão mútua (Art.138 da CNUDM).
Os Artigos 141 a 146 da CNUDM reforçam que a utilização da Área será
somente para fins pacíficos e em benefício da humanidade, sendo prevista a
transferência de tecnologia isoladamente ou mediante cooperação dos Estados-
partes, bem como a proteção do meio marinho e da vida humana (ORGANIZAÇÃO,
2010).
Para isso, a Autoridade agirá em nome da humanidade (Art. 153), com
especial atenção aos países em desenvolvimento (Art. 152), mas é inegável a sua
força organizadora, coordenadora e controladora. Isso porque segundo a
Convenção, cabe à Autoridade, exclusivamente, – representando a humanidade –
alienar os minerais extraídos da Área (MEIRA MATTOS, 2014).
8 Grupo internacional que reúne os sete países mais industrializados e desenvolvidos econômica-
mente do mundo - Estados Unidos, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão, Reino Unido. Em
<http://lexicon.ft.com/Term?term=G7-or-Group-of-Seven>. Acesso em 23 ago. 2015.
36
autorizadas pela ISA a explorar determinada região na Área, têm direito de criar
“zonas de segurança” em torno da região, suscitando assim barreiras para o trânsito
de embarcações e dificultando a rota marítima de interesse nacional no Atlântico
Sul. A Figura 6 do Anexo apresenta essas considerações.
importância do continente africano, “[...] por sua posição de base intermediária para
as ações militares entre a América e a Eurásia [...]” (MEIRA MATTOS, 1975, p.75
apud BROZOSKI, 2013, p.45). Hoje, a necessidade de estreitar os laços entre a
América do Sul e a África se torna mais clara, levando-se em consideração a
dimensão que uma ameaça externa pode ter considerando os extraordinários
avanços tecnológicos da indústria bélica.
Após apresentar as questões geopolíticas acima, que conferem a
importância do Atlântico Sul, passa-se a focar na questão dos recursos existentes
na ERG.
Dentre os recursos minerais da Área internacional dos oceanos que
apresentam valor político-estratégico destacam-se, em ordem de prioridade: as
crostas cobaltíferas, os sulfetos polimetálicos, e os nódulos polimetálicos.
As crostas cobaltíferas são apontadas como prioridade 1, por serem
abundantes na área da ERG, região contígua ao limite externo da plataforma
continental e que já vem atraindo o interesse de outros países, para o
desenvolvimento de pesquisas e de futuras explorações. Cabe destacar que a China
e Alemanha vêm implementando pesquisas relacionadas aos recursos minerais e à
biodiversidade associada no Atlântico Sul. Ressalta-se que a autorização da ISA
para a execução do PT de exploração de recursos minerais da ERG garante direitos
exclusivos, impedindo que outros países ou empresas estrangeiras apresentem
documento semelhante.
A escolha de sulfetos polimetálicos como segunda prioridade é a decorrente
do fato de que tais recursos ocorrem associados a organismos de interesse
biotecnológico de alto valor comercial. Portanto, a pesquisa simultânea dos dois
recursos seria mais atrativa para as agências financiadoras. As conclusões
apresentadas estão expostas no Quadro 2 do Anexo (CENTRO, 2013).
As amostras de granito coletadas durante a expedição científica - IATÁ
PIÚNA - na ERG, semelhantes às existentes no Rio de Janeiro, indicam a
possibilidade de a mesma ter sido formada em áreas continentais. Com a
exploração mais detalhada da região e, caso confirmada a hipótese de a ERG ser
um prolongamento natural do território terrestre, uma nova proposta de extensão da
PC jurídica brasileira que incluiria parte da ERG pode ser gerada, pelo critério
restritivo de 100 milhas marítimas da isóbara de 2.500 m (Art. 76 (5) da CNUDM)
(ORGANIZAÇÃO, 2010). A Figura 9 do Anexo apresenta o mapa batimétrico da
50
15
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Telúrio>. Acesso em: 15 out. 2015.
53
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
marinhos foram pontos que só foram aceitos pelas grandes potências com o Acordo
relativo à Implementação da Parte XI da CNUDM. Mostrou-se que esse Acordo
mitigou a questão beneficiando os países centrais, pois reforçou os poderes e papel
da ISA, estabelecendo diretrizes que favorecem os interesses financeiros dos países
mais desenvolvidos e tornando a transferência de tecnologia não mandatória
(ORGANIZAÇÃO, 2010).
Examinou-se então os Códigos de Mineração da ISA e o número de pedidos
de exploração, e observou-se que uma corrida internacional para a requisição de
sítios de exploração mineral na Área pelas melhores regiões está acontecendo. Em
tese, os primeiros pedidos aprovados ocuparão espaços de maior potencial.
Especificamente no Regulamento para Prospecção e Exploração de Crostas
Ferromanganesíferas Ricas em Cobalto, verificou-se os limites da área a ser
explorada, a exclusividade da exploração e o período da concessão.
Estudou-se então as políticas públicas relacionadas com o tema e observou-
se a relevância da coordenação da CIRM e a existência de suporte legal para o
desenvolvimento de pesquisas cientificas no mar, incluindo a significante questão da
formação de recursos humanos e a existência de um Programa específico que apoio
o projeto de prospecção e exploração de recursos minerais na ERG. Da PND
verificou-se que os recursos na PC são Objetivos Nacionais de Defesa. O mesmo
documento orienta que o País deve dispor de meios adequados para a garantia
desse seu patrimônio (BRASIL, 2013). Procurou-se então propor que tipo de
capacidades esses meios devem possuir. Também foi observado que as políticas
públicas evidenciam o interesse brasileiro em expandir sua zona de influência
político-econômica e empreender uma inserção internacional mais ativa. A própria
execução do Plano de Trabalho para a exploração na ERG propiciará ao País
exercer papel destacado nas pesquisas do Atlântico Sul, contribuindo para maior
inclusão brasileira no cenário internacional e fortalecendo a ZOPACAS, uma vez que
o Contrato de Exploração com a ISA assegurará direito exclusivo de exploração por
um período de quinze anos.
Cumpre destacar que, ao buscar projetar-se de forma mais incisiva sobre o
Atlântico Sul, o Brasil estende sua esfera de atuação para fora do âmbito regional e
entra em uma órbita de ação onde a dinâmica do sistema interestatal capitalista é
mais competitiva (BROZOSKI, 2013).
58
REFERÊNCIAS
_____. Resolução nº 6, de 2011, que aprova o VIII Plano Setorial para os Recursos
do Mar (VIII PSRM). Brasília, DF, 2011c. Disponível em: <http://www.mar.mil.br/cirm
/documentos/atas/ata179.pdf>. Acesso em: 29 maio 2015.
MARTINS, Luiz Roberto Silva. Aspectos científicos dos recursos minerais marinhos.
Parcerias Estratégicas, Brasília, n. 24, 2007, Centro de Gestão e Estudos Estraté-
gicos.
MEIRA MATTOS, Carlos. O novo Direito do mar. Rio de Janeiro: ESG, 2001.
_____ .Os novos limites dos espaços marítimos nos trinta anos da Convenção das
Nações Unidas sobre o Direito do Mar. In: BEIRÃO, A.P.; PEREIRA, A.C (orgs.).
Reflexões sobre a Convenção do Direito do Mar. Brasília, DF -: FUNAG, 2014.
_____. Prefácio. In: BEIRÃO, A.P.; PEREIRA, A.C (orgs.). Reflexões sobre a
Convenção do Direito do Mar. Brasília, DF: FUNAG, 2014b.
64
_____. Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Rio de Janeiro:
EGN, 2010. Disponível em: <https://www.egn.mar.mil.br/arquivos/cursos/csup/
CNUDM.pdf>. Acesso em: 29 maio 2015.
TILL, G..Seapower: a guide for the twenty-first century. London: Frank Cass
Publishers, 2004.
VAZ, Alcides C..O Atlântico Sul nas perspectivas estratégicas de Brasil, Argentina e
África do Sul. Boletim de economia e política internacional. Brasília DF, n.6,
abr./jun. 2011, IPEA/Dinte.
GLOSSÁRIO
marinho, cujo topo foi aplainado por ação das ondas em condições de nível do mar
mais baixo. O mesmo que banco oceânico.