Você está na página 1de 67

EDUARDO AUGUSTO WIELAND

A IMPORTÂNCIA DA EXPLORAÇÃO DA ELEVAÇÃO DO


RIO GRANDE PARA OBRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso -


Monografia apresentada ao Departamento de
Estudos da Escola Superior de Guerra como
requisito à obtenção do diploma do Curso de
Altos Estudos de Política e Estratégia.

Orientador: CMG (FN-RM1) José Cimar


Rodrigues Pinto.

Rio de Janeiro
2015
C2015 ESG
Este trabalho, nos termos de legislação
que resguarda os direitos autorais, é
considerado propriedade da ESCOLA
SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É
permitido a transcrição parcial de textos
do trabalho, ou mencioná-los, para
comentários e citações, desde que sem
propósitos comerciais e que seja feita a
referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho
são de responsabilidade do autor e não
expressam qualquer orientação
institucional da ESG.

_________________________________
Eduardo Augusto Wieland

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Wieland, Eduardo Augusto.


A importância da exploração da Elevação do Rio Grande para o
Brasil / CMG Eduardo Augusto Wieland. - Rio de Janeiro: ESG, 2015.

73 f.: il.

Orientador: CMG (FN-RM1) José Cimar Rodrigues Pinto.


Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito
à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e
Estratégia (CAEPE), 2015.

1. Recursos Minerais. 2. CNUDM. 3. Políticas Públicas. 4.


Elevação do Rio Grande. 5. Defesa Nacional. I. Título.
AGRADECIMENTOS

Aos meus professores e mestres de todas as épocas por terem contribuído


na minha formação e no meu aprendizado.
Aos estagiários da melhor Turma do Curso de Altos Estudos de Política e
Estratégia, turma DESTINOS DO BRASIL, pelo convívio fraterno e harmonioso em
todos os momentos.
Ao Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG), e em especial
ao meu Orientador, Capitão de Mar e Guerra (FN-RM1) José Cimar Rodrigues Pinto,
pelos ensinamentos, pela serenidade, respeito e indicações de rumo a seguir, que
me fizeram ter certeza da importância de se estudar o Brasil, com a
responsabilidade implícita de ter que melhorar.
A minha esposa Cláudia e aos meus filhos Leonardo, João Pedro e Bernardo,
pelo amor incondicional, paciência e, especialmente, pela tolerância e compreensão,
oferecendo-me o tempo necessário para que pudesse dedicar-me a este importante
trabalho e às atividades da ESG.
Não basta admirar: é preciso
aprender. O mar é o grande
avisador. Pô-lo Deus a bramir junto
ao nosso sono, para nos pregar que
não durmamos.

Rui Barbosa
RESUMO

Esta monografia aborda a exploração de recursos minerais na Área (região do fundo


marinho, definida pela Convenção das Nações Unidas do Direito do Mar (CNUDM),
como não sujeita à jurisdição de nenhum estado). O objetivo deste estudo é
demonstrar a relevância econômica, política e estratégica para o Brasil na
exploração da Elevação do Rio Grande, uma saliência terrestre submersa, localizada
a aproximadamente 600 milhas náuticas de distância do ponto de terra mais próximo
da costa brasileira. A metodologia adotada comportou uma pesquisa bibliográfica e
documental, a fim de buscar referenciais teóricos, além da experiência do autor
como oficial da Marinha do Brasil. O trabalho ressalta a importância do Mar para o
desenvolvimento humano, por meio da análise de suas características e pontos de
disputa. Apresenta as expedições científicas que exploraram os fundos marinhos,
comprovando que as riquezas minerais existentes nas costas brasileiras já são de
conhecimento detalhado, em sua maioria quase absoluta, por instituições
estrangeiras. Aborda ainda o enquadramento legal que trata da mineração na Área e
os seus pontos polêmicos, que asseguram os interesses de países centrais. Varre
as políticas públicas nacionais relativas ao mar, com foco na Política Nacional de
Defesa. Passa então a detalhar as características da Elevação do Rio Grande e a
analisar o Plano de Trabalho do Brasil para sua exploração. Por fim, conclui que a
mineração oceânica deverá poder contar com a proteção das Forças Armadas, pois
os oceanos constituem as últimas fronteiras políticas, estratégicas e econômicas do
planeta, assunto, portanto, de interesse para a Defesa Nacional.
Palavras chave: Recursos Minerais. CNUDM. Políticas Públicas. Elevação do Rio
Grande. Defesa Nacional.
ABSTRACT

This monograph addresses the mineral resources exploration in the Area (the
seabed region defined by the United Nations Convention of the Law of the Sea
(UNCLOS) as not subject to the jurisdiction of any State). The aim of this paper is to
demonstrate the economic, political and strategic relevance for Brazil in the
exploration of the Rio Grande Rise, a submerged ledge land, located approximately
600 nautical miles off the closest shore, on the Brazilian coast. The methodology
involved a literature review and documentary, in order to seek theoretical
frameworks, as well as the author's experience as a Brazilian Navy officer. The study
emphasizes the importance of the sea for human development by analyzing their
attributes and points of dispute. It presents the scientific expeditions that explored the
seabed, showing that existing mineral wealth in Brazilian waters are already detailed
knowledge in almost absolute majority, by foreign entities. It also discusses the legal
framework that deals with mining in the area and its controversial aspects, which
ensure the interests of the core countries. It scans in national public policies relating
to the sea, focusing on National Defense Policy. Then goes on to detail the
characteristics of the Rio Grande Rise and to analyze the Brazilian Work Plan for
their exploitation. Finally, concludes that ocean mining should be able to rely on the
Armed Forces protection, because the oceans are the world latest political, strategic
and economic border, therefore National Defense subject.
Keywords: Mineral Resources. UNCLOS. Public Policies. Rio Grande Rise. National
Defense.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Áreas de relevante interesse mineral ...............................................67

FIGURA 2 Recursos Minerais no leito marinho .................................................68

FIGURA 3 Limites Marítimos .............................................................................68

FIGURA 4 Os espaços marítimos .....................................................................69

QUADRO 1 Pedidos de prospecção na Área junto à ISA ....................................69

FIGURA 5 A Amazônia Azul ..............................................................................70

FIGURA 6 Superposição das linhas de comunicação marítimas com regiões de


riquezas minerais .............................................................................70

FIGURA 7 Região da Elevação do Rio Grande a ser explorada .......................71

FIGURA 8 O Atlântico Sul .................................................................................71

QUADRO 2 Minerais de valor político-estratégico ...............................................72

FIGURA 9 Mapa batimétrico da Plataforma Continental brasileira ....................72


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Importância dos recursos minerais não vivos ........................................... 73


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AJB Águas jurisdicionais brasileiras


CECO Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica
CHM Centro de Hidrografia da Marinha
CIRM Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
CLPC Comissão de Limites da Plataforma Continental
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CNUDM Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
CNUMAD Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento
CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
CF/88 Constituição Federal de 1988
DHN Diretoria de Hidrografia e Navegação
DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral
ERG Elevação do Rio Grande
EUA Estados Unidos da América
G7 Grupo que reúne os sete países mais industrializados e
desenvolvidos economicamente do mundo
IFREMER Instituto Francês de Pesquisa para a Exploração do Mar –Institut
Français de Research pour l’Exploitation de la Mer
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
IEAPM Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira
ISA Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos – International
Seabed Authority
JAMSTEC Agência Japonesa de Ciências do Mar e da Terra – Japan Agency
for Marine-Earth Science and Technology
LEPLAC Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MB Marinha do Brasil
MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
MD Ministério da Defesa
MEC Ministério da Educação
MMA Ministério do Meio Ambiente
MME Ministério de Minas e Energia
MPA Ministério da Pesca e Aquicultura
MRE Ministério das Relações Exteriores
MT Mar territorial
ONU Organização das Nações Unidas
PC Plataforma continental
PGGM Programa de Geologia e Geofísica Marinha
PT Plano de trabalho
PMN Política Marítima Nacional
PND Política Nacional de Defesa
PNRM Política Nacional para os Recursos do Mar
PROAREA Programa de Prospecção e Exploração de Recursos Minerais da
Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial
PROERG Projeto de Prospecção e Exploração de Crostas Cobaltíferas da
Elevação do Rio Grande
PSRM Plano Setorial para os Recursos do Mar
REMAC Reconhecimento Global da Margem Continental Brasileira
REMPLAC Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma
Continental Jurídica Brasileira
SECIRM Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
VIP Veículo de imersão profunda
VOR Veículo de operação remota
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura
ZEE Zona Econômica Exclusiva
ZOPACAS Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................
12
2 AS BASES TEÓRICAS PARA A RELEVÂNCIA DO MAR .....................................
15
2.1 AS CARACTERÍSTICAS DO MAR ...........................................................................
15
2.1.1 O Mar como Fonte de Riquezas ............................................................................
15
2.1.1.1 Recursos Não Vivos .................................................................................................
16
2.1.1.2 Recursos Vivos.........................................................................................................
17
2.1.2 O Mar como Meio para Transporte e de Intercâmbio ..........................................
18
2.1.3 O Mar como Meio para Obter e Trocar Informação e
Conhecimento.........................................................................................................
19
2.1.4 O Mar como Área de Domínio / Meio Para Dominação .......................................
20
2.1.5 O Mar como Meio Ambiente ..................................................................................
21
2.2 DISPUTAS MARÍTIMAS – FONTES DE CONFLITOS OCEÂNICOS ......................
22
3 AS EXPEDIÇÕES CIENTÍFICAS .............................................................................
24
3.1 AS PESQUISAS EXPLORATÓRIAS NAS COSTAS BRASILEIRAS .......................
25
4 MARCOS LEGAIS E AS POLÍTICAS NACIONAIS. ................................................
30
4.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ...................................................................
31
4.2 A CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO
MAR..........................................................................................................................
31
4.3 A LEI No 8.617/1993 .................................................................................................
34
4.4 O ACORDO RELATIVO À IMPLEMENTAÇÃO DA PARTE XI DA
CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO
MAR..........................................................................................................................
35
4.5 A AGENDA 21, ADOTADA NA CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES
UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
(CNUMAD) ...............................................................................................................
36
4.6 OS CÓDIGOS DE MINERAÇÃO DA AUTORIDADE
INTERNACIONAL DOS FUNDOS MARINHOS .......................................................
36
4.7 A COMISSÃO INTERMINISTERIAL PARA OS RECURSOS DO
MAR..........................................................................................................................
38
4.8 A POLÍTICA MARÍTIMA NACIONAL ........................................................................
38
4.9 A POLÍTICA NACIONAL PARA OS RECURSOS DO MAR ....................................
38
4.10 O PLANO SETORIAL PARA OS RECURSOS DO MAR .........................................
39
4.10.1 O Programa de Prospecção e Exploração de Recursos Minerais
da Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial ...........................................
40
4.11 A POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA......................................................................
41
5 A ELEVAÇÃO DO RIO GRANDE E O PLANO DE TRABALHO
BRASILEIRO PARA A EXPLORAÇÃO MINERAL..................................................
43
5.1 A ELEVAÇÃO DO RIO GRANDE .............................................................................
43
5.2 O PLANO DE TRABALHO PARA A EXPLORAÇÃO MINERAL ..............................
44
6 A IMPORTÂNCIA DA EXPLORAÇÃO DA ELEVAÇÃO DO RIO
GRANDE PARA O BRASIL. ....................................................................................
47
6.1 ASPECTOS GEOPOLÍTICOS E ESTRATÉGICOS ..................................................
47
6.2 ASPECTOS ECONÔMICOS ....................................................................................
50
6.3 ASPECTOS CIENTÍFICO-TECNOLÓGICOS ...........................................................
53
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS. ....................................................................................
56
REFERÊNCIAS ........................................................................................................60
GLOSSÁRIO ............................................................................................................65
ANEXO – ILUSTRAÇÕES E TABELA ELUCIDATIVAS .........................................67
12

1 INTRODUÇÃO

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM)


completou, em 2014, vinte anos de sua entrada em vigor. Mais de 150 países já a
ratificaram e seus preceitos vêm se consolidando a cada dia. Um dos pontos que,
inicialmente, países desenvolvidos colocaram óbices para a ratificação é a
exploração do leito marinho e o seu subsolo em alto-mar, denominado Área, região
não sujeita à jurisdição de nenhum estado. As normas para esse caso estão
contidas na Parte XI da CNUDM (ORGANIZAÇÃO, 2010). A exploração dos fundos
marinhos contempla duas fontes de conflito: a transferência de tecnologias
empregadas na mineração e a partição dos resultados com “[...] toda a humanidade
[...]” (MORE, 2012b).
Durante muito tempo, cientistas mais descrentes afirmavam que a mineração
em mar profundo seria um sonho equivalente a explorar riquezas na Lua. A partir de
2010 e 2012, com a aprovação dos Códigos que regulamentam a exploração de
sulfetos e de crostas cobaltíferas, respectivamente, pela Autoridade Internacional
dos Fundos Marinhos (ISA) (INTERNATIONAL, 2012), observou-se um aumento
considerável ao número de propostas para exploração de recursos minerais. Ao
mesmo tempo, com o aumento do preço das commodities e o aparecimento de
novas tecnologias de exploração do fundo do mar em altas profundidades,
acrescidos das ferramentas originalmente desenvolvidas para a exploração de
petróleo e gás a partir de plataformas em alto-mar, verdadeira “corrida do ouro” vem
acontecendo por parte das grandes potências como a Alemanha, China, França,
Rússia e Coréia do Sul com vistas à pesquisa e a exploração desses recursos
(MORE, 2012a).
Com base nos levantamentos e coletas de amostras de crostas cobaltíferas
na Elevação do Rio Grande (ERG), concluídas em 2012 e confirmadas em maio de
2013, uma proposta de Plano de trabalho (PT) para a exploração da região foi
elaborada, no âmbito do Ministério de Minas e Energia (MME).
A ERG está situada a cerca de 600 milhas náuticas de distância do ponto de
terra mais próximo, na costa brasileira, portanto na Área. Em outubro de 2013, por
meio de amplo debate e análise no Comitê do Programa de Prospecção e
Exploração de Recursos Minerais da Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial
(PROAREA), a proposta foi aprovada, no âmbito nacional e sob enfoque técnico,
13

pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM). Ao final deste


mesmo ano, esse PT foi apresentado à ISA, em Kingston, na Jamaica, após a
autorização da Presidente da República, com a assinatura dos Ministros de Estado
da Casa Civil; Ciência, Tecnologia e Inovação; da Defesa; das Minas e Energia e
das Relações Exteriores.
Em julho de 2014, o Plano de Trabalho para a exploração de crostas
Ferromanganesíferas Ricas em Cobalto na Elevação do Rio Grande foi aprovado em
Conselho da ISA. Esse Plano irá assegurar o direito exclusivo de exploração da área
requisitada (cerca de 3.000 km2), por pelo menos quinze anos, ampliando o espaço
do País como “ator” no cenário político-estratégico do Atlântico Sul
(INTERNATIONAL, 2012).
Assim, este trabalho tem o propósito de identificar as repercussões
econômica, geopolítica e estratégica para o Brasil na exploração dos recursos
minerais da ERG, a partir dos procedimentos que vêm sendo adotados, nos últimos
dez anos.
Para dar consecução ao trabalho, a abordagem metodológica pretende,
inicialmente, basear-se em renomados estudiosos do Mar, onde serão apontadas as
qualidades que conferem ao mesmo importância capital para o desenvolvimento
humano. Essas características são fontes de disputas e conflitos, portanto de
necessário conhecimento da Defesa Nacional.
Em continuação, a partir de um levantamento histórico de expedições
científicas, serão iluminados os indícios que concedem à região estudada
característica de possuir as riquezas minerais que fazem com que exista atratividade
na sua exploração. Será levantado junto à CIRM e instituições de pesquisa, o
histórico das expedições ao fundo do mar/leito marinho no Brasil, com ênfase na
ERG. Serão apontadas as descobertas (fatos públicos) das expedições e suas
implicações, abordando a questão da possibilidade de ampliação da plataforma
continental brasileira.
Em seguida, serão descritos os marcos legais que definem e regulamentam
a exploração econômica e científica na Área e na Plataforma Continental. Será
verificado o relacionamento do tema com as políticas públicas brasileiras (Política
Nacional de Defesa, Política Marítima Nacional e Política Nacional para os Recursos
do Mar).
14

A partir das questões marítimas do Atlântico Sul de geopolíticos renomados


e de estudiosos, será feita uma investigação mais detalhada, com foco específico na
ERG, seus aspectos geográficos, sua localização em relação a pontos de interesse
em termos estratégicos, levando em consideração os documentos condicionantes
acima descritos.
Será então estudado o Plano de Trabalho que foi aprovado pela ISA, os
seus desdobramentos e as necessidades (recursos financeiros, humanos, científico
tecnológicos) para sua implementação, abordando o que existe disponível no Brasil
e especificamente na Marinha do Brasil, para apoiar o projeto.
Serão então dissecadas as implicações da exploração da ERG pelo Brasil,
no contexto de Segurança e Defesa, sob os aspectos geopolíticos, econômicos,
científico tecnológicos e ambientais.
Finalmente, serão apresentadas as principais conclusões que demonstram a
importância da exploração dos recursos da ERG para o Brasil.
15

2 AS BASES TEÓRICAS PARA A RELEVÂNCIA DO MAR

Vocês sabem que todas as minhas fortunas estão no mar.


William Shakespeare

Para melhor entender o que está em jogo com a exploração de recursos


minerais no Mar, é preciso entender o que ele representa para a humanidade. A
declaração do personagem da Peça - O mercador de Veneza - em uma época em
que os oceanos permitiam apenas o transporte marítimo e a exploração de recursos
vivos (pesca), poderia até parecer exagero. Mas hoje, a contribuição do Mar para o
desenvolvimento humano é inegável. Cerca de 70% do globo terrestre é coberto por
água. Esse meio, ao mesmo tempo tão importante para nossa sobrevivência e
inóspito para nossa vida, apresenta características que o distinguem. Geoffrey Till
analisou o Mar pelas suas características, como a seguir apresentadas, de uma
maneira bem resumida (TILL, 2004).

2.1 AS CARACTERÍSTICAS DO MAR

O Mar, desde a antiguidade, tem auxiliado no desenvolvimento humano.


Essa contribuição pode ser resumida nas principais características ou maneiras com
as quais o Mar tem sido explorado. Cada característica está intimamente ligada às
outras e estão permanentemente produzindo movimentos de cooperação e conflito
entre as nações.
Porém, inúmeros riscos e ameaças inerentes a cada qualidade contagiam e
prejudicam esse desenvolvimento. Apesar de não discorrer sobre todos os riscos e
ameaças a todas as características, será dada ênfase na questão da exploração de
recursos não vivos do mar, caso específico do estudo.

2.1.1 O Mar Como Fonte de Riquezas

Segundo (TILL, 2004), o Mar tem sido uma generosa fonte de todas as
formas de riquezas, recursos vivos e não vivos, e um maior contribuinte para o
desenvolvimento humano. As marinhas e outras agências marítimas têm se visto
16

crescentemente envolvidas na defesa do aproveitamento do mar, e tudo sugere que


esta responsabilidade irá se expandir no futuro.

2.1.1.1 Recursos Não Vivos

Importantes recursos minerais de interesse econômico podem ser


encontrados nos oceanos. Alguns são encontrados sobre o fundo marinho, outros
abaixo do fundo, nas camadas sedimentares adjacentes às margens continentais ou
mesmo em regiões distantes das margens dos continentes.
A própria água do mar é um bem mineral e uma fonte sustentável de
elementos economicamente importantes como o cloro, o sódio e o potássio. Em
muitos países ela constitui a principal fonte de sal para o consumo humano, como é
o caso do Brasil.
Entre os principais recursos metálicos que ocorrem no fundo marinho estão
os nódulos e as crostas polimetálicas, ricas em ferro e manganês e cobalto, e os
depósitos hidrotermais, ricos em sulfetos de ferro, cobre, zinco e óxidos de silicatos
de ferro e manganês.
Os nódulos polimetálicos são concreções de óxidos de ferro e manganês,
presentes na superfície do piso marinho, com significativas quantidades de outros
elementos metálicos, economicamente importantes como o níquel, cobre e cobalto.
As taxas de crescimento dos nódulos são muito baixas, da ordem de apenas 1 a 4
milímetros por milhões de anos. Conhecidos desde o século XIX, sua exploração até
pouco tempo atrás ainda era considerada economicamente inviável. No entanto, a
exemplo do mineral mais explorado nos oceanos, o petróleo, que aplica a mais
sofisticada tecnologia e apresenta os mais altos custos da indústria extrativista de
bens minerais do mundo, a exploração dos nódulos polimetálicos está se
viabilizando.
No Atlântico Sul ocorrem acumulações importantes na bacia oceânica da
Argentina e na região oeste da Elevação de Rio Grande, ao largo do estado de
Santa Catarina, como será visto adiante.
No Mar também se encontram grandes reservas de petróleo e gás. Estima-
se que a existência do petróleo em águas profundas corresponda a 12% do total de
17

reservas do hidrocarboneto do mundo1. À medida que as reservas em terra vão se


esgotando, o interesse comercial na explotação das reservas marítimas é crescente.
Além disso, novas tecnologias estão surgindo e o preço do barril do petróleo
tornando economicamente viável e atrativa a explotação em águas cada vez mais
profundas, já alcançando mais de 3.000 metros na atualidade. A PETROBRAS é
detentora dos recordes mundiais de exploração em poços com lâmina d´água mais
profunda, com poços produtores com lâminas d’água superiores a 2.000 metros e
poços exploratórios em profundidades maiores que 3.000 metros (CENTRO, 2013).
Outro mineral abundante em ambiente submarino nas margens continentais,
com potencial de ser empregado como fonte de energia, é o hidrato de gás. Na
margem continental brasileira2 o hidrato de gás aparece em pelo menos duas
grandes áreas, na bacia de Pelotas e na bacia da foz do rio Amazonas (CLENNELL,
2000). Em ambas, os hidratos ocorrem em talude e elevação continentais, em áreas
de elevadas taxas de sedimentação.
A exploração de hidratos de gás ainda demanda desenvolvimento de
tecnologia adequada. No entanto, o metano é considerado um combustível mais
eficiente e menos poluente do que quaisquer outros hidrocarbonetos, não
produzindo partículas ou compostos de enxofre.
Areia quartzosa e cascalho, utilizados principalmente para a construção civil
e como fonte de reconstrução de praia erodidas, são encontrados em abundância no
litoral sul brasileiro (CENTRO, 2013).
Minerais bioclásticos, ricos em carbonato de cálcio, usado na agricultura, na
produção de filtros para água, na indústria de cosméticos, em suplementos
alimentares e implantes ósseos, são abundantes em extensas áreas ao longo da
plataforma continental, entre o Rio Pará e o Cabo Frio (CENTRO, 2013).
A fosforita, de emprego amplo como fertilizante e fonte de fósforo na
indústria química, tem sido encontrada e estudada na plataforma continental, na
região de declive em direção às áreas mais profundas do oceano, nas costas dos
estados do Ceará e do Rio Grande do Sul (CENTRO, 2013).

1 Disponível em: <http://www.total.com/en/energies-expertise/oil-gas/exploration-production/strategic-


sectors/deep-offshore/challenges/deep-offshore-billions-barrels>. Acesso em: 07 out. 2015.
2 Conjunto formado pela plataforma, talude e o sopé continental, podendo, essas margens, serem
passivas ou ativas. (IBGE, 2011)
18

2.1.1.2 Recursos Vivos

A pesca comercial mundial mais que quadruplicou, desde 1950. A demanda


por peixe comestível, com o crescimento populacional, está tendendo a crescer para
mais de 115 milhões de toneladas em 2020, muito superior aos conhecidos 80
milhões de toneladas de 2005 (TILL, 2004).
A pesca no Brasil, ao longo da história, tem ocorrido de forma desordenada
e mal planejada, estando “focada”, quase que exclusivamente, sobre os recursos
costeiros. Apesar do seu extenso litoral, em razão de características oceanográficas,
o Brasil tem participado, em anos recentes, com pouco mais de 0,5% do total
produzido no mundo pela pesca marítima, com uma produção, em 2007, próxima a
540 mil toneladas. A despeito dessa reduzida participação, a atividade pesqueira
nacional possui, da mesma forma que na escala global, uma grande importância
social, respondendo pelo emprego direto de cerca de 800 mil pescadores (CENTRO,
2013).

2.1.2 O Mar como Meio para Transporte e de Intercâmbio

Essa característica relaciona o Mar com o complexo sistema marítimo,


baseado no comércio internacional (TILL, 2004). O valor do Mar como meio para
transporte é um tópico particularmente complicado e de amplo espectro. Devido a
todos países se beneficiarem de uma maneira maior ou menor do fluxo livre do
comércio marítimo, a segurança global e prosperidade permanece indubitavelmente
dependente dele. O comércio marítimo provavelmente se expandirá
consideravelmente nos próximos 30 anos, possivelmente triplicando de fato. No
Brasil, cerca de 95% do comércio exterior é feito por via marítima. Em 2014,
envolveu valores da ordem de US$ 431 bilhões entre exportações e importações
(MOURA NETO, 2014a).
Além do fluxo de mercadorias, os movimentos de pessoas em larga escala
de uma área para outra sempre foram parte do processo do desenvolvimento
humano e é fato quase inevitável num futuro que se vislumbre. Dentro de certos
limites, em locais com populações envelhecidas como a Europa Ocidental, pode
prover equilíbrio social contribuindo para a estabilização econômica.
19

Entretanto, o crescimento na taxa de imigração especialmente das áreas


devastadas por conflitos, da falha social em enfrentar o crescimento da população
ou de desastre natural, alcançou nível que muitos dos países receptores consideram
como insustentável. Limites e qualificações para aceitar pessoas como migrantes
econômicos ou refugiados são então impostos e aqueles que não satisfazem os
requisitos são deportados.
Pessoas desesperadas acabam sendo vítimas de gangues criminosas que
ilegalmente transportam-nas em troca de elevadas quantias, em um verdadeiro
comércio humano. Os migrantes ilegais são frequentemente transportados em
embarcações em mau estado, sem condições mínimas de segurança e acabam
muitas vezes morrendo afogados quando seus barcos naufragam. Uma vez
inseridos na comunidade que os recebe, ainda ficam vulneráveis à exploração
econômica e social, sendo presas fáceis para a prostituição e mão de obra,
aparentemente escrava. Em casos extremos eles próprios podem se tornar uma
ameaça involuntária à ordem, no seu novo meio ambiente.
O Mar ainda pode ser meio para a difusão de enfermidades contagiosas e
mortais. Foi assim na Europa, quando a peste negra se alastrou, propagada pelos
ratos que existiam nos navios. Foi assim também quando os europeus migraram
para a América e trouxeram doenças, provocando a devastação de populações
locais. A peste bubônica, no início do Séc. XX se propagou com a ajuda do
transporte marítimo (TILL, 2004).

2.1.3 O Mar como Meio para Obter e Trocar Informação e Conhecimento

Embora esta característica tenha perdido valor com a chegada da Internet, o


mar permanece uma fonte altamente importante de conhecimento sobre o planeta
em que vivemos e sobre a história da humanidade.
O Mar também está associado com o fluxo de informação e conhecimento,
muitas vezes consciente e deliberado. Era pelo Mar que até há cerca de 100 anos
atrás correspondências eram enviadas. Foi pelo Mar que o conhecimento e mudas
para novos cultivos foram disseminados, como o do tabaco, da banana e do café. A
expansão do cristianismo e do islamismo ao redor do Oceano Índico também se
deveu ao Mar (TILL, 2004).
20

A biotecnologia marinha é um campo em desenvolvimento, e como os


australianos já apontaram, a diversidade da biotecnologia marinha é muito maior que
a equivalente terrestre (TILL, 2004). Ela representa uma vasta, relativamente não
explorada fonte de potenciais novos materiais, componentes e organismos. A
necessidade de proteger esta fonte incalculável de conhecimentos futuros dos
presentes danos desconhecidos reforça a teoria na direção de mais regulação e
proteção ambiental.
A pesquisa oceanográfica pode ser crucial para o futuro da humanidade,
para que possa explorar os benefícios marinhos de maneira sustentável. O solo
oceânico, por exemplo, é fruto de atividades vulcânicas, muitas delas violentas e
contínuas. Explorar a tremenda energia a ser encontrada nestas câmaras de magma
vulcânicas e os ricos minerais que elas produzem em orifícios submarinos poderá
ser a chave para a sobrevivência global nas gerações por vir.
Ao mesmo tempo que o Mar parece provar ser crucial para o nosso futuro,
ele também contribui para a compreensão do passado.
As descobertas, no Mar Tirreno, de verdadeiras relíquias, devido aos
avanços da tecnologia de exploração nas águas profundas, como navios romanos
perdidos no caminho para Cartago, o Titanic no Oceano Atlântico e o USS Yorktown
no Oceano Pacífico fazem com que exista uma aceitação crescente que o Mar deva
ser visto como um repositório da herança marítima da humanidade, pois preserva a
história de uma maneira que a terra não o faz.

2.1.4 O Mar como Área de Domínio / Meio para Dominação

A construção de fortalezas e castelos à beira-mar demonstra a preocupação


das antigas civilizações com a defesa de invasores vindos do Mar, que chegavam e
dominavam as riquezas e assuntos de outras. As invasões vikings à Grã-Bretanha e
a apropriação de riquezas pode servir de exemplo. A formação de verdadeiros
impérios baseados no domínio do Mar, como os portugueses e os holandeses, além
dos ingleses, são outros. A questão de como garantir as riquezas marítimas e
mesmo as terrestres passa a ser assunto do Estado.
Como já relatado anteriormente, os benefícios que o Mar tem a oferecer
correlacionados com as suas características mostram os quão importantes as
questões jurisdicionais podem ser. Esses benefícios têm sido vistos como de
21

crescente importância (não apenas como uma contribuição para a política, economia
e poder militar ao país), e por isso mais e mais atenção tem sido dada ao Mar como
uma área sobre o qual a jurisdição deva ser exigida e exercida. A noção de que
partes do mar “pertencem” a certas partes da massa terrestre não é em si nova. Em
1494, no Tratado de Tordesilhas, o Papa dividiu o mundo entre Espanha e Portugal.
Essa ideia de que o Mar possa ter propriedade, da mesma maneira que a terra, está
por trás da tradição do “mar fechado” advogada pelo jurista John Selden 3, do Século
XVII (PEREIRA, 2014).
Soberania, normalmente, significa ter absoluta e independente autoridade
sobre uma parte de território, e soberania marítima simplesmente estende este
conceito ao Mar. Com efeito, uma área do oceano diz respeito a uma parte do
território do estado. Para ser aceita por outros, a soberania precisa ser reivindicada,
exercida e, se for o caso, defendida. Assim, países estão crescentemente
preocupados em exercer, e em muitos casos estender, sua jurisdição sobre o Mar
(TILL, 2004). A adoção da CNUDM fornece a moldura dentro da qual isto está sendo
feito e será assunto a ser abordado no Capítulo 4.

2.1.5 O Mar como Meio Ambiente

Geoffrey Till adiciona às quatro características do Mar4 uma quinta, o meio


ambiente marinho.
Pesquisas indicam que a vida do nosso planeta começou na água e ainda é
largamente regulada por ela (TILL, 2004). As correntes oceânicas ajudam a regrar
nosso clima. O Mar reduz e mascara o efeito do aquecimento global devido à sua
imensa inércia termal e sua habilidade de absorver carbono da atmosfera. O nível do
mar, recifes de coral e estoques de peixe agem como um indicador da saúde
fisiológica do planeta como um todo. O oceano profundo, em particular, deve provar
ser crucial em entender nosso passado e assegurar nosso futuro. E ainda há muito
desconhecido na maneira sobre a qual os sistemas oceânicos funcionam realmente.

3 Em Mare Clausum sive domínio maris, 1635 (PEREIRA, 2014).


4 O Mar Como Fonte de Riqueza, O Mar Como Meio de Transporte e de Intercâmbio, O Mar Como
Meio para Obter e Trocar Informação e Conhecimento e O Mar Como Área de Domínio / Meio Para
Dominação (TILL, 2004).
22

Aproximadamente dois terços da população mundial vivem na faixa de 100


km da costa, e a pressão que isso impõe ao frágil meio ambiente do oceano é
grande e tende a piorar, quando o total da população dobrar ao fim das próximas
gerações.
Na realidade, pelo mundo, o ambientalismo saiu da periferia do debate e
está se tornando rapidamente uma parte da tendência atual da política. A CNUDM
prevê um conjunto de princípios para a proteção do meio ambiente marinho
(ORGANIZAÇÃO, 2010).
Existe ampla concordância sobre as causas do problema – a mudança de
rumo passa pelo apetite da humanidade pelos recursos do Mar, pela poluição
oriunda de terra de cada tipo e os choques do uso competitivo dos oceanos.

2.2 DISPUTAS MARÍTIMAS – FONTES DE CONFLITOS OCEÂNICOS

As disputas marítimas, historicamente, são fatos comuns. Elas se originam


de uma série de fatores: leis internacionais ambíguas; a escassez de recursos vivos;
o aumento da exploração de recursos não vivos; e circunstâncias que naturalmente
surgem da “tragédia dos comuns”5 (NYMAN, 2013).
A CNUDM busca contribuir para a pacificação dessas disputas. Mas mesmo
após a CNUDM, na prática, muitas questões difíceis, incluindo a demarcação de
linhas limites e a partir de onde elas devem ser medidas, e como os estados podem
atingir os compromissos quando discordâncias de medidas ocorrem, são resolvidas
conjuntamente pelos estados (ORGANIZAÇÃO, 2010).
Nos próximos anos, conflitos marítimos internacionais deverão resultar de
uma das seguintes fontes: a competição por recursos naturais, como peixes; procura
por recursos não vivos, como o petróleo; alterações no uso dos oceanos devido à
mudança climática; incremento da poluição; e a incerteza sobre a soberania em ilhas
desabitadas ou rochedos (NYMAN, 2013).
Considerando o tema abordado neste trabalho, a seguir será focado na
questão das disputas por recursos naturais.
Um primeiro ponto em que a exploração dos recursos naturais não vivos o
torna evidente como disputa é a questão dos limites marítimos. Os estados têm

5 Tipo de armadilha social, frequentemente econômica, que envolve um conflito de interesses


individuais e o bem comum no uso de recursos finitos (NYMAN, 2013).
23

buscado ampliar sua plataforma continental para até 350 milhas marítimas, de
maneira a ganhar controle das reservas conhecidas ou suspeitas. Ainda,
aproveitando-se que muitos estados ainda estão por definir suas fronteiras
marítimas, alguns procuram um aumento de seus limites.
Existe ainda a controvérsia na CNUDM, desde a época de sua negociação
até os dias de hoje, centrada na mineração no fundo do mar na Área
(ORGANIZAÇÃO, 2010). Embora a mineração no fundo do mar não fosse rentável
por ocasião da negociação da Convenção, indivíduos, empresas e estados
acreditaram que se tornaria no futuro, e então quiseram preservar suas
possibilidades de explorar e lucrar com esses recursos. Estados mais ricos quiseram
impor sistema de livre acesso para todos, em uma espécie de “quem chega primeiro
ganha”. Estados mais pobres temiam que os minerais iriam esgotar antes que eles
desenvolvessem a tecnologia necessária que os capacitaria a explorar os fundos
marinhos (NYMAN, 2013).
O Brasil participa ativamente das disputas supramencionadas, como será
visto a seguir.
24

3 AS EXPEDIÇÕES CIENTÍFICAS

É pelo conhecimento geológico de uma região que se pode avaliar seu


potencial mineral. A origem, a formação e as sucessivas transformações de uma
área do globo terrestre irão indicar os recursos minerais existentes no local, no que
diz respeito à sua natureza, ao seu volume e a sua distribuição.
Os fundamentos da Oceanografia remontam à criação do U.S Coast Survey,
em 1807, por Thomas Jefferson. Hoje conhecido como National Ocean Survey, é
encarregado de promover levantamentos hidrográficos e geodésicos, estudos das
marés e preparação de cartas temáticas (CENTRO, 2013).
O naturalista Charles Darwin durante a expedição do navio HMS Beagle,
entre 1831 e 1836, trouxe enorme contribuição ao conhecimento biológico e
geológico dos oceanos. De suas observações, Darwin formulou teoria sobre a
origem dos bancos de corais e levantou informações importantes sobre as ilhas
vulcânicas marinhas (CENTRO, 2013).
A partir de 1842, a Marinha norte-americana começou a expandir suas
operações oceanográficas, estabelecendo cooperação internacional em coleta e
troca de informações meteorológicas e hidrológicas do mar, trazendo grande avanço
ao conhecimento (CENTRO, 2013).
Visando o lançamento de cabos telegráficos submarinos pelo Oceano
Atlântico, as expedições dos navios ingleses Lightning, em 1868, e Porcupine, em
1869, aumentaram o conhecimento sobre a Oceanografia Física e Biológica. Mas foi
a expedição do navio Challenger que, entre 1872 e 1876, maior contribuição
ofereceu, ao percorrer 68.890 milhas náuticas, estabelecendo 350 estações em
todos os oceanos (exceto no Ártico), com o objetivo de determinar as condições do –
“Mar Profundo” - nas grandes bacias oceânicas (CENTRO, 2013).
Foi a partir dos anos 1920 que a Geologia marinha passou a se desenvolver
mais consistentemente, quando se passou a considerar a interdependência dos
estudos geológicos com os estudos, climáticos, oceânicos e atmosféricos.
Aproveitando-se de inovações tecnológicas e conhecimentos científicos dos
principais países envolvidos na Segunda Guerra Mundial, a Geologia e Geofísica
ganharam impulso e o estudo dos fundos marinhos tornou-se estratégico não só do
25

ponto de vista político, como pelos recursos neles contidos, tanto vivos como não
vivos (minérios).
Assim, impulsionados por interesses econômicos, centros universitários de
pesquisas, especialmente dos Estados Unidos da América (EUA), realizaram
inúmeros levantamentos geológicos e geofísicos dos oceanos. Também a Inglaterra,
a Rússia, a França, a Alemanha e o Japão passaram a investir nesses estudos,
organizando expedições para conhecer mais corretamente a geologia dos oceanos e
seus recursos minerais. Esses países promoveram a realização do Ano Geofísico
Internacional (1957/58). Em meados da década de 1960, as indústrias de mineração
passaram a se interessar pela exploração dos recursos minerais dos fundos
marinhos, iniciaram a prospecção e passaram a estudar os sistemas de explotação e
tratamento metalúrgico de nódulos polimetálicos (SOUZA et al., 2007).
Apenas no final da década de 1960, o Brasil iniciou estudos em Geologia
marinha, portanto, pelo menos dez (10) anos após as nações mais desenvolvidas,
apesar da Marinha brasileira já ter promovido pesquisas oceanográficas
anteriormente (inclusive em conjunto com outros países, como a Argentina e o
Uruguai) (CENTRO, 2013).

3.1 AS PESQUISAS EXPLORATÓRIAS NAS COSTAS BRASILEIRAS

Desde o século XIX, o litoral brasileiro vem sendo visitado com propósito de
pesquisas exploratórias. Em 1873, ficou famosa a expedição do HMS Challenger,
que coletou e analisou sedimentos do fundo da margem continental brasileira,
especificamente no Nordeste. Posteriormente, entre 1925 e 1927, o Navio
Oceanográfico Meteor colheu mais amostras.
Em 1958, começou a funcionar o Instituto de Biologia Marítima e
Oceanografia, da Universidade do Recife que, com a contribuição da Diretoria de
Hidrografia e Navegação (DHN) da Marinha do Brasil (MB) e com a Divisão de
Recursos Pesqueiros da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(DRP/SUDENE), proporcionou inegável incremento do conhecimento sobre
sedimentos superficiais da plataforma continental brasileira. Já em 1959, foram
publicados resultados das primeiras missões, um estudo sobre a distribuição dos
sedimentos na desembocadura do Rio Amazonas. Em 1967, estudos sobre a
distribuição e natureza dos sedimentos da plataforma sul brasileira. Com o apoio do
26

Navio Oceanográfico Almirante Saldanha, da MB, o primeiro mapa da distribuição


dos sedimentos da plataforma continental entre Recife e o Cabo Orange foi
produzido.
O maior impulso no desenvolvimento dos estudos marinhos no Brasil
decorreu da criação do Programa de Geologia e Geofísica Marinha (PGGM) pela
DHN, em 1969, e iniciado, no mesmo ano, com a primeira operação GEOMAR,
reunindo várias Universidades (Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São
Paulo e Rio Grande do Sul) e outras entidades, como: Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), PETROBRÁS, Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM), Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais (CPRM). Os resultados das primeiras Operações GEOMAR foram
apresentados por ocasião do XXVI Congresso Brasileiro de Geologia, realizado em
Belém, em 1972. Até a presente data, foram realizadas 25 Operações GEOMAR e
coletadas cerca de 3.100 amostras (CENTRO, 2013).
Outro grande programa, incluindo estudos de geologia e geofísica marinha,
veio com a criação do Projeto de Reconhecimento Global da Margem Continental
Brasileira (REMAC), em 1972, envolvendo a PETROBRÁS, DNPM, CPRM, DHN,
CNPq, Woods Hole Oceanographic Institution e Lamont Doherty Geological
Observatory da Universidade de Columbia, EUA. Os resultados dos estudos
realizados pela primeira fase do Projeto REMAC constituem a mais completa
coletânea de trabalhos sobre a sedimentação na margem continental brasileira,
agrupados em 11 volumes, sob a denominação de Série Projeto REMAC (CENTRO,
2013).
Foi com a participação do REMAC que, em 1974, foi realizado o cruzeiro
CHAIN-115, no platô de Pernambuco, entre 2.200m e 1.750 m de profundidade,
onde foram recuperados cerca de 150 quilogramas de material constituído
predominantemente por nódulos polimetálicos (SOUZA et al., 2007).
Em outro cruzeiro, realizado em 1976, o Projeto REMAC, juntamente com a
DHN, voltou a recuperar, naquele platô, nódulos e crostas manganesíferas.
Em 1978, foram encontradas ocorrências de nódulos na Cadeia Vitória-
Trindade, podendo refletir uma zona de maior concentração.
A partir do Projeto REMAC, seguiram-se vários estudos realizados por
pesquisadores vinculados às universidades brasileiras. O grupo do Centro de
27

Estudos de Geologia Costeira e Oceânica (CECO) da UFRGS editou um detalhado


mapeamento dos sedimentos da plataforma continental sul-brasileira (1977-1979).
O Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC),
instituído em 1988 e tendo como objetivo estabelecer o limite externo da plataforma
continental, no seu enfoque jurídico, conforme critérios estabelecidos pela CNUDM,
acumulou um enorme acervo de dados sobre batimetria de precisão, sísmica de
reflexão multicanal, gravimetria e magnetometria, importantes para o conhecimento
da estrutura da nossa margem continental (ORGANIZAÇÃO, 2010).
Com relação à Costa Sul, o diagnóstico ambiental oceânico e costeiro,
elaborado sob o patrocínio da PETROBRÁS em 1992, incorporou um substancial
conjunto de informações sobre a cobertura sedimentar da região.
Nos meses de junho e julho de 2011, como parte das atividades do
Programa de Prospecção e Exploração de Recursos Minerais da Área Internacional
do Atlântico Sul e Equatorial (PROAREA), foram realizadas duas expedições para
coletar amostras de crostas cobaltíferas na Elevação do Rio Grande.
Para realizar essa operação, o Serviço Geológico do Brasil contratou o
Navio de Pesquisa Marion Dufresne, do Instituto Polar francês. Participaram da
expedição, além dos profissionais da CPRM, pesquisadores de diversas
universidades brasileiras das áreas de geociências e biologia, formando uma equipe
multidisciplinar de quarenta pesquisadores e técnicos.
Foram coletadas diversas amostras de rochas, para identificação e
quantificação dos minerais existentes, o que serviu para subsidiar a proposta
brasileira para exploração de crostas cobaltíferas.
Exemplares da biodiversidade da Elevação coletados serviram para compor
o estudo ambiental, parte integrante da referida proposta. A análise preliminar do
material coletado já demonstrou o grande potencial de valor dos recursos minerais
existentes na ERG. Essa expedição marcou o início das atividades do Brasil nos
fundos marinhos internacionais do Atlântico Sul, além de permitir uma melhor
compreensão dessa área marítima e aumentar a presença brasileira nesse Oceano
(COMISSÃO, 2011b).
Outra expedição foi realizada no período de 14/12/11 a 18/01/2012 com o
apoio do Navio de Pesquisa Hidrográfico Fugro Gauss (de construção alemã e
bandeira de Gibraltar) da empresa multinacional FUGRO. Esta etapa do PROAREA
28

teve como principal função o mapeamento geofísico da área a ser estudada, que
para efeito de detalhamento, foi dividida em subáreas.
Estiveram embarcadas 31 pessoas de várias partes do mundo (Indonésia,
Filipinas, Rússia, Alemanha e Brasil) que trabalham em diversas áreas de pesquisa
como geologia, hidrografia, navegação e marinharia. Com elas puderam ser
trocadas experiências e aprendizados que contribuíram com o aperfeiçoamento dos
profissionais brasileiros.
Em 2012, com o apoio do Navio de Pesquisa alemão Ocean Stalwart, foram
concluídos os levantamentos e a coleta de amostras de crostas cobaltíferas na ERG,
necessários para elaborar a proposta brasileira para a prospecção e exploração
desse recurso mineral, na Área. O Navio Hidrográfico Sirius, da MB, também foi
empregado nos levantamentos. A partir dos dados obtidos, pôde ser verificado:
- A ERG possui duas áreas distintas, sendo que a parte que apresenta
crostas cobaltíferas mais espessas, ou seja, com maior teor mineral, encontra-se
mais próxima do litoral; e
- As áreas levantadas totalizam 78.000 km 2. Dessas, 17.000 km2 possuem
crostas, onde foram selecionados diversos blocos (COMISSÃO, 2013a).
No período de 13 de abril a 29 de maio de 2013, foi realizada a Expedição
IATÁ PIÚNA, fruto de uma parceria entre o Serviço Geológico do Brasil – CPRM, a
Universidade de São Paulo (USP) e a Agência Japonesa de Ciências do Mar e da
Terra (JAMSTEC), envolvendo pesquisadores de cerca de vinte universidades e
empresas dos dois países. Essa iniciativa conjunta teve como propósito mapear e
recolher material geológico e biológico do leito marinho do Atlântico Sul, inclusive de
áreas da Plataforma Continental e da Zona Econômica Exclusiva brasileira
(COMISSÃO, 2013a).
A expedição contou com o apoio do Navio de Pesquisa japonês Yokosuka,
dotado do submersível – Shinkai 6500 -, com capacidade de realização de
mergulhos tripulados até a profundidade de 6.500 metros. Foram percorridos trechos
da ERG, da Cordilheira de São Paulo e do Platô de São Paulo. Todos os locais
foram escolhidos pela CPRM, com base em estudos prévios, considerados mais
promissores. Além do granito, importante do ponto de vista cientifico, foram
encontrados sinais de depósitos de minerais e compostos de ferro, manganês,
cobalto, cobre, níquel, nióbio e tântalo, que podem ter importância econômica em
futuras operações de mineração submarina (COMISSÃO, 2013a). Além destes, são
29

normalmente encontrados nas crostas outros metais como o titânio, cério e zircônio
(MORAES, 2014).
Para a geologia, um dado importante foi confirmar que a base geológica da
Elevação do Rio Grande, assim como do Rio de Janeiro, é de rocha granítica – um
tipo de rocha que só se forma na superfície – o que é um forte indicativo de que a
Elevação esteve conectada ao continente num passado distante, apesar de hoje
estar separada dele por mais de mil quilômetros de oceano. Diferentemente de
elevações como a do Arquipélago de Fernando de Noronha, por exemplo, que tem
origem vulcânica.
Amostras de rochas da Elevação coletadas pela CPRM por meio de
dragagens no ano passado já mostravam a presença do granito, mas faltava uma
verificação direta para confirmar a descoberta. Essas amostras indicaram a
possibilidade de a ERG ser um continente que afundou a 100 milhões de anos,
quando a América do Sul se separou da África. Para que essa hipótese seja
confirmada serão necessários estudos mais aprofundados. Mas, se for confirmada,
poderá ter implicações em relação à extensão da plataforma continental, com
implicações geopolíticas significativas para o País, como será detalhado neste
trabalho mais adiante.
É importante ressaltar que no Brasil, as ocorrências conhecidas de nódulos
polimetálicos e crostas cobaltíferas foram registradas, em sua maioria quase
absoluta, por navios de pesquisa de instituições estrangeiras.
As Figuras 1 e 2 do Anexo apresentam as áreas marítimas de relevante
interesse mineral para o Brasil já identificadas.
30

4 MARCOS LEGAIS E AS POLÍTICAS NACIONAIS

A exploração de recursos minerais na ERG está condicionada aos atos


internacionais que o Brasil é parte e pela legislação nacional, os quais definem a
moldura jurídica global e limitam as ações que o País deve desenvolver para que
seja alcançada a meta comum de uso sustentável dos recursos no mar.
Neste capítulo serão apresentados os principais preceitos legais que
estabelecem direitos e deveres para a exploração de recursos na ERG, bem como
as políticas públicas de incentivo e apoio.

4.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A Constituição Federal de 1988 (CF/88), em seu Artigo 20, considera o Mar


Territorial (MT), os recursos da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e da Plataforma
Continental (PC) bens da União, ou seja, compõem o patrimônio nacional. O Art.
176 estabelece as condições para permissão da exploração do solo e subsolo da
plataforma continental e o Art. 225 institui o princípio que garante o direito ao meio
ambiente equilibrado, presumindo que a exploração de recursos minerais é atividade
degenerativa do meio ambiente (BRASIL, 1988).

4.2 A CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR

A CNUDM foi ratificada pelo Brasil em 22/12/1988. Em 16/11/1994, a


mesma entrou em vigor. Passados mais de 20 anos, são 157 países 6 os signatários.
Desde a década de 1950, pesquisas sobre fundos marinhos, com especial
interesse pela mineração, motivaram debates a respeito dos direitos sobre os
recursos do leito do mar. A questão se refletiu nas sessões preparatórias da
CNUDM, onde o ponto relevante debatido era a soberania sobre os fundos
marinhos, o solo e subsolo além dos limites da PC, logo, na Área (ORGANIZAÇÃO,
2010; MORE 2012b).

6 Em <https://treaties.un.org/pages/ViewDetailsIII.aspx?src=TREATY&mtdsg_no=XXI-6&chapter=21
&Temp=mtdsg3&lang=en>. Acesso em 13 maio 2015.
31

Em 1967, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU),


Avis Pardo, embaixador de Malta, alertou sobre a possível apropriação dos leitos
marinhos por partes dos estados tecnologicamente mais avançados e colocou em
pauta o conceito de “patrimônio comum da humanidade”, referindo-se a todos os
recursos minerais, aí se incluindo os hidrocarbonetos, situados além das jurisdições
nacionais. Segundo ele, os benefícios advindos da exploração dos recursos
marinhos na Área deveriam favorecer todos os estados, sejam costeiros,
geograficamente desfavorecidos ou sem litoral.
A aplicação desse princípio jurídico, entretanto, exigiria contrapartidas sobre
transferência de tecnologia de pesquisa e exploração, o que provocou votos
contrários ao texto final da Convenção dos EUA, da Venezuela, de Israel e da
Turquia (MORE, 2012b).
As discussões de longa data sobre o Direito do Mar e o debate mais recente
acerca das regras de exploração dos recursos minerais nos fundos oceânicos são
fortes indicativos da importância estratégica dessas riquezas. Desde o início do
Século XX, vem se realizando uma série de negociações que visam criar uma
regulamentação jurídica sobre o Mar, que tenha reconhecimento internacional.
As duas primeiras Conferências das Nações Unidas sobre o Direito do Mar –
em 1958 e em 1960, realizadas em Genebra, iluminaram a necessidade de um
instrumento novo e de aceitação geral sobre esse ramo do direito. Em 10 de
dezembro de 1982, foi aberta para assinatura, a Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar (CNUDM), após 14 anos de trabalho, que envolveram mais
de 150 países de várias regiões do mundo, de grande diversidade política, jurídica e
econômica. É considerada um marco do direito internacional. A Convenção definiu
os conceitos dos espaços marítimos (Águas Interiores, Mar Territorial, Zona
Contígua, Zona Econômica Exclusiva, Plataforma Continental, Alto-Mar e Fundos
Marinhos) e criou três órgãos de solução de controvérsias para assegurar o
cumprimento dos dispositivos (Autoridade Internacional para os Fundos Marinhos,
Tribunal Internacional sobre o Direito do Mar, e a Comissão dos Limites da
Plataforma Continental) (ORGANIZAÇÃO, 2010). A Figura 3 do Anexo mostra os
limites marítimos, de acordo com a CNUDM.
32

Por seu impacto no regime do direito do mar, inclusive do ponto de vista da


preservação do meio ambiente marinho7, a codificação de tais conceitos tem servido
de referência até mesmo para estados não signatários da Convenção.
A ERG está localizada a uma distância do litoral brasileiro que a CNUDM
classifica, em um primeiro momento, como Área. Para entender isso, será verificado
o que diz especificamente a CNUDM sobre o assunto (ORGANIZAÇÃO, 2010).
O Artigo 76 trata da Plataforma Continental e seus limites, que pode se
estender além das 200 milhas marítimas a partir das linhas de base, sendo,
portanto, questão de grande relevância estratégica e econômica para o Estado
costeiro. Influi consequentemente na delimitação da Área, uma vez que a sua
extensão se faz por exclusão das plataformas continentais. A Figura 4 do Anexo
ilustra o que foi dito acima.
Estabelece o Artigo 76 da CNUDM:

[...]1. A plataforma continental de um Estado costeiro compreende o leito e


o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar
territorial, em toda a extensão do prolongamento natural do seu território
terrestre, até ao bordo exterior da margem continental, ou até uma distância
de 200 milhas marítimas das linhas de base a partir das quais se mede a
largura o mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem
continental não atinja essa distância[...](ORGANIZAÇÃO, 2010, Art. 76).

Convém notar a exceção prevista no § 6o, que complementa o § 5o conforme


abaixo:

[...]5. Os pontos fixos que constituem a linha dos limites exteriores da


plataforma continental no leito do mar, traçada de conformidade com as
sub-alíneas i) e ii) da alínea a) do parágrafo 4 o, devem estar situadas a uma
distância que não exceda 350 milhas marítimas da linha de base a partir da
qual se mede a largura do mar territorial ou a uma distância que não exceda
100 milhas marítimas da isóbata de 2500 metros, que é uma linha que une
profundidades de 2500 metros. 6. Não obstante as disposições do
parágrafo 5o, no caso das cristas submarinas, o limite exterior da plataforma
continental não deve exceder 350 milhas marítimas das linhas de base a
partir das quais se mede a largura do mar territorial. O presente parágrafo
não se aplica a elevações submarinas que sejam componentes
naturais da margem continental, tais como os seus planaltos,
elevações continentais, topes, bancos e esporões (Grifo nosso)
(ORGANIZAÇÃO, 2010, Art. 76 § 6o).

7 O Artigo 237 da CNUDM estabelece a proteção ao meio ambiente marinho e a previsão expressa
de coordenação e compatibilidade com as obrigações. Os Artigos de 207 a 212 da CNUDM conferem
obrigação aos estados adotarem leis e regulamentos para prevenir, controlar e reduzir a poluição do
meio ambiente marinho (ORGANIZAÇÃO, 2010, Art. 237).
33

Parece fácil perceber que a última sentença do § 5 o poderá acarretar


plataformas continentais com extensões superiores a 350 milhas a partir das linhas
de base, por isso a Convenção preocupou-se em impor um obstáculo, qual seja, no
caso de ocorrerem cristas submarinas, determina que o limite se detenha nas 350
milhas. O mesmo parágrafo que impôs a limitação, também faz a ressalva para as
elevações submarinas naturais da margem continental.
Segundo (MORE, 2012b) a Convenção cria regime jurídico preciso e distinto
para regular a soberania sobre os recursos desses espaços marinhos, permitindo
que, excepcionalmente, a plataforma continental se estenda, dando abrigo a um
princípio de direito de soberania ipso facto e ab initio sobre a parte do território
terrestre que se estende sob as águas dos oceanos.
Até agosto de 2013, países como a Islândia, Namíbia, Sri Lanka e
Madagascar, já haviam encaminhado pedidos à Comissão de Limites da Plataforma
Continental (CLPC) para a extensão de suas plataformas continentais para além das
350 milhas (MORAES, 2014).
Nos termos do Artigo 1o da Convenção, Área significa o solo e o subsolo
marinhos situados além da jurisdição nacional. De acordo com o Artigo 136, a Área
e seus recursos constituem-se em patrimônio comum da humanidade. Nenhum
estado poderá́ reivindicar ou exercer soberania ou direitos de soberania sobre
qualquer parte da Área ou seus recursos. Todos os direitos sobre tais recursos
pertencem à humanidade, em cujo nome atuará a Autoridade Internacional dos
Fundos Marinhos (ou somente “Autoridade”, como será tratada a seguir).
Quanto aos recursos minerais da Área inicialmente apenas os nódulos
polimetálicos – ricos em cobre, cobalto, níquel e manganês – foram considerados. A
Resolução II, constante da Ata Final da Convenção, especifica as normas relativas à
exploração e ao aproveitamento desses nódulos.
Todavia, mais recentemente, sobretudo em função do desenvolvimento da
tecnologia marinha, outros recursos minerais encontrados na Área passaram a ser
objeto de interesse: os sulfetos polimetálicos – que contêm cobre, ferro, zinco, prata
e ouro em diversos níveis de concentração – e as crostas de ferromanganês, ricas
em cobalto.
Apesar de a Convenção construir aspectos positivos, como o sucesso na
delimitação de espaços marítimos, apresenta também pontos criticados por
estudiosos, como a noção de patrimônio comum da humanidade referente à Área, e
34

também por serem as decisões tomadas por mero consenso, em vez do voto
democrático, enfraquecendo o interesse dos países periféricos, muitos dos quais,
hoje, emergentes, traduzindo, na prática, a hegemonia dos países centrais (MEIRA
MATTOS, 2014).
Dois princípios básicos regem a Área: ser ela patrimônio comum da
humanidade (Art. 136 da CNUDM) e o de que o comportamento dos estados deve
pautar-se no interesse da manutenção da paz e da segurança internacionais, assim
como da cooperação e da compreensão mútua (Art.138 da CNUDM).
Os Artigos 141 a 146 da CNUDM reforçam que a utilização da Área será
somente para fins pacíficos e em benefício da humanidade, sendo prevista a
transferência de tecnologia isoladamente ou mediante cooperação dos Estados-
partes, bem como a proteção do meio marinho e da vida humana (ORGANIZAÇÃO,
2010).
Para isso, a Autoridade agirá em nome da humanidade (Art. 153), com
especial atenção aos países em desenvolvimento (Art. 152), mas é inegável a sua
força organizadora, coordenadora e controladora. Isso porque segundo a
Convenção, cabe à Autoridade, exclusivamente, – representando a humanidade –
alienar os minerais extraídos da Área (MEIRA MATTOS, 2014).

4.3 A LEI No8.617/1993.

A Lei no 8.617/1993 internaliza ao Direito Brasileiro a CNUDM e estabelece


as seguintes faixas marítimas:
 mar territorial, de 12 milhas;
 zona contígua, das 12 a 24 milhas;
 zona econômica exclusiva, das 12 a duzentas milhas; e
 plataforma continental, prolongamento natural do território terrestre, até
seus limites exteriores, estabelecidos segundo o Artigo 76 da Convenção (BRASIL,
1993; ORGANIZAÇÃO, 2010).
A comparação da redação da CNUDM e da Lei n o 8.617/1993 revela
compatibilidade de textos e, em diversas partes da lei, quase a transcrição literal do
disposto na CNUDM pela lei nacional (BRASIL, 1993; ORGANIZAÇÃO, 2010).
35

4.4 O ACORDO RELATIVO À IMPLEMENTAÇÃO DA PARTE XI DA CNUDM

O Acordo sobre a Implementação da Parte XI da CNUDM, onde é fixado o


regime jurídico da Área, conhecido como - Boat Paper -, foi aprovado em
Assembleia Geral da ONU, por meio da Resolução 48/263, de 17 de agosto de 1994
(ORGANIZAÇÃO, 1994). Inteligentemente, foi estabelecido que futuras ratificações,
confirmações formais ou adesões à Convenção, significariam aceitação do referido
Acordo e que qualquer aceitação do Acordo importaria em prévia aprovação da
Convenção, provocando a adesão das grandes potências, como Reino Unido,
França e China, além de países da importância do Japão, da África do Sul, da Itália
e da Alemanha, em termos de aplicação provisória, para a Convenção
(ORGANIZAÇÃO, 1994).
O Acordo reforçou os poderes e papel da Autoridade como órgão do G7 8,
com amplos poderes de organizar e controlar as atividades da Área (MEIRA
MATTOS, 2014).
Observa-se ainda a ênfase concedida aos planos de trabalho para a
exploração da Área. Por deterem a tecnologia de exploração dos fundos marinhos,
os operadores que auferirão lucro serão representantes de países centrais, em
detrimento dos interesses dos países periféricos.
Ainda segundo o Acordo, a política de produção da Autoridade será
baseada nas seguintes diretrizes:
a) o aproveitamento dos recursos da Área seguirá princípios comerciais
sólidos;
b) em princípio, as atividades na Área não serão subsidiadas;
c) não haverá acesso preferencial aos mercados para os minerais extraídos
da Área; e
d) os planos de trabalho obedecerão a cronogramas devidamente
aprovados pela Autoridade.
Uma análise mais detalhada dos termos do Acordo deixa claro que as
alterações propostas incidem sobre o princípio de patrimônio comum da
humanidade e sobre a questão do desenvolvimento, favorecendo os interesses

8 Grupo internacional que reúne os sete países mais industrializados e desenvolvidos econômica-
mente do mundo - Estados Unidos, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão, Reino Unido. Em
<http://lexicon.ft.com/Term?term=G7-or-Group-of-Seven>. Acesso em 23 ago. 2015.
36

financeiros dos países centrais. Observa-se ainda que a transferência de tecnologia


deixou de ser obrigatória, enfraquecendo os países periféricos e fortalecendo, uma
vez mais, os países desenvolvidos (MEIRA MATTOS, 2014).

4.5 A AGENDA 21, ADOTADA NA CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE


O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CNUMAD)

A Declaração Final da Conferência da Conferência das Nações Unidas


sobre o Desenvolvimento Sustentável (RIO +20), em seu Capítulo 17, considerou
oceanos e águas costeiras fundamentais para a sobrevivência do planeta e
reafirmou que a CNUDM fornece o quadro jurídico para a conservação e utilização
sustentável dos oceanos e seus recursos. Também instou todos os estados-
membros a implementar plenamente as suas obrigações perante a Convenção
(ORGANIZAÇÃO, 2010).

4.6 OS CÓDIGOS DE MINERAÇÃO DA AUTORIDADE INTERNACIONAL DOS


FUNDOS MARINHOS

Os códigos de mineração se referem ao conjunto completo de regras,


normas e procedimentos gerados pela Autoridade Internacional de Fundos Marinhos
para regular a prospecção, exploração e explotação de minerais marinhos na Área.
Todas essas normas foram estabelecidas de acordo com o previsto na CNUDM e o
seu Acordo de implementação de 1994, relacionado com a mineração nos fundos
marinhos (ORGANIZAÇÃO, 2010).
A Autoridade emitiu normas sobre a Prospecção e Exploração de Nódulos
polimetálicos na Área adotadas em 13 de julho de 2000, que mais tarde foram
atualizadas e colocadas em vigor em 25 de julho de 2013; as normas relativas a
prospecção e exploração de sulfetos polimetálicos (adotadas em 07 de maio de
2010) e as normas relativas a prospecção e exploração de crostas ricas em cobalto,
adotadas em 27 de julho de 20129 (INTERNATIONAL, 2012).
Essas instruções normativas incluem os formulários necessários a serem
seguidos para que o candidato conquiste os direitos de exploração, bem como as

9 Em <https://www.isa.org.jm/mining-code>. Acesso em 07 jul. 2015.


37

condições gerais dos contratos de exploração (INTERNATIONAL, 2012).


O Regulamento para Prospecção e Exploração de Crostas
Ferromanganesíferas Ricas em Cobalto na Área foi aprovado pelo documento - ISA
18/A/11 -, em julho e distribuído em outubro de 2012. Dentre as instruções
estabelecidas pelo regulamento cabe destacar, dentre outros: os limites da área a
ser coberta por um plano de trabalho; as informações a serem submetidas para a
aprovação de um plano de trabalho para exploração; os direitos do contratante; e a
duração dos contratos (INTERNATIONAL, 2012).
Após um plano de trabalho ser aprovado pelo Conselho, ele deve ser
preparado em forma de contrato entre a Autoridade e o requerente, ou contratante.
Especificamente quanto ao direito dos contratantes, norma 26 do Regulamento, fica
estabelecido que o contratante terá direito exclusivo de explorar uma área coberta
por um plano de trabalho em respeito a crostas cobaltíferas (INTERNATIONAL,
2012).
Já a norma 28 do mesmo Regulamento estabelece que o plano de trabalho
para exploração será aprovado para um período de 15 anos (INTERNATIONAL,
2012).
Até abril de 2013, haviam sido encaminhados à ISA 21 pedidos. Destes, 13
foram para exploração de nódulos polimetálicos, cinco para sulfetos polimetálicos e
três para crostas cobaltíferas. É a seguinte a distribuição por oceanos: quinze para o
Pacífico, dos quais doze para nódulos polimetálicos (todos na Zona Clarion-
Clipperton), dois para crostas cobaltíferas e um para sulfetos polimetálicos; quatro
para o Índico, sendo um para os nódulos, dois para os sulfetos e um para as
crostas; e dois para o Atlântico, ambos para sulfetos. Dos pedidos referentes ao
Atlântico, um oriundo do Governo da Rússia e outro do Instituto Francês de
Pesquisa para a Exploração do Mar (IFREMER10). O Quadro 1 do Anexo contém
essas informações (MORAES, 2014).
Segundo a Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
(SECIRM), no momento, já existem 26 projetos em execução para a prospecção e
exploração de nódulos e sulfetos polimetálicos e crostas cobaltíferas.

10 Institut Français de Research pour l’Exploitation de la Mer (Tradução nossa).


38

4.7 A COMISSÃO INTERMINISTERIAL PARA OS RECURSOS DO MAR

Criada pelo Decreto no 74.557, de 12 de setembro de 1974, com a finalidade


de fortalecer os pleitos brasileiros na ONU e, em paralelo, de coordenar assuntos
relativos à consecução de uma Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM),
em um período em que o mundo discutia, em diversas conferências, o Direito do
mar (BRASIL, 1974).
Inicialmente constituída por nove membros (BRASIL, 1974), hoje, devido a
alterações na estrutura do governo e atribuição de novas tarefas, a CIRM conta com
a participação de dezessete representantes de ministérios e instituições,
coordenados pelo Comandante da Marinha, designado Autoridade Marítima,
segundo o Decreto no. 3.939/2001, que dispõe sobre a CIRM (BRASIL, 2001).

4.8 A POLÍTICA MARÍTIMA NACIONAL

Com a finalidade de orientar o desenvolvimento das atividades marítimas do


País de forma integrada e harmônica, visando à utilização efetiva, racional e plena
do mar e de nossas hidrovias interiores, de acordo com os interesses nacionais, foi
criada a Política Marítima Nacional (PMN) pelo Decreto no 1.265, de 11 de outubro
de 1994 (BRASIL, 1994).
Entre outros, a PMN tem os seguintes objetivos:
• desenvolvimento de mentalidade marítima nacional;
• pesquisa, exploração e explotação racional dos recursos vivos - em espe-
cial no tocante à produção de alimentos - e não-vivos na coluna d’água, do
leito e do subsolo do mar e de rios, lagoas e lagos navegáveis; e
• proteção do meio ambiente, nas áreas em que se desenvolvem atividades
marítimas (BRASIL, 1994).

4.9 A POLÍTICA NACIONAL PARA OS RECURSOS DO MAR

A PNRM, aprovada em 1980, atualizada pelo Decreto n o 5.377, de 23 de


fevereiro de 2005, tem por finalidade:
39

[...] orientar o desenvolvimento das atividades que visem à utilização, à


exploração e ao aproveitamento efetivos dos recursos vivos, minerais e
energéticos do Mar Territorial, da Zona Econômica Exclusiva e da
Plataforma Continental, de acordo com os interesses nacionais, de forma
racional e sustentável para o desenvolvimento socioeconômico do País,
gerando emprego e renda e contribuindo para a inserção social [...].
(BRASIL, 2005, 2. FINALIDADE).

A PNRM visa essencialmente:

[...]• ao estabelecimento de princípios e objetivos para elaboração de


planos, programas e ações de governo no campo das atividades de
formação de recursos humanos, no desenvolvimento da pesquisa, ciência e
tecnologia marinha e na exploração e no aproveitamento sustentável dos
recursos do mar; e
• à definição de ações para alcançar os objetivos estabelecidos nesta
Política (BRASIL, 2005, 2. FINALIDADE).

A PNRM foi sendo consolidada por Planos e Programas plurianuais e anuais


decorrentes, elaborados pela CIRM, como o Plano Setorial para os Recursos do Mar
(PSRM), exposto a seguir.

4.10 O PLANO SETORIAL PARA OS RECURSOS DO MAR

O PSRM é decorrente da PNRM e teve sua sétima versão aprovada em


2008 pelo Decreto no 6.678/2008 – VII PSRM (BRASIL, 2008). O PSRM tem por
finalidade conhecer e avaliar as potencialidades do mar e monitorar os recursos
vivos e não vivos e os fenômenos oceanográficos e climatológicos das áreas
marinhas sob jurisdição e de interesse nacional, visando à gestão e ao uso
sustentável desses recursos e à distribuição justa e eqüitativa dos benefícios
derivados dessa utilização. O PSRM desdobra-se em diversos programas
(COMISSÃO, 2011a), alguns oriundos do V PSRM e outros que se encontram em
fase de implementação, como será abordado adiante. Ao longo das seis primeiras
versões do PSRM, o foco esteve centrado na geração de conhecimento sobre o
ambiente marinho e no uso sustentável das riquezas ali existentes (COMISSÃO,
2011a). O VII PSRM, conforme nele estatuído, vigorou de 2008 a 2011, e,
especificamente, ressaltou a dimensão socioeconômica e a qualidade do ambiente
marinho, o reconhecimento do papel dos oceanos nas mudanças climáticas e a
necessidade de articulação do governo, da comunidade científica, da iniciativa
40

privada e da sociedade para contemplar o aproveitamento sustentável dos recursos


do mar (BRASIL, 2008).
O VIII PSRM, aprovado em 2011(COMISSÃO, 2011c), e em vigor no período
de 2012 a 2015, guarda estreita relação com o novo programa temático - Mar, Zona
Costeira e Antártida - e outras políticas e planos de governo federal; introduz novo
modelo de gestão participativa e integrada dos diversos Ministérios, instituições de
pesquisa, comunidade científica e iniciativa privada; estimula a integração das
Ações; destaca a importância da disponibilização de dados para a sociedade;
prioriza a conservação e aproveitamento dos recursos naturais marinhos; enfatiza a
qualificação de recursos humanos e a experiência embarcada; incentiva o
estabelecimento de cooperação internacional; e tem uma preocupação com os
recursos naturais presentes na Zona Costeira (COMISSÃO, 2011a).
Tendo como Coordenador a Secretaria da Comissão Interministerial para os
Recursos do Mar (SECIRM), o VIII PSRM conta com membros dos seguintes
Ministérios: Ministério das Relações Exteriores (MRE), Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), Ministério de Minas e Energia (MME), Ministério
da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), Ministério do Meio Ambiente (MMA),
Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), Ministério da Educação (MEC), Marinha do
Brasil, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
(COMISSÃO, 2011a).
Dentre as ações sendo implementadas dentro do VIII PSRM estão o
Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental
Jurídica Brasileira (REMPLAC) e o Programa de Prospecção e Exploração de
Recursos Minerais da Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial (PROAREA)
(COMISSÃO, 2011a).

4.10.1 O Programa de Prospecção e Exploração de Recursos Minerais da Área


Internacional do Atlântico Sul e Equatorial

O PROAREA tem como propósito identificar e avaliar a potencialidade


mineral de áreas com importância econômica e político-estratégicas para o Brasil,
localizadas nessa região (COMISSÃO, 2009).
Dentre os objetivos do PROAREA destacam-se:
41

- a ampliação da presença brasileira no Atlântico Sul e Equatorial; e


- a coleta de dados para subsidiar futuras requisições brasileiras de áreas de
prospecção e exploração mineral junto à ISA.
Dentro os projetos sendo desenvolvidos encontra-se o Projeto de
Prospecção e Exploração de Crostas Cobaltíferas da Elevação do Rio Grande
(PROERG), que tem como objetivo geral a avaliação da potencialidade mineral dos
depósitos de crostas cobaltíferas da ERG, aprofundando o conhecimento científico
sobre a evolução geológica da Elevação do Rio Grande e a gênese dos depósitos
de crostas cobaltíferas dessa região.

4.11 A POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA

A Política Nacional de Defesa (PND), aprovada em 12/09/2013 pelo Decreto


Legislativo no 373/2013, é o documento condicionante de mais alto nível do
planejamento de ações destinadas à defesa nacional (BRASIL, 2013).
O documento destaca a prioridade a ser atribuída ao Atlântico Sul no
planejamento de defesa e ainda cita a consolidação da Zona de Paz e Cooperação
do Atlântico Sul (ZOPACAS) como fator contribuinte para a redução da possibilidade
de conflitos no entorno estratégico brasileiro (BRASIL, 2013).
Estabelece ainda em seu item 5.5:

O mar sempre esteve relacionado com o progresso do Brasil desde o


descobrimento. A natural vocação marítima brasileira é respaldada pelo seu
extenso litoral e pela importância estratégica do Atlântico Sul.
A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar abre a
possibilidade de o Brasil estender os limites de sua Plataforma
Continental e exercer o direito de jurisdição sobre os recursos econômicos
em uma área de 4,5 milhões de km 2, região de vital importância para o
País, uma verdadeira “Amazônia Azul” (Grifos do Autor) (BRASIL, 2013,
item 5.5).

O Objetivo Nacional de Defesa inicialmente enumerado estabelece a


garantia da soberania, do patrimônio nacional e a integridade territorial (BRASIL,
2013).
Dispõe ainda a PND em seu item 7.5, relativo às Orientações, que o País
deve dispor de meios com capacidade de exercer a vigilância, controle e defesa das
águas jurisdicionais (BRASIL, 2013).
42

A PND reconhece claramente a relevância do Mar e do Atlântico Sul para o


Brasil. Ao mesmo tempo considera a extensão da PC uma possibilidade oriunda da
CNUDM, mostrando que a fronteira marítima ainda está em conformação (BRASIL,
2013; ORGANIZAÇÃO, 2010).
A CF/88 considera em seu Artigo 20 os recursos da PC como bens da
União, compondo o patrimônio nacional, logo no escopo dos Objetivos Nacionais de
Defesa (BRASIL, 1988; 2013).
Para atender a orientação 7.5, o País deve dispor de meios adequados,
considerando o tamanho da Amazônia Azul®11, que podem ser:
a) Para vigilância: satélites, meios aéreos com elevado raio de ação e
autonomia, meios navais com capacidade de permanência e capacidade de resistir
condições de mar severas, ambos dotados de sensores para os três ambientes e
equipamentos de comunicação compatíveis;
b) Para controle: meios navais com capacidade de graduar o poder de
destruição, comunicações satélite preferencialmente, capacidade de receber e
fornecer dados de sistemas de comando e controle, capacidade de combater nos
três ambientes, capacidade de realizar busca e salvamento; e
c) Para Defesa: todos anteriores e mais aqueles com capacidade de
dissuasão pelo poder de destruição.
A Figura 5 do Anexo mostra a Amazônia Azul®.

11 O Glossário apresenta a definição de Amazônia Azul®.


43

5 A ELEVAÇÃO DO RIO GRANDE E O PLANO DE TRABALHO BRASILEIRO


PARA A EXPLORAÇÃO MINERAL

5.1 A ELEVAÇÃO DO RIO GRANDE

A ERG é uma montanha submarina que se eleva desde profundidades


médias de 4.000 metros até 800 metros da superfície, situada a cerca de 1.100
quilômetros da costa do Rio Grande do Sul, portanto na zona internacional do leito
marinho, denominada de Área - sendo considerada pela CNUDM como parte do
patrimônio comum da humanidade – (ORGANIZAÇÃO, 2010).
O alto topográfico estende-se entre as latitudes 34º e 28ºS e as longitudes
28º e 40ºW ao longo da porção sul da Bacia do Brasil, representando um dos mais
expressivos elementos estruturais assísmicos positivos do Atlântico Sul. Mohriak et
al. (2010) estabeleceu a hipótese que a origem da ERG é atribuída a um excessivo
vulcanismo ocorrente entre 100 e 80 milhões de anos, sendo que a elevação não
usual do platô oeste é em parte devida a um vulcanismo intenso ocorrido no Eoceno
médio (GEOLOGIA, 2011). Porém, a descoberta de rochas de granito semelhantes
às existentes em terra pode alterar essa teoria (COMISSÃO, 2013a).
Estudos realizados na Área por navios de outros países revelam a presença
de crostas cobaltíferas associadas a montes submarinos e guyots12 que ascendem à
crista da elevação a profundidades menores de 700 m (GEOLOGIA, 2009).
Levantamentos preliminares realizados pela CPRM na ERG indicaram a presença
de crostas ferromanganesíferas ricas em cobalto, e também a ocorrência de outros
minérios, como níquel, platina, manganês, tálio e telúrio, de relevante potencial
científico e econômico.
Sob o ponto de vista científico, ambiental, econômico, político e estratégico,
o Brasil tem o interesse de conhecer e avaliar a potencialidade de recursos minerais
adjacentes à sua plataforma continental.
Cabe destacar que a Linha de Comunicação Marítima que liga os principais
portos do sudeste/sul do Brasil aos portos da Ásia, passando pelo sul do continente
africano, cruza sobre a ERG e, segundo Vaz (2011), os países ou empresas

12 O Glossário apresenta a definição de guyots.


44

autorizadas pela ISA a explorar determinada região na Área, têm direito de criar
“zonas de segurança” em torno da região, suscitando assim barreiras para o trânsito
de embarcações e dificultando a rota marítima de interesse nacional no Atlântico
Sul. A Figura 6 do Anexo apresenta essas considerações.

5.2 O PLANO DE TRABALHO PARA A EXPLORAÇÃO MINERAL

A Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), órgão do


Ministério de Minas e Energia, baseando-se nas pesquisas e expedições realizadas,
elaborou o Plano de Trabalho para Exploração de Crostas Ferromanganesíferas
Ricas em Cobalto na Elevação do Rio Grande (COMISSÃO, 2013b) e o submeteu à
apreciação da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM). Em
outubro de 2013, esse Plano foi aprovado em Sessão Extraordinária da CIRM
(COMISSÃO, 2013b) e em novembro do mesmo ano, o Comandante da Marinha, na
qualidade de Coordenador da CIRM, encaminhou o Plano para à Presidência da
República, via os Ministros de Estado da Defesa, das Relações Exteriores, de Minas
e Energia e da Ciência, Tecnologia e Inovação. No início de dezembro, o Plano de
Trabalho foi encaminhado à Casa Civil por meio de Exposição de Motivos
Interministerial e, em 31 de dezembro de 2013, foi apresentado à Autoridade
Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), em Kingston, Jamaica (COMPANHIA,
2014).
Na reunião da Comissão Jurídica e Técnica (CJT) da ISA, em julho de 2014,
a proposta brasileira foi analisada, considerando as respostas aos questionamentos
feitos à CPRM, sendo aprovada e encaminhada para apreciação do Conselho da
mesma instituição. No dia 21 de julho de 2014, o Plano de Trabalho foi autorizado e,
em consequência, teve início o processo de elaboração do contrato de exploração,
que em média demora de 12 a 18 meses para ser finalizado, o que garantirá ao País
o direito de realizar, por um período de quinze anos, as pesquisas necessárias para
iniciar a fase de explotação de minerais na Elevação do Rio Grande (LEITE, 2015).
Durante a sua elaboração, esse Plano de Trabalho foi aprimorado por meio
de amplo debate e análise, no Comitê Executivo do PROAREA, e aprovado, sob
enfoque técnico, pela Resolução 8/2013 da CIRM. Está fundamentado em sólidos
conhecimentos científicos e técnicos que permitirão a exploração de recursos
45

minerais, de maneira sustentável, com a adoção de medidas para proteger o


ambiente marinho (COMISSÃO, 2013b).
Propõe o Brasil a exploração, ao longo de um período de 15 anos, de uma
área total de 3.000 km2, dividida em 150 blocos de 20 km 2 cada. Além das
atividades de coleta de dados minerais, serão desenvolvidos estudos
oceanográficos e ambientais. A Figura 7 do Anexo ilustra a região da ERG a ser
explorada. O Plano de Trabalho brasileiro é dividido em 3 etapas de 5 anos de
duração cada, como segue:
- Etapa I (anos 1 a 5): prospecção em escala regional com vistas à definição
das áreas alvos e coleta de parâmetros ambientais, com o compromisso de investir
onze milhões de dólares nesse período;
- Etapa II (anos 6 a 10): avaliação das características mineralógicas,
estruturais, geomorfológicas e ambientais das áreas de interesse, bem como
levantamento de dados geofísicos e geológicos necessários para o início do
detalhamento de reserva mineral descoberta; e
- Etapa III (anos 11 a 15): seleção de áreas para análise da viabilidade
econômica, ambiental e técnica de depósitos minerais, bem como avaliação de
sistemas de recuperação de minério, com vistas à eventual adequação do Plano de
Trabalho e desenvolvimento de atividades de explotação, de acordo com
regulamentação específica a ser aprovada pela Autoridade, no futuro.
O Plano de Trabalho apresenta as informações técnicas e financeiras do
solicitante (CPRM), bem como atende todos os requisitos estabelecidos pelas
regulamentações aplicáveis da ISA, inclusive no que diz respeito a questões
técnicas, financeiras e ambientais.
Seguindo as instruções do Código para Prospecção e Exploração de
Crostas Cobaltíferas na Área, aprovado em julho de 2012, o Plano de Trabalho é
dividido em sete Seções e 14 Anexos.
Em sua Mensagem ao Congresso Nacional de 2015, a Presidente da
República destacou:

[…] Além de assegurar a presença brasileira em uma área próxima às


águas jurisdicionais nacionais, o Plano de Trabalho permitirá ao País
aumentar seu conhecimento sobre o potencial estratégico e econômico dos
recursos existentes na região, com vistas ao desenvolvimento de atividades
de pesquisa, coleta de dados e eventual mineração comercial.[...](BRASIL,
2015, p. 133).
46

O próprio Coordenador da CIRM ilustra o interesse e a prioridade no


assunto:

É inquestionável a prioridade nacional quanto às questões de


aproveitamento dos recursos de nossos solo e subsolo marinhos.
Entretanto, não se pode descartar a possibilidade de descobertas em
regiões que ultrapassem esse limite, e de que, com o passar do tempo e o
notável avanço tecnológico, a exploração de tais regiões torne-se cada vez
mais economicamente viável e ambientalmente sustentável. Também por
isso, é relevante a regulação de atividades dessa natureza no Alto Mar e
nos Fundos Oceânicos da Área (Moura Neto, 2014a, p.18).
47

6 A IMPORTÂNCIA DA EXPLORAÇÃO DA ELEVAÇÃO DO RIO GRANDE PARA


O BRASIL

Baseando-se apenas nos recursos minerais já identificados na ERG, e


comparando-se com os estudos sintetizados na tabela 1 (MARTINS, 2007) do
Anexo, verifica-se a relevância que as riquezas oceânicas vêm adquirindo para o
desenvolvimento das nações costeiras. Os conceitos utilizados na tabela distinguem
os recursos marinhos não vivos em função de: 1) Distribuição mundial do bem
mineral; 2) Potencial econômico dos depósitos já explorados ou dos ainda por
explorar; 3) Taxa de crescimento do interesse cientifico em tais minerais; 4)
Quantidade relativa do esforço científico empregado atualmente. Recursos
identificados como de “interesse científico” são também matéria-prima de indústrias
que envolvem o desenvolvimento de tecnologias de ponta.
Verifica-se naquele estudo que os itens “nódulos polimetálicos”, “crostas
manganesíferas”, “sulfetos polimetálicos” e “petróleo e gás”, apresentam uma
disponibilidade menor que o “interesse” sobre eles.
A tabela apresenta ainda a comparação entre o significado econômico e o
esforço científico relativo aos recursos marinhos não vivos, sendo essencialmente
dinâmica, sofrendo alterações no tempo e no espaço. Ressalta-se a distinção feita
entre recursos de “interesse econômico” e de “interesse científico” que exprime o
valor estratégico do bem, isto é, indica que podem representar oportunidades de
expansão de poder relativo dentro do sistema interestatal. Assim, cada aspecto será
analisado separadamente, dentro do caso específico do que vai ser explorado na
ERG, visando facilitar seu entendimento.

6.1 ASPECTOS GEOPOLÍTICOS E ESTRATÉGICOS

Inicialmente, serão apresentados alguns elementos estratégicos,


essencialmente relacionados à segurança e à defesa nacionais, também
determinados por fatores geográficos.
O Brasil, com quase 7.500 km de litoral, é um País voltado e diretamente
interessado pelo Oceano Atlântico. Graças aos Arquipélagos de São Pedro e São
Paulo, e Trindade e Martin Vaz, especialmente o primeiro, as áreas de interesse
48

marítimo avançam em direção à África. O Arquipélago de São Pedro e São Paulo


está situado a 1.010 km do porto mais próximo da costa brasileira e a 1.824 km da
costa africana. O espaço marítimo brasileiro, decorrente do contido na CNUDM
abrange na ZEE uma superfície de 3.539.919 km 2 e a PC, de 960 mil km2
(ORGANIZAÇÃO, 2010), o que somados alcança 4.499.919 km 2, ou seja, cerca de
4,5 milhões de km2, o que equivale a mais de 50% do extenso território do País. As
pesquisas e descobertas na ERG podem incrementar ainda mais esses números.
O Oceano Atlântico, que desde o início da colonização desempenhou um
papel fundamental para o Brasil, se tornou ainda mais crucial, devido as riquezas
que se encontram na ZEE e na PC.
Cumpre ressaltar o pensamento geopolítico de Therezinha de Castro que,
reformulando o geoestrategista norte-americano Alfred Mahan, cujas teorias sobre o
poder marítimo tiveram grande influência no início do Séc. XX, em especial nos
EUA, afirma:

Daí Mahan, em suas considerações estratégicas sobre o Poder Marítimo


haver destacado que o valor militar de um posicionamento naval depende
“de sua situação, de sua força e de seus recursos”. Das três, continua, “a
primeira é a de maior importância, pois resulta da natureza das coisas;
enquanto as duas últimas quando deficientes, podem ser providas
artificialmente de modo total ou parcial. As fortificações remediam as
debilidades de uma posição, a previsão acumula de antemão os recursos
negados pela natureza. Porém, não está na faculdade humana mudar a
situação geográfica de um ponto localizado fora do limite do efeito
estratégico. (CASTRO, 1999, p. 15).

Ou seja, a posição geográfica é o condicionante de maior relevância. A este


respeito, o pensamento geopolítico brasileiro13 ilustra que o Brasil possui vantagens
estratégicas no Atlântico Sul; posiciona-se no saliente oriental da América do Sul,
com acesso tanto para o Hemisfério Norte quanto para o Sul e cujo ponto mais
saliente forma a zona de estrangulamento (Natal/Dakar) do Atlântico. A posição
geoestratégica do Brasil fornece ao País um papel decisivo na defesa do América do
Sul e do Atlântico Sul, conforme pode ser observado na Figura 8 do Anexo.
Ao mesmo tempo que o posicionamento brasileiro permite amplas
possibilidades de projeção militar ao País, serve de acesso para estratégias de
expansão de outros Estados. Por isso há de se considerar a África perímetro de
segurança nacional. Já nos anos 1970, o General Meira Mattos destacava a

13 Golbery do Couto e Silva, Meira Mattos e Therezinha de Castro.


49

importância do continente africano, “[...] por sua posição de base intermediária para
as ações militares entre a América e a Eurásia [...]” (MEIRA MATTOS, 1975, p.75
apud BROZOSKI, 2013, p.45). Hoje, a necessidade de estreitar os laços entre a
América do Sul e a África se torna mais clara, levando-se em consideração a
dimensão que uma ameaça externa pode ter considerando os extraordinários
avanços tecnológicos da indústria bélica.
Após apresentar as questões geopolíticas acima, que conferem a
importância do Atlântico Sul, passa-se a focar na questão dos recursos existentes
na ERG.
Dentre os recursos minerais da Área internacional dos oceanos que
apresentam valor político-estratégico destacam-se, em ordem de prioridade: as
crostas cobaltíferas, os sulfetos polimetálicos, e os nódulos polimetálicos.
As crostas cobaltíferas são apontadas como prioridade 1, por serem
abundantes na área da ERG, região contígua ao limite externo da plataforma
continental e que já vem atraindo o interesse de outros países, para o
desenvolvimento de pesquisas e de futuras explorações. Cabe destacar que a China
e Alemanha vêm implementando pesquisas relacionadas aos recursos minerais e à
biodiversidade associada no Atlântico Sul. Ressalta-se que a autorização da ISA
para a execução do PT de exploração de recursos minerais da ERG garante direitos
exclusivos, impedindo que outros países ou empresas estrangeiras apresentem
documento semelhante.
A escolha de sulfetos polimetálicos como segunda prioridade é a decorrente
do fato de que tais recursos ocorrem associados a organismos de interesse
biotecnológico de alto valor comercial. Portanto, a pesquisa simultânea dos dois
recursos seria mais atrativa para as agências financiadoras. As conclusões
apresentadas estão expostas no Quadro 2 do Anexo (CENTRO, 2013).
As amostras de granito coletadas durante a expedição científica - IATÁ
PIÚNA - na ERG, semelhantes às existentes no Rio de Janeiro, indicam a
possibilidade de a mesma ter sido formada em áreas continentais. Com a
exploração mais detalhada da região e, caso confirmada a hipótese de a ERG ser
um prolongamento natural do território terrestre, uma nova proposta de extensão da
PC jurídica brasileira que incluiria parte da ERG pode ser gerada, pelo critério
restritivo de 100 milhas marítimas da isóbara de 2.500 m (Art. 76 (5) da CNUDM)
(ORGANIZAÇÃO, 2010). A Figura 9 do Anexo apresenta o mapa batimétrico da
50

Plataforma Continental brasileira, com destaque para o perfil de profundidades que


mostra a ERG.

6.2 ASPECTOS ECONÔMICOS

Segundo Souza et al. (2007), o interesse econômico pelos recursos minerais


da área internacional dos oceanos foi comprovado na década de 1950, quando foi
analisada por Mero, pesquisador da Universidade de Berkeley, EUA, a rentabilidade
dos depósitos de nódulos polimetálicos localizados no leito marinho, sendo
verificado que:
- o teor de níquel dos nódulos era igual ou superior àquele das jazidas
terrestres lateríticas pobres, que vinham sendo aproveitadas;
- o teor de cobre dos nódulos era superior àquele dos porfiritos cupríferos já
explorados à época;
- o teor de cobalto dos nódulos era similar àquele de certos depósitos em
fase de produção; e
- o teor de manganês dos nódulos equiparava-se àquele das jazidas
australianas, que estavam em vias de ser aproveitadas.
A importância econômica dos recursos minerais dos fundos marinhos está
diretamente relacionada ao que a mineração representa para a economia e a
competitividade desses recursos, frente a outras fontes de suprimento disponíveis. A
contribuição da mineração para a economia é indiscutível, seja como produtora de
riquezas, seja como geradora de insumos e infraestrutura para outros segmentos
(BORGES, 2007).
Especificamente sobre a competitividade, a importância desses recursos
será tanto maior quanto mais escassas forem as outras fontes e mais avançada a
tecnologia para a viabilização da exploração, em bases sustentáveis e
ambientalmente seguras. De um modo geral, a escassez é a força propulsora do
progresso tecnológico e é avaliada entre a demanda e a oferta de bens necessários
aos padrões de qualidade de vida das pessoas (BORGES, 2007).
Portanto, serão analisados os metais das crostas cobaltíferas de existência
na ERG.
Levantamentos preliminares realizados pela CPRM na ERG indicaram a
presença de níquel, platina, manganês, tálio e telúrio. Também há indícios de metais
51

de terras-raras como o cério e o európio, importantes na indústria da computação e


em painéis solares (COMISSÃO, 2013b).
O cobalto é um metal que ocorre associado ao níquel, em depósitos de
origem magmática. No Brasil, há reservas conhecidas em Niquelândia e Americano
do Brasil, no Estado de Goiás. As reservas brasileiras são pouco representativas no
contexto internacional, onde o Canadá, África do Sul e Rússia dominam (BORGES,
2007).
O níquel é utilizado em mais de trezentos mil produtos de consumo, sendo
que por volta de 65% do níquel produzido é empregado na fabricação de aço
inoxidável, 20% em metais e ligas não metálicas, nas indústrias especializadas, e
para fins militares e aeroespaciais, 9% em galvanização e os outros 6% nos mais
variados itens, incluindo moedas, pilhas recarregáveis, eletrônicos, baterias, botões,
bijuterias, torneiras e muitas outras coisas. Diante dessa enorme diversidade de
usos industriais a que se serve, fica evidente que o níquel é um metal imprescindível
à sociedade industrial moderna e de uma importância estratégica para muitos países
(MAGALHÃES, 2007). Ainda segundo Borges (2007), dois fatores adicionam
especial foco no níquel: a elevação dos preços em relação aos praticados no início
do século (chegaram a atingir preços superiores a US$ 40 mil em 2007, em relação
a US$ 3 mil em 2001 e hoje se situando próximo de US$ 10 mil (INDEX, 2015)) e o
crescente interesse prospectivo por parte de grandes conglomerados mineiros e de
empresas juniores.
A platina é um elemento químico escasso, empregada principalmente na
fabricação de eletrodos, como matéria prima em joalherias e em diversas aplicações
na medicina. Este elemento também é largamente utilizado como catalisador em
reações químicas. A indústria de joias responde por 51% da demanda total por esta
commodity14, enquanto que a indústria automobilística (29%) e a indústria petro-
química (13%) respondem pelo restante. A sua utilização na indústria de
computação e de eletrônica high-tech também é destacada, já que é platina é um
excelente condutor de eletricidade, que não corrói e possui baixa reatividade com
outros metais. Estes últimos setores respondem por 7% da demanda global deste
metal de transição. Devido a sua escassez (baixa oferta), a platina é mais valiosa do
que o ouro e a prata, embora não seja tão cobiçada (baixa demanda). Encontrada

14 O Glossário apresenta a definição de commodity.


52

principalmente em areias de rios e em jazidas da Alemanha Oriental. As maiores


reservas mundiais de platina estão na Rússia, África do Sul, Colômbia, Canadá,
Sumatra e Bornéo. Em menor quantidade, esta commodity é encontrada nos
Estados Unidos (Califórnia) e no Brasil (Minas Gerais) (ADVFN, 2015).
O manganês é um metal encontrado no território brasileiro principalmente
nos estados do Pará, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. É considerado essencial
para a produção do aço devido à sua propriedade de dessulfurização (retirada de
enxofre). Outras aplicações deste metal incluem componentes de pilhas e insumos
para a indústria química (adubos, ração). A África do Sul é o maior produtor mundial,
seguida da Austrália e China. O Brasil está em quinto lugar na relação de maiores
produtores globais, apesar das reservas brasileiras serem inexpressivas no contexto
global (SANTANA, 2014). A impossibilidade de substituição do manganês em sua
aplicação principal, sua concentração no Estado do Pará, aliado à sua abundância
em fundos oceânicos são indicadores da relevância deste metal para o País
(BORGES, 2007).
O tálio é um metal raro e tóxico. Até uma descoberta na Bahia, os únicos
produtores de tálio eram a China e o Cazaquistão. As aplicações mais comuns são
ligadas ao setor de inseticidas e venenos para roedores (hoje, é proibido o uso do
sulfato de tálio para tais). Porém, pode-se utilizar o tálio como aditivo de vidros
especiais (com elevados índices de refração, quando sob forma de óxidos), para
produção de alguns fusíveis (junto ao chumbo), ou até mesmo para diagnóstico de
doenças coronárias e detecção de tumores. Também é utilizado nos estudos de
supercondutores em altas temperaturas e outras áreas da eletrônica (como
armazenadores de energia). Cotado na faixa de US$ 6 o grama, o tálio é um mineral
de alto valor agregado, utilizado em indústrias que adotam tecnologia de ponta
(ITAOESTE, 2012).
O Telúrio é um elemento relativamente raro, pertence à mesma família
química do oxigênio, enxofre, selênio e polônio. Os maiores produtores mundiais
deste elemento são os EUA, Canadá, Japão e Peru. É usado principalmente em
ligas metálicas e como semicondutor15.

15
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Telúrio>. Acesso em: 15 out. 2015.
53

6.3 ASPECTOS CIENTÍFICO-TECNOLÓGICOS

A exploração de recursos minerais em grandes profundidades envolve a


capacidade não só de submersão a tais profundezas com segurança, mas também
de uma coleta seletiva, de maneira a não impactar o meio ambiente sensível e
desconhecido.
Estados estão fazendo altos investimentos em pesquisa e tecnologias de
exploração em águas profundas e aplicando grandes esforços para assegurar o
direito de mineração de três compostos presentes na chamada Área: crostas
cobaltíferas (crostas de manganês enriquecidas por cobalto); nódulos polimetálicos
(formações rochosas ricas em níquel, cobalto, cobre, ferro e manganês); e sulfetos
polimetálicos (ricos em ferro, zinco, prata, cobre e ouro).
O desenvolvimento de mini submarinos de pesquisa em grandes
profundidades tem seduzido investidores milionários de visão, como Richard
Bronson, fundador do “império” VIRGIN, e Eric Schmidt, presidente executivo da
GOOGLE, atraídos pelo lucro que poderá ser obtido (ALVIM, GUIMARÃES,
FERNANDES, 2013). A exploração do Mar Profundo envolve múltiplos interesses,
como o estudo da vida em fontes hidrotermais pela biologia; a pesquisa e
explotação de riquezas minerais; e a busca por “tesouros” perdidos como antigos
navios com riquezas naufragados.
O Brasil é um dos pioneiros e líderes na exploração do petróleo em águas
profundas. O desafio da exploração do pré-sal envolve a necessidade de vencer, em
alguns casos, profundidades de 7.000 m, dos quais 2.000 m de água e 5.000 m de
subsolo, incluindo 2.000 m de camada de sal. Para isso, a PETROBRAS emprega
um elevado número de submersíveis chamados veículos de operação remota (VOR)
visando, entre outros serviços, à permanente inspeção ao longo dos dutos
submarinos fundamentais à explotação do petróleo no mar. Tamanho o interesse
que existe no País, pelo menos uma empresa com capacidade técnica de fabricar
submersíveis e cerca de dez Universidades nacionais encontram-se realizando
trabalho de pesquisa e desenvolvimento relacionados ao assunto (ALVIM,
GUIMARÃES, FERNANDES, 2013; CENTRO, 2014).
Porém, a necessidade maior é a de um veículo de imersão profunda (VIP),
com capacidade para três ou quatro tripulantes, objetivando a realização de
54

pesquisas científicas, bem como atividades de prospecção, exploração e apoio à


produção mineral, aí incluindo o petróleo.
A disponibilidade de um Navio Hidro Oceanográfico (NHOc) nacional, capaz
de apoiar um VIP também nacional para a realização de trabalhos, passa a ser de
vital importância estratégica para o País, pois se evitaria a dependência de veículos
estrangeiros. Segundo Alvim (2013), são conhecidos, hoje, os seguintes VIP, com
profundidades máximas de operação indicadas entre parênteses:
1- dos EUA – ALVIM (4.500 m) e TRIESTE (11.000 m);

2- da Rússia – KONSUL (6.500 m) e MIR (6.000 m);

3- do Japão – SHINKAI (6.500 m);

4- da China – JIAOLING (7.500 m); e

5- da França – NAUTILE (6.000 m).

A tecnologia de fabricação e o conhecimento da operação desses VIP são


restritas a esses países (ALVIM, 2013).
Considerando que 95% dos oceanos têm profundidades inferiores a 6.000
m, verifica-se facilmente a importância de desenvolvimento de tecnologia autóctone
para a explotação de recursos minerais até essas profundidades (SOUZA et al.,
2007).
Com o apoio da VALE, PETROBRAS, MCTI e MD/MB, foi construído na
China e incorporado à MB, em 2015, o Navio de Pesquisa Hidroceanográfico
(NPqHO) Vital de Oliveira. Com 78 metros de comprimento, 3.500 toneladas de
deslocamento, cinco laboratórios e com um VOR que tem capacidade de chegar a
4.000 m de profundidade, o Navio apresenta habilidade especial para realizar
pesquisas dos recursos minerais no fundo do mar. Basta saber se o mesmo
acomodaria um VIP nacional.
Além do VOR SPERRE 6500 dotado no mais moderno NPqHO do Brasil, a
MB adquiriu recentemente um veículo submersível para o Instituto de Estudos do
Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) e está em processo de obtenção de um VOR
REMUS 100 para o Centro de Hidrografia da Marinha (CHM).
A vigência do Acordo estratégico entre Brasil e França para a construção de
submarinos poderia ser estendido de maneira a englobar como objeto a obtenção do
VIP nacional. A necessidade de calor e força motriz é um dos obstáculos na
55

exploração de recursos minerais nas profundezas marinhas. O emprego da energia


nuclear para essas aplicações, advinda da capacitação tecnológica adquirida com o
desenvolvimento do submarino de propulsão nuclear, poderia ser uma revolução
tecnológica na exploração do Mar Profundo (ALVIM, GUIMARÃES, FERNANDES,
2013).
Em face do acima exposto, fácil entender e concordar com Christante (2010)
quando relata o posicionamento do geólogo brasileiro Kaiser G. de Souza, que
trabalhou por sete anos na ISA, “a pesquisa de recursos minerais no solo marinho
em altas profundidades só perde em complexidade científica e tecnológica para as
missões espaciais.”
56

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho apresentou-se a relevância do Mar para o


desenvolvimento humano, segundo o constructo do renomado Professor britânico
Geoffrey Till. De acordo com sua lógica, a importância do Mar pode ser explicada
pelas suas características, que interagem entre si e atuam como fontes de
cooperação e disputas. Sempre empregando exemplos, buscou-se caminhar pelos
espaços brasileiros e o Atlântico Sul. Com maior foco na característica do Mar como
fonte de riquezas, em especial de recursos não vivos, mostrou-se recentes
pensamentos de estudiosos sobre como essa competição por recursos pode gerar
conflitos.
Procurou-se então verificar, por meio do histórico de expedições científicas,
inicialmente as mais famosas nos oceanos da Terra, e depois focando nas
expedições do Atlântico Sul e nas Águas Jurisdicionais Brasileiras. Verificou-se a
evolução histórica do estudo da oceanografia e geologia, a formação profissional e o
apoio governamental e empresarial para o desenvolvimento dessas áreas do
conhecimento, fundamentais para o entendimento dos oceanos e seus recursos.
Comprovou-se a dependência tecnológica nacional de navios de pesquisa
estrangeiros para a exploração dos fundos marinhos em maiores profundidades
onde se encontram nódulos polimetálicos, sulfetos polimetálicos e crostas
cobaltíferas. Concluiu-se que a localização e conhecimento dos recursos existentes
nas regiões identificadas no texto são compartilhadas com países mais
desenvolvidos, alguns exógenos ao Atlântico Sul.
Em seguida, investigou-se a moldura legal que se insere a exploração de
recursos na Elevação do Rio Grande, considerando-se inicialmente que a mesma se
situa na região conhecida como Área pela CNUDM. Observou-se que o art. 76 § 5º
combinado com o § 6º da CNUDM prevê a possibilidade de parte da ERG ser
incluída na Plataforma Continental jurídica brasileira, caso se confirme a hipótese de
ela ser parte do território terrestre do País (ORGANIZAÇÃO, 2010).
Verificou-se que a questão da mineração da Área foi uma das mais
debatidas antes da formulação final da Convenção por envolver interesses
econômicos de estados mais desenvolvidos. O princípio de ser a Área patrimônio
comum da humanidade e a transferência de tecnologia para a mineração em fundos
57

marinhos foram pontos que só foram aceitos pelas grandes potências com o Acordo
relativo à Implementação da Parte XI da CNUDM. Mostrou-se que esse Acordo
mitigou a questão beneficiando os países centrais, pois reforçou os poderes e papel
da ISA, estabelecendo diretrizes que favorecem os interesses financeiros dos países
mais desenvolvidos e tornando a transferência de tecnologia não mandatória
(ORGANIZAÇÃO, 2010).
Examinou-se então os Códigos de Mineração da ISA e o número de pedidos
de exploração, e observou-se que uma corrida internacional para a requisição de
sítios de exploração mineral na Área pelas melhores regiões está acontecendo. Em
tese, os primeiros pedidos aprovados ocuparão espaços de maior potencial.
Especificamente no Regulamento para Prospecção e Exploração de Crostas
Ferromanganesíferas Ricas em Cobalto, verificou-se os limites da área a ser
explorada, a exclusividade da exploração e o período da concessão.
Estudou-se então as políticas públicas relacionadas com o tema e observou-
se a relevância da coordenação da CIRM e a existência de suporte legal para o
desenvolvimento de pesquisas cientificas no mar, incluindo a significante questão da
formação de recursos humanos e a existência de um Programa específico que apoio
o projeto de prospecção e exploração de recursos minerais na ERG. Da PND
verificou-se que os recursos na PC são Objetivos Nacionais de Defesa. O mesmo
documento orienta que o País deve dispor de meios adequados para a garantia
desse seu patrimônio (BRASIL, 2013). Procurou-se então propor que tipo de
capacidades esses meios devem possuir. Também foi observado que as políticas
públicas evidenciam o interesse brasileiro em expandir sua zona de influência
político-econômica e empreender uma inserção internacional mais ativa. A própria
execução do Plano de Trabalho para a exploração na ERG propiciará ao País
exercer papel destacado nas pesquisas do Atlântico Sul, contribuindo para maior
inclusão brasileira no cenário internacional e fortalecendo a ZOPACAS, uma vez que
o Contrato de Exploração com a ISA assegurará direito exclusivo de exploração por
um período de quinze anos.
Cumpre destacar que, ao buscar projetar-se de forma mais incisiva sobre o
Atlântico Sul, o Brasil estende sua esfera de atuação para fora do âmbito regional e
entra em uma órbita de ação onde a dinâmica do sistema interestatal capitalista é
mais competitiva (BROZOSKI, 2013).
58

A seguir, mostrou-se que o Plano de Trabalho para a exploração de Crostas


Ferromanganesíferas Ricas em Cobalto na ERG apresentado à ISA para aprovação,
foi preparado pela CPRM, órgão do MME, analisado sob o enfoque técnico no
Comitê Executivo do PROAREA e aprovado em Resolução da CIRM (COMISSÃO,
2013b). Este documento tramitou por cinco Ministérios em menos de dois meses
antes da aprovação da Presidência da República para sua submissão à ISA. Por
estar aderente ao respectivo Código, o Plano de Trabalho foi aprovado em julho de
2014 em Conselho do Órgão da ONU. Fato este destacado na Mensagem da
Presidente da República ao Congresso Nacional em 2015. A celeridade na
aprovação do documento reflete uma grande preocupação para o Brasil, a de
impedir que outro país, ou empresa estrangeira, apresente um Plano de Trabalho
semelhante para exploração de recursos minerais naquela região, o que dificultaria
a execução de projetos importantes para o País. Cabe ressaltar que nos últimos
anos diversos países vêm desenvolvendo atividades de pesquisa no Atlântico Sul,
com destaque para a China, a Alemanha e a França.
Por final, destacou-se a importância da exploração da ERG, focando-se
inicialmente nos aspectos geopolíticos e estratégicos, seguindo-se pelos aspectos
econômicos e científico tecnológicos.
Dentre os tópicos apresentados nos aspectos geopolíticos e estratégicos
ressalta-se: a maior inserção do País no cenário internacional; o fortalecimento da
ZOPACAS, a restrição para que outro país ou empresa explore a região evitando até
mesmo uma interferência em uma importante Linha de Comunicação Marítima
brasileira.
Referente aos aspectos econômicos que imprimem importância à
exploração da ERG destacou-se: desde a década de 1950 já se conhece a possível
rentabilidade gerada pela exploração e explotação de recursos minerais em fundos
marinhos; a tendência à escassez e o aumento da procura por esses recursos
incrementaram sua importância econômica; a cesta de minerais existentes na ERG
alimenta indústrias imprescindíveis à sociedade moderna. A ocorrência de metais
raros como a Platina, o Tálio e o Telúrio, com acentuados valores comprovados e
ainda a existência de metais de terra-rara como o Cério e Európio, em menor
escala, mas de acentuada relevância por serem empregados em supercondutores,
incentivam a exploração e explotação na ERG.
59

Quanto aos aspectos científicos tecnológicos, destacou-se a importância no


domínio da tecnologia da mineração em fundos marinhos nas altas profundidades,
reconhecendo sua elevada complexidade; o interesse de investidores em mini
submarinos com o desejo de lucro; o conhecimento e a capacitação da
PETROBRAS na operação de um VOR e o interesse da indústria nacional, da
academia e da MB nestes veículos. Iluminou-se o mérito do desenvolvimento de
tecnologia autóctone para a construção de VIP que operam em profundidades
superiores a 6.000 m, já que 95% dos oceanos têm profundidades inferiores a essa.
Apresentou-se o moderno NPqHO Vital de Oliveira, recentemente
construído e incorporado à MB, que em muito contribuirá para as pesquisas
científicas brasileiras.
Apontou-se a sugestão de Alvim, Guimarães e Fernandes (2013) para o
aproveitamento do Acordo estratégico entre Brasil e França para a construção de
submarinos para estendê-lo para a obtenção do VIP nacional.
Assim, o desenvolvimento de tecnologia marinha tem possibilitado a
exploração dos oceanos em áreas cada vez mais profundas. No âmbito regional e
internacional, um componente político-estratégico importante para os países que
queiram ampliar sua influência na área internacional dos oceanos. A cooperação
com os países que detêm tecnologia mais avançada, que já realizam estudos em
áreas profundas, é recomendável.
A distribuição desigual desses recursos nos continentes e a preocupação
com as questões ambientais parecem convergir para o aumento das expectativas de
sua exploração no oceano. O avanço tecnológico obtido no campo do petróleo e a
grande área marítima de jurisdição nacional resultante da CNUDM são dois fatores
que também estimulam tal exploração.
Por fim, cumpre destacar a pertinente afirmação de Souza et al. (2007), que
sintetiza com propriedade o envolvimento da segurança e da defesa nacional com o
tema:

Os oceanos constituem as últimas fronteiras políticas, estratégicas e


econômicas do planeta. É importante ter em mente que as empresas que
reivindicarem áreas de mineração oceânica deverão também poder contar
com a proteção das forças armadas de seus países de origem, o que pode
modificar o equilíbrio militar em vários oceanos.
60

REFERÊNCIAS

ADVFN. Platina. [S.I.], 2015. Disponível em: <http://br.advfn.com/commodities


/platina.html>. Acesso em: 15 out. 2015.

ALVIM, C. F.; GUIMARÃES, L.S.; FERNANDES, L. P. C. A nova fronteira: o mar


profundo. Revista Economia e Energia, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 89, p. 24-49,
abr./ jun. 2013. Disponível em: <http://www.ecen.com/eee89/eee89p/eee89para
web.pdf>. Acesso em 12 abr. 2015.

BORGES, L. Aspectos econômicos dos recursos minerais marinhos. In: CGEE


Estudo do mar: importância econômica, política e estratégica dos recursos minerais
da Plataforma Continental Brasileira e áreas oceânicas adjacentes. Parcerias
Estratégicas. Brasília, DF: n. 24, p. 191-230, ago. 2007.

BRASIL. Atlas geográfico das zonas costeiras e oceânicas do Brasil. Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Rio de Janeiro, RJ, 2011. 176 p.

_____. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:


Presidência da República. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 15 maio 2015.

_____. Decreto Legislativo n. 373, de 26 de setembro de 2013. Aprova a Política


Nacional de Defesa, a Estratégia Nacional de Defesa e o Livro Branco de Defesa
Nacional, encaminhados ao Congresso Nacional pela Mensagem n. 83, de 2012.
Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 2013. Disponível em: <http://www.camara.
gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=569391>. Acesso em: 15
maio 2015.

_____. Decreto n. 74.557, de 12 de setembro de 1974. Cria a Comissão


Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM) e dá outras providências. Brasília,
DF: Presidência da República, 1974. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br
/ccivil_03/decreto/Antigos/D74557.htm/>. Acesso em 12 abr. 2015.

_____. Decreto n. 1265, de 11 de outubro de 1994. Aprova a Política Marítima


Nacional (PMN). Brasília, DF: Presidência da República, 1994. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D1265.htm>. Acesso em 12
abr. 2015.

_____. Decreto n. 1.530, de 22 de junho de 1995. Declara a entrada em vigor da


Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, concluída em Montego Bay,
Jamaica, em 10 de dezembro de 1982. Brasília, DF: Presidência da República,
1995. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1995/D1530.htm
>. Acesso em 12 abr.2015.

_____. Decreto n. 3.939, de 26 de setembro de 2001. Dispõe sobre a Comissão


Interministerial para os Recursos do Mar e dá outras providências. Brasília, DF:
61

Presidência da República, 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br


/ccivil_03/decreto/2001/D3939.htm>. Acesso em 12 abr.2015.

_____. Decreto n. 5.377, de 23 de fevereiro de 2005. Aprova a Política Nacional


para os Recursos do Mar - PNRM-. Brasília, DF: Presidência da República, 2005.
Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/>. Acesso em12 abr. 2015.

_____. Decreto n. 6.678, de 8 de dezembro de 2008. Aprova o VII Plano Setorial


para os Recursos do Mar. Brasília, DF: Presidência da República, 2008a. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6678.htm/
>. Acesso em 02 maio 2015.

_____. Lei no 8.617, de 4 de janeiro de 1993. Dispões sobre o mar territorial, a


zona contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma continental e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1993. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8617.htm/>. Acesso em 2 maio 2015.

_____. Mensagem ao Congresso Nacional. Brasília, DF: Presidência da


República. Disponível em: <http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-o-
planalto/mensagem-ao-congresso>. Acesso em: 02 maio 2015.

_____. Ministério de Minas e Energia. Anuário Mineral Brasileiro. Brasília, DF,


2010.

BROZOSKI, Fernanda Pacheco de Campos. A revalorização geopolítica e


geoeconômica do Atlântico Sul no sistema internacional. 2013. 115 f.
Dissertação (Mestrado em Economia Política Internacional) – Programa de Pós-
Graduação em Economia Política Internacional - Instituto de Economia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

CASTRO, Therezinha de. Geopolítica, princípios, meios e fins. Rio de Janeiro:


Bibliex, 1999.

CENTRO DE EXCELÊNCIA PARA O MAR BRASILEIRO (CEMBRA). O Brasil e o


mar no século XXI: relatório aos tomadores de decisão no País. Coordenação e
preparação Luiz Philippe da Costa Fernandes. Niterói, 2013. Edição virtual.
Disponível em: <http://www.cembra.org.br/segundo-projeto.html>. Acesso em: 12
maio 2015.

CHRISTANTE, Luciana. A era da mineração marinha. Uspciência, jun, 2010.


Disponível em: <http://www.unesp.br/aci_ses/revista_unespciencia/acervo/10/a-
nova-corrida- do-ouro>. Acessado em: 10 maio 2015.

CLENELL, Michael B., Hidrato de gás submarino: natureza, ocorrência e


perspectivas para exploração na margem continental brasileira. Revista
Brasileira de Geofísica, Salvador, v.18, n.3, p. 398-410, 2000. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbg/v18n3/a13v18n3.pdf>. Acesso em: 24 maio 2015.
COMISSÃO INTERMINISTERIAL PARA OS RECURSOS DO MAR - CIRM (Brasil).
VIII Plano Setorial para os Recursos do Mar (2012-2015). Brasília, DF, 2011a.
62

Anexo 1 da Resolução 6-2011 da CIRM. Disponível em: <http://www.mar.mil.br


/cirm/documentos/atas/resolucao-6-2011-anexo1.pdf>. Acesso em: 29 maio 2015.

_____.Atlântico Sul – nova fronteira do conhecimento: um novo marco na história da


cooperação Brasil /Japão. InfoCIRM, Brasília, DF, p. 14-15, maio/ago. 2013a.
Disponível em: <https://www.mar.mil.br/secirm/publicacoes/infocirm/2013/infocirm-
mai-ago-2013.pdf>. Acesso em: 29 maio 2015.

_____. Prospecção e Exploração de Recursos Minerais da Área Internacional


do Atlântico Sul e Equatorial. 2009. Disponível em: <https://www.mar.mil.br/
secirm/portugues/proarea.html>. Acesso em 29 maio 2015.

_____. PROAREA realiza coletas de rochas na Elevação do Rio Grande. InfoCIRM,


Brasília, DF. V.3, n.2, p.2, maio/ago. 2011b. Disponível em: <https://www.mar.mil.br
/secirm/publicacoes/infocirm/2011/infocirm-mai-ago-2011.pdf>. Acesso em: 29 maio
2015.

_____. Resolução nº 6, de 2011, que aprova o VIII Plano Setorial para os Recursos
do Mar (VIII PSRM). Brasília, DF, 2011c. Disponível em: <http://www.mar.mil.br/cirm
/documentos/atas/ata179.pdf>. Acesso em: 29 maio 2015.

_____. Resolução nº 8, de 9 de outubro de 2013, que aprova, sob o enfoque


técnico, a proposta do "Plano de Trabalho para Exploração de Crostas Ferro-
manganesíferas Ricas em Cobalto na Elevação do Rio Grande", a ser apresentada
à Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA). Brasília, DF, 2013b.
Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/60230470/dou-secao-1-11-10-
2013-pg-10>. Acesso em: 29 maio 2015.

COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS - CPRM (Brasil). Brasil


apresenta na Jamaica proposta de exploração mineral em águas internacio-
nais do Atlântico Sul. Rio de Janeiro, 19 fev. 2014. Seção Notícias. Disponível em:
<http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=3019&sid =48>.
Acesso em: 29 maio 2015.

GEOLOGIA Marinha e Costeira: A Elevação do Rio Grande. A Elevação do Rio


Grande. 2011. Disponível em: <http://geologiamarinha.blogspot.com.br/2011/02
/elevacao-do-rio-grande.html>. Acesso em: 18 jul. 2015.

GEOLOGIA Marinha: Elevação do Rio Grande. IN: CPRM, Seção Dados e


Produtos. 2009. Disponível em:<http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/
start.htm?infoid=1206&sid=9>. Acesso em 18 maio 2015.

INDEX MUNDI. Níquel: Preço Mensal. [S.I.],2015. Disponível em: <http://


www.indexmundi.com/pt/preços-de-mercado/?mercadoria =níquel&meses=180>.
Acesso em: 16 out. 2015.

INTERNATIONAL SEABED AUTHORITY - ISA. Regulations on prospecting and


exploration for cobalt-rich ferromanganese crusts in the Area. Kingston,
Jamaica, 27 July 2012. Decision of the Assembly of the International Seabed
63

Authority. Disponível em: <https://www.isa.org.jm/sites/default/files/files/documents/


ISA-18a-11_0.pdf>. Acesso em: 24 maio 2015.

ITAOESTE SERVIÇOS E PARTICIPAÇÕES LTDA (Org.). ITAOESTE negocia


parceria em tálio. São Paulo, 2012. Disponível em: <http://itaoeste.com.br/2012-03-
br.html>. Acesso em: 15 out. 2015

LEITE, Carlos Roberto. A Exploração da Elevação do Rio Grande. [mensagem


pessoal] Mensagem recebida por: <wieland@esg.br>. Em: 26 mar. 2015.

MAGALHÃES, Luiz Fernando. NÍQUEL: UMA RIQUEZA DE GOIÁS. [S.I.],2007.


Disponível em: <http://www.imb.go.gov.br/pub/conj/conj5/03.htm>. Acesso em: 15
set. 2015.

MARTINS, Luiz Roberto Silva. Aspectos científicos dos recursos minerais marinhos.
Parcerias Estratégicas, Brasília, n. 24, 2007, Centro de Gestão e Estudos Estraté-
gicos.

MEIRA MATTOS, Carlos. O novo Direito do mar. Rio de Janeiro: ESG, 2001.

_____ .Os novos limites dos espaços marítimos nos trinta anos da Convenção das
Nações Unidas sobre o Direito do Mar. In: BEIRÃO, A.P.; PEREIRA, A.C (orgs.).
Reflexões sobre a Convenção do Direito do Mar. Brasília, DF -: FUNAG, 2014.

MORAES, Rodrigo Fracalossi. Do mare liberum ao mare clausum: soberania


marítima e exploracão econômica das águas jurisdicionais e da Área. In: NASSER,
R. M.; MORAES, R. F. (orgs.). O Brasil e a segurança no seu entorno estraté-
gico: América do Sul e Atlântico Sul. Brasília, DF, Ipea, 2014. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_brasil_
segurança.pdf>. Acesso em: 12 maio 2015.

MORE, Rodrigo Fernandes. Reflexões sobre a formação de um pensamento


oceanopolítico brasileiro. In: BARBOSA JUNIOR, I.; MORE, R. F. (orgs.). Amazônia
Azul: política, estratégia e direito para o oceano do Brasil. Rio de Janeiro: FEMAR,
2012a.

_____, REIS, F. C. F. Os 30 anos da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito


do Mar – Desafios e elementos de reflexão para o Brasil. In: BARBOSA JUNIOR, I.;
MORE, R. F. (orgs.). Amazônia Azul: política, estratégia e direito para o Oceano do
Brasil. Rio de Janeiro: FEMAR, 2012b.

MOURA NETO, J. S. A política e as estratégias da Marinha do Brasil, Rio de


Janeiro, RJ, 2014a. Conferência proferida em 26 fev. 2014, na Escola de Comando
e Estado-Maior do Exército para o Curso Superior de Defesa, da Escola Superior de
Guerra.

_____. Prefácio. In: BEIRÃO, A.P.; PEREIRA, A.C (orgs.). Reflexões sobre a
Convenção do Direito do Mar. Brasília, DF: FUNAG, 2014b.
64

NYMAN, E. Oceans of conflict: determining potential areas of maritime disputes.


SAIS Review of International Affairs, Baltimore, MA, V. 33, p. 5-14, 2013.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Agreement relating to the


implementation of Part XI of the United Nations Convention on the Law of the
Sea of 10 December 1982.New York: General Assembly, 1994. Disponível em:
<http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/48/263>. Acesso
em: 29 maio 2015.

_____. Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Rio de Janeiro:
EGN, 2010. Disponível em: <https://www.egn.mar.mil.br/arquivos/cursos/csup/
CNUDM.pdf>. Acesso em: 29 maio 2015.

PEREIRA, Antônio C. A.; PEREIRA, João Eduardo A. A Liberdade do Alto-Mar −


Antecedentes Históricos dos Artigos De 87 A 90 da Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar. In: BEIRÃO, A.P.; PEREIRA, A.C (orgs.). Reflexões sobre a
Convenção do Direito do Mar. Brasília, DF: FUNAG, 2014c.

PETROCCHI, Renato. Imagens e histórias nas perspectivas transatlânticas


sobre o século XX. In: SILVA, F. C. T.; LEÃO, K. S. S.; ALMEIDA, F. E. A. (orgs.).
Atlântico: a história de um oceano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.

SANTANA, André Luiz. Manganês. Pará, 2014. Disponível em: <http://www.dnpm.


gov.br/dnpm/sumarios/manganes-sumario-mineral-2014>. Acesso em: 15 out. 2015.

SOUZA, Kaiser G. et al. Aspectos político-estratégicos dos recursos minerais da


Área internacional dos oceanos. Parcerias Estratégicas, Brasília, DF, n. 24, p. 95-
114, ago.2007.

TILL, G..Seapower: a guide for the twenty-first century. London: Frank Cass
Publishers, 2004.

VAZ, Alcides C..O Atlântico Sul nas perspectivas estratégicas de Brasil, Argentina e
África do Sul. Boletim de economia e política internacional. Brasília DF, n.6,
abr./jun. 2011, IPEA/Dinte.

WIESEBRON, Mariane L. A crescente importância dos oceanos no mundo


contemporâneo e as respectivas políticas do Brasil e da França. In: BARBOSA
JUNIOR, I.; MORE, R. F. (orgs.). Amazônia Azul: política, estratégia e direito para o
Oceano do Brasil. Rio de Janeiro: FEMAR, 2012.
65

GLOSSÁRIO

ÁGUAS JURISDICIONAIS BRASILEIRAS (AJB) - águas interiores e espaços


marítimos nos quais o Brasil exerce jurisdição, em algum grau, sobre atividades,
pessoas, instalações, embarcações e recursos naturais vivos e não vivos,
encontrados na massa líquida, no leito ou subsolo marinho, para os fins de controle
e fiscalização, dentro dos limites da legislação internacional e nacional. Esses
espaços marítimos compreendem a faixa de 200 milhas marítimas contadas a partir
das linhas de base, acrescida das águas sobrejacentes à extensão da Plataforma
Continental (PC) além das 200 milhas marítimas, onde ela ocorrer.

AMAZÔNIA AZUL® - termo inicialmente empregado Almirante de Esquadra Roberto


de Guimarães Carvalho na tentativa de alertar a sociedade da importância, não só
estratégica, mas também econômica, do imenso mar que nos cerca. Corresponde a
uma área de cerca de 4,5 milhões de km 2, o que equivale, aproximadamente, à
metade do território terrestre nacional, ou, ainda comparando as dimensões, a uma
nova Amazônia.

COMMODITY(IES) – artigos de comércio, bens que não sofrem processos de


alteração (ou que são pouco diferenciados), como frutas, legumes, cereais e alguns
metais. Como seguem um determinado padrão, o preço das commodities é
negociado na Bolsa de Valores Internacionais, e depende de algumas circunstâncias
do mercado, como a oferta e demanda.

CROSTA COBALTÍFERA - depósitos de óxido/hidróxido ferromanganesíferos ricos


em cobalto formados da precipitação direta de minerais da água do mar em
substratos duros contendo pequenas, mas significantes concentrações de cobalto,
titânio, níquel, platina, molibdênio, telúrio, cério, e outros metais e terras raras (ISA
18/A/11 p. 2).

DEFESA NACIONAL – conjunto de medidas e ações do Estado, com ênfase no


campo militar, para a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais
contra ameaças preponderantemente externas, potenciais ou manifestas.

EXPLOTAÇÃO - a recuperação com fins comerciais de crostas cobaltíferas na Área


e a extração de minerais da mesma, incluindo a construção e operação de sistemas
de mineração, processamento e transporte, para a produção e comercialização de
metais.

EXPLORAÇÃO - procura de depósitos de crostas cobaltíferas na Área com direitos


exclusivos, a análise de tais depósitos, o uso e testes de sistemas de recuperação e
equipamentos, instalações de processamento e sistemas de transporte e da
realização de estudos sobre o meio ambiente, técnica, econômica, fatores
apropriados comerciais e outros que devem ser levados em conta na exploração.

GUYOT - Elevação submarina cônica truncada, de seção circular ou elíptica, e topo


quase plano, situada, geralmente, em profundidade inferior a 180 m, podendo
apresentar 10 km a 100 km de diâmetro. Normalmente, é originário de monte
66

marinho, cujo topo foi aplainado por ação das ondas em condições de nível do mar
mais baixo. O mesmo que banco oceânico.

MARGEM CONTINENTAL - Conjunto formado pela plataforma, talude e o sopé


continental, podendo, essas margens, serem passivas ou ativas.
As margens passivas estão longe do limite da placa, como as costas leste da
América do Norte e da Austrália e a costa do Brasil. Nelas não existem vulcões e os
terremotos são poucos e distantes entre si.
Em contraste, as margens ativas, como a margem oeste da América do Sul, estão
associadas ao choque de placas com a sua consequente quebra e o mergulho de
uma delas sob a outra (zona de subducção), apresentando intensas atividades
sísmica e vulcânica.

PROSPECÇÃO - a pesquisa de depósitos de crostas cobaltíferas na ÁREA,


incluindo estimativa da composição, tamanhos e distribuições de depósitos dessas
crostas e seus valores econômicos, sem quaisquer direitos exclusivos.

SEGURANÇA – condição que permite ao País preservar sua soberania e


integridade territorial, promover seus interesses nacionais, livre de pressões e
ameaças, e garantir aos cidadãos o exercício de seus direitos e deveres
constitucionais.

Você também pode gostar