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ISOLADA COMEÇANDO DO ZERO

PROCESSO CIVIL DE ACORDO COM O NOVO CPC


AULA 20

Nesta aula 20 do nosso Curso Começando do Zero, dando seguimento à


análise dos procedimentos especiais, o nosso objetivo é abordar duas ações: ação de
interdição, prevista nos artigos 747 a 758 do CPC, e a ação de consignação em
pagamento, prevista nos artigos 539 a 549, CPC.

AÇÃO DE INTERDIÇÃO

1. Considerações iniciais

O ser humano adquire a personalidade com o nascimento com vida (colocando,


no entanto, a lei a salvo os direitos do nascituro). A partir do nascimento, portanto, ele
adquire a chamada capacidade de direito. Todavia, nem todos os seres humanos
possuem a chamada capacidade de fato. Os artigos 3º e 4º do Código civil tratam de
situações de incapacidade, as quais impedem certos sujeitos de poderem praticar, por
si só, os atos da vida civil, em virtude de causas ali especificadas. A incapacidade
resultante de idade é sanada pela lei, mediante aplicação do instituto da
representação atribuída aos pais ou tutores. As demais modalidades de incapacidade
serão sanadas através da aplicação do instituto da curadoria, constituída após
procedimento de interdição, regulado pelos artigos 747 e seguintes do CPC.

A interdição será cabível nas hipóteses mencionadas pela lei civil. Assim, o artigo
1.767 do Código Civil, com redação dada pela lei 13.146/2015 (Estatuto da pessoa
com deficiência), aponta que a interdição será decretada para aqueles que, por causa
transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade ou, ainda, para os
ébrios habituais, os viciados em tóxico bem como os pródigos.

É mister salientar que a simples condição de deficiente não gera a necessidade


de aplicação do instituto da curatela. Ora, a pessoa deficiente é plenamente capaz,
exercendo seus direitos em igualdade de condições com as demais pessoas, nos
termos do artigo 84 da Lei 13.146/2015 (Estatuto da pessoa com deficiência). Assim,
o deferimento de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva
extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e
durará o menor tempo possível.

2. Legitimidade

A ação de interdição pode ser promovida: I - pelo cônjuge ou companheiro; II -


pelos parentes ou tutores; III - pelo representante da entidade em que se encontra
abrigado o interditando; IV - pelo Ministério Público.

Ao ajuizar a demanda, a parte interessada acostará à petição inicial


documentação comprobatória da legitimidade.

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Ressalte-se que o Ministério Público só promoverá interdição em caso de doença


mental grave em duas hipóteses: I- se as pessoas mencionadas não existirem ou não
promoverem a interdição; ou II- se, existindo, forem incapazes.

Nas demandas de interdição, o Ministério Público intervirá como fiscal da ordem


jurídica.

3. Procedimento

 Petição inicial: incumbe ao autor especificar os fatos que demonstram a


incapacidade do interditando para administrar seus bens e, se for o caso, para praticar
atos da vida civil, bem como o momento em que a incapacidade se revelou. O
requerente deverá juntar laudo médico para fazer prova de suas alegações ou
informar a impossibilidade de fazê-lo.
 Curatela provisória: justificada a urgência, o juiz pode nomear curador
provisório ao interditando para a prática de determinados atos.
 Citação/entrevista: o interditando será citado para, em dia designado,
comparecer perante o juiz, que o entrevistará minuciosamente acerca de sua vida,
negócios, bens, vontades, preferências e laços familiares e afetivos e sobre o que
mais lhe parecer necessário para convencimento quanto à sua capacidade para
praticar atos da vida civil, devendo ser reduzidas a termo as perguntas e respostas.
Não podendo o interditando deslocar-se, o juiz o ouvirá no local onde estiver.
A entrevista poderá ser acompanhada por especialista. Durante a mesma, é
assegurado o emprego de recursos tecnológicos capazes de permitir ou de auxiliar o
interditando a expressar suas vontades e preferências e a responder às perguntas
formuladas. A critério do juiz, poderá ser requisitada a oitiva de parentes e de pessoas
próximas.
 Impugnação: dentro do prazo de 15 (quinze) dias contado da entrevista, o
interditando poderá impugnar o pedido.
 Perícia: decorrido o prazo para impugnação, o juiz determinará a produção
de prova pericial para avaliação da capacidade do interditando para praticar atos da
vida civil. A perícia pode ser realizada por equipe composta por expertos com
formação multidisciplinar.
O laudo pericial indicará especificadamente, se for o caso, os atos para os quais
haverá necessidade de curatela.
Apresentado o laudo, produzidas as demais provas e ouvidos os interessados, o
juiz proferirá sentença.
 Sentença: na sentença que decretar a interdição, o juiz: I - nomeará curador,
que poderá ser o requerente da interdição, e fixará os limites da curatela, segundo o
estado e o desenvolvimento mental do interdito; II - considerará as características
pessoais do interdito, observando suas potencialidades, habilidades, vontades e
preferências.

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A curatela deve ser atribuída a quem melhor possa atender aos interesses do
curatelado.

Havendo, ao tempo da interdição, pessoa incapaz sob a guarda e a


responsabilidade do interdito, o juiz atribuirá a curatela a quem melhor puder atender
aos interesses do interdito e do incapaz.

Quanto às formalidades, a sentença de interdição será inscrita no registro de


pessoas naturais e imediatamente publicada na rede mundial de computadores, no
sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho
Nacional de Justiça, onde permanecerá por 6 (seis) meses, na imprensa local, 1 (uma)
vez, e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, constando
do edital os nomes do interdito e do curador, a causa da interdição, os limites da
curatela e, não sendo total a interdição, os atos que o interdito poderá praticar
autonomamente.

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

1. Considerações iniciais

Em uma dada relação jurídica obrigacional, sendo atingida a data do


vencimento para a entrega de coisa ou para o pagamento de quantia, é comum
contemplarmos o recebimento do objeto ou quantia em questão e, por conseguinte, a
quitação regular (emissão de recibo, por ex.), de forma a liberar o devedor da, agora,
extinta obrigação.
Ocorre que determinadas circunstâncias acidentais (divergência quanto ao
valor, dúvida quem se deva pagar, negativa de entrega de recibo, etc.) podem fazer
com que surja a necessidade de se proceder com a medida de consignação, judicial
ou extrajudicial, como forma de desonerar aquele que deve e não está podendo
exercer o seu direito de se desvincular da obrigação a qual está atado.
Vê-se, portanto, que existe um conflito de interesses, a ser solucionado
mediante instrumentos legais (judiciais ou extrajudiciais) de pacificação social.

2. Definição

A consignação é o procedimento, judicial ou extrajudicial, para a obtenção


pelo autor, de quitação de dívida naquelas hipóteses em que o credor se nega a
receber a coisa ou o dinheiro, ou ainda quando o devedor não sabe a quem pagar.
Com a quitação, o devedor busca evitar a mora e os seus efeitos.
Vê-se, assim, que não apenas o credor tem o direito de receber, como também
o devedor tem o direito de pagar, exatamente para evitar os efeitos da mora (juros,
correção monetária, multa, etc.)

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3. Espécies de Consignação

 Extrajudicial: com o escopo de garantir a pacificação social e, ao mesmo


tempo, evitar assoberbar ainda mais o judiciário, o legislador previu a consignação
extrajudicial como forma alternativa de solução de conflitos. O procedimento consiste
no depósito de quantia em instituição bancária oficial, em conta com correção
monetária, com a posterior notificação do credor, mediante aviso de recebimento, para
que o mesmo tome ciência e se manifeste, no prazo de 10 (dez) dias, acerca do
depósito efetuado.
Embora haja divergência, temos que é indicado seja a correspondência
emitida pelo representante do estabelecimento bancário, haja vista a maior segurança
que o ato proporciona.

Feita a notificação, o credor poderá tomar as seguintes atitudes:

1) comparecer perante o estabelecimento e levantar o depósito efetuado


(aceitação expressa), com a consequente liberação do devedor da obrigação;
2) deixar escoar o prazo de manifestação de recusa (aceitação tácita), com a
consequente liberação do devedor;
3) efetuar o levantamento com ressalvas, dizendo não se tratar de depósito
integral, dando cabimento ao ingresso de ação judicial para a cobrança da diferença
que entenda ser devida;
4) manifestar a recusa por escrito, endereçada ao estabelecimento bancário,
no prazo de 10 (dez) dias, importando a ineficácia do depósito, não liberando o
devedor da obrigação.

 Judicial: no insucesso da tentativa extrajudicial, restará ao devedor ou ao


terceiro interessado ingressar com demanda judicial dentro de um mês, na qual
colacionará os documentos indispensáveis (prova do depósito e cópia da
correspondência com a recusa).
Não propondo a consignatória dentro do referido prazo, será necessário que
o autor, logo após autorização judicial, providencie novo depósito, haja vista que
aquele tornou-se sem efeito.

4. A Ação Judicial

A consignação é ação de conhecimento, de rito especial, para a obtenção pelo


autor, de quitação de dívida naquelas hipóteses em que o credor se nega a receber a
coisa ou o dinheiro, ou ainda quando o devedor não sabe a quem pagar.
Relativamente à natureza da pretensão por ela veiculada, há controvérsia na
doutrina, sendo majoritária, no entanto, a posição que afirma se tratar de pretensão
do tipo declaratória.
Como ação especial, tem a mesma um rito legal próprio, previsto nos artigos
540 a 549, CPC, com especificidades em relação ao procedimento comumente
conhecido, senão vejamos:

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 Competência: deve o procedimento judicial ser instaurado no lugar do


pagamento, geralmente expresso no documento obrigacional, podendo, por
conseguinte, ser intentada no domicílio do devedor ou do credor, a depender de ser a
mesma quesível ou portável, respectivamente. A regra, como sabido é que a mesma
se trate de dívida a ser paga no domicílio do devedor.

A competência em questão tem natureza relativa, de modo que pode ser


prorrogada caso não arguida pela parte interessada, haja vista que o magistrado não
pode suscitá-la de ofício, a teor do preceituado na Súmula 33 do STJ.

 legitimidade: a legitimidade constitui condição da ação, de forma que o


seu regular exercício apenas de dará quando atendido o requisito em questão.
É parte ativa da ação o devedor e o terceiro interessado (fiador, devedor
solidário, sócio, etc.).

Outrossim, é parte passiva o credor. Podemos também afirmar que pode ser
sujeito passivo da ação uma outra pessoa que represente o devedor (ex:
administradora de imóveis).

 Petição inicial: além dos requisitos gerais do artigo 319, CPC, a peça
inicial deverá obedecer algumas particularidades deste procedimento.
Em primeiro lugar, acaso se trate de ação posterior à tentativa de consignação
extrajudicial, deverá a mesma conter cópia do comprovante de depósito bem como da
correspondência demonstradora da recusa.

Ademais, deverá a mesma conter os seguintes requisitos especiais:

# requerimento do depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado


no prazo de 5 (cinco) dias contados do deferimento, ressalvada a hipótese de ter sido
feito o prévio depósito extrajudicial.

# a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer resposta: a


peculiaridade da ação tem por efeito que o requerimento da citação do réu seja feito
em se considerando a postura que ele pode adotar em relação ao pedido formulado.
O réu na ação de consignação pode levantar a quantia ou coisa oferecida, o que
equivale ao reconhecimento da procedência do pedido, ou pode contestar o pedido.

 Intimação para o depósito: recebida a inicial, não sendo caso de


indeferimento, o autor será intimado para providenciar, no prazo de 5 (cinco) dias, o
depósito da quantia ou coisa devida. O depósito, aqui, consiste em condição de
procedibilidade, de modo que o processo será extinto sem resolução de mérito, acaso
não seja ultimado.

 Citação do consignado: a citação do consignado será feita pelo correio,


a menos que o autor requeira a citação por Oficial de Justiça ou que seja a hipótese
de que a citação seja necessariamente por edital.

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 Contestação do réu: as regras que regem a defesa na ação de


consignação em pagamento não tratam a matéria de forma completa. A defesa será
apresentada no prazo de 15 (quinze) dias. Na contestação, o réu pode alegar todas
as matérias de defesa contra o processo (preliminares) e, no mérito, ele pode alegar
quaisquer das matérias do artigo 544, CPC (I- que não houve recusa ou mora em
receber a quantia ou coisa devida; II- que a recusa foi justa; III- o depósito não se
efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; IV - o depósito não é integral).

Se o réu alegar que o depósito não fora integral, a lei permite ao autor efetuar
a complementação do depósito inicial, no prazo de dez dias. Essa complementação
não será possível, entretanto, se o não cumprimento integral da obrigação for prevista
contratualmente como causa da rescisão do contrato que gerou a obrigação de pagar.

 Levantamento da quantia depositada sem prejuízo da defesa: com a


alteração promovida pela Lei nº 8.951/94, o réu na ação de consignação passou a
poder levantar o depósito feito pelo autor sem prejuízo de sua defesa. Antes da lei, o
réu só poderia levantar o depósito ao final, o que acabava permitindo que a ação de
consignação fosse utilizada como uma ameaça ao credor, em especial em questões
de locação. O CPC de 2015 manteve a sistemática, de modo que o credor pode
levantar, de imediato, o depósito da parcela incontroversa (artigo 545, § 1o).

 Instrução: na consignação temos, via de regra, a desnecessidade de


audiência de instrução porque, na maioria dos casos, a matéria veiculada é de direito
ou, sendo de direito e de fato, os fatos são comprovados por documentos. Havendo
necessidade de prova em audiência, far-se-á como de costume, ou seja, é possível a
produção de todas as provas que o direito admite.

 Extinção da obrigação e a continuidade do processo: quando a Ação


de consignação tiver por fundamento dúvida sobre quem deva receber, comparecendo
ao processo mais de um interessado, o juiz resolverá a consignação, dizendo de sua
procedência ou não, e o processo passará a correr segundo o rito comum para que o
juiz decida quanto a quem deva ficar com o depósito.

 Julgamento da causa: A sentença possui natureza declaratória. O artigo


545 § 2º, CPC revela, todavia, uma peculiaridade. Ele permite ao juiz proferir uma
sentença de conteúdo condenatório em favor do réu (credor), em uma alteração
substancial do papel das partes no processo. Diz o mencionado artigo que a sentença
que concluir pela insuficiência do depósito determinará, sempre que possível, o
montante devido e valerá como título executivo, facultado ao credor promover-lhe o
cumprimento nos mesmos autos, após liquidação, se necessária.

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