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A questão penitenciária na América Latina: história, literatura e direito.

Cronograma das atividades

Abertura
Aula 1 - Introdução inicial sobre o tema e o campo de pesquisas da questão penitenciária na América Latina
Data: 31.03.2021

Módulo 1 – História
Aula 2 - Colonização penal: uma história global?
Data: 14.04.2021
Aula 3 - Mulheres no cárcere: uma abordagem histórica
Data: 28.04.2021

Módulo 2 – Direito
Aula 4 - Beccaria na prisão: recepções da obra de Beccaria nos debates sobre as reformas penitenciárias
latino-americanas
Data: 12.05.2021
Aula 5 - Reflexões sobre a execução penal no Brasil e no Peru: os impactos da pena de prisão na vida dos
condenados pelo crime de estupro
Data: 26.05.2021

Módulo 3 – Literatura
Aula 6 - Desafios e potencialidade do trabalho com literatura em prisões
Data: 09.06.2021
Aula 7 - Experiências latino-americanas de oficinas literárias em prisões
Data - 23.06.2021

Encerramento
Aula 8 - síntese final e avaliação coletiva do curso
Data: 30.06.2021

Carga horária total, entre encontros on-line e leituras: 25 horas

Conteúdo Programático

Introdução inicial sobre o tema e o campo de pesquisas da questão penitenciária na América Latina
Colonização penal: uma história global?
Mulheres no cárcere: uma abordagem histórica
Beccaria na prisão: recepções da obra de Beccaria nos debates sobre as reformas penitenciárias latino-
americanas
Reflexões sobre a execução penal no Brasil e no Peru: os impactos da pena de prisão na vida dos
condenados pelo crime de estupro
Desafios e potencialidade do trabalho com literatura em prisões
Experiências latino-americanas de oficinas literárias em prisões
Síntese final e avaliação coletiva do curso

Resumo

Curso de extensão universitária fruto de uma parceria entre o projeto de extensão “Direito à Poesia”,
sediado na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), o Grupo de Pesquisa CoPALC
(Colonização Penitenciária na América Latina e Caribe), a Université de Guyane e o Departamento de
Letras Modernas da Universidade de São Paulo, no âmbito do Programa de Cátedras Franco-brasileiras do
Consulado Geral da França em São Paulo para 2021.
O objetivo é apresentar um panorama dos debates contemporâneos ligados às prisões, às formas de
punição e controle social e fornecer ferramentas metodológicas ao público-alvo para o desenvolvimento de
futuros trabalhos no domínio dos estudos penitenciários. Pretende-se ainda proporcionar a abertura de um
espaço de reflexão e diálogo entre pessoas que estudam e/ou trabalham na instituição carcerária ou que
gostariam de desenvolver pesquisas e trabalhos neste campo. O minicurso também abordará a experiência
do trabalho com literatura em situação de privação de liberdade na América Latina, com relatos de
experiências em curso e outras já realizadas.
Nesse sentido, será valorizada uma abordagem interdisciplinar, organizada em três módulos, cada um com
uma ênfase diferente nas disciplinas de História, Direito e Literatura. Serão 08 encontros online com
duração de 1h30min., durante os quais serão apresentadas as contribuições contemporâneas dessas
disciplinas para o estudo da prisão, punição e controle social.

Justificativa

Já é bastante conhecida a situação crítica de todo o sistema prisional latino-americano: quadros de


superlotação; ausência de condições mínimas de higiene e de saúde; falta de condições de trabalho e de
formação aos agentes penitenciários; poucas condições concretas que viabilizem a educação e a
reinserção laboral do egresso; carência de assistência jurídica às pessoas presas; prisão de pessoas sem
que tenha sido concluído o processo e sem que fossem consideradas a possibilidade de penas alternativas.
Por meio dos dados disponíveis no portal do Ministério da Justiça (INFOPEN) e amplamente divulgados,
sabe-se que no Brasil a grande massa das pessoas em privação de liberdade é formada por jovens pobres,
negros, analfabetos ou semi-letrados, que cresceram em situação de vulnerabilidade social, sem a
assistência básica a que deveriam ter direito. O quadro brasileiro é semelhante ao do restante da América
Latina, como aponta, por exemplo, o Grupo de Trabalho da CLACSO Barrios, familias y prisiones en
circuito em sua recente publicação "Un estado de la situación y recomendaciones para los decisores de
políticas públicas judiciales y penitenciarias” (2020).
De uma perspectiva mais ampla, é preciso dizer que o fracasso do sistema prisional moderno, quanto aos
seus próprios objetivos de “reeduçação", é praticamente contemporâneo à sua criação, no início do século
XIX, como mostrou Foucault (1979, p. 130-2). Desde essa época, já se percebia que, ao invés de promover
a reinserção social das pessoas presas, o sistema prisional acabava retroalimentando os índices de
violência e criminalidade. Também desde o início, já se sabia que as principais vítimas desse sistema eram
os pobres: estigmatizados socialmente pela infâmia de haverem sido presos por pequenos delitos, esses
indivíduos eram facilmente recrutados como criminosos profissionais.
Apesar da continuada manifestação deste fracasso, o sistema prisional segue naturalizado e aceito
socialmente, reiterando os processos perversos de exclusão e aprofundamento das desigualdades sociais.
A justificativa fundamental deste curso de extensão, portanto, se evidencia a partir deste quadro. Parece-
nos fundamental refletir a partir de uma perspectiva crítica e interdisciplinar sobre a complexidade deste
problema, de forma a ampliarmos nossos horizontes e vislumbrarmos alternativas que nos permitam pensar
em um mundo sem prisões.

Fundamentação teórica

A reflexão proposta neste curso de extensão vem se fortalecendo nos últimos anos em distintos campos do
conhecimento, por meio de debates importantes sobre a prisão, a punição e o controle social. Valorizando a

perspectiva do grupo CoPalc, co-responsável deste curso, a proposta do Módulo 1 (História) é enfatizar o
potencial das recentes reflexões sobre os processos de colonização prisional na história moderna e
contemporânea, desenvolvidos nas obras recentes de Clare Anderson, Christian DeVito, Timothy Coates,
Ryan Edwards, Carlo Romani, Peter Beattie, Jean-Lucien Sanchez e Catherine Benoît. Estes autores, além
de serem referências contemporâneas na reflexão sobre a colonização penal, contribuíram para alargar o
conceito de colonização para além das marcas cronológicas dos impérios coloniais. Consequentemente,
uma reflexão sobre o conceito de "colonização" será também o tema de reflexão desta unidade. Este
módulo irá também analisar estudos que exploraram as trocas disciplinares entre história e literatura,
abordando textos produzidos a partir da experiência da prisão ou da redução da escravatura. Neste sentido,
serão valorizadas as abordagens à literatura testemunhal, à auto-escritura (Phillipe Artières), à crítica
política e à denúncia de formas de sujeição exercidas sobre indivíduos em instituições disciplinares.
No Módulo 2 (Direito), pretende-se apresentar um breve panorama histórico e jurídico da natureza mutável
da pena de prisão no Brasil, contextualizando criticamente a existência do conteúdo da humanização da
pena consagrada na Lei de Execução Penal Brasileira, identificando as ressonâncias históricas das políticas
criminosas desenvolvidas noutros países, particularmente nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Peru.
Busca-se ainda analisar as contribuições de Michel Foucault para a compreensão da prisão e do seu papel
no mundo moderno, refletindo ainda sobre a relevância da obra de Cesare Beccaria para a estruturação do
pensamento criminológico contemporâneo. A partir daí será possível problematizar aspectos relacionados
ao controle social exercido pelo Estado e as suas relações com os processos de vulnerabilidade social e de
selectividade criminal. Para instrumentalizar o desenvolvimento destes temas de estudo, para além dos
autores mencionados, também se destacam, entre outros: David Garland, Löic Wacquant, Jock Young,
Eugenio Raúl Zaffaroni, Augusto Thompson, Edmundo Campos Coelho, Alessandra Teixeira, Gabriel de
Santis Feltran, Cezar Bitencourt, Ana Paula de Barcellos e Luiz Antônio Bogo Chies. Busca-se assim,
promover uma perspectiva panorâmica da repressão penal e do controle social no Brasil, problematizando
as razões da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 347, do Supremo Tribunal de Justiça,
que reconheceu, em 2015, a "situação inconstitucional" do sistema penitenciário brasileiro.
Discutir as condições, as limitações e o potencial da leitura de literatura e da realização de oficinas literárias
dentro das prisões é a proposta fundamental do Módulo 3 (Literatura). Pretende-se promover um espaço de
diálogo e de reflexão sobre a mediação da leitura e sobre a formação de comunidades leitoras em
condições de privação de liberdade. Autores como Jacques Derrida, Michèle Petit, Luciana de Mello, Maria
Elvira Woinilowicz e Juan Pablo Parchuc nos permitirão questionar de forma ampla sobre o que se entende
por literatura e sobre as condições de sua produção no contexto prisional. Além de aprofundar esse
questionamento teórico, buscar-se-á compartilhar um repertório de diferentes experiências de realização de
oficinas literárias realizadas no cárcere. Sendo assim, uma preocupação importante deste módulo será dar
visibilidade às metodologias e produções resultantes do trabalho de vários coletivos latino-americanos que
trabalham com literatura e artes em prisões (YoNoFui, Fugas de Tinta, Asas Abertas, Pajares entre Púas,
entre outros).

Objetivo Geral
Proporcionar a abertura de um espaço de reflexão e diálogo entre pessoas que estudam e/ou trabalham na
instituição carcerária ou que gostariam de desenvolver pesquisas e trabalhos neste campo.

Objetivos específicos

Fornecer ferramentas metodológicas para o desenvolvimento de futuros trabalhos no domínio dos estudos
penitenciários;
Proporcionar uma cartografia inicial no campo dos estudos históricos/ historiográficos da questão
penitenciária, enfocando o colonialismo penal;
Proporcionar uma cartografia inicial no campo do Direito sobre a questão penitenciária na América Latina;
Proporcionar uma cartografia inicial no campo do trabalho com literatura em contexto carcerário

Metodologia

O curso se organizará por meio dos seguintes recursos metodológicos:

Encontros síncronos on-line em plataforma virtual, onde serão ministradas aulas expositivas dialogadas e
onde serão mobilizados debates entre as/os participantes a partir dos materiais indicados previamente;
Organização de um arquivo virtual compartilhado no qual as/os participantes poderão acessar a bibliografia
básica e complementar do curso.
Indicação de materiais disponíveis e pertinentes aos conteúdos tratados que poderão ser consultados entre
os encontros (sites, filmes, vídeos);
Feedbacks para a/o participante que quiser desenvolver projetos de pesquisa e/ou de atuação no campo de
estudos do curso.

Resultados Esperados

Ampliação do debate crítico sobre a questão carcerária na América Latina, a partir de uma perspectiva
interdisicplinar, reunindo as reflexões nos campos da História, do Direito e da Literatura.

Referências
ANDERSON, Clare. Global history of convicts and penal colonies. London: Bloomsbury, 2019.
DAVIS, Angela. Estarão as prisões obsoletas?. Rio de Janeiro: Difel, 2018.
DERRIDA, Jacques. Essa estranha instituição chamada literatura - uma entrevista com Jacques Derrida.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987.
MELLO, Luciana de; WOINILOWICZ, Maria Elvira. Ninguna calle termina en la esquina: Historias que se
leen y se escriben en la cárcel. Buenos Aires: Editorial de la Facultad de Filosofía y Letras Universidad de
Buenos Aires, 2016. Disponível em: http://publicaciones.filo.uba.ar/sites/publicaciones.filo.uba.ar/files/
Ninguna%20calle%20termina%20en%20la%20esquina_interactivo_0.pdf>. Acesso em: 17 de maio de 2020.
PÈTIT, Michele. A arte de ler ou como resistir à adversidade. São Paulo: Ed. 34, 2009.
PIERRE, Michel. Le Temps des bagnes. Paris: Texto, 2017.
HOUTE & TRACOL. “Aqui começa o Brasil”: colonisation pénale, territorialisation et mise en frontière du
fleuve Oyapock. 1853-1927. Diálogos. Maringá: Universidade Estadual de Maringá (UEM-PR), 2020.
SANCHEZ, Jean-Lucien. A perpétuité, relégués aux bagnes de Guyane. Paris: Vendémiaire, 2013.
Grupo de Trabajo CLACSO Barrios, familias y prisiones en circuito. Un estado de la situación y
recomendaciones para los decisores de políticas públicas judiciales y penitenciarias
(2020). Disponível em: https://www.clacso.org/personas-detenidas-y-sus-familiares-inacciones-estatales-
ante-el-virus-covid-19-en-los-paises-de-sudamerica-centroamerica-y-el-caribe/. Acesso em: 8 de março de
2021.

Membros da Equipe:

Angela Artur
Cristiane Checchia
Luiz G. Alvo
Mario Rodríguez
Dirceu F. Ferreira
Otavio L S Couto
Samuel Tracol

Aulas via GoogleMeet (link compartilhado apenas com os inscritos)


Inscrições via Formulário online
Serão emitidos certificados para os inscritos que confirmarem presença em 70% das aulas.

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