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Juridiquês X Português

Introdução
Uma linguagem de fácil acesso e entendimento para todos é de suma
importância, sendo que esta é o maior instrumento de trabalho entre os
operadores do Direito. A partir da técnica bibliográfica, tentou-se demonstrar
conceitos simples para o tema em estudo, e após a relação entre eles.

PORTUGUÊS JURÍDICO

Conceitos

A nossa Língua Portuguesa é uma língua muito rica em recursos,


talvez resida aí toda a dificuldade em utilizá-la, senão em toda a sua
potencialidade, pelo menos no que se fizer necessário em cada caso. Para
o Direito, especialmente, isso se faz indispensável - “O Direito é, por
excelência, entre as que mais o sejam, a ciência da palavra. Mais
precisamente: do uso dinâmico da palavra”

LINGUAGEM

A linguagem pode ser definida como meio através do qual o homem se


comunica/ expressa, seja através da fala, da escrita ou de outros signos
convencionais.

Na linguagem do cotidiano, o homem faz uso da linguagem verbal e


não-verbal para se comunicar. Integra a linguagem verbal a fala e a escrita e
linguagem não-verbal todos os outros recursos de comunicação como
imagens, músicas, gestos, símbolos entre outros. “A linguagem não só permite
o intercâmbio de informações e de conhecimentos humanos, como também
funciona como meio de controle de tais conhecimentos.” WARAT (1995, p. 37).

Tratando um pouco mais da linguagem verbal, esta divide-se em


linguagem oral e linguagem escrita. Linguagem oral é nada mais do que a fala,
ou seja é a linguagem que se usa quando o interlocutor está frente a frente, a
conversa. Já a escrita, em tese, é usada quando o interlocutor está ausente.
Entre elas existem diferenças, porém nada rígidas.

Na linguagem oral, o ambiente é comum a ambos os falantes,


facilitando expressões como “eu”, “aqui” ou “hoje”, onde não necessita de
explicações mais detalhadas. Além disso, os gestos, expressões faciais, altura
do tom de voz e postura contribuem para a clareza da comunicação.

Na linguagem escrita, precisamos deixar claro o que queremos que o


interlocutor entenda, precisamos conceituar termos e usar linguagem clara e
objetiva para que o documento se faça entender. Um termo possui dois níveis
básicos de significação, que segundo Warat (1995, p. 65), seria:
“[...] o significado de base e o significado contextual. O primeiro é aquele que
reconhecemos no plano teórico quando abstraímos a significação contextual e
consideramos o sentido congelado, a partir dos elementos de significação
unificados por seus vínculos denotativos. O segundo pode ser entendido como
o efeito de sentido derivado de processos efetivos da comunicação social.”

Mas nem por isso a escrita é mais complexa e a fala mais simples. O
grau de formalidade no uso da linguagem oral depende do ambiente em que se
encontra o falante, do objetivo a atingir, de quem são os ouvintes. Há situações
que exigem falas elaboradas, isto é, com vocabulário e organização mais
próxima da escrita.

2.1 LINGUAGEM TÉCNICA

A linguagem em geral apresenta dois aspectos ou formas: a artística e


a técnica e Nascimento (1999, p.10) as conceitua da seguinte forma:

A linguagem artística, também denominada expressiva é a literatura, a saber a


expressão de uma arte. Busca a emoção estética, e, obviamente onde reina a
emoção não deve haver normas rígidas.
A linguagem técnica visa informar, ou convencer.

Desses dois fins podemos dividi-los em linguagem informativa e


linguagem lógica. Sendo a primeira encontrada em livros didáticos, dirigindo-se
a inteligência. Já a linguagem lógica pertence a linguagem forense que tem por
objeto o convencimento, busca a razão através da expressão verbal do
raciocínio.

2.1.2 Vocabulário Jurídico

Mais uma vez, saber expressar-se no Direito é de suma importância.


E é através das palavras que o profissional do Direito irá formular o pedido
do seu cliente, formando o pensamento através das palavras adequadas
conjugadas ao seu conhecimento visando à satisfação das necessidades
do seu cliente. Para isso, contudo, há que se fazer uso, muitas vezes, de
um vocabulário preciso. Saber utilizar a palavra de acordo com o contexto
é uma arte. E o advogado, mais que qualquer um deve aprender a dominá-
la.

2.2 JURIDIQUÊS

Juridiquês é um vocábulo usado no Brasil que ainda não consta nos


dois principais dicionários brasileiros (Aurélio e Houaiss), porém pode-se
conceituá-lo como o uso desnecessário e excessivo de termos técnicos de
Direito, tratando-se, portanto de um neologismo. Este termo era usado como
chacota para nomear o linguajar rebuscado dos operadores do Direito, tornou-
se mais conhecido depois que
a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) lançou a Campanha pela
Simplificação do "Juridiquês" em 28 de agosto de 2005.

Partindo do princípio que “ninguém valoriza o que não conhece”, a


AMB lançou no dia 11 de agosto de 2005, na Escola de Direito da Fundação
Getúlio Vargas (FGV), Rio de Janeiro (RJ), uma campanha para simplificar a
linguagem jurídica utilizada por magistrados, advogados, promotores e outros
operadores da área. Para a entidade, é um desafio reeducar a linguística nos
tribunais e nas faculdades de Direito, com o uso de uma linguagem mais
simples, direta e objetiva, pois somente dessa forma é que cidadãos poderão
ficar mais próximos do Poder Judiciário.

Também foi lançado um livreto com termos acessíveis, que transmitem


as mesmas ideias das expressões complicadas frequentemente utilizadas nos
documentos produzidos pelos profissionais do Direito, cujo título é “O Judiciário
ao Alcance de Todos: noções básicas de Juridiquês.”

3 LINGUAGEM E LEGALIDADE

Mais importante do que falar é se fazer entender. Aquilo que se fala só


tem relevância se dirigido a um interlocutor que assimile os conteúdos
transmitidos. Principalmente em se falando do Direito, uma linguagem cheia de
técnica e neologismos. “A linguagem do Direito existe para não ser
compreendida. Ela está fora do circuito natural de intercompreensão que
caracteriza as trocas linguísticas ordinárias entre os membros de uma mesma
comunidade linguísticos” (PETRI, 2008, p. 29). Contudo, não basta o
profissional demonstrar o conhecimento adquirido ao longo de sua experiência,
precisa se fazer entender pelos interlocutores.

A lei com certeza tem uma preocupação neste sentido, vejamos o que
diz a Constituição Federal em seu artigo 59, parágrafo único, "Lei
complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação
das leis."

Esta Lei Complementar de número 95, de 26 de fevereiro de 1998, em


seu artigo 11, nos dizem em certos incisos e alíneas que:

Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e


ordem lógica, observadas, para esse propósito, as seguintes normas:

I - para a obtenção de clareza:

a) usar as palavras e as expressões em seu sentido comum, salvo quando a


norma versar sobre assunto técnico, hipótese em que se empregará a
nomenclatura própria da área em que se esteja legislando;

b) usar frases curtas e concisas;


c) construir as orações na ordem direta, evitando preciosismo, neologismo e
adjetivações dispensáveis;

II - para a obtenção de precisão:

a) articular a linguagem, técnica ou comum, de modo a ensejar perfeita


compreensão do objetivo da lei e a permitir que seu texto evidencie com
clareza o conteúdo e o alcance que o legislador pretende dar à norma;

Outro fato importante foi o Projeto de lei nº 1676, de 1999, que dispõe
sobre a promoção, a proteção, a defesa e o uso da língua portuguesa e dá
outras providências. Este projeto de lei nos traz importantes definições, como
nos diz o seu artigo 2°:

Art. 2°. Ao Poder Público, com a colaboração da comunidade, no intuito de


promover, proteger e defender a língua portuguesa, incumbe:

I - melhorar as condições de ensino e de aprendizagem da língua portuguesa


em todos os graus, níveis e modalidades da educação nacional;
II - incentivar o estudo e a pesquisa sobre os modos normativos e populares de
expressão oral e escrita do povo brasileiro;
III - realizar campanhas e certames educativos sobre o uso da língua
portuguesa, destinados a estudantes, professores e cidadãos em geral;

Dessa forma não é possível que os direitos de cada cidadão seja


amplamente exercido, uma vez que este desconheça as possibilidades
jurídicas de condução de determinada situação, não há que se falar em
escolhas, “a obscuridade do discurso jurídico coloca o cidadão comum numa
posição de desconhecimento frente a questões que compõem o seu cotidiano
[...]”BARREIROS.

Na maioria das vezes os profissionais da área jurídica ficam tão


empolgados com os fogos de artifício da linguagem que se esquecem do justo
e, outras vezes até da lei. Na escrita jurídica, chega-se a encontrar formas
brilhantes nas quais a substância pode ser medida em conta-gotas. “O Direito é
uma disciplina cultural, cuja prática se resolve em palavras, Direito e
Linguagem se entrelaçam e se confundem. ” CENEVIVA apud Damião e
Henriques (2004, p. 27).O defeito surge mesmo em decisões judiciais que
atingem liberdade e o patrimônio das pessoas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A linguagem com certeza não é de uso exclusivo do Direito, mas na


área jurídica esta é dotada de especificidades, indicando um duplo caráter de
estudos, é imprescindível o correto uso da linguagem para estes profissionais.
Sendo este nada mais do que uma linguagem técnica, utilizada por operadores
do Direito nas formas mais diversificadas.
Juridiquês, portanto, são termos usados entre os profissionais do
Direito e classificados como exagero de jargões, uso de uma forma rebuscada
de se apresentar. São usados como adornos, enfeites para embelezar as
expressões usadas em processos, mais precisamente denominados como
arcaísmos. Através de campanhas entre acadêmicos de direito e Magistrados,
tem-se tentado uma diminuição nos termos rebuscados e adornos, tornando
mais simplificado o acesso a justiça brasileira. O profissional do direito pode
demonstrar seus conhecimentos, utilizando a linguagem adequada, com
termos técnicos indispensáveis, porém sem exageros.

Percebe-se que nossa legislação também tem uma preocupação em


relação a linguagem jurídica, conforme traz a Constituição Federal que
posteriormente regulamentou através de lei complementar, garantindo assim
que as normas fossem escritas com clareza. Continua-se com a preocupação
de um ensino de qualidade, melhorando a aprendizagem principalmente com a
língua portuguesa, incentivando o estudo normativo e popular de expressões
orais e escritas.

Entende-se que a sociedade só poderá exercer sua efetiva cidadania, a


partir do momento que haja uma democratização do discurso jurídico. Em uma
sociedade que tem por princípio fundamental a igualdade, o direito deve ser o
primeiro a utilizar este como instrumento de democratização, deixando de
monopolizar seu discurso.
 

Caso concreto

Definição: algo que está realmente ali ocorrendo

1 INTRODUÇÃO

Normalmente, o jurista busca a norma adequada no sistema jurídico


para verificar seu conteúdo, observando se é possível o enquadramento do fato
à norma e culminando na resolução do caso apresentado. Parte-se da
apresentação da doutrina sobre os institutos ministrados para, só depois,
explorar, de forma insuficiente, a solução de situações concretas através dos
precedentes jurisprudenciais.

Porém, em cada conflito social/jurídico, há uma particularidade humana,


constituída a partir das interações e significados existentes no social, no
político, no econômico, entre outros campos.

Nessa linha, o método sistêmico-constitucional propõe a avaliação do


caso concreto, destacando nele as variáveis que o identificam, conforme a
seguinte estrutura:
1º) contextualização fática do caso: identificação das partes e suas
particularidades (sociais, culturais, econômicas, sexuais, relig.);

2º contextualização dos fundamentos e razões fáticas das pretensões


deduzidas;

(3) enquadramento sistêmico-constitucional da lide a partir da seguinte


ordem: a) princípios constitucionais; b) regras constitucionais; c) princípios
infraconstitucionais; e (d) regras infraconstitucionais.

Nesse sentido, é a proposta do doutrinador e desembargador do


Tribunal de Justiça do RS, Rogério Gesta Leal:

(1) Avaliação do problema interpessoal ou coletivo


que se apresenta à apreciação jurisdicional, notadamente
a partir de seu enfoque e contextualização social,
verificando, primeiro, do que se trata, em termos materiais
(natureza social do conflito), identificando quem são os
sujeitos conflitantes, a história detalhada e matricial do
conflito de interesses; num segundo momento desta
avaliação, importa demarcar que variáveis estão
presentes no conflito, em termos econômicos, políticos,
culturais, religiosos, afetivos, sexuais, etc., e em que
medida tais variáveis atingem os sujeitos conflitantes ou
mesmo podem conformar o conflito em si.(...)

(2) Abordagem dos elementos dogmático-positivos


dos temas/problemas propostos, numa perspectiva
sistêmica, reflexiva e crítica, compreendendo o
funcionamento de todo o sistema jurídico (composto de
ordenamentos diversos, cada um estruturado em
princípios e regras jurídicas, em absoluta e necessária
conexão), identificando as posições hegemônicas
vigentes nos quadrantes doutrinários e, após,
jurisprudenciais.

(3) Abordagem dos casos específicos e temáticos


com avaliação crítica e aprofundada, a partir dos
elementos coligidos na fase anterior, delimitando, de
forma exploratória e experimental, as insuficiências da
abordagem antecedente, levando em conta a integração
necessária de todas as fases desta metodologia. A
vantagem mais marcante desta estratégia repousa na
possibilidade de aprofundamento que oferece, pois os
recursos se veem concentrados no caso visado, não
estando submetido às restrições ligadas à comparação da
espécie com outros casos. (LEAL, 2006, p. 19-20).
É nesse diapasão e considerando esse método, que passaremos a
discutir um caso concreto em que se perquire a aplicação, ou não, da
aderência de cláusulas benéficas ao contrato de emprego.

A análise de um caso concreto tem de ser clara, existir base legal para o
pedido e solução, contudo, somente isso não basta, no caso de uma petição se
o operador do direito não souber expressar-se você pode por tudo a perder.

Três exemplos de estilos de redigir uma petição:

Estilo superado pretensioso: Utiliza de excesso de vocábulos jurídicos e


jargões, de difícil entendimento ou nenhum para não operadores do direito,
utiliza também de palavras antiguadas com “suso”,”alverido”, perde de certa
forma o objetivo de enfatizar os fatos e direitos.
Estilo moderno e pretensioso: Foge do estilo antiquado de escrita, porém ainda
está preso ao “juridiquês” o que acaba deixando o texto pouco claro,
comumente emprega linguagem desigual como “implicações de todas as
ordens a gravar o requerente”, utiliza de expressões vazia de conteúdo na
estrutura do texto, e frases excessivamente longas.

Veremos a seguir que o importante é ser compreendido por quem lê.

Estilo moderno e adequado: Evidentemente um texto claro, objetivo, para


qualquer leitor de nível médio, utiliza frases curtas, adjetivos empregados de
maneira correta. A lei,doutrina e jurisprudência são referidas com precisão,
segue um ordenamento lógico, é destacado o caso concreto. O que não quer
dizer que o texto não seja técnico
Exemplo
CASO CONCRETO 
Um trabalhador iniciou a prestar seus serviços para uma empresa em setembro
de 2001, encontrando-se, atualmente, afastado por motivo de aposentadoria
por invalidez.
O trabalhador contratou com a empregadora o fornecimento de plano de saúde
que vinha sendo mantido e concedido ao longo do pacto laboral. Entretanto,
foram suspensos para todos os empregados que se encontravam afastados do
trabalho em decorrência de aposentadoria por invalidez, a partir de março de
2012.
A Convenção Coletiva, vigente entre 1º/01/2011 e 31/12/2011, a exemplo das
firmadas em anos anteriores, não tinha qualquer ressalva quanto à concessão
do benefício aos empregados afastados. Contudo, na Convenção com vigência
de 1º/01/2012 a 31/12/2012 foi garantido aos empregados afastados por
doença o benefício pelo prazo de 90 dias a contar da data do afastamento
previdenciário e que, após, deveriam reembolsar a empresa do custo, sob pena
de cancelamento do plano no prazo de 30 dias.

Análise do caso concreto:


3 ENQUADRAMENTO SISTÊMICO-CONSTITUCIONAL DA DEMANDA 
No caso em tela, o empregado se encontra aposentado por invalidez e tem sua
vida condicionada às limitações físico-psiquicas que sofre.
 Como é notório, os órgãos da Previdência Social apenas concedem
aposentadoria dessa espécie, quando a capacidade laborativa do requerente
está definitivamente abalada, pois o beneficiário é inapto para o exercício de
quaisquer atividades produtivas.
Em face dessa situação, o sujeito carece de mais atenção à sua saúde dos que
os demais cidadãos. Sabemos, outrossim, que o Estado não dispõe de
estrutura que supra as necessidades de pessoas que necessitem desse
cuidado especial.
Assim, a fruição do plano de saúde pelo trabalhador é fundamental, porque
viabiliza a sua sobrevivência. Não lhe assegura, contudo, a plena dignidade, já
perdida com a incapacidade laborativa; mas, ao menos, evita que se amplie a
degradação da sua pessoa. Desta forma, a suspensão do benefício pode
acarretar uma lesão tão grave à dignidade da pessoa do trabalhador, que pode
até atingir o direito à vida, primado básico da existência humana.
Portanto, em eventual questionamento judicial, deve haver a aplicação do
princípio da dignidade da pessoa humana para que a empresa não suspenda o
plano de saúde do trabalho e, por consequência, viabilize a manutenção da sua
boa saúde.
Além do princípio da dignidade da pessoa humana, de acordo com o principio
constitucional da progressividade do direito do trabalho, os direitos laborais não
se limitam aos arrolados nos incisos do art. 7º. Todos aqueles que vierem a ser
concedidos integram o campo de direitos do trabalho.
Assim, o plano de saúde é um direito a mais que foi concedido ao trabalhador e
não pode ser excluído de forma unilateral pela empregadora.
Como visto, esses princípios-normas encontram-se positivados em regras na
Constituição Federal. O art. 1º, inciso III, é a codificação do princípio da
dignidade da pessoa humana; e o art. 7º, caput, estabelece a possibilidade da
fixação de outros direitos, além dos previstos nos incisos. É o caso do plano de
saúde concedido pelo empregador, que passou a ser considerado um direito
integrado ao contrato de trabalho do trabalhador.
            Enquanto no direito comum há preocupação em assegurar a igualdade
jurídica dos contratantes, no direito do trabalho a preocupação é proteger uma
das partes na busca de uma igualdade substancial.
            O princípio da proteção é o primado fundamental do direito do trabalho,
é a própria razão de ser do direito do trabalho. Estabelece o direito de
compensação. Traz a ideia fundante do direito do trabalho.
            Esse princípio favorece aquele que se pretende proteger. Tutela o
hipossuficiente. A partir da percepção do valor Igualdade, o direito do trabalho
adota um princípio compensador de desigualdade (de proteção), mediante
favorecimento do trabalhador, sujeito mais fraco da relação.
            Deve-se buscar, pelo favorecimento do vulnerável, a igualdade
substancial. Se não consigo favorecer do ponto de vista material, favoreço
juridicamente, através de um favor jurídico para o sujeito vulnerável.
No caso apresentado, segundo esse princípio, o plano de saúde deve ser
mantido porque, ao mantê-lo, após a data que a convenção indicava, a
empresa acabou incorporando no contrato individual do trabalhador, de forma
tácita, o benefício. Assim, não pode retirar direito obtido dentro do âmbito do
contrato individual de trabalho. Isto porque, numa relação de trato sucessivo, a
alteração contratual superveniente, não pode alterar situação mais benéfica já
estabelecida. É a preservação da condição mais benéfica e aplicação direta do
princípio da proteção.
O direito do trabalhador à manutenção do plano de saúde também está
amparado pela Consolidação das Leis do Trabalho. De acordo com o art. 9º, a
prática de atos que fraudem a aplicação da lei trabalhista, estão sujeitos à
declaração de nulidade; ou seja, a supressão do plano de saúde fere a
legislação trabalhista e o ato que o pratique deve ser declarado nulo e o plano
reestabelecido.
Deve ser aplicado, ainda, o art. 468 da CLT, que proíbe as alterações lesivas
ao contrato de trabalho. Na situação apresentada, como o benefício não foi
suspenso, mesmo com essa previsão na convenção coletiva, o direito deixou o
campo dos direitos adquiridos por meio da negociação coletiva e passou a
integrar o rol dos do contrato individual de trabalho, não sendo, portanto,
possível a sua supressão.
4 CONCLUSÃO
Assim, após uma filtragem constitucional do caso concreto, identificando quais
os princípios e as regras aplicadas à espécie e, em seguida, o enquadramento
principiológico e regratório infraconstitucional, entende-se que a melhor decisão
é a manutenção do plano de saúde, em especial pelo prestígio ao princípio
constitucional da dignidade da pessoa humana, que seria duramente atingido
em caso de suspensão/cancelamento do benefício.
Outrossim, destaca-se que o ato em tese benevolente da empresa, de manter
o plano de saúde por tempo além do determinado na convenção coletiva,
acarretou a adesão de mais um direito no contrato de trabalho. Assim,
concedido um direito dentro do âmbito do contrato individual do trabalho,
calcado nas regras infraconstitucionais da CLT (art. 9º e 468) e no princípio da
proteção, do qual as previsões legais tiveram origem, é nula qualquer
alteração/supressão desse direito.
Aparentemente, pode se considerar injusta a situação que se estabeleceu.
Entretanto, deve-se levar em conta todo o cunho protetivo do direito do
trabalho, que, atento a uma realidade onde o poder econômico é amplamente
superior ao trabalho, estabelece uma série de concessões jurídicas, visando o
equilíbrio efetivo da relação entre empregado e empregador. Através das
presunções jurídicas a favor do empregado, o direito do trabalho procura
equilibrar uma relação fáticamente é desigual.
REFERÊNCIAS

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DAMIAO, Regina Toledo. HENRIQUES,


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NASCIMENTO, Edmundo Dantès. Linguagem Forense: a língua


portuguesa aplicada à linguagem do foro. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 1992.

PETRI, Maria José Constantino. Manual de Linguagem Jurídica. São


Paulo: Saraiva, 2008.

PRESIDÊNCIA DA
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onível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> .
Acesso em 10 de jun 2013.
WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua Linguagem. 2 ed. Porto Alegre:
Ed. Sergio Antonio Fabris Editor, 1995.
[1]
 Neologismo é o processo de criação de uma nova palavra na língua
devido à necessidade de designar novos objetos ou novos conceitos ligados às
diversas áreas.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Juridiqu%C3%AAs

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