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Resumos Economia Política: Teórica

Vilfredo Pareto e teoria económica do bem-estar:

Anteriormente a Pareto, os economistas tiveram a pretensão de medir o bem-estar


agregado “somando as utilidades medidas em termos cardinais de cada família
numa dada comunidade”.

Mas esbarravam em algumas dificuldades insuperáveis ao somar ou comparar


utilidades de pessoas diferentes. Ora a utilidade que cada pessoa retira do
consumo de uma dada quantidade de um bem varia: depende das preferências
individuais e do rendimento de cada um.

A eficiência de Pareto:

Propôs um critério para medir o bem-estar através do social máximo: posição na


qual não é possível melhorar o bem-estar de alguém sem fazer incorrer outrem em
perda de bem-estar.

Ótimo social e ótimo privado (Pigou):

Se existirem efeitos externos, será que uma solução de equilíbrio de mercado


concorrencial, que representa um ótimo privado no sentido de Pareto, será
também um ótimo social?

Externalidades:
Surgem quando uma pessoa exerce uma ação que impacta no bem-estar de
terceiros e, todavia, nenhuma das partes paga ou recebe qualquer compensação
por esse efeito.

Externalidade negativa: o impacto é adverso


Ex: poluição, congestionamento

Externalidade positiva: o impacto é benéfico


Ex: educação, reabilitação de um edifício degradado

Quando se dão externalidades, o interesse da sociedade nos resultados do


mercado vai para além do bem-estar dos compradores e vendedores que atuam
nesse mercado.
Incluem também o bem-estar de terceiros envolvidos.

Isto origina a presença de uma falha de mercado, e a necessidade da intervenção


do estado: princípio 7

A internalização de uma externalidade:


Um imposto corretivo dá os incentivos para que as pessoas passem a considerar
os efeitos externos das suas ações
Ex: a produção de alumínio seria taxada em valor correspondente do custo
externo associado, a poluição emitida.
O desafio das alterações climáticas:
Este está enquadrado numa falha de mercado, visto que é, uma externalidade
negativa, tem como solução a taxa pigouviana.

A questão climática:
Consiste na subida das temperaturas e tem como consequências a subida do nível
do mar, alterações climáticas (como precipitações e secas extremas), e
implicações geopolíticas/pressões migratórias.

A causa destes problemas são fatores como: emissão de gases com efeito estufa,
tais como dióxido de carbono e o metano. Que serão tratados conjuntamente,
como equivalentes de carbono.

Porque não há progresso?


Devido ao egoísmo relativamente às gerações futuras, o problema do free rider, a
incidência global (externalidade global).

Os benefícios ligados à atenuação das alterações climáticas mantêm-se


essencialmente globais e distantes, enquanto os custos dessas atenuações são
locais e imediatos.

Um problema de externalidades à escala mundial:

Para os economistas as alterações climáticas constituem uma falha de mercado


(princípio 7), relacionado com o free rider.

Isto consiste no seguinte:


Um país suporta 100% das suas políticas verdes (substituição de energias
poluentes por energias mais limpas), no entanto este receberá apenas 1% dos
benéficos dessa política se for 1% da população mundial.

É complexo resolver ou encontrar uma solução para o problema porque:


 Não existe nenhuma autoridade supranacional para pôr em prática uma
abordagem clássica de internalização dos custos, o que é agravado pelas
“fugas de carbonos”, ou seja, a deslocalização da produção para países
que não taxam as emissões de carbono.

O que pode fazer diminuir essas emissões:


Direitos de emissão negociáveis, taxa sobre o carbono e ações unilaterais, visto
que desta forma conseguimos contribuir para a redução de emissões de outros
poluentes locais.

Políticas públicas para as externalidades:

A internalização das externalidades, taxa sobre a emissão de carbono (solução de


Pigou) versus as políticas de comando e controlo.
As políticas dirigistas não têm em conta os custos relativos da despoluição
estabelecem um capital independentemente de quanto custa operar como menor
poluição. Mas se for estabelecido um preço para o carbono, a despoluição vai
fazer onde for mais económicas, por comparação de custo benefício.

Princípio do poluidor pagador: ???


Desigualdades e a fixação do preço do carbono:
 Taxas diferenciadas (consoante o rendimento das famílias) conduzem as
empresas mais poluidoras a deslocarem-se para os países menos
desenvolvidos.

Conclusões: as alterações climáticas são um problema sério que exige uma ação
imediata. Com base em princípios económicos sólidos, que enquadram o problema
na moldura de uma externalidade global, as recomendações de política seriam as
seguintes:

 Taxa universal sobre o carbono;


 Infraestrutura de monotorização independente;
 Taxa de carbono fronteiriça para controlar o free riding;
 Equidade internações através de um fundo verde;

Sistema keynesiano

Proposições básicas:
 Economia de mercado pode não alcançar o pleno emprego;
 O governo, através da despesa pública, pode estimular a economia
colmatando essa falha.

A grande de depressão de 1929-33 originou o sistema de Keynes

Crítica Keynesiana à Economia Clássica:

Lei de Say: os bens produzidos geram rendimento suficiente para que fossem
adquiridos pelos trabalhadores e empresas, porém a persistência do desemprego
originado pela grande depressão colocou esta lei em causa.

Os clássicos diziam que as famílias consomem parte do seu rendimento e poupam


o restante. Caso eles decidirem poupar mais, passam a consumir menos, em
contrapartida, maiores poupanças vão traduzir-se em taxas de juros mais baixas, o
que faz com que as empresas aumentem o seu investimento, de forma a
compensar a quebra na procura agregada. Segundo estes os preços e salários
flexíveis alicerçavam a lei de say, os preços e salários ajustavam-se para
reequilibrar a procura e oferta do mercado.

Para Keynes não existe uma ligação entre poupança e investimento. As


motivações que levam as famílias a poupar e a investir, são diferentes. As famílias
poupam em função do hábito, ou devido a razões particulares, como a idade ou
até o sonho de comprar algo, fazer uma casa... já os investimentos são alterados
por fatores políticos, confiança, tecnologia, taxa de câmbio.

Segundo Keynes, os preços e os salários não são flexíveis, devido a vários fatores
que originam rigidez nos preços e salários.

Numa recessão os homens de negócios, tendem a restringir o investimento, por


efeito da diminuição causado pelo desemprego.
Análise keynesiana

Keynes orienta o foco da análise para a procura agregada. Abreviando, poderia


dizer-se “As depressões ocorrem quando a procura total [consumo + investimento]
de bens e serviços é menor que o rendimento total”

Interessa por isso compreender como se forma a procura agregada e as suas


possíveis flutuações. Para isso precisamos de conhecer:
 As determinantes do consumo das famílias;
 As determinantes do investimento.

A análise keynesiana: consumo

Consumo das famílias:


“ainda que o tamanho da família, os gostos, e expectativas sejam significativas, a
principal determinante do consumo é o seu rendimento. Se o rendimento sobe, as
pessoas compra mais, caso contrário compram menos.

Keynes assume que cada vez que alguém obtém um euro extra irá gastar a maior
parte desse euro e poupar o restante, de acordo com uma dada propensão
marginal ao consumo.

Explicação da propensão marginal ao consumo:

Suponhamos que alguém encontrou no seu bolso 1 euro. Então pega em 0,80
cêntimos e vai gastá-los num chocolate e deposita o restante (0,20 cêntimos) no
banco.
A propensão marginal ao consumo é 0,80 (algebricamente é dada pelo quociente
da variação no consumo sobre a variação no rendimento).
A propensão marginal à poupança seria, pois, igual a 0,20.

Por conseguinte, a propensão marginal para o consumo (PMC) é definida pelo


“montante adicional de consumo” quando as pessoas recebem uma unidade
monetária adicional de rendimento.

A análise keynesiana: o investimento

“As empresas também compram bens e serviços. E os investimentos em


equipamentos e existências formam a outra parte da procura agregada.”

Keynes considerava que o investimento era muito mais volátil do que o consumo
das famílias.

Determinantes do investimento:
 Expectativas (“animal spirits”),
 taxas de juro,
 confiança, o tempo, a política,
 Em suma: tudo poderia distorcer os planos de investimento.
A Construção da Solução Keynesiana

Implicações do modelo:
Para ter uma economia saudável com pleno emprego, as famílias devem consumir
o suficiente e os homens de negócios investir também o suficiente de tal forma que
as mercadorias vendidas igualem o montante produzido e toda a capacidade
produtiva instalada seja utilizada.

Questão: E quando o consumo mais o investimento, a Despesa Total na economia


(abstraímos do governo e do comércio externo, por agora), for insuficiente? Que
fazer?

Para desenvolver essa questão precisamos de introduzir o conceito do


multiplicador.

O Multiplicador

Questão: “Se um trabalhador adicional é empregado numa obra lançada pelo


Estado, e esse trabalhador compra bens que vão ser produzidos por outros,
quantos trabalhadores adicionais acabarão por ser empregues?”

Kahn, colega de Keynes em Cambridge, descobriu que o multiplicador do novo


investimento dependia da proporção marginal ao consumo (PMC)

O multiplicador define-se como o “número pelo qual a variação no investimento é


multiplicada de modo a determinar a variação resultante no produto total”

Exemplo:

Suponhamos que o Estado mobilizava recursos não utilizados para a renovação


da linha de caminho de ferro Porto-Lisboa. E que investia nessa obra €1000. Os
empreiteiros contratados e os trabalhadores empregues na obra iriam assim obter
um rendimento adicional de €1000.
Mas a história não termina aqui. Se todos tiverem uma PMC de 2/3, então irão
gastar €666,67 em novos bens de consumo. Os produtores desses bens de
consumo terão, por sua vez, rendimentos adicionais de €666,67. Assumindo a
mesma PMC=2/3, estes irão por seu turno gastar €444,44. O processo continua
sendo cada nova etapa da despesa igual a 2/3 da etapa anterior.
Por conseguinte, uma cadeia sem fim de despesa secundária é posta em
movimento pelo investimento primário de €1000.

Neste caso, resultando numa variação no produto total de €3000. Por conseguinte
o multiplicador seria igual a 3

A Política Económica Keynesiana

Levanta-se a questão: E quem faz o investimento necessário para estimular o


consumo e assim a reforço da procura agregada?

Resposta de Keynes, é o Governo. Uma resposta no âmbito da política


orçamental, a qual, ganhou assim uma especial relevância.
A dinamização do consumo tanto se faz por via do (i) investimento público, como
(ii) através do aumento do rendimento disponível, mediante a redução de
impostos. Ou seja, fazendo um défice no orçamento do Estado.

Porém, Keynes também enfatizou que ao longo do ciclo económico o orçamento


deveria ficar equilibrado: fazendo défices nas recessões, mas superavits nos
períodos de expansão.

Ou seja, que a política orçamental deveria ser anticíclica.

Uma “política ativa de estabilização” dos ciclos económicos justifica a existência


dos assim chamados estabilizadores automáticos.

Definição: “Estabilizadores automáticos são mudanças na política fiscal que


estimulam a procura agregada quando a economia entra em recessão, sem que os
decisores políticos precisem de tomar qualquer ação deliberada”.
O mais importante é o sistema fiscal. “Quando a economia entra em recessão, os
impostos arrecadados pelo Estado caem automaticamente dado que quase todos
os impostos estão estreitamente ligados à atividade económica.”
Do lado da despesa pública, releva o subsídio de desemprego que é
imediatamente acionado com o desemprego involuntário.

Milton friedman

Destacamos dois períodos marcantes que Friedman atravessa ao longo da sua


vida:
A grande depressão de 1929-33, que se seguiu à quinta-feira negra em Wall
Street, a 24 de outubro de 1929, quando as ações caíram 11%.
A estagflação, ou seja, “a ocorrência simultânea de desemprego e inflação” nas
economias desenvolvidas. Surgiu nos últimos anos da década de 1960,
intensificando-se após o choque petrolífero de 1973.

A Contrarrevolução Monetarista (contra Keynes)

“Keynes considerava a política monetária relativamente ineficiente na estimulação


da atividade económica. E que operava através de um mecanismo indireto, a taxa
de juro.
Já Friedman sustentava que a moeda seria um substituto não apenas dos títulos
[financeiros] mas também de uma variadíssima gama de bens e serviços. Portanto,
defendia que as alterações na quantidade de moeda teriam consequências no
mercado de bens de consumo e de produção, acrescentando um efeito direto na
despesa agregada ao efeito indireto no investimento.

A Teoria Quantitativa da Moeda

O monetarismo começa com a formulação de Friedman em 1956 daquilo que pare


ele era a teoria quantitativa da moeda:
Vamos começar por ver o que é a moeda
Na medida mais utilizada, M1, a moeda é igual ao numerário detido pelo público
mais o montante dos depósitos à ordem efetuados nos bancos.
E como é determinada a oferta de moeda, O stock de moeda numa dada
economia é controlado pelos bancos centrais através dos instrumentos de política
monetária, tais como:
 A percentagem dos depósitos que os bancos estão autorizados a emprestar
(o rácio das reservas legais);
 Os empréstimos aos bancos pela “janela de desconto”;
 A injeção ou contração de liquidez na economia através da compra e venda
de títulos de dívida pública (operações de mercado aberto).

A “Equação Quantitativa”

“Tendo definido o que é a moeda e como é controlada vamos agora ver como a
quantidade da moeda afeta a economia.”
Introduzimos para o efeito a chamada “equação quantitativa” que relaciona a
quantidade de moeda, M, e a velocidade à qual a moeda circula na economia, V,
por um lado; e, por outro, o produto nominal (𝑃 ×Y), em que P é o nível de preços
e Y o produto real (PIB real):

𝑀×𝑉=𝑃×𝑌

A Velocidade de Circulação da Moeda

Suponhamos agora que a quantidade de moeda existente na economia era de


€10.

Podemos então saber o número de vezes que o dinheiro roda na economia no


período de um ano, ou seja, a velocidade da moeda.

Basta, resolver a “equação quantitativa” em ordem a V e substituir os valores que


foram dados:

𝑉 = 𝑃×𝑌= 30= 3
M 10

Portanto, o stock de moeda circula 3 vezes por ano, e essa é a velocidade da


moeda nesta economia.

O Pressuposto da Velocidade Constante

“Se assumirmos que a velocidade da moeda é constante, então a equação


quantitativa torna-se numa teoria útil sobre os efeitos da moeda, nomeadamente a
teoria quantitativa da moeda.”

Isto é, como uma teoria sobre a determinação do PIB nominal. Sob o pressuposto
da velocidade constante, a equação quantitativa é

𝑴 × 𝑽= 𝑷 × 𝒀

Onde a barra sobre V significa que a velocidade da moeda é fixa. Por conseguinte,
uma mudança na quantidade de moeda M causa uma mudança proporcional no
PIB nominal (𝑃 × 𝑌). Ex: Se oferta de moeda aumentar para o dobro, o PIB
nominal aumenta para o dobro.
A Política Monetária (Curto Prazo)

Sendo constante a velocidade de moeda, então as autoridades dispõem de um


instrumento poderoso para estimular ou arrefecer a economia: a oferta de moeda.
Por ex., contraindo a liquidez, famílias estas ajustam-se reduzindo o consumo de
bens e serviços, com o correspondente impacto negativo na atividade económica,
ou seja, uma contração do produto real.
Essa foi, aliás, a principal explicação avançada por Friedman para a transformação
da crise financeira de 1929 na Grande Depressão: Entre 1929 e 1933 a quantidade
de moeda foi reduzida em 1/3.

Mas da equação quantitativa decorre também, assumindo V constante, que no


longo prazo o efeito de um aumento no stock da moeda conduz a um aumento
proporcional no nível de preços. Portanto, o banco central, controlando a oferta de
moeda, detém em última instância o controlo sobre a inflação.
Por isso dizia Friedman que:

“A inflação é sempre e em todo o lado um fenómeno monetário, no sentido em


que é, e apenas pode ser produzida por um aumento mais rápido da quantidade
da moeda do que do produto”.

Notar que no longo prazo, Y é determinado pela capacidade produtiva instalada na


economia. Portanto um aumento em M é integralmente refletido em P, ou seja,
converte-se em inflação.

Consumo: A Hipótese do Rendimento-Permanente

“O modelo keynesiano simples assume que o consumo diminui ou aumenta à


medida que o rendimento diminua ou aumenta.” Ou seja, que o consumo responde
imediatamente a variações no rendimento.
Friedman aparece em 1957 com uma hipótese diferente, baseada numa perspetiva
de longo prazo: o consumo não vive ao sabor dos rendimentos imediatos, antes
sim está ancorado na expetativa dos consumidores sobre o fluxo dos seus
rendimentos futuros.
Sugere** assim que o rendimento corrente Y, seja visto como a soma de duas
componentes, o rendimento permanente 𝑌𝑃 e o rendimento transitório, 𝑌𝑇:

𝒀 = 𝒀𝑷 + 𝒀𝑻,

em que apenas 𝑌𝑃, i.e., o rendimento permanente determina o consumo.

A Hipótese do Rendimento-Permanente (Exemplo)

Suponhamos que alguém vê o seu rendimento sofrer uma queda, mas que atribui
a um facto transitório. Por exemplo, tinha um prédio de escritórios arrendado a um
só inquilino, e o prédio vagou com a saída do inquilino. Mas como não se esperam
alterações no mercado, a perda de rendas vai durar até entrar um novo inquilino.
Nesta hipótese o proprietário continua a fazer as suas férias ou ir aos restaurantes
do costume.
Suponhamos agora que a queda no rendimento de alguém é vista como
permanente. Por exemplo, o mesmo proprietário é forçado a baixar as rendas do
seu prédio porque, entretanto, a zona em que se integra deixou de ser prime, que
teria entrado em decadência. Nesta hipótese o proprietário irá ajustar os seus
padrões de consumo a um nível de rendimento inferior.

Implicações de Política Económica

Se os consumidores não reagem a variações temporárias no seu rendimento,


então políticas orçamentais baseadas em reduções temporárias de impostos, por
exemplo, serão pouco eficazes quanto a estimular a despesa total na economia.
“Os monetaristas criticam ainda as políticas orçamentais expansionistas com os
seguintes argumentos. Se o Estado aumenta a despesa, de onde vem o dinheiro?
Se a oferta de moeda se mantiver constante, então alguém vai ter de gastar
menos… Mas se o Parlamento aumentar os impostos, as famílias vão ter de
reduzir o consumo.
Se o Estado se financiar através da emissão de títulos dívida pública, então menos
fundos ficam disponíveis para o investimento feito pelos privados. A taxas de juro
aumentam e o investimento cai. Ou seja, o investimento público faz o crowd out
(exclusão) da despesa privada.

O Crescimento Económico e o Papel das Instituições

O Papel das Instituições:

O nível da vida de um país depende do stock de recursos acumulados (capital


físico e capital humano), da eficiência na sua utilização e do progresso técnico.

Mas como explicar que algumas sociedades se mostrem mais aptas do que outras
a desenvolver e a utilizar tais recursos e a fazer avançar o conhecimento que
impulsiona o progresso técnico?

A resposta de Douglass North / Daron Acemoglu é a seguinte:

É na qualidade das instituições que devemos procurar a explicação para essas


diferenças. No longo prazo, as instituições são a determinante fundamental do
desenvolvimento económico.

Os Direitos de Propriedade

North enfatiza a proteção dos direitos de propriedade. Havendo risco de


expropriação, as pessoas com talento não se dedicam à criação de empresas,
inovando, nem investem em recursos produtivos.

Acemoglu destaca as “instituições económicas inclusivas”.


Foco: “Instituições económicas que suportam o cumprimento dos direitos de
propriedade num espectro amplo da sociedade.”
Não bastará a proteção da propriedade quando restrita a um grupo privilegiado
(v.g. os fazendeiros nas colónias portuguesas e espanholas da América Latina,
enquadrados por “instituições extrativas”)
Instituições Económicas: Inclusivas / Extrativas

As “instituições económicas inclusivas” emanam de “instituições políticas


inclusivas”, suficientemente centralizadas (o Estado tem o “monopólio da violência
legítima”, Weber) e pluralistas.

Com “instituições económicas extrativas” o poder centralizado do Estado é


utilizado para extrair rendimento e riqueza de um subsector da sociedade em
benefício de outro.

Exemplo: O Continente Americano

As instituições económicas implantadas pelos Europeus nas diferentes colónias


eram formatadas em benefício próprio:
Nas regiões menos povoadas, protegiam toda a população, maioritariamente
constituída pelos próprios colonizadores europeus (instituições económicas
inclusivas)

Nas regiões mais densamente povoada, os direitos de propriedade restringiam-se


aos colonizadores e em seu benefício exclusivo (“instituições económicas
extrativas”) América Central e do Sul.

O Conceito de Instituições

“As instituições são as regras de jogo numa sociedade; … são as restrições de


natureza social que enquadram a interação humana. Por conseguinte, estruturam
os incentivos nas relações de troca entre as pessoas, nos planos político, social ou
económico”.

Regras ora de natureza formal (as leis), ora imbricadas no legado cultural (códigos
de conduta, costumes). As instituições englobam ainda o carater vinculativo
dessas normas (formais e informais) e a efetividade do seu cumprimento
(“enforcement characteristics)”.
Ex: Sistemas judiciais que asseguram o cumprimento de contratos. Normas de
comportamento que valorizam o trabalho esforçado (“hard work”).

A Relação das Instituições com a Economia

As instituições afetam o desempenho económico através:


 do impacto nos custos de transação e de produção.
 ao condicionarem a acumulação de conhecimento / inovação

Notar que:
O crescimento da riqueza das nações depende da divisão e especialização do
trabalho, implicando esta, por sua vez, a intensificação das trocas entre agentes
económicos, as regiões e os países (Adam Smith). Custos de transação elevados
são uma barreia ao progresso.
O aumento da produtividade depende da acumulação de conhecimento
(investigação científica) e da proteção ao avanço tecnológico (inovação
empresarial; patentes).
Direitos de Propriedade e Custos de Transação

Os direitos de propriedade são os direitos adquiridos pelos indivíduos sobre os


frutos do trabalho e sobre bens reais e imateriais.

O processo de “apropriação” (aquisição desses direitos) é uma função das normas


legais, das organizações, da exequibilidade dos contratos, e normas de
comportamento, i.e., da moldura institucional.

A especificação e a proteção dos direitos de propriedade implica custos. Portanto,


os direitos de propriedade nunca se encontram perfeitamente determinados.
Existem recursos que se mantêm no domínio público e quando são valiosos
haverá sempre quem os pretenda capturar.

Qualidade das Instituições e Desenvolvimento Económico

Países com instituições de menor qualidade ficam mais expostos ao rent- seeking
e assim à captura de bens do domínio público em benefício de interesses
particulares, a obtenção de concessões /monopólios por aqueles que se encontra
na órbita do poder político.

Nos países onde o risco de expropriação for elevado, as pessoas com maior
talento não se dedicam a criar a empresas; nem a investir em ativos financeiros:
de repente podem ficar sem nada.

O investimento produtivo é desencorajado nos países onde prevaleça um Governo


confiscatório, seja por atuação explícita, seja indiretamente através da inflação.

Casos de Estudo

Vamos rever dois casos de estudo, sendo o primeiro um caso notável de mudança
institucional e o segundo de declínio no crescimento económico atribuível a mau
funcionamento das instituições:

A Coroa Inglesa, tal como as congéneres europeias, compunha o seu orçamento


recorrendo a (a) novos impostos, (b) empréstimos forçados, (c) venda de
monopólios e (d) confisco de bens privados.

A “Revolução Gloriosa de 1688” pôs termo ao poder discricionário do governo da


Coroa, estabelecendo a “supremacia” do Parlamento.

A “Revolução Gloriosa”

Com a “supremacia” parlamentar o Parlamento passava a deter (i) o controlo da


governação (i.e., do Monarca) e (ii) a competência exclusiva para lançar impostos.
E ainda o primado da Lei (“common law”, no caso), aplicada pelos tribunais de
forma independente.
Com a proteção dos direitos políticos ficaram igualmente protegidos os direitos
económicos, nomeadamente os direitos de propriedade.
Assegurado, assim, o reembolso dos empréstimos contraídos pela Coroa, esta
passou a financiar-se em montantes que não estavam anteriormente ao seu
alcance (e a pagar a guerra com a França).
Estabelecendo-se o círculo virtuoso dos incentivos próprios das “instituições
económicas inclusivas”.

Seguiu-se uma revolução no sistema financeiro: foram então lançadas os pilares


dos modernos mercados de capitais.
Em 1694 é constituído, com capitais privados, o Banco de Inglaterra para atuar
como banco do Governo/Coroa.
Os juros da dívida pública baixaram de 14% nos anos de 1690 para 3% em 1730s,
apesar do aumento do stock de dívida soberana.
As transações de títulos financeiros privados cresceu exponencialmente.
Ficou estabelecida a moldura institucional para as transformações económicas
profundas do Sec. XVIII, v.g. a Revolução Industrial e com ela a economia de
mercado.

Na City de Londres, mas com correspondência em Amesterdão.


Ao longo dos Séculos XVII e XVIII estava em curso na Europa Ocidental o
Iluminismo.

Argentina: Um Longo Declínio

No final do Sec. XIX, a Argentina era dos cindo países mais ricos do mundo. Em
1913 o PIB per capita era ainda próximo dos EUA (80%).
Atualmente, o PIB da Argentina corresponde a apenas 40% da média dos países
da Europa Ocidental.

A má qualidade das instituições na Argentina esteve na origem de:


Penalização do comércio externo: o peso relativo (exportações + importações
sobre o PIB) passou de 80% em 1919 para 20% a partir dos finais dos anos de
1920. Causas: fatores externos amplificados por taxação excessiva e errática das
transações com o exterior.
Os episódios de “crash” (hiperinflações, crises económicas brutais), implicando
perdas severas, gerando escassez de capital e, portanto, o agravamento do
respetivo custo.
Políticas confiscatórias recorrentes, seja por expropriações do capital de empresas
privadas; seja por incumprimento na dívida pública (só nas últimas duas décadas a
Argentina esteve 6 anos em “default”),
Outras distorções conducentes a mau investimento público (corrupção) e uma
deficiente alocação de recursos na economia em geral.

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